quarta-feira, 15 de maio de 2019

ARTIGO CIENTÍFICO: ANTEPASSADOS NÃO TÃO DISTANTES - MARCELO GLEISER - COM QUESTÕES GABARITADAS

ARTIGO: Antepassados não tão distantes
              
  Marcelo Gleiser

    Os chimpanzés sofrem quando perdem a mãe ou um amigo

    Quando Darwin afirmou, no século 19, que somos descendentes de macacos, que temos mais a ver com criaturas peludas e barulhentas com rabos longos e dentes afiados do que com anjos celestes, os vitorianos ficaram ultrajados. Por 3.000 anos, a história que vinha sendo contada era diferente. Seríamos criação de Deus, quase tão perfeitos quanto ele. Não fosse a ousadia de Adão e Eva, estaríamos até agora passeando nus pelo Jardim do Éden, sem sabermos da existência do pecado original.
        Muita gente ainda se ofende com a insistência dos cientistas em nos chamarem de macacos evoluídos. Mas deveríamos nos orgulhar de nossos antepassados, que encontraram meios de sobreviver em um ambiente austero e cheio de predadores. 
        Há 30 milhões de anos, babuínos, chimpanzés e humanos eram indiferenciáveis. Desde então, variações genéticas submetidas à pressão da seleção natural foram criando as diferenças que resultaram nos três primatas.
        Babuínos mostram uma grande sofisticação social, vivendo em grupos de aproximadamente 150 indivíduos que reúnem em torno de oito famílias. Pesquisadores como Dorothy Cheney (nenhuma relação com o vice-presidente americano) e Robert Seyfarth, que passam longos períodos nas florestas de Botsuana, verificaram que babuínos, especialmente as fêmeas, desenvolvem fortes alianças familiares, defendendo membros da família em caso de desavenças com outros babuínos ou em ataques de predadores. 
        Para tal, os primatas desenvolveram meios de identificar seus parentes visualmente e por meio de vocalizações. Não há dúvida de que o agrupamento dos babuínos exibe traços que podemos identificar na nossa sociedade. Quantas famílias têm um assobio especial que usam quando estão em lugares muito cheios?
        Mas nossos parentes mais próximos são os chimpanzés, com quem dividimos 98,4% dos nossos genes. Jane Goodall, a pesquisadora inglesa que revelou ao mundo a sofisticação dos nossos primos, passou anos nas florestas da Tanzânia observando seu comportamento. 
        Diferentemente dos babuínos, a característica mais marcante dos chimpanzés não é o agrupamento, mas a sofisticação de seu comportamento. Chimpanzés estão entre os poucos animais que usam ferramentas para efetuar tarefas. Cortam galhos longos para "pescar" formigas e cupins em troncos e cupinzeiros. 
        Como os babuínos, caçam em grupos e defendem seu território em ferozes guerras tribais. Como os humanos, sofrem quando perdem a mãe, o pai ou um irmão, ou quando um companheiro de longa data morre. Esses achados tornam difícil distinguir se somos um pouco macacos ou se os macacos são um pouco humanos. Certamente, eles nos remetem às nossas origens evolucionárias. 
        Recentemente, um experimento na Universidade de Kyoto, no Japão, comparou a memória dos chimpanzés com a dos humanos. Sequências de cinco números de um a nove foram mostradas a estudantes e chimpanzés por frações de segundo na tela de um computador. Após 650 milésimos de segundo, os números do monitor viravam quadrados brancos. O teste envolvia tocar os quadrados em ordem numérica crescente. 
        Tanto os estudantes quanto o chimpanzé acertaram 80% das vezes. Quando o intervalo baixou para 210 milissegundos, os humanos acertaram 40% das vezes e o chimpanzé 80%. Perdemos para um macaco. "Talvez", disse um dos pesquisadores, "nossa habilidade para contar atrapalhe". No mínimo, o experimento mostra que nossos primos são bem menos distantes do que pensamos. 

             MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro "A Harmonia do Mundo"
                                                    Folha de São Paulo, 25/5/2008. Licenciado pela Folhapress.
Entendendo o Texto:

01 – O texto lido foi publicado em um jornal de grande circulação. Nesse texto, o autor aborda um tema bastante debatido nos meios científicos.
a)   Qual é esse tema?
A teoria da evolução do homem, de Darwin.

b)   Na sua opinião, o tratamento dado ao assunto do texto lido é muito específico – portanto, voltado exclusivamente para leitores cientistas –, ou é relativamente simples, tendo a finalidade de informar os leitores em geral? Justifique sua resposta.
O texto foi produzido para um público amplo e heterogêneo, pois apresenta uma linguagem que não exige conhecimentos profundos sobre a teoria da evolução do homem.

c)   Qual é a finalidade principal desse texto: expor um conteúdo científico de forma clara e objetiva ou persuadir o leitor a respeito do ponto de vista de seu autor?
Expor um conteúdo de natureza científico.

d)   É possível afirmar que o texto tem também a intenção de defender a ideia de que o homem e descendente dos macacos? Justifique sua resposta.
Sim, pois o autor demonstra a lógica da teoria com exemplos de pesquisas, e o texto afirma que os macacos são bem menos distantes de nós do que pensamos.

02 – Pelo fato de lidarem com assuntos ligados a áreas científicas do conhecimento, os textos de divulgação científica frequentemente fazem uso de uma linguagem em que há vocabulário e conceitos básicos.
a)   Identifique, no texto, palavras ou expressões usadas no meio científico para abordar o fato de os humanos serem descendentes dos macacos.
Variações genéticas, seleção natural, primatas, genes, origens evolucionárias, experimento.

b)   A que área científica pertencem tais palavras ou expressões?
A ciência que trata da evolução humana.

03 – A estrutura de um texto de divulgação científica não é rígida, pois depende do assunto e de outros fatores da situação, como: quem produz o texto, para quem, com que finalidade. Apesar disso, normalmente o autor apresenta uma ideia principal ou tese, geralmente um conceito ou um ponto de vista sobre um conceito, e procura fundamentá-la com “provas” ou evidências, isto é, exemplos, comparações, resultados objetivos de experiências, dados estatísticos, relações de causa e efeito, etc. No texto “Antepassados não tão distantes”:
a)   Qual é a ideia principal apresentada pelo autor?
A de que o homem é descendente do macaco.

b)   Com que “provas” ou argumentos o autor fundamenta a tese que defende?
O autor busca argumentos em dados de pesquisas que comparam comportamentos humanos com os de macacos, como, por exemplo: os babuínos mostram uma grande sofisticação social e desenvolvem fortes alianças familiares, defendendo membros da família em caso de desavenças com outros babuínos ou em ataque de predadores (como os humanos, e exibem traços que podem ser identificados em nossa sociedade, como assobiar para encontrar pessoas; os chimpanzés sofrem quando perdem um ente querido e fazem uso da memória, assim como os seres humanos.
c)   De que o autor se serve para justificar seu ponto de vista?
Ele apresenta três pesquisas feitas por autoridade no assunto: a realizada nas florestas de Botsuana com babuínos, a realizada nas florestas da Tanzânia com chimpanzés e um experimento na Universidade de Kyoto.
04 – Observe a linguagem empregada no texto:
a)   Nas formas verbais, que tempo e modo são predominantes?
O presente do indicativo.
b)   Qual variedade linguística foi empregada?
A variedade padrão.
c)   A linguagem revela preocupação com a expressividade e a emotividade, ou é clara, objetiva e tende à impessoalidade?
É clara, objetiva e impessoal.
d)   Considerando-se o assunto e o veículo em que o texto foi publicado, pode-se afirmar que esse nível de linguagem é adequado à situação? Por quê?
Sim. Porque o texto é voltado para leitores interessados em assuntos científicos, que tem certa familiaridade com termos científicos e dominam a variedade padrão.
05 – Quais são as principais características do texto de divulgação científica? Respondam, levando em conta os critérios a seguir: finalidade do gênero, perfil dos interlocutores, suporte/veículo, tema, estrutura e linguagem.
      Transmitir conhecimento de natureza científica. O autor é especialista em uma área científica. O destinatário é o leitor de revistas e jornais interessado em assuntos científicos. O suporte do texto são revistas, jornais e sites da internet. Os temas são relacionados com os diferentes campos da ciência. Estruturalmente, apresenta uma ideia central ou uma explicação sobre o objeto de estudo, desenvolvida por meio de “provas” e apresenta também, facultativamente, uma conclusão. Emprega a variedade padrão da língua, apresenta termos e expressões científicas e formas verbais principalmente no presente do indicativo. A linguagem é clara, objetiva, impessoal.  

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