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domingo, 1 de dezembro de 2024

CRÔNICA: O PERNILONGO - MÁRIO PRATA - COM GABARITO

 Crônica: O pernilongo

              Mário Prata

        Era o melhor dos mundos. Mata Atlântica e praia, num mesmo local, num mesmo momento. Uma varanda, uma churrasqueira (nunca usada, mas lá), uma rede.

        Doces loiras a caminho do mar, The Beatles alto, a culpa baixa. E a pressa, nenhuma. Vinho.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgE-dy7aflfXKu1yQr1JuVuvgD04PsFGCSG2RFZjY97F6hs7DTfdmAw8CaLTyKMz0sPBMbNw_1KF5LHJqEInDmwUjwq-3-6dKnoFviNekl7ElNgtOBl2BluBSEbAwSh812YtIw482edx6ON_Vwl3uAEdc3kjCmDVB1YOIhKwzwBVhjuP8FVA6pjQEnp8-0/s320/PERNILONGO.jpg


        Mas tinha pernilongo.

        A primeira providência foi chamar o Flávio Scherer, cobra em telas para janelas. Fiz uma no meu escritório e outra entre a varanda e a sala. No quarto já tinha. Fechando a porta da cozinha eu estava salvo dele, o pernilongo.

        Mas na primeira noite, já me sentindo isolado do zumbidinho e das picadonas, ele apareceu nos ares, ele estava lá. E pernilongo é maldoso. Não basta picar. Primeiro ele fica te azucrinando o ouvido. E você, feito um idiota, dando tapas na própria orelha. Não há nenhum registro no mundo de alguém que tenha matado um pernilongo assim.

        No dia seguinte comprei aqueles tabletinhos verdes que coloca na tomada. E deixei, antes de ir dormir, o quarto todo borrifado com um spray que dizia que matava tudo. Fui deitar com um cheiro ruim no quarto. Mas quem é que aparece lá de madrugada? Como se a coisa não fosse com ele.

        Levanto, acendo a luz. Vejo onde ele está, pego a toalha todo sonolento e vou à luta. Mas ele sempre ganha. Mesmo quando você acerta uma toalhada nele, ele dá uma de que vai a nocaute, mas faz uma curva no ar e vai lá para cima. A noite está perdida.

        Chamo o Flávio de novo. Quero telas protetoras na cozinha, no outro quarto, na área de serviço, no quarto de empregada e no banheiro idem. Em uma semana a casa estava completamente protegida. E, quando eu entrava da rua era rápido e abria a porta o menos possível. Eu estava protegido. Ele não teria por onde entrar.

        Duas da manhã, ele. Direto na minha orelha, me gozando, pensei. Mas por onde teria entrado? Não havia nenhuma possibilidade. Foi quando eu pensei que talvez ele já estivesse lá dentro quando o Flávio colocou todas as telas e estaria me avisando que queria sair. Mas era um só e eu resolvi ir à luta. Na mão esquerda um superjato e na direita a toalha. Fechei todas as portas do quarto. Era eu e ele. Um dos dois ia morrer. Não chegou a ser a Guerra dos 100 Anos, mas ele desaparecia como o Bin Laden, que era como eu o chamava: aparece, Bin, se você for macho! Já estava clareando quando eu acertei uma bordoada fatal nele. Sujou a parede de sangue. Sangue meu, naturalmente.

        Na noite seguinte, outro. Resolvi olhar todas as telas, ver se havia uma frestinha. Nada, o Flávio é cobra. Quando entrei no banheiro, tinha dois lá dentro. Pensei: o ninho é aqui. E descobri. Eles entravam pela ventilação no teto. O Flávio colocou uma tela lá. Aproveitou e colocou outra debaixo do ralo.

        Antes de ir dormir, chequei a casa toda. Não havia a menor possibilidade.

        Até os ralos de todas as pias e banheiras, tapados. Hoje eu ia dormir em paz.

        Dormi. Até que ele voltou. Acendi a luz e fiquei olhando para ele. Era o Bin Laden, eu havia matado o afegão, perdão, o pernilongo errado. Como que eu sabia que era o Bin? Minha senhora, eu estava havia dias convivendo com ele, conhecia seu jeitão, seu estilo de voar, e principalmente, sua voz.

        Ele ficava zanzando na minha frente, parecendo que pedia uma trégua, um acordo. Fiz o tal de acordo. Me cubro todo e deixo o pé de fora. Você só pica o pé, tudo bem? Ele balançou a cabeça. E mais, pica uma vez só por noite. Tudo bem? E mais uma coisa e a mais importante de todas. Calado! Nada de zumbido no meu ouvido, pelo amor de Deus!

        E assim foi. Meu pé direito começou a ficar inchado. E o Bin, gordo, imenso, tendo dificuldade até para voos mais rasantes. Comecei a me afeiçoar a ele.

        E tive a grande ideia. Toda noite, antes de dormir, fazia um micro furinho no dedo, saia um sanguinho, deixava num pires para ele. Na manhã seguinte o pires está limpinho. Impressionante.

        Antes de ontem ele amanheceu morto, ao lado do pires. Deve ter morrido de velho. Ou de dengue.

        Agora dormia tranquilo, no silêncio das ondas do mar. Mas acordava sobressaltado toda hora: cadê o Bin? Cadê o Bin? E penso, de vez em quando: Será que ele morreu mesmo? Será que ele não vai aparecer a qualquer momento?

        Não sei, mas continuo dormindo com o pé fora das cobertas. Quem sabe, né?

Mário Prata. O Estado de São Paulo, 27/3/2002.

Fonte: Linguagem em Movimento – língua Portuguesa Ensino Médio – vol. 1 – 1ª edição – FTD. São Paulo – 2010. Izeti F. Torralvo/Carlos A. C. Minchillo. p. 260-261.

Entendendo a crônica:

01 – Qual a principal temática abordada na crônica?

      A crônica de Mário Prata aborda de forma humorística e irônica a luta de um homem contra um pernilongo. Por trás dessa história aparentemente simples, o autor explora temas como a busca pela perfeição, a relação do homem com a natureza e a dificuldade de controlar o inesperado.

02 – Como o autor caracteriza a relação entre o homem e o pernilongo?

      A relação entre o homem e o pernilongo é apresentada como uma verdadeira batalha. O homem utiliza diversos recursos para se livrar do inseto, mas este sempre encontra uma forma de escapar e contra-atacar. Essa relação é marcada pela persistência do pernilongo e pela frustração do homem.

03 – Quais os recursos linguísticos utilizados pelo autor para criar o humor na crônica?

      O autor utiliza diversos recursos linguísticos para criar o humor na crônica, como:

      Ironia: O autor ironiza a situação ao descrever a guerra contra o pernilongo como uma batalha épica, comparando-o a figuras históricas como Bin Laden.

      Hipérbole: O autor exagera a importância do combate ao pernilongo, transformando-o em uma obsessão.

      Linguagem coloquial: O uso de uma linguagem informal e próxima do cotidiano torna a crônica mais divertida e fácil de identificar com o leitor.

04 – Qual o papel do cenário na crônica?

      O cenário paradisíaco da praia e da mata atlântica contrasta com a irritação causada pelo pernilongo, criando uma situação irônica. A natureza, que deveria ser um refúgio tranquilo, torna-se um campo de batalha.

05 – Qual a evolução da relação entre o homem e o pernilongo ao longo da crônica?

      Inicialmente, a relação é marcada pela hostilidade e pela tentativa de extermínio. No entanto, com o passar do tempo, o homem passa a conviver com o pernilongo, criando até mesmo uma espécie de vínculo. Ao final da crônica, o homem demonstra um misto de medo e afeição pelo inseto.

06 – Qual a mensagem que a crônica transmite?

      A crônica transmite uma mensagem sobre a impossibilidade de controlar tudo e a importância de aceitar o inesperado. A luta contra o pernilongo simboliza a luta do homem contra as pequenas frustrações do dia a dia, que por mais que tentemos, nunca conseguimos eliminar completamente.

07 – Como o leitor pode se identificar com a crônica?

      O leitor pode se identificar com a crônica por meio das situações cotidianas e dos sentimentos descritos. A luta contra um inseto irritante é uma experiência universal, e a frustração e o humor presentes na crônica são sentimentos que todos já experimentaram em algum momento.

 

 

domingo, 7 de abril de 2019

CRÔNICA: CHAPEUZINHO VERMELHO DE RAIVA - MÁRIO PRATA - COM GABARITO

Crônica: Chapeuzinho Vermelho de Raiva

                                           Mário Prata

        – Senta aqui mais perto, Chapeuzinho. Fica aqui mais pertinho da vovó, fica.
        – Mas vovó, que olho vermelho… E grandão… Que que houve?
        – Ah, minha netinha, estes olhos estão assim de tanto olhar para você. Aliás, está queimada, heim?
        – Guarujá, vovó. Passei o fim de semana lá. A senhora não me leva a mal, não, mas a senhora está com um nariz tão grande, mas tão grande! tão esquisito, vovó.
        – Ora, Chapéu, é a poluição. Desde que começou a industrialização do bosque que é um Deus nos acuda. Fico o dia todo respirando este ar horrível. Chegue mais perto, minha netinha, chegue.
        – Mas em compensação, antes eu levava mais de duas horas para vir de casa até aqui e agora, com a estrada asfaltada, em menos de quinze minutos chego aqui com a minha moto.
        Pois é, minha filha. E o que tem aí nesta cesta enorme?
        Puxa, já ia me esquecendo: a mamãe mandou umas coisas para a senhora. Olha aí: margarina, Helmmans, Danone de frutas e até uns pacotinhos de Knorr, mas é para a senhora comer um só por dia, viu? Lembra da indigestão do carnaval?
        – Se lembro, se lembro…
        – Vovó, sem querer ser chata.
        Ora, diga.
        – As orelhas. A orelha da senhora está tão grande. E ainda por cima, peluda. Credo, vovó!
        – Ah, mas a culpada é você. São estes discos malucos que você me deu. Onde se viu fazer música deste tipo? Um horror! Você me desculpe porque foi você que me deu, mas estas guitarras, é guitarra que diz, não é? Pois é; estas guitarras são muito barulhentas. Não há ouvido que aguente, minha filha. Música é a do meu tempo. Aquilo sim, eu e seu finado avô, dançando valsas… Ah, esta juventude está perdida mesmo.
        – Por falar em juventude o cabelo da senhora está um barato, hein? Todo desfiado, pra cima, encaracolado. Que qué isso?
        – Também tenho que entrar na moda, não é, minha filha? Ou você queria que eu fosse domingo ao programa do Chacrinha de coque e com vestido preto com bolinhas brancas?
        Chapeuzinho pula para trás:
        – E esta boca imensa???!!!
        A avó pula da cama e coloca as mãos na cintura, brava:
        – Escuta aqui, queridinha: você veio aqui hoje para me criticar é?! 

              Apud S. C. Meserani e M. Kato. Linguagem: criatividade.
São Paulo: Saraiva, 1978.
Entendendo a crônica:
01 – Você conhece a história de Chapeuzinho Vermelho? Que diferenças há entre o conto de fadas original e esse que você acaba de ler?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Que a expectativa é frustrada: a vovó que conversa com a Chapeuzinho é a vovó mesmo, e não o lobo mau disfarçado.

02 – Quando você lê esse texto em voz alta, tem a impressão de que as personagens estão conversando de verdade? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.

03 – No texto, algumas expressões foram destacadas. São expressões que costumamos utilizar apenas na linguagem oral (falada), nas nossas conversas. Por isso são chamadas de marcas de oralidade. Em sua opinião, por que, nesse texto escrito, há tantas marcas da oralidade?
      Porque trata-se de um texto dialogado, as falas imitam a conversação real e por isso estão carregadas de marcas da oralidade.

04 – A gíria também é marca de oralidade. Você consegue identificar alguma gíria no texto e sabe o que ela significa? A propósito, você sabe o que é gíria?
      A gíria que aparece no texto é “barato”, e pode significar “interessante”, “diferente”, “divertido”. Resposta pessoal do aluno.
05 – No texto, como essa gíria aparece escrita? Há algum sinal especial para indica-la?
      Aparecem escritas entre aspas.

06 – Que outras gírias você conhece? Quais você utiliza para conversar com seus colegas, amigos ou conhecidos?
      Resposta pessoal do aluno.

07 – Das gírias que você encontrou, quais você não usa ou não usaria? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.

08 – Releia o texto “Chapeuzinho Vermelho de Raiva” para observar algumas palavras.
a)   Você já sabe que se trata de um diálogo e que os interlocutores são Chapeuzinho e a vovó. Observe as falas de Chapeuzinho: que palavras ela utiliza para se dirigir à vovó? E que palavras ela utiliza para se referir a ela mesma? Copie no caderno trechos do texto que mostram essas palavras.
Para se referir à vovó: vovó, a senhora; a ela mesma: eu, me.

b)   Que palavras ou expressões a vovó utiliza para se referir a Chapeuzinho e a ela mesma?
Para se referir a Chapeuzinho: você, minha netinha, minha filha, queridinha; a ela mesma: eu, me.

c)   Você percebeu que as duas personagens utilizam as mesmas palavras quando falam sobre si mesmas? Que palavras você utiliza para se referir a você mesmo(a)?
Eu, me, mim.
 



sexta-feira, 8 de março de 2019

CRÔNICA: CRIANÇA DIZ CADA UMA - MÁRIO PRATA - COM QUESTÕES GABARITADAS

Crônica: Criança diz cada uma

        Aninha já estava com dois anos. Loira, linda. Nunca tinha cortado os cabelos. Eram amarelos-ouro e cacheados. “Parecia um anjinho barroco”, diz a mãe coruja.
        Lá um dia, a mãe pega uma enorme tesoura e resolve dar um trato na cabeça da criança, pois as melenas já estavam nos ombros. Chama a menina, que chega ressabiada, olhando a cintilante tesoura.

        – Mamãe vai cortar o cabelinho da Aninha.
        – Aninha olha para a tesoura, se apavora.
        – Não quero, não quero, não quero!!!
        – Não dói nada…
        – Não quero! Já disse.
       E sai correndo. A mãe sai correndo atrás. Com a tesoura na mão. A muito custo, consegue tirar a filha que estava debaixo da cama, chorando temendo o pior. Consola a filha. Sentam-se na cama. Dá um tempo. A menina para de chorar. Mas, não tira o olho da tesoura.
        – Olha, meu amor, a mamãe promete cortar só dois dedinhos.
     Aninha abre as duas mãos, já submissa, desata o choro, perguntando, olhando para a enorme tesoura e para a própria mãozinha:
        – Quais deles, mãe?

Mário Prata. “100 crônicas de Mário Prata”. São Paulo: Cartaz editorial, 1997.

Entendendo a crônica:
01 – O objetivo de quem escreveu o texto é:
a) informar sobre um fato ocorrido.
b) expor uma opinião.
c) criticar um comportamento infantil.
d) contar uma história.

02 – A mãe de Aninha resolveu cortar os cabelos da filha porque:
a) Aninha já estava com dois anos.
b) nunca tinha cortado os cabelos da filha.
c) os cabelos da menina eram amarelos-ouro e cacheados.
d) as melenas de Aninha já estavam nos ombros.

03 – Por que Aninha não quer cortar os cabelos?
      Porque Aninha apavorou-se com o tamanho da tesoura.

04 – “Criança diz cada uma”. A que o autor do texto se refere?
      A mãe de Aninha lhe disse que cortaria só dois dedinhos (do cabelo da filha). Mas, a menina achou que a mãe estava se referindo aos dedos das mãos e perguntou “Quais deles, mãe?”.

05 – Grife os termos que retomam o referente Aninha nas frases a seguir:
a) “[…] e resolve dar um trato na cabeça da criança […]”
b) “Chama a menina, que chega ressabiada, olhando a cintilante tesoura.”
c) “A muito custo, consegue tirar a filha que estava debaixo da cama […]”
d) “A menina para de chorar.”

06 – “A menina para de chorar. Mas, não tira o olho da tesoura.”. Essa frase pode ser reescrita da seguinte forma:
a) “A menina para de chorar. Porém, não tira o olho da tesoura.”
b) “A menina para de chorar. Portanto, não tira o olho da tesoura.”
c) “A menina para de chorar. Porquanto, não tira o olho da tesoura.”
d) “A menina para de chorar. Afinal, não tira o olho da tesoura.”

07 – No trecho “Chama a menina, que chega ressabiada, olhando a cintilante tesoura.”, a palavra destacada poderia ser substituída por:
a) preocupada
b) desconfiada
c) aflita
d) impaciente

08 – A maior parte dos verbos no texto está no tempo:
(  ) passado.
(X) presente.
(  ) futuro.

09 – Em “Mamãe vai cortar o cabelinho […].”, a locução grifada tem o sentido do verbo:
a) cortaria
b) cortou
c) cortará
d) cortava.

10 – A ação da narrativa começa quando:
(a) Aninha sai correndo.
(b) Aninha abre as duas mãos.
(c) a mãe promete cortar só dois dedinhos.
(d) a mãe pega uma enorme tesoura.

11 – As palavras "menina", "que" e "filha" referem-se a Aninha e são utilizadas com a intenção de:
(a) dar continuidade ao texto, evitando a repetição do nome de Aninha.
(b) reforçar a ideia de que a mãe é a personagem principal do texto.
(c) fazer substituições desnecessárias para o entendimento do texto.
(d) tornar o texto incoerente.

12 – A história ganha ritmo mais acelerado pelo uso das seguintes palavras:
(a) nunca, atrás, debaixo.
(b) correndo, chorando, temendo.
(c) loira, cabelo, enorme.
(d) tempo, tesoura, própria.

13 – “A mãe pega uma enorme tesoura e resolve dar um trato na cabeça da criança, pois as melenas já estavam nos ombros.” Desse trecho compreende-se que:
(a) para a mãe, os cabelos já estavam compridos e era hora de cortá-los.
(b) para a menina, os cabelos estavam compridos, mas não precisavam ser cortados.
(c) tanto para a mãe quanto para a menina os cabelos precisavam de um corte.
(d) os cabelos já não eram mais amarelos-ouro, por isso precisavam ser cortados.

14 – “-- Não quero, não quero, não quero!!!.” A repetição de não quero e as três exclamações seguidas indicam que:
(A) a mãe perdeu a paciência com a menina.
(B) Aninha vai cortar o cabelo.
(C) Aninha está falando calmamente.
(D) Aninha está praticamente gritando.
  Atividade retirada do Saresp 2007, disponível na internet




quarta-feira, 31 de outubro de 2018

CRÔNICA: O NOME DAS COISAS (FRAGMENTO) MARIO PRATA - COM QUESTÕES GABARITADAS

Crônica: O nome das coisas (Fragmento)
                    
                  Mario Prata

        Outro dia fui comprar um abajur. A mocinha me olhou e perguntou:
        -- Luminária?
        Eu olhei em volta, tinha uma porção de abajur. Não, abajur mesmo, eu disse.
        -- De teto?
        Fiquei olhando meio pasmo para a vendedora, para o teto, para a rua. Ou eu estava muito velho ou ela estava muito nova. No meu tempo - e isso faz pouco tempo -, o abajur a gente punha no criado-mudo, na mesinha da sala. E lá em cima era lustre.
        -- Lustre?
        Descobri que agora é tudo luminária. Passou por spot, virou luminária. Pra mim isso é pior que bandeirinha virar auxiliar de arbitragem e passe (no futebol) chamar-se - agora - assistência.
        Quem são os idiotas que ficam o dia inteiro pensando nessas coisas? Mudar o nome das coisas? Por que eles não mudam o próprio nome? A mocinha-da-luminária, por exemplo, se chamava Mariclaire. Desconfio até que já tivesse mudado de nome.
        Pra que mudar o nome das coisas? Eu moro numa rua que se chama Rodovia Tertuliano de Brito Xavier. Sabe como se chamava antes?

                                      Mario Prata. O Estado de São Paulo, 19 jun. 2002.
Entendendo a crônica:
01 – Que situação serve de ponto de partida para essa crônica?
      Uma compra em uma loja de luminárias.

02 – A partir dessa situação, de que assunto trata o cronista?
      O cronista trata da transformação e mudança das palavras, ao longo do tempo.

03 – Por que o comprador e a vendedora não se entendiam? O que prova esse fato, no texto?
      Porque conheciam os objetos por nomes diferentes, provavelmente porque têm idades diferentes e são de épocas diferentes. O cronista estranhou a palavra luminária, e a vendedora desconhecia as palavras abajur e lustre.

04 – A data que aparece em alguns verbetes indica a época em que a palavra começou a ser usada na língua portuguesa. O atual nome dos abajures e lustres é uma palavra criada recentemente?
      Não. Ironicamente, luminária é um vocábulo mais antigo do que abajur e lustre. Sua primeira ocorrência data provavelmente do século XIV, enquanto os vocábulos abajur e lustre passaram a ser usados no século XIX.

05 – Qual é a origem das palavras abajur, lustre, spot e luminária?
      Abajur e lustre vêm do francês. Luminária cem do latim e Spot é uma palavra da língua inglesa.


quarta-feira, 25 de outubro de 2017

CRÔNICA SOBRE ENVELHESCÊNCIA - MÁRIO PRATA - COM GABARITO

Crônica sobre Envelhescência

VOCÊ É UM ENVELHESCENTE?

  Se você tem entre 45 e 65 anos, preste bastante atenção no que se segue. Se você for mais novo, preste também, porque um dia vai chegar lá. E, se já passou, confira.
   Sempre me disseram que a vida do homem se dividia em quatro partes: infância, adolescência, maturidade e velhice. Quase correto. Esqueceram de nos dizer que estre a maturidade e a velhice (entre os 45 e os 65), existe a envelhescência.
        A envelhescênca nada mais é que uma preparação para entrar na velhice, assim como a adolescência é uma preparação para a maturidade. Engana-se quem acha que o homem maduro fica velho de repente, assim da noite para o dia. Não. Antes, a envelhescência. E, se você está em plena envelhescência, já notou como ela é parecida com a adolescência? Coloque os óculos e veja como este nosso estágio é maravilhoso.
        --- Já notou que andam nascendo algumas espinhas em você? Notadamente na bunda?
        --- Assim como os adolescentes, os envelhescentes também gostam de meninas de vinte anos.
        --- Os adolescentes mudam a voz. Nós, envelhescentes, também. Mudamos o nosso ritmo de falar, o nosso timbre. Os adolescentes querem falar mais rápidos; os envelhescentes querem falar mais lentamente.
        --- Os adolescentes vivem a sonhar com o futuro; os envelhescentes vivem a falar do passado. Bons tempos...
        --- Os adolescentes não tem ideia do que vai acontecer com eles daqui a 20 anos. Os envelhescentes até evitam pensar nisso...
        --- Os adolescentes não entendem os adultos e acham que ninguém os entende. Nós, envelhescentes, também não entendemos eles. “Ninguém me entende” é uma frase típica de envelhescente. [...]
        --- O adolescente faz de tudo para aprender a fumar. O envelhescente pagaria qualquer preço para deixar o vício. [...]
        --- O adolescente esnoba que dá três por dia. O envelhescente quando dá uma a cada três dias, está mentindo.
        --- A adolescência vai dos 10 aos 20 anos: a envelhescência vai dos 45 aos 65 anos. Depois sim, virá a velhice, que nada mais é que a maturidade do envelhescente.
        --- Daqui a alguns anos, quando insistimos em não sair da envelhescência para entrar na velhice, vão dizer:
        --- É um eterno envelhescente!
        Que bom.

               Mário Prata. 100 crônicas. São Paulo: Cartaz/O Estado de São Paulo, 1997, p. 13.
Interpretação do texto:

1 – Você gostou da crônica?
      Sim. Por se tratar de um assunto curioso.

2 – Quem é o autor da crônica?
      Mário Prata.

3 – O autor da crônica “cria” uma outra fase da vida. Qual é ela?
      A envelhescência.

4 – Segundo esse autor, qual é a faixa de idade da adolescência? e da envelhescência?
      - A adolescência vai dos 10 aos 20 anos.
      - A envelhescência vai dos 45 aos 65 anos.

5 – Você concorda que existe a fase da “envelhescência”? Justifique.
      Resposta pessoal do aluno. Sim, porque mesmo tendo passado dos 65 anos, tem pessoas que não se acham idoso.

6 – Você conhece alguém que seja um “envelhescente”? Que características de “envelhescente” essa pessoa apresenta.
      Sim. A característica é por já ter entrado na velhice, e querer estar na envelhescência, até mesmo pensar em arrumar uma companheira bem mais jovem.

7 – Quando foi publicado a crônica? E em que meio de comunicação?
      Foi publicado em 1997. No Cartaz / O Estado de São Paulo.

8 – Qual é a diferença entre a adolescência e a envelhescência quanto a fala, voz?
      Na adolescência fala-se mais rápido e a voz muda.
      Na envelhescência fala-se mais devagar e tranquilo.

9 – Em quantas partes se divide a vida do homem, de acordo com Mário Prata? Quais são?
      Divide-se em 5 partes. Sendo: Infância, adolescência, maturidade, envelhescência e velhice.

10 – Qual é a frase mais típica que se ouve entre adolescentes e envelhescentes?
      “Ninguém me entende”.