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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

CONTO: TRAGÉDIA CARIOCA - RAQUEL DE QUEIROZ - COM GABARITO

 Conto: TRAGÉDIA CARIOCA

              Raquel de Queiroz

        A menina vestia calças compridas e um casacão de malha, informe, de mangas arregaçadas. Sentou-se no sofá, cruzou as pernas longas, pediu licença para se servir um dos meus cigarros. O nariz arrebitado, a pele borrifada de sardas, o cabelo curto de rapazinho dão-lhe um ar de grande imaturidade – quinze, dezesseis anos não mais. Ela diz que tem dezessete e está grávida. Meu Deus, como é que estão casando meninas assim tão novas? Mas olhando a mão esquerda da moça, não lhe vejo aliança. E, antes que eu possa fazer qualquer pergunta, ela é que vai explicando:

        -- A senhora já ouviu falar em transviada? Pois está aqui uma. Pelo menos até o carnaval deste ano eu era das péssimas. Doida por garupa de lambreta, anarquia em inferninho, cuba livre, bolinha, camisa de homem...

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6LVPchTAubqjAtOPJ55K5Zah10XLv8mWJbnVIEAP1Ia49z7GxHnH7W1K3AyjK8SA7WjSRH06BtR45uNKQ63I4QnZfTLO0XsbD72phL-28UsTTQRvK9yqAnlRGkTFtKtLmpMbUYURyp8c3PPqVG73A2umVFzwVQtKE5T8xELGXcJBoMNiq8wa2NLRNRjg/s320/LAMBRETA.jpg


        Meteu-se com uma turma forte que o pessoal do quarteirão chamava o “jardim-de-infância”... mas cada jardim-de-infância! Depois, fez par com um garoto da idade dela, um cretininho de cabeça de peruca, dizia que tinha vindo dos Estados Unidos mas nem falar inglês não sabia, só dizer “oh boy let’s go, golly”, essas besteiras, inglês mesmo de conversar com americano ele não pesca tusta. E nem lambreta dele mesmo tinha, era emprestada; bem, propriamente emprestada não, de condomínio; todo o grupo pagava um rateio e cada um tinha o seu horário de usar a máquina. O dele caía de tarde, na hora do rush, quando Copacabana fica infecta pra lambreta, então procuravam esses lugares mais desertos onde se pode dar uma chispada. E a gente andando assim os dois sozinhos, às vezes encosta a máquina, tem cada lugar lindo de floresta e montanha, não é mesmo? Este Rio de Janeiro não é à toa que se chama Cidade Maravilhosa. E depois com essa balda de geração em revolta, educação sexual, ninguém se lembra que pode vir criança. Pois foi logo o que apareceu.

        -- O povo lá em casa recebeu como se fosse o fim do mundo – quero dizer minha mãe porque a irmã não liga mesmo e pai não tenho mais. agora me diga, a gente é mulher, e para uma mulher ter um filho é fim de mundo? Minha mãe foi logo avisar ao pai dele que ia dar queixa na polícia, mas o pai dele tem um irmão que trabalha no Fórum e ele explicou para minha mãe que se nós déssemos queixa do garoto eles davam queixa de mim – que ele também sendo menor o crime é recíproco. A senhora sabia que nesses casos tem crime recíproco? Pois é.

        Aí minha mãe ficou com medo, quem sabe me mandavam para o presídio, aquele em que botam as moças-mães do SAM, que saiu a reportagem na revista, uma coisa pavorosa. O garoto diz que não precisa fazer show, que ele casa e pronto. Isso ele queria! Mas eu que não quero. Que é que eu ganho casando com aquele boboca? A senhora me diga, eu posso ter algum futuro? O cara ainda não fez nem dezoito, se sabe ler esconde, quanto mais ganhar a vida direitinho, está bem? Eu quero ser aeromoça ou modelo, mas casada não posso ser nada disso, em qualquer dessas profissões não permite casamento. A senhora me vendo agora não diz, mas tenho mesmo todas as medidas de manequim – altura 1,68, cintura 56, 80 de quadril e 81 de busto. Já disse pra minha mãe aguentar a mão até a criança nascer, depois a gente resolve. E ela aí me enche de tapa, diz que estou completamente perdida, que aquele cara ou casa comigo ou casa com o juiz de menores. Imagine tanta loucura!

        Sei que a senhora não tem nada com isso, mas não podia dar um conselho? Não falo pra mim, mas para minha mãe, que ela disse que ia telefonar à senhora, pedindo para botar uma reportagem contando como é que está sendo esse caso de mocidade transviada e que a filha dela é uma vítima da dissolução da família. Mas o que ela quer mesmo é o casamento, e eu já disse pra ela que se fizer o casamento vai ver – tem que sustentar a mim, à criança e ao mustafá do genro. Louco pra isso está mesmo ele! Eu, hein?

        Mas minha mãe diz que prefere, contanto que eu fique com o nome limpo. A senhora acha que ser esposa de um tipinho cafajeste daqueles é ter nome limpo? Ah, eu não entendo a minha mãe! Parece uma criança, o que o pessoal diz pra ela logo ela acredita.

        Eu vim na frente pra pedir à senhora que explique a ela, porque eu dizer não adianta. Que esse negócio de casar pro bem da honra foi no tempo do Dom João Charuto. Ela aguenta a mão agora, depois eu fico emancipada, e se a profissão de modelo não der certo sempre posso tentar o rebolado.

        E, por favor, não bote essa reportagem que ela quer, a turma até pode achar ruim, desacatar a velha, eles são loucos – imagina se acontece aí um acidente, atropelam a minha mãe, quero ver se eu tenho a culpa!

        Ai, quanto problema nesta vida, a senhora vê, eu estou só com dezessete anos, mas me parece que já vivi foi uns cento e sete! E com essa mãe que eu tenho – me dá licença pra tirar outro cigarro?

In: A palavra é... mulher. São Paulo: Scipione, 1990, p. 86-89.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, Vol. Único. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. Ensino Médio, 1ª ed. 4ª reimpressão – São Paulo: ed. Atual, 2003. p. 397-398.

Entendendo o conto:

01 – Qual é o tema central do conto?

      O conto aborda a gravidez precoce e suas consequências na vida de uma jovem carioca de 17 anos. Através da narrativa da personagem principal, o texto discute temas como a irresponsabilidade dos jovens, a falta de educação sexual, a dissolução familiar e a busca por soluções para os problemas decorrentes da gravidez.

02 – Quem é a personagem principal do conto?

      A personagem principal é uma jovem de 17 anos que engravida após se envolver com um rapaz irresponsável. Ela é descrita como uma menina com aparência imatura, mas que demonstra ter uma visão pragmática da situação.

03 – Qual é o conflito central do conto?

      O conflito central do conto é a decisão da jovem sobre o que fazer com a gravidez. Ela se recusa a casar com o pai da criança, pois não acredita que ele tenha condições de sustentar a família. Ao mesmo tempo, ela enfrenta a pressão da mãe para se casar e "limpar seu nome".

04 – Quais são os principais personagens do conto, além da protagonista?

      Mãe da jovem: Uma mulher preocupada com a reputação da filha e que pressiona-a para se casar.

      Pai do bebê: Um rapaz irresponsável que não tem condições de sustentar a família.

      Irmã da jovem: Uma pessoa que não se importa com a situação da irmã.

      Pai da jovem: Já falecido.

      Pai do rapaz: Um homem influente que tenta evitar que o filho seja processado.

      Irmão do pai do rapaz: Um advogado que ajuda o pai do bebê a evitar o processo.

05 – Qual é o papel da mãe da jovem no conto?

      A mãe da jovem representa a figura materna tradicional, preocupada com a honra da família e com o que os outros vão pensar. Ela pressiona a filha para se casar, mesmo que isso signifique se unir a um homem irresponsável e sem futuro.

06 – Qual é a crítica social presente no conto?

      O conto faz uma crítica social à falta de educação sexual e à irresponsabilidade dos jovens, que muitas vezes não têm consciência das consequências de seus atos. Além disso, o texto também critica a pressão social para que as jovens se casem, mesmo que não queiram, apenas para "limpar seus nomes".

07 – Qual é o desfecho do conto?

      O conto termina sem um desfecho definitivo. A jovem decide esperar o bebê nascer para tomar uma decisão sobre o que fazer. Ela demonstra ter uma visão pragmática da situação e não se deixa levar pela pressão da mãe para se casar. O futuro da jovem e do bebê fica em aberto, deixando o leitor com uma reflexão sobre os desafios da maternidade precoce.

 

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

CRÔNICA: UMA ESPÉCIE EM EXTINÇÃO - RAQUEL DE QUEIROZ - COM GABARITO

 Crônica: Uma espécie em extinção

             Raquel de Queiroz

        A moça, estudante de letras, me perguntou o que eu achava da avassaladora invasão de neologismos no nosso idioma. Bem, acho que da nova linguagem que acompanhou e acompanha a era dos computadores, é muito difícil escapar. Ninguém vai ficar inventando traduções para coisas que não fomos nós que inventamos e a maioridade nós mal sabemos do que se trata. Deletar, por exemplo, não tem um sentido muito mais amplo do que simplesmente apagar? 

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwK2LNm2c9932Us9NkdGIrU4LXp_v_tpLv-3wP2nJ83EVyQuk6fonX68ShE1r_2MbZqmu0Pe7xTV01lEV_OkvK8qGi30ssQaJ29zL-2Ns7X75FCc9ZPQC-MkWabOWBzdKCXbnkgup_H3d29-DatCcG9POJcqRNeplTzFpxE3njEV5ZcAg2swzKKGb9izU/s320/rachel-de-queiroz.jpg


Mas não quero me arvorar nessa discussão de filólogos, mormente que não me entendo com computador. Aliás, fora esses, que vêm no bojo das novas tecnologias, neologismos, principalmente os de gíria, têm quase sempre nascimento humilde. As pessoas mais cultas, ou escutam as palavras difíceis na sua própria casa ou as consultam nos dicionários. O ignorante comum tem seu próprio dicionário na cabeça, restrito, é verdade, muito faltoso na conjugação dos verbos, mas dono de um toque pessoal iniludível.

        Foi um assunto que sempre me impressionou, como é que nasce uma linguagem. Quando eu era ainda menina e começaram a me ensinar francês, o grande mistério para mim era: como foi que eles deram para falar desse jeito? Inventaram primeiro as palavras todas e desandaram falando, ou foram inventando as palavras de uma em uma?

        Devemos confessar que, a esta altura do mundo, ainda sabemos muito pouco da invenção da linguagem. Claro que os especialistas explicam tudo a respeito, mas quem é que acredita em especialista? Por exemplo: na nossa língua se diz menino-menina. De repente veio alguém, que inventou "criança", uma palavra só para dizer no lugar das duas. E afinal todas essas minhas hipóteses são justas, pois ninguém sabe mesmo como é que nasce um idioma. Descartando-se a origem bíblica do par inicial, Adão e Eva, que já nasceu grandinho e falando tudo, como é que começa uma língua? Tudo virá mesmo de um casal inicial? Porque, em resumo, a indagação principal é esta: a gente provém de um par humano único ou da lenta transformação de macacos em homens? E, mesmo dentro desta hipótese, como começou o primeiro casal de macacos? Os livros de História Natural não nos ensinam nada disso. Será que a princípio foi uma bolha e dentro da bolha havia um ponto de vida, e esse ponto virou um animálculo, e o animálculo foi-se dividindo em duas partes, e depois suas metades se dividiram em duas, de divisão em divisão, chegaram ao homem? No colégio da Imaculada, quando estudávamos para normalistas, o nosso professor, um médico, ateu, citou as diversas hipóteses para a criação da vida e seu desenvolvimento, e nos disse sorrindo:

        "Escolham a melhor que lhes parecer dessas hipóteses, mas não contem às Irmãs que eu desdenhei de Adão e Eva."

        Vocês já pensaram o que seria essa frase do professor, ou antes, essa dúvida para um auditório de meninas, composto de adolescentes como eu, que era a mais nova, mulheres já feitas, muitas delas se preparando para o noviciado religioso?

        Bem, para as postulantes, as quase freiras, não havia problemas, já estavam encartadas no papel, tinham ouvidos moucos para tudo que fugisse à doutrina. Mas o meu time fervia, cada uma inventava a sua teoria da criação e da reprodução, mas éramos tão excessivamente ignorantes que nada sabíamos, mas nada mesmo, da anatomia humana. Um menino de 5 anos, nu, de certa forma era defeso ao nosso olhar. Menina, desde pequenina, não se misturava com meninos. Maria Vicência, uma das nossas auxiliares de disciplina, nos obrigava a tomar banho de chuveiro, vestidas em camisolões, e uma das auxiliares da disciplina ensinava às pequenas a se enxugar e mudar de roupa. Nós que nos virássemos, protegidas pela toalha que se destinava originalmente não só a nos enxugar, como a nos cobrir. Curioso é que jamais discutíamos em casa a obsessão de modéstia imposta no internato. Em casa víamos nossas tias jovens e as primas passeando pelo quarto em trajes menores, sem qualquer curiosidade de nossa parte. Talvez pensássemos obscuramente que as mulheres de casa compunham um núcleo especial.

        Engraçado é que, da adolescência à velhice, a gente evolui muito menos do que pensa. Mesmo depois de tanta idade, ainda temos uma vasta cópia de curiosidades reprimidas.

        Talvez as moças de hoje já procedam diversamente. Mas nós, coitadas, vamos morrer mesmo como espécies de uma raça extinta.

QUEIROZ, Raquel de. Correio Braziliense. Disponível em: http://www2.correioweb.com.br/EDICAO 20020805/pri opi 050802 16htm. Acesso em: 5 ago. 2002.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 134-135.

Entendendo a crônica:

01 – Qual a principal ideia que a crônica busca transmitir?

      A crônica busca transmitir a ideia de que a linguagem é um fenômeno complexo e cheio de mistérios. A autora questiona a origem das palavras, a evolução da linguagem e a forma como construímos nosso conhecimento sobre o mundo. Além disso, a crônica reflete sobre a construção da identidade feminina e a repressão sexual na época em que a autora viveu.

02 – Qual o papel da anedota sobre o professor ateu na crônica?

      A anedota sobre o professor ateu serve para ilustrar a complexidade das questões relacionadas à origem da vida e à criação. Ao apresentar diferentes hipóteses, o professor provoca a curiosidade das alunas e as convida a questionar as verdades estabelecidas.

03 – Qual a importância da referência à vida no internato para a crônica?

      A referência à vida no internato permite que a autora explore a construção da identidade feminina em um ambiente marcado pela repressão sexual e pela imposição de valores religiosos. A experiência da autora no internato revela a curiosidade natural dos adolescentes em relação ao corpo e à sexualidade, contrastando com a rigidez das normas sociais da época.

04 – Qual a relação entre a linguagem e a identidade?

      A linguagem é uma ferramenta fundamental para a construção da identidade. As palavras que utilizamos, a forma como nos expressamos e o nosso vocabulário revelam muito sobre quem somos e como vemos o mundo. A autora sugere que a linguagem não é apenas um meio de comunicação, mas também um reflexo da nossa história e da nossa cultura.

05 – Qual a importância da pergunta sobre a origem da vida para a crônica?

      A pergunta sobre a origem da vida serve como ponto de partida para uma reflexão mais ampla sobre a existência humana. Ao questionar como a vida surgiu e como a linguagem se desenvolveu, a autora nos convida a pensar sobre nosso lugar no universo e sobre o significado da vida.

06 – Qual o tom predominante na crônica?

      O tom predominante na crônica é irônico e leve. A autora utiliza a linguagem coloquial e a primeira pessoa do singular para criar uma proximidade com o leitor e tornar a leitura mais agradável. Ao mesmo tempo, a crônica aborda temas profundos e complexos de forma inteligente e perspicaz.

07 – Qual a relevância da crônica para a sociedade contemporânea?

      A crônica de Raquel de Queiroz continua relevante para a sociedade contemporânea, pois aborda questões que ainda são objeto de debate, como a origem da vida, a construção da identidade e a relação entre linguagem e pensamento. Além disso, a crônica nos convida a refletir sobre o papel da educação na formação do indivíduo e a importância de questionar as verdades estabelecidas.

 

 

quinta-feira, 10 de março de 2022

CRÔNICA: A CIDADEZINHA - RAQUEL DE QUEIROZ - COM GABARITO

 Crônica: A cidadezinha

               Raquel de Queiroz

        Era uma vez uma cidadezinha, dessas muito antigas. Pequena, mal tinha umas cinco ruas meio tortas e desencontradas. As casas, nessas ruas, eram quase todas baixinhas. No meio delas uns dois sobrados, o casarão da escola e o outro casarão muito feio, com janelas gradeadas, onde ficava a cadeia.

        Mas a graça daquela cidadezinha era a igreja, que a gente até poderia chamar de igrejinha. Ficava no alto do morro, toda branca, de portas azuis, parecia leve, muito linda. Talvez por causa da igrejinha no morro, a cidadezinha ganhou o nome de Morro Lindo. A igrejinha é que era linda, mas o morro ficou com a fama.  E não era dessas igrejas importantes, paredes de pedra, com as torres apontando para o céu. Tinha as paredes muito simples, era quadradinha, com uma torre também quadrada. E bem debaixo do telhado da torre, ficava o sino.

Raquel de Queiroz. Andira. São Paulo: Siciliano, 1992. p. 3.

Fonte: Livro- PORTUGUÊS: Linguagens – Willian R. Cereja/Thereza C. Magalhães – 6ª Série – 2ª edição - Atual Editora – 2002 – p. 123-4.

Entendendo a crônica:

01 – O texto está organizado em dois parágrafos. No 1°, há uma descrição da cidade; no 2°, uma descrição da igrejinha.

a)   Como era a cidade, suas ruas e casas?

Era muito antiga e pequena. Suas ruas eram meio tortas e desencontradas. Quase todas as casas eram baixinhas.

b)   Como era a igrejinha?

Era branca, de portas azuis e parecia leve, muito linda.

02 – Para ressaltar ainda mais as qualidades da igrejinha, o narrador cita alguns elementos das igrejas importantes: as paredes e a torre.

a)   Como são normalmente as paredes de uma igreja importante? E as da igrejinha, como eram?

As paredes de uma igreja importante são de pedra. As da igrejinha eram caiadas.

b)   Como são as torres de uma igreja importante? E a torre da igrejinha, como era?

As torres de uma igreja importante apontam para o céu. A torre da igrejinha era quadrada.

c)   O narrador afirma: “não era dessa igrejas importantes”. Que característica da igrejinha se contrapõe a importante?

Simples.

03 – No 2° parágrafo, o narrador afirma que a igrejinha “parecia leve”. Qual é o sentido desse adjetivo no contexto?

      Delicada, simples, de formas suaves.

04 – O narrador manifesta descontentamento em relação ao nome da cidade.

a)   Por quê?

Porque a igrejinha era o que a cidade tinha de mais bonito, e não o morro.

b)   Imagine para essa cidade um nome que fosse mais adequado à descrição que lemos.

Resposta pessoal do aluno.

 

terça-feira, 26 de junho de 2018

CRÔNICA: ONDE É A "CRACOLÂNDIA" - RAQUEL DE QUEIROZ - COM GABARITO

Texto: Onde é a “Cracolândia”
          Rachel de Queiroz


        A primeira vez em que ouvimos falar no vício de crack, aqui no Brasil, foi a propósito de um prefeito de Washington, negro – creio, aliás, o primeiro negro a exercer esse cargo. Escândalo tremendo, muita gente chegou a pensar que seria campanha dos brancos contra o chamado “homem de cor”. Mas o coitado confessou; os jornais tiveram de explicar ao público o que seria esse tal de crack, uma espécie de pasta, cujo ingrediente principal seria a cocaína. Passou o escândalo, como passam todos, e sumiram com o prefeito “craquista” no noticiário.
        Mas já agora, infelizmente, ninguém mais no Brasil ignora o que é o crack.
        E, pior: já é grande a difusão da droga entre nós, especialmente entre os jovens, em São Paulo, no Rio, e provavelmente na maior parte das grandes cidades do País. Há campanhas organizadas por associações beneficentes, e, claro, um pavor generalizado entre pais e parentes que já contam, em casa, com meninos e meninas consumidores ou pelo menos conhecedores da droga.
        De São Paulo, recebo agora uma carta que me comoveu profundamente: uma coisa é a gente encarar um problema, embora grave, a distância; impressiona, revolta, mas não provoca o impacto, o susto daquilo que se vê com os próprios olhos, na casa de amigos.
        Trata-se de um rapaz, que conheci garotinho, que sentei no meu colo, que já mostrava então nos olhos vivos uma inteligência precoce. Na carta, contam os pais, desesperados, que o menino, já rapaz agora, se tornou viciado em crack, e, dentro dessa rota, que parece sem retorno, caminha para o desastre final.
        Dizem: “Nosso filho, o Junior (lembra-se como você gostava dele?), é hoje um desses menores perdidos pelas ruas do que eles chamam ‘Cracolândia’. Hoje, viciado assumido, já tem os pés danificados, perdeu dentes e traz nas costas as marcas das surras que, comumente, os jovens como ele levam de elementos da polícia, que por desvio de formação, talvez, maculam com violências a imagem da sua corporação. Da última internação que conseguimos para o nosso filho, o resultado foi catastrófico. Recorremos a uma clínica religiosa, que nos parecia capaz de conseguir uma solução. Pagamos R$ 200,00 na entrada e o soubemos de volta às ruas dentro de quatro dias.
        Não lhe deram qualquer tipo de medicamento; como estudo, ensino bíblico, quatro horas por dia; e trabalhos de limpeza e cozinha como 'terapia'.
        Confesso que não temos mais o que fazer, o que tentar. Recorremos a você, na esperança de que nos dê qualquer luz, que nos guie, neste pavor em que vivemos.”
        Transcrevo aqui essa carta patética, mas veraz, levada pela mesma esperança desses amigos. Quem sabe o governo, a sociedade, a imprensa, qualquer pessoa influente ou organização (eles nos falam numa “Associação de Desenvolvimento Solidário”, que já existe em São Paulo, e se dedica ao problema) encontre uma solução. Dizem-me ainda os pais que esses meninos desviados não são só crianças carentes, alguns de classe média, outros de classe alta; trocam a casa dos pais pela rua, vivem de pequenos furtos e acabam dominados pelos traficantes de drogas.
        Não serei a primeira nem serei a última a trazer esse assunto à imprensa. (...)
        O fato é que alguém tem de descobrir uma solução, antes que se perca, no crack, toda uma geração de jovens brasileiros.

                             Raquel de Queiroz. O Estado de São Paulo, 15 fev. 1997.

Entendendo o texto:
01 – A palavra cracolândia vem de duas palavras inglesas:

Crack = rachadura, fenda, queda, dano, desequilíbrio.
Land = terra.

Você conhece mais palavras com a terminação “lândia”? Escreva-as:
      Resposta pessoal do aluno.

02 – Reescreva as frases, substituindo as palavras em destaque por sinônimos.
a)   Ninguém mais ignora que o crack seja um grave problema.
Ninguém mais desconhece que o crack seja um sério problema.

b)   A difusão das drogas é alarmante!
A propagação das drogas é alarmante!

c)   O malandro confessou ser um traficante.
O malandro admitiu ser um traficante.

03 – Construa uma frase empregando a palavra impacto.
      Resposta pessoal do aluno.

04 – A crônica de Raquel de Queiroz pode ser dividida em duas partes.
Na primeira parte a autora fala do crack de forma geral. Qual é a segunda parte do texto? A partir de que parágrafo ela começa?
      No quarto parágrafo a autora começa a narrar um caso acontecido com um filho de amigos dela. No final (da carta) ela faz, ainda, umas reflexões sobre o problema.

05 – Os pais do jovem viciado em crack endereçaram a carta à autora com dois objetivos:
a)   Primeiramente eles contam o que aconteceu com o Júnior e a que estado deplorável ele chegou.
b)   E o segundo motivo da carta? O que eles pedem a Raquel?
Eles recorrem a ela pedindo uma luz que os guie e oriente.

06 – Por que o caso do Júnior provocou um “impacto”, um choque na autora do texto?
      Porque o garoto passou de bom a viciado.
      Era inteligente, de boa família, e acabou se envolvendo com drogas.

07 – Escrever quais os danos físicos causados pela droga em Júnior. (Veja o sexto parágrafo).
·        Pés danificados (machucados).
·        Perda dos dentes.
·        Marcas de surras nas costas.

08 – Explique com suas palavras o sentido do trecho:
“... essa rota, que parece sem retorno, caminha para o final.”
      O caminho da droga (do drogado) é de difícil retorno, é uma estrada sem volta, e o resultado é a destruição e a morte.

09 – A crônica “Onde é a Cracolândia”? Tem fundamento na vida real ou a autora apenas teria inventado uma história? Explique.
      Sim, é a vida real de muitas famílias.

10 – Qual é a sua opinião sobre o uso de drogas?
      Resposta pessoal do aluno.

11 – A autora diz, no final da crônica, que “... alguém tem que descobrir uma solução...” para o problema das drogas. Na sua opinião, quais seriam as saídas, as maneiras de resolver esse grave problema?
      Resposta pessoal do aluno.