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domingo, 25 de fevereiro de 2024

CRÔNICA: CABEÇAS-DE-VENTO - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

  Crônica: Cabeças-de-Vento

                                       Walcyr Carrasco

 UM DOS MAIORES SUSTOS de minha vida aconteceu exclusivamente por culpa minha. Trabalhava em um escritório em uma pequena travessa do bairro dos Jardins. Recebi um amigo, conversamos. Saímos de noitinha. Chuviscava; Corremos até o carro. Tentei abrir, não conseguia. Um carro entrou na rua em disparada. Brecou rangendo os pneus. Quatro rapazes mal-encarados saíram às pressas, deixando as portas abertas. Não tive dúvidas: íamos ser assaltados. O escritório fechado. Rua vazia. Gelei. Um dos sujeitos parou a dois metros. Os outros formaram um arco atrás dele.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_HWp7PnJUgllfb6hSDlwcWtlLFQBMLpMuTI-UIjHJu30VkWLaM8AEhvOW19EsIqXKHvtYBMPKuLQQNT69-seC6qcgOQVWzWYEFD_3z2k3oPpZ_2XCilUfEjmTJjYFwWJmB_PXV6g7kRcBNEo57RCTKUkBJF2Kjwi0M3-E4DhJ7Flz6Z-Mqqaqgng5AhY/s320/CABE%C3%87A.jpg


— Boa noite — rosnou.

— Boa noite — gemi de volta.

         — Largue o carro — gritou ele.      

Tremi. Era mesmo um bando de ladrões. Eu e meu amigo imóveis de medo.

— Vamos, largue o carro! — insistiu o mal-encarado.

— Mas... é meu -— consegui dizer, quase em lágrimas, abraçando o capo. — E seu coisa nenhuma. É meu.

Ergueu o punho, ameaçador. Já ia responder quando olhei para o lado. Lá estava meu carro, estacionado a poucos metros. Quem estava tentando levar o automóvel alheio era eu! Constrangidíssimo, tentei explicar:

— Ih! Acho que me enganei. O meu é aquele lá.   

 Quem poderia acreditar? O meu era azul, o dele marrom. Pior: de modelos completamente diferentes. Meu amigo babava com o vexame. Fugimos às pressas, antes de levarmos uma surra. Certamente o sujeito e a turma vão contar a vida toda como certa vez afugentaram dois perigosos ladrões com a boca na botija.

Carros são um prato ótimo para distraídos. Dia desses um amigo entrou na garagem do prédio, que tem dois pavimentos. Horrorizado, descobriu que seu carro estava todo enlameado.

— Alguém deve ter usado escondido! Só pode ser o garagista!

Cheio de raiva, pegou uma mangueira. Lavou. Arrumou pano velho para enxugar. Quando chegou na frente, notou parte da pintura descascada.

   — Ainda por cima devem ter raspado na parede. E muita safadeza. 

Já estava prestes a chamar o síndico. De repente descobriu que tinha lavado o carro de outra pessoa. Pior, de um modelo diferente do seu! Simplesmente errara o pavimento da garagem, caminhara até onde julgara ser sua vaga e o resto ficou por conta da distração. Tenho uma amiga experta em distrações culinárias. Convida para um churrasco e esquece de comprar a carne. Certa vez preparou um jantar para dez pessoas. Só eu fui. Ficou arrasada. Lá pelas tantas, ligou para um convidado.

— Por que você não veio no meu jantar?

— O quê? Você não avisou!

Tinha esquecido de convidar. Tenho um amigo tão distraído que, em certo dia de chuva, ficou de dar carona a uma companheira na saída do trabalho.

Ofereceu.

— Vou até o estacionamento, tiro o carro e pego você na porta.

A amiga sorriu, agradecida. São raros os cavalheiros hoje em dia. Pois bem:

o "cavalheiro" chapinhou até o estacionamento. Pegou o carro e saiu. A moça aguardava na porta. Ele passou por ela distraidamente, deu tchauzinho e foi embora. A coitada pensou que fosse brincadeira. Quarenta minutos depois percebeu que havia algo errado. Foi obrigada a sair na chuva, no escuro, até um ponto de ônibus Só no dia seguinte, quando estava prestes a levar uns tapas, ele percebeu o engano. — Ih... eu esqueci que você estava me esperando! Se dirijo, às vezes viro na rua errada, sem pensar. Principalmente quando estou acostumado com um caminho e esqueço que vou para outro lugar. Levanto para dar um telefonema urgente, paro para tomar um café e quando lembro passou o horário comercial. Meu amigo Cláudio, um distraído contumaz, jura que é genético. Certa vez, nos bons tempos do centro da cidade, seu avô e sua avó foram assistir a uma ópera no Teatro Municipal. Ela, com casaco de peles e joias, elegante como era de praxe. O casal saiu caminhando. A rua Xavier de Toledo estava em obras, cheia de tapumes e buracos bem fundos. A avó caiu dentro de um deles. O marido nem percebeu. Distraído, foi para casa, sentou-se para ler o jornal. Horas depois a mulher apareceu. Suja de barro até os cabelos. O casaco de pele destruído. Ele espantou-se: — Onde é que você estava?

Hoje em dia daria divórcio. Na época, ela contentou-se em rugir. De tudo, uma lição se aprende. Quando se fala em distraídos, sem dúvida a tragédia anda ao lado da comédia.

Entendendo o texto

01. Qual foi o motivo do susto vivenciado pelo protagonista na crônica?

a) Ele foi perseguido por ladrões.

b) Ele se enganou pensando que ia ser assaltado.

c) Ele perdeu seu carro.

d) Ele viu um acidente de carro.

    02. O que o protagonista abraçou quando os supostos ladrões ordenaram que largasse?

         a) Um poste

         b) Seu amigo

         c) Uma árvore

         d) O capô de um carro

   03. Por que o amigo do protagonista ficou horrorizado ao encontrar seu carro na garagem do prédio?

         a) Estava todo enlameado.

         b) Estava amassado.

         c) Estava com os pneus furados.

         d) Estava bloqueando a saída.

  04. O que o amigo do protagonista descobriu quando chegou na frente do carro que estava lavando?

        a) A pintura estava descascada.

        b) O pneu estava murcho.

        c) O motor estava falhando.

        d) O carro não era o seu.

  05. Qual foi a distração culinária da amiga do protagonista mencionada na crônica?

       a) Esqueceu de comprar carne para o churrasco.

       b) Preparou um jantar para dez pessoas e só o protagonista apareceu.

       c) Não avisou os convidados sobre o jantar.

       d) Esqueceu de acender o fogão.

  06. O que o amigo distraído do protagonista esqueceu de fazer quando prometeu dar carona para a companheira de trabalho?

       a) Tirar o carro do estacionamento.

       b) Encontrar a companheira na porta do trabalho.

       c) Voltar para buscá-la após estacionar o carro.

       d) Ligar para avisar que estava a caminho.

  07. Qual é a principal causa das distrações do protagonista quando dirige?

        a) Ele costuma se distrair com o celular.

        b) Ele tem problemas de visão.

        c) Ele se perde facilmente.

        d) Ele está sempre atrasado.

   08. O que aconteceu com a avó do amigo distraído do protagonista durante uma ida ao Teatro Municipal?

       a) Ela perdeu seu casaco de pele.

       b) Ela ficou presa em um buraco na rua.

       c) Ela foi atropelada.

       d) Ela se perdeu no caminho.

  09. Qual foi a reação do marido da avó do amigo distraído quando ela voltou para casa suja de barro?

       a) Ele ficou muito preocupado.

       b) Ele riu da situação.

       c) Ele não percebeu.

       d) Ele pediu o divórcio.

  10. Qual é a lição que se aprende com as histórias de distrações na crônica?

       a) Distrações podem resultar em tragédias.

       b) Distrações são sempre engraçadas.

       c) É importante prestar atenção aos detalhes.

       d) É inevitável cometer erros por distração.

 

CRÔNICA: O CASAMENTO - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: O Casamento

                 Walcyr Carrasco

 

ENTRO NA SACRISTIA embalsamado em um terno preto. O botão está perigosamente apertado sobre minha barriga. Tremo à ideia de que possa estourar como uma rolha de champanhe quando eu estiver sobre o altar. Serei padrinho de casamento de meu amigo Rodrigo. Sou o primeiro a chegar. Precavido, corro para o toalete. 

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhaO_0qfbVCg2LTqCb0C8QDP8c_dkPCqmdu-o25oaEMefGxphRKMGns8RX90rdRFXAWRA1-rGHq_11GHvFyWNN9KAFg76d3fx61tkQR8Zu4hQ69_q0Cz2mS6acWyXydKM4lQRCfbox5c1Lg7EoyscrWXGJqMn-J8F0HDBtwK9_-dVeWFoqRi3lKREeF0SM/s320/TERNO.jpg


Ando fazendo uma dieta sem sal: Diurética. Ai, que medo! Busco o masculino. Só encontro o feminino. Tranco-me lá dentro, já que ninguém está vendo. Quando saio, há uma fila de mulheres na porta. Disfarço. Os outros padrinhos chegam. Todos estão de camisa branca. Menos eu, que vim de azul. Sinto-me horrível. O noivo também chega. Abraça a todos, visivelmente emocionado. Meu amigo Murilo comenta.

— Está pingando sangue do seu queixo.

Verdade! Havia me cortado ao fazer a barba. Um grupo de madrinhas apressa-se a resolver meu problema.

— Bote o lenço! — Tire o lenço!.

— Jogue água fria!       

É duro transformar-se no centro das atenções enquanto todo mundo espera! Finalmente, estanca por si mesmo. Respiro aliviado.

Uma senhora nos chama. Deveremos entrar em cortejo, em uma ordem,

definida. Dá instruções.

— Padrinhos do noivo devem subir para o lado direito do altar!          

— Ahn?

Minha dama resolve:

— A gente segue o casal da frente. Se ele errar, erramos juntos!

         O noivo confidencia:    .

— Estou nervoso. Você não está?

      — Quem vai casar é você — respondo. — E por que eu estaria?

Não sei por quê, todos riem. Acho que de nervosismo. A mãe do noivo pede um momento. Está chorando tanto que deve refazer a maquiagem. Todos aguardam.

Saímos em cortejo. Na porta da igreja a tal senhora dá um empurrãozinho no meu cotovelo. Entro. Oh! Toda a igreja, de pé, me observa. Penso em sorrir. Mas também não posso ficar arreganhando os dentes. Tento fazer uma expressão de beatitude. Que horror! Eu e minha dama somos mais largos que o corredor! Tento manter a dignidade enquanto caminho batendo o nariz nos arranjos de flores. Subimos ao altar. Erro meu lugar, é claro. Minha amiga, Rosana, a madrinha da frente, me puxa para o local adequado. Ainda bem que não derrubei um castiçal, incendiando os vestidos das madrinhas. Mas quase.

O noivo, trêmulo. Ouve-se a marcha nupcial. Ouve-se a marcha nupcial. Ouve-se a marcha nupcial. Ouve-se.... sim, a marcha nupcial continua sendo ouvida e nada de a noiva entrar. Deve estar dando os últimos retoques na porta da igreja. Finalmente, as portas se abrem. E uma das noivas mais belas que já vi. Nervosíssima! É entregue ao noivo. Começa a cerimônia. Sermão. Minhas pernas latejam. O padrinho do outro lado está olhando exatamente atrás de mim. Olhar fixo. Será que o teto está prestes a despencar na minha cabeça? Quase viro o pescoço. Consigo me conter. Tenho uma certa dificuldade em parecer um senhor sério e bem-comportado. Entra uma menininha com as alianças. Chorando! O noivo corre para pegá-la. Entrega-a à mãe, também presente no altar.

Ouço os "sins". As alianças são trocadas. O padre canta, em Um belo momento. Os noivos choram. A cerimônia termina. Cada um deles vem nos cumprimentar. Sinto uma emoção inesperada. Quando o noivo me abraça, me chamando de amigo, o meu aperto é forte também. Vejo o quanto estão emocionados. As lágrimas escorrem. Percebo, então, como esse ritual tão antigo nos toca, e como os votos adquirem maior valor. Lá do fundo do meu coração brota o desejo sincero de que sejam muito, muito felizes!    

Entendendo o texto

01. O protagonista da crônica está se preparando para ser padrinho de casamento de quem?

a) Seu irmão.

b) Seu amigo Rodrigo.

c) Seu primo.

d) Seu colega de trabalho.

   02. Por que o protagonista está preocupado com o botão de seu terno?

         a) Porque está muito apertado e pode estourar.

         b) Porque está muito frouxo e pode cair.

         c) Porque está manchado.

         d) Porque está rasgado.

    03. Qual é o problema que o protagonista encontra ao procurar o banheiro masculino?

          a) Está trancado.

          b) Está sujo.

           c) Não consegue encontrar o banheiro masculino.

           d) Só encontra o banheiro feminino.

    04. O que acontece com o protagonista enquanto ele está no altar?

           a) Ele derruba um castiçal.

           b) Ele se perde no corredor.

           c) Ele bate o nariz nos arranjos de flores.

           d) Ele esquece as alianças.

   05. Por que a cerimônia de casamento é interrompida brevemente?

          a) Porque a noiva está atrasada.

          b) Porque o noivo está chorando muito.

          c) Porque o teto da igreja está prestes a cair.

          d) Porque o padre se enganou nas palavras.

   06. O que o protagonista sente quando o noivo o chama de amigo e o abraça?

          a) Desconforto.

          b) Alegria.

          c) Nervosismo.

          d) Tristeza.

  07. Quem é responsável por conduzir o protagonista até o local adequado no altar?

          a) O noivo.

          b) A mãe do noivo.

          c) A dama de honra.

          d) O padre.

  08. Qual é o sentimento predominante do protagonista no final da cerimônia?

          a) Frustração.

          b) Tédio.

          c) Emoção.

          d) Desconforto.

  09. O que o protagonista faz para tentar parecer bem-comportado durante a cerimônia?

          a) Sorri exageradamente.

          b) Mantém uma expressão de beatitude.

          c) Faz piadas.

          d) Ignora o que está acontecendo.

 10. O que o protagonista sente quando percebe a emoção dos noivos durante a cerimônia?

          a) Indiferença.

          b) Inveja.

          c) Empatia.

         d) Raiva.

sábado, 24 de fevereiro de 2024

CRÔNICA: DIA DE COMPRAS - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

Crônica: Dia de Compras

                Walcyr Carrasco

ABRO A GELADEIRA. NEM OVOS! Nos armários, nem sabão! Rendo-me ao inevitável. Faço a lista. Parto. Supermercado sábado de manhã é a sucursal do inferno! Mal entro, quase sou atropelado por um adolescente que corre com um carrinho vazio, a irmãzinha dentro. Deveria haver semáforo para carrinhos de compras! Cuidadoso, mantenho meu carrinho à direita, devagar. Uma senhora enfia o dela nos meus calcanhares. Rosno. Ela pede desculpas e segue. Abro a listinha. O problema é que a ordem dos produtos na lista nunca é a mesma em que estão dispostos. Vou para um corredor e pego a lata de molho de tomate. Parto para outro item. Ando quilômetros. O item seguinte está próximo de onde eu estava antes! Logo tenho a impressão de que fiz o trajeto São Paulo—Rio a pé! Guardo a lista. Decido andar entre as gôndolas, pegando o que deve estar em falta.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgn0vJMSe0NDMx7X3gK_C8L_Cx3wSmuLtJm4pPzw47SPJKcDF9uh2FJ_dLO4N5espL-T1is1FPRE5-2cytkrK9qQzqfWQD4T0JrlWQnK9OF3naYraWru2y9P1-5poVP-Pmq6SDSkXHNRjWvDd9aIPXW4i048nie7Gni4RPmmAWVZXPQ2CobrGJtDeKBMfI/s320/MERCADO.jpg


— Óleo, preciso. Arroz, preciso. Chocolate, não preciso. Mas quero!

Que fome! Atolo o carrinho de bolachas, salgadinhos, geleias, como se fosse comer tudo imediatamente. Viro à direita e desembarco em um congestionamento. Senhoras maquiadas passeiam pelas gôndolas, tranquilamente. Comportam-se como se estivessem pegando as crianças na escola, paradas na faixa dupla. Ou seja, abandonam os carrinhos no meio do corredor. Empurro um deles. A dona me encara, brava. Ergo a cabeça e continuo. Mais adiante, alguns casais. As crianças comportam-se como se estivessem em um playground. Correm. Gritam. Os pais sorriem, enquanto uma menina derruba uma lata de pêssegos em calda nos meus pés. Atiro-me para o próximo corredor.

Uma senhora idosa pede para eu verificar a validade de um produto. Sorrio, mas sei que caí numa armadilha. A validade é detalhe. Quer puxar papo. Em supermercados é que se nota a solidão das grandes cidades.

— Como o preço do arroz subiu! — diz, entabulando uma conversa.

— Hum, hum.

-— Desse jeito não sei aonde vamos parar.

— Hum, hum.

— Eu venho sempre aqui porque a minha filha e a minha neta trabalham

fora. Minha neta é muito inteligente, já vai prestar vestibular!

— Hum, hum.

— Gosto de conversar com gente como o senhor para me atualizar. O senhor é muito simpático!

— Hum, hum!

Consigo me esgueirar até a fila. É enorme. Vinte minutos. A minha frente, um casal nervoso. Quando está terminando, a caixa pára.

— Este produto está sem código.

Vem um rapazinho. Some. Descubro que a fila do lado andou muito mais depressa. Que raiva! Finalmente, vem o preço. Ele faz o cheque. Novo ritual, enquanto é aprovado. Tenho vontade de abandonar o carrinho e sair correndo.

Chega minha vez. Esvazio o carrinho. Boto tudo em sacolas. Demoro. A caixa me ajuda. Quem está atrás me encara com olhar assassino. Pago. Deu mais do que eu previa, sempre dá mais! Encho o carrinho de novo. Na pressa, boto lataria em cima de frutas, tudo vira uma confusão! Vou para o carro. Tiro as sacolas, guardo. Chego ao prédio. Agora, retiro do carro. Boto no elevador. Arranco do elevador. Entro no apartamento. Estou exausto, mas nada de descansar! Esvazio as sacolas. Ovos se quebraram. Limpo as latas. Enfio tudo na geladeira, nos armários.

Desabo na cadeira. A lista cai do meu bolso.

Esqueci metade. Ah, que vida! Semana que vem, vou ter de voltar!

Entendendo o texto

01. O que leva o narrador a fazer uma lista de compras antes de ir ao supermercado?

a) A falta de organização.

b) A necessidade de planejamento.

c) O desejo de evitar esquecimentos.

d) A tradição familiar.

   02. Por que o narrador compara o supermercado a "a sucursal do inferno"?

         a) Devido ao calor intenso dentro do estabelecimento.

         b) Por causa da multidão e da confusão.

         c) Devido à presença de produtos inflamáveis.

         d) Por ser um lugar escuro e assustador.

   03. Qual é a reclamação do narrador em relação à ordem dos produtos no supermercado?

         a) Os produtos sempre estão em falta.

         b) A disposição dos produtos não corresponde à ordem da lista.

         c) Os preços dos produtos são muito elevados.

         d) Os corredores do supermercado são estreitos demais.

   04. O que o narrador afirma que "deveria haver" para evitar acidentes dentro do supermercado?

         a) Semáforos para carrinhos de compras.

         b) Seguranças controlando o fluxo de pessoas.

         c) Um sistema de navegação para clientes.

         d) Mais espaço para circulação.

  05. Como o narrador descreve o comportamento das crianças dentro do supermercado?

         a) Disciplinadas e calmas.

         b) Correndo e gritando como se estivessem em um playground.

          c) Ajudando os pais nas compras.

          d) Sendo repreendidas por seus pais o tempo todo.

  06. Qual é a observação do narrador sobre a solidão nas grandes cidades, conforme sua experiência no supermercado?

         a) As pessoas se encontram com amigos o tempo todo.

         b) Os supermercados são lugares de socialização.

         c) As pessoas frequentemente estão em busca de interação.

         d) É possível notar a solidão nos momentos de interação superficial, como conversas de caixa de supermercado.

   07. O que o narrador esquece de comprar, mesmo após enfrentar a confusão do supermercado?

          a) Ovos.

          b) Arroz.

          c) Sabão.

          d) Chocolate.

   08. Como o narrador se sente após terminar as compras no supermercado?

          a) Revigorado e relaxado.

          b) Exausto e frustrado.

          c) Satisfeito e contente.

          d) Impaciente e irritado.

    09. O que o narrador faz quando percebe que esqueceu metade das coisas que precisava comprar?

          a) Decide fazer uma nova lista imediatamente.

          b) Desiste e planeja voltar ao supermercado na semana seguinte.

          c) Liga para alguém ir buscar o que falta.

          d) Tenta se convencer de que pode passar sem os itens esquecidos.

  10. Qual é o sentimento geral do narrador em relação à experiência de fazer compras no supermercado?

          a) Prazer e diversão.

          b) Apatia e indiferença.

          c) Irritação e cansaço.

          d) Empolgação e entusiasmo.

 

 

  

CRÔNICA: TUDO É POSSÍVEL - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Tudo É Possível

                Walcyr Carrasco

QUANDO EU ERA PEQUENO, queria ganhar um cavalo de corrida. Natal após Natal eu mandava cartinhas para Papai Noel. Não tinha muita ideia de onde botar o cavalo. Morava em uma pequena casa no interior de São Paulo, dividindo o quarto com meu irmão mais velho. Talvez pudesse acomodá-lo na cozinha, se mamãe deixasse. Mas isso não parecia ser problema. Em todo Natal mamãe vinha com uma desculpa:

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-iyuIPnNWkZ1eaI5L8QRYIcspYzhMba9O_S__WzS06crScFPeHAWSnqipi-Nzj5WLOXjmmtCkmMOdvHeIDLYXpSAX5TcFrO8xzl6-MigqlpLg16J2YsZnk4_ZtgLPoDtexWMc98X6SaRbhwSjH7TyqMr2_dpEYSigt3csamBSFfb8_PYZ3s5XScvEqXA/s320/CAVALOS.jpg


— O cavalo ficou doente, e Papai Noel não pôde trazer.

— Ou então:

— Estava, muito pesado para Papai Noel carregar.

Finalmente, exausta, revelou a verdade sobre Papai Noel.

Sofri. Não queria acreditar. Puxa, desde que eu me conhecia por gente fazia esforço para ser bonzinho por conta do cavalo de corrida. Via o velhinho de barbas brancas na porta da loja. Acordava de manhã e encontrava sempre um presente — ou vários — junto à meia. Agora queriam que eu enfrentasse a realidade dos fatos?

O tempo passou, e a vida se encarregou de trazer outras fórmulas tão mágicas quanto Papai Noel. Principalmente em relação ao Ano-Novo. Ultrapassar a noite de réveillon tornou-se um foco de tensão. Qualquer errinho, por menor que seja, é capaz de redundar em um ano inteiro de pavores!

A coleção de exigências para um Ano-Novo decente bota a crença em Papai Noel no chinelo. Por exemplo:

— Usar roupa branca, de preferência nova. Minha amiga Lalá andou matando cachorro a grito em uma fase da vida.

Acabou desistindo e entrou no ano novo de preto, na esperança de reverter a situação. Bem... acho que este ano ela vem de vermelho.

— Comer muito na ceia, para ter abundância o ano inteiro. E desculpa de

guloso. Sinto imensa simpatia por essa ideia!

O único problema é o cardápio: não se pode comer ave, porque cisca para

trás, e isso atrasa a vida. Melhor comer porco, que chafurda para a frente. O risco é passar o ano chafurdando. Depois, lentilha, que é sinônimo de sorte. Para completar, romãs, para atrair felicidade. Com tanta romã, certamente as lavanderias devem morrer de felicidade, tal o número de manchas nos trajes brancos!

— Dar três pulinhos com a taça de champanhe na mão.

Depois, jogar o champanhe para trás. É uma garantia de sorte. E talvez de briga, porque sempre alguém acaba levando a bebida nas fuças. Pior ainda se eu estiver em uma praia e tiver de pular as sete ondinhas. Nada mais difícil que contar as ondas no meio do barulho, dos fogos (imprescindíveis), agarrando a taça em uma mão, os chinelos na outra e recebendo abraços de feliz Ano-Novo! E inevitável: acabo roubando na conta.

Vem uma ondinha, não consigo pular e digo: "Essa não vale!".

Ou seja, era mais fácil quando eu acreditava em Papai Noel! Agora, além de comprar os presentes, tenho de labutar na noite de ano! Na esperança de que, sim, aconteça alguma coisa mágica — não sei bem o quê — capaz de trazer algo de maravilhoso para minha vida.

Este ano resolvi me dar um presente. Aprendi a não acreditar em Papai Noel. Também não quero mergulhar em tantas fórmulas mágicas. Eu posso ter um Natal e um ano maravilhosos se acreditar em mim! Não entra na minha cabeça que uma noite iluminada pelos fogos vá determinar a minha vida, o meu ano, a minha felicidade. E sim o meu íntimo, iluminado pela minha vontade. Natal e Ano-Novo são simbólicos. Duas datas que despertam a vontade de ir à frente, de ser melhor, de encontrar novos caminhos. Mas a magia, a capacidade de tornar a vida maravilhosa, está, realmente, dentro de mim.

Agora, com essa certeza no meu coração, eu sei. Tudo é. possível!

Entendendo o texto

01. Qual era o desejo da criança narrada na crônica "Tudo É Possível", de Walcyr Carrasco?

a) Ganhar um cachorro de corrida.

b) Ganhar um cavalo de corrida.

c) Ganhar um carro de corrida.

d) Ganhar um cavalo de estimação.

    02. Onde o protagonista imaginava acomodar o cavalo de corrida, caso o ganhasse?

           a) Na sala de estar.

           b) Na garagem.

           c) No quarto.

           d) Na cozinha.

    03. Por que a mãe do narrador inventava desculpas sobre o cavalo de corrida?

          a) Porque não gostava de animais.

          b) Porque não tinha dinheiro para comprar o cavalo.

          c) Porque não queria decepcionar o filho.

          d) Porque queria manter viva a fantasia do Papai Noel.

   04. Qual era o foco de tensão para o narrador durante o Ano-Novo?

          a) A comida da ceia.

          b) A cor da roupa.

          c) Ultrapassar a noite de réveillon.

          d) Os presentes de Papai Noel.

    05. Segundo a tradição citada na crônica, por que não se deve comer ave na ceia de Ano-Novo?

         a) Porque atrasa a vida.

         b) Porque traz azar.

         c) Porque causa brigas.

         d) Porque é considerado um alimento sagrado.

   06. Qual é o significado atribuído à lentilha na ceia de Ano-Novo?

         a) Abundância.

         b) Sorte.

         c) Felicidade.

         d) Amor.

   07. Qual é a ação simbólica realizada com a taça de champanhe durante a virada do ano?

         a) Brindar com todos os presentes.

         b) Jogar o champanhe para trás.

         c) Fazer um pedido de felicidade.

         d) Quebrar a taça para atrair boa sorte.

   08. O narrador afirma que este ano resolveu se dar um presente. Qual é esse presente?

         a) Não acreditar mais em Papai Noel.

         b) Comprar muitos presentes para si mesmo.

         c) Participar de todas as tradições de Ano-Novo.

         d) Fazer uma viagem durante as festas de fim de ano.

   09.  Qual é a mensagem central transmitida pelo narrador no final da crônica?

          a) A importância de seguir todas as tradições.

          b) A crença na magia das festas de fim de ano.

          c) A necessidade de acreditar em si mesmo.

          d) O valor dos presentes materiais.

    10. De acordo com o narrador, onde está a verdadeira capacidade de tornar a vida maravilhosa?

          a) Nas tradições de Natal e Ano-Novo.

          b) Na sorte proporcionada pelos rituais.

          c) Dentro de si mesmo.

          d) Na intervenção mágica de Papai Noel.