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sexta-feira, 28 de março de 2025

CRÔNICA: OS TATUADORES - (FRAGMENTO) - JOÃO DO RIO - COM GABARITO

 Crônica: Os tatuadores – Fragmento

              João do Rio

        – Quer marcar?

        Era um petiz de doze anos talvez. A roupa em frangalhos, os pés nus, as mãos pouco limpas e um certo ar de dignidade na pergunta. O interlocutor, um rapazola louro, com uma dourada carne de adolescente, sentado a uma porta, indagou:

        – Por quanto?

        – É conforme – continuou o petiz. É inicial ou coroa?

        – É um coração!

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuANIqLYU7t601cMiIMBlJvHoqcOwwZa9FuI3OX9-Zu20DxmoxehJXHIpMjEy_y1mdsdMI2M8GJ-vrJRtlfTHG1dqgdfyyY0SoiNqfrKdkdOPpIOBhy2xj7OD5KkUjonMSYHiOpezUdZr1lkQ-nCJWJ1dNQmCJ8OdIKWprzaJh2T53cw_yvNr-0pYJVpo/s320/CORA%C3%87%C3%83O.jpg


        – Com nome dentro?

        O rapaz hesitou. Depois:

        – Sim, com nome: Maria Josefina.

        – Fica tudo por uns seis mil réis.

        Houve um momento em que se discutiu o preço, e o petiz estava inflexível, quando vindo do quiosque da esquina um outro se acercou.

        – Ó moço, faço eu; não escute embromações!

        – Pagará o que quiser, moço.

        O rapazola sorria. Afinal resignou-se, arregaçou a manga da camisa de meia, pondo em relevo a musculatura do braço. O petiz tirou do bolso três agulhas amarradas, um pé de cálix com fuligem e começou o trabalho. Era na Rua Clapp, perto do cais, no século XX... A tatuagem! Será então verdade a frase de Gautier: "O mais bruto homem sente que o ornamento traça uma linha indelével de separação entre ele e o animal, e quando não pode enfeitar as próprias roupas recama a pele"?

        A palavra tatuagem é relativamente recente. Toda a gente sabe que foi o navegador Loocks que a introduziu no ocidente, e esse escrevia tattou, termo da Polinésia de tatou ou to tahou, desenho. Muitos dizem mesmo que a palavra surgiu no ruído perceptível da agulha da pele: tac, tac. Mas como é ela antiga! O primeiro homem, decerto, ao perder o pelo, descobriu a tatuagem. [...]

        Os tatuadores têm várias maneiras de tatuar: por picadas, incisão, por queimadura subepidérmica. As conhecidas entre nós são incisivas nos negros que trouxeram a tradição da África e, principalmente, as por picadas que se fazem com três agulhas amarradas e embebidas em graxa, tinta, anil ou fuligem, pólvora, acompanhando o desenho prévio. O marcador trabalha como as senhoras bordam.

        Lombroso diz que a religião, a imitação, o ócio, a vontade, o espírito de corpo ou de seita, as paixões nobres, as paixões eróticas e o atavismo são as causas mantenedoras dessa usança. Há uma outra – a sugestão do ambiente. Hoje toda a classe baixa da cidade é tatuada – tatuam-se marinheiros, e em alguns corpos há o romance imageográfico de inversões dramáticas; tatuam-se soldados, vagabundos, criminosos, barregãs, mas também portugueses chegados da aldeia com a pele sem mancha, que influência do meio obriga a incrustar no braço coroas do seu país.

        Andei com o Madruga três longos meses pelos meios mais primitivos, entre os atrasados morais, e nesses atrasados a camada que trabalha braçalmente, os carroceiros, os carregadores, os filhos dos carroceiros deixaram-se tatuar porque era bonito, e são no fundo incapazes de ir parar na cadeia por qualquer crime. A outra, a perdida, a maior, o oceano malandragem e da prostituição é que me proporcionou o ensejo de estudar ao ar livre o que se pode estudar na abafada atmosfera das prisões. A tatuagem tem nesse meio a significação do amor, do desprezo, do amuleto, posse, do preservativo, das ideias patrióticas do indivíduo, da sua qualidade primordial.

        Quase todos os rufiões e os rufistas do Rio têm na mão direita entre o polegar e o indicador, cinco sinais que significam as chagas. Não há nenhum que não acredite derrubar o adversário dando-lhe uma bofetada com a mão assim marcada. O marinheiro Joaquim tem um Senhor crucificado no peito e uma cruz negra nas costas. Mandou fazer esse símbolo por esperteza. Quando sofre castigos, os guardiões sentem-se apavorados e sem coragem de sová-lo.

        – Parece que estão dando em Jesus!

        A sereia dá lábia, a cobra atração, o peixe significa ligeireza na água, a âncora e a estrela o homem do mar, as armas da República ou da Monarquia a sua compreensão política. Pelo número de coroas da Monarquia que eu vi, quase todo esse pessoal é monarquista.

        Os lugares preferidos são as costas, as pernas, as coxas, os braços, as mãos. Nos braços estão em geral os nomes das amantes, frases inteiras, como por exemplo esta frase de um soldado de um regimento de cavalaria: viva o marechal de ferro!... desenhos sensuais, corações. O tronco é guardado para as coisas importantes, de saudade, de luxúria ou de religião. Hei de lembrar sempre o Madruga tatuando um funileiro, desejoso de lhe deixar uma estrela no peito.

        – No peito não! cuspiu o mulato, no peito eu quero Nossa Senhora!

        A sociedade, obedecendo à corrente das modernas ideias criminalistas, olha com desconfiança a tatuagem. O curioso é que – e esses estranhos problemas de psicologia talvez não sejam nunca explicados – o curioso é que os que se deixam tatuar por não terem mais que fazer, em geral, o elemento puro das aldeias portuguesas, o único quase incontaminável da baixa classe do Rio, mostram sem o menor receio os braços, enquanto os criminosos, os assassinos, os que já deixaram a ficha no gabinete de antropometria, fazem o possível para ocultá-los e escondem os desenhos do corpo como um crime. Por quê? Receio de que sejam sinais por onde se faça o seu reconhecimento? Isso com os da polícia talvez. Mas mesmo com pessoas, cujos intentos conhecem, o receio persiste, porque decerto eles consideram aquilo a marca de fogo da sociedade, de cuja tentação foram incapazes de fugir, levados pela inexorável fatalidade.

        Há tatuagens religiosas, de amor, de nomes, de vingança, de desprezo, de profissão, de beleza, de raça, e tatuagens obscenas.

        A vida no seu feroz egoísmo é o que mais nitidamente ideografa a tatuagem.

        As meretrizes e os criminosos nesse meio de becos e de facadas têm indeléveis ideias de perversidade e de amor. Um corpo desses, nu, é um estudo social. As mulheres mandam marcar corações com o nome dos amantes, brigam, desmancham a tatuagem pelo processo do Madruga, e marcam o mesmo nome no pé, no calcanhar.

        – Olha, não venhas com presepadas, meu macacuano. Tenho-te aqui, desgraça! E mostram ao malandro, batendo com o chinelo, o seu nome odiado.

        É a maior das ofensas: nome no calcanhar, roçando a poeira, amassado por todo o peso da mulher...

        [...].

RIO, João do. A alma encantadora das ruas. Org. de Raul Antelo. São Paulo, Companhia das Letras, 1997. p. 100-111.

Fonte: Português. Série novo ensino médio. Volume único. Faraco & Moura – 1ª edição – 4ª impressão. Editora Ática – 2000. São Paulo. p. 281.

Entendendo a crônica:

01 – Qual a origem da palavra "tatuagem", segundo o texto?

      A palavra "tatuagem" foi introduzida no ocidente pelo navegador Loocks, derivada do termo polinésio "tatou" ou "to tahou", que significa desenho. Alguns acreditam que a palavra surgiu do ruído da agulha na pele: "tac, tac".

02 – Quais os métodos de tatuagem mencionados no texto?

      O texto menciona três métodos principais: picadas, incisão e queimadura subepidérmica. No Brasil, as técnicas mais comuns são a incisão, trazida pelos africanos, e as picadas, feitas com três agulhas amarradas e embebidas em tinta.

03 – Quais as motivações para as tatuagens, de acordo com Lombroso?

      Lombroso lista várias motivações, incluindo religião, imitação, ócio, vontade, espírito de grupo, paixões nobres, paixões eróticas e atavismo. O texto também menciona a influência do ambiente como um fator relevante.

04 – Quem são os principais usuários de tatuagens na sociedade descrita no texto?

      A classe baixa da cidade, incluindo marinheiros, soldados, vagabundos, criminosos e prostitutas, são os principais usuários. Até mesmo portugueses recém-chegados adotam a prática.

05 – Qual a importância da tatuagem no mundo do crime, segundo o texto?

      No mundo do crime, a tatuagem tem diversos significados, como amor, desprezo, amuleto, posse, proteção, ideias patrióticas e qualidades pessoais.

06 – Como os criminosos escondem suas tatuagens?

      Criminosos escondem suas tatuagens por medo de serem reconhecidos pela polícia ou por vergonha, considerando-as marcas da sociedade que não conseguiram evitar.

07 – Quais os tipos de tatuagens mencionados no texto?

      O texto menciona tatuagens religiosas, de amor, com nomes, de vingança, de desprezo, de profissão, de beleza, de raça e tatuagens obscenas.

08 – Qual o significado da tatuagem para as meretrizes, de acordo com o texto?

      Para as meretrizes, a tatuagem é uma forma de expressar amor e ódio. Elas tatuam o nome dos amantes, apagam a tatuagem em caso de briga e tatuam o nome no calcanhar como forma de ofensa.

09 – Onde os marinheiros costumam fazer tatuagens e quais os seus significados?

      Os marinheiros costumam tatuar âncoras e estrelas, que simbolizam a vida no mar.

10 – Por que alguns criminosos tatuam símbolos religiosos?

      Alguns criminosos tatuam símbolos religiosos, como um Senhor crucificado, para intimidar os guardas e evitar castigos físicos.

 

domingo, 23 de março de 2025

CRÔNICA: UMA CAMPANHA ALEGRE - FRAGMENTO - EÇA DE QUEIRÓS - COM GABARITO

 Crônica: Uma Campanha Alegre – Fragmento

              Eça de Queirós

        [...]

        II – Os quatro partidos políticos

        Há em Portugal quatro partidos: o partido histórico, o regenerador, o reformista, e o constituinte. Há ainda outros, mas anónimos, conhecidos apenas de algumas famílias. Os quatro par. tidos oficiais, com jornal e porta para a rua, vivem num perpétuo antagonismo, irreconciliáveis, latindo ardentemente uns contra os outros de dentro dos seus artigos de fundo. Tem-se tentado uma pacificação, uma união. Impossível! eles só possuem de comum a lama do Chiado que todos pisam e a Arcada que a todos cobre. Quais são as irritadas divergências de princípios que os separam? – Vejamos:

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrWP9ilHiPIldOTHMC6hV2G0ypnUbIvZtHTBzxfivVQIzuYw-aniLzaGQvQ0smSo33aLFcYSVTn-bWEtb3fUHM6Ajsr3PDItNRyuyJp8t4yLB_z2CpnO7WuVKFAWGubEkq-le5LZV0QTQw4FRU0rpI_tFIOeZ_yslGJDsS9N5PIwUZlKE9tL7Y6eJac_Y/s320/parlamento-portugal-10-mar-2024-02.png


        O partido regenerador é constitucional, monárquico, intimamente monárquico, e lembra nos seus jornais a necessidade da economia.

        O partido histórico é constitucional, imensamente monárquico, e prova irrefutavelmente a urgência da economia.

        O partido constituinte é constitucional, monárquico, e dá subida atenção à economia.

        O partido reformista é monárquico, é constitucional, e doidinho pela economia!

        Todos quatro são católicos.

        Todos quatro são centralizadores.

        Todos quatro têm o mesmo afeto à ordem.

        Todos quatro querem o progresso, e citam a Bélgica.

        Todos quatro estimam a liberdade.

        Quais são então as desinteligências? – Profundas! Assim, por exemplo, a ideia de liberdade entendem-na de diversos modos.

        O partido histórico diz gravemente que é necessário respeitar as Liberdades Públicas. O partido regenerador nega, nega numa divergência resoluta, provando com abundância de argumentos que o que se deve respeitar são – as Públicas Liberdades.

        A conflagração é manifesta!

        [...].

Eça de Queiroz. Obras de Eça de Queiroz. Porto, Lello, 1966. v. 3. p. 974-975.

Fonte: Lições de texto. Leitura e redação. José Luiz Fiorin / Francisco Platão Savioli. Editora Ática – 4ª edição – 3ª impressão – 2001 – São Paulo. p. 384.

Entendendo a crônica:

01 – Quantos partidos políticos são mencionados na crônica e como são descritos?

      A crônica menciona quatro partidos políticos: o histórico, o regenerador, o reformista e o constituinte. São descritos como estando em "perpétuo antagonismo", com divergências que, segundo o autor, são mais aparentes do que reais.

02 – Qual a principal crítica de Eça de Queirós em relação aos partidos políticos portugueses?

      A principal crítica é a de que, apesar das aparentes divergências, os partidos compartilham os mesmos princípios básicos e a mesma busca pelo poder. Ele satiriza a falta de substância nas discussões políticas da época.

03 – Quais os pontos em comum entre os quatro partidos, segundo a crônica?

      Todos os quatro partidos são descritos como: Constitucionais; Monárquicos; Preocupados com a economia; Católicos; Centralizadores; Defensores da ordem e do progresso; Apreciadores da liberdade.

04 – Como Eça de Queirós ironiza as divergências entre os partidos?

      Eça de Queirós ironiza as divergências ao mostrar que as discussões políticas são muitas vezes sobre detalhes sem importância, como a ordem das palavras em uma frase ("Liberdades Públicas" vs. "Públicas Liberdades").

05 – Qual a importância do Chiado e da Arcada no contexto da crônica?

      O Chiado e a Arcada são mencionados como espaços públicos frequentados por todos os partidos, simbolizando a superficialidade das divisões políticas e a proximidade física entre os oponentes.

06 – Qual o tom geral da crônica em relação à política portuguesa?

      O tom geral é de sátira e ironia, com Eça de Queirós usando o humor para criticar a falta de substância e a hipocrisia na política portuguesa.

07 – Qual a atualidade da crítica presente na crônica de Eça de Queirós?

      A crítica de Eça de Queirós à superficialidade das discussões políticas e à falta de substância nos debates ainda é relevante, pois muitas vezes a política contemporânea também é marcada por disputas vazias e pela busca pelo poder em si.

 

CRÔNICA: TIPOS INESQUECÍVEIS - MAX NUNES - COM GABARITO

 Crônica: TIPOS INESQUECÍVEIS

              Max Nunes

        Era elegante como um manequim de vitrine e ocupado como telefone de bicheiro. Embora mentiroso como bula de remédio, mais enganador que boletim meteorológico e vagaroso como uma obra da prefeitura, era minucioso como um vendedor de imóveis e tão perigoso quanto um pastel de botequim. De inteligência era tão quadrado quanto a frente de um carro inglês e sua ignorância era transparente como fatia de presunto em sanduíches. Sob o ponto de vista moral, era mais sujo que qualquer rua do Rio e mais desmoralizado que o cruzeiro. 

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh27eMk1kPsMJ9R9vyJsI1lc9305QBiSNx9oAav4T_HatPVEnQ4INS5FoRAGD-cvU31h4vwVro7ouHcU_DSw7rxhyphenhyphenent43PSxVN5PuS9t_eQIucXdxPhh7demy0vwxvKGA84SknCQaMSEgTtMS53rEyeC2LX6y4qWHwFINvSIeS5K71oxqG4BAvYjqcSXA/s320/DEPUTADO.jpg


Sentindo-se tão inútil quanto um deputado honesto e mais abandonado que o plano para erradicar a seca, resolveu pôr fim à vida de maneira tão rápida quanto o governo aumenta os impostos. Hoje é apenas uma saudade funda como o time do Olaria e seu nome está mais esquecido que promessa de vereador em época eleitoral.

NUNES, Max. “Tipos Inesquecíveis”. In: Uma pulga na camisola: o máximo de Max Nunes. Sel. e org. Ruy Castro. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 123.

Fonte: Português. Série novo ensino médio. Volume único. João Domingues Maia – Editora Ática – 2000. São Paulo. p. 36.

Entendendo a crônica:

01 – Qual é o tom geral da crônica ao descrever o personagem?

      O tom é satírico e humorístico, utilizando uma série de comparações exageradas e irônicas para pintar um retrato cômico do personagem.

02 – Quais são algumas das características contraditórias do personagem descritas na crônica?

      O personagem é descrito como elegante e ocupado, mas também mentiroso, enganador e vagaroso. Ele é inteligente e ignorante, moralmente sujo e desmoralizado.

03 – Qual é o efeito do uso de comparações exageradas na crônica?

      As comparações exageradas, como comparar a inteligência do personagem à frente de um carro inglês e sua ignorância a uma fatia de presunto em sanduíches, criam um efeito cômico e destacam a natureza absurda do personagem.

04 – Qual é o desfecho da crônica e qual é o seu significado?

      O personagem, sentindo-se inútil e abandonado, decide tirar a própria vida. O desfecho irônico e melancólico destaca a solidão e o vazio existencial do personagem, ao mesmo tempo em que mantém o tom humorístico da crônica.

05 – Qual é a crítica social presente na crônica?

      A crônica critica sutilmente a corrupção e a ineficiência do governo, comparando o personagem a um deputado desonesto e a um plano governamental abandonado.

 

 

domingo, 9 de março de 2025

CRÔNICA: NEM TUDO QUE SE JOGA FORA É LIXO - FERNANDO BONASSI - COM GABARITO

 Crônica: Nem tudo que se joga fora é lixo

              Fernando Bonassi

        Todo dia da nossa vida, a gente pega tudo o que não interessa mais e joga fora, certo? Daí vem o lixeiro e leva. Parece simples, mas... para onde o lixeiro leva o lixo? Há lugares onde eles jogam tudo, que são os lixões. Lá os homens ficam pondo lixo e enterrando, até que junta tanto lixo que nem todas as máquinas do mundo conseguiriam enterrar. Nessa hora, é preciso encontrar novos lugares para fazer novos lixões. A gente nunca pensa nisso, afinal os lixões são todos longe da casa da maioria de nós. Mas fique sabendo que esse é um problema desse tamanho!

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUHo2Sl8mgiQHHSlJu89zhp4BaRV3STkzpSivIjQYgHWVjvU8BAATcwoJ4aLymGoNEiv129RIR6Ya6jaFu9dubrnpcc9mjMYKpWtnHX6ioWUJonZGjSWisuG_GfsHioITy8uMqTyA-6d37Axi-VHvFrRu_qew0nC4EH7hMUSLtEZxcM11d8mOZ7w04zL4/s320/LIXO.jpg


    Algumas coisas que nós jogamos fora são tão venenosas que contaminam a terra dos lixões por muitos anos. O problema é que não existe mágica. Enquanto a gente viver, vai produzir lixo. O jeito menos besta de ajudar nisso é criar a menor quantidade de lixo possível. Como?

        Reciclando. Reciclar não é só juntar vidro e jornal e vender para o garrafeiro, que vai vender para a fábrica de vidro ou papelão.

        Ou então dar para o lixeiro nas cidades que coletam lixo reciclado.

        A gente precisa aprender a gastar bem as coisas antes de jogar fora! Usar sempre o papel dos dois lados, usar vidros e saquinhos pra guardar coisas depois de bem lavadinhos... Se a gente não se preocupar com isso, logo vai haver uma montanha fedida perto da nossa casa! Escute o que eu estou falando!

Fernando Bonassi. Vida da gente; crônicas publicadas no suplemento Folhinha de S. Paulo: Formato Editorial, 1999. p. 21.

Fonte: Português. Vontade de Saber. 6º ano – Rosemeire Alves / Tatiane Brugnerotto – 1ª edição – São Paulo – 2012. FTD. p. 164.

Entendendo a crônica:

01 – Para onde o lixeiro leva o lixo, de acordo com a crônica?

      O lixeiro leva o lixo para os lixões, que são lugares onde o lixo é acumulado e enterrado.

02 – Qual é o problema mencionado na crônica em relação aos lixões?

      O problema é que os lixões ocupam muito espaço e alguns tipos de lixo contaminam a terra por muitos anos, além de que a produção de lixo é contínua e a necessidade de novos lixões também.

03 – O que a crônica sugere como a forma "menos besta" de ajudar a resolver o problema do lixo?

      A crônica sugere criar a menor quantidade de lixo possível, através da reciclagem e do reaproveitamento de materiais.

04 – O que significa reciclar, segundo a crônica?

      Reciclar não é apenas juntar vidro e jornal para vender, mas também aprender a gastar bem as coisas antes de jogá-las fora, reaproveitando materiais sempre que possível.

05 – Quais exemplos de reaproveitamento são dados na crônica?

      A crônica menciona usar papel dos dois lados e reutilizar vidros e saquinhos para guardar coisas, após lavá-los.

06 – Qual é a consequência de não se preocupar com a produção de lixo, de acordo com a crônica?

      A consequência é que logo haverá uma montanha de lixo fedido perto das casas das pessoas.

07 – Qual é a mensagem principal da crônica?

      A mensagem principal é a importância de repensar nossos hábitos de consumo e descarte, buscando alternativas para reduzir a produção de lixo e preservar o meio ambiente.

 

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

CRÔNICA: ADOLESCÊNCIA - (FRAGMENTO) - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 Crônica: Adolescência – Fragmento

               Luís Fernando Veríssimo

        O apelido dele era "cascão" e vinha da infância. Uma irmã mais velha descobrira uma mancha escura que subia pela sua perna e que a mãe, apreensiva, a princípio atribuiu a seguida descobriu que era sujeira mesmo.

        -- Você não toma banho, menino?

        -- Tomo, mãe.

        -- E não se esfrega?

        Aquilo já era pedir demais. E a verdade é que muitas vezes seus banhos eram representações. Ele fechava a porta do banheiro, ligava o chuveiro, forte, para que a mãe ouvisse o barulho, mas não entrava no chuveiro. Achava que dois banhos por semana era o máximo de que uma pessoa sensata precisava. Mais do que isso era mania.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-pcWIWXfoYSvUtkJHlKDekMOo5K15kHp6VogW2z5gSisd2XwrGzDXJeZ2v9AKb6gPRWsTCg_Qp5Igfccq436QKVFxheb4gJEuDEQoviU2dK1pNkaOeeoCY9dYpI0EZ_rqidpgPARkaisFhe61vrOdrHAuiDJUqL1SXQihyphenhypheneGRb9zvT1ZeCuJEuhQRHZk/s320/CASCAO.jpg

        O apelido pegou e, mesmo na sua adolescência, eram frequentes as alusões familiares à sua falta de banho. Ele as aguentava estoicamente. Caluniadores não mereciam resposta. Mas um dia reagiu.

        -- Sujo, não.

        -- Ah, é? – disse a irmã.

        -- E isto o que é?

        Com o dedo ela levantara do seu braço um filete de sujeira.

        -- Rosquinha não vale.

        -- Como não vale?

        -- Rosquinha, qualquer um.

        Entusiasmado com a própria tese, continuou:

        -- Desafio qualquer um nesta casa a fazer o teste da rosquinha! A irmã, que tomava dois banhos por dia, o que ele classificava de exibicionismo, aceitou o desafio.

        Ele advertiu que passar o dedo, só, não bastava. Tinha que passar com decisão. E, realmente, o dedo levantou, da dobra do braço da irmã, uma rosquinha, embora ínfima, de sujeira.

        -- Viu só – disse ele, triunfante. – E digo mais: ninguém no mundo está livre de uma rosquinha.

        -- Ah, essa não. No mundo? Manteve a tese.

        -- Ninguém.

        -- A rainha Juliana?

        -- Rosquinha. No pé. Batata.

        No dia seguinte, no entanto, a irmã estava preparada para derrubar a sua defesa.

        -- Cascão... – disse simplesmente. – A Catherine Deneuve. Ele hesitou. Pensou muito. Depois concedeu. A Catherine Deneuve, realmente, não.

        A irmã, sadicamente, ainda fingiu que queria ajudar.

        -- Quem sabe atrás da orelha?

        -- Não, não – disse o Cascão tristemente, renunciando à sua tese. – A Catherine Deneuve, nem atrás da orelha.

Luís Fernando Veríssimo. Comédias para se ler na escola. PDL – Projeto Democratização da Leitura. www.portaldetonando.com.br.

Entendendo a crônica:

01 – Qual é o apelido do personagem principal e qual a origem dele?

      O apelido do personagem principal é "Cascão". A origem do apelido vem da infância, quando sua irmã mais velha descobriu uma mancha escura em sua perna, que a mãe inicialmente pensou ser sujeira.

02 – Qual era o hábito de higiene do personagem na infância?

      O personagem não gostava de tomar banho e muitas vezes fingia que estava se banhando, ligando o chuveiro sem entrar embaixo d'água. Ele achava que dois banhos por semana eram suficientes.

03 – Como o personagem reagia às alusões familiares sobre sua falta de higiene?

      O personagem aguentava estoicamente as alusões familiares sobre sua falta de banho, considerando os caluniadores como não merecedores de resposta.

04 – Qual é o argumento do personagem sobre a sujeira?

      O personagem argumenta que ninguém no mundo está livre de ter um pouco de sujeira, usando o termo "rosquinha" para se referir a essa sujeira.

05 – Como a irmã do personagem tenta refutar seu argumento?

      A irmã do personagem tenta refutar seu argumento mencionando a rainha Juliana e a atriz Catherine Deneuve como exemplos de pessoas que, segundo ela, não teriam "rosquinhas" de sujeira.

06 – Qual é a reação do personagem ao ser confrontado com o exemplo de Catherine Deneuve?

      O personagem hesita, pensa bastante e acaba concedendo que Catherine Deneuve realmente não teria "rosquinhas" de sujeira, nem mesmo atrás da orelha, renunciando à sua tese inicial.

07 – Qual é o tom geral da crônica de Luís Fernando Veríssimo?

      O tom geral da crônica é humorístico e irônico. Veríssimo utiliza uma situação cotidiana e familiar para fazer uma reflexão sobre hábitos de higiene, argumentos e a dificuldade de admitir quando estamos errados.

 

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

CRÔNICA: ME ACORDEM QUANDO PASSAR - (FRAGMENTO) - ROBERTO GOMES - COM GABARITO

 Crônica: Me acordem quando passar – Fragmento

              Roberto Gomes

        Passei parte de minha infância brincando nas oficinas de um jornal. O nome era adequado: oficina, não estas redações atuais, com móveis bege, luz néon, ar condicionado e a névoa pálida dos monitores. Os móveis eram escuros, havia lâmpadas dependuradas por um fio no qual se juntavam moscas, e as máquinas de escrever martelavam forte sob as pancadas dos dois dedos que meu pai, na solene sala de redação, reservava para o ato de datilografar. Na sala ao lado, enegrecida por respingos de tinta, os blocos de chumbo descansavam contra as paredes. Era dali que vinham os golpes secos da impressora com seus garfos espalhafatosos. Na terceira sala, ficava a linotipo governada por Nelson de Souza, meu amigo Nelsinho, uma espécie de irmão adotivo que, além de compor o jornal, me levava ao cinema no domingo.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfvNZopfygPSZoW-qFbONF9T2lQgKhzo5DVVPkt-PN2hzLe8Xr2tgYsN16BoW2-fy0C5upkFFjH7vUl6DVTt2TXrQ7lo54SG9OsLWu-GtF8O-WT5AeZpA1YgIwaX8TJZ8SsqCGXMmLatu6_CqPSRTr9oKltqSra_9pEPxX2Lfj9KYJB5gZ8WMGjZ8TMWo/s1600/Fotografia_hist%C3%B3rica_de_Guarulhos_35.jpg


        [...].

        [...] Mas devo agora dizer outra coisa, talvez estranha. Convivo ao mesmo tempo com um tédio enorme diante das notícias. Não raro folheio jornais pensando em outra coisa, como alguém que quer se livrar de algo que o aborrece.

        Olho, por exemplo, estas manchetes cintilantes e tenho a impressão de que já li todas elas. Eram outros os personagens, a quantidade de feridos ou mortos, a urgência apregoada de um prazo no congresso, a data de uma posse – mas tudo muito igual. As explicações são as mesmas: uns dizem agora que falta vontade política, a mesma que não tiveram antes; outros se mostram severos e exigentes, muito objetivos, esquecidos de quando deliravam num mundo em que tudo seria possível, houvesse vontade política. E, claro, todos clamam por honestidade no trato com as coisas públicas. Como sempre.

        Mas não é só. Será que precisamos mesmo saber o que houve com aquele trem no interior da Índia? Com aquele ministro no Japão? E por que o jornalismo tem que ser este alarde a respeito do torto, do sujo, do corrupto, do que não deu certo, da mula de duas cabeças, a busca de números e percentagens quando Manuel Bandeira já provou, faz tempo, que o cálculo das probabilidades é uma pilhéria? Por que se vai ao outro lado do mundo buscar o esquisito, o desastre, a safadeza? Tem logo ali na esquina.

        Será que precisamos ler tantas notícias? Ver tantos jornais na televisão? Folhear tantas revistas? Que maluquice é esta em que estamos metidos? 

        Volto à oficina do jornal que meu pai dirigia. Tenho quase seis anos e vou catando lascas de chumbo, com as quais invento bandidos, índios, mocinhos de cinema. Com eles ocupo o meu dia, que passo ali, entre as máquinas, ouvindo o chacoalhar infindável da linotipo, as pancadas secas da impressora e, vindo da sala de redação, o batucar dos dois dedos de meu pai que perseguem as teclas negras da Remington.

        [...].

        Quando minha mãe vinha me chamar, eu já estava dormindo, deitado sobre alguma folha de jornal, a mesma folha que eu percorria com olhos acesos sem poder decifrar o que diziam. Isto me angustiava e eu dormia pensando: o que há por trás destas letrinhas? Que é tudo isto? O que estamos fazendo aqui?                

Roberto Gomes. Gazeta do Povo – caderno G. Curitiba, 06/07/2003.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 213.

Entendendo a crônica:

01 – Qual a principal diferença entre as redações de jornais da infância do autor e as redações atuais, segundo o texto?

      O autor descreve as redações de sua infância como "oficinas", com móveis escuros, lâmpadas penduradas com moscas, máquinas de escrever barulhentas e o cheiro forte de tinta. Em contraste, as redações atuais são apresentadas como ambientes impessoais, com móveis bege, luz néon, ar condicionado e a "névoa pálida dos monitores". A principal diferença reside na atmosfera: as redações antigas eram vibrantes e cheias de vida, enquanto as atuais são mais frias e assépticas.

02 – Qual a sensação do autor em relação às notícias que lê nos jornais?

      O autor expressa um tédio enorme diante das notícias. Ele tem a impressão de que já leu todas as manchetes antes, com personagens e detalhes diferentes, mas com a mesma essência. As explicações para os problemas também se repetem, como a falta de "vontade política" e os clamores por honestidade.

03 – Qual a crítica do autor em relação ao conteúdo dos jornais?

      O autor critica a busca incessante por notícias sensacionalistas e exóticas, como acidentes e escândalos em lugares distantes, questionando a necessidade de saber de tais eventos. Ele sugere que há problemas e notícias relevantes bem mais perto, "logo ali na esquina", e que a insistência em explorar o sofrimento e o bizarro de longe parece desviar o foco dos problemas reais e próximos.

04 – Qual a reflexão proposta pelo autor sobre a quantidade de notícias que consumimos?

      O autor questiona a necessidade de consumir tantas notícias, jornais e revistas, sugerindo que essa busca frenética por informação pode ser uma "maluquice". Ele parece defender que a qualidade da informação é mais importante do que a quantidade, e que a repetição de temas e a busca por sensacionalismo podem nos afastar da compreensão real dos problemas.

05 – Qual a lembrança de infância que o autor traz à tona?

      O autor relembra sua infância na oficina do jornal de seu pai, onde passava o dia entre as máquinas, fascinado pelo processo de produção do jornal e pelas histórias que as letras pareciam esconder. Ele dormia sobre as folhas de jornal, angustiado por não conseguir decifrar o que diziam, mas curioso sobre o mundo que elas representavam.

06 – Qual a sensação que o autor descreve ao final do fragmento?

      Ao final do fragmento, o autor descreve uma sensação de angústia e de mistério em relação ao mundo das notícias. Ele se sente como uma criança que não consegue decifrar as letras do jornal, mas que pressente que ali se escondem segredos e respostas para as grandes questões da vida.

07 – Qual a principal mensagem que o autor busca transmitir com este fragmento de crônica?

      O autor nos convida a refletir sobre a forma como consumimos notícias e sobre a nossa relação com a informação. Ele questiona a necessidade de tanta informação, a qualidade do conteúdo dos jornais e a nossa capacidade de compreender o mundo através das notícias. A crônica nos leva a pensar sobre o que realmente importa e sobre como podemos nos conectar com o mundo de forma mais profunda e significativa.

 

CRÔNICA: TROFÉU E SONHO - MOACYR SCLIAR - COM GABARITO

Crônica: Troféu e sonho

               Moacyr Scliar

        Endividados, clubes penhoram até taça. A crise financeira por que passa o futebol brasileiro leva os principais clubes do país a ter parte dos bens penhorada. O Flamengo disponibilizou troféus ganhos nos últimos anos para diversos credores.

Folha Esporte, 5.out.03

        A mansão, ainda que luxuosa, é de um mau gosto extremo. Não há muito o que ver, mas o dono faz questão de levar os visitantes a uma sala que chama de "meu templo"; ali, em uma espécie de vitrine, iluminada por fortes lâmpadas, está um troféu, uma taça destas que os clubes ganham em campeonatos. E, sem que lhe peçam, ele conta a história dessa taça.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbykhaj-l8j70DsTZRwuWSJKl-QCSvjQQVxGnhx1Co68CqY-Um4hYvmmXCrk7TF_FVsCelVDL8OjBTfCi2AkQp5lKCqkoVoOLtRZWFO-DjIv7kzmU6RLALCwo-Uy9yoZ2BsDhVvEC5qCSNQJP2InbUuGlkb_fpSWFdyUgngDMiBgEbzcQ_OlcE3O3pvWs/s1600/TROFEU.jpg


        Tudo começou quando era um rapaz pobre, morando em uma pequena cidade do interior. Lugar modorrento, onde nada acontecia. Assim, foi grande a surpresa quando se anunciou a chegada, ali, de um grande time de futebol: nada menos que o Flamengo, do Rio de Janeiro. Notícia que o deixou excitadíssimo porque, em primeiro lugar, era fã de futebol – jogava razoavelmente bem – e, mais importante, era um ardoroso torcedor do rubro-negro. Que viria ali para disputar um torneio regional, no qual participavam o time da cidade e mais alguns outros clubes de localidades vizinhas.

        Na véspera do grande jogo, nem conseguiu dormir, tão ansioso estava. No dia seguinte, foi o primeiro a chegar ao pequeno e precário estádio. Aos poucos as arquibancadas foram se enchendo. Todos miravam-no com irritação. Explicável: ele vestia uma camisa do Flamengo e agitava uma bandeira do clube: decidira assumir a sua condição de torcedor e o fazia com orgulho. Aplaudiu com entusiasmo o rubro-negro, quando este entrou em campo.

        A partida começou e logo duas coisas ficaram claras; primeiro, que os donos da casa não eram adversários para o Flamengo; segundo, que o time carioca estava com muito azar. Jogador após jogador se lesionava e tinha de ser substituído. Lá pelas tantas, o insólito; mais um lesionado – e já não havia reservas no banco. O que gerou um impasse. A partida foi paralisada, enquanto juiz e dirigentes deliberavam.

        -- Foi aí – conta ele – que eu tive uma inspiração. Levantei-me e, da arquibancada, gritei que jogaria pelo Flamengo. Os dirigentes olharam-me com espanto, mas decidiram aceitar a proposta. Rapidamente assinei um contrato e no instante seguinte estava no campo. Num instante, apossei-me da bola, driblei um, driblei o segundo, chutei forte no canto esquerdo – gol! Gol da vitória! O Flamengo ganhou a taça. Que os dirigentes, em sinal de gratidão, me ofereceram.

        Esta é a história que o homem conta. Na qual ninguém acredita: todos sabem que comprou a taça, por bom dinheiro, de um credor do Flamengo. Mas também ninguém o desmente. Afinal, quem compra um troféu compra junto o sonho que esse troféu representa.

Moacyr Scliar escreve às segundas-feiras, nesta coluna, um texto de ficção baseado em matérias publicadas no jornal. Folha de São Paulo, 13/10/2003, p. C2.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 212.

Entendendo a crônica:

01 – Qual é a situação apresentada no início da crônica em relação aos clubes de futebol brasileiros?

      A crônica inicia mostrando a difícil situação financeira dos clubes de futebol brasileiros, que estão chegando ao ponto de penhorar seus bens, incluindo troféus, para saldar dívidas.

02 – Qual é o objeto central da narrativa e qual o seu significado para o dono da mansão?

      O objeto central da narrativa é um troféu, uma taça de campeonato. Para o dono da mansão, esse troféu representa a realização de um sonho de infância, a glória de ter jogado pelo Flamengo e conquistado um título.

03 – Qual é a história contada pelo dono da mansão sobre como ele ganhou o troféu?

      O dono da mansão conta que, quando era jovem e morava no interior, o Flamengo foi jogar um torneio na cidade. Durante o jogo, vários jogadores do Flamengo se machucaram e não havia mais reservas. Ele, então, se ofereceu para jogar, marcou o gol da vitória e ganhou o troféu como reconhecimento.

04 – Qual é a reação das pessoas ao ouvirem a história do dono da mansão?

      Ninguém acredita na história contada pelo dono da mansão. Todos sabem que ele comprou a taça de um credor do Flamengo.

05 – Qual é a principal crítica presente na crônica de Moacyr Scliar?

      A crônica critica a obsessão pelo sucesso e pela fama, mostrando como as pessoas são capazes de inventar histórias e comprar troféus para alimentar seus egos e suas fantasias.

06 – Qual é a reflexão proposta por Moacyr Scliar ao final da crônica?

      Scliar nos leva a refletir sobre a importância dos sonhos e como as pessoas podem distorcer a realidade para alcançar seus objetivos. Ele mostra que, muitas vezes, o que importa não é a verdade, mas sim a história que contamos para nós mesmos e para os outros.

07 – Qual é a relação entre o título da crônica, "Troféu e Sonho", e o seu conteúdo?

      O título "Troféu e Sonho" resume a essência da crônica. O troféu representa o objeto de desejo, o símbolo da vitória e do sucesso. O sonho, por sua vez, representa a fantasia, a história inventada para justificar a posse do troféu. A crônica mostra como o sonho pode se tornar mais importante do que a realidade, a ponto de a pessoa comprar um troféu e criar uma história para dar sentido a ele.

 


CRÔNICA: A CIDADE TRAÇADA - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 Crônica: A cidade traçada

              Luís Fernando Veríssimo

        Toda a cidade que tem um rio é bela. Porto Alegre exagera, esparrama-se ao longo de vários que, de lambuja, se transformam num lago imenso. Com toda essa lindeza, gosto de tomar nossa cidade como modelo e temática. Tenho desenhado como ela era, como ela é e como a desejo.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjj-ryHhYm5mTC5cGtIpfkMRTD-tqTO_cOb5YEspgAG09B0Dqk5FjwKm6aSmpZeBTgzypdtu9A3sEYhdwI7rkBnYPQa3Yv3QZrIlPI9gj6gu1c1VOj1dUoExsKVPPOG4HTC9TMCKMGu7XCn1LhcXwVPJVPcCt1KCcV-mxPjUJ8yC8EyTX3542PrRpCKrP4/s320/PORTO%20ALEGRE.jpg


        Pode parecer estranho atribuir sexo a uma cidade. Porto Alegre, que tem alma, eu vejo feminina. Caprichosa e temperamental, é a um só tempo provinciana e avançadinha, mantendo hábitos recatados, porém sem nunca perder o compasso com o nosso tempo. Metrópole, é neurótica, opiniática e exigente. Também aldeia, é pudica, singela e dócil.

        Sensualmente lânguida, se deita estirada no seu sinuoso contorno fluvial. Dominadora e envolvente, avança voraz sobre os morros, pelos vales e pelas planuras. Impetuosa, lança-se ao alto em pontas de concreto. Fogosa, vibra entrelaçada por artérias dinâmicas e congestionadas. Carola, reza com fé na Festa dos Navegantes. Peleadora, trabalha feito louca nas oficinas do quarto distrito. Ciumenta, esconde com o muro seu perfil mais lindo.

        É faceira quando se veste com as flores do jacarandá, anunciando a primavera, e é manhosa ao se derreter nos dias tórridos de verão. Romântica, se pinta toda nos fins de tarde, no outono. Malvada, venta fria e cinzenta nas noites de inverno.

        Quando aqui cheguei, nos tempos do bonde, do rolo compressor e das balas esportivas, Porto Alegre ainda mantinha, ao menos no centro, um certo ar tradicional que lembrava Buenos Aires. Com o tempo, foi se tornando mais interesseira, substituindo seus cafés de esquina pelas agências financeiras. Além da inocência, perdeu nos últimos anos muito de sua identidade original. As matinês e as anedotas de rua, por exemplo, foram sumindo, dando lugar aos cômicos da tevê. Mas foi ganhando outras coisas que a fazem moderna, adulta e madura, como a Feira do Livro, espaços de cultura, museus, teatros, galerias de arte.

        Tanto o LFV [Luís Fernando Veríssimo] como eu conhecemos outras, é verdade. mas cada um na sua, elegemos este porto como nosso ponto de referência. Traça-la, para nós, é literalmente e graficamente um ato de amor.

VERÍSSIMO, Luís Fernando; FONSECA, Joaquim da. Traçando Porto Alegre. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 1994, p. 7-8.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 366-367.

Entendendo a crônica:

01 – Qual a principal característica da cidade de Porto Alegre, segundo o autor?

      O autor destaca a beleza da cidade, com seus rios que se transformam em um lago imenso. Além disso, ele a descreve como feminina, caprichosa, temperamental, provinciana e avançadinha, capaz de ser metrópole e aldeia ao mesmo tempo.

02 – Que tipo de comparações e personificações o autor utiliza para descrever Porto Alegre?

      O autor utiliza diversas comparações e personificações para descrever a cidade. Ele a compara a uma mulher sensual e lânguida, que se deita em seu contorno fluvial, e a descreve como dominadora, envolvente, impetuosa, fogosa, carola, peleadora e ciumenta.

03 – Como Porto Alegre se transformou ao longo do tempo, de acordo com o autor?

      O autor relata que, quando chegou à cidade, ela ainda mantinha um ar tradicional que lembrava Buenos Aires. Com o tempo, Porto Alegre se tornou mais interesseira, substituindo seus cafés por agências financeiras e perdendo parte de sua identidade original, como as matinês e as anedotas de rua.

04 – O que a cidade ganhou com essa transformação, segundo o autor?

      Apesar de perder elementos de sua identidade original, Porto Alegre ganhou outras coisas que a tornaram moderna, adulta e madura, como a Feira do Livro, espaços de cultura, museus, teatros e galerias de arte.

05 – Qual o significado da expressão "traçá-la" no contexto da crônica?

      No contexto da crônica, "traçá-la" significa desenhar a cidade, tanto no sentido literal quanto no sentido figurado. Para o autor e o LFV, traçar Porto Alegre é um ato de amor, uma forma de expressar seu carinho e sua conexão com a cidade.