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sexta-feira, 24 de março de 2023

ROMANCE: A MORENINHA - CAPÍTULO 19 - FRAGMENTO - JOAQUIM MANUEL DE MACEDO - COM GABARITO

 Romance: A Moreninha – Capítulo 19 – Fragmento  

                Joaquim Manuel de Macedo

        [...]

        -- Ora, ature-se um namorado!... mas venha cá, Sr. Augusto, então como é isso?... estamos realmente apaixonados?!

        -- Quem te disse semelhante asneira?...

        -- Há três dias que não falas senão na irmã de Filipe e...

        -- Ora, viva! quero divertir-me... digo-te que a acho feia, não é lá essas coisas; parece ter mau gênio. Realmente notei-lhe muitos defeitos... sim... mas, às vezes... Olha, Leopoldo, quando ela fala ou mesmo quando está calada, ainda melhor; quando ela dança ou mesmo quando está sentada... ah! ela rindo-se... e até mesmo séria... quando ela canta ou toca ou brinca ou corre, com os cabelos à négligé, ou divididos em belas tranças; quando... Para que dizer mais? Sempre, Leopoldo, sempre ela é bela, formosa, encantadora, angélica!

        -- Então, que história é essa? Acabas divinizando a mesma pessoa que, principiando, chamaste feia?...

        -- Pois eu disse que ela era feia? É verdade que eu... no princípio... Mas depois... Ora! estou com dores de cabeça, este maldito Velpeau!... Que lição temos amanhã?

        -- Tratar-se-á das apresentações de...

        -- Temos maçada! Quem te perguntou por isso agora? Falemos de D. Carolina, do baile, do...

        -- Eis aí outra! Não acabaste de perguntar-me qual era a lição de amanhã?

        -- Eu? Pode ser... Esta minha cabeça!...

        -- Não é a tua cabeça, Augusto, é o teu coração.

        Houve um momento de silêncio. Augusto abriu um livro e fechou-o logo; depois tomou rapé, passeou pelo quarto duas ou três vezes e, finalmente, veio de novo sentar-se junto de Leopoldo.

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        -- É verdade, disse; não é a minha cabeça: a causa está no coração. Leopoldo, tenho tido pejo de te confessar, porém não posso mais esconder estes sentimentos que eu penso que são segredos e que todo o mundo mos lê nos olhos! Leopoldo, aquela menina que aborreci no primeiro instante, que julguei insuportável e logo depois espirituosa, que daí a algumas horas comecei a achar bonita, no curto trato de um dia, ou melhor ainda, em alguns minutos de uma cena de amor e piedade, em que a vi de joelhos banhando os pés de sua ama, plantou no meu coração um domínio forte, um sentimento filho da admiração, talvez, mas sentimento que é novo para mim, que não sei como o chame, porque o amor é um nome muito frio para que o pudesse exprimir!... Eu a mim não conheço... não sei onde irá isto parar... Eu amo! ardo! morro!

        -- Modera-te, Augusto, acalma-te, não é graça; olha que estás vermelho como um pimentão.

        [...].

MACEDO, Joaquim Manuel de. A Moreninha. 23. ed. São Paulo: Ática, 2012. p. 108-9.

Fonte: Práticas de Língua Portuguesa – Ensino Médio – Volume Único – Faraco – Moura – Maruxo – 1ª ed., São Paulo, 2020. Ed. Saraiva. p. 148-9.

Entendendo o romance:

01 – O diálogo entre os personagens permite a Leopoldo identificar contradições na fala de Augusto. Quais? Por quê?

      Ao mesmo tempo que atribui características negativas à Moreninha, Augusto a elogia, a ponto de provocar a estranheza do amigo. O trecho que comprova isso é: “Acabas divinizando a mesma pessoa que, principiando, chamaste feia?...”.

02 – Releia o quarto parágrafo do texto para responder às questões seguintes. Registre-as no caderno.

a)   Que relação a conjunção ou estabelece entre as orações?

Relação de alternância.

b)   Por que há tantas ocorrências dessa conjunção na fala de Augusto?

Augusto deseja expressar que, em qualquer circunstância, a moça o encanta.

03 – No diálogo de Leopoldo e Augusto, quais traços de linguagem indicam proximidade e intimidade fraternal entre esses personagens?

      Entre as possibilidades de expressões coloquiais, os estudantes podem identificar: venha cá; não é lá essas coisas; Olha, Leopoldo; Então, que história é essa?, Sr. Augusto (este último, podendo ser entendido como se usa até hoje de forma irônica com um interlocutor com quem se tem intimide).

04 – No texto, há mais de vinte reticências e mais de dez pontos de exclamação. Explique o efeito de sentido que o autor busca utilizando essa pontuação.

      Esse modo de pontuar o texto expressa o estado emocional dos personagens.

05 – Estudiosos da obra de Joaquim Manuel de Macedo apontam, em A Moreninha, que um fator que pode ter contribuído para o sucesso do autor junto ao público foi o uso de uma linguagem ágil, bem próxima do coloquial, com a narrativa marcada por muitos diálogos, para dar a impressão de a ação estar acontecendo no momento em que se lê, quase como se fosse uma cena teatral. Mas para você, jovem leitor do século XXI, certas expressões e a forma da linguagem podem não parecer nada próximas da linguagem coloquial que utiliza hoje. Com base nisso e considerando o público-leitor suposto de A Moreninha, discuta com os colegas e o professor as questões seguintes.

a)   Por que, para um leitor de hoje, muitas expressões e modos de dizer presentes no diálogo do romance parecem artificiais e com pouca probabilidade de ocorrer em uma conversa informal entre amigos? Justifique a resposta.

Resposta pessoal do aluno.

terça-feira, 29 de novembro de 2022

ROMANCE POLICIAL: O MISTÉRIO DO SOBRINHO PERFUMADO -(FRAG.LIVRO-DEZ MISTÉRIOS PARA RESOLVER)- HÉLIO DE OVERAL - COM GABARITO

 ROMANCE POLICIAL: O MISTÉRIO DO SOBRINHO PERFUMADO

(FRAGMENTO DO LIVRO: DEZ MISTÉRIOS PARA RESOLVER)

                                   Hélio de Overal

          Este caso, que Zezinho Sherlock também esclareceu com a maior facilidade, começou num sábado à tarde. Mas o nosso herói só soube dele no domingo, quando foi visitar o tio, o delegado Orlando Quental, chefe do Departamento Especial da Polícia. [...]

          - O que foi que aconteceu, desta vez?

          - Enforcaram uma velha agiota, em Bonsucesso. Temos um suspeito, mas não podemos provar nada contra ele. Esse suspeito, que esta detido na vigésima primeira delegacia, é um sobrinho da vítima. Também temos uma testemunha que o acusa de ter assassinado a velha, para roubar o dinheiro do cofre.

         - Ah! Essa testemunha viu alguma coisa?

         - Ai é que está. Não viu, mas sentiu. A testemunha é um cego.

         - Puxa! O caso é interessante, titio. Como é que um cego pode ser testemunha de vista?

          - Eu não disse que ele é testemunha de vista. Mas suas declarações comprometem o rapaz. E o cego não teria interesse em acusar o suspeito se não estivesse certo do que diz. O diabo é que o rapaz acabou confessando que esteve no local do crime, mas nega ter enforcado a tia.

           - Ele é o único herdeiro?

           - Parece que sim. A velha não tem outros parentes mais chegados. Morava sozinha e vivia de rendimentos e de emprestar dinheiro a juros.

            - Comece pelo princípio, titio – pediu Zezinho, cruzando as pernas e ajeitando um cacho de cabelos negros que teimava em cair sobre os seus óculos.

            - O caso é o seguinte ontem à tarde, alguém ligou para a delegacia de Bonsucesso e comunicou que havia uma mulher morta, num pardieiro de um beco, na Avenida dos Democráticos. Uma patrulhinha, que estava nas proximidades, correu ao local e ali encontrou o corpo da Sra. Matilde Rezende. A polícia já a conhecia de nome e sabia que ela era agiota e avarenta, mas nunca a incomodou. É difícil provar que os agiotas estão agindo fora da lei. [...] Ora, a empregada jurou que a patroa tinha muito dinheiro naquele cofre.

            - Ah! Então, temos uma empregada, hein?

            - Sim. É uma outra velha, ausente na hora do crime. Tinha ido fazer compras e só voltou quando a polícia já estava na casa. Ela disse que não sabia quem tinha ido visitar a patroa, mas afirmou que o sobrinho dela é um marginal, desempregado crônico, e andava de olho no dinheiro da tia.

            - Nem todo desempregado é marginal, titio. Assim como nem todo pistoleiro é bandido, pois a polícia também usa pistola. Roubaram tudo do cofre? Se a vítima emprestava dinheiro a juros, devia haver alguma promissória, ou  vale, ou essas coisas que eu não conheço direito...

             - Havia outros papéis, na sala, mas jogados no chão. O assassino deve ter obrigado a velha a abrir o cofre, para roubar o dinheiro. Só deixou os documentos.

              - E onde é que entra o cego? – perguntou Zezinho, deleitado com a história. – O cego é um marginal, um camelô sem licença, que estava na entrada do beco. Alguns vizinhos o viram ali, com um cachorro e um tabuleiro, desde manhã cedo.

             - Nem todo camelô é marginal – repetiu Zezinho Sherlock. – A polícia tem o costume de dizer que o que não é direito está torto, mas há um exagero nisso... E o que foi que esse cego viu? Ou melhor: o que foi que ele pressentiu?

             O Dr. Quental apanhou um papel datilografado em cima da escrivaninha e consultou-o.

             - Tenho aqui o depoimento do cego – disse, depois, mostrando o papel. – Ele estava vendendo bijuterias, na entrada do beco, acompanhado pelo cachorro. Quando os patrulheiros chegaram tentou fugir, com o tabuleiro na cabeça, mas um soldado o apanhou logo adiante. Ele pensava que fosse o “rapa”..  Depois que o corpo da velha foi encontrado, o testemunho  do cego tornou-se muito valioso.

            - Por quê?

            - Porque ele identificou o sobrinho da vítima, pelo perfume. Ouça o que ele diz – e o delegado passou a ler um trecho do papel datilografado – “A certa altura, ouvi uns passos pesados e um homem, usando um perfume de alfazema, passou por mim e entrou no beco. E sei que era um homem porque seus passos eram pesados, e ele pigarreou. Um minuto depois, senti uma outra vez o mesmo perfume e o homem passou por mim, andando muito depressa, descabelado, quase correndo, como se estivesse fugindo de alguma coisa. Aprendi a conhecer as pessoas pelos passos e pelo cheiro. Direitinho como o meu cachorro.”

            - Exatamente. O rapaz tem vinte e cinco anos e não exerce nenhuma profissão. Já trabalhou como balconista de uma loja de ferragens, mas foi despedido há três anos. Quando foi detido, negou ter estado na casa da tia, mas o seu perfume o denunciou. Ele usa uma loção de lavanda inglesa.

             - Certo – murmurou Zezinho. – Alfazema e lavanda inglesa é a mesma coisa... E depois o rapaz acabou confessando que esteve no pardieiro?

              - Pois é. Acabou confessando. Mas disse que encontrou a porta aberta e a tia morta, na sala. [...] então saiu correndo e telefonou para a polícia, mas não se identificou. O que é que você acha disso?

              - Tudo me parece claro, titio – disse Zezinho Sherlock. – O sobrinho perfumado pode estar dizendo a verdade, pois o cego é um grande mentiroso! [...]

             Por que Zezinho chegou a essa conclusão?

 OVERAL, Hélio de. Dez mistérios para resolver. Rio de Janeiro. Ediouro,1986. p.30-35.

Fonte: Maxi: ensino fundamental 2:multidisciplinar:6 º ao 9º ano/obra coletiva: Thais Ginicolo Cabral. 1.ed. São Paulo: Maxiprint,2019.7º ano Caderno 4 p.88 a 92.

 ENTENDENDO O TEXTO

01. Que tipo de narrador o texto apresenta? Comprove sua resposta com um trecho do texto.

Narrador-observador. “O Dr. Quental leu e releu o depoimento do cego[...]”

02. Especifique, a seguir, quais características atribuídas a cada um dos personagens.

a)   Zezinho Sherlock:

Usava óculos, tinha cabelos negros e cacheados, é o herói da história.

b)   Orlando Quental:

Delegado, chefe do Departamento Especial da Polícia.

c)   Sra. Matilde Rezende:

Era agiota e avarenta.

d)   Cego:

Um camelô sem licença.

e)   Sobrinho da vítima:

Desempregado há três anos, usava um perfume de alfazema.

03. O mistério da história que você leu corresponde a um crime. Sabendo disso, responda às questões a seguir.

a)   Quando o crime aconteceu?

O crime aconteceu em um sábado à tarde.

b)   Onde?

A vítima foi enforcada em um pardieiro de um beco, na Avenida dos Democráticos.

c)   Quem foi a primeira pessoa a ver a vítima?

Tudo indica que foi o sobrinho, pois ele alega ter encontrado a porta aberta e a tia morta na sala, mas ele fugiu e telefonou para a polícia.

04. Nas histórias de detetive, o modo como a narração acontece acaba por sugerir ao leitor suspeitos que possam ter motivos ou um interesse para realizar o crime.

Que suspeito é sugerido no texto? Justifique sua resposta.

O texto aponta o sobrinho da vítima como suspeito de cometer o crime. A empregada afirma a polícia que ele é um marginal, desempregado crônico e andava de olho no dinheiro da tia.

05. Determine as informações referentes à sequência narrativa da história,

a)   Situação inicial:

Zezito Sherlock visita o tio e fica sabendo do assassinato da Sra. Matilde Rezende.

b)   Conflito:

Há um suspeito detido, sobrinho da vítima, mas nada se pode provar contra ele, pois, a testemunha que o acusa de ter assassinado a tia é um cego.

c)   Clímax:

O delegado Quental faz a leitura do depoimento da testemunha a Zezito.

d)   Desfecho:

Zezito Sherlock esclarece o caso, dizendo que o cego é um grande mentiroso.

06. Na situação inicial, o narrador afirma que Zezito Sherlock esclareceu o caso com a maior facilidade.

a)   Em que momento o herói da história percebe que o sobrinho perfumado pode estar dizendo a verdade?

Zezito Sherlock percebe que o cego está mentindo ao ouvir seu testemunho, lido pelo tio.

b)   Como ele chega à conclusão de que o cego é um grande mentiroso?

O cego afirma ter identificado o sobrinho por meio de seu perfume e de passo pesado, mas também diz que ele estava descabelado, o que faz Zezito concluir que o camelô não era cego (ou completamente cego).

07. Identifique os personagens comuns às histórias de detetive:

a)   Detetives – Zezinho Sherlock e o detetive Orlando Quental

b)   Vítima – Sra. Matilde Rezende

c)   Suspeitos – O cego e o sobrinho perfumado

d)   Culpado – O cego

e)   Inocente – O sobrinho perfumado

 

 

 

sábado, 10 de setembro de 2022

ROMANCE: ELES ERAM MUITOS CAVALOS - (FRAGMENTO) - LUIZ RUFFATO - COM GABARITO

 Romance: Eles eram muitos cavalos – Fragmento

                  Luiz Ruffato                 

        1. Cabeçalho

        São Paulo, 9 de maio de 2000.

        Terça-feira.

        2. O Tempo

        Hoje, na capital, o céu estará variando de nublado a parcialmente nublado.

        Temperatura – Mínima: 14°. Máxima: 23°.

        Qualidade do ar oscilando de regular a boa.

        O sol nasce às 6h42 e se põe às 17h27.

        A lua é crescente.

        3. Hagiologia

        Santa Catarina de Bolonha, nascida em Ferrara, na Itália, em 1413, foi abadessa de um mosteiro em Bolonha. No Natal de 1456 recebeu o Menino Jesus das mãos de Nossa Senhora. Dedicou sua vida à assistência aos necessitados e tinha como única preocupação cumprir a vontade de Deus. Morreu em 1463.

        [...]

        36. Leia o Salmo 38
              leia o salmo 38
              durante três dias seguidos
                     três vezes ao dia
              faça dois pedidos difíceis
                     e um impossível
              anuncie no terceiro dia
              observe o que acontecerá no quarto dia

        [...]

        41. Táxi

        O doutor tem algum itinerário de preferência? Não? Então vamos pelo caminho mais rápido. Que não é o mais curto, o senhor sabe. Aqui em São Paulo nem sempre o caminho mais curto é o mais rápido. A essa hora... cinco e quinze... a essa hora a cidade já está parando... as marginais, as ruas paralelas, as transversais, as avenidas, as alamedas, as ruas, as vielas, tudo, tudo entupido de carros e buzinas. Sabe que uma vez sonhei que a cidade parou? Parou mesmo, totalmente. Um engarrafamento imenso, um congestionamento-monstro, como nunca antes visto, e ninguém conseguia andar um centímetro que fosse... Parece coisa de cinema, não é não? Pois eu gosto. Gosto muito de assistir filme. Mas prefiro os antigos. De vez em quando reprisa um na televisão. Tinha uns atores danados de bons, Tyrone Power, Burt Lancaster... O meu preferido é o Victor Mature, conhece? Ele fazia o papel de Maciste, lembra? Era bom mesmo... Tem um retrato dele na parede da sala lá de casa. Bom, não é retrato, é uma fotografia de revista que a patroa recortou e mandou emoldurar. O senhor entende como é mulher... Ela sabia que eu era fã do Victor Mature e então pensou em me agradar... Me deu no aniversário... bastantes anos já. Pendurou na parede da sala... E eu lá tenho coragem de tirar? Tenho nada. O senhor teria? [...]

        [...]


              RUFFATO, Luiz. Eles eram muitos cavalos. 2. ed. São Paulo: Boitempo Editorial, 2002. p. 11; 73; 84-85.

             Fonte: Livro Língua Portuguesa – Trilhas e Tramas – Volume 1 – Leya – São Paulo – 2ª edição – 2016. p. 125-7.

Entendendo o romance:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Hagiologia: estudo, obra ou tratado a respeito da vida dos santos ou das coisas santas.

·        Maciste: antigo personagem do cinema italiano que representava um homem mitológico muito parecido com Hércules que utilizava sua descomunal força para realizar feitos heroicos.

02 – O que lhe sugere o título “Eles eram muitos cavalos”?

      Resposta pessoal do aluno.

03 – Com base nos trechos lidos, identifique:

a)   O tema;

O cotidiano de pessoas simples em um grande centro urbano.

b)   O tempo cronológico e o tempo histórico;

Tempo cronológico: o dia 9 de maio de 2000, terça-feira, conforme indicado no cabeçalho. Tempo histórico: século XXI.

c)   O cenário;

Urbano: a cidade de São Paulo.

d)   As personagens;

A cidade de São Paulo e as pessoas comuns que habitam a metrópole: um motorista de táxi, um passageiro que ouve o que ele diz.

e)   Os gêneros utilizados na construção das cenas lidas.

Cabeçalho de uma carta sem destinatário e remetente; dados biográficos de Santa Catarina, protetora dos pobres; uma corrente de oração com salmo; uma conversa em um táxi.

04 – Quais são os temas do trecho ou da cena “41. Táxi”?

      O congestionamento da cidade de São Paulo; o comentário do motorista sobre sua preferência por filmes antigos e sobre sua vida pessoal.

05 – Leia as informações a seguir:

        Zoomorfismo é um recurso de linguagem utilizado na arte, na religião, na literatura, por meio do qual são atribuídas características de animais a seres humanos. O título eles eram muitos cavalos foi extraído de um verso de Cecília Meireles, publicado na obra Romanceiro da Inconfidência, em que o recurso do zoomorfismo é usado para se referir tanto aos inconfidentes como a seus cavalos.

        Com base nos trechos do livro de Rufatto que você leu e nas informações que obteve por meio da leitura do boxe da página anterior, explique no caderno a relação entre cavalos e pessoas no título eles eram muitos cavalos.

      Essa comparação pode indicar a situação de desumanização e anonimato em que vivem as pessoas num grande centro urbano como São Paulo. A palavra cavalo, em sentido figurado, também pode ter os significados de pessoa rude, rústica; de indivíduo tolo, parvo, palerma, estúpido; ou de indivíduo que serve de escravo à outro ou que carrega o mundo nas costas, etc.

06 – As epígrafes costumam indicar o tema ou algum outro aspecto de uma obra. Além dos versos de Cecília Meireles, o livro de Ruffato apresenta outra epígrafe. Leia e explique esta segunda epígrafe: Até quando julgareis injustamente, sustentando a causa dos ímpios?

      Essa epígrafe questiona e acusa a justiça de não cumprir suas obrigações e estar sempre a favor dos mais fortes, dos ímpios. Pelo contexto de eles eram muitos cavalos, pode-se dizer que a epígrafe faz uma alusão ao dever de se fazer justiça e amparar as pessoas necessitadas, sem identidade e cidadania, que vivem em grandes centros urbanos como São Paulo.

Características estruturais de eles eram muitos cavalos:

        A obra eles eram muitos cavalos, de Luiz Ruffato, é um romance polifônico, isto é, apresenta várias diversas “vozes” que compõem o enredo, o cenário, e cada personagem funciona como um ser autônomo, com visão de mundo, voz e posições próprias.

        Assim, sua organização/estrutura se caracteriza por:

·        Não seguir a dos romances tradicionais, que narram uma sequência de ações em que há relação de causa e consequência entre elas.

·        Não apresentar os elementos da narrativa canônica, como enredo, conflito, complicações, clímax, suspense, desfecho etc.

·        Não apresentar uma trama ou fio condutor narrativo que conecta as ações e as personagens.

·        Apresentar cenas autônomas, que podem ser consideradas contos, minicontos ou microcontos.

07 – Identifique as vozes nas cenas ou trechos lidos.

      Nos trechos lidos, podemos identificar vozes de redator de carta, de redator/locutor de boletim meteorológico, de hagiológio (biografia de uma santa), de corrente de oração (salmo), de conversa de um motorista de táxi.

08 – Releia o trecho 36, em que o autor se apropria de uma oração religiosa, e explique o uso das formas verbais no modo imperativo: leia, faça, anuncie, observe.

      O modo imperativo orienta, ensina as ações que devem ser realizadas durante três dias para se alcançar a graça pedida.

09 – Releia a cena/trecho “41. Táxi” e responda:

a)   Quem é o locutor?

Um motorista de táxi.

b)   Nessa cena, há marcas de interlocução? Justifique.

Embora o interlocutor não se manifeste, o locutor se dirige a um passageiro: “O doutor tem algum itinerário de preferência? Não?”; “[...] o senhor sabe”; “Sabe que uma vez sonhei que a cidade parou”; “O meu preferido é o Victor Mature, conhece? Ele fazia o papel de Maciste, lembra?”.

c)   Por que se usou doutor e senhor, nos trechos a seguir?

·        doutor tem algum itinerário de preferência?

·        senhor entende como é mulher...

·        E eu lá tenho coragem de tirar? Tenho nada. O senhor teria?

Para revelar deferência, respeito e tratamento cerimonioso em relação ao passageiro.

d)   Qual é a linguagem empregada nesse trecho? Justifique sua resposta.

A linguagem coloquial, que reproduz a fala cotidiana (“Tinha uns atores danados de bons [...”), é marcada por repetições de palavras, interrupções indicadas pelas reticências (“A essa hora... cinco e quinze... a essa hora a cidade já está parando...”), por interrogações (recursos fáticos) para se certificar se o locutor está compreendendo (“Ele fazia o papel de Maciste, lembra?”), etc.

10 – Você sabia que a linguagem cinematográfica tem influenciado a Literatura brasileira? Essas marcas estão presentes nos trechos lidos? Justifique.

      Sim. A organização em cenas, como em um roteiro, apresentando flashs, com cortes rápidos, são marcas do cinema e da teledramaturgia.

sábado, 27 de agosto de 2022

PRÓLOGO: ROMANCE ÚRSULA - (FRAGAMENTO) - MARIA FIRMINA DOS REIS - COM GABARITO

 Prólogo: Romance Úrsula – Fragmento

               Maria Firmina dos Reis

        [...]

        Mesquinho e humilde livro é este que vos apresento, leitor. Sei que passará entre o indiferentismo glacial de uns e o riso mofador de outros, e ainda assim o dou a lume.

        Não é a vaidade de adquirir nome que me cega, nem o amor próprio de autor. Sei que pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher, e mulher brasileira, de educação acanhada e sem o trato e conversação dos homens ilustrados, que aconselham, que discutem e que corrigem, com uma instrução misérrima, apenas conhecendo a língua de seus pais, e pouco lida, o seu cabedal intelectual é quase nulo. 

        [...]

        Então por que o publicas? – Perguntará o leitor.

        Como uma tentativa, e mais ainda, por este amor materno, que não tem limites, que tudo desculpa – os defeitos, os achaques, as deformidades do filho – e gosta de enfeitá-lo e aparecer em toda a parte, mostrá-lo a todos os conhecimentos e vê-lo mimado e acariciado.

        O nosso romance, gerou-o a imaginação, e não no soube colorir, nem aformosentar. Pobre avezinha silvestre anda terra a terra, e nem olha para as planuras onde gira a águia.

        [...]

        Mas, ainda assim, não o abandoneis na sua humildade e obscuridade, senão morrerá à míngua, sentido e magoado, só afagado pelo carinho materno.

        Ele semelha à donzela, que não é formosa porque a natureza negou-lhe as graças feminis, e que por isso não pode encontrar uma afeição pura, que corresponda ao afeto da sua alma: mas que, com o pranto de uma dor sincera e viva, que lhe vem dos seios da alma, onde arde em chamas a mais intensa e abrasadora paixão, e que embalde quer recolher a corrução, move ao interesse aquele que a desdenhou e o obriga ao menos a olhá-la com bondade.

        [...]

        Deixai pois que a minha ÚRSULA, tímida e acanhada, sem dotes da natureza, nem enfeites e louçanias de arte, caminhe entre vós.

        Não a desprezeis, antes amparai-a nos seus incertos e titubeantes passos para assim dar alento à autora de seus dias, que talvez com essa proteção cultive mais o seu engenho, e venha a produzir cousa melhor, ou quando menos, sirva esse bom acolhimento de incentivo para outras, que com imaginação mais brilhante, com educação mais acurada, com instrução mais vasta e liberal, tenham mais timidez do que nós.

        [...].

                            REIS, Maria Firmina dos. Úrsula. 2. ed. Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2019. p. 12-3.

Fonte: Língua Portuguesa – Estações – Ensino Médio – Volume Único. 1ª edição, São Paulo, 2020 – editora Ática – p. 170-1.

Entendendo o prólogo:

01 – De acordo com o texto, o que significa a palavra corução?

      É uma ave de hábitos noturnos que se alimenta de insetos. 

02 – Qual parece ser o objetivo do prólogo?

      Buscar apresentar a obra para o leitor, explicar o objetivo de sua publicação e fazer um apelo para que ele a leia.

03 – Como a autora justifica a escrita do livro e que ela espera de seus leitores?

      A autora afirma ter escrito o romance como uma tentativa, por amor à escrita. Ela declara que alguns leitores permanecerão indiferentes ao seu esforço e que outros vão criticá-la, porque é mulher, brasileira, de pouca instrução. Ainda assim, espera que acolham o romance, isto é, que o leiam. Ela busca, ainda, poder melhorar sua técnica a partir da crítica dos leitores e incentivar outras escritoras a escrever.

04 – O que a autora diz a respeito do romance?

      A autora diz que o romance é “mesquinho e humilde”, de pouco valor, e que não soube colori-lo nem enfeitá-lo. Compara sua obra a uma avezinha silvestre, que vive com os pés no chão e não tem grandes pretensões, e a uma donzela sem beleza ou enfeites, mas que tem vivacidade e se expressa com toda emoção e sinceridade.

05 – O que é possível destacar sobre a linguagem da autora já no prólogo?

      É possível destacar o uso da comparação e dos adjetivos para caracterizar o livro e da ironia ao tratar do olhar de outros escritores e críticos sobre ela.

terça-feira, 23 de agosto de 2022

ROMANCE: O PEQUENO PRÍNCIPE - (FRAGMENTO) - ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY - COM GABARITO

 Romance: O pequeno príncipe – Fragmento

       [...]

        E foi então que apareceu a raposa: [...]

        -- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. – Estou tão triste...

        -- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. – Não fui cativada ainda. [...]

        -- Que quer dizer "cativar"? [...]

        -- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. – Significa "criar laços...” [...] - Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...

        -- Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...

        -- [...] se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo... [...] Por favor... cativa-me! – disse ela. [...].

        -- Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.

        -- É preciso ser paciente - respondeu a raposa. [...]

        No dia seguinte o principezinho voltou.

        -- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa.  Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas, se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... [...]. Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:

        -- Ah! Eu vou chorar.

        -- A culpa é tua, [...] tu quiseste que eu te cativasse...

        -- Quis, disse a raposa.

        -- Mas tu vais chorar! Disse o principezinho.

        -- Vou, disse a raposa.

        -- Então, nãos sais lucrando nada!

        -- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo. [...] Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo. [...]

        E voltou, então, à raposa:

        -- Adeus, disse ele...

        -- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos. [...] Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante. [...] Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...

        -- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

 SAINT-EXUPÉRY, Antoine de. O pequeno príncipe. Tradução de Dom Marcos Barbosa. 41. ed. Rio de Janeiro: Agir, 2015.

Fonte: Língua Portuguesa – Estações – Ensino Médio – Volume Único. 1ª edição, São Paulo, 2020 – editora Ática – p. 96-7. (Fragmento).

Entendendo o romance:

01 – O que a presença de um animal falante pode revelar sobre o teor da narrativa?

      A presença do animal falante pode revelar que se trata de uma narrativa de fantasia, repleta de ensinamentos sobre a amizade e sobre as relações humanas de modo geral, o que a aproxima de gêneros como as fábulas e os contos de fadas, que têm função moralizante.

02 – O que significa o verbo cativar, segundo a raposa?

      Significa “criar laços...”, ou seja, estabelecer relação de afeto com alguém.

03 – A raposa afirma que cativar é uma “coisa muito esquecida”.  Que ela pode ter dito isso? Qual é sua opinião sobre essa afirmação? Acha que ela se aplica aos dias de hoje?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Provavelmente, a resposta da raposa reflete a dificuldade de estabelecer laços, algo que pode ser aplicado às relações atuais.

04 – Por que a raposa diz ao príncipe que, se for cativada, terá outro olhar sobre o campo de trigo? Justifique sua resposta explicando a comparação feita pela personagem.

      Porque o trigal dourado fará a raposa se lembrar dos cabelos loiros do pequeno príncipe e passará a ter um sentido afetivo para ela. A raposa compara o dourado dos cabelos do príncipe à cor do trigo.

05 – Explique o segredo que a raposa revela ao principezinho.

      Significa que, quando cativamos alguém, somos responsáveis pela felicidade dessa pessoa, pois ela passa a fazer parte de nossa vida, de tal modo que nos cabe cuidar dela para sempre.

06 – O que quer dizer se tornar “eternamente responsável” pelo que se cativou”

      Que o essencial é invisível para os olhos, pois só se pode ver bem com o coração. Ou seja, uma das coisas mais importantes na vida é o que sentimos, são nossos afetos.