domingo, 31 de julho de 2022

CRÔNICA: AI DE TI, COPACABANA - RUBEM BRAGA - COM GABARITO

 Crônica: Ai de ti, Copacabana

               Rubem Braga

        1. AI DE TI, Copacabana, porque eu já fiz o sinal bem claro de que é chegada a véspera de teu dia, e tu não viste; porém minha voz te abalará até as entranhas.

        2. Ai de ti, Copacabana, porque a ti chamaram Princesa do Mar, e cingiram tua fronte com uma coroa de mentiras; e deste risadas ébrias e vãs no seio da noite.

        3. Já movi o mar de uma parte e de outra parte, e suas ondas tomaram o Leme e o Arpoador, e tu não viste este sinal; estás perdida e cega no meio de tuas iniquidades e de tua malícia.

        4. Sem Leme, quem te governará? Foste iníqua perante o oceano, e o oceano mandará sobre ti a multidão de suas ondas.

        5. Grandes são teus edifícios de cimento, e eles se postam diante do mar qual alta muralha desafiando o mar; mas eles se abaterão.

        6. E os escuros peixes nadarão nas tuas ruas e a vasa fétida das marés cobrirá tua face; e o setentrião lançará as ondas sobre ti num referver de espumas qual um bando de carneiros em pânico, até morder a aba de teus morros; e todas as muralhas ruirão.

        7. E os polvos habitarão os teus porões e as negras jamantas as tuas lojas de decorações; e os meros se entocarão em tuas galerias, desde Menescal até Alaska.

        8. Foste iníqua perante o oceano, e o oceano mandará sobre ti a multidão de suas ondas. Então quem especulará sobre o metro quadrado de teu terreno? Pois na verdade não haverá terreno algum.

        9. Ai daqueles que dormem em leitos de pau-marfim nas câmaras refrigeradas, e desprezam o vento e o ar do Senhor, e não obedecem à lei do verão.

        10. Ai daqueles que passam em seus cadilaques buzinando alto, pois não terão tanta pressa quando virem pela frente a hora da provação.

        11. Tuas donzelas se estendem na areia e passam no corpo óleos odoríferos para tostar a tez, e teus mancebos fazem das lambretas instrumentos de concupiscência.

        12. Uivai, mancebos, e clamai, mocinhas, e rebolai-vos na cinza, porque já se cumpriram vossos dias, e eu vos quebrantarei.

        13. Ai de ti, Copacabana, porque os badejos e as garoupas estarão nos poços de teus elevadores, e os meninos do morro, quando for chegado o tempo das tainhas, jogarão tarrafas no Canal do Cantagalo; ou lançarão suas linhas dos altos do Babilônia.

        14. E os pequenos peixes que habitam os aquários de vidro serão libertados para todo o número de suas gerações.

        15. Por que rezais em vossos templos, fariseus de Copacabana, e levais flores para Iemanjá no meio da noite? Acaso eu não conheço a multidão de vossos pecados?

        16. Antes de te perder eu agravarei s tua demência — ai de ti, Copacabana! Os gentios de teus morros descerão uivando sobre ti, e os canhões de teu próprio Forte se voltarão contra teu corpo, e troarão; mas a água salgada levará milênios para lavar os teus pecados de um só verão.

        17. E tu, Oscar, filho de Ornstein, ouve a minha ordem: reserva para Iemanjá os mais espaçosos aposentos de teu palácio, porque ali, entre algas, ela habitará.

        18. E no Petit Club os siris comerão cabeças de homens fritas na casca; e Sacha, o homem-rã, tocará piano submarino para fantasmas de mulheres silenciosas e verdes, cujos nomes passaram muitos anos nas colunas dos cronistas, no tempo em que havia colunas e havia cronistas.

        19. Pois grande foi a tua vaidade, Copacabana, e fundas foram as tuas mazelas; já se incendiou o Vogue, e não viste o sinal, e já mandei tragar as areias do Leme e ainda não vês o sinal. Pois o fogo e a água te consumirão.

        20. A rapina de teus mercadores e a libação de teus perdidos; e a ostentação da hetaira do Posto Cinco, em cujos diamantes se coagularam as lágrimas de mil meninas miseráveis — tudo passará.

        21. Assim qual escuro alfanje a nadadeira dos imensos cações passará ao lado de tuas antenas de televisão; porém muitos peixes morrerão por se banharem no uísque falsificado de teus bares.

        22. Pinta-te qual mulher pública e coloca todas as tuas joias, e aviva o verniz de tuas unhas e canta a tua última canção pecaminosa, pois em verdade é tarde para a prece; e que estremeça o teu corpo fino e cheio de máculas, desde o Edifício Olinda até a sede dos Marimbás porque eis que sobre ele vai a minha fúria, e o destruirá. Canta a tua última canção, Copacabana!

Rio, janeiro, 1958

BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana. 13. ed. Rio de Janeiro: Record, 1996. p. 80-3.

             Fonte: Livro Língua Portuguesa – Trilhas e Tramas – Volume 1 – Leya – São Paulo – 2ª edição – 2016. p. 106-9.

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Iniquidade: injustiça.

·        Setentrião: vento norte.

·        Jamanta: arraia-gigante; peixe dos mares tropicais que atinge até 3 metros comprimento e 5 metros de diâmetro.

·        Mero: peixe do Atlântico tropical que atinge até 3 m de comprimento e pesa até 450 kg.

·        Mancebo: rapaz, jovem.

·        Lambreta: veículo motorizado semelhante à motocicleta; motoneta; vespa.

·        Concupiscência: prazer; desejo intenso de bens ou gozos materiais.

·        Quebrantar: vencer, domar, amansar.

·        Badejos, garoupas e tainhas: peixes do Oceano Atlântico.

·        Fariseu: com o sentido de indivíduo que aparenta santidade não a tendo; indivíduo hipócrita, fingido.

·        Rapina: ato de roubar, tirar, subtrair com violência.

·        Libação: ato de tomar bebidas alcoólicas por prazer e para fazer brindes.

·        Hetaira: na antiga Grécia, mulher dissoluta, cortesã; prostituta elegante e distinta.

·        Alfonje: sabre, espada de lâmina curta e larga.

·        Cação: peixe da família do tubarão.

02 – Caracterize o narrador de “Ai de ti, Copacabana” usando passagens da crônica.

      O narrador é um ser superior, um profeta, que tem o poder de prever o futuro. Trechos do texto que justificam a resposta: “[...] minha voz te abalará até as entranhas”; “Já movi o mar de uma parte e de outra parte [...]”; “[...] eu agravarei a tua demência [...]”; “[...] eis que sobre ele vai a minha fúria, e o destruirá.”.

03 – A quem o narrador se dirige? Com que objetivo?

      Ele se dirige ao bairro boêmio de Copacabana em tom ameaçador e irônico, profetizando seu fim.

04 – “Ai de ti, Copacabana” é uma crônica intertextual. Releia estes trechos:

        Ai de ti; referver de espumas; bando de carneiros em pânico; as muralhas ruirão; a hora da provação; Por que rezais em vossos templos, fariseus [...]; a multidão de vossos pecados; porque eis que sobre ele vai a minha fúria, e o destruirá; Pois o fogo e a água te consumirão. Com qual texto a crônica dialoga? Justifique.

      A crônica dialoga com o texto bíblico (a Bíblia), apropriando-se de imagens e de trechos do livro do Apocalipse.

05 – Explique a presença de numeração nos parágrafos.

      Os 22 parágrafos são numerados como se fossem versículos da Bíblia.

06 – O que o narrador de “Ai de ti, Copacabana” expressa por meio do texto?

a)   Ironia e rancor.

b)   Ameaça e lamento.

c)   Desprezo e horror.

d)   Queixa e dor.

e)   Arrogância e alerta.

07 – Releia os trechos a seguir e explique o que motivou as “profecias apocalípticas” do narrador.

·        [...] estás perdida e cega no meio de tuas iniquidades e de tua malícia. (3).

·        Foste iníqua perante o oceano, e o oceano mandará sobre ti a multidão de suas ondas. (8).

·        Então quem especulará sobre o metro quadrado de teu terreno? (8)

·        [...] desprezam o vento e o ar do Senhor, e não obedecem à lei do verão. (9).

·        Ai daqueles que passam em seus cadilaques buzinando alto. [...]. (10).

·        E os pequenos peixes que habitam os aquários de vidro serão libertados para todo o número de suas gerações. (14).

·        Acaso eu não conheço a multidão de vossos pecados? (19).

·        Pois grande foi a tua vaidade [...]. (19).

      O que motivou essas e outras “profecias apocalípticas” do narrador foram a desigualdade social, o desprezo pela natureza, a corrupção e a especulação imobiliária, a prostituição, as futilidades, os vícios.

08 – Releia o trecho a seguir e explique a que ele se refere.

        “Por que rezais em vossos templos, fariseus de Copacabana, e levais flores para Iemanjá no meio da noite?”

      O trecho refere-se à fusão de cultos religiosos, chamada de “sincretismo religioso”.

09 – Qual é o efeito provocado pela citação de nomes de bairros, espaços públicos, casas noturnas, galerias comerciais, personalidade, etc.?

      A citação de nomes dá um tom documental, de registro de locais, cenários e fatos, que é uma das marcas do gênero crônica.

 

 

 

CONTO: CIRCUITO FECHADO (1) - RICARDO RAMOS - COM GABARITO

 Conto: Circuito fechado (1)

            Ricardo Ramos

     Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço. Relógio, maço de cigarros, caixa de fósforos, jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapos. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, blocos de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetos de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia. Água. Táxi, mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras. Cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro.

RAMOS, Ricardo. Circuito fechado: Contos. Rio de Janeiro: Record, 1978. p. 21-22.

             Fonte: Livro Língua Portuguesa – Trilhas e Tramas – Volume 1 – Leya – São Paulo – 2ª edição – 2016. p. 103-4.

Entendendo o conto:

01 – Que impressão você teve ao ler o texto “Circuito fechado”?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: À primeira vista, o texto parece ser apenas uma enumeração de palavras e expressões. Porém, à medida que se avança na leitura atenta, concluímos que se trata de um texto do gênero conto.

02 – Qual é enredo desse conto?

      O cotidiano de uma pessoa.

03 – Em geral, verbos, advérbios e locuções adverbiais constroem a sequência temporal de uma narrativa.

a)   O autor usou esse recurso no conto que você acabou de ler?

Não.

b)   Que recursos linguísticos ajudam o leitor a perceber a sequência temporal de “Circuito fechado”?

A repetição de substantivos, adjetivos e locuções adjetivas que sugerem ações rotineiras, que fazem parte do dia-a-dia.

04 – Se você conseguiu perceber o enredo, ou seja, a sucessão de fatos que acontecem em determinado tempo e lugar, sabe que deve haver uma personagem em “Circuito fechado”. Quem é essa personagem e quais são suas características? Justifique.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Pode-se identificar uma personagem do sexo masculino com base na nomeação de alguns de seus objetos de uso pessoal, como creme de barbear, pincel, gilete, cueca, camisa, abotoaduras, calça, gravatas, paletó, etc. Trata-se de um executivo/publicitário, provavelmente é uma pessoa de classe média.

05 – O conto “Circuito fechado” foi publicado pela primeira vez em 1972. Se tivesse sido escrito atualmente, quais elementos/objetos poderiam fazer parte do cenário descrito?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Celular, boxe de banheiro, banheira de hidromassagem, computador, notebook, laptop, aparelho de som, TV, vídeo game, DVD, fone de ouvido, controle remoto, etc.

06 – Determine:

a)   O tempo cronológico da narrativa.

Um dia na vida de uma pessoa (manhã, tarde e noite).

b)   Os espaços.

Casa, automóvel, local de trabalho da personagem, táxi, restaurante.

07 – Toda história pressupõe um leitor (real ou imaginário) e é contada de um ou mais pontos de vista. Nesse conto, qual é o foco narrativo, ou seja, a história é contada a partir de que ponto de vista? Responda no caderno.

a)   O próprio personagem conta o que fez e o que pensa.

b)   Um narrador conta o que observa, enumerando palavras e expressões relacionadas a ações cotidianas.

c)   Não é possível determinar um foco narrativo. Há vários.

d)   Quem narra também participa dos acontecimentos do enredo.

e)   Pela sua estrutura, o conto dispensa um narrador.

08 – Que ações se repetem? Explique.

      Hábitos de higiene, de tomar café, fumar, telefonar, escrever. Isso fica claro a partir da repetição das palavras e expressões associadas a essas ações.

 

ARTIGO EXPOSITIVO: LITERATURA LEITORES E LEITURA - MARISA LAJOLO - COM GABARITO

 Artigo expositivo: Literatura leitores e leitura                 

                               Marisa Lajolo

        Não se pode dizer que literatura é aquilo que cada um considera literatura? Por que não incluir no conceito de literatura as linhas que cada um rabisca em momentos especiais, como o poema que seu amigo fez para a namorada, mandou para ela e não mostrou para mais ninguém? Por que não chamar de literatura a história de bruxas e bichos que de noite, à hora de dormir, sua mãe inventava para você e seus irmãos? [...]

        Esses textos não têm a mesma cidadania literária que o romance famoso de Gustave Flaubert (1821-1880) ou de José de Alencar (1829-1877)? [...]

        E discutir literatura é abrir os olhos e ouvidos, e olhar e ouvir em volta, ler livros, meditar sobre as frases pintadas a spray em muros e edifícios da cidade, e fazer a eles a pergunta: o que é literatura? [...]

        Alguns livros são muito conhecidos e estão em todas as livrarias, todos conhecem o nome de quem os escreveu. [...]

        Já outros – muitos e muitos outros – não desfrutam desta festa toda.

        Seus nomes são desconhecidos, suas obras são difíceis de serem encontradas, não constam das bibliotecas, ninguém fala delas. Eles imprimem às vezes seus próprios livros e não encontram leitores para além da família e dos amigos mais próximos.

        Em pequenas comunidades, cantadores, repentistas, contadores de histórias – embora só raramente projetem seus nomes nos circuitos eruditos das grandes cidades – são amados e respeitados por um público, que é fiel a eles.

        Enquanto isso, em segmentos modernos e requintados da indústria livreira, livros de grande sucesso – os best-sellers – podem ser escritos em uma espécie de linha de montagem, começando a produção da obra por um levantamento das expectativas do público: tipo de história de que gosta mais, frequência esperada de cenas de sexo e de violência, cenários e ambientes preferidos, coisas assim. Com base nesses dados, pode-se escrever um romance sob medida para um certo tipo de público. Como investimento comercial, livros desse figurino correm riscos mínimos e oferecem boas perspectivas de retorno financeiro. [...]

        Com formas tão diferentes de produção e circulação de objetos igualmente denominados literatura, será que é possível defini-la? Vamos chamar igualmente de literatura os romances de autores contemporâneos consagrados como Ariano Suassuna e Lya Luft, poesias de Manoel de Barros ou de Adélia Prado e as produções quase anônimas de cantadores de feira e autores marginais? Vão para o mesmo saco (de gatos...) best-sellers escritos quase que de encomenda e requintadas obras de vanguarda que apenas poucos leitores entendem? [...]

        Será que são literatura os poemas adormecidos em gavetas, pastas, fitas, disquetes, CDs, cadernos e arquivos pelo mundo afora, os romances que a falta de oportunidade impediu que fossem publicados, peças de teatro nunca lidas nem encenadas e que jamais encontrarão ouvidos de gente? Será que tudo isso é literatura?

        Pode ser, pode ser...

        E, se não é literatura, por que não é? Para uma coisa ser considerada literatura tem de ser escrita? Tem de ser editada? Tem de ser impressa em livro e vendida ao público? [...]

        A resposta é simples. Tudo isso é, não é e pode ser que seja literatura. Depende do ponto de vista, do significado que a palavra tem para cada um, da situação na qual se discute o que é literatura. [...]

LAJOLO, Marisa. Literatura: leitores e leitura. São Paulo: Moderna, 2001. p. 12-16.

             Fonte: Livro Língua Portuguesa – Trilhas e Tramas – Volume 1 – Leya – São Paulo – 2ª edição – 2016. p. 92-4.

Entendendo o artigo expositivo:

01 – Registre no caderno a alternativa que melhor sintetiza o objetivo do texto.

a)   Conceituar literatura de forma objetiva.

b)   Problematizar conceitos de literatura do ponto de vista da indústria cultural, dos leitores e da tradição.

c)   Valorizar a literatura popular, os repentistas e os contadores de história.

d)   Mostrar as origens da literatura do ponto de vista histórico.

e)   Criticar uma certa parcela de leitores que valoriza best-sellers.

02 – Releia a seguinte passagem:

        “Esses textos não têm a mesma cidadania literária que o romance famoso de Gustave Flaubert (1821-1880) ou de José de Alencar (1829-1877)?”

a)   A que se refere expressão Esses textos?

Refere-se aos exemplos de textos citados anteriormente: textos escritos e não publicados, contos infantis, etc.

b)   O que significa a expressão de sentido figurado cidadania literária?

A expressão foi usada para caracterizar os textos que costumam ser destacados pela crítica dos jornais, pela mídia e o ambiente acadêmico (escolas, universidades, etc.)

03 – Leia o verbete:

        Best-seller: [...] [Ingl.]

1.   Livro que é um sucesso de livraria, que vende muito.

Dicionário Aurélio Eletrônico – Século XXI.

a)   Conforme a definição acima, você já leu algum best-seller? Qual?

Resposta pessoal do aluno.

b)   Qual é a opinião da autora do texto sobre os best-sellers?

Ela os considera uma literatura com objetivo mais comercial.

c)   Em que trecho do texto ela demonstra esse ponto de vista?

“Espécie de linha de montagem, começando a produção da obra com um levantamento das expectativas do público”, “Como investimento comercial”.

d)   Você concorda com a opinião de Marisa Lajolo a respeito dos best-sellers? Justifique sua resposta.

Resposta pessoal do aluno.

04 – Que tipo de frase é usado nos dois parágrafos iniciais? Com que objetivo?

      Frases interrogativas, usadas com o objetivo de problematizar o conceito de literatura.

05 – Para garantir a continuidade do assunto (a temática do texto), a autora articula as ideias usando recursos sintáticos (relação entre palavras e ideias) e semânticos (escolha de vocábulos). Identifique a alternativa em que esses recursos não foram interpretados corretamente e corrija-a no caderno.

a)   [...] Esses textos não têm a mesma cidadania literária [...]

Retoma a ideia do parágrafo anterior, usando a palavra “textos”, de sentido mais amplo (hiperônimo).

b)   [...] Já outros – muitos e muitos outros – não desfrutam desta festa toda. [...]

Contrapõe escritores desconhecidos a escritores consagrados.

c)   [...] Enquanto isso, em segmentos modernos e requintados da indústria livreira [...]

Introduz uma situação simultânea mas contrastante em relação à do parágrafo anterior: best-sellers x literatura popular.

d)   [...] A resposta é simples. Tudo isso é, não é e pode ser que seja literatura. [...]

Enfatiza o que foi perguntado nos parágrafos anteriores.

A autora não enfatiza o que foi perguntado, mas responde, resumindo as questões apontadas ao longo do texto

REPORTAGEM: UMA GERAÇÃO DESCOBRE O PRAZER DE LER - (FRAGMENTO) - BRUNO MEIER - COM GABARITO

 Reportagem: Uma geração descobre o prazer de ler – Fragmento

                       Bruno Meier

        Ler obras juvenis ou best-sellers é apenas o começo de uma longa e produtiva convivência com os livros. Essa é a lição que anima os jovens a se aventurarem na boa literatura atual e nos clássicos

        [...] Em janeiro, a universitária Iris Figueiredo, de 18 anos, anunciou em seu blog a intenção de organizar encontros para discutir clássicos da literatura. A ideia era reunir jovens que estavam cansados de ler as séries de ficção que lideram as vendas nas livrarias e passar a ler obras de grandes autores. Trinta respostas chegaram rapidamente. No mês seguinte, o evento notável de Iris começou: vinte adolescentes procuraram uma sombra junto ao Museu de Arte Contemporânea de Niterói – cada um com seu exemplar de Orgulho e Preconceito, da inglesa Jane Austen, debaixo do braço e sentaram-se para conversar. Durante duas horas, leram os trechos de sua preferência, analisaram a influência da autora sobre escritores contemporâneos (descobriram, por exemplo, que certas frases do romance foram emuladas em diálogos da série O Diário de Bridget Jones, de Helen Fielding) e destrincharam os dilemas pelos quais passaram a vivaz Elizabeth Bennett e o arrogante Mr. Darcy, os protagonistas do romance. Iris se entusiasma ao falar do sucesso de suas reuniões que já abordaram títulos como O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, 1984, de George Orwell, e Feliz Ano Novo, de Rubem Fonseca. Desde pequena, ela é boa leitora. Mas foi só ao descobrir a série Harry Potter que se apaixonou pela leitura e a transformou em parte central de seu dia a dia. Quando a saga do bruxinho virou mania entre as crianças e os adolescentes, uma década atrás, vários críticos apressaram-se em decretar que esse seria um fenômeno de resultados nulos. Com o eminente crítico americano Harold Bloom à frente, argumentavam que Harry Porter só formaria mais leitores de Harry Potter os livros da inglesa J.K. Rowling seriam incapazes de conduzir a outras leituras e propiciar a evolução desses iniciantes. Jovens como Iris desmentem essa tese de forma cabal. Ler é prazer. E, uma vez que se prova desse deleite, ele é mais e mais desejado. Basta um pequeno empurrãozinho como o que a universitária ofereceu por meio do convite em seu blog - para que o leitor potencial deslanche e, guiado por sua curiosidade, se aventure pelos caminhos infinitos que, em 3000 anos de criação literária, incontáveis autores foram abrindo para seus pares.

        Várias vezes, no decorrer do último século, previu-se a morte dos livros e do hábito de ler. O avanço do cinema, da televisão, dos videogames, da internet, tudo isso iria tornar a leitura obsoleta. No Brasil da virada do século XX para o XXI o vaticínio até parecia razoável: o sistema de ensino em franco declínio e sua tradição de fracasso na missão de formar leitores, o pouco apreço dado à instrução como valor social fundamental e até dados muito práticos, como a falta e a pobreza de bibliotecas públicas e o alto preço dos exemplares impressos aqui, conspiravam (conspiram, ainda) para que o contingente de brasileiros dados aos livros minguasse de maneira irremediável. Contra todas as expectativas, porém, vem surgindo uma nova e robusta geração de leitores no país movida, sim, por sucessos globais como as séries Harry Porter, Crepúsculo e Percy Jackson. [...]

        Também para os cidadãos mais maduros abriram-se largas portas de entrada à leitura. A autoajuda (e os romances com fortes tintas de autoajuda, como A Cabana) é uma delas; os volumes que às vezes caem nas graças do público, como A Menina que Roubava Livros, ou os autores que tem o dom de fisgar com suas histórias, como o romântico Nicholas Sparks, são outra. E os títulos dedicados a recuperar a história do Brasil, como 1808, 1822 ou Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, são uma terceira, e muito acolhedora, dessas portas. É mais fácil tornar a leitura um hábito, claro, quando ela se inicia na infância. Mas qualquer idade é boa, é favorável, para adquirir esse gosto. Basta sentir aquele comichão do prazer, e da curiosidade – e então fazer um esforço, bem pequeno, para não se acomodar a uma zona de conforto, mas seguir adiante e evoluir na leitura.

 


          [...]

VEJA Especial. São Paulo, ed. 2217, ano 44, n° 20, 18 maio 2011, p. 98-108.

             Fonte: Livro Língua Portuguesa – Trilhas e Tramas – Volume 1 – Leya – São Paulo – 2ª edição – 2016. p. 85-7.

Entendendo a reportagem:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Cético: Que duvida de tudo, descrente.

·        Cobal: Rigorosa; completa, perfeita.

·        Vaticínio: Ato de adivinhar o futuro.

·        Comichão: Desejo irresistível, urgente, premente.

02 – Qual é a ideia central dessa reportagem?

      Os jovens descobrem o prazer de ler por meio da leitura de obras juvenis e de best-sellers.

03 – Segundo a reportagem, o que tem contribuído para a formação de uma nova geração de leitores no país?

      A leitura de obras juvenis ou de best-sellers pelos jovens e a leitura de obras de autoajuda e de romances com elementos capazes de atrair o público adulto.

04 – Muitos especialistas apontam o uso das novas tecnologias como uma ameaça ao hábito da leitura. As informações apresentadas na reportagem negam ou confirmam isso? Explique.

      Negam, relatando que, por meio de um blog, uma universitária organizou encontros para discutir clássicos da literatura.

05 – Para escrever uma reportagem, o repórter faz entrevistas com especialistas ou testemunhas. Quem Bruno Meier entrevistou e o que o(a) entrevistado(a) faz?

      Ele entrevistou a universitária Íris Figueiredo, de 18 anos, que organiza encontros de discussão e leitura de clássicos da literatura.

06 – Leia o verbete:

        Emular [do lat. Aemulare] V. t. d.

1.   Ter emulação com; rivalizar ou competir com; disputar preferência a: Grande ambicioso, não se impõe limites: emula amigos e inimigos.

2.   Pôr-se par a par de; igualar: O jovem poeta procura emular Carlos Drummond de Andrade.

3.   Seguir o exemplo de; imitar. [...]

Dicionário Aurélio Eletrônico – Século XXI.      

a)   Explique o sentido da palavra emuladas em:

“[...] Descobriram, por exemplo, que certas frases do romance foram emuladas em diálogos da série O Diário de Bridget Jones, de Helen Fielding. [...]”

Imitadas, copiadas. Corresponde à acepção 3 do verbete.

b)   O que se pode deduzir dessa afirmação?

Pode-se deduzir que os escritores contemporâneos são influenciados pelos autores clássicos e os imitam.

07 – Releia o trecho a seguir:

        “[...]Quando a saga do bruxinho virou mania entre as crianças e os adolescentes, uma década atrás, vários críticos apressaram-se em decretar que esse seria um fenômeno de resultados nulos. Com o eminente crítico americano Harold Bloom à frente, argumentavam que Harry Porter só formaria mais leitores de Harry Potter os livros da inglesa J.K. Rowling seriam incapazes de conduzir a outras leituras e propiciar a evolução desses iniciantes. [...]”. Segundo a reportagem, isso se confirmou?

      Não. Na reportagem se afirma que, apesar dessas expectativas, está surgindo no Brasil uma grande geração de leitores, motivada “por sucessos globais como as séries Harry Porter, Crepúsculo e Percy Jackson”.

08 – Releia mais este trecho:

        “[...] No Brasil da virada do século XX para o XXI, o vaticínio até parecia razoável: [...]”.

a)   Vaticínio tem o sentido de profecia. A que vaticínio o trecho acima se refere?

À morte dos livros e ao hábito de ler.

b)   O que sustentava a crença nesse vaticínio?

Problemas no sistema de ensino, sua tradição de fracasso na formação de leitores, o pouco valor dado à ilustração formal como valor fundamental, a falta de bibliotecas públicas e o pequeno acervo das existentes e o alto preço dos livros.

09 – Releia:

        “[...]a falta e a pobreza de bibliotecas públicas e o alto preço dos exemplares impressos aqui, conspiravam (conspiram, ainda) para que o contingente de brasileiros dados aos livros minguasse de maneira irremediável. [...]”.

a)   Qual é o sentido das formas verbais conspiravam e conspiram, nesse trecho?

Iam/vão contra o acesso do público aos livros e à leitura.

b)   Qual é o significado do trecho que está entre parênteses?

Acrescenta-se, dessa forma, a informação de que esses problemas ainda persistem.

10 – Explique o sentido de “Um livro puxa outro”, de acordo com o contexto em que foi usado.

      Um livro puxa outro” significa que a leitura de um best-seller destinado ao público jovem, como Harry Potter (de J. K. Rowling), por exemplo, pode levar à leitura de muitos outros clássicos, como Grande sertão: veredas (de Guimarães Rosa) todos os citados no quadro, entre outros.