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quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

CRÔNICA: AMAI O PRÓXIMO, ETC... MARINA COLASANTI - COM GABARITO

 Crônica: Amai o próximo, etc... 

               Marina Colasanti

Atendo o telefone na minha casa. “Victor está?” diz a voz do outro lado sem sequer um alô, um por favor, nada. Eu, amável, informo que Victor não está nem pode estar porque não mora aqui. O outro bate o telefone na minha cara. Dois minutos, e o telefone toca novamente. “Quero falar com Victor” vem a mesma voz. “O senhor é muito mal-educado”, ataco logo para não lhe dar tempo de desligar. “Acabou de ligar, nem me agradeceu, nem me pediu desculpas, e bateu com o telefone. Como já lhe disse, Victor não mora aqui.” A voz se faz mais mansa, “A senhora, desculpe. Muito obrigado.” E desliga.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEguGwyGMXUH_zwlkVpxnQlnhHzjEfN-xVyXMNSdwwW0wwYUECVsWWr4TfCh5Dc8VS4-IpaJys7myF3I6I7qxiUUCQESu0Vo0NGYKR_Gb0G_Hy2ytUu39zo6s2aY41-3ufvP_ZueO3RriTLkjP50K3Iz3PiBDKj4BqVOURqSGUR2SuuTJ20VA5oLPpJJv3w/w212-h227/boas-maneiras.jpg


Exulto. Ponto a favor da educação. Pois, se com medo de infringir-lhe as regras, sempre me abstenho de reprimendas desse tipo, é justamente para mantê-las vivas – as regras, não as reprimendas – que convém fazê-las.

Digo obrigada à caixa do supermercado, que não me responde. Peço por favor ao funcionário do guichê que nem levanta os olhos para a minha pessoa. Dou bom-dia ao sujeito do açougue que parece não entender de que dia ou de que qualidade estou falando. Sou uma otária? Não, sou uma resistente.

Minha amiga Claudine de Castro, socialite das mais elegantes, publicou um livro de etiqueta. Uma graça o livro, bem-humorado,  prático.  Fui  ao  lançamento.  Todos  ali  éramos  veteranos  praticantes  daquilo  que  se  chamava  “boas maneiras”. Um bando de micos-leões-dourados, pensei. Ameaçados de extinção. Uma amiga comum comentou que daria o livro ao sobrinho, ela não precisava. “Os jovens”, acrescentou, “andam muito mal-educados”.

Os jovens? Não  era  jovem o  senhor  bem vestidérrimo que quase  me segurou no  meio  da rua,  interrompendo minha marcha célere, para pedir orientação a respeito de um endereço. Orientação fornecida, o cavalheiro, que certamente não fazia jus à definição, partiu sem dizer água vai. E fiquei eu, no resto da manhã, irritada pela brutalidade.

No Japão, a primeira expressão que me ensinaram quando cheguei foi sumi-masen. Equivale ao nosso por favor. Para ajudar-me a gravar essa chave fundamental em qualquer situação, sugeriram que lembrasse da nossa tão frequente corrupção e dissesse em português: sumiu mais cem. Cravou-se, indelével, na minha memória. E dela lancei mão infinitas vezes, com aquela segurança com que se saca um ás da manga. Nunca conheci povo tão bem-educado. Todos te atendem sorridentes. Todos te ajudam. Ninguém te esbarra. Ninguém te esbarra mesmo em meio à multidão. E multidão é coisa frequente no Japão. Sem grandes antropologismos, podemos deduzir que a viver em tantos em país tão pequeno ou se entredevoravam ou se educavam. Preferiram educar-se.

Entre nós, os livros de etiqueta como o de Claudine vendem feito pão. Ânsia de educar-se para sobreviver? Não, necessidade de aprender as regras para ascender. Os recém-chegados às mesas de muitos talheres – e há sempre levas novas que chegam e mesas novas são postas – querem saber que garfo pegar. Pena que o garfo certo não seja fundamental, ou sequer importante, para a boa educação. Boa educação sendo, por exemplo, aquela que as pessoas da roça, de tão poucos talheres e tão pouca comida no prato, praticam com doçura e naturalidade. Cumprimentar o desconhecido com quem se cruza na trilha, coar café ou oferecer água ao visitante que chega. Dar atenção.

Dar atenção é a essência da boa educação. Só isso. Em vez do humilde “por favor”, deveríamos dizer: peço a sua atenção. Pois não é favor algum atender o semelhante que precisa de nós. E nenhum contato pode ser gentil sem atenção. No entanto, em todas as línguas, quando se quer ser educado é por favor que se pede, ou desculpas, pois está estabelecido que necessitar do outro, tirar o outro do seu rumo por instantes é algo quase inconveniente, pelo qual devemos nos penitenciar. Convenhamos, há um erro de base. Ou, se quisermos ir um pouco mais além no sentido desses mínimos encontros, há uma lamentável regra de desamor.

(In: Manuel da Costa Pinto, org. Crônica brasileira contemporânea. São Paulo: Moderna, 2005. p. 176-9.)

Vocabulário

célere: ligeiro, veloz.

exultar: exprimir grande alegria.

indelével: o que não se pode apagar ou eliminar.

Entendendo o texto

01.A crônica é um gênero que, como afirma o crítico Manuel da Costa Pinto, explora “fatos do dia a dia [...], acontecimentos que propiciam momentos de nostalgia, enternecimento ou indignação”.

a.   Qual é o fato do dia a dia que serve de tema para a crônica lida?

              É a falta de educação das pessoas.

b.   Como a narradora se sente diante do comportamento das pessoas?

              Ela se sente indignada.

02. As reflexões da narradora sobre a atitude das pessoas no dia a dia permitem fazer inferências sobre o que ela considera ideal, em termos de relacionamento social. Deveria ter cumprimentado a pessoa que atendeu, com uma saudação como bom dia ou boa tarde, ou dizer quem era e o que desejava

a.   Como deveria ter agido a pessoa que ligou para a casa da narradora?

Deveria ter cumprimentado a pessoa que atendeu, com uma saudação como bom dia ou boa tarde, ou dizer quem era e o que desejava e ter agradecido pela resposta atenciosa.

b.   Como a narradora esperava que os interlocutores reagissem diante das palavras gentis proferidas por ela no supermercado, no guichê e no açougue?

Esperava que as pessoas respondessem com expressões como de nada, bom dia, etc. e, principalmente, tivessem dado atenção a ela.

03. Uma amiga da narradora afirma: “Os jovens andam muito mal-educados”.

a.   Que exemplo a narradora usa para refutar a opinião da amiga?

              O exemplo de um senhor bem-vestido que pediu a ela uma informação na rua e não agradeceu.

b.   Releia este trecho: “Orientação fornecida, o cavalheiro, que certamente não fazia jus à definição, partiu sem dizer água vai.”

             A afirmação de que o homem partiu “sem dizer água vai” quer dizer, no contexto, que ele saiu de supetão, sem avisar ou agradecer, o que não corresponde ao comportamento de um verdadeiro cavalheiro.

04.  Qual é a atitude inicial da narradora ao atender o telefone?

     A) Desliga imediatamente.

     B) Informa que Victor não está com educação.

     C) Pede desculpas ao interlocutor.

05.  Por que a narradora se sente exultante após o segundo telefonema?

      A) Victor retornou a ligação.

      B) A pessoa agradeceu educadamente.

     C) Ela repreendeu a falta de educação.

06.  Como a narradora define a si mesma ao tratar pessoas sem educação?

     A) Otária.

     B) Educada.

     C) Resistente.

07.  O que a amiga Claudine de Castro publicou sobre etiqueta?

       A) Um livro de receitas.

       B) Um livro de poesias.

       C) Um livro de etiqueta.

08.  Por que a narradora chama as pessoas no lançamento do livro de "micos-leões-dourados"?

      A) Elegância.

     B) Extinção.

     C) Boas maneiras.

09. Segundo a amiga da narradora, quem anda muito mal-educado?

     A) Os jovens.

     B) Os adultos.

     C) Todos.

10.  Qual é a expressão japonesa equivalente ao "por favor"?

     A) Konnichiwa.

    B) Sayonara.

    C) Sumi-masen.

11.  O que a narradora compara a "sumi-masen" em português para ajudá-la a lembrar?

     A) "Sumiu mais cem."

     B) "Comi bastante."

     C) "Sai mais cedo."

12.  Como a narradora descreve o povo japonês em relação à educação?

     A) Educado.

     B) Agressivo.

    C) Desinteressado.

13.  Qual é a essência da boa educação, segundo a narradora?

      A) Cumprimentar formalmente.

     B) Usar talheres corretamente.

     C) Dar atenção ao semelhante.

 

quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

CONTO: ERA DIA DE CAÇADA - MARINA COLASANTI - COM GABARITO

 CONTO: ERA DIA DE CAÇADA

               Marina Colasanti

O príncipe acordou contente. Era dia de caçada. Os cachorros latiam no pátio do castelo. Vestiu o colete de couro, calçou as botas. Os cavalos batiam os cascos debaixo da janela. Apanhou as luvas e desceu.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJE1ipAs7Cw4Qp50IeBl32WynepqKSQw7orXiWUA0aMjmlwT-P2F4i47k08CBb4tXOsOyMb4qNWg9oRJvETFxT01EaLU7kE61hjw6rmRK4f23xdEkoNvfJzLwpM0f5HKsr8brkfeMW-TZtFfSckQfwcRMAbZtrbTO2TII1JHftB_5dDX1Ja4s6wVQc9AA/s1600/PRINCIPE.jpg


      Lá embaixo parecia uma festa. Os arreios e os pelos dos animais brilhavam ao sol. Brilhavam os dentes abertos em risadas, as armas, as trompas que deram o sinal de partida.

       Na floresta também ouviram a trompa e o alarido. Todos souberam que eles vinham. E cada um se escondeu como pôde.

     Só a moça não se escondeu. Acordou com o som da tropa, e estava debruçada no regato quando os caçadores chegaram.

      Foi assim que o príncipe a viu. Metade mulher, metade corça, bebendo no regato. A mulher tão linda. A corça tão ágil. A mulher ele queria amar, a corça ele queria matar. Se chegasse perto será que ela fugia? Mexeu num galho, ela levantou a cabeça ouvindo. Então o príncipe botou a flecha no arco, retesou a corda, atirou bem na pata direita. E quando a corça-mulher dobrou os joelhos tentando arrancar a flecha, ele correu e a segurou, chamando homens e cães.

      Levaram a corça para o castelo. Veio o médico, trataram do ferimento. Puseram a corça num quarto de porta trancada.

     Todos os dias o príncipe ia visitá-la. Só ele tinha a chave. E cada vez se apaixonava mais. Mas a corça-mulher só falava a língua da floresta e o príncipe só sabia ouvir a língua do palácio.

     Então ficavam horas se olhando calados, com tanta coisa para dizer.

     Ele queria dizer que a amava tanto, que queria casar com ela e tê-la para sempre no castelo, que a cobriria de roupas e joias, que chamaria o melhor feiticeiro do reino para fazê-la virar toda mulher.

      Ela queria dizer que o amava tanto, que queria casar com ele e levá-lo para a floresta, que lhe ensinaria a gostar dos pássaros e das flores e que pediria à     Rainha das corças para dar-lhe quatro patas ágeis e um belo pelo castanho.

     Mas o príncipe tinha a chave da porta. E ela não tinha o segredo da palavra.

     Todos os dias se encontravam. Agora se seguravam as mãos. E no dia em que a primeira lágrima rolou dos olhos dela, o príncipe pensou ter entendido e mandou chamar o feiticeiro.

     Quando a corça acordou, já não era mais corça. Duas pernas só e compridas, um corpo branco. Tentou levantar, não conseguiu. O príncipe lhe deu a mão. Vieram as costureiras e a cobriram de roupas. Vieram os joalheiros e a cobriram de joias. Vieram os mestres de dança para ensinar-lhe a andar. Só não tinha a palavra. E o desejo de ser mulher.

     Sete dias ela levou para aprender sete passos. E na manhã do oitavo dia, quando acordou e viu a porta aberta, juntou sete passos e mais sete, atravessou o corredor, desceu a escada, cruzou o pátio e correu para a floresta à procura da sua Rainha.

     O sol ainda brilhava quando a corça saiu da floresta, só corça, não mais mulher. E se pôs a pastar sob as janelas do palácio.

COLASANTI, Marina. Uma ideia toda azul.São Paulo: Global, 1999. p. 35-40.

Entendendo o texto

01. No desfecho do conto, a protagonista procura sua Rainha com o objetivo de:

a.   atender ao desejo do príncipe.

b.   tornar-se mulher-corça novamente.

c.   transformar o príncipe em homem-corça.

d.   não mais ser encontrada pelo príncipe.

02. O trecho “Foi assim que o príncipe a viu” evidencia a linguagem que se estabelece ao longo do conto, marcada por:

a.   oralidade.

b.   formalidade.

c.   informalidade.

d.   regionalidade.

03. Esse conto tem a finalidade de:

a.   apresentar ensinamentos sobre a essência humana.

b.   estabelecer uma crítica.

c.   relatar fatos do cotidiano.

d.   expor o ponto de vista do autor.

04. O conflito que desencadeia o enredo é:

a.   o príncipe querer transformar a corça-mulher em mulher.

b.   a corça-mulher queres transformar o príncipe em corça.

c.   o príncipe se apaixonar pela mulher, mas querer matar a corça.

d.   a corça-mulher ter se apaixonado pelo príncipe.

05. A conjunção destacada no trecho “Se chegasse perto, será que ela fugiria?” estabelece o valor semântico de:

a.   conformidade.

b.   causa.

c.   condição.

d.   consequência.

    06.  O que motivou o príncipe a sair para caçar no início do conto "Era Dia de Caçada"?

         a. A chegada de visitantes importantes no castelo.
         b. O anúncio de uma festa no reino.
         c. O desejo de encontrar a corça-mulher.
         d. A necessidade de exercitar os cachorros e cavalos.

   07. Como o príncipe descobriu a existência da corça-mulher na floresta?

         a. Pelos latidos dos cachorros.
         b. Pelo som das armas dos caçadores.
        c. Pelo som da trompa que deu o sinal de partida.
        d. Pela indicação do médico do castelo.

     08. O que o príncipe sentia pela corça-mulher à medida que a visitava todos os dias?

         a. Ódio e desprezo.
         b. Indiferença e tédio.
         c. Amor e paixão crescentes.
         d. Desconfiança e medo.

   09. O que impedia a comunicação efetiva entre o príncipe e a corça-mulher?

       a. A falta de interesse do príncipe em aprender a língua da floresta.
       b. A corça-mulher só falava a língua do palácio.
       c. A corça-mulher não tinha a palavra.
       d. O príncipe não tinha a chave da porta.

 10. Como a transformação da corça-mulher de volta à sua forma original foi realizada?

      a. Por meio de um encantamento da Rainha das corças.
      b. Com a ajuda das costureiras do castelo.
      c. Através de sete passos ensinados pelos mestres de dança.
      d. Pela intervenção do feiticeiro chamado pelo príncipe.

 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

CONTO FANTÁSTICO: A MOÇA TECELÃ (FRAGMENTO) - MARINA COLASANTI - COM GABARITO

 Conto fantástico: A MOÇA TECELÃ (Fragmento)

           Marina Colasanti

        Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo se sentava-se ao tear.

        [...]

        Nada lhe faltava. Na hora da fome, tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranquila.

        Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer. Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou como seria bom ter um marido ao seu lado.

        Não esperou o dia seguinte. Com o capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. [...]

        [...]

        Aquela noite, deitada contra o ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.

        E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque, descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.

        -- Uma casa melhor é necessária, – disse para a mulher. [...].

        Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente. – Para que ter casa, se podemos ter palácio? – [...].

        [...]

        Afinal o palácio ficou pronto. [...]

        Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia.

        Tecer era tudo o que queria fazer.

        [...] E pela primeira vez, pensou como seria bom estar sozinha de novo.

        [...] Segurou a lançadeira ao contrário, e, jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer o seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins.

        Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.

        A noite acabava quando o marido, estranhando a cama dura, acordou e, espantado, olhou em volta. [...].

        Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.

Marina Colasanti. A moça tecelã. In: ___. Doze reis e a moça no labirinto do vento. São Paulo: Global, 2006.

Fonte: Língua Portuguesa – Ensino Fundamental anos finais – 7° ano – Caderno 4 – 1ª edição – 1ª impressão – ABDR – 2019 – São Paulo. p. 99-103.

Entendendo o conto:

01 – Agora, vamos verificar como foram trabalhados os elementos da narrativa no conto “A moça tecelã”.

a)   Por qual tipo de narrador esse conto é narrado? Comprove sua resposta com um trecho do texto.

O conto é narrado por um narrador-observador. “Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara”.

b)   Informe quem é o protagonista da narrativa e quem é o antagonista.

A protagonista é a moça, e o antagonista é o marido.

c)   No conto “A moça tecelã”, protagonista e antagonista não têm nomes próprios; eles são identificados por suas características. De acordo com a leitura que você fez do texto, descreva-os com suas palavras.

A moça tinha hábitos simples e precisava de pouco para viver bem; o homem era elegante e tinha o rosto barbado, além de ser dominador e ganancioso.

d)   Em relação ao tempo da narrativa, responda às perguntas:

·        É possível precisar a época em que a história ocorreu? Justifique sua resposta.

Não é possível precisar a época em que a história ocorreu, pois não há nenhum elemento que faça referência a isso.

·        Quanto à duração da história, é possível saber quanto tempo se passou desde o início dos acontecimentos até o fim? Justifique sua resposta.

Não é possível saber, apenas supor que tenha se passado o tempo suficiente para que a moça pudesse tecer o marido e alguns de seus desejos, como o palácio, cansar-se da solidão em que novamente estava vivendo e desfazer todo o trabalho.

e)   Em uma narrativa, é comum o uso de algumas expressões que marcam a passagem do tempo e a sucessão dos acontecimentos, tais como: logo, depois, em breve, durante muito dias, assim. Volte ao texto, localize e sublinhe algumas dessas expressões.

Resposta pessoal do aluno.

f)     Nos contos fantásticos, embora o espaço em que se passa a história seja, geralmente, surreal, fantástico, ele representa um ambiente real. Esse aspecto colabora com a intencionalidade presente no texto: falar de coisas reais a partir do simbólico, do figurado. Explique de que modo essa oposição entre o real e o fantástico se estabelece na história “A moça tecelã” por meio do espaço.

A casa pequena, onde a história começa, transforma-se em uma casa melhor; depois, em um palácio e, novamente, na casa pequena, onde a história termina.

g)   Identifique as partes do enredo que compõem a narrativa do conto “A moça tecelã”.

·        Situação inicialA moça vivia seus dias tecendo as cores do dia e o pouco que precisava para viver.

·        Complicação ou desenvolvimentoSentindo-se sozinha, a moça tece um marido para lhe fazer companhia, mas este, ao saber do poder do tear, pensava apenas nas coisas todas que ele poderia lhe dar.

·        ClímaxA moça, que sem descanso tecia os caprichos do marido, pensou como seria bom estar sozinha de novo. Assim, decidiu desfazer seu tecido, destecendo o marido, o palácio e todas suas maravilhas.

·        Desfecho A moça, novamente, vê-se em sua pequena casa, tecendo a manhã no horizonte.

02 – O conto inicia descrevendo a protagonista (personagem principal) em sua ação de tear. Os elementos que ela tecia no começo da história mostram que:

(  ) O que ela tecia a tornava uma moça rica e bem dotada.

(  ) O que ela tecia deixava sua casa mais bonita e aconchegante.

(X) O que ela tecia eram elementos da natureza e aqueles essenciais a sua sobrevivência apenas.

03 – “E feliz foi, durante algum tempo”. Por que a felicidade da moça foi momentânea?

      Porque tecer era tudo o que ela queria e tecia os caprichos do marido até ela se dar conta de que estava triste, pois percebeu que os desejos do marido não correspondiam aos seus, além de se perceber “presa” a esses caprichos, o que lhe ocasionou uma tristeza “maior que o palácio com todos os seus tesouros”.

04 – Nos contos fantásticos, uma das características principais é a presença de elementos mágicos, que fogem aos da vida real. Nesse conto de Marina Colasanti, quais são os elementos mágicos que podem caracterizá-lo como um conto fantástico?

      O elemento mágico do conto é o teor da moça, por meio do qual ela tecia seus dias; o alimento, quando sentia fome; um marido, quando se sentiu sozinha, e todos os caprichos dele, até desmanchá-los e voltar a viver sozinha.

05 – O conto “A moça tecelã” pode ser considerado um conto de fadas moderno. Sendo assim, que contraponto podemos fazer em relação ao desfecho (a parte final da narrativa) desse conto e os contos de fadas tradicionais?

      Nos contos de fadas tradicionais, o final feliz acontece quando a protagonista se casa com o príncipe que a salvou do antagonista. No conto lido, a protagonista encontra a felicidade quando volta a viver sozinha, pois seu “príncipe” era, ao mesmo tempo, o antagonista, que a prejudicava.

 

sábado, 25 de junho de 2022

CONTO: A HONRA PASSADA A LIMPO - MARINA COLASANTI - COM GABARITO

 CONTO: A HONRA PASSADA A LIMPO

               Marina Colasanti

       Sou compulsiva, eu sei. Limpeza e arrumação. 

    Todos os dias boto a mesa, tiro a mesa. Café, almoço, jantar. E pilhas de louças na pia, e espumas redentoras.

      Todos os dias entro nos quartos, desfaço camas, desarrumo berços, lençóis ao alto como velas. Para tudo arrumar depois, alisando colchas de crochê.

       Sou caprichosa, eu sei. Desce o pó sobre os móveis. Que eu colho na flanela.

       Escurecem-se as pratas. Que eu esfrego com a camurça. A aranha tece. Que eu enxoto.

       A traça rói. Que eu esmago. O cupim voa. Que eu afogo na água da tigela sob a luz.

      E de vassoura em punho gasto tapetes persas.

     Sou perseverante, eu sei. A mesa que ponho ninguém senta. Nas camas que arrumo ninguém dorme. Não há ninguém nesta casa, vazia há tanto tempo.

      Mas sem tarefas domésticas, como preencher de feminina honradez a minha vida?

COLASANTI, Marina. Contos de amor rasgados. Rio de Janeiro: Rocco, 1986

Entendendo o texto

01.Essa história é contada por um narrador que

     a) é personagem principal.

     b) é personagem secundária.

     c) interage com os leitores.

     d) observa os fatos narrados.

02. A autora fala de ações que se repetem, na mesmice de cada um de seus dias. Para traduzir essa ideia de repetição, vale-se de alguns recursos expressivos, relativos à forma.

Aponte dois desses recursos.

Assíndeto-representa a omissão de conectivos – Exemplos: Café, almoço, jantar.

 Anacoluto- é a mudança repentina na estrutura da frase. Exemplos:     

Sou compulsiva, eu sei.

Sou caprichosa, eu sei.

03.  “Mas, sem tarefas domésticas, como preencher de feminina honradez a minha vida?” A pergunta acima transcrita, que finaliza o texto, traduz a solidão da personagem e a tentativa de sua sublimação através do mecanicismo da prática de “tarefas domésticas”, muitas vezes desnecessárias, quando não ilógicas, absurdas. Comente, com base em elementos do texto, essa afirmação.

A personagem fala que coloca a mesa que ninguém senta; arruma cama que ninguém dorme e que é uma casa vazia há tanto tempo. Ficando claro que ela tenta preencher um vazio que tem dentro dela.

04. No terceiro parágrafo, a construção do período se faz, no início, com o emprego sucessivo de orações que se vinculam sem a presença de elementos conectores.

a) Como se classificam tais orações e que figura de linguagem é assim constituída?

Assíndeto-representa a omissão de conectivos

b) Que efeito expressivo é obtido com a utilização desse recurso?

Torna o texto mais ágil e podendo, até mesmo, passar a sensação de elementos mais aglomerados.

05. “Não há ninguém nesta casa, vazia há tanto tempo.” Na passagem acima, o verbo haver é empregado com dois significados distintos. Do ponto de vista sintático, há, porém, aspecto que os identifica. Que aspecto é esse? Justifique sua resposta.

Verbo haver no sentido de ter e verbo haver no sentido de tempo.

 

sexta-feira, 17 de junho de 2022

POEMA: ÀS SEIS DA TARDE - MARINA COLASANTI - COM GABARITO

Poema: Às seis da tarde

            Marina Colasanti

Ás seis da tarde
as mulheres choravam
no banheiro.
Não choravam por isso
ou por aquilo
choravam porque o pranto subia
garganta acima
mesmo se os filhos cresciam
com boa saúde
se havia comida no fogo
e se o marido lhes dava
do bom
e do melhor
choravam porque no céu
além do basculante
o dia se punha
porque uma ânsia
uma dor
uma gastura
era só o que sobrava
dos seus sonhos.
Agora
às seis da tarde
as mulheres regressam do trabalho
o dia se põe
os filhos crescem
o fogo espera
e elas não podem
não querem
chorar na condução.

COLASANTI, Marina. Gargantas abertas. Disponível em: http://zezepina.utopia.com.br/poesia/poesiaa136.htm. Acesso em: 222 jul. 2009.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 36-7.

Entendendo o poema:

01 – Qual o desejo que mobilizava as mulheres a chorar, segundo indica a primeira parte do poema?

      As mulheres choravam, segundo o texto, não por alguma razão objetiva, mas por algo subjetivo, algo que nem sempre conseguiam precisar, um desejo de alimentar sonhos e realizá-los além das fronteiras do lar.

02 – Localize, no texto, elementos capazes de opor o “antes” e o “agora” das mulheres.

      Antes, as mulheres ficavam restritas ao ambiente e à vida doméstica, choravam escondidas no banheiro, sem ter consciência das razões que as levavam a fazê-lo. Agora, as mulheres regressam do trabalho e continuam tristes, mas já não choram, embora sintam vontade de fazê-lo.

03 – Interprete, a partir do contexto do poema, o sentido da expressão “o fogo a espera”.

      No contexto, a expressão significa que o fogão espera as mulheres, ou seja, trata-se de uma metáfora das tarefas domésticas que continuam, na maioria dos lares, reservadas exclusivamente às mulheres, ainda que elas trabalhem fora de casa.

04 – A partir de sua resposta à questão anterior, reflita: segundo o texto, a situação das mulheres se transformou de forma expressiva? O que teria de ser feito para modificar essa situação?

      Segundo o texto, não houve alteração expressiva na vida das mulheres. Elas continuam trabalhando em casa, além de agora trabalharem também fora, o que as frustra, pois se sentem sobrecarregadas e sem tempo para seu sonhos e desejos. Segunda parte da questão, resposta pessoal do aluno.