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sábado, 12 de fevereiro de 2022

CONTO: MARIA VAI COM AS OUTRAS - SLVIA ORTHOF - COM GABARITO

 Conto: Maria vai com as outras

              Sylvia Orthof


Era uma vez uma ovelha chamada Maria.

Onde as outras ovelhas iam, Maria ia também.

As ovelhas iam pra baixo. Maria ia pra baixo.

As ovelhas iam pra cima. Maria ia pra cima.

Maria ia sempre com as outras.

 

Um dia, todas as ovelhas foram para o polo sul. Maria foi também.

Ai, que lugar frio!

As ovelhas pegaram uma gripe!!!

Maria pegou gripe também. Atchim!

Maria ia sempre com as outras

 

Depois todas as ovelhas foram para o deserto. Maria foi também.

Ai, que lugar quente!

As ovelhas tiveram insolação.

Maria teve insolação também. uf! puf!

Maria ia sempre com as outras.

 

Um dia, todas as ovelhas resolveram comer salada de jiló.

Maria detestava jiló. Mas, como todas as ovelhas comiam jiló, Maria comia também. Que horror!

Foi quando, de repente, Maria pensou:

“Se eu não gosto de jiló, por que é que tenho que comer salada de jiló?”

Maria pensou, suspirou, mas continuou fazendo o que as outras faziam.

 

Até que as ovelhas resolveram pular do alto do corcovado pra dentro da lagoa.

Todas as ovelhas pularam.

Pulava uma ovelha, não caia na lagoa, caia na pedra, quebrava o pé e chorava: Mé!

Pulava outra ovelha, não caia na lagoa, caia na pedra, quebrava o pé e gritava: Mé!

E assim quarenta e duas ovelhas pularam, quebraram o pé, chorando:  mé! mé! mé!

 

Chegou a vez de Maria pular.

Ela deu uma requebrada, entrou num restaurante e comeu uma feijoada.

Agora, mé, Maria vai para onde caminha o seu pé!

                              ORTHOF, Sylvia. Maria-vai-com-as-outras. 20. Ed. São Paulo: Ática, 1999. C by herdeiros de Sylvia Orthof.

                 Fonte: Língua Portuguesa – Coleção Mais Cores – 2° ano – 1ª ed. Curitiba 2012 – Ed. Positivo p. 119-123.

Entendendo o conto:

01 – Quais são os lugares por onde Maria passou?

      Polo Sul, deserto, Alto do Corcovado, restaurante.

02 – O que aconteceu com as ovelhas quando foram para o Polo Sul e para o deserto? Por quê?

·        Polo Sul: Ficaram todas gripadas, porque era muito frio.

·        Deserto: Elas tiveram insolação, porque era muito quente.

03 – Registre o pensamento de Maria quando comeu salada de jiló. Que sinal foi utilizado no texto para expressar o pensamento de Maria?

      Que horror!

04 – Todas as ovelhas pularam do Corcovado para dentro da lagoa, menos a Maria. Por quê?

      Porque ela preferiu entrar num restaurante e comer uma feijoada.

05 – De acordo com o texto, o que a ovelha que ia sempre com as outras aprendeu?

      Que ela vai para onde caminha seus pés.

06 – Se você conhecesse uma pessoa como Maria, o que poderia dizer a ela?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Seja você mesma.

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

LIVRO(FRAGMENTO): SE A MEMÓRIA NÃO ME FALHA - SYLVIA ORTHOF - COM GABARITO

 Livro: Se a memória não me falha (fragmento)

         Sylvia Orthof

        [...]

        Dona Sylvia não adoecia. Tinha a mania odiosa de, no meio da aula, de repente, me descobrir, sumida, lá na última carteira... e dizer, com voz meio cantada:

        -- Minha xará... ao quadro! (Eu sentava na última carteira, na aula de matemática.)

        Lá ia eu, tremendo. E começava o desespero: se um trem a tantos quilômetros vai de A a B, e outro, com a velocidade de xyz, trafega de B a A, em qual ponto da reta eles se encontrarão?

        [...].

Sylvia Orthof. Se a memória não me falha. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987. p. 53.

Fonte: Língua Portuguesa – Português – Apoema – Editora do Brasil – São Paulo, 2018. 1ª edição – 6° ano. p. 30.

Entendendo o livro:

01 – Para dar mais vivacidade à narrativa, a narradora transcreve a fala direto da professora. Explique como isso é feito.

      A narradora usa travessões para indicar que a professora fala diretamente: “-- Minha xará... ao quadro!”.

02 – Que sinal de pontuação foi usado na fala da professora? O que essa pontuação indica?

      Foi usado o ponto de exclamação. Indica que a professora deu uma ordem à aluna.

03 – A aula era de que matéria?

      De Matemática.

04 – Que sinal de pontuação foi usado na pergunta feita pela professora?

      Ponto de interrogação.

05 – Imagine que você é a aluna Sylvia e foi chamada pela professora à lousa para resolver um problema. Elabore frases para dizer à professora:

a)   Que você não sabe a resposta do problema.

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: -- Dona Sylvia, não sei resolver o problema.

b)   Que você sabe a resposta na ponta da língua e está contente por isso.

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: -- Dona Sylvia, eu já sei a resposta!

c)   Que você tem uma dúvida naquele problema. Formule uma pergunta sobre sua dúvida.

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: -- Dona Sylvia, qual era mesmo a velocidade do segundo trem?

 

 

domingo, 9 de fevereiro de 2020

CONTO: O BISAVÔ E A DENTADURA - SYLVIA ORTHOF - COM GABARITO

Conto: O bisavô e a dentadura
             Sylvia Orthof 

        Eu ouvi esta história de uma amiga, que disse que isso aconteceu, de verdade, em Montes Claros, Minas Gerais.
        Para contar a história, é preciso imaginar uma velha fazenda antiga. Dentro da fazenda, uma vetusta (socorro, que palavrão!) mesa colonial, muito comprida, de jacarandá, naturalmente. Em volta da mesa, tudo que mineiro tem direito para um bom almoço: tutu, carne de porco, linguiça, feijão-tropeiro, torresminho, couve cortada bem fina... e nem posso descrever mais, porque já estou com excesso de peso, só de pensar: hum, que delícia!
        A família era enorme e comia reunida, em volta da toalha bordada: pai, mãe, avó, avô, filhos, netos, sobrinhos, afilhados, a comadre que ficou viúva, a solteirona que era irmã da vó da Mariquinha... e o bisavô Arquimedes. O bisavô Arquimedes usava dentadura.
        Naturalmente, cada integrante tinha a sua frente o seu saboroso prato de tutu, couve, torresmo, feijão-tropeiro, carninha de porco, linguiça, etc. e tal. E todos mastigavam e repetiam porque a fartura, ali, em Montes Claros, naquele tempo, era um espanto, de tanta! E cada um, evidentemente, tinha o seu copo. Pois os copos e o bisavô Arquimedes, diariamente, sofriam a seguinte brincadeira:
        -- Toninho, ocê vai beber desse copo ai, na sua frente? Olha que o bisavô deixou a dentadura dele de molho, bem no seu copo, Toninho, na noite passada!
        -- Num foi no meu, não: foi no copo da Maroca! O bisavô deixou a dentadura dentro do copo da Maroquinha!
        -- Ó gente, num brinca assim que eu fico cum nojo, uai!
        O velho bisavô Arquimedes ouvia, sorria, mostrando a dentadura.
        Quando chegava o doce de leite, o queijinho, a goiabada e uma tal de sobremesa que tem o nome de "mineiro de botas", que tem queijo derretido, banana, canela, cravo, sei lá mais que gostosuras, o pessoal comia, comia. E depois de comer tanto doce, a sede vinha forte, e a chateação começava, ou recomeçava, ou não terminava.
        -- Tia Santinha, não beba do copo da dentadura do bisavô, cuidado! Tenho certeza de que a dentadura ficou no seu copo, de molho, a noite inteira!
        O bisavô ouvia e ia mastigando, o olhinho malicioso, nem te ligo para a brincadeira, comendo a goiabadinha, o "mineiro de botas", o doce de leite, o queijinho... e mexendo a dentadura pra lá e pra cá, pois a gengiva era velha e a dentadura já estava sem apoio, Mas o bisavô tinha senso de humor... e falava pouco. O pessoal cochichava que ele era mais surdo do que uma porta. Bestagem, porque se existe coisa que não é surda, é porta: mesmo fechada, deixa passar cada coisa...
        Um dia, de repente, o bisavô apareceu sem a dentadura. E como todos perguntaram para ele o que tinha havido, o velho Arquimedes sorriu, um sorriso banguela dizendo:
        -- Ôces tavam pertubando demais, todos com nojo dela, resolvi não usar, uai!
        Aí, a família ficou sem jeito, jurando que não iria falar mais da dentadura, que tudo fora brincadeira, que todos adoravam o velho Arquimedes, que ele desculpasse.
        -- Tá desculpado, num tem importância. Eu já tava me aborrecendo com a história, mas tão desculpados. Mas até que tô achando bom ficar banguela: vou comer tutu e sopa... e doce de leite mole, ora!
        A família insistiu, pediu perdão, mas o bisavô botou fim à conversa, dizendo:
        -- Ocês num insista. Resolvi e tá resolvido. O dia que eu deixar de resolver, boto a dentadura outra vez!
        E passaram-se vários dias. Ninguém mais fazia a brincadeira do copo. De vez em quando, o bisavô lembrava:
        -- Tô sentindo falta...
        -- Da dentadura, bisavô?
        -- Não, da traquinagem de ocês... ninguém tá com nojo de beber água no copo, né?
        -- Ora, o senhor não deve levar a mal, foi molecagem, a gente não faz mais, pode usar a dentadura, bisavô.
        Um dia, de repente, o bisavô voltou a usar a dentadura. Todos na mesa se cutucaram e começaram a rir, muito disfarçado, quando bebiam água, pensando... sem dizer, pois haviam prometido.
        Depois da sobremesa, boca pedindo água depois de tanto doce caseiro, o velho Arquimedes disse:
        -- Ôces tão bebendo tanta água, sem nojo...
        -- Bisavô, era brincadeira!
        -- Eu também fiz uma brincadeira: durante todo esse tempo que fiquei banguela, minha dentadura ficou de molho, dentro do FILTRO!

                               ORTHOF, Sylvia et al. Quem conta um conto? São Paulo, FTD, 2001, v. 2 p. 53-58. (Coleção Literatura em minha casa).
Fonte: Projeto Teláris – Português – 6° ano – Editora Ática – p. 21-4.
Entendendo o conto:

01 – Nos parágrafos iniciais do conto ficamos conhecendo a família em torno da qual os fatos vão acontecer. Como essa família é apresentada?
      É uma família grande: pai, mãe, avô, avó, netos, sobrinhos, bisavô, afilhados, comadre, que sempre faz as refeições reunida.

02 – Qual era a chateação que as pessoas da família faziam com o bisavô? Como ele reagia?
      Os familiares faziam uma brincadeira com a dentadura do bisavô, perguntando um ao outro em qual dos copos da mesa, que eram usados para beber água, ele tinha deixado sua dentadura de molho durante a noite. O bisavô ouvia, sorria e parecia não se importar.

03 – Complete no caderno a frase a seguir com as palavras e expressões adequadas ao comportamento de cada um.
        Ouvia – cochichava – falava pouco – falava muito – brincava – sorria.
        Quando estava em volta da mesa, a família cochichava, falava muito e brincava, enquanto o bisavô ouvia, falava pouco e sorria.

04 – Por causa das brincadeiras, o bisavô decidiu não usar mais a dentadura. Que sentimento a atitude do bisavô provocou na família? Transcreva do texto uma frase que comprove sua resposta.
      Sentimento de culpa. “A família ficou sem jeito” / “Insistiu, pediu perdão” / “Ninguém mais fazia a brincadeira do copo”.

05 – Releia: “Um dia, de repente, o bisavô voltou a usar a dentadura”. Responda:
a)   Qual foi o comportamento da família?
Todos se cutucaram e começaram a rir, disfarçados, sem dizer nada.

b)   Qual foi a provocação do bisavô logo em seguida?
Ele disse que também tinha feito uma brincadeira: Contou que a dentadura havia ficado de molho dentro do filtro.

06 – Explique o que torna esse conto divertido.
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O humor está no fato de, ao fazer a brincadeira, o bisavô surpreender a todos, dando a entender que, depois de tanta chateação pela qual tinha passado, ele finalmente “se vingara” de forma criativa, já que todos teriam tomado a água do filtro em que teria ficado mergulhado a dentadura.

07 – No conto, a família fazia uma brincadeira com o bisavô Arquimedes. A atitude da família desrespeitou o bisavô? Conversem e justifiquem suas opiniões.
      Resposta pessoal do aluno.

08 – E como são tratados, no dia-a-dia, os idosos com os quais você convive?
      Resposta pessoal do aluno.

09 – No conto: “O bisavô e a dentadura”, há diferentes palavras utilizadas como sinônimas de brincadeira. Entretanto, leia o que o dicionário traz sobre cada uma dessas palavras:
Brincadeira: Passatempo, entretenimento, divertimento...
Chateação: Ação ou efeito de chatear.
Chatear: Aborrecer, irritar, amolar...
Molecagem: Ação de moleque, molecada...
Traquinagem: Traquinice, traquinada.

Em sua opinião, qual das palavras é mais apropriada para o que a família fazia com o bisavô? Por quê? justifique sua resposta.
      Resposta pessoal do aluno.

10 – Releia a frase: “... a fartura, ali, em Montes Claros, naquele tempo, era um espanto...”. A palavra espanto pode significar: algo assustador; algo surpreendente; admiração, medo. Com qual significado a palavra foi utilizada nessa frase?
      Admiração e surpresa.

11 – Releia: “O pessoal cochichava que ele era mais surdo do que uma porta. Bestagem, porque se existe coisa que não é surda, é porta: mesmo fechada, deixa passar cada coisa...”. Nesse trecho, há dois usos da linguagem popular: bestagem e mais surdo que uma porta. Responda:

a)   Que palavra poderia substituir bestagem?
Possibilidades: besteira, bobagem, asneira.

b)   Como você explica a afirmação do narrador de que a porta não é surda?
Resposta pessoal do aluno.


quarta-feira, 4 de setembro de 2019

POEMA: SANTO DO DIA - SYLVIA ORTHOF - COM GABARITO

Poema: Santo do dia
     
              Sylvia Orthof

Dia de São João,
fogueira e clarão.

Dia de São Pedro
barquinho no mar.

Mas tadinho de São Nunca,
seu dia custa a chegar:
não foi ontem, não é hoje,
amanhã... Nunca será?

(A poesia é uma pulga. São Paulo: Atual, 1991, p.5 by herdeiros de Sylvia Orthof).
Fonte: Livro: Português Linguagens – 6º ano – São Paulo: Atual, 2009. p.134/135.

Entendendo o poema

1)   Na primeira estrofe do poema, foi empregada a palavra clarão. Veja seu significado no dicionário e responda:
a)   No contexto do poema, essa palavra significa “clarão grande” ou “claridade intensa”?
Claridade intensa.

b)   Nesse caso, ela é adjetivo ou substantivo?
Substantivo.

c)   De onde surge o clarão no dia de São João?
Da luz da fogueira e do estouro de fogos de artifício.

2)   Na segunda estrofe:
a)   Que palavras apresenta uma partícula que significa “pequeno”?
A palavra barquinho.

b)   Por que tem barquinho no mar no dia de São Pedro?
Porque, segundo a tradição, São Pedro é o protetor dos pescadores.

3)   Na terceira estrofe, o eu lírico refere-se ao dia de São Nunca.
a)   Por que esse dia custa a chegar?
Porque São Nunca não é santo, é apenas uma expressão para indicar uma data impossível.

b)   Que adjetivo o eu lírico emprega para caracterizar São Nunca? Nesse caso, o diminutivo indica algo pequeno ou dá ideia de afeto, ternura?
O adjetivo é tadinho (coitadinho). O diminutivo dá ideia de afeto, ternura.


sexta-feira, 30 de novembro de 2018

POEMA: CORDEL ADOLESCENTE, Ó XENTE! SYLVIA ORTHOF - COM GABARITO

POEMA: CORDEL ADOLESCENTE, Ó XENTE!
                 SYLVIA ORTHOF



Cordel adolescente ó xente!
 Sou mocinha nordestina,
 meu nome é Doralice,
 tenho treze anos de idade,
 conto e reconto o que disse,
 pois me chamo Doralice,
 sou quem vende meu cordel
 nas feiras lindas do longe
 onde a poesia esconde
 nas sombras do meu chapéu!

 Eu falo tudo rimado
 no adoçado da palavra
 do Nordeste feiticeiro,
  no meu jeito brasileiro,
 aqui vim dizer e digo
 que escrevo muito livro
 que penduro num cordel,
 todo fato acontecido eu
coloco no papel!

 Vim pra feira, noutro dia,
 armei a minha poesia
 num cordel de horizonte.
 Quem passasse no defronte
 daquilo que eu vendia,
 parava e me escutava,
 pois sou mocinha falante,
 declamava o que escrevia!

 Contei de uma garota
 que me amava um cangaceiro,
 era um tal cabra da peste
 uma valentão do Nordeste
 que montava a ventania,
 trazia susto e coragem
 por cada canto que ia!
 Virge Maria!

 O nome da tal mocinha?
 não digo... é um segredo,
 escrevo o que não devo,
 invento, pois tenho medo
 de contar que a tal menina
 era... toda fantasia!

 Era moça que esconde
 a tristeza na alegria,
morava no perto-longe
 daquilo que nunca digo,
 o seu nome era antigo,
 era... talvez... Bertulina...

 Quem sabe da tal menina?
 Um dia de azul e noite,
 pernoite de cavalgada,
 na sombra, muito assustada,
Bertulina viu o moço que,
 ao longe, galopava.

 Ai, xente!
 Um luar se balançava
 num cordel adolescente!
 O vento corria tanto,
espanto: não alcançava
 a ligeireza perfeita
 que o galope desenhava!

 Era um cabra cangaceiro,
 curtido e sertanejo,
 tinha olhos de lonjuras,
 verduras de olhar miragens,
 chapéu de couro,
facão de abrir caminhos, viagens!

 Tinha estrelas faiscantes
 nos dentes do seu sorriso...
 Ai... Me calo... quase falo!...
 Ó xente... que perco o siso!

 Nos cascos do seu cavalo
 tinha trovão e faísca,
 tinha fogo, tinha brasa,
 fósforo que queima
e risca o escuro e ilumina
 a paixão em Bertulina!

 O moço chegou chegando,
 sorriu sua belezura,
 saltou fora do cavalo
(vontade ninguém segura),
 roubou o beijo da boca
 de Bertulina, a donzela.
 Depois de assaltar o beijo,
 perguntou o nome dela.
 — Eu me chamo Bertulina,
 moço, estou muito assustada,
 sou tão moça, inda menina
, nunca antes fui beijada...

 O senhor me assaltou,
não deu tempo pra mais nada...
 Eu não sei o que que eu faço,
 minha boca está molhada
 como o orvalho da flor...
 Será que seu beijo, ó moço,
 em mim pousou... namorou?
 Será que o gesto louco
 teve um pouco de amor?

 – Não sei se é fato, ou fita,
 não sei se é fita, ou fato,
 o fato é que você me fita,
me fita mesmo, de fato!
 – respondeu o cangaceiro
 em brincadeira e risada,
 pulou sobre o seu cavalo
 e partiu em galopada!

 A lua tremeu nos olhos
 De Bertulina, em lágrimas...

 A mocinha ficou louca
 de gosto de amor partido
 no alto do céu da boca!
Nem sabia que o amor
 podia ser cangaceiro,
 podia assanhar desejos
 roubando o beijo primeiro!

 Porque o primeiro beijo
é coisa muito esperada:
 tem que ser algo de manso,
 remanso, lagoa d’água...

 Tem que ter um certo tempo,
 coragem não revelada,
 um perfume de jasmim,
 um não s’esqueça de mim...

 Quando numa noite quente
 a lua ficou inchada,
 o cavaleiro voltou.
 Bertulina espiava de
 dentro de uma paixão.

 O moço viu Bertulina
e quis roubar outro beijo.
 Foi aí que a mocinha
 falou assim pro rapaz:
 Antes de querer meu beijo,
 por favor, moço,
me diga se o beijo é verdadeiro,
 ou se é ousadia,
 assalto de cangaceiro! [...]

 Eu me chamo Doralice
 Bertulina do sertão.
 Comigo só tem poesia
 se rimar no coração.

 Aprendi uma verdade
e verdade não se esquece:
 tudo aquilo que se aceita...
 pois é, a gente merece!

Sylvia Orthof. Cordel adolescente, ó xente! By herdeiros de Sylvia Orthof.
São Paulo, Quinteto Editorial, 1996.
Entendendo o texto:
01 – O cordel, uma narrativa em versos, é um tipo de texto elaborado para ser declamado ou cantado.
a)   O texto que você leu se inicia com uma apresentação. Quem se apresenta ao leitor/ouvinte? Qual o seu nome e o que faz?
Doralice, vende cordel nas feiras.

b)   Qual é a estratégia empregada pela cordelista para atrair a atenção das pessoas para o seu cordel?
Falar tudo rimando.

c)   Qual é o tema do cordel?
Adolescência.

02 – Na 4ª estrofe, a narradora começa a contar a história da garota que amava um cangaceiro.
a)   Que aspectos do cangaceiro são ressaltados nessa estrofe?
Um cabra da peste, valentão do Nordeste.

b)   Que expressão tipicamente nordestina é usada para qualificar o cangaceiro?
Cabra da peste.

c)   Transcreva a expressão da linguagem oral empregada pela narradora. Que significado ela adquire no contexto?
Virge Maria! Ela serve para fazer um par de rimas e para mostrar que a narradora estava impressionada com o cangaceiro.

03 – Ao referir-se à mocinha da história, na 5ª e 6ª estrofes, a narradora não a identifica claramente. Por que ela utiliza esta estratégia?
      Para despertar curiosidade no leitor e falar que a tal menina era pura fantasia.

04 – A primeira vez que Bertulina viu o cangaceiro, algo aconteceu.
a)   Que imagem representa o despertar do amor em Bertulina?
Um dia de azul e noite.

b)   Que verso expressa a emoção incontida desse momento?
“Um luar se balançava num cordel adolescente.”

c)   Que efeito de sentido é decorrente dessa escolha?
Mostra que a história de Bertulina estava em um cordel tipicamente pendurado em um varal, “balançando”.

05 – O cangaceiro é caracterizado na 9ª estrofe.
a)   Que versos mostram o seu jeito de ser?
“Tinha olhos de lonjuras, verduras de olhar miragens, chapéu de couro, facão de abrir caminhos, viagens!”

b)   O que esse trecho revela sobre as características do cangaceiro?
Ele era um homem desbravador, que viajava muito.

06 – A 11ª estrofe narra o momento em que explode a paixão de Bertulina.
a)     Que substantivos empregados nessa estrofe podem ser associados às sensações vividas por Bertulina?
“Trovão”, “faísca”, “fogo”, “brasa”, “fósforo”.

b)     Que sentido os substantivos empregados nessa estrofe atribuem ao momento narrado e consequentemente ao sentimento de Betulina?
Uma “explosão”, ou uma “fogueira” de sentimentos em Bertulina.

07 – Na 13ª estrofe, Bertulina, após o beijo, afirma estar assustada.
a)   Qual a preocupação dela em relação ao beijo?
Se o beijo foi por amor.

b)   Na fala de Bertulina, o que as reticências podem revelar?
Pode significar que ela está assustada e ofegante com o beijo e pode representar que ela pode estar sendo beijada novamente.

08 – Doralice e Bertulina são a mesma pessoa.
a)   Que pistas, no texto, podem levá-lo a concluir isso?
Ela coloca características de si mesmo em Bertulina além de na 21ª estrofe revelar seu nome completo: Doralice Bertulina do Sertão.

b)   Com que objetivo a narradora pode ter usado essa estratégia na sua história.
Mostrar que se pode contar histórias de si mesmo trocando as personagens e colocando uma inventada, não revelando que foi o autor, no caso, que vivenciou essa experiência relatada.


quinta-feira, 18 de outubro de 2018

CONTO PARA ´SERIES INICIAIS: MOQUECA, A VACA - SYLVIA ORTHOF - COM GABARITO

Conto: Moqueca, a vaca
          Sylvia Orthof


           Que fome!
        Moqueca é uma vaca muito sapeca, que vive numa fazenda de Minas Gerais.
        Um belo dia, ela conhece um charmoso touro louro e eles se apaixonam.
        Algum tempo depois, Moqueca, que sempre foi magrinha e elegante, aparece gorducha e feliz. Ela ia ter um bebê, quer dizer, um lindo bezerrinho.
        Acontece que, depois que o bezerro nasce, a vaca continua gorda e seu filhote cada vez mais magro.
        Qual será o mistério da vaca Moqueca?
                                                                 Sylvia Orthof


Entendendo o conto:

01 – Qual é o título do texto?
      Moqueca, a vaca.

02 – Onde a Moqueca morava?
      Morava numa fazenda em Minas Gerais.

03 – O que aconteceu quando a Moqueca conheceu um touro louro?
      Eles se apaixonaram.

04 – Por que a Moqueca apareceu gordinha e feliz?
      Porque ela ia ter um bezerrinho.

05 – Como a Moqueca ficou depois de ter parido o bezerro?
      Ela continuava gordinha.

06 – Qual será o mistério da vaca Moqueca continuar gorda e o bezerro cada vez mais magro?
      Porque o dono tirava todo o leite e não sobrava para o bezerro.

     




quinta-feira, 12 de abril de 2018

TEXTO: CLEMENTINA, A GATA - SYLVIA ORTHOF - COM GABARITO

TEXTO: Clementina, a gata
                Sylvia Orthof


    Clementina era uma gata de telhado, dessas gatas listradas. Vivia namorando, miando e tendo gatinhos. Mas era mais pra namoradeira do que pra mamadeira, quer dizer: não cuidava muito bem dos filhotes. Vivia esquecendo de dar de mamar.
        Ainda bem que Boby também era bassê, da mesma raça de sua avó. Se você não leu a história de sua avó, bem feito, vai pensar que estou falando de pessoa de sua família, Deus que me livre! É que sua avó era o nome de um cachorro que tive, quando era menina, da mesma raça de Boby, que tive quando meus filhos eram meninos.
      Boby cuidava dos gatinhos de Clementina. Só não dava de mamar, por motivo de Boby ser macho. Mas mãe como Boby nunca vi igual.
     Boby chamava Clementina de três em três horas, para a desalmada vir alimentar os gatinhos. Clementina, muito namoradeira, não queria vir, ficava requebrando em frente do portão, esquecida de que era uma senhora gata com obrigações familiares.

      ORTHOF, Sylvia. Os bichos que tive. Ed Salamandra, 2006, página 61, (fragmento).

Entendendo o texto:

01 – Na frase "Mas mãe como Boby nunca vi igual!", o ponto de exclamação indica:
a)   Admiração.
b)   Dúvida.
c)   Indiferença.
d)   Negação.

02– “Boby chamava Clementina de três horas, para a desalmada vir alimentar...”. A palavra destacada tem o sentido de:
     a) Bondosa.
     b) Cruel.

03 – Quem era a sua avó?
a)   Nome de um cachorro.
b)   Nome de um gato.
c)   Nome de uma galinha.
d)   Nenhuma das alternativas está correta.