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terça-feira, 2 de janeiro de 2024

HISTÓRIA: DA ARARA MISTERIOSA - SHENIPABU MIYUI - COM GABARITO

 História: Da Arara Misteriosa

        Vou contar para vocês como surgiu Shãwã Bake, a arara nova misteriosa.

        Um dia, o homem foi fazer tocaia. Fez comida de uricuri para esperar alguns bichos embaixo da terra alta, onde tinha mata limpa de jarinas.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwNxCRfdIz6wt28kXOurMSaShRjhB5z4P2VObMaqli4cwUFDa6GbA6bUbhizcJkPUKZkGC1NugR9YSpxQ_HhumP0if_YVAO8MJm9Dy3ev0GMFU_MmuGndEZ227h1OfofHsYQFcVsOkYL5fH8odQavMzSldFprR0uB9fTqQQiu0b8oVdSbq3G5w2t7zR2A/s320/ARARA.jpg


        Então, o homem viu que tinha arara nova no pau do mulateiro. Pensou que viria buscar no dia seguinte.

        Quando chegou em casa, contou para sua mulher que desejou a arara nova. Ela não tinha filhos e queria criar a arara nova.

        No dia seguinte, foram os dois. E quando chegaram na tocaia, ele matou um nambu para a mulher comer. Chegaram no mulateiro e viram que não precisavam derribar o pau. Podiam subir em um outro pau, chegar na forquilha do mulateiro e pegar a arara nova.

        O homem tirou então envira para amarrar o galho de pau no outro pau do mulateiro. Nesse dia, ele fez somente armar a envira para trepar. Deixou para vir buscar a arara no dia seguinte. Porque a arara misteriosa dominava o dia para ficar curto. E tudo escurecia ligeiro.

        Dia seguinte, chegaram onde estava a arara. Ela já cortara toda a envira que o homem tinha amarrado na véspera. Então, ele amarrou novamente. Como já estava escurecendo, deixou para vir buscar no dia seguinte.

        Quando o dia amanheceu, foram de novo. E a arara já tinha feito a mesma coisa. O homem teve que ajeitar mais uma vez o que já tinha feito.

        Então, subiu com a peira nas costas, deixando a mulher embaixo. Quando chegou na forquilha do pau, viu dentro do oco do pau um filho de gente, cheio de colares de presas de animais no pescoço.

        Falou para a mulher:

        ─ Não é arara nova. E um filho de gente. E está cheio de colares.

        A mulher ficou muito contente. Pediu logo que o marido pegasse a arara nova, filhote de gente para criar.

        O homem pegou o menino e colocou na peira. Quando vinha descendo, teve muito vento e muita chuva, para ver se ele conseguia chegar com o menino sem derribar no chão.

        Quando ele desceu já quase escurecendo, a mulher pegou o menino toda contente. Enrolou com a roupa dela. Veio a noite com muito vento e chuva. Mesmo assim chegaram na casa deles. E não disseram nada para ninguém. Ficaram escondidos.

        Amanheceu o dia seguinte e o menino já sabia chupar a mãe. A mulher contou então para o povo dela que tinha um filho de arara misteriosa. O povo quis tomar o menino. E ela sovinou.

        Amanheceu o dia seguinte e o menino já queria levantar. Ele comia mingau de banana e caiçuma de milho. Ele crescia toda noite e virou um rapaz. Pedia então para seu pai para fazer flecha para ele. E matou calango, peixe. já estava todo bonito, pintado de jenipapo. Pediu ao pai para fazer flecha de matar caça. Caçou macaco, veado, anta, mutum e porco.

        Então, chegou uma irmã do marido e perguntou a sua cunhada se o rapaz podia ser genro dela. A mulher não aceitou, porque contou que o irmão dela pegara para eles no pau do mulateiro.

        O menino então teve ideia de perguntar a sua mãe se ele era realmente filho dela:

        ─ Mãe, eu sou seu filho mesmo?

        ─ Não, eu sou sua mãe de criação. Seu pai de criação encontrou uma arara nova no pau de mulateiro e deu comida. E no seguinte dia, nós fomos buscar. Mas, quando chegou na forquilha, ele viu que você não era arara nova. Você é um filho de gente. Eu fiquei muito contente, porque como eu não tive filho, você é um filho meu. Foi assim que você se criou.

        ─ Ah, assim? Agora eu entendi como vocês me criaram! Como aqui não tinha alimento, vocês caçaram para me alimentar. Agora eu vou também caçar para alimentar vocês.

        Ele caçava e trabalhava. E a própria mãe de criação começou a fazer amor com ele. Ele já tinha sido homem de outras mulheres. Andava bem longe, procurando a sua família até que achou. Caçava carne de caça com os parentes: macaco preto, macaco prego, macaco capelão.

        Começou a pensar em colocar roçado para poder alimentar os pais. Trabalhou com o pai de criação um dia inteiro marcando o terreno. No dia seguinte, ele perguntou ao pai se não precisava mais de seu serviço. Tinha encontrado sua família e podia deixar ele sozinho. Dois dias ele trabalhou seguido com a ajuda dos parentes. O pai de criação foi ver o roçado e achou ele muito trabalhador. A mãe de criação falou:

        ─ O nosso filho é bom! Colocou um roçado para nós. Plantou roçado todo só com os parentes dele.

        Tomaram caiçuma de milho verde e a mãe de criação pintou ele de jenipapo. Então, o filho convidou os pais para irem juntos no buraco dele lá perto do roçado.

        A mãe pediu para ele esperar que ela ia pintar o pai de jenipapo também. O rapaz não quis. Queria viajar no mesmo dia. Se eles não pudessem, ia antes. Seguia na frente e esperava por eles no dia seguinte.

        O jovem seguiu na mesma noite. Quando acordou do primeiro sono, ouviu o barulho de buzina de flauta e todo tipo de instrumentos dos índios, vindo do outro lado do igarapé onde ficava a aldeia. O roçado ficava na outra margem, em outra terra, onde o jovem tinha ido trabalhar. O som dos instrumentos ficava muito lindo no rumo dele. E assim acontecia.

        A mãe começou a perguntar ao pai de criação por que estava ouvindo tanto som.

        ─ Será que nosso filho já encontrou com a família dele? Nós devemos ir hoje à noite ao seu encontro.

        A música ficou tocando a noite toda inteira. já de manhãzinha, eles seguiram na carreira. Quando chegaram lá, só encontraram os restos da farra do mariri: todos tipos de instrumentos que tinham tocado à noite e muitas penas de arara na biqueira da casa. Eles tinham limpado o roçado e deixado bem varrido, a estrada bem aberta e limpa. A mulher ficou admirada com a quantidade de coisas que eles tinham feito e ficou chorando. O homem correu pela estrada atrás do filho. E ia encontrando, em todas as passagens de igarapé, as pontes que iam construindo pelo caminho. Andava, andava, andava... E ia pensando:

        ─ Eu vou encontrar com ele, nem que seja aonde for.

        Assim o pai de criação do rapaz seguiu viagem pela estrada.

        A uma hora do dia, começou a ouvir conversas ao longe. Eram eles que estavam fazendo uma ponte no igarapé grande. O filho continuava mais atrás, esperando sempre por eles, pois sabia que o pai viria à sua procura. Quando encontrou com seu pai, disse:

        ─ O titio e meu irmão já vieram me buscar. Era para vocês terem vindo comigo naquele mesmo dia. Agora você volta, que o caminho que eles vêm fazendo vai cerrando tudo.

        Foi atrás de remédio da mata. Trouxe e esfregou no olho do pai, espremeu na coroa da cabeça e em todas as juntas dos ossos dele. Mandou o pai voltar rapidamente na carreira, porque o caminho já estava cerrando.

        O pai começou a voltar, mas o caminho já estava cerrado. A mata já tinha crescido e ele nem sabia mais o caminho por onde era.

        Seguiu na direção contrária de onde tinha vindo.

        Assim aconteceu a história da arara misteriosa de nosso povo antepassado.

Organização dos professores indígena do Acre. Shenipabu Miyui. História dos antigos.

Entendendo a história:

01 – Quem encontrou uma arara nova no pau do mulateiro?

      O homem que saiu para caçar que encontrou uma arara nova no pau do mulateiro.

02 – O que o homem e sua mulher planejaram fazer com a arara nova?

      Eles planejaram criar a arara nova, pois a mulher não tinha filhos.

03 – Como o homem conseguiu capturar a arara nova pela primeira vez?

      Ele tentou amarrar o galho do mulateiro com envira para alcançar a arara.

04 – O que eles encontraram quando queriam pegar uma arara nova?

      Descobriram que na verdade não era uma arara, mas sim um filho de gente dentro do oco do pau.

05 – Como o menino foi criado pelos pais adotivos?

      Ele foi alimentado e cuidado pelo homem e pela mulher que o encontrou no pau do mulateiro.

06 – Qual foi a ocupação do rapaz ao crescer?

      Ele se tornou um caçador habilidoso, caçando animais como macacos, veados, antas, mutuns e porcos.

07 – Por que o rapaz decidiu procurar sua família verdadeira?

      Ele queria encontrar sua família e passou a trabalhar para alimentar seus pais adotivos.

08 – O que o rapaz fez para ajudar os pais adotivos?

      Ele plantou um roçado para alimentá-los e declarou ser trabalhador e responsável.

09 – Como o rapaz encontrou sua família verdadeira?

      Ele foi andando para o local onde foi encontrado, e sua família o encontrou lá.

10 – Como o pai adotado tentou reencontrar o rapaz quando ele partiu novamente?

      Ele percorreu a estrada construída pelo rapaz, mas a mata cresceu e ele se perdeu no caminho de volta.

 

 

 

domingo, 3 de dezembro de 2023

HISTÓRIA: DA ARARA MISTERIOSA - SHENIPABU MIYUI - COM GABARITO

 História: Da Arara Misteriosa

        Vou contar para vocês como surgiu Shãwã Bake, a arara nova misteriosa.

        Um dia, o homem foi fazer tocaia. Fez comida de uricuri para esperar alguns bichos embaixo da terra alta, onde tinha mata limpa de jarinas.

        Então, o homem viu que tinha arara nova no pau do mulateiro. Pensou que viria buscar no dia seguinte.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFVJyimJuSZT6mSJARauvsf5kvzAzGPb22YUikGu_IWxZS2BGWbTq0uxjaJRWg_gIUDvN7nvknFnJLbwqiEd2aaDwZpNQF60WQmBXppIWDPvG5ifAi9aM1Wasr3LhflMZcUrkYI3fCJD9Xap-a-za02vyFLS_OwkNCd1DPRvC83oYp5gRbmVYUEgLSl0w/s320/ARARA.jpg


        Quando chegou em casa, contou para sua mulher que desejou a arara nova. Ela não tinha filhos e queria criar a arara nova.

        No dia seguinte, foram os dois. E quando chegaram na tocaia, ele matou um nambu para a mulher comer. Chegaram no mulateiro e viram que não precisavam derribar o pau. Podiam subir em um outro pau, chegar na forquilha do mulateiro e pegar a arara nova.

        O homem tirou então envira para amarrar o galho de pau no outro pau do mulateiro. Nesse dia, ele fez somente armar a envira para trepar. Deixou para vir buscar a arara no dia seguinte. Porque a arara misteriosa dominava o dia para ficar curto. E tudo escurecia ligeiro.

        Dia seguinte, chegaram onde estava a arara. Ela já cortara toda a envira que o homem tinha amarrado na véspera. Então, ele amarrou novamente. Como já estava escurecendo, deixou para vir buscar no dia seguinte.

        Quando o dia amanheceu, foram de novo. E a arara já tinha feito a mesma coisa. O homem teve que ajeitar mais uma vez o que já tinha feito.

        Então, subiu com a peira nas costas, deixando a mulher embaixo. Quando chegou na forquilha do pau, viu dentro do oco do pau um filho de gente, cheio de colares de presas de animais no pescoço.

        Falou para a mulher:

        ─ Não é arara nova. E um filho de gente. E está cheio de colares.

        A mulher ficou muito contente. Pediu logo que o marido pegasse a arara nova, filhote de gente para criar.

        O homem pegou o menino e colocou na peira. Quando vinha descendo, teve muito vento e muita chuva, para ver se ele conseguia chegar com o menino sem derribar no chão.

        Quando ele desceu já quase escurecendo, a mulher pegou o menino toda contente. Enrolou com a roupa dela. Veio a noite com muito vento e chuva. Mesmo assim chegaram na casa deles. E não disseram nada para ninguém. Ficaram escondidos.

        Amanheceu o dia seguinte e o menino já sabia chupar a mãe. A mulher contou então para o povo dela que tinha um filho de arara misteriosa. O povo quis tomar o menino. E ela sovinou.

        Amanheceu o dia seguinte e o menino já queria levantar. Ele comia mingau de banana e caiçuma de milho. Ele crescia toda noite e virou um rapaz. Pedia então para seu pai para fazer flecha para ele. E matou calango, peixe. já estava todo bonito, pintado de jenipapo. Pediu ao pai para fazer flecha de matar caça. Caçou macaco, veado, anta, mutum e porco.

        Então, chegou uma irmã do marido e perguntou a sua cunhada se o rapaz podia ser genro dela. A mulher não aceitou, porque contou que o irmão dela pegara para eles no pau do mulateiro.

        O menino então teve ideia de perguntar a sua mãe se ele era realmente filho dela:

        ─ Mãe, eu sou seu filho mesmo?

        ─ Não, eu sou sua mãe de criação. Seu pai de criação encontrou uma arara nova no pau de mulateiro e deu comida. E no seguinte dia, nós fomos buscar. Mas, quando chegou na forquilha, ele viu que você não era arara nova. Você é um filho de gente. Eu fiquei muito contente, porque como eu não tive filho, você é um filho meu. Foi assim que você se criou.

        ─ Ah, assim? Agora eu entendi como vocês me criaram! Como aqui não tinha alimento, vocês caçaram para me alimentar. Agora eu vou também caçar para alimentar vocês.

        Ele caçava e trabalhava. E a própria mãe de criação começou a fazer amor com ele. Ele já tinha sido homem de outras mulheres. Andava bem longe, procurando a sua família até que achou. Caçava carne de caça com os parentes: macaco preto, macaco prego, macaco capelão.

        Começou a pensar em colocar roçado para poder alimentar os pais. Trabalhou com o pai de criação um dia inteiro marcando o terreno. No dia seguinte, ele perguntou ao pai se não precisava mais de seu serviço. Tinha encontrado sua família e podia deixar ele sozinho. Dois dias ele trabalhou seguido com a ajuda dos parentes. O pai de criação foi ver o roçado e achou ele muito trabalhador. A mãe de criação falou:

        ─ O nosso filho é bom! Colocou um roçado para nós. Plantou roçado todo só com os parentes dele.

        Tomaram caiçuma de milho verde e a mãe de criação pintou ele de jenipapo. Então, o filho convidou os pais para irem juntos no buraco dele lá perto do roçado.

        A mãe pediu para ele esperar que ela ia pintar o pai de jenipapo também. O rapaz não quis. Queria viajar no mesmo dia. Se eles não pudessem, ia antes. Seguia na frente e esperava por eles no dia seguinte.

        O jovem seguiu na mesma noite. Quando acordou do primeiro sono, ouviu o barulho de buzina de flauta e todo tipo de instrumentos dos índios, vindo do outro lado do igarapé onde ficava a aldeia. O roçado ficava na outra margem, em outra terra, onde o jovem tinha ido trabalhar. O som dos instrumentos ficava muito lindo no rumo dele. E assim acontecia.

        A mãe começou a perguntar ao pai de criação por que estava ouvindo tanto som.

        ─ Será que nosso filho já encontrou com a família dele? Nós devemos ir hoje à noite ao seu encontro.

        A música ficou tocando a noite toda inteira. já de manhãzinha, eles seguiram na carreira. Quando chegaram lá, só encontraram os restos da farra do mariri: todos tipos de instrumentos que tinham tocado à noite e muitas penas de arara na biqueira da casa. Eles tinham limpado o roçado e deixado bem varrido, a estrada bem aberta e limpa. A mulher ficou admirada com a quantidade de coisas que eles tinham feito e ficou chorando. O homem correu pela estrada atrás do filho. E ia encontrando, em todas as passagens de igarapé, as pontes que iam construindo pelo caminho. Andava, andava, andava... E ia pensando:

        ─ Eu vou encontrar com ele, nem que seja aonde for.

        Assim o pai de criação do rapaz seguiu viagem pela estrada.

        A uma hora do dia, começou a ouvir conversas ao longe. Eram eles que estavam fazendo uma ponte no igarapé grande. O filho continuava mais atrás, esperando sempre por eles, pois sabia que o pai viria à sua procura. Quando encontrou com seu pai, disse:

        ─ O titio e meu irmão já vieram me buscar. Era para vocês terem vindo comigo naquele mesmo dia. Agora você volta, que o caminho que eles vêm fazendo vai cerrando tudo.

        Foi atrás de remédio da mata. Trouxe e esfregou no olho do pai, espremeu na coroa da cabeça e em todas as juntas dos ossos dele. Mandou o pai voltar rapidamente na carreira, porque o caminho já estava cerrando.

        O pai começou a voltar, mas o caminho já estava cerrado. A mata já tinha crescido e ele nem sabia mais o caminho por onde era.

        Seguiu na direção contrária de onde tinha vindo.

        Assim aconteceu a história da arara misteriosa de nosso povo antepassado.

Organização dos professores indígena do Acre. Shenipabu Miyui. História dos antigos.

Entendendo a história:

01 – Quem encontrou uma arara nova no pau do mulateiro?

      O homem que saiu para caçar que encontrou uma arara nova no pau do mulateiro.

02 – O que o homem e sua mulher planejaram fazer com a arara nova?

      Eles planejaram criar a arara nova, pois a mulher não tinha filhos.

03 – Como o homem conseguiu capturar a arara nova pela primeira vez?

      Ele tentou amarrar o galho do mulateiro com envira para alcançar a arara.

04 – O que eles encontraram quando queriam pegar uma arara nova?

      Descobriram que na verdade não era uma arara, mas sim um filho de gente dentro do oco do pau.

05 – Como o menino foi criado pelos pais adotivos?

      Ele foi alimentado e cuidado pelo homem e pela mulher que o encontrou no pau do mulateiro.

06 – Qual foi a ocupação do rapaz ao crescer?

      Ele se tornou um caçador habilidoso, caçando animais como macacos, veados, antas, mutuns e porcos.

07 – Por que o rapaz decidiu procurar sua família verdadeira?

      Ele queria encontrar sua família e passou a trabalhar para alimentar seus pais adotivos.

08 – O que o rapaz fez para ajudar os pais adotivos?

      Ele plantou um roçado para alimentá-los e declarou ser trabalhador e responsável.

09 – Como o rapaz encontrou sua família verdadeira?

      Ele foi andando para o local onde foi encontrado, e sua família o encontrou lá.

10 – Como o pai adotado tentou reencontrar o rapaz quando ele partiu novamente?

      Ele percorreu a estrada construída pelo rapaz, mas a mata cresceu e ele se perdeu no caminho de volta.

 

 

 

HISTÓRIA: DO RELÂMPAGO E DO TROVÃO - SHENIPABU MIYUI - COM GABARITO

 História: Do Relâmpago e do Trovão

        Era uma mulher gestante que estava na canoa dentro do rio. Então começou uma chuva bem forte com relâmpago. O relâmpago caiu na barriga da mulher e abriu. Então, o filho nasceu. O filho ficou chorando, chorando, no pé do salão no barranco do rio.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKDwiDAFWYJxM0dLcECtBvnR7vTmf0BJmOFXF_YeogLEiYDggJIasPWLiqVZ_Cd1F5K-8eTZKbUoiTCU7-D0E6A7GyBF9ncU0Faq1YNzOTAV8Fpdp9pmt3qSZcilVUeBoqk6eLXqANBFExwr3whyD6BgDRfXiuld5aZ6MZM4PUADu1X22Zvv-rSeMvXAA/s320/RELAMPAGO.jpg


 Apareceu, então, o caranguejo que pegou a criança com as duas presas, e levou para onde morava numa boquinha do salão do rio. O menino ficou lá por muito tempo e lá cresceu.

        O tempo foi passando, passando... Um dia, o tio desse menino foi caçar e viu o sobrinho no igarapé. Ele voltou para aldeia e contou para os parentes que tinha visto o menino no igarapé. Assim descobriram onde ele morava.

        Um dia choveu muito, muito. O igarapé ficou cheio de uma espuma branca. Os índios parentes do menino combinaram de pegar ele de volta assim: um vinha de cima, outro de baixo e os demais ficaram pastorando no barranco. O índio que vinha descendo o igarapé colocou espuma na cabeça para enganar o menino que estava brincando na beira. Conseguiram pegar de volta o menino que gritou muito, chorando. Nessa hora, vieram alguns caranguejos lutar pelo menino, mas os parentes conseguiram espantar os caranguejos. O menino lutou para não ir, mas foi assim mesmo.

        Depois, na aldeia, os índios deram comida de gente ao menino, mas ele não quis.

        Só queria comida de caranguejo, caroço da fruta de paxiubinha e paxiubão. Até que o menino se acostumou na aldeia. Quando já estava com dez para onze anos, deram arco e flecha para ele fazer caçada e o que mais precisasse.

        Quando já estava grande, na base de uns quinze anos, o menino disse que queria conhecer a mãe dele. Os índios disseram que não podia, que ela estava no céu. Contaram a história para ele. Ele então teimou em ir até lá no céu. Pediu que sua avó fizesse uma corda de algodão bem grande. Jogou essa corda até o céu com a ponta presa numa forquilha. Disse que voltava logo. Foi cubindo pela linha até chegar no céu onde morava sua mãe. O seu pessoal na terra ficou olhando, acompanhando, até que ele sumiu.

        Chegou então no céu. Lá era o mesmo que na terra. A mãe dele estava casada com o Kana, Yuxibu, o relâmpago encantado. Encontrou também suas cinco irmãs. Todos ficaram animados. A mãe perguntou tudo sobre a terra. O filho pediu que ela voltasse, que fosse morar na aldeia. Ela disse que não podia: já estava lá e assim ia continuar. O filho perguntou pelo marido da mãe. Ele tinha saído para beber nawaki, uma bebida que o relâmpago encantado bebe e arrota. Esse arroto é o trovão.

        O filho disse que ia vingar a morte da mãe, matando o relâmpago encantado. Preparou, para isso, uma arma, shatxi, que é igual a uma navalha. Esperou...

        Lá veio Kana Yuxibu, o relâmpago, arrotando e tocando a borduna, fazendo a faísca, o estalo que a gente vê brilhando no céu.

        Nessa hora, o filho se transformou em morcego e ficou na cumieira da casa, escondido com a arma. Kana Yuxibu sentou no canto, a mãe trouxe o tacão de mingau de banana, mani mutsa. O filho jogou a arma com veneno dentro do tação. Kana Yuxibu engoliu a navalha e teve um corte na veia do coração. Morreu.

        A mãe dele não gostou da vingança. Mais revoltado ainda, disse que ia matar as irmãs dele também, que eram filhas do relâmpago encantado. A mãe pediu que não fizesse isso. Mas ele fez. Deixou a menor, que tinha de um para dois anos. E voltou com ela para a aldeia. Chegou na terra e contou tudo para os parentes.

        A irmã pequena não suportou a aldeia na terra, chorava muito. Ninguém aguentou o choro dela. Aí, começou a chover, chover muito e o rio ficou cheio. Então, jogaram a criança na água. Ela ficou muitos dias no rio.

        Quando chegou no fim da terra e da água, ela subiu de novo para o céu.

        Por isso, até os dias de hoje, tem relâmpago e trovão.

Organização dos professores indígena do Acre. Shenipabu Miyui. História dos antigos.

Entendendo a história:

01 – Quem é o protagonista principal da história?

      O protagonista principal é um menino que nasceu após um evento durante uma tempestade, quando um relâmpago atingiu a barriga de sua mãe.

02 – Qual foi o papel do caranguejo na vida do menino?

      O caranguejo o levou para sua casa no rio, onde o menino cresceu.

03 – Por que os pais do menino decidiram levá-lo de volta à aldeia?

      Os pais decidiram levá-lo de volta à aldeia após descobrirem onde ele morava e combinarem uma estratégia durante uma grande chuva.

04 – Como o menino reagiu ao retornar à aldeia?

      Ele não aceitou a comida de gente e só aceitou comida de caranguejo e frutas específicas.

05 – O que motivou o menino a querer conhecer sua mãe?

      Quando ficou mais velho, ele expressou o desejo de conhecer sua mãe, apesar de ser informado de que ela estava no céu.

06 – Como o menino conseguiu alcançar o céu?

      Ele pediu para sua avó fazer uma corda longa de algodão e a lançou até o céu, subindo por ela.

07 – Quem morava com a mãe do menino no céu?

      A mãe estava casada com Kana Yuxibu, o relâmpago encantado, e tinha cinco filhas.

08 – Qual foi o estágio do confronto entre o menino e Kana Yuxibu?

      O menino envenenou Kana Yuxibu, resultando em sua morte.

09 – Como terminou a história da irmã mais nova do menino?

      A criança foi jogada no rio durante uma chuva, chorou muito e, ao chegar ao fim da terra e da água, subiu novamente para o céu.

10 – Qual é a explicação dada na história para a existência de relâmpagos e trovões até os dias de hoje?

      A história sugere que a existência de relâmpagos e trovões é resultado dos eventos que aconteceram entre o menino, sua família no céu e a vingança realizada.

 

HISTÓRIA: DA ORIGEM DOS REMÉDIOS DA MATA - SHENIPABU MIYUI - COM GABARITO

 História: Da Origem dos Remédios da Mata

        Os índios de antigamente, com pouco tempo que apareceram no mundo, pensaram e discutiram juntos sobre a vida cicies dali para frente:

        ─ Como será quando as pessoas adoecerem: Como vamos fazer para curar os doentes?

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWTc0UblC7ieRvh9tlBQ-2wRE8smwouucKjEi87AXghykWxXit0vdfjcb8-R1qjZ86fXAq5ZtEp6tlu79Wu_L9A9XnycOfjJJKIdHMnu76WyuuP7CMVSUWj5C8NzdCzXbYF1gymVpyuoYiekQSVenbm9h9ePy-vF_QxkiJhX5NTs1OSVurbhSG8CbPWn0/s1600/remedios.jpg


        ─ Um bocado de nós vai morrer para surgir como remédio da mata. Os outros poderão viver usando estes remédios em que vamos nos transformar.

        Yushã Kuru, uma mulher chamada Fêmea Roxa, falou assim:

        ─ Eu acho muito importante a ideia de vocês. Melhor é virar remédio. Vocês poderão. Eu vou ensinar a vocês. Vou ensinar aos nossos parentes.

        Os outros concordaram com essa ideia:

        ─ Isso é verdade. Se você conhece bem, você vai nos ensinar. Vai ensinar para nossos filhos e nossos netos.

        Yushã Kuru, a Fêmea Roxa, deu muitos conselhos e surgiram os remédios. Uns eram venenos para matar: olho forte, Beru Paepa . Mijo amargo, Isü Muka. Outro para coceira, Nui. A velha Fêmea Roxa observava bem as folhas e os pés das árvores:

        ─ Esse mato não é remédio forte.

        E assim foi. Surgiram muitos remédios, todos os remédios que têm na mata. Remédio bom que cura as pessoas. Bom para picada de cobra, picada de escorpião, aranha, reumatismo e fígado.

        A Fêmea Roxa, Yushã Kuru, conhecia bem todas as folhas desses remédios. Depois não ensinava vira mais ninguém. Usava todos esses remédios sempre escondida de todo mundo. Até que um dia, a velha Fêmea começou a ensinar para neto dela, o tubo de sua filha. Ensinava a ele todos os remédios da mata que sabia. Ensinava também como preparar estes remédios. Também ensinava o remédio forte e venenoso para colocar feitiço no outro. E experimentava com ele para saber se ele tinha aprendido tudo que sua avó sabia. Aprendeu a preparar o veneno para botar feitiço no outro. E, ás vezes, com mato venenoso, tirar o espírito da pessoa.

        Quando a mulher moça ou o homem rapaz crescia bonito, ela botava feitiço. Quando o homem era trabalhador, a mulher fazia artesanato e quando esculhamhava com a velha Fêmea Roxa ela também botava feitiço para essas pessoas morrerem. Na aldeia, o povo nau sabia o que a Fêmea Roxa fazia. Passou muito tempo sem ninguém perceber a situação.

        Um dia, o genro da velha Yushã Kuru foi caçar na mata. Quando saiu da caçada, resolveu ir pegar barro para fazer panela e tigela. O lugar onde pegavam barro para fazer cerâmica era o mesmo da caçada.

        Lá, o genro encontrou a velha Yushã Kuru e fez amor com ela. O genro veio escondido para pegar a velha sem avisar e fez o serviço com ela, que gritava:

        ─ Me solta. Quem é que faz esse mal comigo?

        Quando o genro acabou, botou a velha Fêmea dentro do buraco onde tiravam o barro e correu pela mata. Yushã Kuru ficou lutando para sair. Até que conseguiu. Nessa hora, ela viu as costas cio genro e falou assim:

        ─ E homem morto aquele que me fez mal.

        Voltou para sua casa chorando. E pegou o mato venenoso no caminho para matar o genro. Quando chegou em casa, foi pescar no igarapé. Pegou piaba e mandim mole, temperou com o veneno e embrulhou na palha de Sororoca para muquinhar.

        Quando o genro chegou da caçada, ela deu o peixe para ele comer. No dia seguinte, ele morreu. Todo mundo chorava de dó. Até que o filho dele, neto dela, descobriu e disse assim:

        ─ Olha, meu pai morreu porque minha avó envenenou ele. O nosso pai está morrendo por causa da minha avó. Ela é que sabe botar feitiço no outro.

        O neto foi pegar o cesto da avó. O cesto estava cheio de coração, tudo em fileirinha. Quando a velha Fêmea pegava o coração para botar feitiço e veneno, a pessoa morria. Ela colocava dentro do cesto arrumado em carreirinha. Cada um tinha um nome: um era aquele do homem trabalhador, outro da moça bem bonita. Tinha muita carreira no cesto grande da velha Femea, Yushã Kuru.

        O neto descobriu todos os segredos da velha e contou para o povo, que ficou todo assustado.

        ─ Ah, essa velha feiticeira! Desse jeito, não presta para viver com nosso povo. Se ela mesmo não morrer, vai acabar com nosso povo.

        Então, resolveram matar Yushã Kuru. Muitos homens ajeitaram suas armas. Quando a velha Fêmea soube dessa conversa, fugiu para a mata. Eles caçaram, caçaram e nada de Yushã Kuru. Falaram com outro rapaz chamado de grilo zarolho, Teima Xliii Bata, e convidaram para ajudar na caçada da velha. Este rapaz era muito danado. Ele enxergava até muito distante.

        O rapaz grilo pulou no terreiro, olhou e falou:

        ─ Lá está a velha Yushã sentada. Vocês podem ir, que vão encontrar com ela.

        As pessoas foram procurando, até que encontraram. Ela estava bem escondida, sentada. Falaram com ela. Ela acreditou na conversa e desistiu de fugir e acompanhou as pessoas no rumo da sua casa. Quando já estavam peno de sua casa, a velha Fêmea Roxa falou assim:

        ─ Eu vou no mato cagar.

        E fugiu de novo. As pessoas caçaram e procuraram novamente. Não acharam. Então, voltaram para casa.

        De novo, convidaram o rapaz grilo para dar informação sobre a velha. O rapaz sempre dizia onde ela estava. As pessoas foram buscar a velha muitas vezes e ela fugiu muitas vezes.

        Até que combinaram de enganar essa velha. O outro genro dela resolveu enganar. Quando encontrou a velha novamente, falou assim:

        ─ Olha, minha tia, eu vim buscar a senhora, porque eu vou batizar seus netos e netas e queria que cantasse as nossas músicas para eles.

        A velha Yushã Kuru animou-se. Aceitou o convite do seu genro e voltou para casa. Quando estava chegando em casa, bem na chegada, o pessoal, que já estava esperando, matou a velha Fêmea Roxa. Dizem que foi assim.

Organização dos professores indígena do Acre. Shenipabu Miyui. História dos antigos.

Entendendo a história:

01 – Quem foi Yushã Kuru na história da origem dos remédios da mata?

      Yushã Kuru, também conhecida como Fêmea Roxa, foi uma mulher indígena que conhecia profundamente as plantas e folhas da mata, sendo responsável por descobrir e ensinar os remédios naturais para curar diversas enfermidades.

02 – Como Yushã Kuru contribuiu para a medicina tradicional indígena?

      Ela ensinou aos seus pais os conhecimentos sobre as plantas medicinais e como preparar os remédios a partir delas, fornecendo uma base para o tratamento de diferentes doenças e picadas de animais venenosos.

03 – Quais foram alguns dos remédios que Yushã Kuru ensinou a seus pais?

      Entre os remédios recomendados na história estão o olho forte, Beru Paepa, mijo amargo, Isü Muka, e outros para experiências, picadas de cobra, escorpião, aranha, reumatismo e fígado.

04 – Como Yushã Kuru usava seu conhecimento sobre plantas venenosas?

      Além de ensinar sobre remédios, ela também conhecia plantas venenosas para fazer feitiços e, em alguns casos, para tirar o espírito de uma pessoa.

05 – O que aconteceu quando o genro de Yushã Kuru descobriu suas práticas?

      O genro descobriu que Yushã Kuru envenenava pessoas usando plantas venenosas, e após a morte de seu pai, revelou suas atividades ao povo da aldeia.

06 – Como Yushã Kuru armazenava os corações das pessoas sobre as quais ela lançava feitiços?

      Ela mantinha os corações das vítimas enfileiradas em um cesto, organizadas em fileiras, cada um representando alguém sobre quem ela colocou feitiço.

07 – Como a comunidade reagiu quando descobriu as práticas de Yushã Kuru?

      O povo ficou chocado e decidiu que ela não poderia mais viver entre eles, pois representava uma ameaça à comunidade devido às suas ações.

08 – O que aconteceu quando buscou capturar Yushã Kuru?

      Apesar das várias tentativas de captura, Yushã Kuru conseguiu escapar da comunidade várias vezes, graças ao seu conhecimento da mata e da região.

09 – Como a comunidade finalmente conseguiu capturar Yushã Kuru?

      Usando uma estratégia, um dos genros atraía de volta à aldeia, e quando ela retornava, era morta pela comunidade que a aguardava.

10 – Qual foi o papel do rapaz chamado Grilo Zarolho na história?

      Ele ajudou a comunidade a localizar Yushã Kuru várias vezes, fornecendo informações sobre seu paradeiro na mata, até que finalmente um dos genros conseguiu enganá-la e ela foi capturada e morta.

 

 

HISTÓRIA: DA FEITICEIRA CEGA - SHENIPABU MIYUI - COM GABARITO

 História: Da Feiticeira Cega

        Vamos contar uma história dos antigos. Em nossa fala chama-se Nete Beku nome de uma mulher cega.

        Diz que chegou um repiquete e alagou tudo. A água carregou essa mulher, que não teve por onde escapar. A alagação cobriu mato, terra, tudo. Terra alta também cobriu.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEha69k9xF53ZBnW99DScrJbDtMqWS3t9cj86CiR0L82erRPGKuofmlB9CulVq7ObSiTbZOjTBQ9A8Rty3Yq3jEaV8V1c4FEV34Wa2SigBJwHCZtRQnBlmtOwrNKp-oKKDC3XFB4bvqiA4yOHWzQ_gd4rZPbvV_2IWGEZr8835n_Mh5v706po9B_uL2YnUQ/s320/CEGA.jpg


        Quando estava passando um pau bem grosso carregado pelas águas, essa mulher conseguiu sentar em cima dele. Lá sentada, esperou a alagação baixar. Depois o rio começou a baixar, baixar, baixar... Até que findaram as águas.

        Mas a terra continuou toda molhada e não tinha canto para a mulher andar. Sozinha, ela chorava, chorava, chorava. Seu pessoal tinha morrido todinho. Chorava... Então, juntou muita abelha ao redor da mulher. As abelhas picaram seus olhos e ela ficou cega, sem poder enxergar mais nada.

        Foi passando o tempo, até quando as águas secaram. Diz que a mulher pegou duas abelhas, achou uma cabaça, furou, botou as abelhas dentro e tampou. Passada uma semana, a mulher espocou a cabaça e dela saíram dois meninos. Ela pegou esses meninos para criar. Dava de mamar num peito e no outro. Os meninos foram crescendo, pouco a pouco, até que começaram a sair na praia sozinhos. Um dia, acharam um pé de mudubim e trouxeram para a mãe de criação, que não enxergava mais nada.

        ─ Mãe, o que é isto aqui?

        ─ Cadê, meu filho?

        A mulher pegou na folha, apalpou e pegou na raiz até reconhecer:

        ─ Bem, meu filho, este aqui é um pé de mudubim, uma planta. A gente planta isso. A gente come. É nosso. Foi o repiquete que trouxe lá de cima. Vamos guardar pra nós plantarmos.

        No outro dia, andando de novo na praia, o menino achou um pé de macaxeira e mostrou para a mãe:

        ─ Mamãe, que folha é essa aqui?

        A velha pegou na folha, apalpou, mexeu e disse:

        ─ Essa daqui, meu filho, é folha de macaxeira que nós plantamos. O rio alagou e trouxe esse pau de maniva que está nascendo aqui. Vamos pegar e guardar pra gente plantar.

        Uns dias depois:

        ─ Bem, meu filho, andei pensando que melhor é nós voltarmos pra nossa terra. Aqui não é a nossa terra. Vamos andar.

        ─ E pra onde nós vamos, mamãe?

        ─ Vamos pela praia buscar um tio que mora bem longe, lá dentro, longe. Vamos encontrar com ele. Bem, vamos andar.

        Então saíram andando, andando... E acharam no caminho um pé de milho.

         ─ Mamãe, o que é isto aqui?

         ─ Esse daí, meu filho, é um pé de milho. É pé que a gente come, a gente planta. Vamos levar pra nós plantarmos. Essa é planta nossa, que a gente come assada no fogo, faz pamonha, prepara caiçuma para tomar e mistura com mudubim. Vamos embora andando, meu filho.

        Saíram andando, andando... Até que chegaram no outro rio, um igarapé de água preta que quando se andava nele ficava marca na terra. Eles foram andando e fazendo marca até chegar na outra boca.

        ─ Bem, meu filho, vamos entrar nesta água daqui. É outro do. Este daqui é de água branca.

        Eles foram andando, andando. E iam andando e fazendo aquela marca branca, e deixando a marca na areia branca do rio.

        ─ Bem, água branca, vai pra acolá. Agora vamos entrar nessa outra boca.

        Entraram, então, num rio de água verde, verdinha. Entraram no rio de água verde e foram andando e fazendo marca, outra marca. A primeira foi feita na água preta. A segunda, na água branca. A terceira, na água verde.

        E andaram, andaram, andaram.

        ─ O teu tio já está perto, meu filho. Escuta aí. Estio partindo lenha: «pou, pou, pou”... Estio partindo lenha. Taí o teu tio que já está perto. Escuta aí que estio partindo lenha.

        Então andaram, andaram... E escutaram barulho da casa do homem que estava partindo lenha.

        ─ Já está peno, meu filho. Que perto, que nada!

        Fazia mais de uma semana que eles estavam andando. Andavam e andavam. Como a velha não enxergava nada, eram os filhos que pegavam ela nos braços e iam carregando e andando, andando.

        ─ Bem, meu filho, espera aí. Suba esta terra. Tem uma escada que está em cima da terra. Pega essa escada e bota no chio pra nós descermos com ela.

        O filho dela só via terra. Diz que era uma terra que não tinha tamanho. Lá em cima, só uma escada que os homens deixaram para ninguém acertar aonde é que iam.

        ─ Pega essa escada.

        ─ Toma, mamãe.

        Então, ela fez ele subir até chegar lá em cima.

        ─ Vamos por aqui.

        E não tinha nada que cortasse. A velha era tão sabida que acertava tudo. Não enxergava, mas estava no rumo.

        ─ E para onde vamos, mamãe?

        ─ O caminho e por aqui.

        Entraram no caminho, andaram e andaram, até que saíram no outro igarapé.

        ─ E aqui, mamãe?

        ─ Espera aí. Teu tio está pra acolá.

        Andaram e chegaram em cima da terra alta.

        ─ E aqui, mamãe? Por onde nós vamos?

        ─ Vamos por aqui, todo tempo por cima da terra. Teu tio já está perto. Vamos sentar aqui para descansar. Estou cansada.

        No dia seguinte, andaram, desceram no igarapé e atravessaram até que saíram no caminho. E de lá, saíram no roçado do tio.

        ─ Está aqui. Ele mora pra acolá. Vamos embora por aqui.

        Então, chegaram na casa do tio.

        ─ Eu estou chegando, meu irmão!

        Quando a cunhada viu a mulher cega, animou-se, correu para peno dela, pegou e abraçou, chorando. Chegando em casa, gritou para o marido:

        ─ Chegou aqui nossa mãe.

        De lá mesmo, saiu o homem gritando.

        ─ Quem mandou ela vir aqui? Eu não quero ela aqui. Quem foi que trouxe? Nós vamos matar essa velha, pra não empatar nós.

        ─ Não, não faz isso com nossa mãe. É nossa mãe. Não faz isso!

        ─ Estamos morando aqui sozinhos e a velha chegou. Mas ela vai morrer nesses dias. Não vai durar tempo, não. Vai morrer.

        Passaram-se dois dias e a velha morreu. Morreu mesmo.

        Ficaram os dois rapazes que tinham vindo com ela para conhecer o tio.

        ─ Nosso tio matou nossa mãe. Como nós vamos fazer? Temos que viver com ele, pois não temos pra onde ir.

        No outro dia, o tio deles foi trabalhar. Quando estava limpando o roçado, diz que os ovos dele iam arrastando daqui para acolá. Ele ia trabalhando, limpando o roçado, e os ovos dele se arrastando daqui para acolá.

        Então esses dois rapazes passaram veneno nas flechas.

        ─ O que nós podemos fazer pra matar esse homem que matou nossa mãe?

        ─ Vamos matar ele também.

        Quando o homem ia pro roçado, com os ovos arrastando no chão, os rapazes lascaram o bico da flecha nos ovos dele.

        ─ Ai, ai! Que coisa me ferrou? Será um inseto que me ferrou aqui?

        O homem se pôs a procurar, para lá, para cá e nada. Procurava tudo e não achava nada que pudesse ter ferrado ele:

        ─ Que coisa me ferrou nos meus ovos?

        Matou o formigão e matou todos os insetos que passavam peno, achando que tinham ferrado ele.

        Voltou para casa e disse para a mulher:

        ─ Eu não sei que bicho ferrou os meus ovos. Estio doendo muito! Saiu para acolá e foi tomar um banho.

        Quando chegou de volta, não aguentou e foi deitar na rede. No outro dia, sofrendo com muita dor, morreu.

        Os dois rapazes então viveram com a mulher desse homem que matou a mãe deles. Dai para cá, eu nem sei contar mais essa história. Então, finda assim.

Organização dos professores indígena do Acre. Shenipabu Miyui. História dos antigos.

Entendendo a história:

01 – Quem é Nete Beku na história?

      Nete ​​Beku é o nome de uma mulher cega que sobreviveu a uma inundação e adota dois meninos após um evento trágico.

02 – Como Nete Beku perdeu a visão?

      Ela perdeu a visão depois de ser picada por abelhas enquanto chorava pela perda de seu povo durante uma inundação.

03 – O que Nete Beku encontrou dentro de uma cabana após uma semana?

      Ela encontrou dois meninos, que ela desenvolveu como filhos, dentro da cabaça.

04 – Para onde Nete Beku decide ir com os meninos?

      Ela decidiu voltar para sua terra natal, indo em busca de um parente que vive longe, adentrando uma jornada com os meninos.

05 – Como Nete Beku conheceu plantas como mudubim, macaxeira e milho mesmo sendo cega?

      Ela conheceu as plantas através do toque, achando as folhas e raízes para identificá-las.

06 – Como Nete Beku e os meninos atravessaram diferentes tipos de rios?

      Eles atravessaram rios de água preta, branca e verde, marcando caminho na terra enquanto caminhavam neles.

07 – Qual foi a ocorrência do tio de Nete Beku ao vê-la cega?

      Ele ficou contrariado e não queria que ela ficasse lá, afirmando que ela logo morreria e não queria ser incomodado por ela.

08 – Como Nete Beku morreu?

      Ela morreu dois dias depois de chegar à casa do tio, sofrendo com as consequências da exclusão e do tratamento hostil.

09 – Como os dois rapazes lidaram com a morte de Nete Beku?

      Eles planejaram vingança contra o tio, passando veneno nas flechas e matando após ele sofrer uma dor misteriosa.

10 – O que aconteceu com os dois rapazes depois que o tio morreu?

      Eles viveram com a mulher do tio e a história não detalha mais o que aconteceu depois desse evento.