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sábado, 27 de janeiro de 2024

SONETO: SOLEMNIA VERBA - ANTERO DE QUENTAL - COM GABARITO

 Soneto: Solemnia verba

        Antero de Quental

     Disse ao meu coração: «Olha por quantos
     Caminhos vãos andámos! Considera
     Agora, desta altura fria e austera,
     Os ermos que regaram nossos prantos...
     

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhykWkoWN_84tcQWw_nFOKno8YOIi7SAKGZDTrBATfJoqjLkCY3NDaFYhCn__Ht94tde5EWkiiAL5zaIRQlf_Aw76q6t_W_xtUmqIwEoj-9N0mL54m7iEcmJekyx9k6cuc31QjAkROBzRuJjyQYiUIVwmxCQEhQcwqjUsWwGDUBL0NBWfR7sfs_ijczZ58/s1600/CORA%C3%87%C3%83O.jpg


     Pó e cinzas, onde houve flor e encantos!
     E noite, onde foi luz de Primavera!
     Olha a teus pés o Mundo e desespera,
     Semeador de sombras e quebrantos!»
     
     Porém o coração, feito valente
     Na escola da tortura repetida, 
     E no uso do penar tornado crente,
     
     Respondeu: «Desta altura vejo o Amor! 
     Viver não foi em vão, se é isto a vida, 
     Nem foi de mais o desengano e a dor.»

     Entendendo o texto

01. Qual é a reflexão central apresentada no soneto "Solemnia verba" de Antero de Quental?

         A reflexão central é sobre a experiência da vida, marcada por caminhos vãos, desilusões, e a contemplação das consequências dessas experiências.

02. Quem é o interlocutor do poema e o que ele diz ao coração?

         O interlocutor do poema é o eu lírico, que se dirige ao próprio coração. Ele diz ao coração para observar os caminhos percorridos, as desilusões enfrentadas e a desolação resultante.

03. Como o eu lírico descreve a atual situação, a partir da "altura fria e austera"?

         O eu lírico descreve a atual situação como erma e austera, destacando os lugares que foram regados pelos prantos, transformados em pó e cinzas, onde antes havia flores e encantos.

04. Qual é a resposta do coração diante da perspectiva desoladora apresentada pelo eu lírico?

O coração responde de maneira valente, evidenciando que, mesmo diante das desilusões e do sofrimento, a vida não foi em vão. O coração destaca que vê o Amor dessa altura, sugerindo uma perspectiva mais positiva.

05. Que elementos poéticos, como metáforas ou imagens, são utilizados para expressar a condição do eu lírico?

         O poema utiliza metáforas como "caminhos vãos," "erros que regaram nossos prantos," e "pó e cinzas onde houve flor e encantos" para expressar a condição do eu lírico, destacando a jornada marcada por desilusões e transformações.

 

 

 

quinta-feira, 22 de março de 2018

SONETO: MAIS LUZ - ANTERO QUENTAL - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO

Poema: MAIS LUZ!

Amem a noite os magos crapulosos,
E os que sonham com virgens impossíveis,
E os que inclinam, mudos e impassíveis,
À borda dos abismos silenciosos...

Tu, lua, com teus raios vaporosos,
Cobre-os, tapa-os e torna-os insensíveis,
Tanto aos vícios cruéis e inextinguíveis,
Como aos longos cuidados dolorosos!

Eu amarei a santa madrugada,
E o meio-dia, em vida refervendo,
E a tarde rumorosa e repousada.



Viva e trabalhe em plena luz: depois,
Seja-me dado ainda ver, morrendo,
O claro Sol, amigo dos heróis!

             A UM CRUCIFIXO
Há mil anos, bom Cristo, ergueste os magros braços
E clamaste da cruz: “há Deus!” e olhaste, ó crente,
O horizonte futuro e viste, em tua mente,
Um alvor ideal banhar esses espaços!


Por que morreu sem eco o eco de teus passos,
E de tua palavra (Ó Verbo!) o som fremente?
Morreste... ah! dorme em paz! não volvas, que descrente
Arrojaras de novo à campa os membros lassos...

Agora, como então, na mesma terra erma,
A mesma humanidade é sempre a mesma enferma,
Sob o mesmo ermo céu, frio como um sudário...

E agora, como então, viras o mundo exangue,
E ouviras perguntar – “de que serviu o sangue,
Com que regaste, ó Cristo, as urzes do Calvário?”

                             Quental, A. de. Poesia e prosa. Rio de Janeiro, Agir, 1967.
 Entendendo o poema:
01 – Em resposta a Antônio Feliciano de Castilho, que o criticara (e também fizera críticas a outros poetas), Antero de Quental respondeu, em 1865, no folheto conhecido como Bom senso e bom gosto:
      “O escritor quer o espírito livre de jugos, o pensamento livre de preconceitos e respeitos inúteis, o coração livre de vaidades, incorruptível e intemerato”.
       É possível encontrar algum ponto de contato entre esse parecer de Antero de Quental e o soneto Mais Luz!?
      O ponto de contato existe no próprio conteúdo (e não na forma). O “eu” do soneto apregoa que prefere as ideias claras e expostas à luz e o parecer do folheto diz, praticamente, a mesma coisa.

02 – Tendo em vista as características da poesia romântica ou até mesmo comparado poemas românticos presentes neste livro, faça um pequeno painel comparativo a partir do soneto Mais Luz!
      A poesia romântica está voltada para a melancolia, para a hora noturna, para o amor impossível, preza a lua, as horas sombrias, a solidão. O soneto Mais Luz! está pregando exatamente o contrário de “hora romântica”. Abomina a escuridão, as viagens impossíveis, a magia da lua. Prefere o dia claro e as ideias expostas.

03 – Considere a seguinte afirmativa a respeito da poesia de Antero de Quental:
        “Nas poesias de combate às Odes modernas há poemas bastante contraditórios, onde é substituída uma visão cristã do mundo por uma religiosidade panteísta, isto é, uma religiosidade que vê Deus em toda parte, que o identifica com o mundo concreto”.
Discuta com seus colegas a respeito. Procure checar se há pontos de contato entre essa afirmativa e o soneto A um crucifixo.
      Resposta pessoal do aluno.

04 – De acordo com o soneto, qual o significado das palavras abaixo:
·        Crapuloso: libertino, devasso.
·        Inextinguível: que não pode desaparecer, que não pode esgotar-se, acabar.

05 – Que expressões presentes na 1ª estrofe evocam os poetas românticos?
      As expressões que evocam os poetas românticos são: os magros crapulosos, os que sonham com virgens impossíveis, os que se inclinam à borda dos abismos silenciosos.

06 – Por que os adjetivos “mudos e impassíveis”, utilizados para evocar os poetas românticos do spleen, podem ser considerados depreciativos perante a concepção da literatura como meio de transformação da sociedade, que caracteriza o Realismo?
      Porque esses adjetivos parecem se referir à desistência dos românticos de participar da realidade, refugiando-se em seus sonhos e fantasias.

07 – Na 2ª estrofe, que pedido o sujeito lírico faz à Lua, musa inspiradora do Romantismo?
      O sujeito lírico pede à Lua que cubra, tape, torne os poetas românticos insensíveis aos vícios e sofrimentos que cultivam.

08 – Na segunda parte do soneto, que se compõe dos tercetos, predomina a defesa explícita de valores que denominaremos diurnos. Transcreva o verso dessa parte que faz a apologia desses valores.
      O verso é aquele com o qual o poema termina: “O claro Sol, amigo dos heróis!”.

09 – As duas imagens presentes no poema – a Lua e o Sol – constituem metáforas das posturas romântica e realista, que denominamos noturna e diurna. Na sua opinião, que traços fundamentais de ambos os estilos podemos identificar com as imagens da Lua e do Sol, da noite e do dia?
      Os traços do romantismo que podemos identificar com a imagem da Lua são a sensibilidade, a emoção, o cultivo dos sentimentos e dos sonhos. Já os traços realistas identificáveis com a imagem do Sol são a racionalidade, a objetividade, a realidade do trabalho e do cotidiano.

10 – Considerando que o soneto defende as ideias realistas em detrimento das românticas, interprete com suas próprias palavras o título “Mais luz!”

      Resposta pessoal do aluno.