Poema: O guardador de rebanhos – Fragmento II e IX
             Alberto Caeiro
II – O Meu
Olhar 
O meu olhar é nítido como um
girassol. 
Tenho o costume de andar pelas
estradas 
Olhando para a direita e para
a esquerda, 
E de vez em quando olhando
para trás... 
E o que vejo a cada momento 
É aquilo que nunca antes eu
tinha visto, 
E eu sei dar por isso muito
bem... 
Sei ter o pasmo essencial 
Que tem uma criança se, ao
nascer, 
Reparasse que nascera
deveras... 
Sinto-me nascido a cada
momento 
Para a eterna novidade do
Mundo... 
 Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6567uAhJ30lNQWwqxMKzcxayIvThpJ8wSD8XhKpxE61m_kFwJtHvJ-_vtTyUz5BkH7VCwxrYnAaUywxM7L21ztdMVzd8Y17MGePTQT-8txqNNAbFbCYRk1ipLW3gtSvDLDCw8S9CH2Q4S90_FLobRKpmIXbKcTJJoSzfILO-GQrkuKNRbraf_Z8yrQW0/s1600/Olhar-Girassol.jpg
Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6567uAhJ30lNQWwqxMKzcxayIvThpJ8wSD8XhKpxE61m_kFwJtHvJ-_vtTyUz5BkH7VCwxrYnAaUywxM7L21ztdMVzd8Y17MGePTQT-8txqNNAbFbCYRk1ipLW3gtSvDLDCw8S9CH2Q4S90_FLobRKpmIXbKcTJJoSzfILO-GQrkuKNRbraf_Z8yrQW0/s1600/Olhar-Girassol.jpgCreio no mundo como num
malmequer, 
Porque o vejo. Mas não penso
nele 
Porque pensar é não
compreender ... 
O Mundo não se fez para
pensarmos nele 
(Pensar é estar doente dos
olhos) 
Mas para olharmos para ele e
estarmos de acordo... 
Eu não tenho filosofia: tenho
sentidos... 
Se falo na Natureza não é
porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por
isso, 
Porque quem ama nunca sabe o
que ama 
Nem sabe por que ama, nem o
que é amar ... 
Amar é a eterna inocência, 
E a única inocência não
pensar...
IX – Sou um
guardador de rebanhos
Sou um guardador de rebanhos. 
O rebanho é os meus
pensamentos 
E os meus pensamentos são
todos sensações. 
Penso com os olhos e com os
ouvidos 
E com as mãos e os pés 
E com o nariz e a boca. 
Pensar uma flor é vê-la e
cheirá-la 
E comer um fruto é saber-lhe o
sentido. 
Por isso quando num dia de
calor 
Me sinto triste de gozá-lo
tanto. 
E me deito ao comprido na
erva, 
E fecho os olhos quentes, 
Sinto todo o meu corpo deitado
na realidade, 
Sei a verdade e sou feliz.
Entendendo o poema:
01
– Qual a principal característica do olhar do eu lírico?
      O olhar do eu
lírico é nítido, inocente e presente no momento. Ele se compara a um girassol,
sempre voltado para a luz, e tem a capacidade de ver o mundo com a mesma
maravilha de uma criança.
02
– Qual a relação entre o olhar e o pensar para o eu lírico?
      Para o eu lírico,
pensar é uma atividade que distancia o indivíduo da experiência direta do
mundo. Ele prefere olhar e sentir, pois acredita que o pensamento pode nublar a
percepção da realidade.
03
– Qual a importância da natureza para o eu lírico?
      A natureza é a
fonte de toda a sua sabedoria e alegria. Ele se conecta com ela através dos
sentidos, encontrando na simplicidade das coisas a maior complexidade.
04
– O que significa "amar é a eterna inocência" para o eu lírico?
      Amar, para o eu
lírico, é uma experiência pura e livre de julgamentos. É aceitar o mundo como
ele é, sem questionamentos, com a mesma inocência de uma criança.
05
– Qual a metáfora central deste fragmento?
      A metáfora central é a
comparação entre os pensamentos do eu lírico e um rebanho. Seus pensamentos são
como ovelhas que ele guia, e cada sensação é uma ovelha individual.
06
– Como o eu lírico pensa?
      O eu lírico pensa
com todos os seus sentidos. Para ele, pensar é uma experiência sensorial e não
uma atividade puramente intelectual.
07
– Qual a relação entre o corpo e a mente no pensamento do eu lírico?
      Corpo e mente são
inseparáveis para o eu lírico. Ele pensa com o corpo inteiro, e suas sensações
são a base de seu conhecimento.
08
– Qual o estado de felicidade alcançado pelo eu lírico?
      A felicidade do eu lírico
surge da conexão profunda com a realidade. Ao se deitar na grama e sentir seu
corpo, ele experimenta uma sensação de plenitude e verdade.
09
– Qual a crítica implícita à forma tradicional de pensar?
      O eu lírico critica o pensamento racional e abstrato, que o
afasta da experiência concreta do mundo. Ele defende uma forma de conhecimento
mais intuitiva e sensorial.
10
– Qual a principal característica do eu lírico presente em ambos os fragmentos?
      A principal
característica é a sua capacidade de maravilhamento diante do mundo. Ele vê a
vida com olhos de criança, apreciando a simplicidade e a beleza das coisas.
