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quinta-feira, 3 de julho de 2025

CRÔNICA: MAGIA E MILAGRE DA PALAVRA - FREI BETTO - COM GABARITO

 Crônica: Magia e milagre da palavra

        As palavras pesam. Talvez porque sejam a mais genuína invenção humana. Os papagaios não falam, apenas repetem. Não escapam de seus limites atávicos. Curioso é organismo humano não possuir um órgão específico da fala. O olho é a fonte da visão, como o ouvido, da audição. A língua facilita a deglutição, como a traqueia, a respiração. No entanto, a ânsia de expressar-se levou o ser humano a conjugar mente e boca, órgão da respiração e da deglutição, para proferir palavras.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUonCbrPkr4W_Bt9diBFddVtuOI8bhLNuUAB1EutnCWxatBcWmsfl837oIlPheXqMUBs2890RqbEzQ7ZLHV0YdfeQmGK86t0XcnpvpaWv8DhR-gf8WaIS6nb34jGKEqEHFWczunPPxQQam9vYIMyhVZg2_D-zT_criyrqjEoGQRWUwb6bnEQVqpa2wsKs/s320/maxresdefault.jpg


        "No princípio era o Verbo", reza o prólogo do evangelho de João. Deus é Palavra e, em Jesus, ela se faz carne. O mundo foi criado porque foi proferido: "E Deus disse: 'Haja a luz' e houve luz", conta o autor do Gênesis.

        Vivemos sob o signo da palavra. Unir palavra e corpo é o mais profundo desafio a quem busca coerência na vida. Há políticos e religiosos que primam pela abissal distância entre o que dizem e o que fazem. E há os que falam pelo que fazem.

        A palavra fere, machuca, dói. Proferida no calor aquecido por mágoas ou ira, penetra como flecha envenenada. Obscurece a vista e instaura solidão. Perdura no sentimento dilacerado e reboa, por um tempo que parece infinito, na mente atordoada pelo jugo que se impõe. Só o coração compassivo, o movimento anagógico e a meditação livram a mente de rancores e imunizam-nos da palavra maldita.

        Machado de Assis ensina que as palavras têm sexo, amam-se umas às outras, casam-se. O casamento delas é o que se chama estilo.

        A palavra salva. Uma expressão de carinho, alegria, acolhimento ou amor, é como brisa suave que ativa nossas melhores energias. Somos convocados à reciprocidade. Essa força ressurrecional da palavra é tão miraculosa que, por vezes, a tememos. Orgulhosos, sonegamos afeto; avarentos, engolimos a expressão de ternura que traria luz; mesquinhos, calamos o júbilo, como se deflagrar vida merecesse um alto preço que o outro, a nosso parco juízo, não é capaz de pagar. Assim, fazemos da palavra, que é gratuita, mercadoria pesada na balança dos sentimentos.

        Vivemos cercados de palavras vãs, condenados a uma civilização que teme o silêncio. Fala-se muito para dizer bem pouco. Nas músicas juvenis abundam palavras e carecem melodias. Jornais, revistas, tevê, outdoors, telefone, correio eletrônico – há demasiado palavrório. E sabemos todos que não se dá valor ao que se abusa.

        Carecemos de poesia. O poeta é um entusiasmado, no sentido grego de en + theós = com um deus dentro. Como sublinha Platão no lon, nele fala a divindade, o Outro. Em linguagem psicanalítica, fala o inconsciente. Como Orfeu, o poeta desce à noite dos infernos para recuperar Eurípides, o fantasma do desejo.

        Nossa lógica cartesiana faz do palavrório uma defesa contra o paradoxo. No entanto, sem paradoxo não há arte. O belo é irredutível à palavra, mas só a palavra expressa a estética. O silêncio não é o contrário da palavra. É a matriz. Talhada pelo silêncio, mais significado ela possui. O tagarela cansa os ouvidos alheios porque seu matraquear de frases ecoa sem consistência. Já o sábio pronuncia a palavra como fonte de água viva. Ele não fala pela boca, e sim do mais profundo de si mesmo.

        Há demasiado ruído em nós e em torno de nós. Tudo de tal modo se fragmenta que até a hermenêutica se cala. Hermes, o deus mensageiro, já não nos revela o sentido das coisas, mormente das palavras, que se multiplicam como vírus que esgarça o tecido e introduz a morte.

        Guimarães Rosa inicia Grandes sertões, veredas com uma palavra insólita: "Nonada". Não nada. Não, nada. Convite ao silêncio, à contemplação, à mente centrada no vazio, à alma despida de fantasias.

        Sabem os místicos que, sem dizer "não" e almejar o Nada, é impossível ouvir, no segredo do coração, a palavra de Deus que, neles, se faz Sim e Tudo, expressão amorosa e ressonância criativa.

Frei Betto.

Fonte: Letra e Vida. Programa de Formação de Professores Alfabetizadores – Coletânea de textos – Módulo 3 – CENP - São Paulo – 2005. p. 24-25.

Entendendo a crônica:

01 – Por que o autor afirma que "as palavras pesam" e qual a sua principal distinção em relação à comunicação animal?

      O autor afirma que "as palavras pesam" porque são a mais genuína invenção humana, distinguindo-nos dos animais. Enquanto papagaios apenas repetem sons e não escapam de seus limites atávicos, os humanos conjugam mente e boca para proferir palavras, revelando uma capacidade de expressão única e complexa que lhes confere peso e significado.

02 – Como o texto relaciona a palavra com a criação divina e a coerência humana?

      O texto relaciona a palavra com a criação divina ao citar "No princípio era o Verbo" e "E Deus disse: 'Haja a luz' e houve luz", indicando que a palavra divina tem poder criador. Para os humanos, a crônica destaca que unir palavra e corpo (fala e ação) é o maior desafio para alcançar a coerência na vida, contrastando com aqueles que demonstram uma "abissal distância" entre o que dizem e o que fazem.

03 – De que forma as palavras podem ferir e qual o caminho para superar esses impactos negativos?

      As palavras podem ferir profundamente, "machucando" e "doendo" como "flechas envenenadas" quando proferidas com mágoa ou ira, instaurando solidão e perdurando na mente com rancor. O caminho para superar esses impactos, segundo o autor, é o coração compassivo, o "movimento anagógico" (ascensão espiritual) e a meditação, que livram a mente de rancores e imunizam contra a "palavra maldita".

04 – Qual a "força ressurrecional" da palavra, segundo o autor, e por que, paradoxalmente, a tememos?

      A "força ressurrecional" da palavra reside em sua capacidade de salvar, acolher e ativar "nossas melhores energias" com expressões de carinho, alegria ou amor, promovendo a reciprocidade. Paradoxalmente, a tememos por orgulho, avareza ou mesquinhez, sonegando afeto e engolindo ternura, como se a palavra, que é gratuita, fosse uma "mercadoria pesada na balança dos sentimentos".

05 – Qual a crítica do autor à "civilização que teme o silêncio" e ao excesso de "palavrório"?

      O autor critica a civilização contemporânea que "teme o silêncio" e está condenada ao excesso de "palavrório", onde se fala muito para dizer pouco. Ele exemplifica isso com músicas juvenis sem melodia, e a superabundância de informações em mídias, concluindo que o valor é perdido quando há abuso, gerando um ambiente de "ruído" constante.

06 – Como a crônica diferencia o "tagarela" do "sábio" no uso da palavra, e qual o papel do silêncio nesse contexto?

      O tagarela "cansa os ouvidos alheios" com seu "matraquear de frases" que ecoam "sem consistência". O sábio, por outro lado, "pronuncia a palavra como fonte de água viva", falando "do mais profundo de si mesmo". O silêncio é apresentado não como o contrário da palavra, mas como sua matriz, sugerindo que a palavra "talhada pelo silêncio" possui mais significado e consistência.

07 – Qual o significado da referência a Guimarães Rosa e a palavra "Nonada" no final da crônica?

      A referência a Guimarães Rosa e a palavra "Nonada" ("Não nada. Não, nada.") em "Grandes sertões, veredas" serve como um convite ao silêncio, à contemplação e à mente centrada no vazio. Isso é uma metáfora para a busca mística do "Nada" (o "não" às fantasias e distrações) para, então, ouvir a "palavra de Deus" que se faz "Sim e Tudo" no segredo do coração, alcançando uma "expressão amorosa e ressonância criativa".

 

CRÔNICA: PAULO FREIRE: A LEITURA DO MUNDO - FREI BETTO - COM GABARITO

 Crônica: Paulo Freire: a leitura do mundo

        "Ivo viu a uva", ensinavam os manuais de alfabetização. Mas o professor Paulo Freire, com o seu método de alfabetizar conscientizando, fez adultos e crianças, no Brasil e na Guiné-Bissau, na Índia e na Nicarágua, descobrirem que Ivo não viu apenas com os olhos. Viu também com a mente e se perguntou se uva é natureza ou cultura.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNfaafAvgrZ1TE7bkpSqoqKgWY32FgzGX4vYXC5awtNaG_3nNruW6DEjAl8gZ40Q_t2a31hhzMwEQSFUjbRC_JAh-8Q9psA3Gp8mPgCxdWrmBDfKppmeCJyd0x8eh-5jYXivsedZIdfPYCho5lOOpkij2ftTDiLjVeizJ9QOAIoxsl1txzbp3ooNJ9Tf4/s320/as-contribuicoes-de-paulo-freire-para-a-alfabetizacao-de-adultos.jpg


        Ivo viu que a fruta não resulta do trabalho humano. É Criação, é natureza. Paulo Freire ensinou a Ivo que semear uva é ação humana na e sobre a natureza. É a mão, multiferramenta, despertando as potencialidades do fruto. Assim como o próprio ser humano foi semeado pela natureza em anos e anos de evolução do Cosmo. Colher a uva, esmagá-la e transformá-la em vinho é cultura, assinalou Paulo Freire. O trabalho humaniza a natureza e, ao realizá-lo, o homem e a mulher se humanizam. Trabalho que instaura o nó de relações, a vida social. Graças ao professor, que iniciou sua pedagogia revolucionária com operários do Senai de Pernambuco, Ivo viu também que a uva é colhida por bóias-frias, que ganham pouco, e comercializada por atravessadores, que ganham melhor.

        Ivo aprendeu com Paulo que, mesmo sem ainda saber ler, ele não é uma pessoa ignorante. Antes de aprender as letras, Ivo sabia erguer uma casa, tijolo a tijolo. O médico, o advogado ou o dentista, com todo o seu estudo, não era capaz de construir como Ivo. Paulo Freire ensinou a Ivo que não existe ninguém mais culto do que o outro, existem culturas paralelas, distintas, que se complementam na vida social. Ivo viu a uva e Paulo Freire mostrou-lhe os cachos, a parreira, a plantação inteira. Ensinou a Ivo que a leitura de um texto é tanto melhor compreendida quanto mais se insere o texto no contexto do autor e do leitor. É dessa relação dialógica entre texto e contexto que Ivo extrai o pretexto para agir. No início e no fim do aprendizado é a práxis de Ivo que importa. Práxis-teoria-práxis, num processo indutivo que torna o educando sujeito histórico.

        Ivo viu a uva e não viu a ave que, de cima, enxerga a parreira e não vê a uva. O que Ivo vê é diferente do que vê a ave. Assim, Paulo Freire ensinou a Ivo um princípio fundamental da epistemologia: a cabeça pesa onde os pés pisam. O mundo desigual pode ser lido pela ótica do opressor ou pela ótica do oprimido. Resulta uma leitura tão diferente uma da outra como entre a visão de Ptolomeu, ao observar o sistema solar com os pés na Terra, e a de Copérnico, ao imaginar-se com os pés no Sol.

        Agora Ivo vê a uva, a parreira e todas as relações sociais que fazem do fruto festa no cálice de vinho, mas já não vê Paulo Freire, que mergulhou no Amor na manhã de 2 de maio. Deixa-nos uma obra inestimável e um testemunho admirável de competência e coerência. Paulo deveria estar em Cuba, onde receberia o título de doutor honoris causa da Universidade de Havana. Ao sentir dolorido seu coração que tanto amou, pediu que eu fosse representá-lo. De passagem marcada para Israel, não me foi possível atendê-lo. Contudo, antes de embarcar, fui rezar com Nita, sua mulher, e os filhos, em torno de seu semblante tranquilo: Paulo via Deus.

Frei Betto.

Fonte: Letra e Vida. Programa de Formação de Professores Alfabetizadores – Coletânea de textos – Módulo 3 – CENP - São Paulo – 2005. p. 23-24.

Entendendo a crônica:

01 – Qual a principal diferença entre o método tradicional de alfabetização ("Ivo viu a uva") e a pedagogia de Paulo Freire?

      A principal diferença é que, enquanto o método tradicional foca apenas no reconhecimento das letras e palavras, a pedagogia de Paulo Freire vai além, promovendo a conscientização e a "leitura do mundo". Freire ensinava Ivo a não apenas ver, mas a compreender criticamente as relações sociais e os contextos por trás da palavra.

02 – Como Paulo Freire utiliza o exemplo da "uva" para ensinar sobre a distinção entre natureza e cultura, e o papel do trabalho humano?

      Paulo Freire explica que a uva, em si, é natureza (Criação). No entanto, o trabalho humano de semear, colher, esmagar e transformar a uva em vinho representa a cultura. Esse processo demonstra como o trabalho humaniza a natureza e, ao mesmo tempo, humaniza o homem e a mulher, criando relações sociais.

03 – De que forma Paulo Freire desmistifica a ideia de "ignorância" em relação a pessoas que não sabem ler?

      Paulo Freire ensinou a Ivo que, mesmo sem saber ler, ele não era uma pessoa ignorante, pois possuía outros saberes, como o de erguer uma casa, tijolo a tijolo. Ele defendia que não existe ninguém mais culto do que o outro, mas sim "culturas paralelas, distintas, que se complementam na vida social", valorizando o conhecimento prático e contextual.

04 – Qual o conceito de "práxis" e sua importância no aprendizado, segundo a crônica?

      A "práxis" é a ação com reflexão (práxis-teoria-práxis), um processo indutivo que torna o educando um sujeito histórico. Na crônica, isso significa que a leitura de um texto se torna mais bem compreendida quando o leitor insere o texto no contexto do autor e no seu próprio, extraindo daí o "pretexto para agir", ou seja, para transformar sua realidade.

05 – O que o princípio epistemológico "a cabeça pesa onde os pés pisam" significa no contexto da leitura do mundo?

      Esse princípio significa que a percepção e a compreensão do mundo são influenciadas pela posição e experiência de cada indivíduo. A crônica exemplifica isso comparando a visão da uva por Ivo (que tem os pés no chão da realidade social) com a visão da ave (distanciada), ou a ótica do opressor e do oprimido, e até mesmo as visões de Ptolomeu e Copérnico sobre o sistema solar.

06 – Qual o significado do último parágrafo da crônica, que aborda o falecimento de Paulo Freire?

      O último parágrafo marca a perda física de Paulo Freire, mas também a permanência de seu legado. A menção à sua ida para o "Amor" e a uma "obra inestimável" ressalta a profundidade de sua filosofia e a coerência de sua vida. O fato de ele ter um convite para receber um título honoris causa em Cuba no dia de sua morte, e sua visão de Deus, reforçam a magnitude e a espiritualidade de sua figura.

07 – A crônica utiliza a repetição de "Ivo viu a uva" de forma proposital. Qual o efeito dessa repetição no texto?

      A repetição da frase "Ivo viu a uva" serve como um ponto de partida e um contraponto constante. Inicialmente, ela representa o ensino mecânico da alfabetização. Ao longo da crônica, a frase é retomada para mostrar as camadas de significado e conscientização que Paulo Freire adicionou a essa simples leitura, transformando-a em uma profunda análise da realidade social, cultural e epistemológica.

 

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

TEXTO: A CRISE DA RACIONALIDADE E A EMERGÊNCIA DO ESPIRITUAL - (FRAGMENTO) - FREI BETTO - COM GABARITO

 Texto: A crise da racionalidade e a emergência do espiritual – Fragmento

           Frei Betto

        Nos últimos anos tem havido uma emergência da mística no âmbito internacional. No Brasil, além do êxito dos livros de Paulo Coelho, nas últimas bienais (Rio de Janeiro e São Paulo) os livros mais procurados e vendidos, junto com os infantis, foram os esotéricos, aí incluídos os de espiritualidade.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhp-xc0K47-mExa98hbuMna0-wToqsC3ZTtVaUYnl_pP6evGcAO5S_VlPAphv4gyI2c4DlYdelMVcLvtIvVtTlQ-TfF2I8r_iNdUxCiRG7oX6GJUdpUKJE1vxB7zxczOz41shH_QThQAHhAMcRnv_DCi5kauu8RCwyknBcWJdJui16l4j85Ic2fgXMURio/s320/EMERGENCIAL.jpg


        A espiritualidade é uma experiência mística, mistérica, que adquire uma conotação normativa na nossa vida. A mística é experiência fundante no ser humano desde que ele existe na face da terra, mas há diferentes espiritualidades e diferentes modos de vivenciá-las. Na tradição cristã, são bem acentuadas as diferentes espiritualidades: beneditina, dominicana, jesuítica, franciscana.

        Quais as razões dessa emergência da mística e da espiritualidade, hoje?

        A primeira é a crise da racionalidade moderna, ou seja, da nossa maneira de entender o mundo, muito tributária da filosofia de Descartes e da física de Newton. A realidade não é mais perceptível de um modo global. Não podemos mais falar em tratados, em suma teológica ou mesmo em enciclopédia. Toda nossa percepção do real é fragmentada e fragmentária. A resposta à pergunta “o que é a verdade?” nenhum de nós, individualmente, é capaz de dar, e talvez o silêncio de Jesus tenha sido porque a Verdade não poderia ser definida em palavras.

        (...)

Fonte: Português – José De Nicola – Ensino médio – Volume 1 – 1ª edição, São Paulo, 2009. Editora Scipione. p. 167-168.

Entendendo o texto:

01 – Qual a principal observação de Frei Betto sobre a espiritualidade nos últimos anos?

      Frei Betto observa um crescente interesse e busca pela espiritualidade nas últimas décadas, tanto no Brasil quanto no mundo, manifestando-se através da popularidade de livros e práticas esotéricas.

02 – Por que a espiritualidade é considerada uma experiência fundante no ser humano?

      A espiritualidade é considerada uma experiência fundante porque faz parte da natureza humana desde os primórdios, sendo uma busca intrínseca por significado, propósito e conexão com algo maior do que si mesmo.

03 – Qual a relação entre a crise da racionalidade moderna e a emergência da espiritualidade?

      A crise da racionalidade moderna, caracterizada pela fragmentação do conhecimento e pela dificuldade em encontrar respostas definitivas para grandes questões, leva as pessoas a buscarem respostas em outras esferas, como a espiritualidade, que oferece um sentido de completude e conexão.

04 – Como a tradição cristã aborda a diversidade de espiritualidades?

      A tradição cristã reconhece a diversidade de espiritualidades, como demonstra a existência de diferentes ordens religiosas (beneditina, dominicana, jesuítica, franciscana), cada uma com suas próprias características e enfoques espirituais.

05 – Qual a importância do silêncio de Jesus na reflexão de Frei Betto sobre a verdade?

      O silêncio de Jesus é interpretado por Frei Betto como uma indicação de que a verdade é algo complexo e difícil de ser expresso em palavras. Essa ideia reforça a noção de que a espiritualidade é uma experiência pessoal e subjetiva, que transcende as explicações racionais.

 

sábado, 6 de julho de 2024

AUTOBIOGRAFIA: "O ARCO-ÍRIS" - FREI BETTO - COM GABARITO

 Autobiografia: O ARCO-ÍRIS”

                        Frei Betto.

        Debruçado no chão, abri o álbum de desenhos vazados que ganhara de aniversário, derramei em volta a caixa de lápis de cor e, em fúria policrômica, preenchi de cores que sugeriam bichos, nuvens, semáforos e paisagens campestres. As cores fortes, como o vermelho e o roxo, expressavam com maior nitidez a ênfase criativa que me inundava o peito. Rompi os limites das gravuras e aqueles que a própria natureza impôs à sua harmonia, pintando as montanhas de violeta e as estradas de azul.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirz6EUDUXq6vzUGnrN6u68tEKNOM_bimueDN2DDXSH4jWxy3mvUiPjhCNPqPUqW448SGoX6ve5pEG_NbBAhbsvee1WbLSs47RJJxoBtrq99nhG80jx06PXSit2ylJmZudYRgn6gwZAkFNzyGsx1QkreZUKO3Gx0hoHxlquvdqjBAAo-y2nCgWdoDKs2Qc/s320/freibetto12.jpg

        Findo o álbum, peguei folhas de rascunho na escrivaninha do papai, deitei-me na copa e, absorto, entreguei-me ao delírio, traçando arcos e linhas, curvas e hipérboles, círculos e triângulos, retorcendo a geometria e enlouquecendo o próprio Euclides, caso visse aquilo.

        Desenhar eu nunca soube. Jamais tive o domínio da forma das mãos. Nem o olho da perspectiva. Em compensação, o mundo coloria-se através dos meus dedos, que subvertiam a estética divina, pintando as árvores de vermelho, o oceano de amarelo, o céu de marrom, o sol de azul. Enchia folhas e folhas com linhas esdrúxulas, perfis surreais, astros impressionistas, cujos significados só existiam em meu espírito.

        Reproduzi o arco-íris que coroava os céus de Belo Horizonte na época das chuvas, mapeando tesouros inidentificáveis. Estiquei paralelamente os traços de cores variadas, até gastar a ponta dos lápis. Não coube nas folhas espalhadas pelo chão da copa. Prossegui sobre o piso de cerâmica e subi parede afora. Todos os tons de minha caixa estavam representados naquele borrão forte, espectro de serpente alada.

        Mamãe deu um suspiro ao entrar na copa. Por um momento, acometeu-me a dúvida se de admiração ou indignação recobrada a fala, deserdou-me em zangas. Correu a molhar o pano na torneira da pia e obrigou-me a limpar a parede e o chão. Fiquei inconsolável. Aquilo era uma obra de arte, que me exigira esforço e criatividade. Só não merecia reconhecimento porque eu era criança. 

        Ao preparar-me para limpar “essa sujeirada”, como exclamou minha mãe, adentrou meu pai, vindo do trabalho. Espantou-se ao ver o filho, sob o olhar severo da mulher, esfregando na parede o pano de chão. Meteu-se em nossa discussão, inteirou-se do motivo, contemplou o que restava do meu arco-íris. 

        -- Uma beleza, meu filho! – reconheceu para desagrado de minha mãe. – Vamos deixar aí para que todos possam apreciar.

        Irritada, minha mãe bateu boca com meu pai sobre o modo de educar os filhos. (Teria gostado que me consultassem, mas isso estava fora de cogitação, uma vez que todos os adultos se julgam mais sábios que as crianças). Contudo, enchi-me de orgulho com o arco-íris exposto na copa.

        Cecília, minha mãe, também olhou e, virando o rosto, encaretou-se, como quem se depara com uma porcaria. Não me importei, sabia que as mulheres nada entendiam de obra de arte. Nunca ouvira papai citar uma mulher artista. Ele só falava em pintores: Di Cavalcanti, Portinari, Marcier, Guignard, Segall, Velázquez, Cézanne, Matisse, Van Gogh e outros.

        Meu pai levou-me, um par de dias depois, a uma galeria de arte. Um amigo dele expunha pinturas abstratas. Vi lá borrões muito piores do que os meus. Mas ninguém ousou pedir ao artista que apagasse aquilo. Pelo contrário, todos o cobriam de sorrisos e cumprimentos elogiosos.

        No Natal, ganhei uma aquarela. Uma cartolina branca em forma de paleta, com um arco de botões de múltiplas cores na borda, dois pincéis finos e um copinho de cerâmica para pôr água. Revesti as paredes da garagem de obras, se perenizadas como as pinturas rupestres, possivelmente me garantiriam ao menos o reconhecimento da posteridade. Contudo, levei boas palmadas de papai quando, ao sair do banho, encontrou-me estirado em sua cama, aquarela em punho, transformando em estampado o lençol branco. Desta vez, ele concordou com o desgosto artístico de minha mãe.

FREI BETTO. Alfabeto: Autobiografia escolar. São Paulo: Ática, 2002, p. 48-50.

Entendendo a autobiografia:

01 – Qual foi a reação inicial da mãe de Frei Betto ao ver a parede e o chão da copa pintados?

      A mãe de Frei Betto ficou indignada e zangada ao ver a parede e o chão da copa pintados. Ela o obrigou a limpar tudo imediatamente.

02 – Como o pai de Frei Betto reagiu ao ver a obra de arte na copa?

      O pai de Frei Betto ficou impressionado e reconheceu a beleza da obra, decidindo deixá-la para que todos pudessem apreciar, apesar do desagrado da mãe.

03 – Quais artistas o pai de Frei Betto mencionava frequentemente?

      O pai de Frei Betto mencionava frequentemente artistas como Di Cavalcanti, Portinari, Marcier, Guignard, Segall, Velázquez, Cézanne, Matisse e Van Gogh.

04 – Como Frei Betto se sentiu quando sua mãe pediu para ele limpar a parede e o chão?

      Frei Betto ficou inconsolável, pois considerava sua obra uma verdadeira arte que exigira muito esforço e criatividade.

05 – Qual presente Frei Betto recebeu no Natal e como ele o usou?

      No Natal, Frei Betto recebeu uma aquarela. Ele usou a aquarela para revestir as paredes da garagem com suas obras de arte.

06 – Qual foi a reação do pai de Frei Betto quando encontrou a cama pintada?

      O pai de Frei Betto ficou zangado e concordou com o desgosto artístico da mãe, dando-lhe boas palmadas.

07 – O que motivava a criatividade de Frei Betto ao pintar?

      Frei Betto era movido por uma fúria policrômica e uma ênfase criativa que inundava seu peito, levando-o a preencher os desenhos com cores intensas e subverter a estética convencional.

08 – Como Frei Betto via suas próprias habilidades de desenho?

      Frei Betto reconhecia que não sabia desenhar bem, mas compensava isso com sua habilidade de colorir o mundo através de seus dedos de forma criativa e subversiva.

09 – Como Frei Betto percebia a arte das mulheres em comparação com a dos homens?

      Frei Betto percebia que as mulheres não eram reconhecidas como artistas, já que nunca ouvira seu pai mencionar uma mulher artista, e isso influenciava sua visão de que as mulheres não entendiam de arte.

10 – Qual foi a experiência de Frei Betto ao visitar uma galeria de arte com seu pai?

      Ao visitar uma galeria de arte com seu pai, Frei Betto viu pinturas abstratas que considerava piores que as suas, mas percebeu que essas obras eram elogiadas e reconhecidas, ao contrário das suas.

 

domingo, 5 de novembro de 2023

TEXTO: FAZER RENASCER O NATAL - FREI BETTO - COM GABARITO

 Texto: Fazer renascer o Natal

           Frei Betto

        Abaixo Papai Noel! Viva o menino Jesus!

        O melhor da festa é esperar por ela, diz o provérbio. O melhor do Natal é ter passado por ele, sentem muitos sem dizer.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIvoxc72kBmafdBhRAsKLnJSUJCUnsCgbdfElFPOV9qU2qIaVJDrH3-y3MtGAjCmZp4-QOwSbVFlr_ZeLMBu-COxvXxMVtL3snG5q2NBEqTzHia7X2nvgCSWSzAvZ1pOMCYOlOmfaSLCAxbgM5xXTpNRfC7mEqW0DopGsacC8lC1FAf5o-bO80dL4DauE/s320/NATAL.png


        É insuportável a fissura desencadeada pelas festas de fim de ano. O consumo compulsório de produtos, o apetite compulsivo de comilanças, a máscara da alegria estampada no rosto para encobrir o bolso furado, a corrida aos espaços de lazer, as estradas engarrafadas, as filas intermináveis nos supermercados, os sinos de papel envoltos nas fitas vermelhas dos shopping centers, aquela mesma musiquinha marota, tudo satura o espírito.

        Seria esse anti-clima um castigo divino à nossa reverência pagã à figura de Papai Noel?

        Natal é pouco verso e muito reverso. Em pleno trópico, nosso mimetismo enfeita de neve de algodão a árvore de luzinhas intermitentes. O estômago devora castanhas, nozes, avelãs e amêndoas, quando a saúde pede saladas e legumes.

        Já que o espírito arde de sede daquela Água Viva do poço de Jacó (João 4), afoga-se o corpo em álcool e gorduras. A gula de Deus busca, em vão, saciar-se no ato de se empanturrar à mesa.

        Talvez seja no Natal que nossas carências fiquem mais expostas. Damos presentes sem nos dar, recebemos sem acolher, brindamos sem perdoar, abraçamos sem afeto, damos à mercadoria um valor que nem sempre reconhecemos nas pessoas. No íntimo, estamos inclinados à simplicidade da manjedoura. O mal-estar decorre do fato de nos sentirmos mais próximos dos salões de Herodes.

        (...)

        Mudemos nós e o Natal. Abaixo Papai Noel, viva o Menino Jesus! Em vez de presentes, presença – junto à família, aos que sofrem, aos enfermos, aos soropositivos, aos presos, às famílias das vítimas de crimes, às crianças de rua, aos dependentes de droga, aos deficientes físicos e mentais, aos excluídos.

        Façamos da ceia cesta a quem padece fome e do abraço laço de solidariedade a quem clama por justiça. Instalemos o presépio no próprio coração e deixemos germinar, Aquele que se fez pão e vinho para que todos tenham vida com fartura e alegria.

        Abandonemos a um canto a árvore morta coberta de lantejoulas e plantemos no fundo da alma uma oração que sacie nossa fome de transcendência.

        Deixemo-nos, como Maria, engravidar pelo Espírito de Deus. Então, algo de misteriosamente novo haverá de nascer em nossas vidas.

FREI BETO. Fazer renascer o Natal – Abaixo Papai Noel! Viva o menino Jesus! Caros Amigos. 20, novembro de 1998.

Entendendo o texto:

01 – Qual é a crítica principal do autor em relação ao Natal?

      O autor critica a ênfase excessiva no consumo, na comida, no materialismo e na superficialidade das festas de Natal.

02 – Segundo o autor, qual é o problema com a figura de Papai Noel?

      O autor sugere que a reverência pagã a Papai Noel pode contribuir para o anti-clima do Natal, desviando o foco do verdadeiro significado da festa.

03 – Como o autor descreve a forma como o Natal é celebrado no contexto tropical?

      O autor menciona que, apesar de estar em um clima tropical, as pessoas muitas vezes tentam imitar tradições de inverno, como a neve de algodão e alimentos pesados, em vez de adotar uma celebração mais apropriada ao clima quente.

04 – Qual é a crítica do autor em relação ao comportamento das pessoas durante o Natal?

      O autor critica a tendência das pessoas a dar presentes sem verdadeira generosidade, abraçar sem afeto real e valorizar mercadorias em detrimento das pessoas.

05 – O que o autor sugere como uma alternativa para celebrar o Natal de forma mais significativa?

      O autor sugere que as pessoas devem abandonar o materialismo e se concentrar em dar presença em vez de presentes. Ele também incentiva a solidariedade e a empatia, especialmente em relação aos menos favorecidos.

06 – Como o autor descreve a transformação desejada para o Natal?

      O autor deseja que as pessoas internalizem o verdadeiro espírito do Natal, focando na simplicidade, na solidariedade e no crescimento espiritual em vez de enfeites e festas superficiais.

07 – Qual é a metáfora utilizada pelo autor para simbolizar a transformação desejada no Natal?

      O autor usa a metáfora da gravidez espiritual, comparando-a à virgindade de Maria e sugerindo que algo "misteriosamente novo" nascerá nas vidas das pessoas se elas mudarem a forma como celebram o Natal.

 




quinta-feira, 16 de abril de 2020

TEXTO: VIDA SIM, DROGAS NÃO! (FRAGMENTO) - FREI BETTO - COM GABARITO

Texto: Vida sim, drogas não! (Fragmento)
        
    Frei Betto
        (...)

    O narcotráfico movimenta por ano, no mundo, cerca de US$ 400 bilhões ­ pouco menos que o PIB brasileiro. Os cabeças escapam através da lavagem de dinheiro, do tráfico de influências, da compra de policiais, militares e juízes. Os pés-de-chinelo são caçados nas favelas, morrem crivados de balas ou padecem nas prisões.
        De 1980 a 1996, os assassinatos, no Brasil, dobraram de 13 para 25 por cada grupo de 100 mil habitantes. Entre jovens de 15 a 19 anos, o índice subiu para 44,8/100 mil. A maioria em decorrência do uso e do tráfico de drogas.
        Quem são os culpados? Todos nós somos responsáveis, até mesmo por omissão frente ao problema, e somos também vítimas (assaltos por drogados, acidentes de trânsito em consequência de bebidas, disseminação da Aids, políticos eleitos com o dinheiro do narcotráfico etc.). Inútil pensar que a questão da droga é um problema individual. É, sim, uma grave questão social.
        A droga não é causa, é efeito. Se quisermos erradicá-la, teremos de encarar de frente um desafio: a mudança da sociedade em que vivemos. Não se trata de ceder ao maniqueísmo ideológico e acreditar que o advento do socialismo porá fim ao problema. Também nas sociedades socialistas da Europa do Leste o narcotráfico atuava, como hoje opera em Cuba.
        Essa "civilização química" na qual vivemos resulta do nosso desencanto subjetivo. Uma pessoa destituída de valores espirituais ­ religião, utopia, ideologia etc. ­ tende a buscar sucedâneos que preencham o seu vazio interior. No fundo, recorre-se à droga para alterar o estado de consciência. Eis uma necessidade da qual nenhum ser pode prescindir. Ninguém aguenta ser "normal" o tempo todo.
        É uma exigência de nossa saúde espiritual cultivar a subjetividade, como o artista esteticamente febril diante de sua obra, o profissional encantado com o seu projeto, o militante guevarianamente empenhado em sua luta, a jovem apaixonada, o místico tocado pelo amor divino. São estados de plenitude e felicidade.
        Porém, não se encontram à venda na farmácia da esquina, nem merecem publicidade na mídia. Até porque são valores anticonsumistas. Quanto mais realizada uma pessoa, graças ao sentido que imprime à sua vida, menos ela sente necessidade de recursos artificiais que alteram momentaneamente o estado de consciência para, em seguida, passado o efeito, desabar no vazio de si mesmo, no abismo da própria frustração.
        Mudar a sociedade não é só transformar as suas estruturas. Isso é o prioritário: assegurar a todos alimentação, moradia, saúde e educação, trabalho, lazer e cultura, o que supõe distribuição de riqueza, partilha dos frutos do trabalho humano, soberania nacional, reforma agrária etc. Mudar a sociedade é modificar também os valores que regem a vida social. Essa revolução cultural certamente é mais difícil que a primeira, a social. Talvez por isso o socialismo tenha desabado como um castelo de cartas no Leste europeu. Saciou a fome de pão, mas não a de beleza. Erradicou-se a miséria, mas não se logrou que as pessoas cultivassem sentimentos altruístas, valores éticos, atitudes de compaixão e solidariedade. O resultado é assombroso: após 70 anos de socialismo, a Rússia hoje destaca-se pelas máfias de prostituição infantil e pela corrupção crônica em todos os escalões da sociedade.
        (...)
         FREI BETTO. In: O São Paulo. Jornal da Arquidiocese de São Paulo. 7 mar. 2001, p. 4.
Fonte: Linguagem Nova. Faraco & Moura. Editora Ática. 8ª série. p. 54-7.
Entendendo o texto:

01 – Logo no início do texto, o autor chama a atenção do leitor para um dado importante. Que dado é esse?
      A quantidade exorbitante de dinheiro movimentada pelo narcotráfico (cerca de 400 bilhões de dólares).

02 – Qual é a ideia principal desse parágrafo?
      Mostrar que as consequências são piores para os pobres que se envolvem com o narcotráfico, já que os ricos podem “comprar” a justiça.

03 – O que mostram os dados estatísticos no segundo parágrafo?
      Que a maioria dos assassinatos ocorridos entre jovens de 19 a 25 anos é decorrente do uso ou tráfico de drogas.

04 – No terceiro parágrafo, o autor apresenta seu ponto de vista sobre o problema das drogas:
a)   Como ele faz isso?
Inicialmente lança uma pergunta – “Quem são os culpados?” –, para depois responde-la.

b)   Segundo o autor, todos nós somos de algum modo responsáveis pela situação gerada pelas drogas. Explique.
Quem não toma nenhuma atitude é responsável por omissão diante do problema.

c)   Qual é a ideia principal apresentada pelo autor nesse parágrafo?
A droga é um problema social e não só individual.

05 – O que o autor quer dizer ao afirmar que o problema da droga é efeito e não causa?
      Não é a droga a responsável pelos males da sociedade, mas são os problemas sociais que acabam levando ao consumo de droga.

06 – Segundo ele, qual é a condição para se acabar com o problema da droga?
      A transformação total da sociedade.

07 – Maniqueísmo é uma doutrina segundo a qual tudo se baseia em dois princípios opostos: o bem e o mal. De acordo com uma visão maniqueísta, se o socialismo representasse o bem, qual seria o mal?
      O capitalismo.

08 – Vivemos numa sociedade capitalista. Ao propor uma transformação na nossa sociedade, o autor está propondo necessariamente o socialismo como alternativa? Explique.
      Não. Segundo ele, o problema das drogas também estava presente nas sociedades socialistas.

09 – O que o autor quer dizer com a expressão “civilização química”?
      Possivelmente quer dizer que nossa sociedade está dominada por produtos químicos, principalmente os que causam dependência.

10 – Qual é, segundo ele, a causa desse tipo de civilização?
      A falta de valores espirituais, que gera um vazio interior.

11 – Explique com suas palavras a frase: “Ninguém aguenta ser ‘normal’ o tempo todo”.
      Resposta pessoal do aluno.

12 – No sexto parágrafo, de acordo com o autor, de que maneiras podemos cultivar nossa subjetividade, isto é, cultivar nossos valores espirituais?
      Por meio de uma atividade artística, da militância política, da paixão, da fé, etc.

13 – No sétimo parágrafo:
a)   “...não se encontram à venda na farmácia da esquina...”. O que o autor quis dizer com essa frase?
Que os valores espirituais não são facilmente encontráveis.

b)   Que palavras ou expressões do 5° e do 6° parágrafos podem-se relacionar ao termo farmácia?
“Civilização química”, droga, saúde, febril.

c)   Reescreva a frase que segue, começando com a expressão “Quanto menos...”, mantendo o mesmo sentido: Quanto mais realizada é uma pessoa, menos ela sente necessidade de recursos artificiais.
Quanto menos realizada é uma pessoa, mais ela sente necessidade de recursos artificiais.

d)   “Até porque são valores anticonsumistas”. Qual é o sentido, no texto, da palavra destacada?
Que não são de consumo rápido e efeito momentâneo.

14 – Do oitavo parágrafo, transcreva os dois períodos que resumem a opinião do autor sobre o tema.
      “Mudar a sociedade não é só transformar as suas estruturas”; “Mudar a sociedade é modificar também os valores que regem a vida social”.

15 – Segundo o autor, o que é mais fácil: fazer com que a população incorpore valores anticonsumistas ou passar de um governo capitalista para um socialista?
      A segunda alternativa é a resposta.     
      


terça-feira, 24 de setembro de 2019

TEXTO: INDIGÊNCIA SEXUAL E AFETIVA - FREI BETTO - COM QUESTÕES GABARITADAS

TEXTO: Indigência Sexual e Afetiva
                              
                    Frei Betto

  A pesquisa da Unesco [Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura] sobre a sexualidade da juventude brasileira, divulgada este ano, é no mínimo preocupante. Como ressaltou Jorge Werthein, representante do organismo da ONU no Brasil, há aspectos positivos, como o repúdio à promiscuidade e a busca de mais conhecimento sobre a questão. Os jovens brasileiros tendem a iniciar a vida sexual mais cedo (entre 11 e 14 anos) e consideram desimportante a virgindade. Mas nem sempre se protegem contra as DSTs (doenças sexualmente transmissíveis) e a AIDS, e tendem a discriminar os homossexuais.
       Ano passado, acompanhei uma pesquisa realizada no Ceará. indicava o aumento da gravidez precoce e a diminuição dos casos de aborto. As meninas, com certeza induzidas por exemplos televisivos, preferem assumir a “produção independente”, ainda que isso implique riscos de abandono da escola, ingresso na prostituição e mais criança na rua. Na pesquisa da Unesco, 14,7 por cento das entrevistadas admitiram ter engravidado, pela primeira vez, entre 10 e 14 anos.
       O Unicef [Fundo das Nações Unidas] constata que a educação escolar de uma menina vale, na América Latina, em termos de efeitos sociais, pela educação de cinco meninos. Quanto mais escolaridade da mãe, menor índice de natalidade e maior o período de vida do filho. São as mães que assumem, sempre mais, a chefia da família, e são também as principais transmissoras de valores e sentidos aos filhos.
        O que me espanta é que os jovens se queixem de que têm poucas fontes de conhecimento da sexualidade. Só nas últimas décadas, as escolas começaram a introduzir o tema nas salas de aula, assim mesmo com ênfase na higiene corporal, tendo em vista as DSTs. A família, aos poucos, começa a derrubar tabus, exceto nas classes populares, onde a falta de conhecimento obriga os jovens a aprenderem “na rua”, como se dizia na minha geração. Hoje, “aprende-se”  na televisão. Primeiro, com a exacerbação do voyeurismo, tipo Big Brother. É o bordel despejado, via eletrônica, no quarto das crianças ou na sala da casa. Sem que famílias, escolas e igrejas cuidem da educação do olhar de crianças e jovens.
       Em minha adolescência, em Belo Horizonte, havia cineclubes, onde aprendíamos, nos debates após a exibição dos filmes, a distinguir obras de arte do mero entretenimento. Por que as escolas não exibem, em vídeos, clipes publicitários, trechos de filmes e telenovelas, programas humorísticos? Não há melhor caminho para despertar a consciência crítica, o discernimento, que debater em grupo as mensagens implícitas quanto, por exemplo, à dignidade da mulher num quadro de humor ou o fetiche do carro numa peça publicitária.
        Os animais têm uma sexualidade atávica, presos a seus ciclos libidinosos. Talvez essa herança instintiva, acrescida de tabus religiosos, nos impeça de falar da sexualidade com a mesma liberdade com que tratamos a geografia e a história do nosso país. E, quanto menos se fala, mais bobagem se faz. O melhor seria a televisão, com o seu poder de irradiação, entrar em detalhes a respeito de menstruação e masturbação, homossexualismo e machismo, castidade e promiscuidade. Mas nem sempre interessa tratar esses temas às claras. O tabu reforça o mistério, que excita a imaginação, que alimenta o voyeurismo, que atrai milhares de telespectadores à exibição de produtos que imprimem à sexualidade o sabor libidinoso da pornografia. Ao contrário da realidade, a fantasia não conhece limites... E dá-lhe delegacias de mulheres e a proliferação de assédios e estupros, e o preconceito aos homossexuais.
          Suponho que 99 por cento da humanidade case algum dia. Mas tenho certeza de que a grande maioria é obrigada a improvisar nessa opção tão importante. Pois, se ainda estamos nos primórdios da educação sexual, falta muito para atingirmos a idade da pedra da educação afetiva. Que eu saiba, uma única instituição se dedica a preparar noivos para o casamento – a Igreja. Fora disso, não há nenhuma didática que sistematize, para proveito alheio, a convivência conjugal, a educação dos filhos, os valores da família, as fases da sexualidade do casal, o modo de dialogar com os filhos sobre vida sexual e afetiva, o descasamento e o recasamento, o universo da homossexualidade, etc. Em consequência, cada um que faça o próprio caminho, à base do improviso, repetindo erros que poderiam ser evitados se houvesse, em nossa sociedade, espaços e recursos de educação para o amor.
[...]
[...] estamos começando a ter vergonha de assumir valores, cultivar o espírito e fazer projetos. Nos escombros da modernidade, tudo é aqui e agora, my brother. E, quando o desemprego, o baixo nível da educação, a violência, a desagregação familiar nos fecham as cortinas do horizonte da felicidade, o jeito é apelar para o prazer imediato, epidérmico, já que a vida se reduz a um jogo de sobrevivência e a morte pode estar nos espreitando na próxima esquina.
Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto.

             Revista Caros Amigos, n. 87, jun. 2004.
 Fonte: Livro- Viva Português – 9º ano – Língua Portuguesa – Ed. Ática – 2011 – p. 225/6/7.

Interpretação escrita
1)   Segundo o autor, a pesquisa da Unesco sobre a sexualidade do jovem brasileiro é preocupante.
a)   Quais são os dados que convencem o leitor de que a pesquisa é preocupante?
Os jovens nem sempre se protegem contra as DSTs e a AIDS e tendem a discriminar os homossexuais. Além disso, 14,7% das entrevistadas admitiram ter engravidado, pela primeira vez, entre 10 e 14 anos.

b)   Na sua opinião, por que esses dados devem ser considerados preocupantes?
Resposta pessoal.

2)   “Como ressaltou Jorge Werthein, representante do organismo da ONU no Brasil, há aspectos positivos, como o repúdio à promiscuidade e a busca de mais conhecimento sobre a questão”. Por que a rejeição à troca de parceiros e a busca de mais conhecimento sobre a sexualidade são considerados aspectos positivos?
Resposta pessoal.

3)   “O que me espanta é que os jovens se queixem de que têm poucas fontes de conhecimento da sexualidade.”
a)   Qual é a crítica do autor à forma como são transmitidos os conhecimentos sobre sexualidade aos jovens?
Nas escolas, o tema foi introduzido nas últimas décadas, mas com ênfase apenas à higiene corporal; nas classes populares, os jovens ainda aprendem “na rua”. Muitos “aprendem” sobre o tema pela televisão, que exacerba o voyeurismo, sem que as famílias, escolas, igrejas orientem o olhar das crianças.

b)   A crítica feita pelo articulista é seguida por uma sugestão. Indique-a.
O articulista sugere que as escolas exibam clipes publicitários, trechos de filmes e de telenovelas, programas humorísticos para despertar a consciência crítica do jovem quanto à forma como certos assuntos são tratados.

c)   Em que o articulista se baseia para dar essa sugestão?
Numa experiência vivida em sua adolescência.

d)   Você concorda com a sugestão dada pelo articulista? Na sua opinião, ela seria eficaz se fosse adotada nas escolas?
    Resposta pessoal.

4)   Segundo o autor, quais são as consequências de não tratar às claras os temas ligados à sexualidade?
Violência contra as mulheres, preconceito contra os homossexuais.

5)   Expliquem a afirmação “Nos escombros da modernidade, tudo é aqui e agora, my brother”.
Essa afirmação retrata de modo irônico o imediatismo adotado como comportamento geral.