Mostrando postagens com marcador CAMILO PESSANHA. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador CAMILO PESSANHA. Mostrar todas as postagens

domingo, 2 de março de 2025

POESIA: VIOLONCELO - CAMILO PESSANHA - COM GABARITO

 Poesia: Violoncelo

             Camilo Pessanha

Chorai, arcadas
Do violoncelo!
Convulsionadas,
Pontes aladas
De pesadelo...

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiY3zcerFbukmh7Av-JATA6E6F0a15VRBdFoj8rlnhQagKZQJnYlUofnGUUup2Hd9Qd5p5fhn3SdRuVqi_5NVyQoHus2oGe9yixOicC7a3nMRhdVHdzoeUqHKZ28LxEIhAH_2pUq1ayRLHvFvrkFeIbU_oISWrr5rTGaV6ILx4fsIz6l0NLeIuTVZKkvng/s320/VIOLONCELO.jpg



De que esvoaçam,
Brancos, os arcos...
Por baixo passam,
Se despedaçam,
No rio, os barcos.

Fundas, soluçam
Caudais de choro...
Que ruínas, ouçam!
Se se debruçam,
Que sorvedouro!...

Trêmulos astros...
Solidões lacustres...
-- Lemes e mastros...
E os alabastros
Dos balaústres!

Urnas quebradas!
Blocos de gelo...
-- Chorai, arcadas,
Do violoncelo,
Despedaçadas.

Camilo Pessanha.

Fonte: Português – Novas Palavras – Ensino Médio – Emília Amaral; Mauro Ferreira; Ricardo Leite; Severino Antônio – Vol. Único – FTD – São Paulo – 2ª edição. 2003. p. 209.

Entendendo a poesia:

01 – Qual é a principal emoção expressa no poema?

      A principal emoção expressa no poema é a melancolia profunda, o sofrimento e a sensação de desespero. O violoncelo, com suas "arcadas convulsionadas", representa a voz da dor, e as imagens de destruição e desespero reforçam essa atmosfera de tristeza.

02 – Quais são as principais imagens utilizadas no poema e o que elas representam?

      O poema é rico em imagens que evocam a destruição, a fragilidade e a passagem do tempo. Algumas das imagens mais marcantes são:

      Arcadas do violoncelo: Representam a voz da dor e do sofrimento.

      Pontes aladas de pesadelo: Sugerem a instabilidade e a fragilidade da vida.

      Barcos que se despedaçam no rio: Simbolizam a destruição e a brevidade da existência.

      Urnas quebradas e blocos de gelo: Evocam a morte e a frieza.

03 – Qual é o significado do título "Violoncelo"?

      O violoncelo, como instrumento musical, é a fonte sonora que expressa a emoção central do poema. Sua sonoridade melancólica e profunda é utilizada para transmitir a dor e o sofrimento do eu lírico.

04 – Quais são as características estilísticas marcantes do poema?

      O poema apresenta características típicas do Simbolismo, como a musicalidade, a subjetividade e o uso de imagens para expressar emoções e sensações. A linguagem é rica em metáforas e símbolos, criando uma atmosfera de mistério e melancolia.

05 – Qual é a relação entre o "eu" lírico e o violoncelo no poema?

      O "eu" lírico se identifica com o violoncelo, utilizando-o como um instrumento para expressar sua própria dor e sofrimento. O violoncelo se torna, assim, uma extensão do próprio "eu", um veículo para a manifestação de suas emoções mais profundas.

 

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

POEMA: INTERROGAÇÃO - CAMILO PESSANHA - COM GABARITO

 Poema: Interrogação

             Camilo Pessanha

Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar,
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso, crê! nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBlT1MPJRZAyaOYQLEADxcewP09euuzTB-_oUHZiHIRTPNEYvBEGu8EtWFA2k-vthjh2DxD4ZsHcX4eYhQsDzGZvFxIOSmfdp15jmY1wZnLKTqYToywhnuuCL69NPP395W5wxA9j478xom_SeK_W56a3n64_Kq7K-23xlbujsitzc0xGkEB4UkoiUnnb4/s320/AMOR.jpg



Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito
Como a esposa sensual do Cântico dos Cânticos.

Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno...
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de Inverno.

Passo contigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro o olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.

Eu não sei se é amor. Será talvez começo...
Eu não sei que mudança a minha alma pressente...
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia talvez de te saber doente.

Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro. http://www.bibvirt.futuro.usp.br.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 541.

Entendendo o poema:

01 – Qual é a principal dúvida expressa no poema?

      A principal dúvida expressa no poema é se o sentimento que o "eu" lírico sente pela pessoa a quem se dirige é amor. Essa dúvida permeia todo o poema e é explicitada logo no primeiro verso: "Não sei se isto é amor."

02 – Que elementos do poema sugerem que o sentimento do "eu" lírico pode não ser amor romântico tradicional?

      Vários elementos sugerem que o sentimento pode não ser amor romântico tradicional:

      Ausência de idealização do futuro: O "eu" lírico nunca pensou em um lar ou em um futuro feliz ao lado da pessoa amada.

      Falta de expressões românticas convencionais: Não há declarações de amor, versos românticos, ou o desejo de estar junto no leito.

      Foco em aspectos específicos da pessoa amada: O "eu" lírico se detém em detalhes como a cor sadia e o sorriso da pessoa amada, sem idealizá-la como um todo.

      Ausência de ciúme ou possessividade: O "eu" lírico passa a tarde com a pessoa amada sem receios ou demonstrações de ciúme.

03 – Que elementos do poema sugerem que o sentimento do "eu" lírico pode ser um tipo diferente de amor?

      Apesar da dúvida, há elementos que sugerem um tipo diferente de amor:

      Busca por abrigo e conforto: O "eu" lírico procura o olhar da pessoa amada quando sente dor, buscando um refúgio.

      Afeição e bem-estar: O sorriso da pessoa amada causa um bem-estar profundo no "eu" lírico, comparável ao sol de inverno.

      Preocupação com o bem-estar da pessoa amada: O "eu" lírico demonstra preocupação com a saúde da pessoa amada, expressando que adoeceria se a visse doente.

04 – Qual é o significado da comparação com o "Cântico dos Cânticos"?

      A comparação com o "Cântico dos Cânticos" evoca a imagem de um amor sensual e apaixonado, presente na literatura bíblica. Ao negar que procura a pessoa amada no leito como a esposa do Cântico dos Cânticos, o "eu" lírico se distancia desse modelo de amor, sugerindo que o seu sentimento é de outra natureza.

05 – Qual é a principal característica do estilo poético de Camilo Pessanha presente no poema?

      Uma das principais características do estilo de Camilo Pessanha é a indeterminação. O poema "Interrogação" é um exemplo claro disso, pois expressa dúvidas e incertezas em vez de afirmações categóricas. Essa característica se reflete na linguagem sugestiva, nos versos fragmentados e na atmosfera de mistério que envolve o poema.

 

domingo, 26 de junho de 2022

SONETO: CLEPSIDRA - CAMILO PESSANHA - COM GABARITO

 Soneto: Clepsidra    

              Camilo Pessanha

Imagens que passais pela retina

Dos meus olhos, porque não vos fixais?

Que passais como a água cristalina

Por uma fonte para nunca mais!...

 

Ou para o lago escuro onde termina

Vosso curso, silente de juncais,

E o vago medo angustioso domina, ­

Porque ides sem mim, não me levais?

 

Sem vós o que são os meus olhos abertos? ­

-- O espelho inútil, meus olhos pagãos!

Aridez de sucessivos desertos...

 

Fica sequer, sombra das minhas mãos,

Flexão casual de meus dedos incertos, ­

-- Estranha sombra em movimentos vãos.

PESSANHA, Camilo. Clepsidra. Instituto português do livro e da leitura. Biblioteca Ulisseia de autores portugueses, p. 59, s/d.

Fonte da imagem - https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_DQsQwzQAOjYs_HuU03EruU9jK3Z5NdRAWTIM0zhx2PFx5UFI-rYbe6tJiM7ZRNp1kDMsKKtIfWBRFaiKych34cA_NHf8en0c5hwIF51RdSSsx85oPHcKunZLap_eRjbJXDUhank_msy-7yV5w75N7hKme-qImfKSgaQU_iGMrJJnll2CKA_34Hzs/s1600/LIRIOS.jpg

MONET, Claude. Water Lilies (lírios de água). 1906. 1 óleo sobre tela. The Art Institute of Chicago, Chicago.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 253-4.

Entendendo o soneto e a tela:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Silente: calado, silencioso.

·        Juncais: aglomerados de juncos, plantas.

02 – O tema do olhar é bastante explorado no poema. Selecione elementos do poema que comprovem essa afirmação.

      Há um uso de vocábulos que fazem referência direta ou indireta ao tema do olhar, como imagens retina e a reiteração do termo “olhos”.

03 – Na primeira estrofe do poema de Camilo Pessanha, há uma antítese que faz referência ao tema do poema. Identifique a antítese e o tema do poema.

      Passais/fixais. O tema do poema é a transitoriedade da vida, a passagem do tempo. Esse tema vem representado na antítese que mostra que tudo passa, nada se fixa por muito tempo, assim como ocorre com as imagens que o eu lírico vê.

04 – Ao longo do poema, o eu lírico dialoga com as imagens que vê. Que imagens são essas?

      São imagens que fazem referência à água – água cristalina, fonte, lago, curso (de rio, de água).

05 – Que relação é possível estabelecer entre o poema e a tela de Monet?

      Ambos usam a imagem da água em suas obras. Além disso, ambos trabalham a temática do olhar. No soneto, o eu lírico reflete sobre as imagens que vê, enquanto a tela de Monet expõe um olhar sobre a natureza.

06 – O fato de o poema trabalhar com a descrição de imagens contradiz a ideia simbolista de privilegiar a subjetividade e deixar a objetividade em segundo plano? Justifique sua resposta.

      Embora o poema trabalhe com a descrição de imagens, não há contradição, pois essas imagens são descritas de modo subjetivo. O uso das imagens e as perguntas que o eu lírico dirige à natureza visam ao questionamento da passagem do tempo, da vida, e não a uma representação fiel daquilo que é observado.

07 – Interprete, no contexto do poema, o sentido do verso que encerra a segunda estrofe: “—Porque ides sem mim, não me levais?” Em que tema comum ao Simbolismo esse verso se encaixa?

      O sentido do verso é a resignação do eu lírico em relação à passagem do tempo. Já que ela é inevitável, ele deseja a morte, ser levado com o curso das águas. Esse verso se encaixa na temática simbolista da “dor de existir” e do pessimismo. A morte é condição para a transcendência, para a libertação do espírito.

08 – A musicalidade é apontada como uma das características marcantes da poesia de Camilo Pessanha. No poema, os recursos usados pelo poeta para construir essa musicalidade vêm diretamente relacionados aos temas e símbolos trabalhados por ele. Identifique, no poema, exemplos de cada um dos recursos listados a seguir:

·        Rimas que confirmam o tom lamentoso do poema: fixais/mais/juncais/levais. Todas elas têm dentro de si a palavra “ais”, ou seja, fazem referência à dor.

·        Uso da aliteração do fonema /s/ para representar o fluir contínuo das águas: imagenS, paSSaiS, doS, meuS, olhoS, voS, fixaiS, criStalina, maiS, eScuro, voSSo, curSo, Silente, juncaiS, anguStioso, ideS, Sem, levaiS, vóS, São, pagãoS, arideZ, etc.

·        Palavras que contêm som abertos para representar o fluir da vida: Imagens, passais, fixais, água, mais, cristalina, levais.

·        Palavras que contêm sons fechados para representar o temor da morte: Escuro, curso, medo, angustioso, pagãos, sucessivos, sombra, vãos.

09 – O impressionismo foi um movimento artístico contemporâneo do Simbolismo. Na pintura impressionista, a pincelada solta busca representar o momento, a impressão da luz sobre a realidade apreendida pelo pintor num momento específico. Pintores como Claude Monet representaram muitas vezes suas impressões sobre a natureza a partir de símbolos. Os “lírios de água” citados no título são símbolos usuais da pureza, da inocência. A partir dessas informações responda: que atmosfera sobressai da tela de Monet?

      Uma atmosfera de tranquilidade, de encontro com a natureza, admiração por ela.

10 – A partir de sua análise do poema e da tela de Monet você diria que ocorre complementação ou contradição de ideias entre eles? Justifique sua resposta.

      Tanto se pode afirmar que há convergência, pois ambos veem na natureza o símbolo da passagem do tempo, quanto é possível afirmar que há contradição, pois o poema apresentaria uma visão pessimista sobre a passagem do tempo que a pintura não parece representar. Vale lembrar que os lírios costumam simbolizar a pureza, a inocência, a paz.

 

POEMA: PAISAGENS DE INVERNO II - CAMILO PESSANHA - COM GABARITO

 Poema: PAISAGENS DE INVERNO II

              Camilo Pessanha       

Passou o Outono já, já torna o frio...
— Outono de seu riso magoado.
Álgido Inverno! Oblíquo o sol, gelado...
— O sol, e as águas límpidas do rio.

Águas claras do rio! Águas do rio, 
Fugindo sob o meu olhar cansado, 
Para onde me levais meu vão cuidado? 
Aonde vais, meu coração vazio?

Ficai, cabelos dela, flutuando, 
E, debaixo das águas fugidias, 
Os seus olhos abertos e cismando...

Onde ides a correr, melancolias?
— E, refratadas, longamente ondeando,
As suas mãos translúcidas e frias...

Camilo Pessanha. Paisagem de inverno II. In: Clepsidra. Instituto português do livro e da leitura. Biblioteca Ulisseia de autores portugueses, p. 45, s/d.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 252-3.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o tema do texto?

      A passagem do tempo e, de modo mais amplo, o envelhecimento e a morte.

02 – Quais os símbolos centrais usados no texto para trabalhar o tema? Que interpretação é possível dar a eles?

      O inverno e o rio, ou a água de forma ampla, são os símbolos centrais trabalhados no texto. Por meio deles, o eu lírico discute a passagem do tempo que conduz ao envelhecimento e à morte.

03 – Nos dois tercetos do texto, surge uma imagem feminina. O que o poema sugere que ocorreu com ela? Comprove sua resposta com elementos do próprio texto.

      O poema sugere que ela morreu, pois seus cabelos flutuam, seus olhos estão abertos e suas mãos, translúcidas e frias. Parece ser a descrição de um cadáver. Por outro lado, pode-se tomar a descrição como uma metáfora: o rio leva a lembrança da amada, que estaria “morta” para o eu lírico em sua memória e em seu coração.

04 – Após a leitura do texto, é possível apontar um diálogo intertextual? Por quê? Explique seu ponto de vista.

      Sim. Porque o texto trabalha a passagem do tempo representada a partir da imagem do escoar de águas. No poema, o rio leva a amada, morta metafórica ou literalmente.

 

quarta-feira, 22 de maio de 2019

POEMA: AO LONGE OS BARCOS DE FLORES - CAMILO PESSANHA - COM GABARITO

Poema: Ao longe os barcos de flores
             
   Camilo Pessanha

Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranquila,
-- Perdida voz que de entre as mais se exila,
-- Festões de som dissimulando a hora

Na orgia, ao longe, que em clarões cintila
E os lábios, branca, do carmim desflora...
Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranquila.

E a orquestra? E os beijos? Tudo a noite, fora,
Cauta, detém. Só modulada trila
A flauta flébil... Quem há-de remi-la?
Quem sabe a dor que sem razão deplora?

Só, incessante, um som de flauta chora...

Clepsidra e outros poemas. Lisboa, Edições Ática, 1973.

Entendendo o poema:

01 – Que elementos simbolistas encontramos, numa primeira leitura do poema?
      A musicalidade, a sugestão de sensações vagas, indefinidas e a atmosfera de sonho e tristeza.

02 – Que versos, repetidos, intensificam a atmosfera de sensações vagas e indefinidas, predominante no texto?
      “Só, incessante, um som de flauta chora / Viúva, grácil, na escuridão tranquila”.

03 – Exemplifique os seguintes recursos simbolistas, presentes nos versos da questão 2:
a)   Imagens musicais.
“Um som de flauta chora”.

b)   Aliterações e assonâncias.
Aliteração: consoantes s e t. Assonância: vogais ó e i.

c)   Imagens de solidão.
“Só”; “Viúva... na escuridão tranquila”.

d)   Imagens de sutileza.
Os dois versos são imagens sutis, reforçadas pela palavra “grácil”.

04 – Encontre um exemplo de sinestesia na 1ª estrofe do poema.
      O último verso da estrofe – “Festões de som dissimulando a hora” – constitui um exemplo de sinestesia, já que associa imagens visuais e auditivas (“festões de som...”).

05 – Que sinais de pontuação o clima de “sugestão do indefinível”, tipicamente simbolista, que faz desse poema um dos mais sugestivos exemplos da presença do estilo em Portugal?
      Trata-se das reticências.

sábado, 23 de março de 2019

POESIA: VIOLA CHINESA - CAMILO PESSANHA - COM QUESTÕES GABARITADAS

Poesia: VIOLA CHINESA
              Camilo Pessanha


Ao longo da viola morosa
Vai adormecendo a parlenda,
Sem que, amadornado, eu atenda
A lengalenga fastidiosa.

Sem que o meu coração se prenda,
Enquanto, nasal, minuciosa,
Ao longo da viola morosa,
Vai adormecendo a parlenda.

Mas que cicatriz melindrosa
Há nele, que essa viola ofenda
E faz que as asitas distenda
Numa agitação dolorosa?

Ao longo da viola, morosa...
              Camilo Pessanha: poesia. Rio de Janeiro: Agir.
Entendendo a poesia:

01 – Considerando as duas primeiras estrofes, percebemos que o poeta explora bastante certos fonemas, produzindo uma musicalidade que se espalha por todos esses versos. Explique esse trabalho de linguagem, apontando a ocorrência desse efeito sonoro.
     Exploração dos fonemas nasais, como nestes versos: “Vai adormecendo a parlenda, / Sem que, amadornado, eu atenda / A lengalenga fastidiosa.” Um leitura em voz alta revela claramente a musicalidade do texto.

02 – Em que estado se encontra o eu lírico enquanto ouve a “viola morosa”?
      Nenhum estado de sonolência.

03 – O poeta simbolista está sempre aberto aos estímulos sensoriais, que lhe despertam sugestões, emoções indefinidas e vagas. Repare que, à medida que a conversa morre, fica no ar apenas o som da viola. Em que versos da terceira estrofe revela o eu lírico a inquietação que o som da viola produz em seu interior?
      Observar que, no último quarteto, o poeta diz: “Mas que cicatriz melindrosa / Há nele, que essa viola ofenda.”, isto é, o som da viola mexe com algo que estava adormecido (a cicatriz), provocando a inquietação no coração do poeta.

04 – O eu lírico define essa inquietação ou apenas a registra? Justifique.
      Ele apenas a registra, não a define nem a explica.

05 – Em resumo: que características tipicamente simbolistas você reconhece nesse texto?
      A musicalidade dos versos, a intenção de sugerir (e não de descrever), o intenso subjetivismo.