Mostrando postagens com marcador CAMILO PESSANHA. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador CAMILO PESSANHA. Mostrar todas as postagens

domingo, 26 de junho de 2022

SONETO: CLEPSIDRA - CAMILO PESSANHA - COM GABARITO

 Soneto: Clepsidra    

              Camilo Pessanha

Imagens que passais pela retina

Dos meus olhos, porque não vos fixais?

Que passais como a água cristalina

Por uma fonte para nunca mais!...

 

Ou para o lago escuro onde termina

Vosso curso, silente de juncais,

E o vago medo angustioso domina, ­

Porque ides sem mim, não me levais?

 

Sem vós o que são os meus olhos abertos? ­

-- O espelho inútil, meus olhos pagãos!

Aridez de sucessivos desertos...

 

Fica sequer, sombra das minhas mãos,

Flexão casual de meus dedos incertos, ­

-- Estranha sombra em movimentos vãos.

PESSANHA, Camilo. Clepsidra. Instituto português do livro e da leitura. Biblioteca Ulisseia de autores portugueses, p. 59, s/d.

Fonte da imagem - https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_DQsQwzQAOjYs_HuU03EruU9jK3Z5NdRAWTIM0zhx2PFx5UFI-rYbe6tJiM7ZRNp1kDMsKKtIfWBRFaiKych34cA_NHf8en0c5hwIF51RdSSsx85oPHcKunZLap_eRjbJXDUhank_msy-7yV5w75N7hKme-qImfKSgaQU_iGMrJJnll2CKA_34Hzs/s1600/LIRIOS.jpg

MONET, Claude. Water Lilies (lírios de água). 1906. 1 óleo sobre tela. The Art Institute of Chicago, Chicago.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 253-4.

Entendendo o soneto e a tela:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Silente: calado, silencioso.

·        Juncais: aglomerados de juncos, plantas.

02 – O tema do olhar é bastante explorado no poema. Selecione elementos do poema que comprovem essa afirmação.

      Há um uso de vocábulos que fazem referência direta ou indireta ao tema do olhar, como imagens retina e a reiteração do termo “olhos”.

03 – Na primeira estrofe do poema de Camilo Pessanha, há uma antítese que faz referência ao tema do poema. Identifique a antítese e o tema do poema.

      Passais/fixais. O tema do poema é a transitoriedade da vida, a passagem do tempo. Esse tema vem representado na antítese que mostra que tudo passa, nada se fixa por muito tempo, assim como ocorre com as imagens que o eu lírico vê.

04 – Ao longo do poema, o eu lírico dialoga com as imagens que vê. Que imagens são essas?

      São imagens que fazem referência à água – água cristalina, fonte, lago, curso (de rio, de água).

05 – Que relação é possível estabelecer entre o poema e a tela de Monet?

      Ambos usam a imagem da água em suas obras. Além disso, ambos trabalham a temática do olhar. No soneto, o eu lírico reflete sobre as imagens que vê, enquanto a tela de Monet expõe um olhar sobre a natureza.

06 – O fato de o poema trabalhar com a descrição de imagens contradiz a ideia simbolista de privilegiar a subjetividade e deixar a objetividade em segundo plano? Justifique sua resposta.

      Embora o poema trabalhe com a descrição de imagens, não há contradição, pois essas imagens são descritas de modo subjetivo. O uso das imagens e as perguntas que o eu lírico dirige à natureza visam ao questionamento da passagem do tempo, da vida, e não a uma representação fiel daquilo que é observado.

07 – Interprete, no contexto do poema, o sentido do verso que encerra a segunda estrofe: “—Porque ides sem mim, não me levais?” Em que tema comum ao Simbolismo esse verso se encaixa?

      O sentido do verso é a resignação do eu lírico em relação à passagem do tempo. Já que ela é inevitável, ele deseja a morte, ser levado com o curso das águas. Esse verso se encaixa na temática simbolista da “dor de existir” e do pessimismo. A morte é condição para a transcendência, para a libertação do espírito.

08 – A musicalidade é apontada como uma das características marcantes da poesia de Camilo Pessanha. No poema, os recursos usados pelo poeta para construir essa musicalidade vêm diretamente relacionados aos temas e símbolos trabalhados por ele. Identifique, no poema, exemplos de cada um dos recursos listados a seguir:

·        Rimas que confirmam o tom lamentoso do poema: fixais/mais/juncais/levais. Todas elas têm dentro de si a palavra “ais”, ou seja, fazem referência à dor.

·        Uso da aliteração do fonema /s/ para representar o fluir contínuo das águas: imagenS, paSSaiS, doS, meuS, olhoS, voS, fixaiS, criStalina, maiS, eScuro, voSSo, curSo, Silente, juncaiS, anguStioso, ideS, Sem, levaiS, vóS, São, pagãoS, arideZ, etc.

·        Palavras que contêm som abertos para representar o fluir da vida: Imagens, passais, fixais, água, mais, cristalina, levais.

·        Palavras que contêm sons fechados para representar o temor da morte: Escuro, curso, medo, angustioso, pagãos, sucessivos, sombra, vãos.

09 – O impressionismo foi um movimento artístico contemporâneo do Simbolismo. Na pintura impressionista, a pincelada solta busca representar o momento, a impressão da luz sobre a realidade apreendida pelo pintor num momento específico. Pintores como Claude Monet representaram muitas vezes suas impressões sobre a natureza a partir de símbolos. Os “lírios de água” citados no título são símbolos usuais da pureza, da inocência. A partir dessas informações responda: que atmosfera sobressai da tela de Monet?

      Uma atmosfera de tranquilidade, de encontro com a natureza, admiração por ela.

10 – A partir de sua análise do poema e da tela de Monet você diria que ocorre complementação ou contradição de ideias entre eles? Justifique sua resposta.

      Tanto se pode afirmar que há convergência, pois ambos veem na natureza o símbolo da passagem do tempo, quanto é possível afirmar que há contradição, pois o poema apresentaria uma visão pessimista sobre a passagem do tempo que a pintura não parece representar. Vale lembrar que os lírios costumam simbolizar a pureza, a inocência, a paz.

 

POEMA: PAISAGENS DE INVERNO II - CAMILO PESSANHA - COM GABARITO

 Poema: PAISAGENS DE INVERNO II

              Camilo Pessanha       

Passou o Outono já, já torna o frio...
— Outono de seu riso magoado.
Álgido Inverno! Oblíquo o sol, gelado...
— O sol, e as águas límpidas do rio.

Águas claras do rio! Águas do rio, 
Fugindo sob o meu olhar cansado, 
Para onde me levais meu vão cuidado? 
Aonde vais, meu coração vazio?

Ficai, cabelos dela, flutuando, 
E, debaixo das águas fugidias, 
Os seus olhos abertos e cismando...

Onde ides a correr, melancolias?
— E, refratadas, longamente ondeando,
As suas mãos translúcidas e frias...

Camilo Pessanha. Paisagem de inverno II. In: Clepsidra. Instituto português do livro e da leitura. Biblioteca Ulisseia de autores portugueses, p. 45, s/d.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 252-3.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o tema do texto?

      A passagem do tempo e, de modo mais amplo, o envelhecimento e a morte.

02 – Quais os símbolos centrais usados no texto para trabalhar o tema? Que interpretação é possível dar a eles?

      O inverno e o rio, ou a água de forma ampla, são os símbolos centrais trabalhados no texto. Por meio deles, o eu lírico discute a passagem do tempo que conduz ao envelhecimento e à morte.

03 – Nos dois tercetos do texto, surge uma imagem feminina. O que o poema sugere que ocorreu com ela? Comprove sua resposta com elementos do próprio texto.

      O poema sugere que ela morreu, pois seus cabelos flutuam, seus olhos estão abertos e suas mãos, translúcidas e frias. Parece ser a descrição de um cadáver. Por outro lado, pode-se tomar a descrição como uma metáfora: o rio leva a lembrança da amada, que estaria “morta” para o eu lírico em sua memória e em seu coração.

04 – Após a leitura do texto, é possível apontar um diálogo intertextual? Por quê? Explique seu ponto de vista.

      Sim. Porque o texto trabalha a passagem do tempo representada a partir da imagem do escoar de águas. No poema, o rio leva a amada, morta metafórica ou literalmente.

 

quarta-feira, 22 de maio de 2019

POEMA: AO LONGE OS BARCOS DE FLORES - CAMILO PESSANHA - COM GABARITO

Poema: Ao longe os barcos de flores
             
   Camilo Pessanha

Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranquila,
-- Perdida voz que de entre as mais se exila,
-- Festões de som dissimulando a hora

Na orgia, ao longe, que em clarões cintila
E os lábios, branca, do carmim desflora...
Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranquila.

E a orquestra? E os beijos? Tudo a noite, fora,
Cauta, detém. Só modulada trila
A flauta flébil... Quem há-de remi-la?
Quem sabe a dor que sem razão deplora?

Só, incessante, um som de flauta chora...

Clepsidra e outros poemas. Lisboa, Edições Ática, 1973.

Entendendo o poema:

01 – Que elementos simbolistas encontramos, numa primeira leitura do poema?
      A musicalidade, a sugestão de sensações vagas, indefinidas e a atmosfera de sonho e tristeza.

02 – Que versos, repetidos, intensificam a atmosfera de sensações vagas e indefinidas, predominante no texto?
      “Só, incessante, um som de flauta chora / Viúva, grácil, na escuridão tranquila”.

03 – Exemplifique os seguintes recursos simbolistas, presentes nos versos da questão 2:
a)   Imagens musicais.
“Um som de flauta chora”.

b)   Aliterações e assonâncias.
Aliteração: consoantes s e t. Assonância: vogais ó e i.

c)   Imagens de solidão.
“Só”; “Viúva... na escuridão tranquila”.

d)   Imagens de sutileza.
Os dois versos são imagens sutis, reforçadas pela palavra “grácil”.

04 – Encontre um exemplo de sinestesia na 1ª estrofe do poema.
      O último verso da estrofe – “Festões de som dissimulando a hora” – constitui um exemplo de sinestesia, já que associa imagens visuais e auditivas (“festões de som...”).

05 – Que sinais de pontuação o clima de “sugestão do indefinível”, tipicamente simbolista, que faz desse poema um dos mais sugestivos exemplos da presença do estilo em Portugal?
      Trata-se das reticências.

sábado, 23 de março de 2019

POESIA: VIOLA CHINESA - CAMILO PESSANHA - COM QUESTÕES GABARITADAS

Poesia: VIOLA CHINESA
              Camilo Pessanha


Ao longo da viola morosa
Vai adormecendo a parlenda,
Sem que, amadornado, eu atenda
A lengalenga fastidiosa.

Sem que o meu coração se prenda,
Enquanto, nasal, minuciosa,
Ao longo da viola morosa,
Vai adormecendo a parlenda.

Mas que cicatriz melindrosa
Há nele, que essa viola ofenda
E faz que as asitas distenda
Numa agitação dolorosa?

Ao longo da viola, morosa...
              Camilo Pessanha: poesia. Rio de Janeiro: Agir.
Entendendo a poesia:

01 – Considerando as duas primeiras estrofes, percebemos que o poeta explora bastante certos fonemas, produzindo uma musicalidade que se espalha por todos esses versos. Explique esse trabalho de linguagem, apontando a ocorrência desse efeito sonoro.
     Exploração dos fonemas nasais, como nestes versos: “Vai adormecendo a parlenda, / Sem que, amadornado, eu atenda / A lengalenga fastidiosa.” Um leitura em voz alta revela claramente a musicalidade do texto.

02 – Em que estado se encontra o eu lírico enquanto ouve a “viola morosa”?
      Nenhum estado de sonolência.

03 – O poeta simbolista está sempre aberto aos estímulos sensoriais, que lhe despertam sugestões, emoções indefinidas e vagas. Repare que, à medida que a conversa morre, fica no ar apenas o som da viola. Em que versos da terceira estrofe revela o eu lírico a inquietação que o som da viola produz em seu interior?
      Observar que, no último quarteto, o poeta diz: “Mas que cicatriz melindrosa / Há nele, que essa viola ofenda.”, isto é, o som da viola mexe com algo que estava adormecido (a cicatriz), provocando a inquietação no coração do poeta.

04 – O eu lírico define essa inquietação ou apenas a registra? Justifique.
      Ele apenas a registra, não a define nem a explica.

05 – Em resumo: que características tipicamente simbolistas você reconhece nesse texto?
      A musicalidade dos versos, a intenção de sugerir (e não de descrever), o intenso subjetivismo.