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domingo, 7 de abril de 2024

CONTO: NEGÓCIO DA ROÇA - RUBEM BRAGA - COM GABARITO

 Conto: NEGÓCIO DA ROÇA

           Rubem Braga

        -- Comprei um cavalo por 700 cruzeiros e vendi por 900. Não ganhei nem perdi.

        -- Mas como? Se você comprou por 700 e vendeu por 900, como é que você não ganhou nem perdeu?

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgckxteLPRlopnCVEg5Z3TZwb-CzMdxhsTnKKUgLL3D_CAdqPKKxVvjmQMjOPr_2PD0_R11ftDw8nF2BZphNPY_E7N32EYnjmDouFB_kg1AIA0fo19PdqFM2WxRE-XK4KPH3WoegX4wokBKKHFdhp6uuEFUeDrl-1AcMyQwYTtztRcjSkEzWuqTVGrse9o/s320/CAVALO.jpg


        -- Não ganhei nem perdi.

        -- Você não disse que comprou por 700?

        -- Comprei.

        -- E não vendeu por 900?

        -- Vendi.

        -- Então você ganhou 200.

        -- Não ganhei nem perdi.

        -- Mas como?

        -- Comprei o cavalo por 700 contos e não paguei. Vendi por 900 e não me pagaram. Não ganhei nem perdi.

Rubem Braga. Recado de primavera. 3. Ed. Rio de Janeiro: Record, 1985. p. 46.

Fonte: Livro – Português: Linguagem, 6ª Série – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 2ª ed. – São Paulo: Atual Editora, 2002. p. 233.

Entendendo o conto:

01 – Qual o significado da palavra cruzeiro no conto?

      É a antiga moeda brasileira, anterior ao real.

02 – Qual é o tema principal do conto "Negócio da Roça" de Rubem Braga?

      O conto trata de uma situação humorística que envolve uma negociação aparentemente simples, mas confusa, relacionada à compra e venda de um cavalo.

03 – Quem são os personagens principais nesse diálogo sobre o negócio do cavalo?

      Os personagens principais são dois interlocutores cujos nomes não são especificados no texto.

04 – Como o vendedor explica que não ganhou nem perdeu dinheiro na transação do cavalo?

      O vendedor explica que embora tenha comprado o cavalo por 700 cruzeiros e vendido por 900, ele não recebeu o dinheiro da venda nem pagou pelo cavalo, portanto, não houve lucro ou prejuízo real.

05 – Qual é a ironia presente na conversa entre os personagens sobre o negócio do cavalo?

      A ironia reside na maneira como o vendedor manipula a informação, sugerindo uma transação financeira lucrativa quando na verdade ele não efetuou nenhum pagamento ou recebimento.

06 – Como o conto ilustra a astúcia ou malandragem do personagem vendedor?

      O vendedor demonstra sua astúcia ao distorcer a realidade da transação para dar a impressão de lucro, quando na verdade não houve troca real de dinheiro.

07 – Qual é a mensagem subjacente transmitida por meio deste diálogo no conto?

      O conto brinca com a ideia de como as pessoas podem manipular informações para criar ilusões de sucesso ou lucro, embora a realidade financeira seja outra.

08 – Como a linguagem e o estilo de Rubem Braga contribuem para o humor presente nesta história?

      O estilo simples e coloquial de Rubem Braga, combinado com o diálogo intrigante e absurdo dos personagens, cria um tom humorístico e irônico, revelando a natureza cômica da situação de negociação do cavalo.

 

 

 

 

sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

CONTO: AS MARIAS - DALTON TREVISAN - COM GABARITO

 Conto: As Marias

            Dalton Trevisan

      Maria, filha de Maria, a filha de Maria, tem trinta e um desgostos. Lava a roupa, lava a louça, varre que varre, e a patroa – Jesus Maria José? – a patroa ralhando.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXBFum7gEgOZbc1fE3VF_kbRg7tjt1uS00iMP4HSA6gpOPX0ouciMMKANyvMevDHl_9o4u7cldz3TO7sOBQz4I-fWm0FYLum11EMZUUogXb8vK8UF-PQBbKHmrfWZz-j2YZuyzh-gCXD1hVmQebHwfSVO7-660DeQiXPHGnBfMCadN6n1G_TEKVt8hTZA/s320/MARIA.jpg


       Aos sete anos, foi esquecida pela mãe na primeira esquina. Mulher cheia de filhos, não podia com mais um: deu a pobre da Maria.

        Sempre em casa estranha, dormindo em cama-de-vento, comendo em pé ao lado do fogão. Trabalhadeira, era de confiança e não tinha boca para pedir. Pálida, vivia debaixo de chá de ervas. Sonhando, rilhava os dentes, com as bichas alvoraçadas. Maria, ai dela, nunca soube qual o gosto de uma pêra-d’água! O guarda-comida trancado a chave, ela roía com fome um naco de rapadura, escondida sob o travesseiro.

         Lenço amarrado na bochecha, usava cera milagrosa para dor de dente – até que perdia o dente. Vagarosa por culpa de unha encravada. De lidar na potassa, partiam-se os dedos e sofria de panarício. Nunca se despedia, era despachada pela patroa, aborrecida de suas aflições e sua cara de pamonha.

          Ao rolar de uma para outra casa, engordava com os anos, gemia de dor nas cadeiras e enleava-se no serviço. Sua alegria era lavar o cueiro do bebê. Ah, mas beijar a criancinha...

           - Está proibida, ouviu, Maria?

           Criada não conhece o seu lugar, podia ter alguma doença.

           Menina séria, não ia ao baile com as outras. No carão anêmico esfregava papel de seda escarlate molhado na língua e, mal surgia à janela, a espiar um soldadinho verde, a patroa ralhava.

            - Maria, já escolheu o arroz?

            - Maria, já passou a roupa?

            - Já encerou a casa, ó Maria?

            Areada a chapa do fogão, guardava a louça, varrida a cozinha, chegava-se medrosa à porta. O soldado rondava, parava, batia continência. Tinha pressa como soldado era de guerra: queria pegar na mão e cobrir de beijos.

              - Deus me livre, podia ter algumas doenças!

              Maria faz o sinal-da-cruz: a boca só o marido é que iria beijar.

              Onde estão os praças de cavalaria, o tinir das esporas na calçada? Trinta e um anos de Maria! Até proibida de passear com a Maria.

                - Pois vá chorar no quarto – ordena-lhe a patroa. – Não suporto cena de gentinha!

                 Essa Maria, um objeto de casa, o capacho da porta, a vassoura no prego.

                  Maria não vai ao circo, o palhaço é tão gozado.

                  Maria não vai ao Passeio Público ver o macaquinho comer banana.

                   Maria não vai ao cineminha na sexta-feira assistir à Vida, Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.

                   Maria, a filha de Maria, distraída no domingo com a Marta, viu seu coração rolar do peito e, prato que lhe escapou dos dedos gordurosos ( a patroa vai ralhar?), partir-se em sete pedaços de sangue pelo chão.

                   Era um cabo? Maria nunca soube de que arma. Falava lindo e tão difícil, puxando no xis – vixto, mocinha? – que ela saltitar ora numa perna ora noutra, esganada roía as unhas.

                   - Tem gente, cabo. Você me respeite, ó cabo?

                    Ele a levou ao circo e Maria entrou soberba como uma patroa entre a gentinha que fazia cena: no pescoço a velha pele de coelho mordendo a cauda. A charanga, o peludo de cara pintada, o cabo das grandes botas de general. Um palhaço xinga o outro de “Gigolô”!, o circo vem abaixo de tanta gargalhada. Maria sorri, o cabo lhe tira sangue do peito.

                    - Ocê me deixa louco, Maria.

                    Sob o espanto do baleiro, anunciando “Oia a bala oi...”, ela beijou a mão do cabo.

                     Em nove meses Maria, filha de Maria, vai ser mãe de Maria.

Entendendo o texto

01. Como se constrói a narrativa?

Se constrói de ações fragmentadas e gestos estereotipados das domésticas errantes, doentes, esfaimadas, sonhadoras. Maria resume um tipo que reitera modelos previsíveis de comportamento, é o retrato das mazelas de uma doméstica.

02. Qual é o nome da personagem principal no conto "As Marias"?

         O nome da personagem principal é Maria.

03. Quantos desgostos a personagem Maria tem de acordo com o conto?

           Maria tem trinta e um desgostos.

04. Por que Maria foi esquecida pela mãe aos sete anos?

          Maria foi esquecida pela mãe aos sete anos porque a mãe, cheia de filhos, não podia cuidar de mais um, então deu Maria para outra pessoa.

05. Qual era a alegria de Maria, mesmo enfrentando dificuldades em sua vida?

         A alegria de Maria era lavar o cueiro do bebê.

06. O que acontece quando Maria se distrai com Marta no domingo?

          Quando Maria se distrai com Marta no domingo, seu coração rola do peito e parte-se em sete pedaços de sangue pelo chão.

07. Por que Maria não vai ao circo e a outros eventos mencionados no conto?

          Maria não vai ao circo e a outros eventos mencionados porque a patroa a proíbe e a considera um objeto de casa, um capacho da porta.

08. Quem é o responsável por Maria, filha de Maria, se tornar mãe no final do conto?

O cabo mencionado no conto é responsável por Maria, filha de Maria, se tornar mãe, e ela estará grávida em nove meses.

09. Que linguagem traz o texto?

  Pode-se divisar a crítica à subalternidade das domésticas, à sua condição subumana de vida e à opressão das patroas.


 

 

 

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

CONTO: O ESCRAVO QUE GUARDOU OS OSSOS DO PRÍNCIPE - REGINALDO PRANDI - COM GABARITO

 Conto: O escravo que guardou os ossos do príncipe

            Reginaldo Prandi

        Havia um escravo chamado Odedirã, que vivia perseguido pelo seu senhor.

        Odedirã um dia ganhou um pintinho de um vizinho. ele o criou até que se tornasse uma galinha.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi252nimUcvV3rcIL65wzNPR39QqT8TmtIVDdumLwj_a8IzrKtzBFTa6JYJP2J8Z2F9F3ENEV6r_CE2Xewmh7bcKAB4f00Lhmb-8fVfCDGYLRL1RnuEptQgnXt4P6Tk53aDCgm3R9UhJNGlGnIAMxTAn-eSNn78jfhrudDxgPGKBHqJzRaf7xxHt26oj8I/w183-h144/ESCRAVO.jpg


        A galinha pôs ovos e os chocou. Nasceram muitos pintinhos que Odedirã criou. A criação de galinhas foi crescendo.

        Um dia, voltando da roça, ele encontrou todas as suas galinhas e todos os seus galos mortos.

        O seu senhor disse:

        “Tu és escravo ou dono de uma granja?”.

        Odedirã ficou tristíssimo, mas não disse nada.

        Limpou os frangos mortos, salgou, defumou a carne e a guardou...

        Um dia ele ganhou uma cabritinha. A cabritinha cresceu e se tornou uma bela cabra, que deu muitos filhotes. A criação de cabras foi crescendo.

        Um dia, voltando da roça, encontrou todas as suas cabras e todos os seus cabritos mortos.

        O seu senhor disse:

        “Tu és escravo ou fazendeiro?”.

        Odedirã ficou tristíssimo, mas não disse nada.

        Limpou os animais mortos, salgou, defumou a carne e a guardou...

        Quando veio a seca e faltou comida no seu país, Odedirã vendeu as carnes defumadas e guardou o dinheiro.

        Um dia, voltando da roça, encontrou o seu senhor muito bem-vestido.

        Ele comprara ricas roupas, sapatos finos e belas joias.

        O escravo percebeu com que dinheiro tudo havia sido comprado, quando o seu senhor lhe disse:

        “Tu és escravo ou banqueiro?”.

        Vendo a tristeza do escravo o senhor disse:

        “Comprei pra ti este monte de ossos. Quem sabe tu não começas uma fábrica de botões e te transformas num industrial? Pois parece que escravo tu não queres ser”.

        Odedirã nada respondeu e guardou os ossos.

        Logo, logo, passaram por ali emissários do rei. Uma grande desgraça se abaterá sobre o reino. O príncipe herdeiro havia morrido e, se isso não bastasse, mercenários sem escrúpulos tinham roubado o esqueleto do príncipe morto.

        Os soldados procuravam os ossos por todo o país, será que alguém sabia dos despojos principescos?

        Odedirã foi para dentro e voltou com uma caixa.

        “Aqui estão os restos de nosso amado príncipe, ele disse. “Foram abandonados aqui por ladrões em fuga”, completou.

        O rei ficou muito grato pela recuperação do esqueleto do filho.

        Os ossos foram enterrados na capital do reino com todas as solenidades funerárias costumeiras.

        Odedirã e seu senhor foram levados aos funerais como convidados especiais, como salvadores da pátria.

        Ao final da cerimônia, o rei libertou o escravo Odedirã adotou-o como filho e o declarou seu príncipe herdeiro.

        Odedirã deu um pouco de dinheiro ao seu antigo senhor para que ele voltasse para casa e disse-lhe:

        “Quando eu era teu escravo, só para me roubar vivias perguntando o que eu era. Mas nunca soubeste o que eu queria ser. Eu não queria ser dono de granja, não queria ser fazendeiro nem banqueiro. Muito menos industrial. Eu só queria ser rei”.

        E entrou no palácio abraçado com o pai adotivo...

                     Reginaldo Prandi, Os príncipes do destino, história da mitologia afro-brasileira. São Paulo. Cosac & Naifi, SP. 2001.

Fonte: Coleção Desafio Língua Portuguesa – 5° ano – Anos Iniciais do Ensino Fundamental – Roberta Vaiano – 1ª edição – São Paulo, 2021 – Moderna – p. MP122-MP127.

Entendendo o conto:

01 – De acordo com o conto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Defumou (a carne): secou, exposto à fumaça.

·        Mercenários: pessoas que trabalham apenas por dinheiro.

·        Sem escrúpulos: sem integridade de caráter.

·        Despojos principescos: restos do príncipe.

·        Solenidades funerárias: cerimônias de enterro.

02 – Releia. “Odedirã um dia ganhou um pintinho de um vizinho. Ele o criou até que se tornasse uma galinha.”. Os pronomes ele e o retomam palavras já usadas no trecho. Identifique-as.

      Ele retoma “Odedirã” e o retoma “pintinho”.

03 – Responda às seguintes questões sobre as personagens do texto.

a)   Quem são o protagonista e o antagonista do texto?

O escravo é o protagonista, e o senhor, o antagonista.

b)   Qual trecho do texto mostra o obstáculo a ser enfrentado pelo protagonista?

“[...] que vivia perseguido pelo seu senhor”.

c)   Quais atitudes do antagonista atrapalham o protagonista?

O senhor matou os animais e roubou o dinheiro do escravo.

d)   Em sua opinião, por que o homem teve essas atitudes?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Por ser senhor de Odedirã, ele não considerava os sentimentos deste e não queria vê-lo prosperar.

04 – Qual era a reação de Odedirã ao saber das maldades de seu senhor?

      Odedirã se entristecia, mas não reagia.

05 – Leia novamente.

        “Um dia, voltando da roça, encontrou o seu senhor muito bem-vestido.

        Ele comprara ricas roupas, sapatos finos e belas joias.

        O escravo percebeu com que dinheiro tudo havia sido comprado [...]”.

a)   A palavra destacada substitui quais outras palavras no trecho lido? Copie-as.

“ricas roupas, sapatos finos e belas joias”.

b)   Explique a que conclusão Odedirã chegou ao encontrar seu senhor muito bem vestido.

Odedirã concluiu que seu senhor, com o dinheiro que havia roubado dele, comprou roupas, sapatos finos e joias.

c)   O que você acha da atitude do homem com o escravo? Converse com os colegas a respeito disso.

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Era uma atitude inadequada e que é necessário haver uma conduta ética e humanitária nas relações entre as pessoas.

06 – Releia.

        “[...] Uma grande desgraça se abaterá sobre o reino. O príncipe herdeiro havia morrido e, se isso não bastasse, mercenários sem escrúpulos tinham roubado o esqueleto do príncipe morto.”

a)   A palavra destacada refere-se a dois acontecimentos. Indique-os.

O príncipe morreu e Mercenários roubaram seu esqueleto.

b)   No texto, foram usadas três outras palavras para indicar o esqueleto do príncipe. Quais foram?

Ossos, despojos e restos.

07 – As frases a seguir resumem os acontecimentos finais da história. Numere-as, ordenando-os corretamente.

(2) Os ossos foram enterrados na capital do reino.

(4) O rei libertou o escravo Odedirã, adotou-o como filho e o declarou seu príncipe herdeiro.

(1) O rei ficou muito grato pela recuperação do esqueleto do filho.

(5) Odedirã deu um pouco de dinheiro ao seu antigo senhor para que ele voltasse para casa.

(3) Odedirã e seu senhor foram levados aos funerais como convidados especiais.

CONTO: OS BICHOS DA MINHA CASA - FRAGMENTO - CLARICE LISPECTOR - COM GABARITO

 Conto: Os bichos da minha casa – Fragmento

            Clarice Lispector.

        Antes de começar, quero que vocês saibam que meu nome é Clarice. E vocês, como se chamam? Digam baixinho o nome de vocês e o meu coração vai ouvir.

        Peço que leiam esta história até o fim. Vou contar umas coisas: minha casa tem bichos naturais. Bichos naturais são aqueles que a gente não convidou nem comprou. Por exemplo, nunca convidei uma barata para lanchar comigo.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgd-JUAIweP12IrfO96wxAqIKmFwpBMQul2XhH7i3KF2t6aepaEKvidTH-AThC1SAYWZb8ytvK5zTNNhF19g4cA9h7cc8RnMkNPHO7InnNRdHAvjgXkSYtgtHQ3CFsYaTvN-714S9Kiv1Wm1NcXl2eOZfMHgC5nhvd8T3ACTlSkitNhUZzy4-72MADzJC0/s1600/INSETINHOS.jpg


        Minha casa tem muitos bichos naturais, menos ratos, graças a Deus, porque tenho medo e nojo deles. Quase todas as mães têm medo de rato. Os pais não: até gostam porque se divertem caçando e matando esse bicho que detesto. Vocês têm pena de rato? Eu tenho porque não é um bicho bom pra gente amar e fazer carinho. Vocês fariam carinho num rato? Vai ver vocês nem tem medo e em muitas coisas são mais corajosos do que eu.

        Tenho um amigo que, quando era menino, criou um rato branco. Fiquei com tanto nojo que só quero apertar a mão de meu amigo quando passar o susto. Seu rato era, na verdade, uma rata e se chamava Maria de Fátima.

        Maria de Fátima morreu de um modo horrivelzinho (eu digo horrivelzinho porque no fundo estou bem contente): um gato comeu ela com a rapidez com que comemos um sanduíche

        Como eu ia dizendo, os bichos naturais de minha casa não foram convidados. Apareceram assim, sem mais nem menos.

        Por exemplo: tenho baratas. E são baratas muito feias e muito velhas que não fazem bem a ninguém. Pelo contrário, elas até roem a minha roupa que está no armário. [...]

        Barata é outro bicho que me causa pena. Ninguém gosta dela, e todos querem matá-la. Às vezes o pai da criança corre pela casa toda com um chinelo na mão, até pegar uma e bate com o chinelo em cima até ela morrer. Tenho pena das baratas porque ninguém tem vontade de ser bom com elas. Elas só são amadas por outras baratas. Não tenho culpa: quem mandou elas virem? Eu só convido os bichos que eu gosto. E, é claro, convido gente grande e gente pequena.

        Sabem de uma coisa? Resolvi agora mesmo convidar meninos e meninas para me visitarem em casa. Vou ficar tão feliz que darei a cada criança uma fatia de bolo, uma bebida bem gostosa, e um beijo na testa.

        Outro bicho natural de minha casa é... adivinhem! Adivinharam? Se não adivinharam não faz mal, eu digo a vocês. O outro bicho natural de minha casa é a lagartixa pequena. São engraçadas e não fazem mal nenhum. Pelo contrário: elas adoram comer moscas. E mosquitos, e assim limpam minha casa toda. [...]

        O que eu não entendo é o paladar horrível que a lagartixa tem por moscas e mosquitos. Mas é claro: como não sou lagartixa, não gosto de coisas que ela gosta, nem ela gosta de coisas que eu gosto. [...]

        Agora vou falar de bichos convidados, igual ao meu convite para vocês. Às vezes não basta convidar: tem-se que comprar.

        Por exemplo, convidei dois coelhos para morar com a gente e paguei um dinheiro ao dono deles. Coelho tem uma história muito secreta, quero dizer, com muitos segredos.

        Eu até já contei a história de um coelho num livro para gente pequena e para gente grande. Meu livro sobre coelhos se chama assim: O Mistério do Coelho Pensante. Gosto muito de escrever histórias para crianças e gente grande. Fico muito contente quando os grandes e os pequenos gostam do que escrevi.

        Se vocês gostam de escrever ou desenhar ou dançar ou cantar, façam porque é ótimo: enquanto a gente brinca assim, não se sente mais sozinha, e fica de coração quente.

Clarice Lispector. A mulher que matou os peixes. 13. Ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. (Fragmento adaptado).

Fonte: Coleção Desafio Língua Portuguesa – 5° ano – Anos Iniciais do Ensino Fundamental – Roberta Vaiano – 1ª edição – São Paulo, 2021 – Moderna – p. MP090-MP093.

Entendendo o conto:

01 – Leia três vezes as palavras do quadro abaixo para aprimorar sua leitura.

Horrivelzinho – sozinha – contrário – segredos – lagartixa – rapidez – carinho – sanduiche – secreta – engraçadas – chinelo – corajosos.

a)   Leia em voz alta estas palavras, observando as letras destacadas.

Lagartixa – chinelo – sanduiche.

·        O que essas palavras têm em comum?

Tem o mesmo som produzidos por x e ch.

·        O que elas têm de diferente?

A maneira de escrever. Apesar de terem o mesmo som na pronúncia.

b)   Agora, observe a escrita destas palavras, observando as letras destacadas.

Chinelo – sanduiche – sozinha.

·        O que essas palavras têm em comum?

Elas possuem duas letras para representar um único som.

c)   Volte ao quadro acima em negrito e circule outras palavras com dígrafos formados com a letra h na escrita.

Horrivelzinho, carinho.

02 – Logo no início do texto, percebe-se a intenção da narradora de estabelecer um diálogo com o leitor. Copie um trecho que comprove essa afirmação.

      “E vocês, como se chamam?”.

·        Em sua opinião, qual é a importância desse recurso para a construção do texto?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O recurso garante o envolvimento do leitor, que é convocado a partilhar dos pensamentos e dos sentimentos da narradora.

03 – A narradora afirma que gosta de escrever para crianças e gente grande. Para quem você acha que ela escreveu essa história? Por quê?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Escreveu para criança, pelo jeito como escreve e pela maneira como procura se aproximar dos leitores.

04 – Nesse texto, a narradora conta para o leitor a diferença entre ter bichos naturais e bichos convidados.

a)   Pinte de azul os bichos naturais e de verde os bichos convidados.

Ratobaratacachorrogatopassarinhopulgacoelhohamsterformigalagartixa.

b)   Explique a diferença entre esses tipos de bicho.

Bicho naturais é o “que a gente não convidou nem comprou”; bichos convidados é o que se adquire por vontade própria.

c)   Você tem ou conhece alguém que tenha bichos convidados? Conte sobre eles.

Resposta pessoal do aluno.

05 – Ratos e baratas provocam na narradora três sensações: medo, nojo e pena. Como ela explica essas sensações contraditórias?

      Ela sente pena, porque o rato “não é um bicho bom para a gente amar e fazer carinho”; quanto à barata, “ninguém gosta dela, e todos querem matá-la.

06 – Qual a vantagem, segundo o texto, de se ter lagartixa em casa?

      Elas são engraçadas e não fazem mal nenhum, e limpam minha casa toda comendo as moscas e mosquitos.

07 – Por que você acha que a narradora convidou dois coelhos para morar com ela?

      Resposta pessoal do aluno.

 

domingo, 31 de dezembro de 2023

CONTO: A VIAGEM PELO JARDIM - (FRAGMENTO) - MONTEIRO LOBATO - COM GABARITO

 Conto: A VIAGEM PELO JARDIM – Fragmento

            Monteiro Lobato

        O mede-palmos vinha descendo pela haste dum ramo de hortênsia. Era dos peludinhos. Emília, ansiosa por se ver no chão, teve uma ideia. 

        -- E se eu montasse nele e ficasse bem agarrada aos pelos? Os mede-palmos não mordem.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiA4xKEhgaknNRo6yw65iHKDVQIlHM0PnHIEY3yxn9RENQ52WnxKJOyE44itpy5Lv-auNqCPKJH6thV1OCSRqh5ZyjyZq1WZZkkNpaeJGyLITKUe8gDUqXQqzlr-8jMRkRybY4SkVGuniDz_BRqEqRh86Ka_U3Cb8KSQfww2HiaoOSA5TF5TUBd-NVUGr8/s320/a-lagartamedepalmo.jpg

        Emília aproximou-se e zás! Cavalgou-o. O mede-palmos deteve-se estranhando aquilo; ergueu a cabecinha e ficou uns instantes a virá-la dum lado para o outro. Por fim começou a descer.

        -- Primeira descoberta! – gritou Emília. – A escada-rolante viva! [ ...]

        Ao chegar ao chão, debaixo da moita de hortênsia, estranhou o escuro. Como se visse de cima da flor, onde a luz era intensa, custou-lhe acostumar os olhinhos a tanta sombra.

        Que frescura ali! Até demais. É úmido. Se ficasse muito tempo naquela sombra, apanharia um resfriado. A primeira coisa que a impressionou foi a aspereza do chão. Era irregularíssimo! 

        -- Como há pedras no mundo! – exclamou, tropicando e machucando os delicados pezinhos. – Isso que nós chamávamos terra ou chão, não é terra nada, é pedra, pedra e mais pedra. A crosta do planeta é uma pedreira sem fim. Hum! Por isso é que os bichinhos do meu tamanho usam tantos pés. Cada inseto tem seis. [...] Agora compreendo o motivo – é que só com dois pés não poderiam caminhar pelas infinitas pedreiras destes chãos. [...]

MONTEIRO LOBATO – A chave do tamanho. São Paulo: Globo, 2016. (Fragmento).

Fonte: Coleção Desafio Língua Portuguesa – 5° ano – Anos Iniciais do Ensino Fundamental – Roberta Vaiano – 1ª edição – São Paulo, 2021 – Moderna – p. MP100.

Entendendo o conto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Mede-palmo: espécie de lagarta. 

·        Tropicando: tropeçando.

02 – O que Emília descobre ao cavalgar o mede-palmos?

      Emília descobre uma espécie de "escada-rolante viva", usando o mede-palmos para descer até o chão.

03 – Como Emília descreve a sensação ao chegar ao chão?

      Ao chegar ao chão, Emília estranha a escuridão e a umidade. Ela menciona que é como se estivesse acostumando seus olhos à sombra depois de estar em um lugar muito iluminado.

04 – Qual foi a primeira impressão de Emília sobre o chão?

      Emília ficou surpresa com a aspereza do chão, percebendo que não era terra como ela conhecia, mas sim pedras irregulares. Ela tropeça e machuca os pés, constatando que a crosta do planeta é como uma pedreira sem fim.

05 – O que Emília compreende sobre os insetos ao observar o chão?

      Emília compreende o motivo de os insetos terem vários pés, percebendo que eles usam muitos pés para caminhar pelas infinitas pedreiras do chão. Ela entende que, com apenas dois pés, seria impossível para seres do tamanho dela caminhar nesse ambiente.

06 – Por que Emília menciona que os insetos têm vários pés?

      Emília menciona isso ao notar a quantidade de pedras no chão e compreender que a superfície é tão irregular que seria difícil caminhar com apenas dois pés. Ela conclui que os insetos têm muitos pés para se locomoverem nesse tipo de terreno.