Poema: MUSA
IMPASSÍVEL
Francisca Júlia
Musa! um gesto sequer de dor ou de sincero
Luto jamais te afeie o cândido semblante!
Diante de um Jó, conserva o mesmo orgulho; e diante
De um morto, o mesmo olhar e sobrecenho austero.
Em teus olhos não quero a lágrima; não quero
Em tua boca o suave e idílico descante.
Celebra ora um fantasma anguiforme de Dante,
Ora o vulto marcial de um guerreiro de Homero.
Dá-me o hemistíquio d'ouro, a imagem atrativa;
A rima, cujo som, de uma harmonia crebra,
Cante aos ouvidos d'alma; a estrofe limpa e viva;
Versos que lembrem, com seus bárbaros ruídos,
Ora o áspero rumor de um calhau que se quebra,
Ora o surdo rumor de mármores partidos.
Luto jamais te afeie o cândido semblante!
Diante de um Jó, conserva o mesmo orgulho; e diante
De um morto, o mesmo olhar e sobrecenho austero.
Em teus olhos não quero a lágrima; não quero
Em tua boca o suave e idílico descante.
Celebra ora um fantasma anguiforme de Dante,
Ora o vulto marcial de um guerreiro de Homero.
Dá-me o hemistíquio d'ouro, a imagem atrativa;
A rima, cujo som, de uma harmonia crebra,
Cante aos ouvidos d'alma; a estrofe limpa e viva;
Versos que lembrem, com seus bárbaros ruídos,
Ora o áspero rumor de um calhau que se quebra,
Ora o surdo rumor de mármores partidos.
In Péricles Eugênio da Silva
Ramos. Panorama da poesia brasileira:
Parnasianismo, vol.
3. Rio de Janeiro. Ed. Civilização Brasileira, 1959.
Entendendo o poema:
01 – De acordo com o poema,
qual o significado das palavras abaixo:
·
Sobrecenho: semblante severo.
·
Idílico: amoroso.
·
Descante: canto.
·
Anguiforme: que tem a forma de serpente.
·
Marcial: relativo à guerra.
·
Hemistíquio: a metade de um verso alexandrino, e, por extensão, de
qualquer verso.
·
Creba: repetida.
·
Calhau: fragmento de rocha dura, pedra solta, seixo.
02 – Ao longo do soneto, o
sujeito poético tem como interlocutora a sua musa, isto é, a sua fonte de
inspiração artística.
a)
Quais as características da musa, presentes
no primeiro quarteto?
As características são a impassibilidade: “Um gesto sequer de dor ou
de sincero”; a beleza virginal: “o cândido semblante”; e o orgulho, a
gravidade: o “sobrecenho austero”
b)
Ainda de acordo com essa estrofe e com os
dois versos iniciais do segundo quarteto, que comportamentos a musa deve
rejeitar, para manter suas características?
Os comportamentos que a musa deve rejeitar são a tristeza e também o
“suave e idílico descante”, isto é, o canto amorosa.
c)
Tais comportamentos lembram que estilo
literário? Por quê?
Tais comportamentos lembram o Romantismo, pois são de natureza
emocional.
03 – A “Musa Impassível” parnasiana
é fundamentalmente anti-romântica. Como o título e os seis versos iniciais do
poema justificam a 1ª parte dessa afirmação?
O título do poema
e também seus versos iniciais justificam a 1ª parte dessa afirmação na medida
em que caracterizam a musa parnasiana como impassível, impessoal, indiferente e
austera; atributos claramente racionalistas e, portanto, anti-românticos.
04 – Nos tercetos aparecem
alguns dos principais traços estilísticos valorizados pelos parnasianos, que
buscavam sobretudo a perfeição formal, de acordo com os critérios clássicos. Exemplifique
tais traços com passagens dessa parte, depois de observar o exemplo abaixo.
Descritivismo impessoal e
objetivo (versos elaborados com tal racionalidade e precisão que parecem
existir sem interferência humana):
“Versos
que lembrem, com seus bárbaros ruídos,
Ora o áspero rumor de um calhau que se
quebra,
Ora o surdo rumor de mármores
partidos”.
a)
Preciosismo linguístico e vocabular (busca da
palavra rara e perfeita, dos elementos poéticos – a métrica, a rima, as
imagens, as estruturas sintáticas, etc.
“Dá-me o hemistíquio d'ouro, a imagem atrativa;
A rima, cujo som, de uma harmonia crebra,
Cante aos ouvidos d'alma; a estrofe limpa e viva.”
b)
Culto ao equilíbrio clássico e referências à
mitologia greco-latina.
“Celebra ora um fantasma anguiforme de Dante,
Ora o vulto marcial de um guerreiro de Homero.”
05 – Considerando as
características do Parnasianismo percebidas até agora, dê a sua opinião: a
poesia parnasiana é resultado da inspiração ou do trabalho, da “transpiração”?
Para os poetas
parnasianos a poesia resulta muito mais de “transpiração” do que de inspiração.
06 – Agora compare os
estilos das Escolas Realistas: de um lado o Realismo e o Naturalismo e, de
outro, o Parnasianismo. Encontre uma semelhança e uma diferença entre eles.
O que aproxima
essas escolas é a postura racionalista, anti-romântica e os cuidados técnicos
na elaboração da obra de arte. Quanto à diferença, enquanto o Realismo e o
Naturalismo são engajados politicamente, no Parnasianismo predomina o
esteticismo, o ideal da “arte pela arte”.
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