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sábado, 9 de agosto de 2025

CRÔNICA: ALÉM DO POSSÍVEL - FERREIRA GULLAR - COM GABARITO

 Crônica: Além do possível

              Ferreira Gullar

        Coisa fácil é julgar os outros e difícil é compreendê-los. Já afirmei, aqui, que quem admite a complexidade da realidade não pode ser radical nem sectário, pela simples razão de que, se os problemas são complexos, não serão resolvidos de uma penada. Alias, toda vez que se tenta fazê-lo, o desastre é inevitável. Mas a tendência mais comum é acreditar nas soluções milagrosas, mesmo porque aceitar que as coisas são complicadas custa muito, a não ser se se trata de nós mesmos. Claro, quando alguém nos acusa de ter agido mal, nossa resposta é sempre que não deu pra fazer melhor. “As coisas são complicadas”, a gente argumenta. E são mesmo, mas para os outros também.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgrN-1FZnXiXRai23fdTszZuI8cMijpWOoQREPvnHih5DG6bes92ZnpEE73ij-4_HZf5c7-hTbpwx1kZ53hPU6_fQ2p5XNEUDVsG91x3Uy2424fA3VsFHn3Y6TqiHdqhqFSZTxXnR7z6Mca-22v2MbTIBxWioe4sKqnMmdTQzgqi40W1tW-Haq0vVFl3w/s1600/images.jpg


        Essas considerações vêm a propósito de uma conversa que tive com uma amiga muito querida, que vive sonhando. Devo esclarecer que nasci sob o signo de Virgo e sou, portanto, segundo a discutível astrologia, um tipo da terra, que vive pesando e medindo tudo, sem tirar os pés do chão. Tanto isso é verdade que muito raramente escrevo poesia, uma vez que a poesia nos obriga a voar. Essa é a razão por que, quando me perguntam se eu sou o poeta Ferreira Gullar, eu respondo: “Às vezes”. Dá então para entender a dificuldade que tenho de discutir certas coisas com uma pessoa do signo de Balança, por exemplo. Essa minha amiga é de Balança, isto é, não só hesita, sobe e desce, como flutua o tempo todo. E por isso, apesar do carinho que nos une, frequentemente nos desentendemos.

        -- Mas você não vê que isso é loucura, menina?

        -- Loucura? Só porque desejo ir pro deserto de Atacama catar múmia?

        -- Não sabia que você virou arqueóloga!

        -- E precisa ser arqueóloga pra ir catar múmia em Atacama?

        -- Precisa, sim. Mesmo porque aquilo deve ser um campo arqueológico, supervisionado pelo governo chileno. Não pode qualquer pessoa chegar lá e começar a cavucar.

        -- Você é um chato, ouviu! É por isso que não suporto os virginianos!

        -- Você não suporta é a realidade, meu amor!

        Pedi a conta e saímos amuados do restaurante. Ao chegar em casa, refleti.

        -- Que diabo tenho eu que ficar botando areia no sonho dos outros?

        E, como bom virginiano, aleguei que só falara aquilo temendo que ela entrasse numa fria, se tocasse para o deserto de Atacama e desse com os burros n’água.

        No dia seguinte, liguei para ela e me desculpei, expliquei-lhe que minha intenção era apenas alertá-la.

        -- E você pensa que eu sou maluca? Acha que eu ia mesmo me tocar para Atacama semana que vem?

        -- Temia que...

        -- O que você não entende é que tenho necessidade de sonhar, de imaginar coisas maravilhosas. Se as levarei à prática ou não, é secundário. Às vezes levo, como a viagem que fiz ao Himalaia e a outra, a Machu Picchu. Sei muito bem que fazer é mais difícil que sonhar, e por isso mesmo é que eu sonho.

        Caí em mim. Lembrei-me de uma coisa que sei e de que às vezes me esqueço: a vida não é só o possível. Sem o impossível, não se vai muito além da próxima esquina.

Ferreira Gullar. Além do possível. Em: Ferreira Gullar: crônicas para jovens. São Paulo: Global, 2011. p. 108-109 (Coleção Crônicas para jovens).

Fonte: Universos – Língua Portuguesa – Ensino fundamental – Anos finais – 9º ano – Camila Sequetto Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Edições SM. São Paulo. 3ª edição, 2015. p. 80-81.

Entendendo a crônica:

01 – Qual a principal diferença de personalidade e visão de mundo entre o narrador e sua amiga, segundo o texto?

      O narrador, um virginiano, é pragmático e realista, "pesando e medindo tudo" e mantendo os "pés no chão". Ele foca no que é possível e concreto. Sua amiga, uma libriana, é sonhadora e flutuante. Ela tem a necessidade de imaginar coisas e idealizar, mesmo que não as realize de fato. Essa diferença de temperamentos é a causa de seus desentendimentos.

02 – Por que o narrador se identifica como poeta "às vezes"?

      Ele afirma que nasceu sob o signo de Virgem e se considera um tipo da terra, o que contrasta com a natureza da poesia, que exige "voar", ou seja, imaginar e sair da realidade concreta. Por isso, ele se vê como poeta apenas em momentos específicos, quando consegue se desprender de seu lado racional e pragmático para criar.

03 – Qual o motivo do desentendimento entre o narrador e sua amiga durante a conversa no restaurante?

      A amiga, sonhadora, expressa o desejo de ir ao deserto de Atacama catar múmias, uma ideia que o narrador considera "loucura" e irrealista. Ele, com sua visão pragmática, aponta as dificuldades práticas (a necessidade de ser arqueólogo, a supervisão governamental, etc.), enquanto ela enxerga a ideia como um simples sonho.

04 – Após a discussão, qual foi a reflexão do narrador?

      Depois de se desentender com a amiga, o narrador reflete sobre sua atitude e se questiona: "Que diabo tenho eu que ficar botando areia no sonho dos outros?". Ele percebe que sua tentativa de ser realista e alertá-la sobre os perigos foi, na verdade, uma intromissão desnecessária em algo que era apenas um sonho.

05 – Qual a principal lição que o narrador aprende com a amiga no final da crônica?

      A amiga explica que a necessidade de sonhar é essencial, e que a realização ou não do sonho é algo secundário. A partir disso, o narrador compreende que a vida não se resume apenas ao "possível" e que sem o "impossível" — ou seja, sem a capacidade de sonhar e idealizar — a vida se torna limitada e sem grandes avanços.

06 – Como a crônica "Além do Possível" trata a ideia de julgamento e compreensão?

      O texto começa afirmando que "coisa fácil é julgar os outros e difícil é compreendê-los". O narrador, ao longo da narrativa, exemplifica essa ideia. Inicialmente, ele julga o sonho da amiga como loucura, sem tentar entender a sua real importância para ela. Ao final, ele a compreende e se desculpa, percebendo que sua visão pragmática o impediu de enxergar o valor do "impossível".

07 – Qual o significado da última frase da crônica: "a vida não é só o possível. Sem o impossível, não se vai muito além da próxima esquina"?

      Essa frase sintetiza o aprendizado do narrador. Ela significa que a realidade concreta e pragmática (o possível) é apenas uma parte da vida. Para que haja progresso, inovação e até mesmo um sentido maior, é preciso sonhar, ter aspirações e idealizar (o impossível). Ficar preso apenas ao que é viável impede a pessoa de ir longe, de se aventurar e de transcender a rotina.

 

sábado, 26 de abril de 2025

POEMA: MORTE DE CLARICE LISPECTOR - FERREIRA GULLAR - COM GABARITO

 Poema: MORTE DE CLARICE LISPECTOR

             Ferreira Gullar

Enquanto te enterravam no cemitério judeu

do Caju

(e o clarão de teu olhar soterrado

resistindo ainda)

o táxi corria comigo à borda da Lagoa

na direção de Botafogo

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeXX98kMpfzBpSb5AJrcLpDyF8mAR2vjWLM82eGlc5gDfVlYndIm8YLyT_wRzkb4juqtFtKRqVvQu4wgr4IU8azWpBMj7wiXBHunAsl6HeVgFp4zwxHxNVXrbv-Ou_FrzgtHfsWAWj8H0Fh6Dzb-Ct2rWR1BzEXHJORZNOKVL6m9aVuQIw0pbiafo91tA/s320/1952-061331_restaurada_002-1-798x1024.jpg

as pedras e as nuvens e as árvores

no vento

mostravam alegremente

que não dependem de nós.

Melhores poemas de Ferreira Gullar. 7. ed. Seleção de Alfredo Bosi. São Paulo: Global, 2004. p. 153.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed. – Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 285.

Entendendo o poema:

01 – Onde Clarice Lispector foi enterrada, de acordo com o poema?

      De acordo com o poema, Clarice Lispector foi enterrada no cemitério judeu do Caju.

02 – Que imagem o poeta evoca para descrever a persistência da presença de Clarice mesmo após sua morte?

      O poeta evoca a imagem do "clarão de teu olhar soterrado / resistindo ainda", sugerindo que sua essência ou impacto ainda permanecia presente.

03 – Para onde o táxi levava o eu lírico enquanto o enterro acontecia?

      O táxi levava o eu lírico à borda da Lagoa, na direção de Botafogo.

04 – O que os elementos da natureza (pedras, nuvens, árvores) pareciam expressar para o eu lírico naquele momento?

      Os elementos da natureza mostravam alegremente ao eu lírico que não dependem de nós, ou seja, que a vida e o mundo seguem seu curso independentemente da presença ou ausência de um indivíduo.

05 – Qual a possível reflexão ou contraste que o poema estabelece entre o evento da morte e a observação da natureza?

      O poema estabelece um contraste entre a solenidade e a perda da morte de Clarice e a continuidade despreocupada e vibrante da natureza. Sugere uma reflexão sobre a transitoriedade da vida humana em contraposição à perenidade do mundo natural.

 

 

domingo, 23 de março de 2025

POEMA: POEMA BRASILEIRO - FERREIRA GULLAR - COM GABARITO

 Poema: Poema brasileiro

             Ferreira Gullar

No Piauí de cada 100 crianças que nascem
78 morrem antes de completar 8 anos de idade.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSXOSNuhcbqkn9mCJNsVOgWetCAYqtM7W1_FmQuKYuroMUj5pcEPDva51ENSkdmxubE-D8RW2apufqXruk6GalgTQC8AznUQPdi34E46c1s75HaTmuWMRjgMnPZJnSTm-m1X1Lad_9bt03T1QYSsG2_sZoWtSNlaHvEEQWkmIjas7GeU4c4kFpvdpzK9E/s320/PI-taxa-mortalidade-infantil-2019.png


No Piauí
de cada 100 crianças que nascem
78 morrem antes de completar 8 anos de idade.

No Piauí
de cada 100 crianças
que nascem
78 morrem
antes
de completar
8 anos de idade.

antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade

Ferreira Gullar. “Poema brasileiro”. In: Toda poesia (1950/1980). São Paulo, Círculo do Livro, 1982. p. 221.

Fonte: Português. Série novo ensino médio. Volume único. João Domingues Maia – Editora Ática – 2000. São Paulo. p. 24.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o tema central do poema?

      O poema aborda a alta taxa de mortalidade infantil no Piauí, destacando a dura realidade enfrentada por muitas crianças na região.

02 – Qual efeito a repetição da frase "antes de completar 8 anos de idade" causa no leitor?

      A repetição intensifica o impacto da estatística, enfatizando a fragilidade da vida das crianças e a tragédia da mortalidade infantil precoce.

03 – Qual é a mensagem que o poeta busca transmitir com este poema?

      O poeta busca denunciar a desigualdade social e a precariedade das condições de vida que levam a essa alta taxa de mortalidade, buscando gerar indignação e conscientização.

04 – Qual é a importância do número "78" no poema?

      O número "78" representa a alarmante estatística de crianças que morrem antes dos 8 anos no Piauí, sendo o ponto central da denúncia do poema.

05 – De que forma o poeta usa a linguagem para reforçar a mensagem do poema?

      O poeta utiliza uma linguagem direta e concisa, com repetições e quebras de verso, para criar um ritmo que enfatiza a gravidade da situação e impacta o leitor.

 

 

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

POEMA: AGOSTO 1964 - FERREIRA GULLAR - COM GABARITO

 Poema: Agosto 1964

             Ferreira Gullar

Entre lojas de flores e de sapatos, bares,

mercados, butiques,

viajo

num ônibus Estada de Ferro – Leblon

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjtDYBy8j-ruY6ElqOKP3EG1___a9F95NvVhwTy2BBhiX-nU7kEQd_xSBNgBvmwW5lwf5NNIBem7iVxeGCb9amotSAGBYaFMBJLZ82yaP2KKCG8GlR7i1ejVgCkTBLXBPHu5JFQu9vGSL78aWSpCIVLBJdc0SP1XiLlqrN6TYYpPFoimCPvHhmv662d6Vw/s320/1964.jpg


Volto do trabalho, a noite em meio,

fatigado de mentiras.

O ônibus sacoleja. Adeus, Rimbaud,

relógio de lilases, concretismo,

neoconcretismo, ficções de juventude, adeus,

que a vida

eu a compro à vista dos donos do mundo.

Ao peso dos impostos, o verso sufoca,

a poesia agora responde a inquérito policial-militar.

Digo adeus à ilusão

mas não ao mundo. Mas não à vida,

meu reduto e meu reino.

Do salário injusto,

da punição injusta,

da humilhação, da tortura,

do terror,

retiramos algo e com ele construímos um artefato

um poema

uma bandeira.

Dentro da noite veloz & Poema sujo. São Paulo: Círculo do livro. s.d. p. 55.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, Vol. Único. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. Ensino Médio, 1ª ed. 4ª reimpressão – São Paulo: ed. Atual, 2003. p. 492.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o contexto histórico e social retratado no poema "Agosto 1964"?

      O poema, "Agosto 1964" de Ferreira Gullar foi escrito durante um período de grande repressão política no Brasil, logo após o golpe militar de 1964. O país vivenciava uma atmosfera de medo, censura e perseguição, com a instauração da ditadura militar.

02 – Qual é a principal emoção expressa pelo poeta no poema?

      O poeta expressa principalmente a frustração e a desilusão diante da realidade política e social do país. Ele se mostra "fatigado de mentiras" e descreve um ambiente opressor, onde a poesia é submetida a "inquérito policial-militar" e o peso dos impostos sufoca a liberdade de expressão.

03 – O que o poeta quer dizer com os versos "Adeus, Rimbaud, relógio de lilases, concretismo, neoconcretismo, ficções de juventude"?

      Nesses versos, o poeta se despede de ideais e movimentos artísticos que representavam a liberdade e a esperança de um futuro melhor. Ele reconhece que a realidade daquele momento histórico o afasta dessas "ficções de juventude" e o coloca diante de um mundo mais cruel e opressor.

04 – Como o poeta relaciona a experiência da opressão com a criação artística no poema?

      O poeta mostra que, mesmo diante da opressão, da injustiça e da violência, é possível transformar a dor em arte. Ele afirma que "do salário injusto, da punição injusta, da humilhação, da tortura, do terror" é possível retirar algo e construir um "artefato", um poema, uma bandeira. A arte, nesse contexto, surge como uma forma de resistência e de expressão da esperança.

05 – Qual é a mensagem final do poema "Agosto 1964"?

      A mensagem final do poema é um chamado à resistência e à luta pela liberdade, mesmo em tempos de escuridão. O poeta se recusa a abandonar o mundo e a vida, que são seu "reduto e reino", e reafirma a importância da arte como forma de expressão e de resistência diante da opressão.

 

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

POEMA: MUITAS VOZES - FERREIRA GULLAR - COM GABARITO

 Poema: Muitas Vozes

             Ferreira Gullar

Meu poema
é um tumulto:
a fala
que nele fala
outras vozes
arrasta em alarido.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKeFsH4gN35GbiU54roWZESGNU_MDpPIaqMitbLEBoqIZ6G1a6zS4vYXYcVehDsjH6-LMKyo_CKVe5EiemefVZiX7jkSf5xtkz9Sx-OfbQwymjkbiZK72bHuuADWQyPnCfBOm_ImDvCHpnUxk3HJwqvs0p38B0IrfrFomWkkRltEwLufQ7p9Uj1leL0Bo/s1600/vozes.jpg



(estamos todos nós
cheios de vozes
que o mais das vezes
mal cabem em nossa voz:

se dizes pêra
acende-se um clarão
um rastilho
de tardes e açucares
ou
se azul disseres
pode ser que se agite
o Egeu
em tuas glândulas)

A água que ouviste
num soneto de Rilke
os ínfimos
rumores no capim
o sabor
do hortelã
(essa alegria)

A boca fria
da moça
o maruim na poça
a hemorragia da manhã

Tudo isso em ti
se deposita
e cala.
Até que de repente
um susto
ou uma ventania
(que o poema dispara)
chama
esses fosseis à fala.

Meu poema
é um tumulto, um alarido:
basta apurar o ouvido.

GULLAR, Ferreira. Muitas vozes. Rio de Janeiro: José Olympio, 1999.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 392.

Entendendo o poema:

01 – Qual é a principal característica do poema, segundo o eu lírico?

      O eu lírico descreve o poema como um "tumulto", um alarido de muitas vozes. Ele explica que o poema não é apenas a sua voz, mas também as vozes de outras pessoas, de suas experiências e de suas memórias.

02 – O que significa a expressão "cheios de vozes" no poema?

      A expressão "cheios de vozes" significa que cada pessoa carrega dentro de si uma multitude de experiências, de sentimentos e de pensamentos que influenciam a sua forma de ver o mundo. Essas vozes, muitas vezes, não são expressas diretamente, mas estão presentes em nossas ações e em nossas escolhas.

03 – Como as vozes se manifestam no poema, de acordo com o eu lírico?

      As vozes se manifestam de diversas formas no poema. O eu lírico menciona exemplos concretos, como a água de um soneto de Rilke, os rumores no capim, o sabor do hortelã, a boca fria da moça, o maruim na poça e a hemorragia da manhã. Esses elementos sensoriais representam as diversas vozes que habitam o interior do eu lírico.

04 – O que faz com que essas vozes "calar" se manifestem no poema?

      O eu lírico explica que essas vozes permanecem caladas dentro de nós até que um "susto" ou uma "ventania" as desperte. Esses eventos inesperados, que podem ser tanto internos quanto externos, são o que "disparam" o poema, ou seja, o que permitem que as vozes se manifestem através da escrita.

05 – Qual é a relação entre o poema e o título "Muitas Vozes"?

      O título "Muitas Vozes" resume a principal característica do poema: a presença de diversas vozes que se manifestam através da escrita. O poema é um espaço onde essas vozes podem se expressar, seja de forma clara e direta, seja de forma implícita e simbólica. O poema, portanto, é um reflexo da complexidade e da pluralidade da experiência humana.

 

 

domingo, 5 de janeiro de 2025

POESIA: AGOSTO 1964 - FERREIRA GULLAR - COM GABARITO

 Poesia: Agosto 1964

            Ferreira Gullar 

Entre lojas de flores
e de sapatos, bares,
mercados, butiques,
viajo num ônibus
Estrada de Ferro-Leblon.
Volto do trabalho,
a noite em meio,
fatigado de mentiras.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbnqOqF4KohuLysuIlEoHXiMnjhRK3rX41ks-TL_jnU35L_Jhx1i4IKgUV6vNrqWERph77ud-wicBi1wGhEU_IAtQ_G3T2AI4CpKguUGQUIZuOpM66d7bboCG3B7WdBUPmn09HuczA7FdOsX8BUVdwmdOCnHz33Vw55JMgYoutYEzgfBajRtuU_LKq01M/s320/FERRO.jpg

O ônibus sacoleja.
Adeus, Rimbaud,
relógio de lilases,
concretismo,
neoconcretismo,
ficções da juventude,
adeus, que a vida
eu compro à vista
aos donos do mundo.
Ao peso dos impostos,
o verso sufoca,
a poesia agora
responde a inquérito
policial-militar.

Digo adeus à ilusão
mas não ao mundo.
Mas não à vida,
meu reduto e meu reino.
Do salário injusto,
da punição injusta,
da humilhação,
da tortura, do horror,
retiramos algo e com ele
construímos um artefato
um poema
uma bandeira.

Ferreira Gullar. Toda poesia. Rio de Janeiro: José Olympio, 2001. p. 170.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3 / William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 11. Ed. – Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 365.

Entendendo a poesia:

01 – Qual a principal temática abordada no poema?

      A principal temática do poema é a relação entre o indivíduo e o contexto histórico-social, mais especificamente, a vivência do poeta diante do golpe militar de 1964. Gullar retrata o cotidiano, a rotina de trabalho, a desilusão política e a busca por resistência e expressão artística em meio à repressão.

02 – Como o poeta descreve a realidade do Brasil após o golpe militar?

      Gullar descreve uma realidade marcada pela repressão, pela censura e pela perda de liberdade. Os versos "a poesia agora responde a inquérito policial-militar" e "digo adeus à ilusão" evidenciam a dificuldade de produzir arte e pensamento crítico em um contexto autoritário. A imagem do ônibus sacolejando simboliza a instabilidade e a insegurança da época.

03 – Qual o papel da poesia diante do contexto histórico retratado no poema?

      A poesia, para Gullar, é uma forma de resistência e afirmação da identidade. Mesmo diante da repressão, o poeta busca na arte um espaço para expressar seus sentimentos e pensamentos. A poesia se torna uma forma de luta contra a opressão, um refúgio e um meio de dar voz àqueles que foram silenciados.

04 – Quais as referências culturais presentes no poema?

      O poema faz referência a diversos elementos da cultura, como a literatura (Rimbaud), as vanguardas artísticas (concretismo, neoconcretismo) e a política. Essas referências demonstram a formação intelectual do poeta e a sua busca por uma linguagem poética que dialogue com o seu tempo.

05 – Qual a mensagem principal do poema?

      A mensagem principal do poema é a necessidade de resistir e manter viva a esperança, mesmo diante da adversidade. Apesar da repressão e da desilusão, o poeta afirma a importância da vida, da arte e da luta por um mundo mais justo e livre. O verso "Mas não à vida, meu reduto e meu reino" sintetiza essa ideia de resistência e afirmação da individualidade.

 

domingo, 29 de outubro de 2023

POEMA: MEU POVO, MEU POEMA - FERREIRA GULLAR - COM GABARITO

 Poema: Meu povo, meu poema

             Ferreira Gullar

Meu povo e meu poema crescem juntos

como cresce no fruto

a árvore nova

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggrVQjiFmOf0Za4KjQovIvbk707UOfmbGzszBLS2tbdBkL-M4kZvFMz0n_p4oFQVznw-NCIDwNqXWWcWHpZfghmm_38zz4KR_qKkp4ZJ9_gCn2W7O1tt2pYlUisUUAnOBbg3KyoxX9S7AmOc44KY8w1cv_zP0Ipyo1wXnfxqax9AP_nu-vTE11Zq-md0Y/s1600/POVO.jpg


 

No povo meu poema vai nascendo

como no canavial

nasce verde o açúcar

 

No povo meu poema está maduro

como o sol

na garganta do futuro

 

Meu povo em meu poema

se reflete

como a espiga se funde em terra fértil

 

Ao povo seu poema aqui devolvo

menos como quem canta

do que planta.

Ferreira Gullar. Toda poesia. José Olympio: Rio de Janeiro, 2000.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o tema principal do poema "Meu Povo, Meu Poema" de Ferreira Gullar?

      O tema principal do poema é a relação entre o povo e a poesia, destacando como a poesia se desenvolve a partir das experiências e da cultura do povo.

02 – Como o poeta descreve a conexão entre o povo e a poesia no poema?

      O poeta descreve a conexão entre o povo e a poesia usando metáforas, comparando-a ao crescimento de árvores, canaviais e ao sol na garganta do futuro.

03 – Qual é a metáfora usada para ilustrar como a poesia se desenvolve no povo?

      O poema usa a metáfora do crescimento do açúcar no canavial, sugerindo que a poesia cresce naturalmente a partir das raízes do povo.

04 – O que o poeta quer dizer quando afirma que "Meu povo em meu poema se reflete"?

      O poeta está dizendo que o povo está incorporado à poesia, influenciando e sendo parte integrante do poema.

05 – Como o poema expressa a ideia de que o poeta está devolvendo a poesia ao povo?    

      O poeta expressa a ideia de devolução ao povo comparando-a a alguém que planta algo que crescerá e prosperará, enfatizando a importância de compartilhar a poesia com o povo.

06 – Que movimento literário Ferreira Gullar estava associado, e como isso pode influenciar a interpretação do poema?

      Ferreira Gullar estava associado ao Concretismo, um movimento literário que enfatizava a precisão e a clareza na poesia. Isso pode influenciar a interpretação do poema, pois o poema tende a ser conciso e simbólico, buscando uma relação direta entre a poesia e o povo.

07 – Qual é o tom geral do poema "Meu Povo, Meu Poema"?

      O tom geral do poema é de celebração e conexão entre o poeta e o povo, com um toque de otimismo e esperança em relação ao futuro.

 

sexta-feira, 22 de abril de 2022

POEMA: OCORRÊNCIA - FERREIRA GULLAR - COM GABARITO

 Poema: Ocorrência

           Ferreira Gullar

Aí o homem sério entrou e disse: bom dia. 

Aí o outro homem sério respondeu: bom dia. 

Aí a mulher séria respondeu: bom dia. 

Aí a menininha no chão respondeu: bom dia. 

Aí todos riram de uma vez. 

 

Menos as duas cadeiras, a mesa, o jarro, as flores 

as paredes, o relógio, a lâmpada, o retrato, os livros, 

o mata-borrão, os sapatos, as gravatas, as camisas, os lenços. 

Ferreira Gullar. Toda poesia. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1983.

Fonte: Livro – PORTUGUÊS: Linguagens – Willian R. Cereja/Thereza C. Magalhães – 5ª Série – 2ª edição - Atual Editora – 2002 – p. 106-7.

Entendendo o poema:

01 – O poema não informa claramente em que lugar acontece a cena descrita. Porém, ele dá algumas pistas: o comportamento dos homens, da mulher, da menininha e dos objetos. Na sua opinião, que lugar provavelmente é esse?

      Provavelmente um escritório, pois há livros e mata-borrão.

02 – O homem cumprimenta com formalidade o outro homem e a mulher. O poeta os caracteriza com uma única palavra.

a)   Que palavra é essa?

Sério.

b)   A que classe gramatical ela pertence: à dos substantivos ou à dos adjetivos?

À dos adjetivos.

03 – Um incidente quebra a seriedade da cena. Qual é ele?

      A menininha responder bom dia e todos rirem de uma vez.

04 – A atitude da menininha causa uma descontração no ambiente.

a)   Que seres não participam dessa descontração?

Os objetos: as duas cadeiras, a mesa, o jarro, as flores, as paredes, o relógio, a lâmpada, o retrato, os livros, o mata-borrão, os sapatos, as gravatas, as camisas, os lenços.

b)   A que classe gramatical pertencem as palavras usadas para indicar esses seres: à dos substantivos ou à dos adjetivos?

À dos substantivos.

 

 

domingo, 27 de março de 2022

POEMA: FINAL - FERREIRA GULLAR - COM GABARITO

 Poema: Final

          Ferreira Gullar


Era o que eu tinha a contar
Sobre o meu gato Gatinho
Que muito tem me ensinado
De amizade e de carinho.

Um siamês, pelo escuro
Olhos azuis, cara preta
É o bicho – lhes asseguro –
Mais “fofo” deste planeta.

Um gato chamado Gatinho, de Ferreira Gullar. São Paulo: Salamandra, 2000.

Fonte: Gramática Reflexiva – 6° ano – Atual Editora – William & Thereza – 2ª edição reformulada – São Paulo. 2008. p. 88-9.

Entendendo o poema:

01 – Na 1ª estrofe do poema, foram empregados os substantivos gato e Gatinho. Considerando a classificação desses substantivos, explique por que apenas um deles tem letra inicial maiúscula.

      Gatinho é substantivo próprio, ao passo que gato é substantivo comum.

02 – Como você sabe, substantivos abstratos podem nomear sentimentos e ações. Identifique no poema dois substantivos abstratos que traduzem os sentimentos existentes entre o gato e seu dono.

      Amizade e carinho.

03 – Na 2ª estrofe, o poeta descreve o seu gato. Que substantivos, simples e comuns, participam dessa descrição do animal?

      Siamês, pelo, olhos, cara, bicho.

04 – O substantivo gato é primitivo. Que substantivos derivados dele você conhece?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: gatil, gateza, gataria, gaticídio, gatinhar, engatinhar.

 

 

sábado, 31 de julho de 2021

POEMA: PERDE E GANHA - FERREIRA GULLAR - COM GABARITO

 POEMA: Perde e ganha

             Ferreira Gullar


Vida tenho uma só

que se gasta com a sola do meu sapato

a cada passo pelas ruas

e não dá meia-sola.

 

Perdi-a já

em parte

num pôquer solitário,

mas ganhei de novo

para um jogo comum.

 

E neste jogo a jogo

inteira, a cada lance,

que a vida ou se perde ou se ganha com os demais

e assim se vive

que o mais é pura perda.

 

(Toda poesia. 18. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2009. p. 172.)

Fonte: Livro- Português: Linguagem, 3/ William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 11.ed – São Paulo: Saraiva, 2016.p. 74/75.


Entendendo o poema

 

1. Na primeira estrofe do poema há um período composto por subordinação. Observe:

“Vida tenho uma só que se gasta com a sola do meu sapato”

A oração que se gasta com a sola do meu sapato está subordinada à oração anterior por meio do conectivo que, um pronome relativo.

a)   Que palavras, expressas anteriormente, esse conectivo retoma e substitui?

Uma vida.

b)   Substitua o pronome relativo que pelas palavras que são retomadas por ele. Que função sintática essas palavras desempenham na oração que se gasta com a sola do meu sapato?

A função de sujeito.

2. O período composto analisado na questão anterior também poderia ter sido construído assim:

Tenho só uma vida, gasta com a sola do meu sapato.

a)   Nesse período, qual é a classe gramatical da palavra gasta?

Classe dos adjetivos.

b)   Que função sintática a palavra gasta desempenha?

A de predicativo do objeto.

3. No poema “Perde e ganha”, o eu lírico reflete sobre a vida e compara-a a um jogo.

a) Que expressões do campo semântico de jogo são utilizadas para construir essa comparação?

 “Perde e ganha”; “Perdia-a já / em parte / num pôquer”; “mas ganhei de novo /para um jogo comum”; “E neste jogo a jogo”

 b)Nesse jogo, o eu lírico prefere o jogo solitário ou o jogo coletivo? Por quê?

O jogo coletivo (“jogo comum”), pois no “pôquer solitário” acabou por perder parte de sua vida.

 

sexta-feira, 25 de junho de 2021

CRÔNICA: O MENINO E O ARCO-ÍRIS - GULLAR FERREIRA - COM GABARITO

 CRÔNICA: O menino e o arco-íris

                  Gullar Ferreira


Era uma vez um menino curioso e entediado. Começou assustando-se com as cadeiras, as mesas e os demais objetos domésticos. Apalpava-os, mordia-os e jogava-os no chão: esperava certamente uma resposta que os objetos não lhe davam. Descobriu alguns objetos mais interessantes que os sapatos: os copos – estes, quando atirados ao chão, quebravam-se. Já era alguma coisa, pelo menos não permaneciam os mesmos depois da ação. Mas logo o menino (que era profundamente entediado) cansou-se dos copos: no fim de tudo era vidro e só vidro.

Mais tarde pôde passar para o quintal e descobriu as galinhas e as plantas. Já eram mais interessantes, sobretudo as galinhas, que falavam uma língua incompreensível e bicavam a terra.

Conheceu o peru, a galinha-d´Angola e o pavão. Mas logo se acostumou a todos eles, e continuou entediado como sempre.

Não pensava, não indagava com palavras, mas explorava sem cessar a realidade.

Quando pôde sair à rua, teve novas esperanças: um dia escapou e percorreu o maior espaço possível, ruas, praças, largos onde meninos jogavam futebol, viu igrejas, automóveis e um trator que modificava um terreno. Perdeu-se. Fugiu outra vez para ver o trator trabalhando. Mas eis que o trabalho do trator deu na banalidade: canteiros para flores convencionais, um coreto etc. E o menino cansou-se da rua, voltou para o seu quintal.

O tédio levou o menino aos jogos de azar, aos banhos de mar e às viagens para a outra margem do rio. A margem de lá era igual à de cá. O menino cresceu e, no amor como no cinema, não encontrou o que procurava. Um dia, passando por um córrego, viu que as águas eram coloridas. Desceu pela margem, examinou: eram coloridas!

Desde então, todos os dias dava um jeito de ir ver as cores do córrego. Mas quando alguém lhe disse que o colorido das águas provinha de uma lavanderia próxima, começou a gritar que não, que as águas vinham do arco-íris. Foi recolhido ao manicômio.

E daí?

(GULLAR, Ferreira. O menino e o arco-íris. São Paulo: Ática, 2001. p. 5)

Fonte: http://textoemmovimento.blogspot.com.br/2013/03/texto-o-menino-e-o-arco-iris.html

 Fonte: Trilhando novos caminhos – Língua Portuguesa, 8º ano,2021.

Fonte da imagem -https://www.google.com/imgres?imgurl=https%3A%2F%2Fi.pinimg.com%2Foriginals%2F07%2F58%2F81%2F075881c6cb3bcc40e607221dad1b3b16.jpg&imgrefurl=https%3A%2F%2Fbr.pinterest.com%2Fpin%2F741123682412829531%2F&tbnid=BwFr0mioUr1XxM&vet=12ahUKEwju38XT5LPxAhXln5UCHXVJBV8QMygAegUIARDmAQ..i&docid=RUxzZ5rFabTEWM&w=750&h=277&q=ARCO%20IRIS&ved=2ahUKEwju38XT5LPxAhXln5UCHXVJBV8QMygAegUIARDmAQ

Entendendo o texto

1) (SARESP/2010) Na expressão ―Mas logo se acostumou a todos eles - , o termo destacado refere-se a

(A) animais no quintal.

(B) cadeiras e mesas.

(C) sapatos e copos.

(D) jogos de azar.

 

2) (SARESP/2010) O tema do texto é

(A) a natureza.

(B) a tolerância.

(C) a curiosidade.

(D) a saudade.

 

3) (SARESP/2010) De acordo com o texto, o menino procurava, desde criança, por

(A) banhos de mar.

(B) galinhas e plantas interessantes.

(C) um arco-íris.

(D) alguma coisa surpreendente.

 

4) (SARESP/2010) “E daí?” A frase final do texto demonstra que a opinião do narrador sobre o destino do menino é de

(A) pena e desespero.

(B) simpatia e aprovação.

(C) indiferença e esperança.

(D) esperança e simpatia.

 

5) (SARESP/2010) No trecho “Desceu pela margem, examinou: eram coloridas!”, o ponto de exclamação indica

(A) o tédio do menino.

(B) a surpresa do menino.

(C) a dúvida do narrador.

(D) o comentário do narrador.

 

6) (SARESP/2010) O texto acima é

(A) uma crônica.

(B) uma notícia.

(C) um informativo.

(D) uma fábula.