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domingo, 23 de março de 2025

SONETO: ESSA PAVANA É PARA UMA DEFUNTA - JORGE DE LIMA

 Soneto: Essa pavana é para uma defunta

             Jorge de Lima

Essa pavana é para uma defunta
infanta, bem-amada, ungida e santa,
e que foi encerrada num profundo
sepulcro recoberto pelos ramos.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhS63TnXK_q7_TKJZzQcoFaheclPdYs49V_iuFRYPrxMnBZ6m_r-MRtqO6ieci6JBnxOTFXP9iwmtUUWkt2ITJYmAD7s5BTiRQE_COBA1YDBPlkfuFLTQ-tXBv3xqAeDrh5j_fEe2jAUgu0vV0JV9Vhn8CESiGsc4UDc-nKmmW0EQikFPyH65f8cD0ea70/s320/pavana-para-um-jovem-no-morro.jpeg



de salgueiros silvestres para nunca
ser retirada desse leito estranho
em que repousa ouvindo essa pavana
recomeçada sempre sem descanso,

sem consolo, através dos desenganos,
dos reveses e obstáculos da vida,
das ventanias que se insurgem contra.

a chama inapagada, a eterna chama
que anima esta defunta infanta ungida
e bem-amada e para sempre santa.

Jorge de Lima. Obra poética. ed. compl. org. por Otto Maria Carpeaux. Rio de Janeiro, Getúlio Costa, 1950. p. 609.

Fonte: Lições de texto. Leitura e redação. José Luiz Fiorin / Francisco Platão Savioli. Editora Ática – 4ª edição – 3ª impressão – 2001 – São Paulo. p. 365.

Entendendo o soneto:

01 – Qual o tema central do poema?

      O tema central do poema é a morte de uma jovem infanta, idealizada e santificada, e a melancolia que a envolve. A pavana, uma dança lenta e solene, serve como um lamento fúnebre eterno.

02 – Qual o significado da pavana no contexto do poema?

      A pavana simboliza um ritual de luto contínuo e incessante. Ela é repetida eternamente, representando a dor e a saudade que persistem após a morte da infanta.

03 – Como a figura da defunta infanta é apresentada no poema?

      A infanta é apresentada de forma idealizada e santificada, descrita como "bem-amada, ungida e santa". Ela é envolta em um mistério poético, com seu sepulcro coberto por ramos de salgueiro, sugerindo um afastamento do mundo terreno.

04 – Quais elementos da natureza são utilizados no poema e qual o efeito que eles causam?

      O poema utiliza elementos como "salgueiros silvestres" e "ventanias" para criar uma atmosfera sombria e melancólica. Esses elementos reforçam a sensação de isolamento e a ideia de que a morte da infanta foi um evento trágico e irremediável.

05 – Qual a interpretação da "chama inapagada" mencionada no poema?

      A "chama inapagada" pode ser interpretada como a memória eterna da infanta, ou a persistência da dor e do amor que ela inspirou. Também pode simbolizar a essência da alma que permanece, apesar da morte física.

 

 

terça-feira, 18 de março de 2025

CONTO: O CURURU - (FRAGMENTO) - JORGE DELIMA - COM GABARITO

 Conto: O Cururu – Fragmento

           Jorge de Lima

        Tudo quieto, o primeiro cururu surgiu na margem, molhado, reluzente na semiescuridão. Engoliu um mosquito; baixou a cabeçorra; tragou um cascudinho; mergulhou de novo, e bum-bum! Soou uma nota soturna do concerto interrompido. Em poucos instantes, o barreiro ficou sonoro, como um convento de frades. Vozes roucas, foi-não-foi, tãs-tãs, bum-buns, choros, esguelamentos finos de rãs, acompanhamentos profundos de sapos, respondiam-se.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLTMFpDgkNCR6fgA2iENHx5OvE8NauyfdWaH4ZREGjspR4HR4TfcyLkTH4xBkIaPYEw-TGPOeGfWXow4_PALfkSRYGV8myRdywiU0xy_yFmiFHnLfABXcbGSH-Tbu8OxE0gVK5BnD-H9t_kiS-vC-0G2JEPIdO09uScYmceO1BTcQx8EPY08anlt6lH2I/s320/Sapo-B-arenarum-Itapeva-1024x768.jpg


        Os bichos apareciam, mergulhavam, arrastavam-se nas margens, abriam grandes círculos na flor d’água. (…) Daí a pouco, da bruta escuridão, surgiram dois olhos luminosos, fosforescentes, como dois vagalumes. Um sapo cururu grelou-os e ficou deslumbrado, com os dois olhos esbugalhados, presos naquela boniteza luminosa. Os dois olhos fosforescentes aproximavam-se mais e mais, como dois pequenos holofotes na cabeça triangular da serpente. O sapo não se movia, fascinado. Sem dúvida queria fugir; previa o perigo, porque emudecera; mas já não podia andar, imobilizado; os olhos feiíssimos, agarrados aos olhos luminosos e bonitos como um pecado. Num bote a cabeça triangular abocanhou a boca imunda do batráquio. Ele não podia fugir àquele beijo. A boca fina do réptil arreganhou-se desmesuradamente; envolveu o sapo até os olhos. Ele se baixava dócil entregando-se à morte tentadora, apenas agitando as patas sem provocar nenhuma reação ao sacrifício. A barriga disforme e negra desapareceu na goela dilatada da cobra. E, num minuto, as perninhas do cururu lá se foram, ainda vivas, para as entranhas famélicas. O coro imenso continuava sem dar fé do que acontecia a um de seus cantores.

Jorge de Lima. Calunga; O anjo. 3. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1959. p. 160-161.

Fonte: Lições de texto. Leitura e redação. José Luiz Fiorin / Francisco Platão Savioli. Editora Ática – 4ª edição – 3ª impressão – 2001 – São Paulo. p. 93.

Entendendo o conto:

01 – Qual é a atmosfera inicial do conto?

      O conto começa com uma atmosfera de quietude e semiescuridão, quebrada pelo surgimento do primeiro cururu na margem do barreiro. A descrição detalhada do ambiente e dos sons cria uma sensação de imersão na natureza.

02 – Como o autor descreve o som produzido pelos animais no barreiro?

      O autor utiliza uma linguagem rica em onomatopeias para descrever os sons dos animais: "bum-bum", "tãs-tãs", "choros", "esguelamentos finos de rãs", "acompanhamentos profundos de sapos". Esses sons criam um "concerto interrompido" e transformam o barreiro em um "convento de frades", sugerindo uma atmosfera ritualística.

03 – Qual é a reação do sapo cururu ao avistar os olhos luminosos na escuridão?

      O sapo cururu fica deslumbrado e fascinado pelos olhos luminosos, que o hipnotizam e o imobilizam. Ele é incapaz de fugir, mesmo pressentindo o perigo iminente.

04 – Como a serpente ataca o sapo cururu?

      A serpente se aproxima lentamente, como "dois pequenos holofotes", e abocanha o sapo cururu com um bote rápido. A boca da serpente se dilata para engolir o sapo por inteiro, em um ato de violência e voracidade.

05 – Qual é o significado da frase "Ele não podia fugir àquele beijo"?

      Essa frase utiliza uma metáfora para descrever a morte do sapo cururu. O "beijo" representa o ataque fatal da serpente, que é irresistível e inevitável.

06 – Como o autor descreve a morte do sapo cururu?

      A morte do sapo cururu é descrita de forma crua e brutal. Ele é engolido vivo pela serpente, com suas perninhas ainda se debatendo nas entranhas do predador.

07 – Qual é o contraste entre a morte do sapo cururu e o coro dos outros animais?

      Enquanto o sapo cururu é devorado pela serpente, o "coro imenso" dos outros animais continua cantando, alheio ao que aconteceu. Esse contraste destaca a indiferença da natureza diante da morte individual e a continuidade do ciclo da vida.

 

 

quinta-feira, 6 de março de 2025

POEMA NARRATIVO: O GRANDE DESASTRE AÉREO DE ONTEM - JORGE DE LIMA - COM GABARITO

 Poema narrativo: O Grande Desastre Aéreo de ontem

            Jorge de Lima

        Vejo sangue no ar, vejo o piloto que levava uma flor para a noiva, abraçado com a hélice. E o violinista em que a morte acentuou a palidez, despenhar-se com sua cabeleira negra e seu estradivárius. Há mãos e pernas de dançarinas arremessadas na explosão. Corpos irreconhecíveis identificados pelo Grande Reconhecedor. Vejo sangue no ar, vejo chuva de sangue caindo nas nuvens batizadas pelo sangue dos poetas mártires. Vejo a nadadora belíssima, no seu último salto de banhista, mais rápida porque vem sem vida. Vejo três meninas caindo rápidas, enfunadas, como se dançassem ainda. E vejo a louca abraçada ao ramalhete de rosas que ela pensou ser o paraquedas, e a prima-dona com a longa cauda de lantejoulas riscando o céu como um cometa. E o sino que ia para uma capela do oeste, vir dobrando finados pelos pobres mortos. Presumo que a moça adormecida na cabine ainda vem dormindo, tão tranquila e cega! Ó amigos, o paralítico vem com extrema rapidez, vem como uma estrela cadente, vem com as pernas do vento. Chove sangue sobre as nuvens de Deus. E há poetas míopes que pensam que é o arrebol.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjda0cBrTO4vxm7XpwfzMeNyL4x59L2MQD4c02xdjgkDXgLB-HAzfkEOvx2PR5mlicx9r3A6WeD0OIZQpE7jb2Fz0JAr1ggQbgH4PxA_Prd4qhvP_nPkwEJ4DIabb6Hv2ieCmCBcWk6ODnNWhYd_xDX9VqxVWfTDBq3Fl9AXyrjC0Ny5Ec72Pt0e5XtQUw/s1600/AVIAO.jpg


LIMA, Jorge de. Poesia e prosa. Rio de Janeiro, Nova Aguilar.

Fonte: Português – Novas Palavras – Ensino Médio – Emília Amaral; Mauro Ferreira; Ricardo Leite; Severino Antônio – Vol. Único – FTD – São Paulo – 2ª edição. 2003. p. 529.

Entendendo a poesia:

01 – Qual é o tema central do poema "O Grande Desastre Aéreo de ontem"?

      O poema descreve um acidente aéreo de forma vívida e impactante, explorando a fragilidade da vida, a brutalidade da morte e a reação humana diante da tragédia.

02 – Quais imagens e metáforas são usadas para descrever o desastre?

      O poema utiliza imagens fortes e chocantes, como "sangue no ar", "mãos e pernas de dançarinas arremessadas", "corpos irreconhecíveis" e "chuva de sangue". Metáforas como "o Grande Reconhecedor" (a morte) e "poetas míopes que pensam que é o arrebol" (a incompreensão da tragédia) também são utilizadas.

03 – Como o poema retrata as vítimas do desastre?

      As vítimas são individualizadas e humanizadas, com detalhes sobre suas vidas e sonhos interrompidos: o piloto com a flor para a noiva, o violinista com seu Stradivarius, a nadadora, as três meninas, a louca com o ramalhete, a prima-dona com a cauda de lantejoulas, a moça adormecida, o paralítico.

04 – Qual é o significado da repetição da frase "Vejo sangue no ar"?

      A repetição enfatiza a violência e a brutalidade do desastre, criando uma atmosfera de horror e choque. Também serve para unificar as diversas cenas e personagens do poema, conectando-os à tragédia central.

05 – Qual a importância do poema "O Grande Desastre Aéreo de ontem" no contexto da obra de Jorge de Lima?

      O poema exemplifica a fase da poesia de Jorge de Lima em que ele explorou temas sociais e existenciais, utilizando uma linguagem mais direta e expressiva. A obra reflete a preocupação do autor com a condição humana e a sua capacidade de criar imagens poderosas e impactantes.

 

 

domingo, 2 de março de 2025

POESIA: OLÁ! NEGRO - FRAGMENTO - JORGE DE LIMA - COM GABARITO

 Poesia: OLÁ! NEGRO – Fragmento

             Jorge de Lima

Os netos de teus mulatos e de teus cafuzos

e a quarta e quinta gerações de teu sangue sofredor

tentarão apagar a tua cor!

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxBnzzhQqRV-PxQbGnYZBt1mpEg6Gl4IHUGYTmkjlIjxqKq3kMPDVo31y9B2UgWshyhmlHQNqcv4eh6ze7edCobg0_mbFvIXrZ7QPlHlcgrZvPmxomP4y7_QYvVocDkhD83rlSNhQuaeXt8_9wFwzI-oktSWva1qgAIkcV6HrKe2nXIIUbtQCHswvDUHU/s1600/%7B41AF3DFA-0BD3-42E9-BBB5-4E6774780187%7D_os241_zumbi.jpg


E as gerações dessas gerações quando apagarem

a tua tatuagem execranda,

não apagarão de suas almas, a tua alma, negro!

Pai-João, Mãe-negra, Fulô, Zumbi,

negro-fujão, negro cativo, negro rebelde

negro cabinda, negro congo, negro ioruba,

negro que foste para o algodão de U.S.A.

para os canaviais do Brasil,

para o tronco, para o colar de ferro, para a canga

de todos os senhores do mundo;

eu melhor compreendo agora os teus blues

nesta hora triste da raça branca, negro!

                         Olá, Negro! Olá, Negro!

A raça que te enforca, enforca-se de tédio, negro!

[...]

Não basta iluminares hoje as noites dos brancos com teus jazzes,

com tuas danças, com tuas gargalhadas! 

Olá, Negro! O dia está nascendo! 

O dia está nascendo ou será a tua gargalhada que vem vindo?

                          Olá, Negro! 

                          Olá, Negro!

[...]

Poesia completa. @ by Maria Thereza Jorge de Lima e Lia Corrêa Lima Alves de Lima. Rio de Janeiro, Nova Aguilar.

Fonte: Português – Novas Palavras – Ensino Médio – Emília Amaral; Mauro Ferreira; Ricardo Leite; Severino Antônio – Vol. Único – FTD – São Paulo – 2ª edição. 2003. p. 286-287.

Entendendo a poesia:

01 – Qual é o tema central do poema?

      O poema aborda a questão da identidade negra, a resistência contra a opressão e a celebração da cultura afro-brasileira.

02 – Que aspectos da história da população negra no Brasil são mencionados no poema?

      O poema menciona a escravidão ("negro cativo", "tronco", "colar de ferro", "canga"), a fuga ("negro-fujão"), a rebeldia ("negro rebelde") e a diversidade de origens ("negro cabinda, negro congo, negro ioruba"). Também há menção ao trabalho nos campos de algodão nos Estados Unidos e nos canaviais do Brasil.

03 – Qual é o significado da expressão "a tua tatuagem execranda"?

      A expressão "a tua tatuagem execranda" refere-se à marca da escravidão e do preconceito racial, que as gerações futuras tentarão apagar. No entanto, o poeta afirma que a alma do negro permanecerá viva.

04 – Como o poeta descreve a relação entre a cultura negra e a cultura branca?

      O poeta reconhece a influência da cultura negra na cultura branca, mencionando o jazz, as danças e as gargalhadas. Ele também sugere que a cultura branca está em declínio ("A raça que te enforca, enforca-se de tédio, negro!").

05 – Qual é a mensagem final do poema?

      A mensagem final do poema é de esperança e celebração da identidade negra. O "dia nascendo" e a "gargalhada" do negro simbolizam um futuro de libertação e reconhecimento.

 

domingo, 16 de fevereiro de 2025

POEMA: À BEM-AMADA - JORGE DE LIMA - COM GABARITO

 POEMA: À BEM-AMADA

               Jorge de Lima

Amada, não penses,

escutemos a chuva que o inverno chegou. 

Sejamos as árvores que Deus semeou 

sem nunca O ouvir, sem nunca O olhar 

serenos, morramos sem nos separar.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgt8_FM3IgOO12CWIm6L86CbBuHiHrFoh3-rrTDUjLCqdQKax1fPiRTbCCtXTDeziPQGPy7kQrP0lc3Y4n4dAN9eBGiK6mDNbS600DcUDBfyDfCwKyq98e2odzVW73XsCDWM0mK6koKSUtJTgbLt6awsgJnZAgpsIUfjVLdsix1QLwdbCIXSsuAwW3mR68/s320/CHUVA.jpg


 

Renunciemos, amada, os vãos pensamentos, 

cumpramos apenas a lei do Senhor 

sem nunca O ouvir, sem nunca O tocar, 

sem nunca duvidar, duvidar, duvidar.

 

Soframos, amada, sem nos lamentar. 

Sejamos as árvores que Deus esqueceu, 

que o vento abalou e o raio abateu.

 

Amada! Amada!

Bem-aventurado quem já morreu. 

Escutemos a chuva, 

que a chuva é de Deus!

LIMA, Jorge de. Poemas Negros. Rio de Janeiro: Alfaguará, 2016, p. 158.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o tema central do poema "À Bem-Amada"?

      O poema reflete sobre a aceitação do destino e a entrega à vontade divina, mesmo diante do sofrimento e da incerteza. Através da metáfora das árvores, o poeta expressa a ideia de uma existência passiva e resignada, que se cumpre sem questionamentos.

02 – Qual o significado da repetição do verso "sem nunca O ouvir, sem nunca O olhar"?

      A repetição enfatiza a ideia de uma fé cega, desprovida de contato ou compreensão. As árvores, que servem de metáfora para o casal, representam a crença sem questionamentos, a aceitação do destino sem a necessidade de entender os desígnios divinos.

03 – Que papel a natureza desempenha no poema?

      A natureza, representada pela chuva, pelas árvores, pelo vento e pelo raio, assume um papel central no poema. Ela simboliza tanto a força implacável do destino quanto a presença divina. A chuva, em particular, é vista como uma manifestação de Deus.

04 – Qual a importância da figura da "Bem-Amada" no poema?

      A "Bem-Amada" é a interlocutora do poeta, a quem ele dirige suas reflexões sobre a vida, a fé e o sofrimento. Ela representa a companheira ideal para compartilhar a jornada de aceitação e entrega ao destino.

05 – Qual o tom geral do poema "À Bem-Amada"?

      O poema possui um tom de resignação e entrega. O poeta convida a amada a aceitar o destino com serenidade, sem lamentações, assim como as árvores que "morrem sem se separar". Há, no entanto, um vislumbre de esperança na crença de que a chuva é uma manifestação divina.

 

POEMA: BICHO ENCANTADO - JORGE DE LIMA - COM GABARITO

 Poema: Bicho encantado

             Jorge de Lima

Este bicho é encantado:

não tem barriga,

não tem tripas,

não tem bofes,

não é maribondo,

não é mangangá,

não é caranguejeira.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTUEOFwOK__slhWtHFm0LcmOLzMtGO9sxGrLRvd9oZtnNW4cufmm5Kk0IwvR0AV1wg597VtU_y7XLqVHVZsI2BpcyV0_nKXNUdLGD7bzrGu_CH7rDpbYgIOCzK5qEvUmWGVDRc3EwngmFq5wnovTbY1U54PPTxp4H74ktOsFHQX-WDq5M_q4o9z4K-UP8/s320/ESTRELA.jpg


Que é que é Janjão?

 

É a Estrela-do-mar que quer me levar.

 

Só tem olhos,

só tem sombra.

Babau!

Não é jimbo,

não é muçum,

não é sariema.

Que é que é Janjão?

 

É a Estrela-do-mar que quer me afogar.

 

Esse bicho é encantado:

não quer de-comer,

não quer munguzá,

não quer caruru,

não quer quigombô.

Só quer te comer.

Que é que é Janjão?

 

É a Estrela-do-mar que quer me esconder.

 

Babau!

Fonte: "Novos poemas; Poemas escolhidos; Poemas negros", Editora Lacerda, 1997.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o mistério central apresentado no poema "Bicho Encantado"?

      O poema gira em torno da pergunta "Que é que é Janjão?". O leitor é convidado a decifrar a identidade desse bicho misterioso que possui características incomuns e aparentemente assustadoras.

02 – Que características do "bicho encantado" são apresentadas no poema?

      O poema descreve o "bicho encantado" como algo que não tem órgãos internos ("não tem barriga, não tem tripas, não tem bofes"), não é um inseto conhecido ("não é maribondo, não é mangangá, não é caranguejeira"), possui apenas olhos e sombra, não se alimenta como outros animais ("não quer de-comer, não quer mungunzá, não quer caruru, não quer quigombô") e tem a intenção de "comer", "levar", "afogar" ou "esconder" o eu lírico.

03 – Qual é a resposta para o enigma "Que é que é Janjão?" revelada no poema?

      A resposta para o enigma é revelada nos versos "É a Estrela-do-mar que quer me levar", "É a Estrela-do-mar que quer me afogar" e "É a Estrela-do-mar que quer me esconder". Janjão é, portanto, uma personificação da estrela-do-mar, um ser que habita o oceano e que representa um perigo para o eu lírico.

04 – Qual é o tom geral do poema "Bicho Encantado"?

      O poema apresenta um tom de mistério, suspense e até mesmo de certo medo. A repetição da pergunta "Que é que é Janjão?" e a descrição do bicho como algo que "quer me comer" criam uma atmosfera de apreensão e alerta.

05 – Qual é a importância do poema "Bicho Encantado" de Jorge de Lima para a literatura brasileira?

      O poema "Bicho Encantado" é importante por sua linguagem lúdica e criativa, por sua capacidade de despertar a curiosidade do leitor e por sua forma inovadora de abordar um tema aparentemente simples, como a natureza. Jorge de Lima utiliza elementos da cultura popular e da linguagem infantil para criar um poema original e expressivo.

 

POEMA: QUICHIMBI SEREIA NEGRA - JORGE DE LIMA - COM GABARITO

 Poema: Quichimbi Sereia Negra

              Jorge de Lima

Quichimbi sereia negra
bonita como os amores
que tem partes de chigonga
não tem cabelos no corpo,
é lisa que nem muçum,
é ligeira que nem buru
não tem matungo e é donzela,
ao mesmo tempo pariu
jurará sem urucaia.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiB2Kr16xyVR4_bsGOGQw42uuWzgrGhBm8uAQ_xs3T3SXfKQbEfUcC0W_4wm8XjJns21pQFRALUh2W7Wm0nQ7P3y1H972KyYfCWIxYaTdtYn6z8fffIJKdbin8kwQ5Z__OnYyd9W52ujsRhsyeKJtsC5TYp5vkkEvSS1K10hw0RCByHBM2vKp7PIRqAOmY/s320/SEREIA.png


Quichimbi vive nas ondas
coberta de espuma branca,
dormindo com o boto azul,
conservando a virgindade
tão difícil de sofrer.
Quichimbi segue nas ondas
dez mil anos caminhando,
dez mil anos assistindo
as terras mudar de dono,
o mar servindo de escravo
ao homem branco das terras.
Quichimbi sereia negra
bonita como os amores
dormindo com o boto azul,
não sabe de nada, não.

Jorge de Lima. Fonte: "Novos poemas; Poemas escolhidos; Poemas negros", Editora Lacerda, 1997.

Entendendo o poema:

01 – Quem é Quichimbi e quais são suas características principais, de acordo com o poema?

      Quichimbi é uma sereia negra, descrita como bonita como os amores. Ela possui características peculiares, como ter "partes de chigonga" (possivelmente uma referência à sua origem africana ou a alguma divindade), não ter cabelos no corpo, ser lisa como um muçum e ligeira como um buru (tipo de peixe). Apesar de ser donzela, ela também "pariu", numa aparente contradição que pode simbolizar a fertilidade e a força da natureza.

02 – Qual é o significado da afirmação de que Quichimbi "jurará sem urucaia"?

      A "urucaia" é uma semente utilizada em jogos de adivinhação e feitiçaria. A afirmação de que Quichimbi jurará sem urucaia sugere que sua palavra é verdadeira e confiável, não necessitando de artifícios ou subterfúgios.

03 – Onde Quichimbi vive e o que ela faz, segundo o poema?

      Quichimbi vive nas ondas do mar, coberta de espuma branca. Ela dorme com o boto azul, um símbolo de sedução e mistério, mas conserva sua virgindade, o que é descrito como algo difícil de alcançar.

04 – Qual é a relação de Quichimbi com o tempo e com a história, conforme expresso no poema?

      Quichimbi é apresentada como uma figura atemporal, que "segue nas ondas dez mil anos caminhando" e "dez mil anos assistindo" às mudanças na terra e no domínio do mar. Ela testemunha a passagem do tempo e as transformações da humanidade, mas permanece alheia a elas, como se estivesse em um plano diferente da realidade.

05 – Qual é o tom geral do poema "Quichimbi Sereia Negra"?

      O poema apresenta um tom de encantamento e mistério, com elementos da cultura afro-brasileira e da mitologia. Quichimbi é uma figura enigmática, que representa a força da natureza, a beleza e a sabedoria ancestral. O poema celebra a figura da sereia negra como um símbolo de resistência e de conexão com o divino.

 



 

CONTO: O BANHO DAS NEGRAS - INÍCIO DE A MULHER OBSCURA - (FRAGMENTO) - JORGE DE LIMA - COM GABARITO

 Conto: O BANHO DAS NEGRAS – Início de A mulher obscura – Fragmento

        Em casa de Laécio não havia álbuns. A família de meu companheiro de infância parecia não ter tradição nem história. Lembro-me que um dia, perguntando-lhe como se chamava seu avô, ele me disse:

        — Morreu há muito tempo. Não me lembro como era, mas papai deve saber. Um dia pergunto.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtKrFkkia2UsOe6nQutmhb9U6BtljLUGSkpy69VKVqHLnQKRhA2jVnZRtJ_GeLBc-q0At0yaYJIzK7NyjAPR_yJtwrob03eXO8y9OzmdhuKUWEowW1-RvBAjQXa4HGO6OkFK5WK9rHKjuZ0lJXYtmAbd2e827Zok7GR1zLIQKrdim05ElVGyinh_j8CWs/s1600/NEGRA.jpg


        Recordo, porém, que era, de todos os meus amigos, o que mais me atraía.

        Talvez não fosse o companheiro em si, em quem, já por aquele tempo, percebia uma capacidade de mentir maior que a de todos os meus outros camaradas, e uma grande habilidade de surripiar nossos objetos escolares, selos, estampas e brinquedos. Talvez o que me atraía para Laécio fosse a sua chácara, a sua grande chácara onde devia existir a Arvore do Bem e do Mal, chácara tão tentadora para mim.

        Os fundos davam para o rio. Um dia, Laécio me chamou para assistir o banho de umas negras. O espetáculo que se me oferecia não me deixou nenhuma impressão menos pura.

        As negras estavam ali tomando banho, negras novas do Caípe que se lavavam debaixo dos ramos das ingazeiras arriadas sobre as águas. Abriam bandós com os cacos de pente de chifre, e como não dispunham de espelhos, ajudavam-se na tualete.

        As molecas eram bonitas, ágeis e puras. Eu estava, apenas, encantado de ver corpos negros, tão diferentes dos brancos, embelezando-se ligeiros, antes de entrar n’água. Reparava que aquele banho era diferente do banho de umas parentas, que me deixaram uma vez esperando por elas, na beira do rio. As brancarronas se penteavam depois do banho, cuidadosas, com a toalha sobre os ombros, debaixo dos cabelos soltos. Mas as molecas podiam, com uma ligeireza espantosa, se coçar, espenujar, separar com os cacos de pente o cabelo lanzudo, mergulhar na água transparente e sair outra vez sem que o cabelo se desmanchasse; a água não lhes alterava a beleza. O contraste daqueles corpos pretos e luzidios sobre a areia das margens ou sob a espuma do sabão me impressionou bastante. Nunca tinha visto espuma sobressair tanto, correndo ligeira nas costas escuras ou descendo entre os seios espigados pelo ventre abaixo. Mais ligeiros que a espuma, eram os seus braços harmoniosos. Algumas com a cara ensaboada, sem abrir os olhos para evitar a espuma, aparavam-na antes que ela se perdesse no chão. A espuma grossa voltava outra vez para debaixo das axilas ou dos ombros, esmagada de novo pelas esguias mãos. Outras se ajudavam no ensaboamento esfregando as costas das companheiras ou os lugares que os braços não atingiam. Achei lindas as negras. Achei-as ágeis, diferentes. Mas Laécio me advertira que era proibido vê-las assim nuas; e se elas soubessem que nós as espreitávamos no banho, contariam a nossos pais e estes ralhariam conosco e seríamos castigados.

        [...]

Jorge de Lima. © by Editora Nova Aguilar S.A. Rua Dona Mariana, 250, casa I — Botafogo CEP: 22280-020 – Rio de Janeiro, RJ.

Entendendo o conto:

01 – Qual é a principal característica da família de Laécio, segundo o narrador?

      A família de Laécio é descrita como não tendo tradição nem história, evidenciada pela falta de álbuns de família e pela dificuldade de Laécio em se lembrar do nome de seu avô.

02 – O que mais atraía o narrador em Laécio?

      O que mais atraía o narrador em Laécio não era o amigo em si, que ele percebia como mentiroso e habilidoso em surripiar objetos, mas sim a sua chácara, com a possibilidade de existir a "Árvore do Bem e do Mal".

03 – Qual é o evento central narrado no fragmento do conto?

      O evento central é o banho das negras no rio, presenciado pelo narrador e por Laécio.

04 – Que impressão o banho das negras causou no narrador?

      O banho das negras causou uma impressão de pureza e encantamento no narrador. Ele se maravilha com a beleza, a agilidade e a diferença dos corpos negros em relação aos corpos brancos.

05 – Como o narrador descreve as negras que estão tomando banho?

      O narrador descreve as negras como "novas do Caípe", "bonitas, ágeis e puras". Ele destaca a forma como elas se embelezam com cacos de pente de chifre e a leveza com que se movem na água.

06 – Qual é a diferença entre o banho das negras e o banho de parentas do narrador?

      O banho das negras é descrito como rápido e prático, enquanto o banho das parentas do narrador é apresentado como demorado e cuidadoso. As negras se lavam com agilidade, sem se preocupar em arrumar os cabelos, enquanto as parentas se penteiam com cuidado após o banho.

07 – Que sentimento Laécio demonstra em relação ao banho das negras?

      Laécio demonstra um sentimento de apreensão e medo, pois adverte o narrador de que é proibido vê-las nuas e que eles podem ser castigados se forem descobertos espionando o banho.

 

 

CONTO: ZEFA LAVADEIRA - TRECHO DE A MULHER OBSCURA (FRAGMENTO) - JORGE LIMA - COM GABARITO

 Conto: ZEFA LAVADEIRATrecho de A mulher obscura – Fragmento

           Jorge Lima

        [...]

        Uma trouxa de roupa é um mundo animado de anáguas, de corpinhos, de fronhas, de lençóis e toalhas servis; em resumo: dos homens e suas preocupações.

        E qual é a maior força desse mundo? Onde o segredo das suas atividades?

        — Olha o amor, Zefa, — olha os lençóis — torna-nos semelhantes aos deuses, faz vibrar em nós o poema dos plasmas que neles se geraram. Por eles, retrocedendo pelo caminho de certas memórias obscuras, voltamos às Formas primeiras, às Energias inteligentes.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwS8jB2q8oxKdTP4yUu1k1joRFVZEAi3t6f7oVZ_UYSm7PpHt_uH01ykHUan0wjBC-7xa_QItq9II9lbZPkk2mygXLe-6jCFGyI7dqAZDuoeF-XSqEBlaXIy1rJxdWUaJjc4x9VgdDT5EzUu5ZqoOSxrQCGoT-rmdDc8G_noSQoBSDOrrIAd_vPv8MD1M/s1600/lavadeiras%205.jpg


        E desfazendo aquela trouxa de roupa com o desembaraço de Jeová, compondo e recompondo um caos, mostra-me peça por peça, todas aquelas forças mencionadas, lodos genésicos, ou salivas do Espírito que adejou sobre as águas.

        Mas Zefa deu um muxoxo, arrepanhando as fraldas, arrastando os pés. Zefa não tinha antenas para a torrente declamatória interior de minha juventude em dias de convalescença.

        Pela vereda que vinha do rio, surgiu cantarolando uma cafuza nova, com o pote à cabeça, o braço direito erguido, segurando a rodilha.

        E senti-a em tudo, — na algazarra dos ramos, na toada das águas despenhadas, nos vegetais variegados como arraiais, no tumulto dos seres que sofrem, amam e se perpetuam correndo a vida.

        Josefa — lavadeira, porque se julga a sós, vai despindo as belezas selvagens de ninfa cafuza.

        No remanso em que bate a roupa, há bambus e ingazeiros pelas margens. Josefa entra o caudal até as coxas morenas, a camisa arregaçada, o cabeção de crochê impelido pelos seios duros, tostados de soalheiras.

        O braço valente arroja o pano contra a pedra de bater, e a axila cobre-se e descobre-se, piscando a tentação de arrochos e rendições cheias de saciedades. Aqui, toda lavadeira de roupa é boa cantaderia. A cantiga é uma corruptela de velhas toadas num tom languoroso, alimentado de sofreguidões, de desejos incontidos, e de lamentações incorrespondidas.

        Depois de lavar a roupa dos outros, Zefa lava a roupa que a cobre no momento. Depois, deixa-se corando sobre o capim. Então Zefa lavadeira ensaboa o seu próprio corpo, vestido do manto de pele negra com que nasceu. Outras Zefas, outras negras vêm lavar-se no rio. Eu estou ouvindo tudo, eu estou enxergando tudo. Eu estou relembrando a minha infância. A água, levada nas cuias, começa o ensaboamento; desce em regatos de espuma pelo dorso, e some-se entre as nádegas rijas. As negras aparam a espuma grossa, com as mãos em concha, esmagam-na contra os seios pontudos, transportam-na com agilidade de símios, para os sovacos, para os flancos; quando a pasta branca de sabão se despenha pelas coxas, as mãos côncavas esperam a fugidia espuma nas pernas, para conduzi-la aos sexos em que a África parece dormir o sono temeroso de Cam.

        [...]

Jorge de Lima. © by Editora Nova Aguilar S.A. Rua Dona Mariana, 250, casa I — Botafogo CEP: 22280-020 – Rio de Janeiro, RJ.

Entendendo o conto:

01 – Qual é a principal metáfora utilizada no início do conto?

      A principal metáfora é a da trouxa de roupa como um "mundo animado" que representa as preocupações e a vida dos homens.

02 – O que os lençóis simbolizam, de acordo com o narrador?

      Os lençóis simbolizam o amor e a ligação com as "Formas primeiras" e "Energias inteligentes", remetendo a memórias obscuras e à origem da vida.

03 – Como Zefa reage à reflexão poética do narrador sobre a roupa?

      Zefa reage com um "muxoxo", demonstrando que não compreende ou não se interessa pela reflexão poética do narrador. Ela está mais preocupada com o trabalho de lavar roupa.

04 – Quem é a cafuza que surge cantando pela vereda?

      A cafuza que surge é uma jovem mulher, provavelmente uma trabalhadora rural, que vem do rio com um pote na cabeça. Sua presença e seu canto contrastam com a reflexão introspectiva do narrador.

05 – O que o narrador sente ao ver a cafuza e a natureza ao redor?

      O narrador sente uma conexão profunda com a natureza e com a força da vida. Ele percebe a presença da cafuza em tudo ao seu redor, desde os ramos das árvores até as águas do rio.

06 – Como Zefa é descrita enquanto lava roupa no rio?

      Zefa é descrita como uma "ninfa cafuza" que se despe de suas "belezas selvagens" para lavar a roupa. Ela entra no rio com a camisa arregaçada e o corpo exposto, demonstrando sua força e sensualidade.

07 – O que o narrador observa ao ver outras negras se lavando no rio?

      O narrador observa o ritual de lavagem do corpo das negras, destacando a agilidade com que elas ensaboam e enxaguam a pele. Ele faz uma conexão com a África, como se estivesse testemunhando um ritual ancestral de purificação.

 

POEMA: NORDESTE - JORGE LIMA - COM GABARITO

 Poema: NORDESTE

             Jorge Lima

Nordeste, terra de São Sol!                                    

Irmã enchente, vamos dar graças a Nosso Senhor,

que a minha madrasta Seca torrou seus anjinhos

para os comer.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjFlp7QwJsOk7fxzhkpwJCKPrv6WUexpf6VA2wF-mMzb2JucVGRTnFuzvm-ju9Cse5hVxemwfnWzjpdPlAd-NMG2kSAbfLnX48zkarCZqcSLKXdnUyvZteayfkigOHjQaRirf_8rOorGmYOWEmlWj7Z0KVh4iHMASYHOQxGu7WWOsOArw0rOXd1flbwEA/s320/NORDESTE.jpg


São Tomás passou por aqui?

Passou, sim senhor!

Pajeú! Pajeú!

Vamos lavar Pedra Bonita, meus irmãos,

com o sangue de mil meninos, amém!

D. Sebastião ressuscitou!

S. Tomé passou por aqui?

Passou, sim senhor.

Terra de Deus! Terra de minha bisavó

que dançou uma valsa com D. Pedro II.

São Tomé passou por aqui?

Tranca a porta, gente, Cabeleira aí vem!

Sertão! Pedra Bonita!

Tragam uma virgem para D. Lampião!

Jorge de Lima. Obra poética. EDITORA: GETULIO COSTA. Caixa Postal – 1829 – Rio de Janeiro.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o principal tema abordado no poema "Nordeste" de Jorge Lima?

      O poema aborda a complexa e multifacetada realidade do Nordeste brasileiro, expondo tanto a beleza e a riqueza cultural da região ("Nordeste, terra de São Sol!") quanto os seus problemas sociais, como a seca ("madrasta Seca") e a violência ("Cabeleira aí vem!").

02 – Que figuras históricas e religiosas são mencionadas no poema e qual o seu significado?

      O poema faz referência a diversas figuras, como São Tomás, D. Sebastião, D. Pedro II, Lampião e o Pajeú. São Tomás representa a fé e a religiosidade presentes na cultura nordestina. D. Sebastião, figura lendária da história portuguesa, simboliza a esperança e a crença em um futuro melhor. D. Pedro II, último imperador do Brasil, evoca um tempo de mudanças e transformações. Lampião, cangaceiro famoso, representa a força e a rebeldia do povo sertanejo. O Pajeú, figura mítica da cultura popular, é invocado como um guia espiritual.

03 – Qual é o tom geral do poema: de celebração, de denúncia ou de uma mistura dos dois?

      O poema apresenta um tom ambivalente, que mistura celebração e denúncia. Ao mesmo tempo em que exalta a beleza e a cultura do Nordeste, o poema também critica a miséria, a violência e a opressão presentes na região.

04 – Que imagens e símbolos são utilizados no poema para representar o Nordeste?

      O poema utiliza uma variedade de imagens e símbolos para representar o Nordeste, como o sol ("terra de São Sol"), a seca ("madrasta Seca"), a enchente ("Irmã enchente"), o sangue ("sangue de mil meninos"), a valsa ("valsa com D. Pedro II") e o cangaço ("Cabeleira aí vem!"). Esses elementos evocam tanto a riqueza natural e cultural da região quanto os seus problemas sociais e históricos.

05 – Qual é a importância do poema "Nordeste" de Jorge Lima para a literatura brasileira?

      O poema "Nordeste" é importante por sua força expressiva, por sua capacidade de retratar a complexidade da realidade nordestina e por sua inovação estética. Jorge Lima utiliza uma linguagem poética original e ousada, que combina elementos da tradição oral e da literatura erudita, para criar um retrato vívido e impactante do Nordeste brasileiro.