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terça-feira, 23 de agosto de 2022

PREFÁCIO: POEMA-PIADA - (FRAGMENTO) - GREGÓRIO DUVIVIER - COM GABARITO

 Prefácio: Poema-piada – Fragmento      

            Gregório Duvivier

     Em 2017, a Ubu lançou Poema-piada: breve antologia de poesia engraçada, organizada por Gregório Duvivier. Este é o prefácio do livro, escrito pelo organizador, que fala sobre a relação entre humor e poesia.

 

        À primeira vista, o poeta e o humorista pertencem a mundos diversos. O poeta-albatroz vê o mundo como o Google Earth: do alto do satélite ou da torre de marfim. O céu é do poeta — como o chão é do humor.

        O humorista, ao contrário, vive na lama — ou na sarjeta. Mendigo, bêbado ou caipira, o humorista tradicional é aquele que enxerga o mundo sem qualquer transcendência ou metafísica. Tudo merece, pra ele, a mesma quantidade de falta de respeito. Entre transcendência e imanência, nuvens e sarjeta, céu e chão, a poesia e a piada não se encontrariam nunca, como duas retas paralelas.

        Mas pra isso é preciso entender poesia de uma forma muito estrita – pra não dizer chata. A ideia de que a poesia fala de temas mais nobres que a prosa, ou de que o poeta é um ser iluminado (ou, pra usar um termo atual: diferenciado), acabou junto com a tuberculose. A torre de marfim deu lugar a uma quitinete na praça Roosevelt.

        A graça, por sua vez, deixou de ser sinônimo de distração e passou a ser pensada, cada vez mais, como “cosa mentale”, um exercício de inteligência — como as outras artes. Ainda há, claro, quem ache que a poesia humorística é um gênero menor — “sorte a nossa”, dizia o Antônio Candido sobre a crônica, “assim ela fica mais perto da gente”.

        [...]

DUVIVIER, Gregório (Org.). Prefácio. In: Poema-piada: breve antologia da poesia engraçada. São Paulo: Ubu Editora, 2017.

Fonte: Língua Portuguesa – Estações – Ensino Médio – Volume Único. 1ª edição, São Paulo, 2020 – editora Ática – p. 103-4.

Entendendo o prefácio:

01 – Você gosta de poesia? E de piada? Acha possível aproximar piada e poesia?

      Resposta pessoal do aluno.

02 – Por que Duvivier afirma que os poetas veem o mundo do alto do satélite ou da torre de marfim? A que tipo de estereótipo essa afirmação faz referência?

      A ideia de que os poetas veem o mundo de cima está relacionada a uma concepção de que a pessoa trata de dilemas existenciais e de temas sublimes e profundos, como o amor e a morte. Essa afirmação faz referência ao estereótipo do poeta como um ser iluminado, superior às outras pessoas, guiado por uma inspiração divina.

03 – Segundo o autor, o humorista vive na lama, na sarjeta. O que isso significa?

      Duvivier diz que o humorista vive na lama, na sarjeta, porque, ao contrário do poeta, fala de temas ordinários e, por vezes, condenados pela sociedade, o que o desqualificaria.

04 – De acordo com Divivier, por suas características, a poesia e a piada não se encontrariam nunca. Por que, no entanto, elas se aproximam?

      Porque, de um lado, houve uma mudança na concepção de poesia, que passou a tematizar assuntos do cotidiano. De outro lado, a piada, como humor, passou a ser um exercício de inteligência e não apenas de distração, ou seja, o humor no poema faz o leitor refletir sobre determinada situação e não apenas rir de forma despretensiosa, como se poderia pensar.

05 – Converse com o professor e os colegas: Por que há quem diga que a poesia humorística e a crônica são gêneros menores? Como Duvivier contrapõe essa ideia?

      Alguns críticos consideram a poesia humorística e a crônica gêneros menores justamente por causa do humor, já que o riso acabaria ressaltando o lado frágil e/ou ruim da sociedade e do ser humano. Duvivier contrapõe essa ideia com a afirmação de Antônio Candido de que, justamente por serem “menores”, esses gêneros se aproximam das pessoas e da realidade.