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sexta-feira, 20 de outubro de 2023

CRÔNICA: QUANDO O AMOR ACABA - JOSÉ ROBERTO TORERO - COM GABARITO

 Crônica: Quando o amor acaba

           José Roberto Torero

        Não foi fácil perceber o fim deste amor. Primeiro, dei-me conta de que tinha virado amizade. Depois, indiferença

        SIM, EU SEI, enamorado leitor e namoradeira leitora, esse não é um título para uma coluna de futebol. Mas há coisas que há que se dizer, e às vezes não há como escolher hora ou lugar. Pois a verdade, a dura e cruel verdade, é que eu já não a amo mais.
Não quero ser aquele tipo de homem covarde que diz que a culpa foi dela, mas acho que tudo começou, ou acabou, porque eu a senti mais distante. Era como se, pouco a pouco, ela fosse deixando de fazer parte da minha vida. Eu já não queria saber como era o seu dia e já não me importava com os mínimos detalhes da sua existência. Já não fazia diferença como ela se vestia, o que ela bebia, se estava feliz ou não. E, acho, ela sentia o mesmo em relação a mim. No começo, eu sacrificava mundos e fundos para vê-la, para estar com ela. Mas, depois, parei de fazer questão de estar ao seu lado em todos os momentos. Se fosse possível ficar com ela, tudo bem. Se não fosse, fazer o quê? Ela não era mais a única coisa importante no mundo. E isso é triste.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkcDYvsnw3UyuTepTL5FJAFFKRe5s4-Skl5S-ZHqQC9UqN0zksMhMFpYbeZEB27ZTyl8ETu1yeoT4V0YSgh_OZajXUbse737qzgm46aXt1N0aXV7h3R37nuuWAXgpDS32r1QT_d2ZNetEz0cf2F5QtwCPpbpugzLondJlKnK9ZqDhKLW1x5J5WZa4ojcE/s320/AMOR.jpg


        Quando um amor morre, é como se morresse um pedaço de nós. Todo aquele passado que construímos juntos parece escoar pelo ralo. Todas as viagens, as alegrias, as tristezas, tudo se torna parte de um passado inútil, que não levou a nada. E todo o futuro que sonhamos, já não importa. O futuro que não virá também se transforma em passado.

        Não foi fácil para mim perceber o fim deste amor. Primeiro, dei-me conta de que ele tinha se tornado em amizade. Depois, tornou-se em indiferença. E, quando isso acontece, você fica pensando: "Para onde terá ido tudo aquilo que eu sentia por ela? Porque meu peito não bate mais rápido quando a vejo entrar? Terei eu mudado ou mudou ela? Eu devia ter feito algum gesto desesperado para salvar o que sobrava entre nós? De quem é a culpa?" Falando em culpa, o que me deixa com mais remorso é que às vezes ela parece se importar comigo, parece lutar para que o amor não morra. Há dias em que está especialmente bela, põe uma roupa nova e diz palavras doces. Fala que me respeita, que eu tenho o direito de estar chateado, fala que tudo o que faz, faz por mim.

        Mas pouco adianta. Eu já não acredito nela. Até gostaria de acreditar, mas o amor é uma planta delicada, que tem que ser regada dia a dia. E ela já não fazia isso.

      Pronto, cá estou dizendo novamente que a culpa é dela. Mas não, não seria honesto. Também sou culpado. Eu devia ter feito alguma coisa. Devia ter brigado, exigido mudanças, talvez até dar-lhe um tapa.

        Sim, às vezes, só às vezes, poucas vezes, um tapa reaproxima, reacende a chama. Se o leitor não me crê, é porque nunca levou um tapa de amor. Mas nem este tapa eu lhe dei. Dei-lhe apenas desprezo, o seco e estéril desprezo.

        Sei que muitos dos leitores que chegaram até esta linha já sentiram o mesmo. Já deixaram de amar aquela que parecia ser o sal da vida, o motivo de suas maiores alegrias. É decepcionante, não é? Mas, enfim, o amor acabou. Tanto que, no fim de semana, por várias vezes me vi distraído, olhando para o lado, lendo alguma coisa e até mudando de canal. Não, já não amo mais a seleção como antigamente...

torero@uol.com.br

Entendendo a crônica:

01 – Qual é o título da crônica?

      O título da crônica é "Quando o amor acaba".

02 – Quem é o autor da crônica?

      O autor da crônica é José Roberto Torero.

03 – Como o autor descreve a mudança em seus sentimentos em relação à pessoa amada?

      O autor descreve que ele começou a sentir a pessoa amada mais distante e gradualmente deixou de se importar com os detalhes da sua vida.

04 – O que o autor sente quando percebe que o amor acabou?

      O autor sente que um pedaço de si morreu, que todo o passado que compartilhou com a pessoa amada se torna inútil e que o futuro que sonharam já não importa.

05 – Qual a evolução dos sentimentos do autor em relação à pessoa amada ao longo do tempo?

      Primeiro, o amor se transformou em amizade, depois em indiferença.

06 – Como o autor reage à tentativa da pessoa amada de manter o amor vivo?

      O autor afirma que mesmo quando a pessoa amada tenta se importar e reacender a chama do amor, ele já não acredita nela.

07 – Quais são os sentimentos de culpa expressos pelo autor?

      O autor sente culpa por não ter feito mais para salvar o relacionamento, por não ter brigado, exigido mudanças ou dado um tapa emocional para tentar reacender o amor.

08 – Como o autor descreve a importância de cuidar do amor?

      O autor compara o amor a uma planta delicada que precisa ser regada diariamente para sobreviver.

09 – Qual é a referência à seleção no final da crônica?

      No final da crônica, o autor menciona que já não ama a seleção como antigamente, indicando uma mudança em suas prioridades e interesses.

10 – O que a crônica aborda além do término de um relacionamento amoroso?

      Além do término do relacionamento, a crônica também toca em temas como culpa, mudanças nos sentimentos ao longo do tempo e a necessidade de cuidar do amor para mantê-lo vivo.

 

 

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

CRÔNICA(Fragmento): ZÉ CABALA E O TORCEDOR - JOSÉ ROBERTO TORERO - COM GABARITO

 Crônica(Fragmento): Zé Cabala e o torcedor

             JOSÉ ROBERTO TORERO

        Desta vez, o telefonista dos espíritos recebe alguém que não é atacante, zagueiro, meio-campista ou goleiro

        QUANDO CHEGUEI ao escritório de Zé Cabala, o grande mensageiro das almas, o supremo webmail dos espíritos, ele já me esperava em sua sala. Usava um turbante negro, e negra também era sua túnica.^

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_TCiY4NGh9qIrSLJF9q1E-AjNKeKO69AzzhuDomZUqh-qJqwM-ydP_tZLHkMP8VQRTViIYJ9YWOIRmc6G84w7RhUf9wrNts05uZorWMxaUjbqh3YK6xswtO9Dflf8_azaZkLMIhSKDl5wBS6Ck24_CwTPswFlCvY9ulFsK_ZRIMJae5v5_eYEHdeyzs4/s320/psicografia.jpg


        Como nunca o tinha vista tão elegante, perguntei: "Está de luto, mestre?". "Não, é que preto emagrece", ele me respondeu. "Mas vamos ao que interessa. Quem o nobre foliculário (ou devo dizer folhiculário?) quer entrevistar hoje? Um grande meia, um inesquecível atacante, um invencível zagueiro ou um premiado técnico?" "Estava pensando em algo mais simples: um torcedor."
Então o divino psicófono ergueu-se, pegou a toalha da mesa e começou a agitá-la como se fosse uma bandeira, correndo pela sala e cantando uns hinos que eu não entendi. Depois, já ofegante, finalmente sentou-se. "O senhor é um torcedor?", perguntei. "Ô! E dos bons." "Pois eu queria saber o que leva alguém a amar um time."

        "Ah, meu filho, são vários motivos e um motivo só. Você pode gostar de um time porque é o time da sua cidade, porque algum grande amigo torce por ele ou porque seu pai lhe ensinou assim. Mas o certo é que, se torce para um time, é porque se quer fazer parte de alguma coisa maior. Um homem é só um homem, mas, se ele torce para um time, passa a fazer parte de uma torcida, de um clube, de uma história, uma história cheia de vitórias e derrotas, cheia de batalhas heroicas e grandes inimigos.”

        "E esses inimigos são importantes?" "Ô! Diga-me com quem não andas e te direi quem não és. O inimigo é tão importante quanto o amigo. Talvez mais. E torcer contra eles é uma delícia. Pode perguntar para qualquer um. O torcedor do Sport vibra com a derrota do Santa Cruz, o do Inter bebe vinho quando o Grêmio perde, e o do Galo canta quando o Cruzeiro tropeça. O inferno dos outros é o nosso céu."

        "Não é meio triste pensar assim?" "É, mas fazer o quê? O ser humano não é grande coisa." "Essa história de inimigo não é o que provoca as brigas nos estádios?"

        "Não mesmo! Torcedor comum não briga. Isso é coisa de torcedor organizado. O torcedor comum segue o trilho das coisas certas. Na verdade, ele até gosta de ir ao campo com um amigo que torce para o inimigo, só para ficar tirando sarro do coitado. Tirar sarro dos torcedores adversários é das melhores coisas que existe. Por isso é que eu adorava as segundas-feiras, porque tirava sarro de metade do pessoal lá no serviço."

        "E o senhor acha certo que o futebol seja tão importante na vida das pessoas?" "Meu filho, as coisas mais importantes são as coisas sem importância. O futebolzinho, conversar com os amigos no bar, beber uma cerveja gelada, comer uma linguicinha bem apimentada, olhar uma mulher bonita, tomar um bom pingado na padaria, pregar peça nos amigos... Felicidade é um negócio simples, a gente é que complica."

        "E quando o senhor era vivo torcia para quem?" "Como assim, você não está me reconhecendo?" "Bem..., para falar a verdade..."

        "Te chamei de "meu filho", e você não adivinhou quem sou eu?"

        "Pai?"

        "Quem mais? E você sabe que eu torço pelo Santos e contra o Corinthians. Aliás, esperei até o último jogo entre os dois para ir para o lado de lá. Ah, aquele 2 a 1 foi uma bela despedida. E, falando em despedida, já está na minha hora. Adeus. De novo."

        Estranhamente, desta vez Zé Cabala não cobrou a consulta.

torero@uol.com.br

Entendendo a crônica:

01 – Qual é o nome do protagonista da crônica, também conhecido como o "telefonista dos espíritos"?

      O protagonista se chama Zé Cabala.

02 – Por que Zé Cabala estava vestindo um turbante e uma túnica negra no início da crônica?

      Zé Cabala estava vestindo um turbante e uma túnica negra porque achava que a cor preta o fazia parecer mais magro.

03 – Quem Zé Cabala decide entrevistar desta vez, em vez de um jogador de futebol?

      Zé Cabala decide entrevistar um torcedor.

04 – Quais são alguns dos motivos mencionados pelo torcedor para explicar por que as pessoas amam seus times de futebol?

      Os motivos incluem ser o time da cidade, influência de amigos ou familiares e o desejo de fazer parte de algo maior.

05 – Por que o torcedor considera os inimigos do time tão importantes quanto os amigos?

      O torcedor considera os inimigos importantes porque torcer contra eles é uma fonte de alegria e satisfação.

06 – Qual é a opinião do torcedor sobre as brigas nos estádios de futebol?

      O torcedor comum não se envolve em brigas nos estádios; ele prefere tirar sarro dos torcedores adversários. As brigas são associadas a torcedores organizados.

07 – Qual é a visão do torcedor sobre a importância do futebol na vida das pessoas?

      O torcedor acredita que o futebol e outras coisas simples da vida, como conversar com amigos, comer, beber e se divertir, são as coisas mais importantes, e a felicidade reside na simplicidade.

 

 

sábado, 10 de setembro de 2022

ROTEIRO: COMO FAZER UM FILME DE AMOR - JOSÉ ROBERTO TORERO E LUIZ MOURA - COM GABARITO

 Roteiro: Como fazer um filme de amor

        1. Abertura. Letreiros.  

        Entram letreiros com caracteres em branco e fundo negro. Ao fundo, ouve-se uma música esquisita. De repente a música é interrompida de forma brusca e o letreiro para. Entra a voz do Narrador em off:

        Narrador      

        Não, não... Nada disso! Esses letreiros são coisa de intelectual. Isso é um filme de amor! E o público precisa saber disso desde o começo. Para começar, vamos mudar esta música (entra outra música mais suave). Assim está melhor.

        E os letreiros têm que ser mais alegres (o letreiro muda, fica com cores alegres e as letras são maiores e coloridas). Isso! Melhorou. Mas ainda está faltando mais alguma coisa... Surgem desenhos decorativos com flores em torno dos caracteres.

        Narrador

        Pronto! Isso sim é uma abertura de filme de amor.

        [...]


        2. Rua. Exterior. Dia. Multidão transita em rua movimentada.

        Narrador

        Muito bem. Agora vamos começar com a história. A primeira coisa é escolher a personagem principal. Vai ser uma mulher, é claro.

        Afinal, as mulheres são 54% do público de cinema.

        Começamos a ver em destaque entre os passantes vários rostos de mulher.

        Surge uma mulher muito gorda. A câmera segue a garota por alguns instantes.

        Narrador

        Não, essa está meio gordinha.

        Aparece uma adolescente, com jeito de estudante, mascando chiclete.

        Narrador

        Hum... Muito nova.

        Nossa personagem tem que ter uma certa... história de vida.

        Aparece uma senhora do tipo perua, muito maquiada e pele visivelmente esticada por cirurgia plástica.

        Narrador

        Falei história de vida. Não história da civilização.

        [...]

        Uma mulher de uns 29 anos, bonita porém discreta, corta, de repente, à frente da perua, andando com rapidez.

        Narrador

        É essa!

        Passamos a acompanhar a mulher em seu trajeto. Ela entra num banco de modo atabalhoado.

        3. Agência bancária. Int. Dia.

        Cena 1: Entrada do banco.

        Narrador

        Essa moça é a ideal. Bela, mas nem tanto. Jovem, mas nem tanto...

        Segura de si... Ao passar por uma porta giratória, ela se atrapalha.

        [...]

        Narrador

        ... Mas nem tanto.

        Finalmente ela consegue entrar no banco.

        Cena 2: Fila de banco.

        Narrador

        Mas ela não pode ser só bonita, tem que ter um bom coração.

        Ela está de pé na fila. O caixa chama o próximo. Ela então cede a vez a uma mulher de idade, que agradece. Então ela olha para trás e percebe que a fila, comprida, está totalmente tomada por senhoras de idade. Ela vai dando passagem às velhinhas.

        Cena 3: Caixa do banco.

        Após a última velhinha, Laura, última da fila, finalmente consegue chegar ao caixa.

        Caixa

        Bom dia, dona... Como é mesmo o seu nome?

        Laura abre a boca para falar, mas antes que diga qualquer coisa, sua imagem congela.

        Narrador

        Essa é uma boa pergunta. Como a nossa heroína vai se chamar?

        Mulher

        Urraca.

        A imagem congela. A trilha sonora para.

        Narrador

        Não! Urraca não é um nome muito romântico!

        Mulher

        Emengarda, Robervalda, Genefrósia, Sigmunda, Astrogilda, Laura...

        A cada nome ouvimos o Narrador falar “Não”.

        Depois de “Laura”, a imagem congela.

        Narrador

        Para. É isso! Laura... É um nome bonito e simples.

        A imagem volta a mover-se.

        Mulher

        Meu nome é Laura.

                                                                                                                 TORERO, José Roberto; MOURA, Luiz. Como fazer um filme de amor: roteiro. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo; Cultura – Fundação Padre Anchieta, 2004. p. 9-14. (Coleção Aplauso). Disponível em: http://aplauso.imprensaoficial.com.br/edicoes/12.0.812.978/12.0.8122.978.pdf.  Acesso em: 1º dez. 2015.

      Fonte: Língua Portuguesa – Se liga na língua – Literatura, Produção de texto, Linguagem – 2 Ensino Médio – 1ª edição – São Paulo, 2016 – Moderna – p. 187-191.

Entendendo o roteiro:

01 – Releia o trecho inicial:

        “1. Abertura. Letreiros.

        Entram letreiros com caracteres em branco e fundo negro. Ao fundo, ouve-se uma música esquisita. De repente a música é interrompida de forma brusca e o letreiro para. Entra a voz do Narrador em off:

        Narrador

        Não, não... Nada disso! Esses letreiros são coisa de intelectual. Isso é um filme de amor! E o público precisa saber disso desde o começo. Para começar, vamos mudar esta música (entra outra música mais suave).

        Assim está melhor.

        E os letreiros têm que ser mais alegres (o letreiro muda, fica com cores alegres e as letras são maiores e coloridas). Isso! Melhorou. Mas ainda está faltando mais alguma coisa...

        Surgem desenhos decorativos com flores em torno dos caracteres.

        Narrador 

        Pronto! Isso sim é uma abertura de filme de amor.”

a)   Que aspecto da abertura planejada para o filme surpreende o espectador? Por quê?

Espera-se que os alunos apontem a presença de um narrador, visto que as obras cinematográficas apresentam as cenas diretamente.

b)   A obra pretende tratar, comicamente, os clichês dos filmes de amor. De que modo esse tratamento se mostra já nessa sequência inicial?

A mudança dos letreiros e da música é feita para se adequar às expectativas de construção de um filme romântico.

c)   Ao dizer “Esses letreiros são coisa de intelectual. Isso é um filme de amor!”, que característica o narrador estaria associando ao termo “intelectual”? Por oposição, que característica ele atribui ao público do filme?

O narrador estaria associando o termo “intelectual” a “racional” ou “objetivo”, colocados em oposição a “sentimental” ou “emotivo”, que caracterizaria o público de filmes românticos.

02 – Que tipo de informação é oferecida pelo trecho “2. Rua. Exterior. Dia. Multidão transita em rua movimentada.”? Qual é a função dessa informação no roteiro?

        O trecho indica onde se passa a cena e em que momento do dia e orienta a futura encenação da história, marcando que deve ser filmada em ambiente externo e não em estúdio.

03 – Normalmente, o roteiro traz as informações que definem o perfil dos personagens. Nesse roteiro, esse aspecto torna-se um assunto a ser explorado. Como isso é feito?

      Mostra-se ao público o processo de escolha da protagonista.

04 – Releia um trecho do roteiro:

        Narrador

        Hum... Muito nova.

        Nossa personagem tem que ter uma certa... história de vida.

        Aparece uma senhora do tipo perua, muito maquiada e pele visivelmente esticada por cirurgia plástica.

        Narrador

        Falei história de vida. Não história da civilização.”

a)   Explique o comentário “Não história da civilização”.

O comentário sugere que a mulher tem muita idade.

b)   Qual foi o efeito buscado pelo narrador com esse comentário? Como o narrador construiu o comentário em vista desse efeito?

O narrador objetivou produzir humor, graça, e o fez contrastando “história de vida”, que alude a um tempo curto, e “história da civilização”, que indica o contrário.

c)   Sobre essa sequência, o roteirista José Roberto Torero deu a seguinte explicação:

“Algumas mulheres viram o copião do filme e acharam essa piada muito grosseira. Trocamos então por ‘Mas eu preciso de alguém na idade de casar, não de fazer bodas de ouro’, o que não chega a ser delicado, mas é um pouco mais suave.”

TORERO & MOURA, op. cit., p. 11-12.

        O que a troca da fala revela sobre a produção de um filme?

      A troca sugere que os produtores se preocupam com a recepção do filme, com a maneira como ele será entendido por seus espectadores.

05 – Observe no texto os trechos iniciados com os números “1”, “2” e “3” e com “cena 1” e “cena 2”. Com base neles, explique como se organiza a apresentação do roteiro.

      Os números indicam diferentes momentos da história, marcados por diferentes cenários. As cenas indicam subdivisões dentro de um mesmo cenário.

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

CRÔNICA: VENDO COM OS OUVIDOS - JOSÉ ROBERTO TORERO - COM GABARITO

 

CRÔNICA: Vendo com os ouvidos



Sucesso que os rádios de todos os tipos fazem em Arapiraca tem motivos variados, inclusive o "vistal"


JOSÉ ROBERTO TORERO


VIAJADO LEITOR , rodada leitora, depois de andar 2.753 km pelas esburacadas estradas brasileiras, finalmente cheguei a Arapiraca para ver uma das partidas de abertura da Série C do Brasileiro. O jogo era ASA (Associação Sportiva Arapiraquense, para os íntimos) x Petrolina.


Eu poderia falar dos bons acarajés vendidos no estádio, da lama do gramado, do quase milagroso goleiro Genílson, do Petrolina, que defendeu até pênalti, do resultado de 1 a 0 para o time local, dos salários dos jogadores (entre R$ 1.500 e R$ 2.000, não tão ruins quanto eu esperava) ou dos torcedores-ciclistas que assistem ao jogo sobre suas bicicletas. Mas o que mais me impressionou foram os rádios. Muitos torcedores assistiram ao jogo com seus aparelhos grudados ao ouvido. Muitos mesmo. É uma mania local. Mania que já foi comum no Sul e no Sudeste, mas que hoje é exceção na parte de baixo do país.
Vi rádios de todos os tipos pelo estádio Coaracy da Mata Fonseca: pretos, prateados e coloridos, modernos e antigos, pequenos como um celular e grandes como um notebook. Alguns torcedores os escutavam bem colados ao ouvido, outros preferiam deixá-lo um tanto longe e com o volume no máximo. Mas os do lado não se incomodavam. Pegavam carona.
Os motivos para o sucesso do rádio em Arapiraca são variados. A resposta mais comum foi que, como os times mudam muito de jogador hoje em dia, só assim se pode saber o nome de quem está com a bola.
Mas houve outras, várias outras. Antonio Feliciano Sobrinho, 71, tem uma razão vital. Ou melhor, vistal. "É que os meus olhos andam meio ruins, só assim que eu sintonizo quem é quem."
Antonio Barbosa, que gastou R$ 45 num vistoso Motobras, diz que o rádio é bom porque assim ele fica sabendo o que está acontecendo nos outros jogos da rodada.
Cícero da Silva, 44, que está em seu oitavo rádio, escuta-o num tom altíssimo e grita para conversar com os que estão à sua volta. Sua explicação é que o rádio deixa o jogo mais animado, com mais emoção.
Valdir Francisco, 43, já é caso de "audiente fanaticus". É apaixonado por AM desde seu primeiro Motoradio. E mesmo agora, com um moderno aparelho, continua ouvindo rádio das 20h às 24h, todos os dias.
José Cavalcanti, 43, teoriza e diz que há dois tipos de torcedores: o que assiste aos jogos e o que acompanha futebol. Ele se considera do segundo grupo e por isso acha o rádio fundamental. Só assim ele pode acompanhar o entorno do futebol, as opiniões, quem está entrando na partida, quem está saindo, e por quê.
Em seu pequenino Livstar, Cavalcanti também gosta de ouvir entrevistas. "É para ver se os técnicos e os jogadores têm um bom retrato da partida." Porém, curiosamente, na hora daquele longo gooooool dos locutores brasileiros, ele não escuta seu aparelho. "Aí a gente está comemorando, até tira ele do ouvido."
Mas a resposta mais eloquente talvez tenha sido a de um senhor de uns 60 anos que nem quis escutar minha pergunta. Com o radinho colado ao ouvido, ele me disse: "Você me desculpe, mas agora não posso falar, viu? Tenho que escutar o que eu estou vendo".

São Paulo, terça-feira, 08 de julho de 2008 Folha de S.Paulo Esportetorero@uol.com.br

ESTUDO DO TEXTO

1)   O texto inicia relatando uma viagem.    

      a)   Por que o autor do texto foi para Arapiraca?

     Para assistir a uma partida de futebol.

 b)   Essa cidade era distante de onde ele estava? Como o leitor fica sabendo disso?

     Sim. O autor utiliza o advérbio “finalmente” para dizer que andou 2753 Km.

 c)   Como o autor qualifica as estradas?

          O que ele deixa transparecer nesse modo de qualificar?  

             Qualifica como esburacadas. Ele faz uma crítica ao mau estado de conservação das estradas brasileiras.   

      2)   O jogo ocorreu no Estádio Coaracy da Mata Fonseca, na cidade de Arapiraca, e fazia parte do Campeonato Brasileiro da Série C.

a)   Que times estavam competindo? Você já ouviu falar deles?

ASA (Associação Sportiva Arapiraquense) x Petrolina.

Resposta pessoal.

 b)   Esses times estão entre os principais da cidade? Com base no texto, é possível afirmar que esses times têm torcida?

Sim, o narrador afirma que havia muitos torcedores no estádio.   

3)   Releia este trecho do segundo parágrafo.

“Eu poderia falar dos bons acarajés vendidos no estádio, da lama do gramado, do quase milagroso goleiro Genilson, do Petrolina, que defendeu até pênalti, do resultado de 1 a 0 para o time local, dos salários dos jogadores (entre R$1.500 e R$2.000, não tão ruins quanto eu esperava) ou dos torcedores ciclistas que assistem ao jogo sobre suas bicicletas.[...]

           a)   O que o autor considera curioso em relação ao uso da bicicleta pelos torcedores?

O fato de assistirem a partida em cima de suas bicicletas.

b)   Que outros detalhes são enumerados no trecho?

A venda de acarajé no estádio, a lama do gramado, a situação do goleiro do time do Petrolina, o resultado do jogo e o salário dos jogadores.    

4)   Qual o assunto principal do texto?

                O hábito de ir ao estádio com um rádio de pilha.

 5)   Conforme o autor, “os motivos para o sucesso do rádio em Arapiraca são variados”.

a)   Um dos espectadores adverte que há dois tipos de torcedores: “o que assiste aos jogos e o que acompanha futebol”. Qual é a diferença entre esses tipos?

O primeiro apenas se interessa pelas partidas em si, pelo que acontece dentro de campo, enquanto o segundo se interessa pelos bastidores, pelas notícias sobre o esporte, pela opinião dos técnicos, etc.

b)   Para outro torcedor, o rádio torna a partida mais animada e emocionante. Em sua opinião, por que isso ocorre?

Resposta pessoal.

c)   O que motivos tão diferentes revelam sobre o uso do rádio no estádio?

Revelam que o rádio tinha funções importantes, era essencial para aqueles torcedores, que o utilizavam por diferentes motivos.

d)    Qual seria a importância do rádio para os torcedores que não estão no estádio?

Ele permite acompanhar a narração do jogo e os comentários dos jornalistas e repórteres que estão no estádio.

sábado, 25 de agosto de 2018

ARTIGO DE OPINIÃO: CADA UM É CADA UM - JOSÉ ROBERTO TORERO - COM GABARITO


Artigo de Opinião: Cada um é cada um
                                                                JOSÉ ROBERTO TORERO
                                                                   COLUNISTA DA FOLHA 

   Cada um é cada um, diz a sabedoria popular. E, ouvindo diferentes pessoas contarem o mesmo gol, chega-se à conclusão de que esta é uma verdade inquestionável, uma lei irrefutável.
       Alguns falam rapidamente, outros são lentos, alguns têm um vocabulário rebuscado, outros inventam gírias, uns capricham nos erres, outros deslizam nos esses, uns são fanhos, outros são gagos etc. E cada um conta o gol que viu de um jeito particular, único.
        Quereis exemplos que comprovem tal tese, desconfiado leitor e descrente leitora? Pois dar-vos-ei. Tomemos então, para fins de comprovação, o segundo gol do Paysandu contra o Palmeiras:
        O narrador objetivo falaria: "Aos 23 min do segundo tempo, Luís Fernando cruzou para Trindade, que cabeceou a bola e fez 2 a 1".
        O econômico diria: "Luís. Cruzamento. Trindade. Cabeça.   Bola. Redes. Gol".
           O interrogativo: "E não é que o Paysandu ganhou, mesmo depois de estar perdendo? Quando aconteceu a virada? No meio do segundo tempo, você acredita? Quem fez o cruzamento? O Luís Fernando. Para quem? Para o Trindade, sabe aquele que entrou no fim do primeiro tempo? E o que o Trindade fez? Cabeceou para o gol. Assim o Paysandu está na final contra o Cruzeiro e a dois jogos de disputar a Libertadores da América, não é demais?".
          O antiquado: "Já nos estertores da árdua pugna, o hábil Luís Fernando cobrou uma penalidade na intermediária e alçou magistralmente a esfera prateada, pondo-a na calva cabeça do rompedor Trindade, que subiu mais alto que os desesperados contrários, tocando-a fulminante contra os macios cordéis da meta inimiga".
         O matemático: "Aos 23min e 12s do tempo segundo, o atleta de número 6 fez um cruzamento parabólico a cinco passos da linha lateral, pondo o círculo na cabeça do atleta de camisa 16, sendo que este solucionou o problema desviando a esfera a 45 de sua posição referencial, fazendo-a alojar-se no canto baixo do delta, a 12 centímetros da mão esquerda do palmeirense de camisa número 1.
        O rabugento: "Depois de várias tentativas fracassadas, o Luís Fernando finalmente acertou um cruzamento, fazendo a bola, sabe Deus como, chegar à cabeça do Trindade, que, enfim, estava onde devia estar. Contando com a ajuda zagueiros palmeirenses, uns cabeças-de-bagre, ele subiu e desviou a bola sem muita força, mas o goleiro, mal colocado, não conseguiu defender".
        O helênico: "Já no ômega da partida, com a esperteza e a malícia de um sátiro, Luís Fernando fez um cruzamento para o epicurista atacante Trindade, que cabeceou com a fúria de Hércules, vazando a meta defendida pelo goleiro, cujo esforço foi mais infrutífero que o de Sísifo e mais vão que o das danaides. Indiferente a tudo, o arconte validou o feito, correndo para o círculo central da ágora".
        O anglicista: "O Louis levantou a bola para o Threendade, que, com seu feeling, se antecipou aos backs e cabeceou no córner do goalkeeper. Crazy, baby!".
       O caipira: "Uê, gente, ses não viram, não? Foi assim, ó: O Luís Fernando deu uma bicanca, e a bola foi parar no meio do fuzuê, onde tava o Trindade. Aí o danado triscou de cabeça, assim meio de banda, e a bola foi parar lá dentro da rede. Nem que o goleiro fosse passarinho, ele pegava não".
        Ou seja, cada um é cada um, e cada gol é muitos.

                              Folha de São Paulo. “Esporte”, 30/07/2002. d. 3.

Entendendo o texto:
01 – O título “Cada um é cada um” faz parte, como diz Torero, da sabedoria popular. E é bem coloquial, não é mesmo? Você o considera adequado ao texto? Como defenderia sua opinião?
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Mas a expectativa é de que a resposta seja sim, pois o título traduz um dito popular que combina com o texto de humor, cujo assunto está ligado a um espore também popular. Além disso, o texto tem como suporte o jornal e aparece em uma seção destinada a opinião do colunista.

02 – Crie um outro título para o mesmo texto, em que apareça a palavra estilo e que mantenha o sentido dado pelo colunista.
      Respostas possíveis: - Cada um tem seu estilo.
                                         - Cada gooool, um estilo.

03 – Na sua opinião, qual dos narradores envolve mais o ouvinte ao narrar o gol? Por quê?
      Resposta possível: O interrogativo, porque o narrador dá a impressão de conversar com o ouvinte ao emitir opinião ou perguntar e responder.

04 – No segundo parágrafo, Torero apresenta “estilos” de fala. E você, como classificaria seu “estilo” de fala? Você está satisfeito com ele ou gostaria que fosse diferente? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.