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sexta-feira, 28 de março de 2025

POEMA: LEMBRANÇA DE MORRER - FRAGMENTO - ÁLVARES DE AZEVEDO - COM GABARITO

 Poema: Lembrança de Morrer – Fragmento

             Álvares de Azevedo

Quando em meu peito rebentar-se a fibra
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nem uma lágrima
Em pálpebra demente.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgb-nhaL8hpdcMitAmNG2rOT8P-Pn4yZh0rgi8eJ9W3CZOYUdRQkcnmI1qPn-VXJVYBFGVmyEMu7-6F3vjFTIYBozUvy2q4cpGpyqi7gQ3AC6M5KGJqT23jOVvWVYnijvI2pGjdwCNyydzy6Ht0UXs8PTze2f_2ft6Jawq9fffO6p9gq0m_VRblZ5Fv6tU/s1600/mqdefault.jpg



E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.

Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poento caminheiro
— Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;

Como o desterro de minh'alma errante,
Onde fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade — é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.

[...]

Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
— Foi poeta — sonhou — e amou na vida. —

[...]

AZEVEDO, Álvares de. Lembrança de morrer. In: Antologia dos poetas brasileiros; poesia da fase romântica. Org. Manuel Bandeira; ver. Crítica Aurélio Buarque de Holanda. Rio de Janeiro. Nova Fronteira, 1996. p. 175-177.

Fonte: Português. Série novo ensino médio. Volume único. Faraco & Moura – 1ª edição – 4ª impressão. Editora Ática – 2000. São Paulo. p. 176.

Entendendo o poema:

01 – Qual o pedido do poeta em relação às suas lágrimas e flores após a morte?

      O poeta pede para que não derramem lágrimas por ele e nem desfolhem flores em seu túmulo.

02 – Como o poeta descreve sua partida da vida?

      O poeta compara sua partida da vida ao tédio de um viajante no deserto, ao fim de um longo pesadelo e ao fim de um exílio de sua alma atormentada.

03 – Qual a única saudade que o poeta leva da vida?

      A única saudade que o poeta leva da vida são os tempos embelezados pela ilusão amorosa.

04 – Onde o poeta deseja que seu leito solitário descanse após a morte?

      O poeta deseja que seu leito solitário descanse na floresta dos homens esquecida, à sombra de uma cruz.

05 – Qual a inscrição que o poeta pede para colocarem em sua cruz?

      O poeta pede para que escrevam em sua cruz: "Foi poeta — sonhou — e amou na vida."

 

 

 

domingo, 16 de fevereiro de 2025

ROMANCE: SOLFIERI - CAP. II - (FRAGMENTO) - ÁLVARES DE AZEVEDO - COM GABARITO

 Romance: Solfieri cap. II – Fragmento

                  Álvares de Azevedo

        Sabei-o. Roma e a cidade do fanatismo e da perdição: na alcova do sacerdote dorme a gosto a amásia, no leito da vendida se pendura o Crucifixo lívido. É um requintar de gozo blasfemo que mescla o sacrilégio a convulsão do amor, o beijo lascivo a embriaguez da crença!

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWD5z9kCpm3FTDKM_-RsSzLHYyOUDLfZzLBJ4IGcXnyaDH6DSqs49fOzeDjy3sdKIkBZ2VboieGKvRRlkly2PH_VpHe4APmwf632pzQ3iggBg4xHS-qkb20vFwJOVZKp2BlY21PnTzvyhYk5NJlF3N6xmMbTwIeu4jBfPQPA_JUquqFl65OptRs1DBNss/s320/1867-solfieri-e-o-casarao-sombrio-1080.jpg


        Era em Roma. [...]. A noite ia bela. Eu passeava a sós pela ponte de... As luzes se apagaram uma por uma nos palácios, as ruas se fazias ermas, e a lua de sonolenta se escondia no leito de nuvens. Uma sombra de mulher apareceu numa janela solitária e escura. Era uma forma branca. A face daquela mulher era como a de uma estátua pálida a lua. Pelas faces dela, como gotas de uma taça caída, rolavam fios de lágrimas.

        Eu me encostei a aresta de um palácio. A visão desapareceu no escuro da janela... e daí um canto se derramava. Não era só uma voz melodiosa: havia naquele cantar um como choro de frenesi, um como gemer de insânia: aquela voz era sombria como a do vento a noite nos cemitérios cantando a nênia das flores murchas da morte.

        Depois o canto calou-se. A mulher apareceu na porta. Parecia espreitar se havia alguém nas ruas. Não viu ninguém: saiu. Eu segui-a.

        [...]

        Andamos longo tempo pelo labirinto das ruas: enfim ela parou: estávamos num campo.

        Aqui, ali, além eram cruzes que se erguiam de entre o ervaçal. Ela ajoelhou-se. Parecia soluçar: em torno dela passavam as aves da noite.

        Não sei se adormeci: sei apenas que quando amanheceu achei-me a sós no cemitério. Contudo a criatura pálida não fora uma ilusão; as urzes, as cicutas do campo-santo estavam quebradas junto a uma cruz.

        O frio da noite, aquele sono dormido a chuva, causaram-me uma febre. No meu delírio passava e repassava aquela brancura de mulher, gemiam aqueles soluços e todo aquele devaneio se perdia num canto suavíssimo...

        Um ano depois voltei a Roma. Nos beijos das mulheres nada me saciava: no sono da saciedade me vinha aquela visão...

        Uma noite, e após uma orgia, eu deixara dormida no leito dela a condessa Barbara. Dei um último olhar àquela forma nua e adormecida com a febre nas faces e a lascívia nos lábios úmidos, gemendo ainda nos sonhos como na agonia volutuosa do amor. Saí. Não sei se a noite era límpida ou negra; sei apenas que a cabeça me escaldava de embriaguez. As taças tinham ficado vazias na mesa: aos lábios daquela criatura eu bebera até a última gota o vinho do deleite...

        Quando dei acordo de mim estava num lugar escuro: as estrelas passavam seus raios brancos entre as vidraças de um templo. As luzes de quatro círios batiam num caixão entreaberto. Abri-o: era o de uma moça. Aquele branco da mortalha, as grinaldas da morte na fronte dela, naquela tez lívida e embaçada, o vidrento dos olhos mal apertados... Era uma defunta! ... e aqueles traços todos me lembraram uma ideia perdida... Era o anjo do cemitério? Cerrei as portas da igreja, que, ignoro por que, eu achara abertas. Tomei o cadáver nos meus braços para fora do caixão. Pesava como chumbo. [...]. Tomei-a no colo. Preguei-lhe mil beijos nos lábios. Ela era bela assim: rasguei-lhe o sudário, despi-lhe o véu e a capela como o noivo os despe a noiva. [...]. O gozo foi fervoroso — cevei em perdição aquela vigília. A madrugada passava já frouxa nas janelas. Àquele calor de meu peito, a febre de meus lábios, a convulsão de meu amor, a donzela pálida parecia reanimar-se. Súbito abriu os olhos empanados [...]. Não era já a morte; era um desmaio. [...]

        [...] Nunca ouvistes falar da catalepsia? E um pesadelo horrível aquele que gira ao acordado que emparedam num sepulcro; sonho gelado em que se sentem os membros tolhidos, e as faces banhadas de lágrimas alheias, sem poder revelar a vida!

        A moça revivia a pouco e pouco. Ao acordar desmaiara. Embucei-me na capa e tomei-a nos braços coberta com seu sudário como uma criança. Ao aproximar-me da porta topei num corpo, abaixei-me, olhei: era algum coveiro do cemitério da igreja que aí dormia de ébrio, esquecido de fechar a porta...

        [...]

        Caminhei. Estava cansado. Custava a carregar o meu fardo: e eu sentia que a moça ia despertar. Temeroso de que ouvissem-na gritar e acudissem, corri com mais esforço...

        [...] Dois dias e duas noites levou ela de febre assim... Não houve sanar-lhe aquele delírio, nem o rir do frenesi. Morreu depois de duas noites e dois dias de delírio.

        A noite saí; fui ter com um estatuário que trabalhava perfeitamente em cera, e paguei-lhe uma estátua dessa virgem.

        Quando o escultor saiu, levantei os tijolos de mármore do meu quarto, e com as mãos cavei aí um túmulo. Tomei-a então pela última vez nos braços, apertei-a a meu peito muda e fria, beijei-a e cobri-a adormecida do sono eterno com o lençol de seu leito. Fechei-a no seu túmulo e estendi meu leito sobre ele.

        Um ano — noite a noite — dormi sobre as lajes que a cobriam... Um dia o estatuário me trouxe a sua obra. Peguei-lha e paguei o segredo...

        — Não te lembras, Bertram, de uma forma branca de mulher que entreviste pelo véu do meu cortinado? Não te lembras que eu te respondi que era uma virgem que dormia?

        — E quem era essa mulher, Solfieri?

        — Quem era? seu nome?

        — Quem se importa com uma palavra quando sente que o vinho queima assaz os lábios? Quem pergunta o nome da prostituta com quem dormiu e sentiu morrer a seus beijos, quando nem há dele mister por escrever-lho na lousa?

        Solfieri encheu uma taça e Bebeu-a. Ia erguer-se da mesa quando um dos convivas tomou-o pelo braço.

        — Solfieri, não é um conto isso tudo?

        — Pelo inferno que não! Por meu pai que era conde e bandido, por minha mãe que era a bela Messalina das ruas, pela perdição que não! Desde que eu próprio calquei aquela mulher com meus pés na sua cova de terra, eu vo-lo juro! — guardei-lhe como amuleto a capela de defunta. Ei-la!

        Abriu a camisa, e viram-lhe ao pescoço uma grinalda de flores mirradas.

        — Vede-a? Murcha e seca como o crânio dela!

Noite na taverna, São Paulo: Martins, 1965, p. 39.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, Vol. Único. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. Ensino Médio, 1ª ed. 4ª reimpressão – São Paulo: ed. Atual, 2003. p. 227-228.

Entendendo o romance:

01 – Qual é o cenário inicial do fragmento e o que ele revela sobre a atmosfera da narrativa?

      O cenário inicial é Roma, descrita como uma cidade de "fanatismo e perdição", onde a religião e a libertinagem se misturam. Essa descrição estabelece uma atmosfera de mistério, pecado e erotismo, que permeia toda a narrativa.

02 – Quem é o narrador do fragmento e qual é sua relação com os acontecimentos narrados?

      O narrador é Solfieri, um personagem que relata suas próprias experiências em Roma. Ele se apresenta como um homem atormentado por fantasmas do passado, buscando redenção ou expiação através de sua narrativa.

03 – Qual é a primeira visão que Solfieri tem da mulher misteriosa e o que essa visão evoca?

      Solfieri avista uma mulher pálida e solitária em uma janela, com lágrimas escorrendo pelo rosto. Essa visão evoca mistério, melancolia e sofrimento, despertando a curiosidade do narrador.

04 – O que acontece quando Solfieri segue a mulher misteriosa pelas ruas de Roma?

      Solfieri segue a mulher até um cemitério, onde ela se ajoelha e parece soluçar. Ele tem um sono misterioso e, ao acordar, encontra sinais de que a mulher esteve ali, mas ela desapareceu.

05 – Qual é o efeito que o encontro com a mulher misteriosa tem sobre Solfieri?

      O encontro com a mulher misteriosa deixa Solfieri perturbado e febril. Ele é atormentado por lembranças e delírios, nos quais a imagem da mulher se mistura com um canto melancólico.

06 – O que Solfieri faz um ano após seu encontro com a mulher misteriosa?

      Um ano depois, Solfieri retorna a Roma e se entrega a uma vida de libertinagem, buscando em vão saciar o vazio que sente. Ele se envolve com a condessa Barbara, mas nem mesmo os prazeres carnais conseguem apagar a imagem da mulher misteriosa de sua memória.

07 – O que acontece quando Solfieri encontra um cadáver em uma igreja?

      Após uma noite de orgia, Solfieri encontra o cadáver de uma jovem em uma igreja. Ele tem a impressão de reconhecer a mulher misteriosa do cemitério e, em um momento de delírio, remove o corpo do caixão e o leva para seu quarto.

08 – Qual é a reação de Solfieri ao perceber que a mulher não está morta, mas sim em estado de catalepsia?

      Ao perceber que a mulher está viva, Solfieri a leva para seu quarto e cuida dela até que ela se recupere. Ele demonstra um misto de obsessão, amor e arrependimento, revelando a complexidade de seus sentimentos.

09 – O que acontece com a mulher após ser levada para o quarto de Solfieri?

      A mulher tem um período de delírio e febre, durante o qual Solfieri cuida dela. No entanto, ela não resiste e acaba morrendo. Solfieri, então, manda fazer uma estátua de cera da mulher e a coloca em um túmulo que ele mesmo cava em seu quarto.

10 – Qual é a revelação final de Solfieri sobre a mulher misteriosa?

      No final da narrativa, Solfieri revela que a mulher misteriosa era uma virgem que dormia e que ele a amava obsessivamente. Ele guarda a grinalda de flores da mulher como um amuleto, simbolizando seu amor e sua culpa.

 

segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

POESIA: É ELA! É ELA! - FRAGMENTO - ÁLVARES DE AZEVEDO - COM GABARITO

 Poesia: É ELA! É ELA! – Fragmento

             Álvares de Azevedo 

É ela! É ela! — murmurei tremendo,

E o eco ao longe murmurou — é ela!...

Eu a vi... minha fada aérea e pura,

A minha lavadeira na janela!

 

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCL-6WHAYbs-k5R67HqXd2tzrSyV5ECISq2mdUCR_ToGtHH1qYeukpdFqwZ-xQXCmkFfqKmFenPPwO3k-cNdwJ-3D9OXWH_fP4juz1Vwqj9NFWgVUzb3AAuptwMEQMpLvKhDHTuMLWJC4rp45Sjd75Jm70d1QXUlzMarqGw48SOIoujvqr4BIwQY9rKZA/s320/e-ela-e-ela.jpg

Dessas águas-furtadas onde eu moro

Eu a vejo estendendo no telhado

Os vestidos de chita, as saias brancas...

Eu a vejo e suspiro enamorado!

 

Esta noite eu ousei mais atrevido

Nas telhas que estalavam nos meus passos

Ir espiar seu venturoso sono,

Vê-la mais bela de Morfeu nos braços!

 

Como dormia! que profundo sono!...

Tinha na mão o ferro do engomado...

Como roncava maviosa e pura!...

Quase caí na rua desmaiado!

[...]

AZEVEDO, Álvares de. In: BUENO, Alexei (Org.). Álvares de Azevedo: obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000, p. 238. (Fragmento).

Fonte: Português – Literatura, Gramática e Produção de texto – Leila Lauar Sarmento & Douglas Tufano – vol. 2 – Moderna – 1ª edição – São Paulo, 2010, p. 111.

Entendendo a poesia:

01 – De acordo com o texto, qual o significado de Morfeu?

      Deus do sonho.

02 – Qual a principal temática abordada no fragmento?

      A principal temática do fragmento é a idealização amorosa e a contradição entre o ideal e o real. O eu lírico idealiza sua amada, vendo-a como uma "fada aérea e pura", mas ao mesmo tempo, a vê como uma simples "lavadeira". Essa dualidade entre o sublime e o cotidiano é característica do Romantismo.

03 – Como o eu lírico se sente em relação à amada?

      O eu lírico demonstra uma intensa paixão pela amada, idealizando-a e colocando-a num pedestal. Ao mesmo tempo, ele se sente inferior e tímido diante dela, como demonstra a sua atitude de espioná-la. Essa ambivalência de sentimentos é típica do amor romântico.

04 – Qual a importância da imagem da "lavadeira" no poema?

      A imagem da "lavadeira" representa o lado cotidiano e real da amada, contrapondo-se à imagem idealizada da "fada aérea e pura". Essa contradição revela a complexidade dos sentimentos do eu lírico, que se sente atraído tanto pela beleza idealizada quanto pela simplicidade e naturalidade da amada.

05 – Como a linguagem utilizada contribui para a construção do poema?

      A linguagem utilizada é rica em adjetivos e comparações, o que contribui para a criação de um clima de sonho e idealização. A repetição do nome "ela" enfatiza a obsessão do eu lírico pela amada. Além disso, a utilização de versos curtos e rima rica confere musicalidade ao poema, aproximando-o da canção popular.

06 – Como este poema se encaixa no contexto do Romantismo?

      Este poema é um exemplo típico do Romantismo, pois apresenta características como:

      Idealização da mulher: A amada é idealizada como um ser puro e perfeito.

      Individualismo: O poeta expressa seus sentimentos de forma subjetiva e intensa.

      Valorização da natureza: A natureza é utilizada como pano de fundo para expressar os sentimentos do poeta.

      Linguagem rica em metáforas e comparações: A linguagem é utilizada para criar imagens poéticas e sensoriais.

 

 

POESIA: O POETA MORIBUNDO - FRAGMENTO - ÁLVARES DE AZEVEDO - COM GABARITO

 Poesia: O poeta moribundo – Fragmento

             Álvares de Azevedo

[...]

Eu morro qual nas mãos da cozinheira
O marreco piando na agonia...
Como o cisne de outrora... que gemendo
Entre os hinos de amor se enternecia.
 
Coração, por que tremes? Vejo a morte,
Ali vem lazarenta e desdentada...
Que noiva!... E devo então dormir com ela?
Se ela ao menos dormisse mascarada!

[...]

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzRcuiMODNCeD7Eb5cOH7l1Rm_pPRgfiIZyBXv2XawhlWLa4ng0OSufIm2sRb_TcQy_v_JrZxoAt6Qg9-WjYP8aeu0GnxP_kfX67XCPM6rB_fO-U_ya2pMgQCBW9mx7jTLPw_c0RUHegbjRG7tmLSFJSTsnGeAkuH-QFBQfxBCJuv6orekwN0mlXBXPGE/s320/LIRA.png


AZEVEDO, Álvares de. In: BUENO, Alexei (Org.). Álvares de Azevedo: obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000. p. 236. (Fragmento).

Fonte: Português – Literatura, Gramática e Produção de texto – Leila Lauar Sarmento & Douglas Tufano – vol. 2 – Moderna – 1ª edição – São Paulo, 2010, p. 109.

Entendendo a poesia:

01 – Qual a principal metáfora utilizada por Álvares de Azevedo para descrever a própria morte e qual o efeito que ela causa no poema?

      A principal metáfora utilizada é a comparação da própria morte à de um marreco piando nas mãos da cozinheira e ao cisne de outrora que morre cantando hinos de amor. Essa comparação cria um efeito de grande dramaticidade e ironia. A imagem do marreco piando transmite a ideia de uma morte ignominiosa e sem dignidade, enquanto a imagem do cisne cantando hinos de amor contrasta com a dor da morte, criando um clima de melancolia e saudosismo. Essa dualidade revela a complexidade dos sentimentos do poeta diante da morte: medo, ironia e resignação.

02 – Que sentimentos o poeta expressa em relação à morte?

      O poeta expressa uma gama de sentimentos complexos em relação à morte. Ele demonstra medo ("Coração, por que tremes?"), ironia ("Que noiva!... E devo então dormir com ela?"), e ao mesmo tempo, uma certa resignação diante do inevitável. A figura da morte é vista como algo temido e repulsivo, mas também como uma libertação do sofrimento. Essa ambivalência de sentimentos é característica do Romantismo, que valoriza a intensidade das emoções e a exacerbação dos sentimentos.

03 – Como a figura da morte é representada no poema?

      A figura da morte é representada de forma dual e contraditória. Por um lado, é personificada como uma noiva "lazarenta e desdentada", ou seja, como uma figura repulsiva e assustadora. Por outro lado, a morte também é vista como um alívio para o sofrimento, como demonstra a imagem do cisne que morre cantando. Essa dualidade reflete a complexidade da relação do homem com a morte, que ao mesmo tempo fascina e aterroriza.

04 – Qual a importância da metáfora do cisne no contexto do poema?

      A metáfora do cisne é fundamental para o poema, pois representa a beleza e a poesia diante da morte. O cisne, símbolo da elegância e da beleza, morre cantando hinos de amor, representando a capacidade do poeta de transformar a dor da morte em arte. Essa imagem contrasta com a imagem do marreco, enfatizando a dualidade da experiência da morte e a busca por significado mesmo diante da finitude.

05 – Como este poema se encaixa no contexto do Romantismo?

      Este poema é um exemplo clássico do Romantismo, pois apresenta características típicas desse movimento literário, como:

      Valorização da emoção: O poeta expressa seus sentimentos de forma intensa e subjetiva, explorando a angústia e o medo da morte.

      Individualismo: O poeta se coloca como centro do universo, explorando suas próprias experiências e sentimentos.

      Idealização da morte: A morte é idealizada como uma fuga do sofrimento e uma busca por um mundo ideal.

      Linguagem rica em metáforas: O uso de metáforas e comparações cria imagens vívidas e poéticas, como a comparação da morte com um marreco e um cisne.

 

quarta-feira, 8 de maio de 2024

POEMA: MEU ANJO - ÁLVARES AZEVEDO - COM GABARITO

 Poema: Meu anjo

              Álvares Azevedo

 Meu anjo tem o encanto, a maravilha     

Da espontânea canção dos passarinhos;         

Tem os seios tão alvos, tão macios

Como o pelo sedoso dos arminhos.

 

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmcuL2u-fcxCVXJ7mY4ZR5szzmvKU4FXHyoUcsX_wLcO7FfhdHraAhYVWf7OdEGKJR5Bkhx9mBoxvm7MUHQgSPJRR_KKL-175pSaYUW8ZOzu3rjWmD1FqXHwmdfAxdX335ye4nNyupgFbl6-tOYIECdxxcBkkKWNYHCXculnKtRCwuKywTF0LJZEKf6rM/s1600/ANJO.jpg 

         

Triste de noite na janela a vejo

E de seus lábios o gemido escuto.          

É leve a criatura vaporosa     

Como a frouxa fumaça de um charuto.

 

Parece até que sobre a fronte angélica  

Um anjo lhe depôs coroa e nimbo...

Formosa a vejo assim entre meus sonhos

Mais bela no vapor do meu cachimbo

 

Como o vinho espanhol, um beijo dela

Entorna ao sangue a luz do paraíso.

Dá morte n’um desdém, n’um beijo vida,

E celestes desmaios num sorriso!

 

 Mas quis a minha sina que seu peito

 Não batesse por mim nem um minuto,

 E que ela fosse leviana e bela

 Como a leve fumaça de um charuto!

 (Alvares de Azevedo)

Texto e questões extraídas da obra: Cereja, William Roberto. Português contemporâneo: diálogo, reflexão e uso, vol. 2. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. (p. 51-52)

 

Entendendo o texto

01. O poema apresenta em sua composição vários elementos antitéticos. Observe o retrato da figura feminina apresentado na primeira estrofe do poema.

a.   Que elementos, nessa estrofe, sugerem a pureza e a inocência da mulher amada?  

         Os elementos que sugerem a pureza e a inocência da mulher amada na primeira estrofe são "encanto" e "maravilha", comparando-a à canção espontânea dos passarinhos e descrevendo seus seios como "alvos" e "macios", como o pelo sedoso dos arminhos.

      b. Que elementos são indicativos da corporeidade e da sensualidade da mulher amada?  

          Os elementos indicativos da corporeidade e da sensualidade da mulher amada na primeira estrofe são a descrição de seus seios como alvos e macios, sugerindo uma imagem física e sensual.

02. A partir da segunda estrofe, o eu lírico passa a associar a figura feminina a elementos mais prosaicos.

       a. Quais são esses elementos?  

           Os elementos mais prosaicos associados à figura feminina na segunda estrofe são a tristeza noturna, o gemido dos lábios dela que o eu lírico escuta, e a comparação da criatura com a frouxa fumaça de um charuto.

      b. O que esses elementos prosaicos têm em comum?  

          Esses elementos prosaicos têm em comum a natureza efêmera e leveza, como a fumaça de um charuto.

      c. Considerando as respostas dos itens anteriores, levante hipóteses:  O que essas associações feitas pelo eu lírico sugerem quanto à figura feminina?  

           As associações feitas pelo eu lírico sugerem que a figura feminina, apesar de sua aparente pureza e encanto na primeira estrofe, é vista como algo fugaz e insubstancial, como a fumaça do charuto, denotando uma visão mais terrena e menos idealizada.

03. A imagem da mulher se modifica conforme o eu lírico esteja situado no mundo dos sonhos ou no mundo da realidade. Em que consiste essa mudança? Justifique sua resposta com elementos do texto.

A mudança na imagem da mulher ocorre conforme o eu lírico oscila entre o mundo dos sonhos e da realidade. Nos sonhos, ele a vê formosa e bela entre seus sonhos, mais sublime e idealizada. Na realidade, percebe sua leveza e fugacidade, comparando-a à fumaça do charuto, o que sugere uma visão mais terrena e desiludida.

04. No poema:

a. A mulher amada retribui o amor do eu lírico? Justifique sua resposta com trechos do texto.

       Não, a mulher amada não parece retribuir o amor do eu lírico. O trecho "Mas quis a minha sina que seu peito / Não batesse por mim nem um minuto" indica que o eu lírico lamenta que o sentimento não seja recíproco.

b. Que sentimentos o eu lírico expressa diante da postura de sua amada?

     O eu lírico expressa sentimentos de tristeza e desilusão diante da postura da amada, lamentando a falta de reciprocidade e a superficialidade da relação, representada pela comparação dela com a leve fumaça de um charuto.

 

 

 

 

domingo, 19 de junho de 2022

POEMA: MEU SONHO - ÁLVARES DE AZEVEDO - COM GABARITO

 Poema: Meu Sonho

             Álvares de Azevedo

EU
Cavaleiro das armas escuras,
Onde vais pelas trevas impuras
Com a espada sanguenta na mão?
Porque brilham teus olhos ardentes
E gemidos nos lábios frementes
Vertem fogo do teu coração?

Cavaleiro, quem és? o remorso?
Do corcel te debruças no dorso....
E galopas do vale através...
Oh! da estrada acordando as poeiras
Não escutas gritar as caveiras
E morder-te o fantasma nos pés?

Onde vais pelas trevas impuras,
Cavaleiro das armas escuras,
Macilento qual morto na tumba?...
Tu escutas.... Na longa montanha
Um tropel teu galope acompanha?
E um clamor de vingança retumba?

Cavaleiro, quem és? — que mistério,
Quem te força da morte no império
Pela noite assombrada a vagar?

O FANTASMA
Sou o sonho de tua esperança,
Tua febre que nunca descansa,
O delírio que te há de matar!...

           AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. Rio de Janeiro / Belo Horizonte: Garnier, 1994. p. 153-4.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 80.

Entendendo o poema:

01 – O poema apresenta certa regularidade na distribuição dos versos. Identifique o critério de organização dos versos no poema.

      O poema é composto por três estrofes de seis versos e uma estrofe de seis versos que aparece “quebrada”, composta por duas estrofes de três versos.

02 – Faça a escansão dos dois primeiros versos do poema. O poema apresenta que métrica?

      Ca-va-lei-ro-das-ar-mas-es-cu-ras, / On-de-vais-pe-las-ter-vas-im-pu-ras. Trata-se de versos com métrica regular: versos com nove sílabas poéticas, também chamados eneassílabos.      

03 – O ritmo é uma das marcas centrais desse poema. Releia o poema em voz alta e identifique a estrutura rítmica que ele apresenta.

      É provável que os alunos precisam de ajuda para perceber a construção rítmica do poema. Nesse caso, leia para a classe a primeira estrofe do poema acentuando com força as sílabas tônicas e lendo com menos intensidade as sílabas átonas. Isso revelará de forma evidente o ritmo do poema: são nove sílabas poéticas absolutamente regulares: a terceira, a sexta e a nona são sempre pronunciadas com mais intensidade. Ca-va-LEI-ro-das-AR-mas-es-CU-ras/on-de-VAIS-pe-las-TER-vas-im-PU-ras/com-a es-PA-da-san-GREN-ta-na-MÃO?/por-que-BRI-lham-teus-O-olhos-ar-DENtes/ e-ge-MI-dos-nos-LÁ-bios-fre-MEN-tes/ver-tem-FO-go-do-TEU-co-ra-ÇÃO?

04 – Faça o levantamento do esquema de rimas do poema.

      O poema apresenta um esquema de rimas regular: AABCCB.

05 – O poema apresenta um diálogo. Quem são os interlocutores desse diálogo?

      O eu lírico, apresentado como “eu” e um “fantasma”, que responde nos três últimos versos.

06 – Em que ambiente ocorre o diálogo? Justifique com elementos do texto.

      Num ambiente campestre, durante a noite. Há um cavaleiro a galope, numa longa montanha, e referências ao ambiente noturno – escuridão, treva, noite.

07 – O Romantismo, em especial o ultrarromantismo, valorizava o mistério, o sinistro. De que modo o ambiente identificado na resposta anterior contribui para a atmosfera de mistério que predomina no poema?

      As imagens noturnas estão associadas, no poema de Álvares de Azevedo, ao mistério, como se comprova pelo uso de termos como: remorso, caveiras, morto, vingança, assombrada, febre, delírio, etc.

08 – Ao lado das imagens que se referem ao mistério e ao sinistro, há palavras / imagens no poema que fazem referência ao sentimento amoroso erótico. Identifique-as no texto.

      O contexto geral do poema, associado ao ritmo, faz com que algumas imagens adquiram conotação erótica: olhos ardentes, gemidos, lábios frementes, fogo do teu coração.

09 – Escrever a paráfrase de um texto consiste em recontar o texto usando suas próprias palavras. Mesmo quando se trata de poemas, as paráfrases são feitas em parágrafos, não em versos. Esse procedimento auxilia bastante na compreensão de textos mais simbólicos, em que pode ser difícil apreender as ideias numa primeira leitura. Com o objetivo de compreender melhor o poema lido, faça a paráfrase dele.

      O sujeito poético parece ser seguido por um cavaleiro que tem nas mãos uma espada suja de sangue. Esse cavaleiro tem olhos ardentes, lábios frementes, ou seja, vibrantes. Ele não consegue identificar quem é o cavaleiro e estabelece hipóteses: seria ele o remorso, galopando no vale, por trevas impuras, pálido como um morto na tumba? Pode ser também alguém que busca vingança, alguém misterioso, que assombra o sujeito poético. O fantasma responde que é o sonho da esperança do sujeito poético, uma febre que nunca descansa, um delírio que irá causar a morte do eu lírico.

10 – Retome o título do poema. Em sua opinião, ele é adequado? Justifique sua resposta.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Pode-se dizer que sim, pois o poema apresenta uma atmosfera fantasiosa, uma situação que foge aos padrões da realidade, ou seja, uma atmosfera onírica, isto é, de sonho. Por outro lado, é possível responder que a atmosfera se aproxima à de um pesadelo, já que as sensações angustiosas são as que predominam ao longo do poema.

11 – Um dos temas centrais do ultrarromantismo é a conjugação de amor e morte, numa abordagem muitas vezes erótica. É possível inferir que esse tema é trabalhado no poema? Justifique sua resposta.

      Sim. A partir do diálogo entre o “Eu” e o “Fantasma”, é possível inferir que o temor do cavaleiro vem do medo de amar, de seu erotismo, marcados pela febre, pela angústia. Embora a ideia de morte esteja muito mais presente no poema que a ideia de amor, que vem subentendida, é possível inferir que é o amor e a culpa pela ideia de amar, pela descoberta do sexo, representada pela “impureza”, que fazem com que o “Eu” se sinta delirante, febril.

 

 

POEMA: SE EU MORRESSE AMANHÃ - ÁLVARES DE AZEVEDO - COM GABARITO

 Poema: SE EU MORRESSE AMANHà

              Álvares de Azevedo

Se eu morresse amanhã, viria ao menos

Fechar meus olhos minha triste irmã;

Minha mãe de saudade morreria

Se eu morresse amanhã!

 

Quanta glória pressinto em meu futuro!

Que aurora de porvir e que manhã!

Eu perdera chorando essas coroas

Se eu morresse amanhã!

 

Que sol! Que céu azul! Que doce n’alva

Acorda a natureza mais louçã!

Não me batera tanto amor no peito

Se eu morresse amanhã!

 

Mas essa dor da vida que devora

A ânsia de glória, o dolorido afã...

A dor no peito emudecera ao menos

Se eu morresse amanhã!

AZEVEDO, Álvares de. Cadernos Poesia brasileira: Romantismo. São Paulo: Instituto Cultural Itaú, 1995. p. 18.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 79-80.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Louçã: bela, viçosa.

·        Afã: trabalho, empenho.

02 – Identifique como estão distribuídas as rimas no poema.

      Apenas os segundos versos do poema rimam com o quarto, que funciona como um refrão, repetido ao final de cada estrofe.

03 – Qual é a métrica apresenta no poema?

      O poema é composto por versos decassílabos, à exceção do refrão, que é composto por uma redondilha maior: Se eu/mor/res/se a/ma/nhã, vi/ri/a ao /me/nos; Fe/char/meus/olhos/mi/nha/tris/te ir/mã (dez cada); Se/eu/mor/res/se a/ma/nhã (sete).

04 – O título do poema funciona também como refrão. Que efeito de sentido essa repetição, associada ao ritmo, produz no poema?

      O ritmo do refrão é diferente dos demais versos, como se constata no item 3. Aliada a isso, a repetição do título na forma de refrão faz com que a frase “Se eu morresse amanhã” se torne uma ladainha, uma lamentação, mas também uma espécie de desejo, muitas vezes repetido.

05 – O eu lírico apresenta-se dividido: de um lado lamenta perder a vida, de outro, vislumbra algumas vantagens em sua morte. O que ele lamenta perder e o que vê como vantagem?

      O eu lírico lamenta causar sofrimento à mãe e à irmã, perder as glórias futuras e o contato com a natureza; por outro lado, acredita que a morte seria capaz de terminar com a “dor no peito”.

06 – Relacione esse poema às características do ultrarromantismo.

      O poema de Álvares de Azevedo é típico do ultrarromantismo: apresenta o sentimento de spleen, descontentamento com a vida, a temática é mórbida, o tom, melancólico

domingo, 15 de maio de 2022

POEMA: SONHANDO - ÁLVARES DE AZEVEDO - COM GABARITO

 Poema: SONHANDO   

             Álvares de Azevedo

Hier, la nuit d’été, que nous prêtait ses voiles, Était digne de toi, tant elle avait d’étoiles!

VICTOR HUGO

Na praia deserta que a lua branqueia,
Que mimo! que rosa! que filha de Deus!
Tão pálida... ao vê-la meu ser devaneia,
Sufoco nos lábios os hálitos meus!
        Não corras na areia,
        Não corras assim!
        Donzela, onde vais?
        Tem pena de mim!

A praia é tão longa! e a onda bravia
As roupas de gaza te molha de escuma...
De noite, aos serenos, a areia é tão fria...
Tão úmido o vento que os ares perfuma!
        És tão doentia...
        Não corras assim...
        Donzela, onde vais?
        Tem pena de mim!

A brisa teus negros cabelos soltou,
O orvalho da face te esfria o suor,
Teus seios palpitam — a brisa os roçou,
Beijou-os, suspira, desmaia de amor!
        Teu pé tropeçou...
        Não corras assim...
        Donzela, onde vais?
        Tem pena de mim!

E o pálido mimo da minha paixão
Num longo soluço tremeu e parou,
Sentou-se na praia, sozinha no chão,
A mão regelada no colo pousou!
        Que tens, coração
        Que tremes assim?
        Cansaste, donzela?
        Tem pena de mim!

Deitou-se na areia que a vaga molhou.
Imóvel e branca na praia dormia;
Mas nem os seus olhos o sono fechou
E nem o seu colo de neve tremia...
        O seio gelou?...
        Não durmas assim!
        O pálida fria,
        Tem pena de mim!

Dormia: — na fronte que níveo suar...
Que mão regelada no lânguido peito...
Não era mais alvo seu leito do mar,
Não era mais frio seu gélido leito!
        Nem um ressonar...
        Não durmas assim...
        O pálida fria,
        Tem pena de mim!

Aqui no meu peito vem antes sonhar
Nos longos suspiros do meu coração:
Eu quero em meus lábios teu seio aquentar,
Teu colo, essas faces, e a gélida mão...
        Não durmas no mar!
        Não durmas assim.
        Estátua sem vida,
        Tem pena de mim!

E a vaga crescia seu corpo banhando,
As cândidas formas movendo de leve!
E eu vi-a suave nas águas boiando
Com soltos cabelos nas roupas de neve!
        Nas vagas sonhando
        Não durmas assim...
        Donzela, onde vais?
        Tem pena de mim!

E a imagem da virgem nas águas do mar
Brilhava tão branca no límpido véu...
Nem mais transparente luzia o luar
No ambiente sem nuvens da noite do céu!
        Nas águas do mar
        Não durmas assim...
        Não morras, donzela,
        Espera por mim!

AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. São Paulo: Klick, 1999.

Fonte: Livro – Viva Português 2° – Ensino médio – Língua portuguesa – 1ª edição 1ª impressão – São Paulo – 2011. Ed. Ática. p. 89-92.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Devanear: sonhar, fantasiar.

·        Escuma: espuma.

·        Fronte: a face, o rosto de uma pessoa.

·        Gaza: gaze, tecido leve e transparente.

·        Gélido: gelado.

·        Níveo: relativo a neve; que tem cor de neve, muito branco.

·        Regelado: congelado, gelado.

·        Ressonar: respirar durante o sono.

·        Vaga: onda.

02 – Releia a primeira estrofe do poema e faça o que se pede:

a)   Descreva o ambiente onde se encontra o eu lírico. Que palavras ou expressões são usadas para compor esse ambiente?

O eu lírico encontra-se numa praia deserta iluminada apenas pela luz da lua. Palavras: praia deserta, lua branqueia, na areia.

b)   Descreva a pessoa que ele avista. Quais palavras ou expressões são usadas para apresenta-la?

Segundo o eu lírico, é uma jovem muito bonita e pálida. Palavras: mimo, rosa, filha de Deus, tão pálida, donzela.

c)   Descreva a sensação provocada no eu lírico por essa pessoa. Que palavras ou expressões revelam esse sentimento?

A visão da jovem faz o eu lírico fantasiar, sonhar, mas ele sufoca a manifestação de sua emoção; “ao vê-la meu ser devaneia”, “sufoco nos lábios os hálitos meus!”, “tem pena de mim!”.

03 – O que a donzela está fazendo, quando o eu lírico a vê na praia? Entre a primeira a última estrofe, que mudanças acontecem com ela?

      Quando o eu lírico a vê, a donzela está correndo. Nas estrofes seguintes, percebemos que ela continua correndo, aproxima-se do mar, tropeça, ainda corre, para, senta-se no chão, deita-se imóvel e morre, seu corpo boia suavemente.

04 – Qual é a reação do eu lírico diante do que vê acontecer com a donzela: ele intervém ou mantém-se como espectador?

      O eu lírico, ao longo do poema, apenas lamenta a aparente “fuga” da jovem, como espectador.

05 – Do ponto de vista das características da segunda geração da poesia romântica brasileira, o que você entende dos versos: “Não morras, donzela, / espera por mim!”?

      Esses versos podem ser compreendidos como um pedido do eu lírico para que a jovem não morra antes de conhece-lo e de saber de seu amor ou para que aguarde ainda um momento antes de morrer, porque ele pretende juntar-se a ela na morte.

06 – Releia a penúltima estrofe e responda às questões:

a)   Observe a pontuação no interior dos versos. Ela proporciona uma leitura entrecortada ou fluida? Justifique sua resposta.

A ausência de pontuação no interior dos versos torna-os fluidos.

b)   Releia a penúltima estrofe em voz alta, percebendo a presença de vogais nasais (por exemplo, em banhando, cândidas, donzelas, mim, etc.), das consoantes m, n, s e das rimas em –ando e –eve. Depois escreva no caderno qual das alternativas abaixo apresenta algo que é descrito na estrofe e reiterado pela sonoridade e pela fluidez dos versos.

   O desespero do eu lírico diante da mulher amada morta.

·        O furor das ondas que quebravam na praia arrastando sem piedade a donzela ao mar.

·        O movimento suave das ondas envolvendo o corpo morto da donzela.

·        O cansaço da donzela depois de ter corrido por toda a praia.