Mostrando postagens com marcador JOÃO CABRAL DE MELO NETO. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador JOÃO CABRAL DE MELO NETO. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 3 de julho de 2025

POESIA: TUA SEDUÇÃO É MENOS DE MULHER DO QUE...- JOÃO CABRAL DE MELO NETO - COM GABARITO

 Poesia: Tua sedução é menos de mulher do que...

            João Cabral de Melo Neto

Tua sedução é menos
de mulher do que de casa:
pois vem de como é por dentro
ou por detrás da fachada.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPHXA8lNTvvnqdMnV2nNPkRARNjHAx5A2Pb7xpMgHdoLGKP7xWcUnfP7gpi94oWG9bOiIt5PJ_sGmGzL5RZMAEbodaVZEysO5nbzx8Mjr3XEA80F_aHnjasvz1ZW65A3IBGwBvHJw0rIMRg7q5biqaZAAvieANitvuT9sIvKs5e5PQZl0RfqSP-9d1dEo/s320/SEDUCAAO.jpg



Mesmo quando ela possui
tua plácida elegância,
esse teu reboco claro,
riso franco de varandas,

uma casa não é nunca
só para ser contemplada;
melhor: somente por dentro
é possível contemplá-la.

Seduz pelo que é dentro,
ou será, quando se abra;
pelo que pode ser dentro
de suas paredes fechadas;

pelo que dentro fizeram
com seus vazios, com o nada;
pelos espaços de dentro,
não pelo que dentro guarda;

pelos espaços de dentro:
seus recintos, suas áreas,
organizando-se dentro
em corredores e salas,

os quais sugerindo ao homem
estâncias aconchegadas,
paredes bem revestidas
ou recessos bons de cavas,

exercem sobre esse homem
efeito igual ao que causas:
a vontade de corrê-la
por dentro, de visitá-la.

João Cabral de Melo Neto. Poesias completas. 3. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979. p. 153.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 343.

Entendendo a poesia:

01 – Qual a comparação inusitada que o poema estabelece para descrever a sedução?

      O poema compara a sedução da pessoa amada não tanto à de uma mulher, mas sim à de uma casa, explorando as similaridades entre ambas.

02 – De que forma a sedução, tanto da mulher quanto da casa, é descrita como vinda do "interior" e não da "fachada"?

      O poema sugere que a verdadeira sedução vem do que a casa "é por dentro" ou "por detrás da fachada", e do que "pode ser dentro de suas paredes fechadas", assim como a sedução da mulher não se limita à sua aparência externa ("reboco claro", "riso franco de varandas").

03 – Por que, segundo o poema, uma casa não deve ser "só para ser contemplada" de fora?

      O poema afirma que "somente por dentro é possível contemplá-la", ou seja, a verdadeira essência e o que há de mais sedutor em uma casa (e na mulher) só podem ser conhecidos e apreciados ao se explorar seu interior.

04 – Quais elementos internos de uma casa são utilizados para ilustrar essa sedução no poema?

      São usados elementos como os vazios, o nada, os espaços de dentro (recintos, áreas), e como eles se organizam em corredores e salas, sugerindo estâncias aconchegadas e recessos.

05 – O que significa a frase "pelo que dentro fizeram / com seus vazios, com o nada" no contexto da sedução da casa?

      Essa frase sugere que a sedução não está apenas no que a casa contém materialmente, mas na maneira como seus espaços foram concebidos e moldados, preenchendo o vazio e o "nada" para criar um ambiente acolhedor e convidativo.

06 – Que "efeito" a casa (e, por extensão, a mulher) exerce sobre o homem, de acordo com o poema?

      O efeito exercido é a "vontade de corrê-la / por dentro, de visitá-la", indicando o desejo de explorar, conhecer intimamente e se aprofundar na essência do que seduz.

07 – Qual a principal ideia que João Cabral de Melo Neto explora ao comparar a sedução feminina à de uma casa?

      A principal ideia é que a sedução autêntica reside na profundidade e no mistério do interior, seja de uma pessoa ou de um espaço. Não se trata de uma atração superficial, mas de um convite a explorar o que está além da superfície, o que é construído e organizado em seu âmago.

 

 

 

quarta-feira, 4 de junho de 2025

POEMA: O ENGENHEIRO - JOÃO CABRAL DE MELO NETO - COM GABARITO

 Poema: O engenheiro

             João Cabral de Melo Neto

A luz, o sol, o ar livre
envolvem o sonho do engenheiro.
O engenheiro sonha coisas claras:
superfícies, tênis, um copo de água.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiV-Q4htCeOjTFPvD-PeTVbd9tHS2P1w05pm2TThJ-W7bVdM0zt3ZzUUTUgrOwZbiXQV0qQTofp2T20fjKLqguiwTsn4prrgBNG4AdeKFeRlVm3Hd0RS9OFIYAIqjrQFH4gXjUyKboWHXFvreyNCIxy7u-n4TSwnVFNYdwEsCxz25Jax5LUBprmA0x5LAk/s320/praia-de-grumari-rio-de-janeiro-ao-ar-livre.jpg


O lápis, o esquadro, o papel;
o desenho, o projeto, o número:
o engenheiro pensa o mundo justo,
mundo que nenhum véu encobre.

(Em certas tardes nós subíamos
ao edifício. A cidade diária,
como um jornal que todos liam,
ganhava um pulmão de cimento e vidro).

A água, o vento, a claridade,
de um lado o rio, no alto as nuvens,
situavam na natureza o edifício
crescendo de suas forças simples.

João Cabral de Melo Neto. Poesia completas. 3. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979. p. 376.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 341.

Entendendo o poema:

01 – Quais são os elementos que inspiram o "sonho" e o "pensamento" do engenheiro, de acordo com o poema?

      Os elementos que inspiram o engenheiro são a luz, o sol, o ar livre, e objetos concretos e precisos como superfícies, tênis, um copo de água, lápis, esquadro, papel, desenho, projeto e número.

02 – Como o poema descreve o tipo de "mundo" que o engenheiro aspira construir?

      O engenheiro pensa em um "mundo justo", um mundo que "nenhum véu encobre", sugerindo algo transparente, lógico e sem ilusões ou enganos.

03 – Qual a relação entre o edifício em construção e a cidade, conforme a terceira estrofe?

      O edifício é comparado a um "pulmão de cimento e vidro" que a "cidade diária, como um jornal que todos liam, ganhava", indicando que a construção trazia vitalidade e uma nova dimensão à vida urbana.

04 – De que forma o poema situa o edifício em relação à natureza?

      O edifício é situado na natureza através de elementos como a água, o vento, a claridade, o rio e as nuvens, mostrando que ele cresce a partir e em harmonia com as "suas forças simples".

05 – Qual a visão geral do poema sobre o papel do engenheiro e da engenharia?

      O poema apresenta uma visão do engenheiro como um sonhador e pensador prático, que busca construir um mundo claro e justo através de elementos concretos e da lógica. A engenharia é retratada como uma disciplina que se integra à natureza, transformando o ambiente e impulsionando o desenvolvimento urbano com precisão e transparência.

 

 

 

sexta-feira, 28 de março de 2025

POESIA: PARA MASCAR COM CHICLETS - (FRAGMENTO) - JOÃO CABRAL DE MELO NETO - COM GABARITO

 Poesia: Para Mascar Com Chiclets – Fragmento

            João Cabral de Melo Neto

Quem subiu, no novelo do chiclets,

ao fim do fio, ou do desgastamento,

sem poder não sacudir fora, antes,

a borracha infensa e imune ao tempo;

imune ao tempo ou o tempo em coisa,

em pessoa, encarnado nessa borracha,

de tal maneira, e conforme ao tempo,

o chiclets ora se contrai, ora se dilata,

e consubstante ao tempo, se rompe,

interrompe, embora logo se remende,

e fique a romper-se, a remendar-se,

sem usura nem fim, do fio de sempre.

No entanto quem, e saberente que ele

não encarna o tempo em sua borracha,

quem já ficou num primeiro chiclets,

sem reincidir nessa coisa (ou nada).

[...]

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2M6bpVG4Q1fDyO_Z2_S2O8_NBf5rZkmRNhlpKV8dNqMB7X2Yo9uYGYkWcHgTixr5UKz_gIaSWYUk4sckvUNd6kLnxZB5JpTe7C1QXJxrO1FR8lydEkf3nbnxuBIvSmSU4rbIz2hfWFsvbH3cju7SBzcOY5mgE4XNAQ_VmLambljl6HLW27jzz3Tf8wKA/s320/CHICLETS.jpeg


Melo neto, João Cabral de. Obra completa. Rio de Janeiro, Aguilar, 1994.

Fonte: Português. Série novo ensino médio. Volume único. Faraco & Moura – 1ª edição – 4ª impressão. Editora Ática – 2000. São Paulo. p. 403.

Entendendo a poesia:

01 – Qual a metáfora central do poema?

      A metáfora central do poema é a do chiclete como representação do tempo e da experiência humana. O chiclete, com sua capacidade de se esticar, romper e remendar, simboliza a natureza efêmera e contínua do tempo.

02 – Como o tempo é personificado no poema?

      O tempo é personificado na borracha do chiclete, que se contrai, dilata, rompe e remenda, refletindo a natureza mutável e cíclica do tempo.

03 – Qual a reflexão sobre a experiência humana presente no poema?

      O poema reflete sobre a tendência humana de repetir experiências, mesmo sabendo que elas não encarnam a essência do tempo. A pergunta "quem já ficou num primeiro chiclets, sem reincidir nessa coisa (ou nada)" sugere a dificuldade de romper com padrões repetitivos.

04 – Qual a visão do poeta sobre a natureza do tempo?

      O poeta apresenta uma visão do tempo como algo que está em constante movimento, transformação e renovação. O tempo é visto como uma força que molda a experiência humana, mas que não pode ser completamente compreendida ou controlada.

05 – Qual a importância da repetição no poema?

      A repetição de palavras e frases, como "imune ao tempo", "romper-se, a remendar-se" e "fio de sempre", enfatiza a natureza cíclica do tempo e a persistência da experiência humana. A repetição também cria um ritmo que imita o movimento contínuo do chiclete e do tempo.

 

domingo, 23 de março de 2025

POEMA: FÁBULA DE UM ARQUITETO - JOÃO CABRAL DE MELO NETO - COM GABARITO

 Poema: Fábula de um Arquiteto

             João Cabral de Melo Neto

A arquitetura como construir portas,
de abrir; ou como construir o aberto;
construir, não como ilhar e prender,
nem construir como fechar secretos;
construir portas abertas, em portas;
casas exclusivamente portas e teto.
O arquiteto: o que abre para o homem
(tudo se sanearia desde casas abertas)
portas por-onde, jamais portas-contra;
por onde, livres: ar luz razão certa.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqt6LhYMEA6jUrnC4u2V2kVnctg3i1a5GpQ4-j6vy4OI4tfEwEh2I_0KaP7xpdeoyVpQy4DQOrijx1d5f-vEf3kIz-PyfqR5KRAZTA3xfqRVayPBmmut_6_89g5bIvscbCr_a4vmUbO_Siav6lwfxb5GK1t1vrfDr_mxiKIcQ0FSDUab0zZsq3CJbqInI/s320/O-que-faz-um-arquiteto.jpg



Até que, tantos livres o amedrontando,
renegou dar a viver no claro e aberto.
Onde vãos de abrir, ele foi amurando
opacos de fechar; onde vidro, concreto;
até refechar o homem: na capela útero,
com confortos de matriz, outra vez feto.

João Cabral de Melo Neto. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. p. 345-346.

Fonte: Lições de texto. Leitura e redação. José Luiz Fiorin / Francisco Platão Savioli. Editora Ática – 4ª edição – 3ª impressão – 2001 – São Paulo. p. 362.

Entendendo o poema:

01 – Qual a metáfora central do poema e o que ela representa?

      A metáfora central é a da arquitetura como construção de "portas", representando a criação de espaços de abertura, liberdade e comunicação entre os homens. O poema contrasta essa visão com a arquitetura de "muros", que simboliza o isolamento e a opressão.

02 – Como o poema descreve a mudança na visão do arquiteto?

      Inicialmente, o arquiteto é idealista, buscando criar espaços que promovam a liberdade e a razão. No entanto, ele se torna amedrontado pela própria liberdade que criou e passa a construir espaços fechados e opressivos, revertendo ao isolamento.

03 – Qual a crítica social presente no poema?

      O poema critica a tendência humana de buscar segurança e controle, mesmo que isso signifique sacrificar a liberdade e a comunicação. Ele aborda a relação entre poder e espaço, mostrando como a arquitetura pode ser usada para oprimir ou libertar.

04 – Qual a importância da linguagem concreta e precisa no poema?

      João Cabral de Melo Neto utiliza uma linguagem precisa e objetiva, com termos técnicos de arquitetura, para construir a metáfora e transmitir sua mensagem de forma clara e concisa. Essa escolha estilística reforça a ideia de que a poesia pode ser construída com a mesma precisão de uma obra arquitetônica.

05 – Qual a interpretação possível para o final do poema, com a imagem do homem como "feto" em uma "capela útero"?

      O final do poema sugere um retorno ao estado de dependência e segurança, onde o homem se refugia em um espaço fechado e controlado, abdicando da liberdade e da autonomia. Essa imagem pode representar a busca por conforto e proteção, mesmo que isso signifique abrir mão da individualidade.

 

 

terça-feira, 18 de março de 2025

POEMA: ALGUNS TOUREIROS - JOÃO CABRAL DE MELO NETO - COM GABARITO

 Poema: Alguns Toureiros

             João Cabral de Melo Neto

Eu vi Manolo Gonzáles
e Pepe Luís, de Sevilha:
precisão doce de flor,
graciosa, porém precisa.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7hfhPqUJycHaEit95DJHWlqlNBkJFlBWQCURmXxaKo1m0eWjiAc751kbjLL4JSglj6pDZA8X9oN8hb5XGfNrmxueAQ2mJShqQcnkxPbWoz7-_5cvGmI65u8GHh7z1AyCD4sRuQaHShwn2MyPZdf5XRI-VX-Usz_02rvXu-88xL5wiiRDlcRJLBS2c_40/s320/Aparicio+firma.Torrestrella.jpg



Vi também Julio Aparício,
de Madrid, como Parrita:
ciência fácil de flor,
espontânea, porém estrita.

Vi Miguel Báez, Litri,
dos confins da Andaluzia,
que cultiva uma outra flor:
angustiosa de explosiva.

E também Antonio Ordóñez,
que cultiva flor antiga:
perfume de renda velha,
de flor em livro dormida.

Mas eu vi Manuel Rodríguez,
Manolete, o mais deserto,
o toureiro mais agudo,
mais mineral e desperto,

o de nervos de madeira,
de punhos secos de fibra
o da figura de lenha
lenha seca de caatinga,

o que melhor calculava
o fluido aceiro da vida,
o que com mais precisão
roçava a morte em sua fímbria,

o que à tragédia deu número,
à vertigem, geometria
decimais à emoção
e ao susto, peso e medida,

sim, eu vi Manuel Rodríguez,
Manolete, o mais asceta,
não só cultivar sua flor
mas demonstrar aos poetas:

como domar a explosão
com mão serena e contida,
sem deixar que se derrame
a flor que traz escondida,

e como, então, trabalhá-la
com mão certa, pouca e extrema:
sem perfumar sua flor,
sem poetizar seu poema.

João Cabral de Melo Neto. Antologia poética. 7. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1989. p. 156.

Fonte: Lições de texto. Leitura e redação. José Luiz Fiorin / Francisco Platão Savioli. Editora Ática – 4ª edição – 3ª impressão – 2001 – São Paulo. p. 126-127.

Entendendo o poema:

01 – Qual é a temática central do poema?

      O poema explora a arte da tourada, contrastando diferentes estilos de toureiros e destacando a figura de Manolete como um exemplo de precisão e controle.

02 – Como o poeta descreve Manolete em comparação com os outros toureiros?

      Manolete é descrito como o mais "deserto", "agudo", "mineral" e "desperto", com "nervos de madeira" e "punhos secos de fibra". Ele é retratado como um toureiro que domina a arte com precisão e controle, aproximando-se da morte com frieza calculada. Os outros toureiros são descritos com a utilização de adjetivos como: doce, graciosa, fácil, espontânea, angustiosa e antiga.

03 – Qual a metáfora principal utilizada no poema?

      A metáfora central é a da "flor", que representa a arte da tourada e a habilidade de cada toureiro em lidar com o perigo e a emoção. Cada toureiro cultiva sua flor de uma forma diferente.

04 – O que significa a expressão "roçava a morte em sua fímbria"?

      Essa expressão significa que Manolete se aproximava da morte de forma precisa e calculada, como se estivesse tocando apenas a borda do perigo.

05 – Qual a relação entre a poesia e a tourada no poema?

      O poema estabelece um paralelo entre a arte da tourada e a arte da poesia, mostrando como ambas exigem controle, precisão e a capacidade de dominar a emoção. Manolete é apresentado como um exemplo para os poetas de como trabalhar a "flor" (a poesia) com "mão certa, pouca e extrema".

06 – Como o poema descreve a arte de Manolete?

      O poema descreve a arte de Manolete como algo que "dá número à tragédia" e "geometria à vertigem", sugerindo uma abordagem precisa e calculada da tourada.

07 – O que o poema revela sobre a visão de João Cabral de Melo Neto sobre a arte?

      O poema revela a visão de João Cabral de Melo Neto sobre a arte como algo que exige controle, precisão e a capacidade de dominar a emoção. Ele valoriza a objetividade e a contenção, em contraste com a expressão excessiva de sentimentos.

 

 

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

POESIA: A LIÇÃO DE POESIA - JOÃO CABRAL DE MELO NETO - COM GABARITO

 Poesia: A Lição de Poesia

             João Cabral de Melo Neto

1.

Toda a manhã consumida
como um sol imóvel
diante da folha em branco:
princípio do mundo, lua nova.

Já não pude desenhar
uma linha;
um nome, sequer uma flor
desabrochava no verão da mesa:

nem no meio-dia iluminado,
cada dia comprado,
do papel, que pode aceitar,
contudo, qualquer mundo.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJ0-FBAUNHSPZPs2j9KYfnhcXiEUXNXNLpZ5ZW3vovWpUmeqWwQKkxzpEWIfzAl3qcQ4CQrivQTkbxhOBmZPDBh2VDwUaPQHczlSUzpb6j9wH4EoNnYdSKwX6RBz9eSysetrhyphenhyphenARhsqRMc_C5WntbDwQKNv5Tj2vl9bL7RaXaaAWrjEYFm7lvIp-lw8kE/s320/POESIA.jpg


2.

A noite inteira o poeta
em sua mesa, tentando
salvar da morte os monstros
germinados em seu tinteiro.

Monstros, bichos, fantasmas
de palavras, circulando,
urinando sobre o papel,
sujando-o com seu carvão.

Carvão de lápis, carvão
da ideia fixa, carvão
da emoção extinta, carvão
consumido nos sonhos.

3.

A luta branca sobre o papel
que o poeta evita,
luta branca onde corre o sangue
de suas veias de água salgada.

A física do susto percebido
entre os gestos diários;
susto das coisas jamais pousadas
porém imóveis — naturezas vivas.

E as vinte palavras recolhidas
nas águas salgadas do poeta
e de que se servirá o poeta
em sua máquina útil.

Vinte palavras sempre as mesmas
de que conhece o funcionamento,
a evaporação, a densidade
menor que a do ar.

In: MELO NETO, João Cabral de. Obra completa: Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. p.78-79.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 106-107.

Entendendo a poesia:

01 – O que representa a "folha em branco" para o poeta?

      A folha em branco simboliza o início da criação poética, um espaço vazio e puro onde o poeta pode construir um novo mundo a partir das palavras. É um momento de grande potencialidade e, ao mesmo tempo, de grande desafio, pois exige que o poeta dê forma ao caos das ideias e emoções. A luta contra a criação está justamente nesse ato de dar forma ao indefinido, de transformar o nada em algo concreto.

02 – Qual a importância dos "monstros" que habitam o tinteiro do poeta?

      Os "monstros" representam a força bruta e caótica da inspiração, as ideias que surgem de forma desordenada e muitas vezes assustadora. Eles simbolizam a parte mais instintiva e selvagem da criação poética, que precisa ser domesticada pela técnica e pela razão. Ao tentar dar forma a esses monstros, o poeta revela a complexidade do processo criativo, que envolve tanto a emoção quanto a razão.

03 – O que significa a "luta branca" sobre o papel?

      A "luta branca" simboliza a tensão entre a inspiração e a técnica, entre a emoção e a razão. É a batalha que o poeta trava consigo mesmo para transformar a ideia vaga em um poema acabado. Essa luta é essencial para a poesia, pois é através dela que o poeta molda a linguagem e encontra sua voz própria.

04 – Qual o papel das "vinte palavras" no poema?

      As "vinte palavras" representam as ferramentas básicas do poeta, o material bruto com o qual ele constrói seus versos. Elas simbolizam a economia e a precisão da linguagem poética de Cabral, que busca a máxima expressividade com o mínimo de palavras. Ao utilizar um número limitado de palavras, o poeta intensifica o significado de cada uma delas.

05 – Como o poeta concilia a ideia de "naturezas vivas" com a imagem de coisas "jamais pousadas"?

      A aparente contradição entre a vida e a imobilidade revela a complexidade da realidade e a capacidade da poesia de capturar essa complexidade. As "naturezas vivas" representam a dinâmica da criação poética, enquanto as coisas "jamais pousadas" simbolizam a fixidez da linguagem escrita. Ao mesmo tempo, a poesia é capaz de dar vida às palavras, tornando-as imortais.

06 – Qual a relação entre a "física do susto" e a criação poética?

      O susto é um elemento fundamental da experiência poética, pois nos desperta para a realidade e nos obriga a olhar para o mundo de uma nova perspectiva. A "física do susto" revela a força da linguagem poética, capaz de provocar reações emocionais intensas no leitor.

07 – Qual a importância da imagem da "máquina útil" para entender o processo criativo do poeta?

      A "máquina útil" representa a técnica poética, a habilidade do poeta em dominar a linguagem e transformar suas emoções em versos. A poesia não é apenas uma questão de inspiração, mas também de trabalho e de técnica. A imagem da máquina enfatiza a importância do ofício do poeta.

 

segunda-feira, 7 de outubro de 2024

POEMA: MORTE E VIDA SEVERINA - FRAGMENTO - JOÃO CABRAL DE MELLO NETO - COM GABARITO

 Poema: Morte e vida Severina – Fragmento

             João Cabral de Mello Neto

-- Essa cova em que estás,

com palmos medida,

é a conta menor

que tiraste em vida.

-- E de bom tamanho,

nem largo nem fundo,

é a parte que te cabe

deste latifúndio.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6ZXMXeElzt14Em6MD3GV7-VdwnrFwh7Ng47Cf41l-Wj7EL2tEJsGLffKT7oHZ0mGDbLyOajnaOtprmjAw5dXIaXqxAElyKtK_XSw39EZuY08mfbwjjDKTN7qOhVRWAFJiStOoQ-JblhtnQJuJhpmb4x0H16RYs0Xgqce6L_9zSa87PXUsUulQfoKRw2w/s320/MORTEEVIDA-capaBLOG.jpeg


-- Não é cova grande,

é cova medida,

é a terra que querias

ver dividida.

-- É uma cova grande

para teu pouco defunto,

mas estarás mais ancho

que estavas no mundo.

[...]

MELO NETO, João Cabral de. Morte e vida severina. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguiar, 1994. p. 183-184. (fragmento).

Fonte: livro Língua e Literatura – Faraco & Moura – vol. 3 – 2º grau – Edição reformulada 9ª edição – Editora Ática – São Paulo – SP. p. 275.

Entendendo o poema:

01 – Qual a principal metáfora presente nesses versos e o que ela representa?

      A principal metáfora é a comparação da cova com um latifúndio. A cova, que representa a morte e o sepultamento, é comparada a uma pequena parcela de terra, simbolizando a injusta distribuição de terras no Nordeste brasileiro e a vida dura e curta dos retirantes. A cova medida, portanto, representa a porção de vida que cada indivíduo recebe, limitada pela miséria e pelas condições sociais.

02 – Qual a crítica social presente nesses versos?

      O fragmento critica fortemente a desigualdade social e a concentração de terras no Nordeste. A cova "medida" para cada indivíduo, enquanto os latifundiários possuem extensas propriedades, evidencia a injustiça e a exploração dos mais pobres. A obra denuncia as condições de vida precárias dos retirantes, que veem a morte como uma libertação da miséria.

03 – Qual o sentimento predominante nos versos?

      O sentimento predominante é a tristeza e a resignação. A morte é vista como uma inevitabilidade, e a cova medida representa a aceitação de um destino cruel. Há também uma crítica à sociedade injusta, que condena os mais pobres à miséria e à morte prematura.

04 – Qual a relação entre a dimensão da cova e a condição social do defunto?

      A dimensão da cova é inversamente proporcional à condição social do defunto. A cova "medida" e "de bom tamanho" para o pobre contrasta com a imensidão dos latifúndios dos poderosos. A cova pequena simboliza a vida curta e limitada do retirante, enquanto a terra extensa representa a riqueza e o poder dos latifundiários.

05 – Qual o significado da expressão "estarás mais ancho que estavas no mundo"?

      Essa expressão pode ter duas interpretações:

      Literal: Na cova, o corpo do defunto estará mais estendido e menos limitado pelos movimentos do dia a dia, representando uma libertação física.

      Figurado: A expressão pode sugerir que, na morte, o retirante terá mais espaço e liberdade do que tinha em vida, livre das opressões e das dificuldades que enfrentava. No entanto, essa liberdade é irônica, pois se trata da liberdade da morte.

 

 

POEMA: O LUTO NO SERTÃO: JOÃO CABRAL DE MELLO NETO - COM GABARITO

 Poema: O luto no Sertão

             João Cabral de Mello Neto

Pelo Sertão não se tem como
não se viver sempre enlutado;
lá o luto não é de vestir,
é de nascer, com luto nato.

 



Sobe de dentro, tinge a pele
de um fosco fulo: é quase raça;
luto levado toda a vida
e que a vida empoeira e desgasta.

E mesmo o urubu que ali exerce,
negro tão puro noutras praças,
quando no Sertão usa a batina
negra-fouveiro, pardavasca.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeAQ2nYFM7qyNlis2LHKipMan7zWmoi9w0WtYVft2FXBaK6Z6q5Eg3QuG_3VyMOBk-GQRV6ohUk57yfsJlRfxDZymnv997GWu5_mLWNUoRr3r436JHj7utN-L8iQV3XiwCDAmCvoV-Xt09OZe1TXzthzGJuvr047QfsrhDzwJjskAr_aL-Ov50eSeazRk/s320/SERTAO.jpg

Fonte: livro Língua e Literatura – Faraco & Moura – vol. 3 – 2º grau – Edição reformulada 9ª edição – Editora Ática – São Paulo – SP. p. 281.

Entendendo o poema:

01 – Qual a principal característica do luto no Sertão, segundo o poema?

      O luto no Sertão é apresentado como algo intrínseco à vida sertaneja, uma condição quase natural. Não se trata de um luto ocasional ou passageiro, mas sim de um estado permanente, "nato", que acompanha o sertanejo desde o nascimento.

02 – Como o luto se manifesta no corpo e na alma do sertanejo?

      O luto se manifesta de forma profunda e marcante no sertanejo. Ele "sobe de dentro", atingindo a alma e se exteriorizando através da pele, que adquire um tom "fosco fulo". Essa marca do luto é comparada a uma "raça", algo tão inerente ao sertanejo quanto sua própria identidade.

03 – Qual a relação entre o luto e a paisagem sertaneja?

      A paisagem sertaneja, com suas características áridas e inóspitas, serve como um pano de fundo para o luto. A natureza agreste e a constante luta pela sobrevivência intensificam a sensação de perda e sofrimento. O urubu, símbolo da morte, adquire um papel ainda mais sombrio no Sertão, reforçando a atmosfera de luto.

04 – Qual o significado da comparação entre o luto e uma "raça"?

      Ao comparar o luto a uma "raça", o poeta sugere que ele se tornou parte da identidade do sertanejo, algo tão fundamental quanto sua origem étnica. O luto é transmitido de geração em geração, moldando a visão de mundo e a forma de viver dos habitantes do Sertão.

05 – Qual a função do urubu na construção da imagem do luto no poema?

      O urubu, tradicionalmente associado à morte, desempenha um papel central na construção da imagem do luto no poema. A ave negra, que em outras regiões é vista como um símbolo da morte, adquire no Sertão uma conotação ainda mais sombria, reforçando a ideia de um luto constante e onipresente. A expressão "negra-fouveiro, pardavasca" intensifica a imagem do urubu como um ser sinistro e funéreo.

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

POEMA: AS NUVENS - JOÃO CABRAL DE MELLO NETO - COM GABARITO

Poema: As nuvens

             João Cabral de Mello Neto

As nuvens são cabelos
crescendo como rios;
são os gestos brancos
da cantora muda;

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZag0fK83dmP9Aqs3Sch6T-OenqHiGTZA6fRalVH8RTefca8RSyvDWzjvbz4-ty-JE3B7ioBYvAh6GWivnwtzIRjRoBtgX2SNEyqDHWcZ0tfdXcBbmdUw-1_E74xAPJpZCJTWjgeNBMqsk1EcxF0OuMC8TOQWEs-8Hb3hSxCEzlaRCKjn-kn_xc6NzFpc/s320/nuvem-exemplo-1024x575.jpg


são estátuas em voo
à beira de um mar;
a flora e a fauna leves
e países de vento;

são o olho pintado
escorrendo imóvel;
a mulher que se debruça
nas varandas do sono;

são a morte (a espera da)
atrás dos olhos fechados;
a medicina, branca!
nossos dias brancos.

 João Cabral de Melo Neto. Melhores poemas.

Fonte: livro Língua e Literatura – Faraco & Moura – vol. 3 – 2º grau – Edição reformulada 9ª edição – Editora Ática – São Paulo – SP. p. 282.

Entendendo o poema:

01 – Qual a principal metáfora utilizada por João Cabral para descrever as nuvens no poema?

      A principal metáfora utilizada por João Cabral é a comparação das nuvens com elementos diversos da natureza e da vida humana. Ele as descreve como cabelos, gestos, estátuas, flora, fauna, olhos pintados, mulheres, morte e até mesmo a medicina. Essa variedade de comparações cria uma imagem rica e complexa das nuvens, explorando suas diversas formas e significados.

02 – Que sentimentos ou sensações o poema evoca em relação às nuvens?

      O poema evoca uma ampla gama de sentimentos e sensações em relação às nuvens. Há um senso de movimento e transformação constante nas comparações com rios, gestos e estátuas em voo. As nuvens são vistas como algo leve, fluido e etéreo, mas também podem representar a imensidão e a profundidade da natureza. A última estrofe, com a referência à morte e aos "dias brancos", introduz um tom mais melancólico e reflexivo.

03 – Qual o significado da expressão "cantora muda" utilizada para descrever as nuvens?

      A expressão "cantora muda" é uma metáfora que sugere a beleza e a expressividade das nuvens, mesmo na ausência de som. As nuvens são comparadas a uma cantora que, embora não emita voz, comunica emoções e sensações através de seus gestos. Essa imagem contraditória revela a capacidade da poesia de dar voz ao que é silencioso e intangível.

04 – Qual a importância da repetição da cor branca no poema?

      A repetição da cor branca enfatiza a pureza, a leveza e a intangibilidade das nuvens. O branco é uma cor associada à paz, à calma e à espiritualidade. Ao longo do poema, essa cor adquire diferentes significados, desde a beleza da natureza até a iminência da morte. A repetição do branco cria uma atmosfera onírica e contemplativa.

05 – Qual a relação entre as nuvens e a condição humana, segundo o poema?

      O poema estabelece uma profunda relação entre as nuvens e a condição humana. As nuvens são vistas como um reflexo dos nossos sentimentos, pensamentos e experiências. Elas podem representar a nossa alma, os nossos sonhos, as nossas angústias e a nossa finitude. Ao observar as nuvens, o poeta nos convida a refletir sobre a nossa própria existência e sobre o nosso lugar no mundo.

 

 


 

domingo, 29 de outubro de 2023

POEMA: A EDUCAÇÃO PELA PEDRA - JOÃO CABRAL DE MELO NETO - COM GABARITO

 Poema: A educação pela pedra

              João Cabral de Melo Neto

Uma educação pela pedra: por lições;
para aprender da pedra, frequentá-la;
captar sua voz inenfática, impessoal
(pela de dicção ela começa as aulas).
A lição de moral, sua resistência fria
ao que flui e a fluir, a ser maleada;
a de poética, sua carnadura concreta;
a de economia, seu adensar-se compacta:
lições da pedra (de fora para dentro,
cartilha muda), para quem soletrá-la.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcab5sRSJZGYLxVAQ2m8GCYyKsU7FRvojU-fS1ZEc0DOfllCi32pbbSnUrgLQdlNaujpnMRgi61-mQgURdK_Qmoh8nu49GEnwwxUwIhyphenhyphenV0mO3nBV2wKpcNiHKPneXchic8FdWUlCyQf9yqhIYe5bmR682CeV0ZcHQLwllBLExPrWGWQ9yAMIYPgiJOkZM/s320/educa%C3%A7%C3%A3o-aa.png 



Outra educação pela pedra: no Sertão
(de dentro para fora, e pré-didática).
No Sertão a pedra não sabe lecionar,
e se lecionasse, não ensinaria nada;
lá não se aprende a pedra: lá a pedra,
uma pedra de nascença, entranha a alma.

             Melo Neto, João Cabral de. A educação pela pedra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996. p. 21.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o tema principal do poema "A Educação pela Pedra"?

      O tema principal do poema é a pedra e as lições que ela pode ensinar.

02 – O que o poeta sugere ser a primeira lição que a pedra oferece?

      A primeira lição que a pedra oferece, de acordo com o poema, é uma lição de moral, mostrando sua resistência fria ao que flui e a fluir.

03 – Como o poeta descreve a pedra em relação à lição de poética?

      O poeta descreve a pedra como tendo uma "carnadura concreta" na lição de poética.

04 – Qual é o cenário onde a pedra não pode lecionar de acordo com o poema?

      A pedra não pode lecionar no Sertão, como mencionado no poema.

05 – Qual é a razão pela qual a pedra no Sertão não pode lecionar?

      No Sertão, a pedra não sabe lecionar e, mesmo que soubesse, o poema sugere que não ensinaria nada.

06 – Qual é a diferença entre as lições da pedra "de fora para dentro" e "de dentro para fora"?

      As lições "de fora para dentro" referem-se à pedra ensinando a quem a estuda de fora, enquanto as lições "de dentro para fora" se referem a como a pedra faz parte da alma das pessoas no Sertão, mesmo sem ensinar nada.

07 – Como o poema caracteriza a pedra em termos de comunicação?

      O poema caracteriza a voz da pedra como "inenfática" e "impessoal", sugerindo que a pedra tem uma comunicação não verbal e fria, como uma lição muda para aqueles que a estudam.

 



 

sábado, 14 de agosto de 2021

POEMA(FRAGMENTO): MORTE E VIDA SEVERINA - JOÃO CABRAL DE MELO NETO - COM GABARITO

 POEMA(FRAGMENTO): MORTE E VIDA SEVERINA

                                       João Cabral de Melo Neto

 

O retirante explica ao leitor quem é e a que vai

– O meu nome é Severino,

como não tenho outro de pia.

Como há muitos Severinos,

que é santo de romaria,

deram então de me chamar

Severino de Maria

como há muitos Severinos

com mães chamadas Maria,

fiquei sendo o da Maria

do finado Zacarias.

João Cabral de Melo Neto. Morte e vida severina. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2007.

 

Entendendo o texto

1.   De que se trata o poema?

Narra a trajetória de um migrante nordestino em busca de condições melhores de vida no litoral.

2.   No segundo verso, o poeta usa a expressão “de pia” para se referir a qual substantivo?

         Refere-se ao substantivo “nome”, oculto no segundo verso, porém apreensível pelo contexto.

3.   De acordo com o contexto, qual é efeito de sentido causado pelo uso dessa expressão em relação ao substantivo ao qual se refere?

         Essa expressão acrescenta uma característica ao substantivo “nome” e, no contexto, refere-se ao nome de batismo do eu lírico.

4.   Considerando a resposta dada em b, reescreva o segundo verso da estrofe substituindo a expressão por um adjetivo e por uma locução adjetiva de mesmo valor semântico:

         Resposta pessoal. Dentre as possibilidades, podem ser citadas: “como não tenho outro de batismo”, “como não tenho outro batismal”.