domingo, 19 de maio de 2019

POEMA: ANTÍFONA - CRUZ E SOUSA - COM QUESTÕES GABARITADAS

Poema: Antífona
           
  Cruz e Sousa

Ó Formas alvas, brancas, Formas claras
De luares, de neves, de neblinas! ...
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras...

Formas do Amor, constelarmente puras,
De Virgens e de Santas vaporosas...
Brilhos errantes, mádidas frescuras
E dolências de lírios e de rosas...

Indefiníveis músicas supremas,
Harmonias da Cor e do Perfume...
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,
Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...

Visões, salmos e cânticos serenos,
Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes...
Dormências de volúpicos venenos
Sutis e suaves, mórbidos, radiantes...

Infinitos espíritos dispersos,
Inefáveis, edênicos, aéreos,
Fecundai o Mistério destes versos
Com a chama ideal de todos os mistérios.

Do Sonho as mais azuis diafaneidades
Que fuljam, que na Estrofe se levantem
E as emoções, todas as castidades
Da alma do Verso, pelos versos cantem.

Que o pólen de ouro dos mais finos astros
Fecunde e inflame a rima clara e ardente...
Que brilhe a correção dos alabastros
Sonoramente, luminosamente.

Forças originais, essência, graça
De carnes de mulher, delicadezas...
Todo esse eflúvio que por ondas passa
Do Éter nas róseas e áureas correntezas...

Cristais diluídos de clarões álacres,
Desejos, vibrações, ânsias, alentos,
Fulvas vitórias, triunfamentos acres,
Os mais estranhos estremecimentos...

Flores negras do tédio e flores vagas
De amores vãos, tantálicos, doentios...
Fundas vermelhidões de velhas chagas
Em sangue, abertas, escorrendo em rios...

Tudo! vivo e nervoso e quente e forte,
Nos turbilhões quiméricos do Sonho,
Passe, cantando, ante o perfil medonho
E o tropel cabalístico da Morte...
                  In Andrade Muricy. Panorama do Simbolismo Brasileiro, vol. 1.
São Paulo, Perspectiva, 1987.
Entendendo o poema:

01 – Repare que o poema “Antífona” tem por tema o próprio processo de criação poética e utiliza-se de uma linguagem pouco convencional, com fortes traços simbolistas. Para reconhece-los, transcreva:
a)   O verso da 1ª estrofe que apresenta elementos litúrgicos, religiosos.
“Incensos dos turíbulos das aras...”

b)   Os adjetivos e os substantivos dessa estrofe que caracterizam as “Formas” invocadas pelo sujeito lírico, mostrando que se trata de realidades impalpáveis, transcendentais.
Os adjetivos são: alvas, brancas, claras, vagas, fluidas, cristalinas; e os substantivos: luares, neve, neblinas.

02 – Além de impalpáveis, transcendentais, as “formas” da poesia simbolista são sensoriais, isto é, apresentam elementos que pertencem ao universo dos sentidos – muitas vezes por meio de sinestesia.
a)   Transcreva os versos da 3ª estrofe em que ocorre sinestesia.
Os versos são “Indefiníveis músicas supremas, / Harmonias da Cor e do Perfume...”

b)   Que sentidos são evocados nesses versos?
Os sentidos são a audição, a visão e o olfato.

03 – As assonâncias (repetição de sons vocálicos) e as aliterações (repetição de sons consonantais) são alguns dos recursos que contribuem com uma das principais características simbolistas: a musicalidade. Por meio dela, reforça-se o tom misterioso e metafísico dessa poesia, que sugere em vez de descrever; simboliza em vez de nomear.
a)   Que estrofe coloca mais claramente o parentesco entre a poesia simbolista e as realidades ocultas, misteriosas, metafísicas, por meio da referência à poesia como mistério, e da invocação dos espíritos como modo de realiza-la?
A 5ª estrofe.

b)   Dê um exemplo de assonância e um exemplo de aliteração, presentes nessa estrofe.
Um exemplo de assonância presente na estrofe está na repetição das vogais i e e; um exemplo de aliteração encontra-se na repetição da consoante s.

04 – De o significado das palavras abaixo, se precisar utilize um dicionário.
·        Alabastro: entre os gregos antigos, pequeno vaso sem asas utilizado para queimar perfumes.

·        Eflúvio: emanação invisível que se desprende de um fluído; aroma, perfume.

·        Álacre: alegre, jovial.

·        Fulva: de cor amarelo-tostada; alourada.

·        Acre: amargo, áspero.

·        Tantálico: infernal.

·        Quimérico: fantástico.

·        Tropel: desordem, balbúrdia.

·        Cabalístico: secreto, misterioso, obscuro.


05 – A preferência pela indefinição e pela claridade são algumas das características da poesia simbolista. Transcreva das duas primeiras estrofes algumas palavras que comprovem esta afirmação.
      Claridade: alvas, brancas, claras, luares, neve, brilhos, constelarmente, etc. Indefinição: vagas, fluidas, cristalinas, vaporosas.

06 – Que palavras sugerem a atmosfera religiosa bastante comum nos poemas simbolistas?
      Antífona, incensos, turíbulos, aras, Virgens, Santas, Réquiem, salmos, cânticos, órgãos.

07 –A musicalidade também é outra preocupação dos simbolistas. Segundo o eu lírico, como deve ser a musicalidade do poema?
      Indefinível e suprema.

08 – O poema evoca vários elementos que deverão estar presentes na criação dos seus versos. Esses elementos, vagos, dispersos, místicos, luminosos e musicais, devem contribuir para uma poesia, objetiva ou misteriosa?
      Misteriosa, conforme a última estrofe.









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