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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

CRÔNICA: O VALOR DO VERDADEIRO E DO FALSO AMIGO - ILKA BRUNHILDE LAURITO - COM GABARITO

 CRÔNICA: O valor do verdadeiro e do falso amigo

                   Ilka Brunhilde Laurito

        Meus primos haviam ganho do pai um burrico muito engraçadinho, com o qual passeavam para baixo e para cima das ladeiras, fazendo inveja às outras crianças. Passear para baixo e para cima era fácil na Saracena, já que a aldeia, toda rodeada dos antigos muros das fortificações antigas, tinha uma parte alta, que terminava ao pé das montanhas e onde se viam ainda as ruínas do velho castelo dos príncipes que haviam sido os donos da terra em tempos passados.

        Um dia, meus primos me convidaram para passear de burrico com eles e com a prima Rina. Fiquei felicíssima e pedi licença para vovó Catarina, que me recomendou muito cuidado.

        Como era ainda pequena e não sabia montar sozinha, os primos me puseram na garupa, atrás de Rina. Nós duas começamos a andar gloriosamente ruma às ladeiras que iam das na estradinha que ficava fora dos muros da aldeia e se dirigia ao convento dos padres.

        Os meninos nos acompanhavam a pé, fazendo a maior algazarra e judiando do burrico, que chicoteavam sem a menor necessidade. Com justa razão, numa certa hora o bicho protestou, esperneando. E Rina caiu. Por milagre, que não sei explicar até hoje, fiquei agarrada ao lombo do animal como um carrapato. Para quê... Foi o bastante para que meus primos gritassem furiosamente comigo, acusando-me de ter empurrado Rina para baixo da garupa.

        Eu quis me defender, dizer que era tudo mentira e que, se fosse verdade, eu confessaria. Mas não adiantou nada. Eles não acreditaram em mim, me fizeram apear, berrando nos meus ouvidos como se também me chicoteassem:

        -- Foi você, Fortunatella! Foi você!

        Comecei a chorar, olhando para o burrico, que sacudia continuamente as orelhas, como se estivesse dizendo para os meninos, com pena de mim: “Não foi ela, não, fui eu...”.

        Mas meus primos nem deram atenção ao burrico. E, para se vingarem, resolveram impor-me um castigo:

        -- Para pagar a sua culpa, você tem de ir comprar um caderno no armazém do seu Alfonso.

        Embora não fosse culpada, achei o castigo fácil, e resolvi obedecer para continuar a brincar de montaria. Meus primos me deram uma moedinha, e eu fui, sem desconfiar de nada.

        Entrei no armazém e disse:

        -- Seu Alfonso, eu quero um caderno bem bonito.

        E estendi a moeda. O velho Alfonso, muito desconfiado, porque minha avó nunca me mandava fazer compras, pegou a moeda, virou-a e revirou-a na palma da mão e sumiu nos fundos do armazém, sem dizer uma única palavra.

        “Vai ver ele está procurando o caderno mais bonito que tem”, pensei eu muito orgulhosa, achando que os primos iam ficar satisfeitos com meu serviço.

        E o burrico, meu amigo, muito mais ainda. Enquanto esperava, porém, ouvi um barulho muito forte lá dentro, assim como as batidas do ferreiro, que, todas as manhãs e todas as tardes, arrumava a ferradura dos cascos dos cavalos.

        A aldeia era como uma família só. E, naquele dia, acho que seu Alfonso, muito amigo do vovô Vincenzo, resolveu me dar uma lição. Quando voltou ao salão da frente do armazém, jogou a moeda em minha mão. Apanhei-a e soltei um grito de dor! Era uma placa de latão que, achatada pelas marteladas que levara, ardia como ferro em brasa. Na minha mão nascia uma bolha, enquanto eu, de rosto vermelho de espanto, ouvia seu Alfonso:

        -- Fortunatella, nunca mais engane ninguém, que é muito feio! Vou contar ao seu avô que você quis me passar a perna me dando uma moeda falsa...

        Saí chorando do armazém e fui ao encontro dos meus primos, que riam. Foi então que compreendi.

        Eles haviam se vingado de mim por causa do tombo da Rina. Ou teria sido por causa do ciúme e da inveja que sempre haviam sentido do amor que vovô Vincenzo e vovó Catarina me davam?... Só sei que, naquele momento, olhando para aquela latinha redonda e amassada, ali no chão, e olhando para o bicho pensativo, que olhava para mim com um ar que parecia de piedade, eu estava começando a compreender que não há moeda mais falsa no mundo do que uma falsa amizade.

      Nunca mais fui brincar com meus primos desleais. Pena foi ter perdido a companhia leal do burrico...

LAURITO, Ilka Brunhilde. A menina que fez a América. São Paulo: FTD, 1995. p. 43-6.

                   Fonte: Língua Portuguesa – Coleção Mais Cores – 5° ano – 1ª ed. Curitiba 2012 – Ed. Positivo p. 135-141.

Entendendo o texto:

01 – Quem narra essa história criada por Ilka Brunhilde Laurito?

        Fortunatella.

02 – Onde se passa essa história?

      Saracena.

03 – Fortunatella e seus primos saíram para passear de burrico.

a)   Que incidente aconteceu para que os primos ficassem tão furiosos?

Seus primos achavam que ela tinha derrubado a Rina do burrico.

b)   Qual foi a causa desse incidente?

Foi um protesto do burrico, que esperneando derrubou a Rina.

04 – Os primos de Fortunatella lhe impuseram um castigo.

a)   Qual foi esse castigo?

Que ela fosse ao armazém do seu Alfonso comprar um caderno.

b)   Por que Fortunatella recebeu tal castigo?

Porque todos achavam que tinha derrubado a Rina de propósito.

c)   Você acha que o castigo imposto a Fortunatella foi uma atitude justa? Por quê?

Não. Porque eles não tinham certeza de que foi Fortunatella que tinha empurrado a Rina.

d)   Como você agiria, se estivesse no lugar de Fortunatella?

Eu tentaria ao máximo fazer que eles acreditassem em mim.

05 – Leia o que seu Alfonso disse a Fortunatella.

        “-- Fortunatella, nunca mais engane ninguém, que é muito feio! Vou contar ao seu avô que você quis me passar a perna me dando uma moeda falsa...”.

a)   O que significa a expressão destacada acima?

Enganar, trapacear.

b)   Qual foi o motivo do choro de Fortunatella enquanto seu Alfonso falava com ela?

Que ela não tinha a intenção de enganar, mas foi enganada pelos primos.

06 – Observe as palavras destacadas nesta frases e depois resolva as questões.

        “— Seu Alfonso, eu quero um caderno bem bonito.”

        “Vou contar ao seu avô que você quis me passar a perna me dando uma moeda falsa...”

a)   O significado da palavra destacada é o mesmo nas duas frases? Justifique sua resposta.

Não. A palavra seu é uma forma de tratamento: Senhor. No segundo, a palavra indica posse, é um pronome possessivo.

b)   Agora, elabore duas frases usando a palavra seu, usando os significados descobertos por você.

- Olá Seu Lucas, como vai?

- Oi, seu carro é novo?

07 – Observe o uso de vírgula nas seguintes falas.

        “-- Foi você, Fortunatella! Foi você!”

        “-- Seu Alfonso, eu quero um caderno bem bonito.”

        “-- Fortunatella, nunca mais engane ninguém.”

a)   Com auxílio de seu professor, explique por que a vírgula foi usada nesses casos.

Para isolar o vocativo ou expressão usada para chamar alguém.

b)   Compare as falas a seguir.

“Quem é Francisco?

“Quem é, Francisco?

     O sentido das duas frases é o mesmo? Qual a diferença? Troque ideias com seu professor e colegas. Depois, registre nas linhas as conclusões a que vocês chegaram.

      Não. Na primeira fala está sendo feito uma pergunta, quem é a pessoa. E na segunda, pergunta a pessoa o que é.