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quarta-feira, 2 de abril de 2025

POEMA: NATURAL RETORNO - ULISSES TAVARES - COM GABARITO

 Poema: Natural retorno

             Ulisses Tavares

O passarinho que a poluição,

espantou sou eu que voa

para teus braços.

A água que a indústria sujou

sou eu que desemboca límpido

em sua barriga.

O mato que a cidade cortou

sou eu que cresce viçoso

em suas pernas.

O bicho que a civilização matou

sou eu que corre célere

para o seu corpo.

Nem tudo está perdido.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEijpFLERLdDwYjiHQ8Ikz5q780Q-TbxqR-gYqUlM67Ahd3XiO0foLY-99UQPg59KEFFEztPBGWE8vdg1QI77KcfIgx3jC3L_33uYsU0cvE3DAkJP5l3KEC62S5Qk6DZ-oiMiTpwOA9yckTlu4puUKB_Jwls29MFFQYnxgiUkclF0k1ZxInD3-cv-rSr02o/s320/saude-mental-natureza_1740848857646.jpg


Diário de uma paixão. São Paulo: Geração Editorial, 2003.

Fonte: Livro – Português: Linguagem, 8ª Série – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 4ª ed. – São Paulo: Atual Editora, 2006. p. 41.

Entendendo o poema:

01 – Qual a temática central do poema?

      O poema aborda a relação entre o ser humano e a natureza, destacando a capacidade de renovação e retorno à pureza original, mesmo após a degradação causada pela ação humana.

02 – Quais as metáforas utilizadas no poema para representar essa relação?

      O poema utiliza metáforas como "passarinho que a poluição espantou", "água que a indústria sujou", "mato que a cidade cortou" e "bicho que a civilização matou" para representar a natureza que retorna ao seu estado puro e encontra refúgio no corpo da amada.

03 – Qual o significado do verso "Nem tudo está perdido"?

      Esse verso transmite uma mensagem de esperança e otimismo, sugerindo que, apesar dos danos causados pela humanidade, a natureza possui uma força intrínseca de renovação e que ainda há possibilidade de reconexão com o meio ambiente.

04 – Como o poema utiliza a imagem do corpo da amada?

      O corpo da amada é utilizado como um refúgio para a natureza, um local onde ela pode se purificar e renascer, simbolizando a união entre o ser humano e o meio ambiente.

05 – Qual a mensagem final do poema em relação à natureza e à humanidade?

      O poema transmite uma mensagem de que a natureza possui uma capacidade de renovação e que, apesar dos danos causados pela humanidade, ainda há esperança de reconexão e harmonia entre ambos.

 

quinta-feira, 19 de outubro de 2023

ARTIGO DE OPINIÃO: SEXO, DINHEIRO E SUCESSO? SÓ LENDO! ULISSES TAVARES - COM GABARITO

 ARTIGO DE OPINIÃO: Sexo, dinheiro e sucesso? Só lendo!

            Ulisses Tavares – Em 17/07/2012

        Você é jovem? Mora no Brasil? Está lendo este artigo numa boa, sem soletrar palavra por palavra? Já leu mais de um livro inteirinho este ano? E, finalmente, entendeu tudo que estava escrito no livro? Respondeu sim a estas perguntinhas?

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiar6FIQw77Pg1aDBHGjRXSSwE4cRKkhRLUUz3k4l7h-v61SoB2H7zNqeJdfwFRbbkHNjz5Abwakm8KbYOgHWtF4NbhNrmWezs55foeYN4r3wYvc7RxB4ctTj1JWR4pH53qzherHFjA-Dx01WrE7CRn7WNsLE8SVx_bN6vBRexeZ-z5grxOs14KNTiAjiY/s1600/BRASIL.png


        Ufa! Que bom, parabéns, posso, então, ir direto ao ponto:
Primeiro, você faz parte de uma elite.

        Segundo, você está com a faca e o queijo para conquistar tudo que quiser na vida.

        Terceiro, você precisa ler mais, muito mais.

        Agora, antes que você pare de ler isto aqui por achar que estou gozando com sua cara, relaxe que eu explico.

        O Brasil faz parte de uma lista horrorosa dos 12 países com mais analfabetos entre os 14 e os 21 anos. Pior que nós, apenas Paquistão, Indonésia, Nigéria e Etiópia, que raramente aparecem em boas notícias nos jornais.

        Ah, você já sabia disto por que lê jornais também?

        Nesse caso, você é minoria super especial mesmo: apenas 1 entre 100 mil jovens brasileiros dão uma espiada em jornais regularmente.

        E o restante faz o que? Exatamente: assiste televisão (não o noticiário, claro), ouve rádio (só os programas com músicas e brincadeirinhas para idiotas) ou fica caçando mulher pelada na internet.

        Ainda está lendo este texto, e compreendendo tim-tim por tim-tim?

        Encha o peito de orgulho: você está fora de uma lista ainda mais nojenta que aquela lá de cima.

        A Unesco faz um teste que avalia alunos de 15 anos em 40 países sobre compreensão da linguagem escrita. Um teste mamata: ler uma historinha de poucas linhas e depois dizer o que entendeu.

        É bom lembrar que os testados têm no mínimo oito anos de bumbum na carteira da sala de aula.

        Na grande avaliação deste ano, adivinhe quem tirou o último lugar? Coisa chata mesmo, bró: o adolescente brasileiro ficou com o troféu do mais burro do mundo.

        Não disse que você era minoria das minorias?

        Mas, sem querer pentelhar e já pentelhando, como diria o intelectual Chavez da televisão: existem quilômetros de livros para você devorar depois que entrar na facú, se quiser continuar fora da manada e não levar uma vida de gado.

        Bastaria uma única providência: você não ser folgado lendo apenas trechinhos xerocados dos livros para passar nas provas. E seu professor tomar vergonha na cara e parar de fazer as famigeradas pastinhas para xerocar.

        Isso está mais em suas mãos do que nas das faculdades, afinal já existem mais faculdades que saúvas no Brasil e boa parte é caça-níqueis mesmo. Pense bem: já que são boas as chances de você sair com um canudo que o mercado de trabalho não respeita, que ao menos sua cabeça saia cheia da cultura maravilhosa dos livros.

        Uma última tarracada na molera: pesquisa recente indica que mais de 60% das professoras do ensino público, fundamental e médio, não possuem o hábito de ler jornais. Se alguém não se interessa nem por ler jornais, muito menos se ligará em um livro que, em geral, tem muito mais letrinhas impressas e exige mais raciocínio que a última notícia sobre a boazuda do bbb. Você acha que elas irão incentivar a leitura em seus alunos?

        Bem, o titio Ulisses já mordeu demais e agora assopra.

        Vou, em poucas linhas, provar que, lendo bastante, você poderá ter rapidamente as 3 coisas que em geral jovens saudáveis e antenados desejam. Preparado? Então raciocine junto comigo:

        SEXO!

        De maneira bem realista, se você é gêmeo do Gianechini, clone do Brad Pitt ou até mesmo um rústico Alexandre Frota, esqueça o que vou dizer. Cabeças de anta em corpos de cisnes conseguem sexo (ficar, namorar ou qualquer variante) sem precisar ler nem o Pato Donald. Idem para as garotas.

        Mas sem uma boa dose de criatividade, imaginação e informação não há cantada que resista. Seja ao vivo, nas baladas, ou nos chats. Aliás, escrever errado nos chats de paquera, ou na praga dos blogs (quem não tem um atualmente?), é pedir para ser deletado.

        E só quem lê muito desenvolve a criatividade, amplia a imaginação e fica bem informado.

        Quem só repete o que assistiu nas mesas redondas sobre futebol, nem bêbado de boteco aguenta.

        E uma cartinha bem escrita? Um poeminha inspirado e exclusivo para a musa ou muso, hem, hem? Deu certo com o Cyrano de Bergerac (personagem do Victor Hugo), e olha que ele certamente era mais feio, narigudo, desengonçado e tímido que você.

        Se sempre deu certo comigo também, que sou o próprio cão chupando manga, e ainda por cima velhinho e durango, imagine com você que é jovem e esperto.

        DINHEIRO!

        Adivinhei seu pensamento? Como é que você vai ler bastante para ganhar dinheiro no futuro, se lhe falta dinheiro para comprar livros no presente?

        Falso dilema. As bibliotecas estão em toda parte, e você vai ver que barato, literalmente, é ir à uma delas sem a obrigação de fazer pesquisa escolar.

        Faça pesquisa pessoal, isso sim é bom. Leia o que gosta, o que interessa, por prazer de adquirir conhecimentos.

        Ou vá pela Internet. A biblioteca do mundo está dentro dela, a um clique. E, para quem ainda não tem computador, a hora de web em cafés virtuais, por exemplo, custa menos que um cafezinho de coador.

        Vou te dar um estímulo e tanto para você incluir a leitura imediatamente em sua formação profissional: quem não passa nas entrevistas dinâmicas que as empresas realizam hoje em dia é quem não lê. Nenhum empregador é besta de contratar outra besta.

        E mais: você já assistiu algum daqueles programas O Aprendiz? Os selecionados para participar, todos, vieram de faculdades que receberam a triste nota F do Provão. Como é que eram tão competitivos, vindo de facús fundo de quintal? Porque eram moços e moças que sabiam falar bem, se expressar com clareza, e isso só se obtém lendo muito.

        Compare com os políticos, empresários, tesoureiros, que você também assistiu recentemente depondo nas Cpis do Congresso. Até os que tinham o título de professor tropeçavam nas frases, falavam errado pra caramba. Se não eram corruptos, ficou provado que não eram chegados na leitura e, quando professores, devem ter se formado num bordel, nunca numa escola decente.

        Mas e o Lula?

        É a exceção que confirma a regra. Ganhou prestígio, dinheiro, mas seus assessores ficam malucos porque ele se recusa a ler qualquer documento com mais de duas páginas.

        E, como ele mesmo tem afirmado, nunca sabe de nada.

        SUCESSO!

        Para ser bem sucedido, você não precisa, necessariamente, ter sexo, dinheiro e…sucesso em alta escala. Não precisa ser o número um, a vida real não é assim.

        Mas se você fizer a lição de casa direitinho, ou seja, lendo muito e lendo sempre estará sempre sendo muito bem sucedido.

        Nas empresas, as promoções vão para os que tomam mais iniciativas e teem uma visão macro (para o mercado) e micro (para a empresa), desde o office-boy ao gerente.

        Hoje não é só o diploma que conta pontos. Conta sua inteligência, sua cultura, sua versatilidade etc.

        Se você não é filho do dono da empresa nem nasceu com o rabo pra lua, os livros serão suas verdadeiras universidades e cursos de aprimoramento profissional.

        No dia a dia, os livros podem ajudar você a entender de culinária, de filhos e até de informática.

        Mesmo quando não ensina nada objetivamente, todo livro é um manual de autoajuda (ou você acha pouco espiar a alma feminina e a aflição masculina por dentro?).

        Recentemente, o Bill Gattes, sim, apenas o homem mais bem sucedido pelos padrões da sociedade materialista, deu uma palestra a jovens estudantes, de alguns minutos apenas, com um único conselho; “Respeite aquele CDF da escola, que vive com a cabeça enterrada nos livros. É certo que ele será seu patrão no futuro.”

        E o Dalai Lama, o homem mais bem sucedido pelos padrões da sociedade espiritualista, resume sua dica em “antes de ser seu próprio Mestre, ouça, leia os outros Mestres”.

        Sim, estude, estude sem preguiça. E estudar, meu bró, vem do latim e nada mais significa que ler.

 Ulisses Tavares é professor, escritor, dramaturgo, compositor, roteirista, poeta, publicitário, jornalista, treinador de executivos em criatividade, consultor de marketing e web business e, se não fosse um leitor voraz, seria apenas mais um zé mané. E-mail: uuti@terra.com.br

Entendendo o texto:

01 – Qual é o autor do texto?

      O autor do texto é Ulisses Tavares.

02 – Que tópicos o autor menciona no início do texto?

      O autor menciona tópicos como juventude, leitura, analfabetismo no Brasil e a falta de leitura entre os jovens.

03 – Qual é a mensagem principal do autor para os jovens leitores?

      A mensagem principal é que a leitura é fundamental para o sucesso na vida, e os jovens que leem estão em uma posição privilegiada.

04 – Segundo o autor, qual é a situação do Brasil em relação ao analfabetismo entre os jovens?

      O Brasil está entre os 12 países com mais analfabetos entre os jovens de 14 a 21 anos, com apenas alguns países ficando atrás.

05 – O autor menciona o papel dos jornais na leitura. O que ele diz sobre isso?

      O autor menciona que apenas 1 entre 100 mil jovens brasileiros lê jornais regularmente, destacando a falta de leitura entre os jovens.

06 – O que o autor sugere como alternativa à leitura de livros caros?

        O autor sugere a utilização de bibliotecas, a leitura de material disponível na internet e a frequência em cafés virtuais para acessar a informação, tornando a leitura acessível a todos.

07 – De acordo com o autor, por que a leitura é importante para o sucesso?

      O autor afirma que a leitura desenvolve a criatividade, a imaginação e a capacidade de se expressar com clareza, habilidades importantes para o sucesso na vida pessoal e profissional.

08 – O autor menciona a importância da leitura na busca por empregos. Por que ele faz essa conexão?

      Ele faz essa conexão porque empregadores valorizam candidatos que sabem se expressar bem, e a leitura é uma maneira de desenvolver essa habilidade.

09 – Qual é o conselho de Bill Gates que o autor menciona no texto?

      Bill Gates aconselha os jovens a respeitarem os estudiosos que passam muito tempo lendo, pois eles podem se tornar seus chefes no futuro.

10 – Qual é o conselho do Dalai Lama que o autor também menciona?

      O Dalai Lama aconselha a ouvir e ler os ensinamentos de outros mestres antes de se tornar seu próprio mestre, enfatizando a importância da aprendizagem contínua.

ARTIGO DE OPINIÃO: MUNDO SEM POESIA É IMUNDO - ULISSES TAVARES - COM GABARITO

 Artigo de opinião: Mundo sem poesia é imundo

                            Ulisses Tavares

        A realidade da vida, em si mesma, não se sustenta.

        O ser humano é mais que um organismo que precisa de comida, roupa, sono e ar.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi44BhnoRud0OICg45T8qlnCzuILOwcYnq6NQ1iqJVSt3PmLvYQviTxWawgqgj5CtVkfGvtojV7vm4ydEi7IWGFh57ol7lYcSk47F_vsbBXP_jLJlb505u9nUlv20ePSC7uQFQBsrJcN1C7_tIkR38AXNLKrrBkShBXk4DE4gzTC7DuZyroINXNrTXLrwk/s320/POESIA.jpg


        As pessoas são famintas de carinho, ficam frias sem o cobertor da esperança, não dormem direito apenas com os braços de travesseiros, e querem, sempre, voar nos pensamentos. Respirar não basta, não preenche. Queremos inspiração para criar, amar, repartir. Aspiramos ser um outro ser, o que não somos podemos imaginar.

        Nem o macaco no zoológico aguenta as limitações, por mais bem tratado que seja. Claro que ele trocaria de bom grado a sua jaula pela liberdade da floresta.

        Deixamos para amanhã a luz que poderíamos ter ainda hoje. Nos assusta a poesia que iluminaria o túnel escuro em que nos arrastamos.

        Nós, os macacos evoluídos, temos a dor e o prazer de querer romper limites. E procuramos desesperadamente achar a chave da gaiola da civilização.

        A chave está dentro da gente. Sabemos disso. Mas dá trabalho procurar com afinco. Dói nos conhecermos.

        Daí desistimos com facilidade.

        E preferimos ficar macaqueando a farsa que a realidade externa nos mostra como felicidade.

        Triste espelho distorcido esse do dia-a-dia em que nos miramos para ajeitar o sorriso no rosto enquanto a alma chora.

        E vamos dançar, vamos para a balada. A música é alta para atordoar, a bebida forte para alterar rápido, e os corpos se juntam hoje para se desjuntarem amanhã cedinho como copinhos descartáveis de café.

        Queremos amor, claro. Só queremos e não temos porque, como todos, não desenvolvemos a delicadeza da entrega, da generosidade, do gosto pelas diferenças, pelas descobertas lentas, cautelosas e profundas.

        Os poemas escancarados de amor, de paixão, de entrega, de renúncia ao seu próprio umbigo, vão rareando, encolhendo, sumindo.

        Poema de amor não enche barriga, dizemos. Nem ajuda a conquistar beltrana, a impressionar fulano.

        E seguimos assombrados e sozinhos e surpresos porque contas bancárias, academias de ginástica e carro novo, também não conseguem nos tirar de nossa solidão.

        Nos contentamos com prazer sexual sem nunca chegar ao orgasmo espiritual, cósmico, que um simples e poderoso verso proporciona.

        E assistimos o noticiário para que este nos confirme que a poesia é inútil.

        Claro que nenhum bandido gosta de poesia. O poema é o território do humano, do sensível, do compartilhar. Nada a ver com o território sangrento de sua violência.

        Poderosos também não são chegados. Poesias insistem, frequentemente, em lembrar que existe todo um povo em redor deles, com seus apelos e urgências. Então, a política fica sendo a chatice, o tédio, o exercício vazio da crueldade. Falta o sonho.

        Política sem sonho é apenas um discurso.

        Demoramos milênios para adquirir o dom da fala. Séculos para dominarmos a escrita.

        Aprendemos a registrar em letras aquilo que estava engasgado na garganta imaterial de nosso íntimo.

        Frase após frase, passamos pela vida a procurar uma resposta.

        E todas as respostas estão ali, na nossa frente. São muitas porque muitas são nossas perguntas.

        Mas uma dessas respostas foi feita para nós por um de nossos semelhantes. A mesma coisa que nos inquieta também afligiu algum poeta, em algum momento.

        Teremos a coragem de ouvir?

        Poesia não se destina a fracos. Antenados percebem que da fraqueza vem sua força.

        Onde quer que se vá, um poeta já se atreveu a passar por lá. Pelos céus e pelos infernos de todos nós.

        A tecnologia muda, os costumes mudam, mas o ser humano é o que sempre foi e será, nem muito melhor, nem muito pior que isso que está aí.

        Dia a dia rima com poesia sim. Você decide. Abra um livro de poesia já. Antes que seja tarde.

        Ulisses Tavares é, claro, poeta, mas não otário, mano.

        Coloque o farol na popa e vá em frente!

        Você é uma jangada. Frágil, qualquer onda mais forte balança e quase o afoga. Você é o condutor e o passageiro ao mesmo tempo, candidato ao naufrágio, lutando e rezando para voltar à praia.

        Um país é um barco. Grande, mas nem sempre bem construído. E muito menos bem conduzido. O povo é apenas marinheiro cumprindo ordens.

        A Terra é um navio. Imenso, farto, mas com os passageiros de primeira classe capazes de festejar e dançar enquanto ele afunda como um Titanic.

        Jangada, barco e navio navegam pelas mesmas águas turbulentas da História, numa viagem que começou bem antes e não se sabe onde irá parar.

        O futuro é uma incógnita, mas o passado é a bússola que pode nos indicar se estamos fora da melhor rota. Se pegamos o caminho errado.

        E isso faz toda diferença.

        Sua jangada, precária de corpo e alma, a qualquer momento será engolfada pela tormenta dos azares, do imprevisível. A felicidade é apenas um momento de calmaria entre horas de ventos cortantes.

        As milhas já navegadas, porém, ensinam a prevenir desastres anunciados.

        Olhe os que foram engolidos pelo Triângulo das Bermudas da existência humana: drogas, egoísmo, alienação.

        Sem cuidar do corpo, você será uma casca de noz boiando no mar. Sendo egoísta, virará um homem solitário mesmo se rodeado de gente. Comprará tudo, menos o incomparável: amor, admiração, amizade. E, se alienando, será plateia perpétua, nunca ator no palco da vida. Vota, mas não apita nada.

        Nosso barco País de vez em quando acerta o rumo do porto seguro. Mas, no mais das vezes, parece uma canoa furada onde impera o salve-se quem puder.

        Novamente colocar o farol na popa, a parte de trás, em vez da popa, a parte da frente, nos ajuda a iluminar o hoje e clarear o possível amanhã.

        O barco já começou a navegar errado, com uma elite ociosa e corrupta e sem nenhum apreço pela educação. São séculos de tirar riquezas e colocar pobrezas. Primeiro pelos portugueses, depois por nossa própria conta e escolha.

        Nosso navio Terra, por sua vez, recebe insultos e devolve flores há milênios.

        Mas está com seu casco avariado, sem combustível e superlotado. Sua única saída é sacudir-se e livrar-se da tripulação toda para continuar como no início dos tempos.

        A esperança é que jangada, barco e navio encontrem uma corrente marítima segura para continuarem navegando.

        Não temos como resolver com facilidade tão grave problema. Não dá para enfrentar a fúria de Netuno, o senhor dos mares, esquecendo de Juno, o deus do tempo.

        Juno, aquele de duas faces da mitologia, uma olhando para a frente, outra voltada para o que passou.

        A História, portanto o passado, é nosso manual prático de cabotagem.

        O ser humano tem sido guerreiro, escravagista, fanático religioso e prepotente em todos os quadrantes e latitudes.

        E sempre afundou sua jangada nas procelas da ambição.

        Os governantes tem sido ora populistas, ora mentirosos, ora oportunistas.

        E sempre afundaram o barco do povo em nome de seus mesquinhos interesses pessoais.

        A Terra foi loteada em fronteiras bem delimitadas e guardadas. E essas fronteiras tem sido a justificativa para extrair o máximo de cada metro quadrado sem pensar no vizinho.

        E, como a Terra é redonda, o navio de todos nós é o mesmo e afunda por inteiro.

        Portanto, o axioma está formado, a Esfinge pronta a nos devorar se não dermos a resposta correta.

        Sem conhecer o que já passamos, como iremos decidir onde será melhor passar?

        A História não é algo estático, parado no tempo.

        É um tsunami indo e vindo, se repetindo, como uma lição que ainda não aprendemos.

        Comecemos pela jangada, passemos para o barco e chegaremos ao navio.

        Sem ler História, de nossa vida, de nosso País, de nosso Planeta, estaremos perdidos.

        E iremos ao fundo, sem a mínima ideia de porque fomos parar lá.

        Ulisses Tavares é uma jangada com medo de ir à pique. Por isso se mira na História e tenta mudar o rumo do barco e do navio. Mas se sente um pouco sozinho nessa tarefa. Alguém aí disposto a ajudar? Cartas para a redação.

Entendendo o artigo de opinião:

01 – Qual é o título do artigo de opinião?

      O título do artigo é "Mundo sem poesia é imundo."

02 – Quem é o autor do artigo?

      O autor do artigo é Ulisses Tavares.

03 – Segundo o autor, o que as pessoas desejam além das necessidades básicas, como comida e sono?

      As pessoas desejam carinho, esperança, inspiração e a capacidade de criar, amar e compartilhar.

04 – O autor menciona a busca pela chave da gaiola da civilização. O que ele quer dizer com isso?

      O autor está se referindo à busca por uma maneira de escapar das limitações e restrições da vida moderna e da sociedade.

05 – Por que o autor acredita que a poesia é importante?

      O autor acredita que a poesia é importante porque ela é uma fonte de inspiração, expressão de sentimentos profundos e uma maneira de compartilhar o humano e o sensível.

06 – Como o autor descreve a política em relação à poesia?

      O autor descreve a política como "chatice" e "exercício vazio da crueldade" quando falta o sonho, destacando a importância do idealismo na política.

07 – O que o autor afirma sobre a tecnologia e os costumes em relação à natureza humana?

      O autor afirma que a tecnologia e os costumes podem mudar, mas a natureza humana permanece relativamente constante ao longo do tempo.

08 – Qual é a importância que o autor atribui ao conhecimento histórico?

      O autor enfatiza a importância de conhecer a história como um manual prático de navegação para evitar erros do passado.

09 – Quais são as três metáforas náuticas que o autor usa para descrever a humanidade e a sociedade?

      O autor utiliza as metáforas de jangada, barco e navio para representar diferentes níveis de organização social e desafios enfrentados pela humanidade.

10 – Qual é o apelo final do autor aos leitores?

      O autor faz um apelo para que os leitores se envolvam na busca por conhecimento histórico e participem ativamente na mudança do curso da sociedade e da humanidade.

 

 

ARTIGO DE OPINIÃO: A PROPAGANDA DOS POETAS. E OS POETAS DA PROPAGANDA - ULISSES TAVARES - COM GABARITO

 Artigo de opinião: A propaganda dos poetas. E os poetas da propaganda.

                Ulisses Tavares

        Em setembro, tive a alegria de ser um dos coordenadores da Primeira Semana de Poesia da Escola Superior de Propaganda e Marketing-ESPM- de São Paulo. Muitas e variadas atrações, com pesos pesados da crítica literária e da poesia brasileira.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirG4Z-kE2LK6vxQ5Gy77af763TTW8BDXUSe0UtsMZsaoiKpdxdFOz1Q6KBz2lZlKT7BjrUxyr1MxDg-8I2fJONre1BITgn7053otCSh9Z1OiOgxyhHxtTLMO0uvdeiEmbhZ-iWuGs0AfoR1vk7YWVGDsDzDbaX9r6xGdzm62gMlJ_BuOZXHT8mnt8IZY8/s1600/PROPAGANDA.jpg


        E tive a tristeza de constatar o óbvio: os universitários, com as poucas exceções de sempre, não parecem se entusiasmar pelo tema literatura, mesmo sendo de graça e de alta qualidade como neste evento da Espm.

        Perderam, assim, a chance de compartilhar a sabedoria atualizada de um Cláudio Willer, de um Carrascoza, de um Franceschi, de um Mauro Salles e, até, a performance do ator Pascoal da Conceição que tirou as calças e, de bunda de fora, deu um show sobre Mário de Andrade e o modernismo.

        Meu lado poeta ficou revoltado, mas meu lado publicitário, mais cínico, me consolou: esses jovens que não se ligam em leitura irão se ferrar em breve. Como é que alguém pode pretender trabalhar em marketing e propaganda se não gosta de ler? Em mais de 30 anos de profissão, nunca conheci um publicitário de sucesso que não gostasse de ler! Simplesmente porque é impossível viver o dia-a-dia da propaganda sem uma boa bagagem cultural. Na minha área, por exemplo, a Criação, as ideias surgem e se concretizam das mais diversas fontes: da moda, da informação factual, do vocabulário, da filosofia, da psicologia, da história, da geografia, enfim, de todos os ramos do conhecimento humano. Sem ser curioso e ser muito lido, o próprio mercado rejeita o sem-leitura na primeira entrevista de seleção.

        É mais fácil alguém que não gosta de ler virar presidente da república que publicitário de sucesso.

        Por isso, no próximo evento da Espm, pois muitos outros virão, já que sua diretoria é de apaixonados pela literatura, meu conselho de puta-velha é: compareçam e aproveitem, meninos, antes que seja tarde demais.

        O estudante que não compareceu às palestras, mesas-redondas e recitais, achando que poesia não tem nada a ver com propaganda, se passou um diploma de burraldo com louvor.

        Grande parte dos nossos maiores escritores e poetas foi (e assim ainda é) dependente da propaganda para sobreviver.
           O que também não é nenhuma novidade: o primeiro poeta que colocou seu talento a serviço do processo de venda de produtos, serviços e ideias (sim, o nome disso hoje é o tal de marketing, aluno alienado!) foi o maior poeta latino, Virgílio. Há mais de 2 mil anos atrás, ele ficou 8 anos escrevendo os 4 volumes do imenso poema Geórgicas. E não porque quisesse. Era para ganhar a vida mesmo. O hiper poema foi encomendado pelo imperador de Roma para convencer as pessoas a voltarem a trabalhar com prazer no campo, já que não cabia mais ninguém na cidade. Leiam e irão ver que o poema é quase um tratado de agricultura.

        Resumindo, propaganda pura e simples.

        A seguir, divirtam-se com uma seleção de exemplos da língua portuguesa:

        Fernando Pessoa, que dispensa apresentações, em 1928 meteu-se na propaganda e criou o slogan da Coca-Cola, produto recém-chegado ao seu Portugal: “Primeiro, estranha-se! Depois, entranha-se!” O slogan chegou a ter sua utilização proibida, pois as autoridades consideraram que ele insinuava que a Coca-Cola continha substâncias tóxicas. No que o autor deste artigo concorda, pois é viciado nela.

        Casimiro de Abreu, outro clássico, criou a propaganda do Café Fama: “Ah! Venham fregueses! / E venham depressa! Que aqui não se prega / Nem logro, nem peça.”

        Olavo Bilac, aquele do ouvir estrelas ensinado nas escolas do antigo primário, hoje fundamental, fez a propaganda do Fósforos Brilhante com estes versos: “Aviso a quem é fumante / Tanto o Príncipe de Gales / Como o Dr. Campos Salles / Usam Fósforos Brilhante.”

        Ernesto de Souza, em 1918, criou um hit poético-publicitário que todo mundo lembra geração após geração, para o remédio Rhum Creosotado: “Veja ilustre passageiro / o belo tipo faceiro / que o senhor tem a seu lado. / E, no entanto, acredite, / quase morreu de bronquite, / salvou-o Rhum Creosotado.”

        Augusto dos Anjos, aquele poeta da morte e dos vermes corroendo nossas putrefatas carnes, fez inúmeras propagandas em versinhos, com muita repercussão. Uma delas foi esta, para uma loja de roupas importadas: “Nesta cidade onde o atraso / Lembra uma cara morfética / Fez monopólio da estética / A Loja do Rattacaso.”

        Bastos Tigre e Ary Barroso, em 1934, lançaram a cerveja Brahma em garrafa, grande novidade da época já que, até então, só existia cerveja em barril: “O Brahma Chopp em garrafa, / Querido em todo o Brasil, / Corre longe, a banca abafa, / Igualzinho o de barril.”

        A lista é infindável, mas meu espaço não, por isso paro aqui. Mas aproveito para reiterar (é a mesma coisa, em propaganda, que a gente chama de stressar) que estudante de comunicações que não curte ler, nem ama a literatura, vai ter um problema prático logo de cara quando tentar virar profissional: seus futuros patrões são leitores compulsivos. E, também por causa disso, muito espertos e sabidos.

        Aliás, vários deles estavam lá, na Semana de Poesia da Espm. E outros tantos estarão nas próximas. Jovem que não for, dançou, marcou bobeira. Amém.

Ulisses Tavares, poeta nas horas plenas, publicitário nas horas vagas.

Entendendo o artigo de opinião:

01 – Qual foi o evento mencionado no artigo que o autor coordenou em setembro?

      O autor coordenou a Primeira Semana de Poesia da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) de São Paulo.

02 – Por que o autor ficou revoltado durante o evento?

      O autor ficou revoltado porque percebeu que a maioria dos universitários não demonstrou entusiasmo pela literatura, mesmo com a presença de figuras importantes da crítica literária e poesia brasileira.

03 – Qual é o conselho do autor para os estudantes que não compareceram ao evento da ESPM?

      O autor aconselha os estudantes a comparecerem e aproveitarem os eventos de literatura, pois acredita que é essencial para o sucesso na área de marketing e propaganda.

04 – Quem é considerado o primeiro poeta a se envolver em propaganda?

      O primeiro poeta a se envolver em propaganda foi Virgílio, um poeta latino que escreveu as "Geórgicas" a pedido do imperador romano para promover a agricultura.

05 – Quais são alguns exemplos de poetas famosos que também participaram na criação de slogans publicitários?

      Fernando Pessoa, Casimiro de Abreu, Olavo Bilac, Ernesto de Souza, Augusto dos Anjos, Bastos Tigre e Ary Barroso são alguns dos poetas mencionados no artigo que contribuíram com slogans publicitários.

06 – Qual é o ponto que o autor enfatiza sobre a importância da leitura na área de marketing e propaganda?

      O autor enfatiza que a leitura é essencial na área de marketing e propaganda porque as ideias e inspirações surgem de diversas fontes culturais e literárias.

07 – Como o autor descreve a relação entre a literatura e a propaganda?

      O autor sugere que muitos poetas e escritores tiveram que se envolver em propaganda para sobreviver, indicando uma ligação histórica entre as duas áreas.

08 – Qual é a importância do evento da ESPM mencionado no artigo?

      O evento da ESPM é importante porque oferece a oportunidade de os estudantes se envolverem com a literatura e, assim, adquirirem uma bagagem cultural fundamental para futuras carreiras em marketing e propaganda.

09 – O que o autor diz sobre o perfil dos futuros patrões na área de comunicações?

      O autor afirma que a maioria dos futuros patrões na área de comunicações são leitores compulsivos, inteligentes e bem-informados, o que pode ser um desafio para estudantes que não gostam de ler.

10 – Como o autor encerra o artigo em relação à participação dos jovens nos eventos da ESPM?

      O autor encerra o artigo enfatizando que os jovens que não participam dos eventos da ESPM perderão a oportunidade de se envolver com profissionais experientes e apaixonados pela literatura na área de comunicações.

 

 

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

POEMA: UM DIA TÍPICO DE UM ESCRITOR BRASILEIRO - ULISSES TAVARES - COM GABARITO

 Poema: Um dia típico de um escritor brasileiro

              Ulisses Tavares

        Há mais de quarenta anos (estou com 56, comecei cedo, aos 9) que me revezo entre oito profissões para ganhar a vida.

        Me acostumei a, quando me interessa e preciso, exercer uma ou outra atividade e muitas vezes fazer tudo ao mesmo tempo.

        Tenho sido jornalista, professor de pós-graduação, compositor, dramaturgo, roteirista de cinema e televisão, criativo publicitário, marketeiro político e treinador de executivos em web business e criatividade.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6KXu0RfWtUwsX58quMNux8697rPdGPG5hCXnSxKGZbKzBHFejauIkB95qPd_6o5mF_465Ikayfp5RjVLezszuokE24vMKI4btpE_IKdjkIMRZZR2Y_o3nU_R_wlDEQWUqV9eUNLPcF9KwiIEuQlfWDYQAlFpOclPDWvxKV2OYMyNd6KV7QBhlZOcZ8vQ/s320/EACRITOR.jpg


        Nos intervalos, nunca deixei de ser poeta e, talvez por isso, ter uma montanha de livros de poesia para crianças, jovens e adultos, e estar com mais de quatro milhões de exemplares vendidos, o que, no Brasil, até a mim espanta.

        Daí, de três anos para cá, resolvi ser apenas escritor profissional.

        A decisão foi difícil mas estou satisfeito pelo seu principal efeito colateral: como meu status caiu de um carro importado para um fusquinha, nunca mais serei rico a ponto de atrair mulheres interesseiras.

        Quem me amar vai me amar pelo que sou: um poeta tupiniquim, apaixonado, mas durango.

        Meio chato é quando novos conhecidos me perguntam minha profissão e eu respondo que sou poeta.

        Inevitavelmente, vem a pergunta seguinte:

        – Tá bom, mas você trabalha em quê?

        Como poeta não trabalha mesmo nunca, segundo o senso comum, acordo eu bem cedinho disposto a escrever meu artigo para esta revista, já atrasado.

        Mas, antes, abro os e-mails e vejo se tem alguma coisa urgente para resolver.

        Tem várias, pela ordem:

        Uma editora não quer aceitar meu contrato de um novo livro porque não abro mão dos 10% de direitos autorais. Como a maioria dos escritores possui outra fonte de renda paralela, também a maioria das editoras se acostumou a pagar menos de 10% já que o autor não vai depender dessa renda para sobreviver. Ou seja, escritor brasileiro é mal pago por culpa dele mesmo, tsc, tsc.

        Outra editora alega que é impossível adiantar um dinheiro para que eu escreva um livro histórico, ou seja, um projeto que vai me consumir um ano inteiro. Ao contrário dos estados desunidos e das ôropas, aqui a editora lança uma porção de livros sem custo autoral inicial. Se colar, colou. Se for sucesso, ótimo. Lá fora, o critério é mais rígido. Lança-se menos títulos, mas se investe no projeto do escritor rotineiramente. O Brasil é um dos países que maior quantidade de livros edita no mundo. Mais de 10 títulos novos por dia! E as tiragens são cada vez menores.

        E finalmente outro e-mail me informa que minha agente literária é uma chata porque teima em discutir item por item dos meus contratos. Traduzindo: a Maria Moura, minha agente, é uma pentelha porque é profissional cuidadosa. As editoras gostam de escritor que assina tudo sem ler nada, como eu já fiz muitas vezes.

        Para não ficar ainda mais careca de preocupação com esses problemas que já estou careca de saber, deixo de lado e me concentro em escrever.

        Nem começo e já sou interrompido por dois telefonemas:

        O primeiro, um convite para bolar um artigo para uma revista de educação, dirigida as professoras. Pedem minha compreensão para o fato que só podem pagar cem reais pelas quatro páginas de texto. Olho o pedreiro que contratei para consertar as telhas estragadas pelas últimas chuvas em Sampa, com inveja. Ele está me cobrando o preço de 3 artigos da revista!

        O segundo telefonema é um convite da secretaria de cultura para um mega evento de poetas e escritores paulistanos. Acontecimento bonito, bem organizado e bem divulgado. O único detalhe dissonante é que o edital não prevê nenhum cachê para os participantes. A alma da festa não irá receber um tostão para o pão nosso de cada dia. Escritores e poetas devem se contentar com os aplausos, desde que tenham dinheiro para a passagem até o palco, claro.

        Mas vamos escrever que essa é a vida que escolhi e quis.

        Paro na primeira frase porque chegou o carteiro com uma pilha de cartas. Nenhuma cartinha simpática de leitor. Nenhum cartão de feliz aniversário atrasado. Apenas contas a pagar e malas-diretas me oferecendo cartões de crédito. O correio eletrônico tornou o carteiro apenas um portador de más notícias!

        Desanimado, leio que esqueci de pagar uma conta de IPTU de anos atrás. Mas posso ficar tranquilo que a Prefeitura me oferece parcelamento da dívida. Desde que eu perca metade do dia indo até a tesouraria, evidente!

        E nem isso posso fazer porque meus rendimentos de direitos autorais não cobrem o valor do IPTU. Acho que nem minha modesta casa vale tanto assim. Como são férias escolares, meus livros infanto-juvenis despencam nas vendas. Há muito tempo que as escolas, via programas do governo, são as únicas e principais compradoras de livros infanto-juvenis. E evidentemente não compram nas férias. E se amanhã o governo deixar de dar verbas para aquisição de livros para distribuição gratuita aos alunos, a maioria das editoras fecha as portas em seguida. Todos os envolvidos nessa questão, se fazem de cegos em tiroteio. Afinal, é chocante saber que em mais de uma década de distribuição gratuita de livros para estudantes de escolas públicas…não se formou um leitor a mais! Simplesmente porque a educação continua uma porcaria frita e os alunos, coitados, mal passados, não aprendem a ler. Sem saber ler, vão fazer o que com os livros que ganham? É como dar rapadura para um banguela. Simples e trágico assim.

        Já que não consigo escrever o artigo para a Revista Discutindo Literatura, relaxo e vou para o lançamento de amigos escritores num bar de Vila Madalena. Vai ser bom rir um pouco que não sou de ferro e minha coluna muito menos. Tenho a popular “coluna de escritor”. De tanto escrever horas a fio com a coluna torta, o escritor é um candidato à corcunda de Notre Dame.

        O lançamento é interrompido violentamente, o bar fecha as portas, todo mundo sai correndo porque o PCC acabou de incendiar um ônibus na rua ao lado.

        Volto pra casa, ligo a televisão e vejo o governador dizendo que a violência está sob controle, que ataques dos bandidos não irão intimidar as autoridades. Como não sou autoridade…fico intimidado.

        O dia está terminando e talvez dê tempo de escrever, afinal este é meu ofício.

        Mas, humanamente, durmo.

        Quem sabe amanhã eu acorde e resolva mudar para uma profissão menos folgada que esta de típico escritor brasileiro.

        Sei que minto para mim mesmo, para me consolar.

        Escrever, para quem gosta, já não é ofício. Rimando sem querer, é um vício.

Fonte: http://www.ulissestavares.com.br

Entendendo o poema:

01 – Qual é a profissão principal do autor do poema?

      O autor do poema é um escritor.

02 – Quantas profissões diferentes o autor já exerceu ao longo de sua vida?

      O autor já exerceu oito profissões ao longo de sua vida.

03 – Qual foi a decisão difícil que o autor tomou nos últimos três anos?

      Nos últimos três anos, o autor decidiu ser apenas um escritor profissional.

04 – Por que o autor menciona que nunca mais será rico a ponto de atrair mulheres interesseiras?

      O autor menciona isso porque sua decisão de ser apenas um escritor profissional levou a uma queda em seu status financeiro.

05 – Qual é a reação comum das pessoas quando o autor diz que é poeta?

      Quando o autor diz que é poeta, é comum as pessoas perguntarem qual é o seu trabalho.

06 – Por que as editoras no Brasil costumam pagar menos de 10% de direitos autorais aos escritores?

      Muitas editoras no Brasil pagam menos de 10% de direitos autorais aos escritores porque a maioria dos escritores possui outras fontes de renda, e, portanto, as editoras não acreditam que os escritores dependam dessa renda para sobreviver.

07 – O que é mencionado como o principal critério das editoras estrangeiras ao contrário das editoras brasileiras?

      As editoras estrangeiras são mencionadas como tendo um critério mais rígido, investindo nos projetos dos escritores rotineiramente, ao contrário das editoras brasileiras.

08 – Qual é a principal fonte de renda do autor a partir de seus livros infanto-juvenis?

      A principal fonte de renda do autor a partir de seus livros infanto-juvenis são as escolas, que os compram através de programas do governo.

09 – Por que o autor se diz "intimidado" em relação à violência mencionada no final do poema?

      O autor se diz "intimidado" em relação à violência porque não é uma autoridade e não tem controle sobre a situação.

10 – Como o autor descreve sua relação com a escrita no final do poema?

      No final do poema, o autor descreve sua relação com a escrita como um vício, afirmando que escrever, para quem gosta, não é mais um ofício, mas um vício.