Poema: BUDISMO MODERNO
Augusto dos Anjos
Tome, Dr., esta tesoura, e... corte
Minha singularíssima pessoa.
Que importa a mim que a bicharia roa
Todo o meu coração, depois da morte?!
Ah! Um urubu pousou na minha sorte!
Também, das diatomáceas da lagoa
A criptógama cápsula se esbroa
Ao contacto de bronca destra forte!
Dissolva-se, portanto, minha vida
Igualmente a uma célula caída
Na aberração de um óvulo infecundo;
Mas o agregado abstrato das saudades
Fique batendo nas perpétuas grades
Do último verso que eu fizer no mundo!
Minha singularíssima pessoa.
Que importa a mim que a bicharia roa
Todo o meu coração, depois da morte?!
Ah! Um urubu pousou na minha sorte!
Também, das diatomáceas da lagoa
A criptógama cápsula se esbroa
Ao contacto de bronca destra forte!
Dissolva-se, portanto, minha vida
Igualmente a uma célula caída
Na aberração de um óvulo infecundo;
Mas o agregado abstrato das saudades
Fique batendo nas perpétuas grades
Do último verso que eu fizer no mundo!
In: REIS, Zenir Campos. Augusto dos Anjos: poesia e prosa. São Paulo: Ática, 1977. p.84.
Entendendo o poema:
01 – Qual é o tema do poema “Budismo Moderno”?
É
um poema fundamentado numa visão pessimista e niilista do budismo que
predominou no Ocidente no fim do século XIX e no início do século XX.
02 – O que é Budismo?
O budismo é a
doutrina fixada na crença do desapego material e disseminada por Buda, conforme
os estágios das quatro nobres verdades:
1. Tudo é dor;
2. A dor nasce do desejo;
3. A dor cessa com a extinção do desejo;
4.
Para extinguir o desejo deve-se
seguir o caminho dos oito passos da tradição budista.
03 – O que enfatiza o
“Budismo Moderno”?
O budismo moderno
enfatiza a meditação, a leitura e a compreensão racionalista dos textos
sagrados.
04 – Identifique no poema de
Augusto dos Anjos, imagens inusitadas que aproximam o texto das propostas de
ilogismo e absurdo que seriam feitas pelo Surrealismo cerca de vinte anos mais
tarde.
Principalmente a imagem de cortar a
pessoa com uma tesoura.
05 – Relacionar o poema de
Augusto dos Anjos ao Simbolismo e ao Naturalismo e observar pontos de contato
entre essas estéticas e o poema.
O poema aproxima-se da estética
simbolista quanto à visão de mundo, à dor de existir, ao pessimismo; e
aproxima-se da estética naturalista quanto ao vocabulário científico e a visão
materialista e científica da vida.
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