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segunda-feira, 9 de novembro de 2020

TEXTO: RETALHOS CÓSMICOS - MARCELO GLEISER - COM GABARITO

 TEXTO: RETALHOS CÓSMICOS   

  Marcelo Gleiser

        Olhar para o céu noturno é quase um privilégio em nossa atribulada e iluminada vida moderna. Companhias de turismo deveriam criar “excursões noturnas”, em que grupos de pessoas são transportados até pontos estratégicos para serem instruídos por astrônomos sobre maravilhas do céu noturno. Nasceria, assim, o “turismo astronômico”, a fim de complementar perfeitamente o novo turismo ecológico. E por que não?

        Turismo astronômico ou não, talvez a primeira impressão ao observarmos o céu noturno seja uma sensação com itens diversos: paz, permanência, sossego, profunda ausência de movimento, fora um eventual avião ou mesmo um satélite distante (uma estrela que se move!).

        Vemos incontáveis estrelas, emitindo sua radiação eletromagnética, perfeitamente indiferentes às atribulações humanas. Essa idealização pacata para os céus é muito distinta da visão de um astrofísico moderno. As inocentes estrelas são verdadeiras fornalhas nucleares, de modo que produzem uma quantidade enorme de energia a cada segundo.

        A título de exemplo, a morte de uma estrela modesta como o Sol virá acompanhada de uma explosão que chegará até a nossa vizinhança, transformando tudo o que encontrar pela frente em poeira cósmica. No entanto, o leitor não precisa se preocupar com esse perigo de extinção da vida na Terra; porque o Sol ainda produzirá energia “docilmente” por mais uns 5 bilhões de anos.

Fonte: (Marcelo Gleiser, Retalhos Cósmicos)

Entendendo o texto:

01 – Acerca do texto de Marcelo Gleiser, há uma referência correta em:

a)   Na primeira frase do texto, os termos “atribulada” e “iluminada” caracterizam dois aspectos contraditórios e inconciliáveis a que o autor chama de “vida moderna”.

b)   No terceiro parágrafo, o sentido da expressão “perfeitamente indiferentes às atribulações humanas” indica que se desfez aquela “primeira impressão” e desapareceu a “sensação de paz”.

c)   No quarto parágrafo, a expressão “estrela modesta”, referente ao Sol, implica uma avaliação que vai além das impressões ou sensações de um observador comum.

d)   No último parágrafo afirma-se que as estrelas são inocentes por serem capazes de produzir uma quantidade enorme de energia a cada segundo.

02 – O autor considera a possibilidade de se olhar para o céu noturno a partir de duas distintas perspectivas, que se evidenciam no confronto das expressões:

a)   “Maravilhas do céu noturno” / “Sensação de paz”.

b)   “Instruídos por um astrônomo” / “Visão de um astrofísico”.

c)   “Radiação eletromagnética” / “Quantidade enorme de energia”.

d)   “Poeira cósmica” / “Visão de um astrofísico”.

e)   “Ausência de movimento” / “Fornalhas nucleares”.

03 – De acordo com o texto, as estrelas:

a)   São consideradas “Maravilhas doo céu noturno” pelos observadores leigos, mas não pelos astrônomos.

b)   Possibilitam uma “Visão pacata dos céus”, impressão que pode ser desfeita pelas instruções de um astrônomo.

c)   Produzem, no observador leigo, um efeito encantatório, em razão de serem “verdadeiras fornalhas nucleares”.

d)   Promovem um espetáculo noturno tão grandioso, que os moradores das cidades modernas se sentem privilegiados.

e)   Confundem-se, por vezes, com um avião ou um satélite, por se movimentarem do mesmo modo que estes.

04 – Considere as seguintes afirmações:

I – Na primeira frase do texto, os termos “atribulada” e “iluminada” caracterizam dois aspectos contraditórios e inconciliáveis do que o autor chama de “vida moderna”.

II – No segundo parágrafo, o sentido da expressão “perfeitamente indiferentes às atribulações humanas” indica que já se desfez aquela “primeira impressão” e desapareceu a “sensação de paz”.

III – No terceiro parágrafo, a expressão “estrela modesta”, referente ao sol, implica uma avaliação que vai além das impressões ou sensações de um observador comum.

Está correto apenas o que se afirma em:

a)   I.

b)   II.

c)   III.

d)   I e II.

e)   II e III.

05 – Transpondo-se corretamente para a voz ativa a oração “para serem instruídos por um astrônomo (...)”, obtém-se:  

a)   Para que sejam instruídos por um astrônomo (...).

b)   Para um astrônomo os instruírem (...).

c)   Para que um astrônomo lhes instruíssem (...).

d)   Para um astrônomo instruí-los (...).

e)   Para que fossem instruídos por um astrônomo (...).

06 – Na frase “O sol ainda produzirá energia (...)”, o advérbio ainda tem o mesmo sentido que em:

a)   Ainda lutando, nada conseguirá.

b)   Há ainda outras pessoas envolvidas no caso.

c)   Ainda há cinco minutos ela estava aqui.

d)   Um dia ele voltará, e ela estará ainda à sua espera.

e)   Sei que ainda serás rico.

 

quarta-feira, 15 de maio de 2019

ARTIGO CIENTÍFICO: ANTEPASSADOS NÃO TÃO DISTANTES - MARCELO GLEISER - COM QUESTÕES GABARITADAS

ARTIGO: Antepassados não tão distantes
              
  Marcelo Gleiser

    Os chimpanzés sofrem quando perdem a mãe ou um amigo

    Quando Darwin afirmou, no século 19, que somos descendentes de macacos, que temos mais a ver com criaturas peludas e barulhentas com rabos longos e dentes afiados do que com anjos celestes, os vitorianos ficaram ultrajados. Por 3.000 anos, a história que vinha sendo contada era diferente. Seríamos criação de Deus, quase tão perfeitos quanto ele. Não fosse a ousadia de Adão e Eva, estaríamos até agora passeando nus pelo Jardim do Éden, sem sabermos da existência do pecado original.
        Muita gente ainda se ofende com a insistência dos cientistas em nos chamarem de macacos evoluídos. Mas deveríamos nos orgulhar de nossos antepassados, que encontraram meios de sobreviver em um ambiente austero e cheio de predadores. 
        Há 30 milhões de anos, babuínos, chimpanzés e humanos eram indiferenciáveis. Desde então, variações genéticas submetidas à pressão da seleção natural foram criando as diferenças que resultaram nos três primatas.
        Babuínos mostram uma grande sofisticação social, vivendo em grupos de aproximadamente 150 indivíduos que reúnem em torno de oito famílias. Pesquisadores como Dorothy Cheney (nenhuma relação com o vice-presidente americano) e Robert Seyfarth, que passam longos períodos nas florestas de Botsuana, verificaram que babuínos, especialmente as fêmeas, desenvolvem fortes alianças familiares, defendendo membros da família em caso de desavenças com outros babuínos ou em ataques de predadores. 
        Para tal, os primatas desenvolveram meios de identificar seus parentes visualmente e por meio de vocalizações. Não há dúvida de que o agrupamento dos babuínos exibe traços que podemos identificar na nossa sociedade. Quantas famílias têm um assobio especial que usam quando estão em lugares muito cheios?
        Mas nossos parentes mais próximos são os chimpanzés, com quem dividimos 98,4% dos nossos genes. Jane Goodall, a pesquisadora inglesa que revelou ao mundo a sofisticação dos nossos primos, passou anos nas florestas da Tanzânia observando seu comportamento. 
        Diferentemente dos babuínos, a característica mais marcante dos chimpanzés não é o agrupamento, mas a sofisticação de seu comportamento. Chimpanzés estão entre os poucos animais que usam ferramentas para efetuar tarefas. Cortam galhos longos para "pescar" formigas e cupins em troncos e cupinzeiros. 
        Como os babuínos, caçam em grupos e defendem seu território em ferozes guerras tribais. Como os humanos, sofrem quando perdem a mãe, o pai ou um irmão, ou quando um companheiro de longa data morre. Esses achados tornam difícil distinguir se somos um pouco macacos ou se os macacos são um pouco humanos. Certamente, eles nos remetem às nossas origens evolucionárias. 
        Recentemente, um experimento na Universidade de Kyoto, no Japão, comparou a memória dos chimpanzés com a dos humanos. Sequências de cinco números de um a nove foram mostradas a estudantes e chimpanzés por frações de segundo na tela de um computador. Após 650 milésimos de segundo, os números do monitor viravam quadrados brancos. O teste envolvia tocar os quadrados em ordem numérica crescente. 
        Tanto os estudantes quanto o chimpanzé acertaram 80% das vezes. Quando o intervalo baixou para 210 milissegundos, os humanos acertaram 40% das vezes e o chimpanzé 80%. Perdemos para um macaco. "Talvez", disse um dos pesquisadores, "nossa habilidade para contar atrapalhe". No mínimo, o experimento mostra que nossos primos são bem menos distantes do que pensamos. 

             MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro "A Harmonia do Mundo"
                                                    Folha de São Paulo, 25/5/2008. Licenciado pela Folhapress.
Entendendo o Texto:

01 – O texto lido foi publicado em um jornal de grande circulação. Nesse texto, o autor aborda um tema bastante debatido nos meios científicos.
a)   Qual é esse tema?
A teoria da evolução do homem, de Darwin.

b)   Na sua opinião, o tratamento dado ao assunto do texto lido é muito específico – portanto, voltado exclusivamente para leitores cientistas –, ou é relativamente simples, tendo a finalidade de informar os leitores em geral? Justifique sua resposta.
O texto foi produzido para um público amplo e heterogêneo, pois apresenta uma linguagem que não exige conhecimentos profundos sobre a teoria da evolução do homem.

c)   Qual é a finalidade principal desse texto: expor um conteúdo científico de forma clara e objetiva ou persuadir o leitor a respeito do ponto de vista de seu autor?
Expor um conteúdo de natureza científico.

d)   É possível afirmar que o texto tem também a intenção de defender a ideia de que o homem e descendente dos macacos? Justifique sua resposta.
Sim, pois o autor demonstra a lógica da teoria com exemplos de pesquisas, e o texto afirma que os macacos são bem menos distantes de nós do que pensamos.

02 – Pelo fato de lidarem com assuntos ligados a áreas científicas do conhecimento, os textos de divulgação científica frequentemente fazem uso de uma linguagem em que há vocabulário e conceitos básicos.
a)   Identifique, no texto, palavras ou expressões usadas no meio científico para abordar o fato de os humanos serem descendentes dos macacos.
Variações genéticas, seleção natural, primatas, genes, origens evolucionárias, experimento.

b)   A que área científica pertencem tais palavras ou expressões?
A ciência que trata da evolução humana.

03 – A estrutura de um texto de divulgação científica não é rígida, pois depende do assunto e de outros fatores da situação, como: quem produz o texto, para quem, com que finalidade. Apesar disso, normalmente o autor apresenta uma ideia principal ou tese, geralmente um conceito ou um ponto de vista sobre um conceito, e procura fundamentá-la com “provas” ou evidências, isto é, exemplos, comparações, resultados objetivos de experiências, dados estatísticos, relações de causa e efeito, etc. No texto “Antepassados não tão distantes”:
a)   Qual é a ideia principal apresentada pelo autor?
A de que o homem é descendente do macaco.

b)   Com que “provas” ou argumentos o autor fundamenta a tese que defende?
O autor busca argumentos em dados de pesquisas que comparam comportamentos humanos com os de macacos, como, por exemplo: os babuínos mostram uma grande sofisticação social e desenvolvem fortes alianças familiares, defendendo membros da família em caso de desavenças com outros babuínos ou em ataque de predadores (como os humanos, e exibem traços que podem ser identificados em nossa sociedade, como assobiar para encontrar pessoas; os chimpanzés sofrem quando perdem um ente querido e fazem uso da memória, assim como os seres humanos.
c)   De que o autor se serve para justificar seu ponto de vista?
Ele apresenta três pesquisas feitas por autoridade no assunto: a realizada nas florestas de Botsuana com babuínos, a realizada nas florestas da Tanzânia com chimpanzés e um experimento na Universidade de Kyoto.
04 – Observe a linguagem empregada no texto:
a)   Nas formas verbais, que tempo e modo são predominantes?
O presente do indicativo.
b)   Qual variedade linguística foi empregada?
A variedade padrão.
c)   A linguagem revela preocupação com a expressividade e a emotividade, ou é clara, objetiva e tende à impessoalidade?
É clara, objetiva e impessoal.
d)   Considerando-se o assunto e o veículo em que o texto foi publicado, pode-se afirmar que esse nível de linguagem é adequado à situação? Por quê?
Sim. Porque o texto é voltado para leitores interessados em assuntos científicos, que tem certa familiaridade com termos científicos e dominam a variedade padrão.
05 – Quais são as principais características do texto de divulgação científica? Respondam, levando em conta os critérios a seguir: finalidade do gênero, perfil dos interlocutores, suporte/veículo, tema, estrutura e linguagem.
      Transmitir conhecimento de natureza científica. O autor é especialista em uma área científica. O destinatário é o leitor de revistas e jornais interessado em assuntos científicos. O suporte do texto são revistas, jornais e sites da internet. Os temas são relacionados com os diferentes campos da ciência. Estruturalmente, apresenta uma ideia central ou uma explicação sobre o objeto de estudo, desenvolvida por meio de “provas” e apresenta também, facultativamente, uma conclusão. Emprega a variedade padrão da língua, apresenta termos e expressões científicas e formas verbais principalmente no presente do indicativo. A linguagem é clara, objetiva, impessoal.  

sábado, 15 de setembro de 2018

ARTIGO DE OPINIÃO: VELOCIDADE DA INFORMAÇÃO DESAFIA EDUCAÇÃO MODERNA - MARCELO GLEISER - COM QUESTÕES GABARITADAS


ARTIGO DE OPINIÃO: Velocidade da informação desafia educação moderna
                                 
               MARCELO GLEISER 

        Nós vivemos em um mundo cada vez mais globalizado, numa era onde as pessoas são atacadas por todos os lados com uma quantidade enorme de informação. As barreiras entre os povos e as culturas são constantemente perfuradas (mas quase nunca vencidas) pela força da mídia e do consumismo desenfreado. Hoje em dia, nada mais comum do que vermos um beduíno em seu camelo, com sua calça Levis e óculos Giorgio Armani, entoando uma canção de Elton John. Na testa do camelo, em árabe, vemos a escrita "Lady Di, nós te amamos".
        OK, talvez eu esteja exagerando um pouco. Mas, sem dúvida, é indiscutível a importância que o controle dos meios de informação têm na sociedade moderna. E o mais impressionante é a velocidade com que essa informação é disseminada. Bilhões de pessoas em todo o mundo assistiram à final da Copa (infelizmente), e várias centenas de milhões participam rotineiramente de guerras ou da humilhação de presidentes, sentados confortavelmente em suas salas de estar.
        Parece mentira que foi apenas em 1886 que as primeiras ondas de rádio foram geradas no laboratório pelo grande físico alemão Heinrich Hertz, ou que a primeira transmissão telegráfica através do oceano Atlântico foi enviada em 1901 pelo italiano Guglielmo Marconi. Atualmente, a disseminação de informação conta com toda uma rede de satélites, que, juntamente com incontáveis antenas de transmissão, cobrem praticamente toda a superfície do planeta.
        Essa globalização da informação implica necessariamente a detenção do poder pelas pessoas com acesso, ou, mais ainda, pelas pessoas que criam e disseminam essa informação. Lembro-me do recente filme americano "Mera Coincidência" ("Wag the Dog"), em que um "tycoon" de Hollywood é chamado para desviar a atenção do público americano dos escândalos sexuais do presidente durante a campanha eleitoral (bastante profético, aliás, esse filme...). A solução dos produtores foi simples: inventar uma guerra em um país remoto para sensibilizar a opinião pública.
Informação é poder. E, sem educação, não é possível ter acesso à informação. Mas, simples acesso à informação não é tudo. É necessário que saibamos refletir ativamente sobre a informação recebida, e não só recebê-la passivamente. Caso contrário, podemos nos tornar alvo de uma "realidade fabricada", como aquela apresentada comicamente no filme.
        Daí o papel do educador, não só de transmitir informação, mas também de convidar sua audiência à reflexão, ensinando tanto os métodos necessários para tal como também a arte de duvidar. Educação é um processo de colaboração ativa entre o educador e sua audiência. Na minha opinião, o educador mais bem-sucedido é aquele que desperta em sua audiência o desejo de querer sempre aprender mais e a capacidade de criticar racionalmente aquilo que se está aprendendo. Sob esse prisma, a educação moderna pode não só se beneficiar do fácil acesso à informação, como também "filtrar" a desinformação.
        A globalização da informação provoca uma fragilidade em sua própria audiência. Nós nos tornamos alvo em uma galeria de tiro e só podemos nos safar se soubermos pensar por nós mesmos. Uma sociedade educada é a que poderá tomar decisões que afetam seu futuro de modo coerente. Eis aqui alguns exemplos, ligados à educação científica. Devemos ou não interceder nas pesquisas da engenharia genética, que, com o desenvolvimento de processos de clonagem ou de cirurgia genética em fetos, levanta sérias questões éticas para a sociedade? Devemos ou não apoiar o desenvolvimento de tecnologias nucleares no espaço? Devemos ou não interceder junto ao governo para um maior controle da emissão de gases industriais, de modo a evitar graves mudanças climáticas no futuro? E os asteroides? Vão cair ou não em nossas cabeças?

Marcelo Gleiser é professor de física teórica do Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro "A Dança do Universo"
Entendendo o texto:

01 – O texto de Marcelo Gleiser é um texto argumentativo que se constrói como toda argumentação por meio de um raciocínio lógico – silogismo.
a)Pode-se dizer que a premissa maior diz respeito ao fato de que se as pessoas não refletirem sobre a avalanche de informações a que tem acesso podem se tornar alvos de uma “realidade fabricada”? Justifique.
      A premissa maior se identifica com ‘A Globalização gera pessoas fabricadas’. O primeiro parágrafo inteiro do texto justifica esta premissa (além de outros trechos, inclusive mais explícitos, como “É necessário que saibamos refletir ativamente sobre a informação recebida, e não só recebê-la passivamente. Caso contrário, podemos nos tornar alvo de uma "realidade fabricada"”), usando a estratégia argumentativa de exemplificação para mostrar como somos alvos da globalização, reproduzindo aspectos culturais de países dominantes, sem questionar, sem nem sequer ‘adaptá-los’ à nossa cultura.

b) O que significa “realidade fabricada” para o articulista? Justifique sua opinião, apresentando argumentos que a sustente.
      Realidade fabricada representa a absorção de uma cultura que não é a nossa e, consequentemente, padronização de pessoas, de opiniões e pensamentos. Começamos usando uma roupa que não pertence à nossa cultura (calça Levis e óculos Giorgio Armani) e acabamos agregando os valores dessa outra cultura (Lady Di, nós te amamos), sem sequer questionar, sem sequer pensar se isso reflete realmente nossa opinião, quem somos. Com isso, tornamo-nos robôs, hábitos e mentes fabricadas, padronizadas por uma cultura superficial e alienante.

c) Se a premissa menor está relacionada ao fato de a globalização da informação impedir as pessoas de refletir ativamente sobre a informação recebida, qual seria a conclusão para fechar o raciocínio silogístico na construção do texto? Explique.
      Tendo como premissa maior o fato de que a globalização fabrica comportamentos e, como premissa menor, o de que a globalização impede que as pessoas reflitam sobre essa fabricação, a conclusão é a mesma que encerra o texto (começa a se desenrolar no 5º parágrafo e fica explícita nos 2 últimos parágrafos do texto), de que somente a educação crítica e reflexiva poderá alterar esta realidade; somente quando as pessoas forem incentivadas a julgar e a pesar os falsos valores que lhes são impostos, elas viverão a sua realidade e não a que lhes é esmagadoramente imposta.

02 – Identifique no segundo parágrafo do texto o termo linguístico que revela que o articulista negocia com o leitor.
      O termo linguístico que representa uma negociação do autor com o leitor é “OK, talvez eu esteja exagerando um pouco.”, em que ele cria uma interlocução, como se estivesse conversando com o leitor.

03 – Identifique, no texto, argumentos usados pelo articulista que são baseados em exemplos.
      O primeiro parágrafo é praticamente todo exemplificativo, há ainda outras passagens, por exemplo esta: “Lembro-me do recente filme americano "Mera Coincidência" ("Wag the Dog"), em que um "tycoon" de Hollywood é chamado para desviar a atenção do público americano dos escândalos sexuais do presidente durante a campanha eleitoral”.

04 – A contra argumentação pode ser feita por meio de verbos e expressões que atenua uma informação excessivamente forte, usando verbos e expressões que modalizam o discurso. Essa é uma forma de se proteger dos possíveis contra-argumentos.
Identifique no quinto parágrafo um exemplo para a afirmação acima.
      Quando o autor diz “Informação é poder. E, sem educação, não é possível ter acesso à informação.” Ele faz uma concessão, expõe em seu texto, vozes contrárias à sua argumentação, que poderiam alegar, por exemplo, que a globalização propicia um enorme acesso à informação, que é algo tão crucial na era em que vivemos. Porém, ele já rebate essas possíveis opiniões contrárias, seguindo no texto “Mas, simples acesso à informação não é tudo. É necessário que saibamos refletir ativamente sobre a informação recebida, e não só recebê-la passivamente.” em que os termos sublinhados em negrito modalizam sua contra argumentação.


sábado, 28 de julho de 2018

ARTIGO DE OPINIÃO: UMA PROPOSTA SOBRE CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE - MARCELO GLEISER - COM GABARITO

Artigo de Opinião: Uma proposta sobre ciência e espiritualidade
             
                                                          Marcelo Gleiser

        Foi o poeta romano Lucrécio, escrevendo em torno de 50 a. C., que famosamente deu voz à ciência como meio de emancipação pessoal (de liberação de superstições que só fazem despertar o medo e a escravidão do intelecto humano): nem mesmo o brilho do sol, a radiação que sustenta o dia, pode dispersar o terror que reside na mente das pessoas. Apenas a compreensão das várias manifestações naturais e de seus mecanismos internos tem o poder de derrotar esse medo.
        Já 400 anos antes, a maior influência intelectual de Lucrécio, o filósofo Demócrito, escrevia que a compreensão da estrutura racional do mundo era o único caminho para a felicidade, para o encontro com a graça. Demócrito era conhecido como o “Filósofo Sorridente”; seu sorriso, aqui, representando a graça que atribuímos aos santos e aos iluminados. Será que a razão pode ficar à transcendências?
        Para a maioria das pessoas, a proposta é impossível; razão é o oposto de graça ou de transcendência, visto que seu uso baseia-se na aderência a regras rígidas e a um ceticismo inabalável. Como que o pensamento analítico pode ter essa maleabilidade, esse impacto emocional e, mais ainda, espiritual?
        Primeiro, precisamos eliminar a relação entre a espiritualidade e o espirito enquanto manifestação sobrenatural. Um ponto de partida aqui é que existe apenas a matéria. Em toda a sua incrível complexidade, de elétrons a proteínas, de borboletas a estrelas, a matéria mantém um vínculo apenas com as forças físicas que agem sobre os seus constituintes.
        Não há dúvida de que compreendemos muito dessas manifestações, e é a isso que se refere Lucrécio quando escreve sobre “A compreensão das várias manifestações naturais e de seus mecanismos internos.” Este é o objetivo central das ciências físicas, a identificação dessas manifestações naturais e de seus mecanismos internos.
        Porém, não há dúvida, também, de que pouco sabemos do mundo, de que estamos cercados por questões de uma complexidade que nem temos como aferir.
        Mas quando falamos do mundo, desconhecido não significa divino, tampouco sobrenatural. Desconhecido significa que temos um desafio pela frente, que só pode ser encarado se nos dedicarmos ao seu estudo. E como se dá isso? Através dos métodos racionais da ciência, que implicam uma devoção intelectual e espiritual, como Einstein havia já percebido.
        Espiritualidade é uma ligação com algo maior do que nós, que nos seduz de forma incontrolável, que cria um querer penetrar sempre mais profundamente nos mistérios que nos cercam, o que se impõe como urgência.
        Essa espiritualidade natural, como eu a chamo, não é uma forma de misticismo. Misticismo pressupõe que o conhecimento que é inacessível ao intelecto possa ser obtido através da contemplação ou de uma união com o divino.
        A ciência, ao menos para mim, começa com uma ligação espiritual com a natureza, usando o intelecto como ponte entre essa ligação e a busca pelo conhecimento. Unindo a atração espiritual pelo desconhecido e o poder do intelecto, a ciência manifesta de forma única a imersão do homem na realidade que o cerca.
                                                 Fonte: Folha de São Paulo, 7 set. 14.
Entendendo o texto:
01 – Assinale a alternativa em que o termo presente na COLUNA B melhor substitui, no texto, o da COLUNA A, mantendo-se a sinonímia a mais aproximada possível.

COLUNA A:
a – Famosamente.
b – Maleabilidade.
c – Aferir.
d – Contemplação.
e – Imersão.

COLUNA B:
(a)Evidentemente.
(b)Flexibilidade.
(c)Comprovar.
(d)Complacência.
(e)Fuga.

02 – Segundo o texto, é correto afirmar que:
a)   Lucrécio se refere ao terror na mente das pessoas como o medo do conhecimento.
b)   O medo que as pessoas têm, segundo Lucrécio, poderia ser derrotado pela radiação solar.
c)   A emancipação pela ciência se dá pela compreensão de que o homem e escravo de seu intelecto.
d)   O caminho para ser feliz, para Demócrito, passa pela compreensão racional do mundo.
e)   Gleiser concorda que razão e transcendência são inconciliáveis.

03 – Com base no texto, analise as proposição a seguir, quanto à veracidade (V) ou falsidade (F), em relação ao emprego de elementos linguísticos.
      (V) O fragmento que aparece entre parênteses traz uma explicitação, para o leitor, do que significa emancipação pessoal oportunizada pela ciência.
      (V) O advérbio Apenas pode ser substituído no texto, sem comprometimento de sentido, por somente.
      (F) O pronome Seus retoma, no texto, o medo e a escravidão do intelecto humano.
        Assinale a alternativa que preenche correta e respectivamente os parênteses, de cima para baixo.
(a)  F – V – F.
(b)  F – F – F.
(c)  V – F – V.
(d)  V – V – F.
(e)  F – V – V.

04 – Com base no texto, é correto afirmar que:
I – Gleiser parte do pressuposto de que não há relação entre a espiritualidade e o sobrenatural.
II – O autor considera que tudo já foi conhecido por meio da ciência.
III – O objetivo das ciências físicas é identificar as manifestações da natureza e o seu funcionamento.
        Das proposições acima, apenas:
a)   I está correta.
b)   II está correta.
c)   III está correta.
d)   I e II estão corretas.
e)   I e III estão corretas.

05 – Conforme o texto, é correto afirmar que:
a)   O estudo do desconhecido, na ciência, ocorre por meio dos métodos racionais.
b)   O desconhecido, na ciência, está relacionado ao sobrenatural.
c)   A relação entre espiritualidade e misticismo é um argumento defendido pelo autor.
d)   A contemplação é uma forma de acesso ao conhecimento científico.
e)   Einstein já havia percebido a importância da religião na ciência.

06 – Com base no texto, é correto afirmar que:
I – A maior parte das pessoas considera impossível transcender por meio da razão.
II – A matéria é o que existe, e sua relação se dá com as forças físicas.
III – O uso da razão pressupõe tornar maleável a adesão ao ceticismo.
        Das proposições acima:
a)   Apenas I está correta.
b)   Apenas II está correta.
c)   Apenas III está correta.
d)   Apenas I e II estão corretas.
e)   I, II e III estão corretas.

07 – Com base no texto, é correto afirmar que:
I – A espiritualidade é definida como necessidade de conexão com o divino.
II – A espiritualidade natural e o misticismo são vistos, pelo autor, como formas distintas de se relacionar com o que ainda não é conhecido.
III – Os métodos racionais da ciência se constituem na forma de fazer frente ao desafio de compreender o desconhecido.
        Das proposições acima, apenas:
a)   Apenas I está correta.
b)   Apenas II está correta.
c)   Apenas III está correta.
d)   Apenas I e III estão corretas.
e)   Apenas II e III estão corretas.

08 – Conforme o texto, é correto afirmar que:
a)   O sobrenatural só pode ser conhecido por meios diversos da ciência.
b)   A atração pelo desconhecido demonstra a fuga da realidade pelo homem.
c)   As duas formas possíveis de acesso ao conhecimento são a contemplação e a espiritualidade.
d)   O intelecto serve de conexão entre a espiritualidade e a busca pelo conhecimento na ciência.
e)   A inteligência humana é capaz de avaliar a complexidade das questões da realidade material.