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domingo, 23 de março de 2025

ROMANCE: AMAR, VERBO INTRANSITIVO - FRAGMENTO - MÁRIO DE ANDRADE - COM GABARITO

 Romance: Amar, verbo intransitivo – Fragmento

                  Mário de Andrade

        [...]

        Pancadas na porta de Fräulein. Virou assustada, resguardando o peito. Abotoava a blusa:

        — Quem é?

        — Sou eu, Fräulein. Queria lhe falar.

        Abriu a porta e dona Laura entrou.

        — Queria lhe falar. Um pouco...

        — Estou às suas ordens, minha senhora.

        Esperou. Dona Laura respirava muito nervosa, não sabendo principiar.

        — É por causa do Carlos...

        — Ah... Sente-se.

        — Não vê que eu vinha lhe pedir, Fräulein, pra deixar a nossa casa. Acredite: isto me custa muito porque já estava muito acostumada com você e não faço má ideia de si, não pense! mas... Creio que já percebeu o jeito de Carlos... ele é tão criança!... Pelo seu lado, Fräulein, fico inteiramente descansada... Porém esses rapazes... Carlos...

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgv4sE61B2_J7yxt-WHy29a1XgepxRwLj3ROuUD4WtBmd2Z2HemQ2w1a2n1OX4pTsljAr0iKUImzZetccwj4Y8bQGFzwP4ACGWnEswOZT0HHszTr5SpRMWhh0Ygz26bbHa4mu5nSYl_zjPrFkcl0XfEn1Eunq4XjXSbEUVi3BHLAFK-9C01_iZBkZNRzG0/s320/51aSKRvky7L._AC_UF1000,1000_QL80_.jpg


        — Já vejo que o senhor seu marido não lhe disse o que vim fazer aqui.

        Dona Laura teve uma tontona, escancarou olhos parados:

        — Não!

        — É lamentável, minha senhora, o procedimento do senhor seu marido, evitaria esta explicação desagradável. Pra mim. Creio que pra senhora também. Mas é melhor chamar o seu marido. Ou quer que desçamos pro hol?

        Foram encontrar Sousa Costa na biblioteca. Ele tirou os olhos da carta, ergueu a caneta, vendo elas entrarem.

        — O senhor me prometeu contar a sua esposa a razão da minha presença aqui. Lamento profundamente que o não tenha feito, senhor Sousa Costa.

        Sousa Costa encafifou, desacochado por se ver colhido em falta. Riscou uma desculpa sem inteligência:

        — Queira desculpar, Fräulein. Vivo tão atribulado com os meus negócios! Demais: isso é uma coisa de tão pouca importância!... Laura, Fräulein tem o meu consentimento. Você sabe: hoje esses mocinhos... é tão perigoso! Podem cair nas mãos de alguma exploradora! A cidade... é uma invasão de aventureiras agora! Como nunca teve!. COMO NUNCA TEVE, Laura... Depois isso de principiar... é tão perigoso! Você compreende: uma pessoa especial evita muitas coisas. E viciadas! Não é só bebida não! Hoje não tem mulher-da-vida que não seja eterômana, usam morfina... E os moços imitam! Depois as doenças!... Você vive na sua casa, não sabe... é um horror! Em pouco tempo Carlos estava sifilítico e outras coisas horríveis, um perdido! É o que eu te digo, Laura, um perdido! Você compreende... meu dever é salvar o nosso filho... Por isso! Fräulein prepara o rapaz. E evitamos quem sabe? até um desastre!... UM DESASTRE!

        Repetia o “desastre” satisfeito por ter chegado ao fim da explicação.

        Passeava de canto a canto. Assim se fingem as cóleras, e os machos se impõem, enganando a própria vergonha. Dona Laura sentara numa poltrona, maravilhada. Compreendia! Porém não juro que compreendesse tudo não. Aliás isso nem convinha pra que pudesse ceder logo. Fräulein é que estava indignada. Que diabo! atos da vida não é arte expressionista, que pode ser nebulosa ou sintética. Não percebera bem a claridade latina daquela explicação. O método germanicamente dela e didática habilidade no agir, não admitiam tal fumarada de palavras desconexas. Aquelas frases sem dicionário nem gramática irritaram-na inda mais. Queria, exigia sujeito verbo e complemento. Só uma coisa julgara perceber naquele ingranzéu, e, engraçado! Justamente o que Sousa Costa pensava, mas não tivera a intenção de falar: pagavam só pra que ela se sujeitasse às primeiras fomes amorosas do rapaz.

        [...].

Mário de Andrade. Amar, verbo intransitivo. 19. ed. Belo Horizonte. Rio de Janeiro: Vila Rica Editores Reunidos, 1993. p. 75-77.

Fonte: Lições de texto. Leitura e redação. José Luiz Fiorin / Francisco Platão Savioli. Editora Ática – 4ª edição – 3ª impressão – 2001 – São Paulo. p. 203-204.

Entendendo o romance:

01 – Qual o motivo da visita de Dona Laura a Fräulein?

      Dona Laura visita Fräulein para pedir que ela deixe a casa da família, preocupada com a influência que a jovem alemã poderia ter sobre seu filho Carlos.

02 – Como Sousa Costa justifica a presença de Fräulein na casa?

      Sousa Costa alega que contratou Fräulein para "preparar" Carlos para a vida adulta, protegendo-o de "aventureiras" e dos perigos da vida na cidade, como doenças e vícios.

03 – Qual a reação de Fräulein à explicação de Sousa Costa?

      Fräulein fica indignada com a explicação de Sousa Costa, considerando-a confusa e desprovida de clareza. Ela percebe que a verdadeira intenção era que ela iniciasse sexualmente o rapaz.

04 – Como Dona Laura reage à revelação do marido?

      Dona Laura fica surpresa e atordoada com a revelação do marido, mas acaba aceitando a situação, embora não compreenda completamente as intenções de Sousa Costa.

05 – Qual a profissão de Fräulein no romance?

      Fräulein é contratada como governanta e professora de alemão para Carlos.

06 – Qual a crítica social presente no fragmento?

      O fragmento critica a hipocrisia da sociedade burguesa da época, que, sob o pretexto de proteger os jovens, explora e objetifica as mulheres.

07 – Qual o estilo literário de Mário de Andrade presente no fragmento?

      O estilo modernista de Mário de Andrade é evidente na linguagem coloquial, na ironia e na crítica social presentes no fragmento.

 

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

POESIA COMPLETA: PREFÁCIO INTERESSANTÍSSIMO - (FRAGMENTO) - MÁRIO DE ANDRADE - COM GABARITO

 Poesia completa: Prefácio Interessantíssimo – Fragmento

            Mário de Andrade

        Leitor: 

        Está fundado o Desvairismo.

        Este prefácio, apesar de interessante, inútil.

        Alguns dados. Nem todos. Sem conclusões. Para quem me aceita são inúteis ambos. Os curiosos terão o prazer em descobrir minhas conclusões, confrontando obra e dados. Para que me rejeita trabalho perdido explicar o que, antes de ler, já não aceitou.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimh0havcPt_OIGG3ot_DdG5AihJ7IiGLq4b4TKlDuL2YhSCyVSgHtdmm-HyMac4_X6ImATuHsA_D4h_owvqFUSjNE9bee3EP0uw12uu4GoXEMfgdho8xIYqmdVf_NnTYXnCiMoqCnBO3mrNggd6JXrJOrfRkOurwBE5LPrKd8HmE1SbYb_v9oZpqTy6l8/s320/DESVAIRISMO.jpg


        [...]
 
        Aliás muito difícil nesta prosa saber onde termina a blague, onde principia a seriedade. Nem eu sei.

        E desculpem-me por estar tão atrasado dos movimentos artísticos atuais. Sou passadista, confesso. Ninguém pode se libertar duma só vez das teorias-avós que bebeu; e o autor deste livro seria hipócrita si pretendesse representar orientação moderna que ainda não compreende bem.

        Não sou futurista (de Marinetti). Disse e repito-o. Tenho pontos de contacto com o futurismo. [...]

        Um pouco de teoria?

        Acredito que o lirismo, nascido no subconsciente, acrisolado num pensamento claro ou confuso, cria frases que são versos inteiros, sem prejuízo de medir tantas sílabas, com acentuação determinada.

        A inspiração é fugaz, violenta. Qualquer impecilho a perturba e mesmo emudece. Arte, que, somada a Lirismo, dá Poesia, não consiste em prejudicar a doida carreira do estado lírico para avisa-lo das pedras e cercas de arame do caminho. Deixe que tropece, caia e se fira. Arte é mondar mais tarde o poema de repetições fastientas, de sentimentalidades românticas, de pormenores inúteis ou inexpressivos.

        [...]

        Belo da arte: arbitrário, convencional, transitório – questão de moda. Belo da natureza: imutável, objetivo, natural – tem a eternidade que a natureza tiver. [...]

        Sei construir teorias engenhosas. Quer ver? A poética está muito mais atrasada que a música. Esta abandonou, talvez mesmo antes do século 8, o regime da melodia quando muito oitava, para enriquecer-se com os infinitos recursos da harmonia.

        A poética, com rara exceção até meados do século 19 francês, foi essencialmente melódica. Chamo de verso melódico o mesmo que a melodia musical: arabesco horizontal de vozes (sons) consecutivas, contendo pensamento inteligível.

        Ora, si em vez de unicamente usar versos melódicos horizontais:

        [...] fizemos que se sigam palavras sem ligação imediata entre si: estas palavras, pelo fato mesmo de não seguirem intelectual, gramaticalmente, se sobrepõem umas às outras, para nossa sensação, formando, não mais melodias, mas harmonias.

        Explico melhor:

        Harmonia: combinação de sons simultâneos.

        Exemplo:

        "Arroubos... Lutas... Setas... Cantigas... Povoar!..."

        Estas palavras não se ligam. [...]. Cada uma é fase, período elíptico, reduzido ao mínimo telegráfico.

        [...] Assim: em vez de melodia (frase gramatical) temos acorde arpejado, harmonia, – o verso harmônico. Mas, si em vez de usar só palavras soltas, uso frases soltas: mesma sensação de superposição, não já de palavras (notas) mas de frases (melodias). Portanto: polifonia poética. Assim, em "Paulicéia Desvairada" usam-se o verso melódico:

        "São Paulo é um palco de bailado russos"; o verso harmônico:

        "A cainçalha... A Bolsa... As jogatinas..." e a polifonia poética (um e às vezes dois e mesmo mais versos consecutivos):

        "A engrenagem trepida... Abruma neva..."

        Que tal? [...]

        Pronomes? Escrevo brasileiro. Si uso ortografia portuguesa é porque, não alterando o resultado, dá-me uma ortografia.

        [...]

        E está acabada a escola poética "Desvairismo".

        Próximo livro fundarei outra.

        E não quero discípulos. Em arte: escola = imbecilidade de muitos para vaidade dum só.

        [...]

Poesias completas. Ed. crítica de Diléa Zanotto Manfio. Belo Horizonte: Itatiaia. São Paulo, EDUSP, 1987.

Fonte: Português – Novas Palavras – Ensino Médio – Emília Amaral; Mauro Ferreira; Ricardo Leite; Severino Antônio – Vol. Único – FTD – São Paulo – 2ª edição. 2003. p. 252-253.

Entendendo a poesia:

01 – Qual é a principal característica do prefácio segundo o autor?

      O autor considera o prefácio "interessante, inútil". Interessante por conter dados e reflexões sobre sua poética, mas inútil pois ele acredita que quem o aceita não precisa de explicações e quem o rejeita não o aceitará mesmo com explicações.

02 – Qual a dificuldade que o autor aponta na prosa do prefácio?

      Mário de Andrade aponta a dificuldade em distinguir onde termina a "blague" (brincadeira) e onde começa a seriedade em sua escrita. Ele afirma que nem ele mesmo sabe.

03 – Como o autor se define em relação aos movimentos artísticos contemporâneos?

      O autor se confessa "passadista", admitindo que não consegue se libertar completamente das teorias artísticas que aprendeu no passado. Ele expressa dificuldade em compreender totalmente as orientações modernas e se distancia do Futurismo de Marinetti, apesar de reconhecer alguns pontos de contato.

04 – Qual a teoria poética defendida pelo autor?

      O autor acredita que o lirismo nasce no subconsciente e, após ser trabalhado pelo pensamento, cria frases que são versos completos. Ele defende que a arte não deve interferir no processo criativo inicial, mas sim trabalhar o poema posteriormente, eliminando repetições, sentimentalismos e detalhes desnecessários.

05 – Qual a distinção feita entre o belo da arte e o belo da natureza?

      O autor diferencia o belo da arte como arbitrário, convencional e transitório (questão de moda), enquanto o belo da natureza é imutável, objetivo e natural, possuindo a eternidade que a própria natureza tem.

06 – Que comparação o autor faz entre a poética e a música?

      O autor compara o desenvolvimento da música com o da poética. Enquanto a música evoluiu para a harmonia, a poética, segundo ele, permaneceu essencialmente melódica até meados do século XIX, com raras exceções.

07 – O que o autor chama de "verso melódico" e "verso harmônico"?

      O verso melódico é comparado à melodia musical, um arabesco horizontal de sons (palavras) consecutivas com pensamento inteligível. O verso harmônico, por sua vez, é a combinação de palavras sem ligação imediata, que se sobrepõem umas às outras, formando harmonias em vez de melodias.

08 – O que é a "polifonia poética" para o autor?

      A polifonia poética é a sobreposição não apenas de palavras (como no verso harmônico), mas de frases inteiras (melodias), criando uma sensação de simultaneidade e complexidade.

09 – Qual a justificativa do autor para usar "ortografia portuguesa"?

      O autor justifica o uso da ortografia portuguesa por considerar que ela não altera o resultado final de sua escrita, proporcionando-lhe uma ortografia estabelecida.

10 – O que o autor declara sobre a escola poética "Desvairismo"?

      O autor declara que o "Desvairismo" está acabado e que pretende fundar outra escola poética em seu próximo livro. Ele expressa sua aversão a discípulos, afirmando que em arte, escola é a imbecilidade de muitos para a vaidade de um só.

 

 

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

POESIA: DESCOBRIMENTO - MÁRIO DE ANDRADE - COM GABARITO

 Poesia: Descobrimento

             Mário de Andrade

Abancado à escrivaninha em São Paulo
Na minha casa da rua Lopes Chaves
De supetão senti um friúme por dentro.
Fiquei trêmulo, muito comovido
Com o livro palerma olhando pra mim.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_uzm90mkO1A9gCI_BLtJxb2lkiRRrFj4YxZIjzFgezyVsK3xmkOvRfRsJDirAlTwXWfPG8-UdTi_wukCJXYUVeP8T8zv6FuJ7kd-NYK4QvGLCQ-WMWGY6K05hKjwzSclYyvk9Fscy6Tfhyphenhyphen-hOuLE_VqrSGhbvUREF9zovypns2IwahQCGOCqs3dEDtxY/s320/Casa_Mario_de_Andrade_1.jpg


Não vê que me lembrei que lá no Norte, meu Deus!
muito longe de mim
Na escuridão ativa da noite que caiu
Um homem pálido magro de cabelo escorrendo nos olhos,
Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,
Faz pouco se deitou, está dormindo.

Esse homem é brasileiro que nem eu.

ANDRADE, Mário de. Poesias completas. 3. ed. São Paulo: Martins Editora & Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1972, p. 150.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 490.

Entendendo a poesia:

01 – Qual é o sentimento predominante no poema?

      O poema expressa um sentimento de melancolia e distanciamento. O eu lírico, em São Paulo, sente um "friúme por dentro" ao se lembrar de um homem brasileiro no Norte do país, distante de sua realidade.

02 – Que contraste é estabelecido no poema?

      O poema contrasta a vida do eu lírico em São Paulo, na "rua Lopes Chaves", com a vida de um trabalhador no Norte do Brasil. Enquanto o primeiro está "abancado à escrivaninha", o segundo, após um dia de trabalho árduo com borracha, "faz pouco se deitou, está dormindo".

03 – Qual é a importância do homem do Norte no poema?

      O homem do Norte representa a figura do brasileiro anônimo, trabalhador e distante dos centros urbanos. Sua presença no poema serve para despertar no eu lírico um sentimento de conexão e identificação, apesar da distância física e social.

04 – Como o poema aborda a questão da identidade nacional?

      Ao se referir ao homem do Norte como "brasileiro que nem eu", o poema levanta a questão da identidade nacional para além das diferenças regionais e sociais. O eu lírico reconhece no trabalhador do Norte um compatriota, um igual, com quem compartilha uma identidade brasileira comum.

05 – Qual é a linguagem utilizada no poema?

      A linguagem do poema é simples e direta, com versos livres e tom coloquial. Mário de Andrade utiliza expressões como "livro palerma" e "de supetão" para criar uma atmosfera de intimidade e proximidade com o leitor.

 

 

quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

POEMA: O DOMADOR - MÁRIO DE ANDRADE - COM GABARITO

 Poema: O Domador

             Mário de Andrade

Alturas da Avenida. Bonde 3.
Asfaltos. Vastos, altos repuxos de poeira
sob o arlequinal do céu oiro-rosa-verde…
As sujidades implexas do urbanismo.
Filés de manuelino. Calvícies de Pensilvânia.
Gritos de goticismo.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkQq-7nOjZhII5j6J9FECgR-pvtVa_yMTBHipQtfGlyGK1FIbaW3VOj6s64c2KKlTX6YX0xWEx1ZIlcwWA9GU3ZVZVTA4URmhw85scbFOmkmpnJLKEJyl1ZYBRV7D7iIT2RBGDrZucljjIDSwGcMtRLKbp9G8yOlhV4mvxqT1LQ53xNgr05UUy4QGQ5nk/s320/Bonde_destino_Meyer.jpg


Na frente o tram da irrigação,
onde um Sol bruxo se dispersa
num triunfo persa de esmeraldas, topázios e rubis…
Lânguidos boticellis a ler Henry Bordeaux
nas clausuras sem dragões dos torreões…

Mário, paga os duzentos réis.
São cinco no banco: um branco,
uma noite, um oiro,
um cinzento de tísica e Mário…
Solicitudes! Solicitudes!

Mas… olhai, oh meus olhos saudosos dos ontens
esse espetáculo encantado da Avenida!
Revivei, oh gaúchos paulistas ancestremente!
e oh cavalos de cólera sanguínea!

Laranja da China, laranja da China, laranja da China!
Abacate, cambucá e tangerina!
Guarda-te! Aos aplausos do esfuziante clown,
heroico sucessor da raça heril dos bandeirantes,
loiramente domando um automóvel!

Entendendo o poema:

01 – Qual a principal imagem que o poema "O Domador" evoca sobre a cidade?

      O poema evoca uma imagem da cidade como um espaço caótico e contrastante, repleto de movimento, cores vibrantes e elementos que representam a modernidade e a tradição. A Avenida, com seus bondes, asfaltos e multidão, é descrita como um palco onde se misturam o novo e o antigo, o belo e o feio.

02 – Que relação o poema estabelece entre o passado e o presente?

      "O Domador" estabelece uma relação tensa entre o passado e o presente. O eu lírico invoca os "gaúchos paulistas ancestremente" e seus "cavalos de cólera sanguínea" para contrastar com a figura do "esfuziante clown" que "loiramente domando um automóvel". Essa oposição revela uma nostalgia pelo passado e uma crítica à modernidade, que é vista como uma força que transforma e descaracteriza a identidade.

03 – Quais as principais características do Modernismo presentes no poema?

      "O Domador" é um poema marcadamente modernista por:

      Linguagem coloquial e experimental: O poema utiliza uma linguagem simples e direta, com neologismos e expressões coloquiais, rompendo com a tradição poética.

      Temática urbana: A cidade, com suas contradições e modernidade, é o centro do poema, refletindo a preocupação dos modernistas com a realidade brasileira.

      Valorização da identidade nacional: O poema faz referência à história brasileira, buscando construir uma identidade nacional a partir da mistura de elementos diversos.

      Visão crítica da modernidade: O poema apresenta uma visão crítica da modernização, que é vista como uma força que descaracteriza a identidade e aliena o indivíduo.

04 – Qual o significado da figura do "esfuziante clown" no contexto do poema?

      O "esfuziante clown" representa a figura do homem moderno, que se adapta às novas tecnologias e à vida urbana. Ele é um sucessor dos bandeirantes, mas domina um automóvel em vez de um cavalo. Essa figura simboliza a perda da identidade e a alienação do indivíduo diante das transformações da sociedade.

05 – Qual a importância da cor na construção do poema?

      A cor desempenha um papel fundamental na construção do poema, criando uma atmosfera vibrante e intensa. As cores vivas e contrastantes, como o "ouro-rosa-verde" do céu e as "esmeraldas, topázios e rubis" do sol, reforçam a ideia de uma cidade caótica e em constante movimento. As cores também são utilizadas para simbolizar diferentes aspectos da realidade, como a riqueza, a pobreza e a beleza.

 

segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

CONTO: TEMPO DA CAMISOLINHA - (FRAGMENTO) - MÁRIO DE ANDRADE - COM GABARITO

 Conto: Tempo da camisolinha – Fragmento

            Mário de Andrade

        [...]

        Guardo esta fotografia porque se ela não me perdoa do que tenho sido, aos menos me explica. Dou a impressão de uma monstruosidade insubordinada. [...].

        [...] Não sei por que não destruir em tempo também essa fotografia, agora é tarde. Muitas vezes passei minutos compridos me contemplando, me buscando dentro dela. E me achando. Comparava-a com meus atos e tudo eram confirmações. Tenho certeza que essa fotografia me fez imenso mal, porque me deu muita preguiça de reagir. [...]

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjixJhIVcmgImicv392hyphenhyphenWksL8ZgzhEXGNE1tbNQSKfmLZJP8bOUXffcvQ6F2d4J0iHNGFAZHYgCsQTJaf8PYRN2mIznxVAP-P7KN7xrmYZN7sSLw5_RBdzK48CKct2mfd2RDpklif0_yJmvTQWdqlv2DyuY6Yn2WIdNCavu9X4ug7dy-6nXObOO8rZhZk/s320/TRAJE.jpg

        Toda a gente apreciava os meus cabelos cacheados, tão lentos! E eu me envaidecia deles, mais que isso, os adorava por causa dos elogios. Foi por uma tarde, me lembro bem, que meu pai suavemente murmurou uma daquelas suas decisões irrevogáveis: “É preciso cortar os cabelos desse menino”. Olhei de um lado, de outro, procurando um apoio, um jeito de fugir daquela ordem, muito aflito. Preferi o instinto e fixei os olhos já lacrimosos em mamãe. Ela quis me olhar compassiva, mas me lembro como se fosse hoje, não aguentou meus últimos olhos de inocência perfeita, baixou os dela, oscilando entre a piedade por mim e a razão possível que estivesse no mando do chefe. Hoje, imagino um egoísmo grande da parte dela, não reagindo. As camisolinhas, ela as conservaria ainda por mais de ano, até que se acabassem feitas trapos. Mas ninguém percebeu a delicadeza da minha vaidade infantil. Deixassem que eu sentisse por mim, me incutissem aos poucos a necessidade de cortar os cabelos, nada: uma decisão à antiga, brutal, impiedosa, castigo sem culpa, primeiro convite às revoltas íntimas: “é preciso cortar os cabelos desse menino”. [...]

ANDRADE, Mário de. Tempo da camisolinha. Disponível em: www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=36858#OLADR%C3%83O. Acesso em: 28 fev. 2022.

Fonte: Língua Portuguesa. Linguagens – Séries finais, caderno 1. 8º ano – Larissa G. Paris & Maria C. Pina – 1ª ed. 2ª impressão – FGV – MAXI – São Paulo, 2023. p. 100.

Entendendo o conto:

01 – Qual a relação do narrador com a fotografia?

      O narrador sente uma relação complexa com a fotografia. Por um lado, ele a vê como uma comprovação de sua personalidade e de seus atos, mas por outro, reconhece que ela o influencia negativamente, alimentando sua inércia.

02 – Qual o significado dos cabelos cacheados para o narrador?

      Os cabelos cacheados representam a vaidade infantil do narrador e são uma fonte de orgulho para ele. Eles simbolizam uma parte de sua identidade e de sua autoestima.

03 – Como a família do narrador reage à decisão de cortar seus cabelos?

      A família, especialmente a mãe, demonstra uma certa indiferença à dor do menino. A decisão de cortar os cabelos é imposta de forma autoritária, sem considerar os sentimentos do narrador.

04 – Qual o impacto da decisão de cortar os cabelos na vida do narrador?

      A decisão de cortar os cabelos marca um momento de grande sofrimento para o narrador, representando uma perda de sua identidade e um primeiro contato com a imposição da vontade alheia. Esse evento desencadeia um sentimento de rebelião interior.

05 – Que sentimentos o narrador expressa em relação à sua mãe?

      O narrador demonstra ressentimento em relação à mãe por não ter defendido sua vontade. Ele a acusa de egoísmo e de não ter compreendido a importância dos cabelos cacheados para ele.

 

 

segunda-feira, 25 de novembro de 2024

CONTO: VESTIDA DE PRETO -(FRAGMENTO) - MÁRIO DE ANDRADE - COM GABARITO

 Conto: Vestida de Preto – Fragmento

            Mário de Andrade

        [...]

        [...] Se a criançada estava toda junta naquela casa sem jardim da Tia Velha, era fatal brincarmos de família, porque assim Tia Velha evitava correrias e estragos. Brinquedo aliás que nos interessava muito, apesar da idade já avançada para ele. Mas é que na casa de Tia Velha tinha muitos quartos, de forma que casávamos rápido, só de boca, sem nenhum daqueles cerimoniais de mentira que dantes nos interessavam tanto, e cada par fugia logo, indo viver no seu quarto. Os melhores interesses infantis do brinquedo, fazer comidinha, amamentar bonecas, pagar visitas, isso nós deixávamos com generosidade apressada para os menores. Íamos para os nossos quartos e ficávamos vivendo lá. O que os outros faziam, não sei. Eu, isto é, eu com Maria, não fazíamos nada. Eu adorava principalmente era ficar assim sozinho com ela, sabendo várias safadezas já mas sem tentar nenhuma. Havia, não havia não, mas sempre como que havia um perigo iminente que ajuntava o seu crime à intimidade daquela solidão. Era suavíssimo e assustador.

 
Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivNWymCsDlg0Sfv13wqAY2oydVP1zB98dB0Wh_UJD3SGoF5F3kV4Cjyzz5lCrM8ATz_U0wju6yYEXE6aAvpJul4zVNEp1Z7LQ5UAMKVtfZhNaEerGKkJfauCRx-bFuD_U7wI_wFZmx7TlvjItVM-LnTODaHybYeTcf-5K90ZA4wLp9pJ5Mfg0CvOIRMig/s1600/BRINQUEDOS.jpg



        Maria fez uns gestos, disse algumas palavras. Era o aniversário de alguém, não lembro mais, o quarto em que estávamos fora convertido em dispensa, cômodas e armários cheios de pratos de doces para o chá que vinha logo. Mas quem se lembrasse de tocar naqueles doces, no geral secos, fáceis de disfarçar qualquer roubo! estávamos longe disso. O que nos deliciava era mesmo a grave solidão.

        Nisto os olhos de Maria caíram sobre o travesseiro sem fronha que estava sobre uma cesta de roupa suja a um canto. E a minha esposa teve uma invenção que eu também estava longe de não ter. Desde a entrada no quarto eu concentrara todos os meus instintos na existência daquele travesseiro, o travesseiro cresceu como um danado dentro de mim e virou crime. Crime não, “pecado” que é como se dizia naqueles tempos cristãos… E por causa disto eu conseguira não pensar até ali, no travesseiro.

        [...]

        — Você não vem dormir também? — ela perguntou com fragor, interrompendo o meu silêncio trágico.

        — Já vou — que eu disse — estou conferindo a conta do armazém.

        Fui me aproximando incomparavelmente sem vontade, sentei no chão tomando cuidado em sequer tocar no vestido, puxa! também o vestido dela estava completamente assustado, que dificuldade! Pus a cara no travesseiro sem a menor intenção de. [...]

        Fui afundando o rosto naquela cabeleira e veio a noite, senão os cabelos (mas juro que eram cabelos macios) me machucavam os olhos. Depois que não vi nada, ficou fácil continuar enterrando a cara, a cara toda, a alma, a vida, naqueles cabelos, que maravilha! até que o meu nariz tocou num pescocinho roliço. Então fui empurrando os meus lábios, tinha uns bonitos lábios grossos, nem eram lábios, era beiço, minha boca foi ficando encanudada até que encontrou o pescocinho roliço. Será que ela dorme de verdade?… Me ajeitei muito sem-cerimônia, mulherzinha! e então beijei. Quem falou que este mundo é ruim! só recordar… Beijei Maria, rapazes! eu nem sabia beijar, está claro, só beijava mamães, boca fazendo bulha, contato sem nenhum calor sensual.

        Maria, só um leve entregar-se, uma levíssima inclinação pra trás me fez sentir que Maria estava comigo em nosso amor. Nada mais houve. Não, nada mais houve. Durasse aquilo uma noite grande, nada mais haveria porque é engraçado como a perfeição fixa a gente. O beijo me deixara completamente puro, sem minhas curiosidades nem desejos de mais nada, adeus pecado e adeus escuridão! Se fizera em meu cérebro uma enorme luz branca, meu ombro bem que doía no chão, mas a luz era violentamente branca, proibindo pensar, imaginar, agir. Beijando.

        Tia Velha, nunca eu gostei de Tia Velha, abriu a porta com um espanto barulhento. Percebi muito bem, pelos olhos dela, que o que estávamos fazendo era completamente feio.

        — Levantem!… Vou contar pra sua mãe, Juca!

        Mas eu, levantando com a lealdade mais cínica deste mundo!

        — Tia Velha me dá um doce?

        Tia Velha – eu sempre detestei Tia Velha, o tipo da bondade Berlitz, injusta, sem método — pois Tia Velha teve a malvadeza de escorrer por mim todo um olhar que só alguns anos mais tarde pude compreender inteiramente. Naquele instante, eu estava só pensando em disfarçar, fingindo uma inocência que poucos segundos antes era real.

        — Vamos! saiam do quarto!

        Fomos saindo muito mudos, numa bruta vergonha, acompanhados de Tia Velha e os pratos que ela viera buscar para a mesa de chá.

        [...].

Mário de Andrade. Vestido preto. In: Contos novos. Belo Horizonte: Vila Rica, 1996, p. 23-25.

Fonte: Linguagem em Movimento – língua Portuguesa Ensino Médio – vol. 1 – 1ª edição – FTD. São Paulo – 2010. Izeti F. Torralvo/Carlos A. C. Minchillo. p. 162-163.

Entendendo o conto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Iminente: próximo, prestes a acontecer.

·        Com fragor: ruidosamente.

·    Berlitz: nas primeiras décadas do século XX, o termo era usado para indicar rigidez, sobriedade, comumente identificada no comportamento dos imigrantes alemães.

02 – Qual a principal atividade das crianças no fragmento e qual o significado que ela carrega para os personagens?

      A principal atividade das crianças é brincar de família, dividindo-se em casais e "vivendo" em quartos separados. Essa brincadeira, embora infantil, carrega um significado profundo para os personagens, especialmente para o narrador e Maria. Ela representa a descoberta da sexualidade, do desejo e da intimidade, ainda que de forma inocente e idealizada.

03 – Qual o papel do travesseiro na narrativa e qual o seu significado simbólico?

      O travesseiro representa o objeto do desejo e da transgressão. Ele se transforma em um símbolo da descoberta do corpo e da sexualidade, incitando nos personagens sensações de culpa e de desejo ao mesmo tempo. O travesseiro é um catalisador para o primeiro beijo entre o narrador e Maria, marcando um momento de intensa emoção e descoberta.

04 – Como a figura de Tia Velha é apresentada no fragmento e qual o seu papel na narrativa?

      Tia Velha é apresentada como uma figura autoritária e moralista, que representa a censura e a repressão à expressão da sexualidade infantil. Sua descoberta do beijo entre o narrador e Maria interrompe bruscamente o momento de intimidade e inocência, introduzindo o sentimento de culpa e vergonha.

05 – Qual a importância do primeiro beijo entre o narrador e Maria para a narrativa?

      O primeiro beijo entre o narrador e Maria é um momento de grande intensidade emocional e transformação. Ele representa a passagem da infância para a adolescência, a descoberta do amor e da sexualidade. Esse momento marca profundamente o narrador, que o descreve como uma experiência de pureza e perfeição.

06 – Qual o tom predominante do fragmento e como ele contribui para a construção do significado?

      O tom predominante do fragmento é sensível e melancólico, com momentos de intensa emoção e lirismo. Esse tom contribui para a construção do significado, pois ele transmite a delicadeza e a complexidade dos sentimentos experimentados pelos personagens, especialmente a descoberta da sexualidade e do amor.

07 – Como o ambiente físico da casa de Tia Velha influencia a narrativa?

      O ambiente físico da casa de Tia Velha, com seus muitos quartos e a atmosfera de repressão, influencia a narrativa ao proporcionar o espaço ideal para a realização da brincadeira de família e para a descoberta da sexualidade. A casa se torna um microcosmo onde os personagens exploram seus desejos e confrontam seus medos.

08 – Qual a importância da memória para a narrativa e como ela se manifesta no fragmento?

      A memória é fundamental para a narrativa, pois ela permite ao narrador adulto relembrar e reinterpretar os acontecimentos de sua infância. A memória se manifesta no fragmento através da linguagem rica e sensorial, que evoca as sensações e as emoções daquela época. Através da memória, o narrador busca compreender a si mesmo e o mundo ao seu redor.

 

 

domingo, 23 de junho de 2024

POEMA: SAMBINHA - MÁRIO DE ANDRADE - COM GABARITO

 Poema: SAMBINHA 

             Mário de Andrade

Vêm duas costureirinhas pela rua das Palmeiras.
Afobadas, braços dados, depressinha,
Bonitas, Senhor! que até dão vontade pros homens da rua.
As costureirinhas vão explorando perigos…
Vestido é de seda.
Roupa-branca é de morim.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-xOHq4NVALE8Y8YTOVIKeinFqFsLDikQapMxBsE-sF_MtSY74xjXmTq-6WRqDVPaZXmkjhcM0rQximufR7scAMinGlPRkN1gSXAfT9Q2BkmZWusMzv2djeOXSuN44UQ1dJXE0_IS6g8VkKrKJ36qJ8q7BSScXzzJppaxOVsk5jBb-a3_EsJkTmWuloRM/s320/ruadaspalmeiras.jpg


Falando conversas fiadas
As duas costureirinhas passam por mim.
– Você vai?
– Não vou não!
Parece que a rua parou pra escutá-las.
Nem os trilhos sapecas
Jogam mais bondes um pro outro.
E o sol da tardinha de abril
Espia entre as pálpebras crespas de duas nuvens.
As nuvens são vermelhas.
A tardinha é cor-de-rosa.

Fiquei querendo bem aquelas duas costureirinhas…
Fizeram-me peito batendo
Tão bonitas, tão modernas, tão brasileiras!
Isto é…
Uma era ítalo-brasileira.
Outra era áfrico-brasileira.
Uma era branca.
Outra era preta.

ANDRADE, Mário de. Contos e Poemas. São Paulo: Expressão Popular, 2017. P.125-126.

Fonte: Maxi: Séries Finais. Caderno 1. Língua Portuguesa – 7º ano. 1.ed. São Paulo: Somos Sistemas de Ensino, 2021. Ensino Fundamental 2. p. 59-60.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Crespo: grosso, ondulado, áspero.

·        Morim: tecido de algodão branco e fino.

·        Roupa-branca: peças íntimas do vestuário feminino.

02 – Agora, conte com suas palavras do que trata o poema de Mário de Andrade?

      Resposta pessoal do aluno.

03 – Em determinado ponto do poema, são descritas as falas dos personagens. Indique onde estão localizadas essas falas.

      “Falando conversas fiadas / As duas costureirinhas passam por mim / – Você vai? / – Não vou não!”.

04 – Agora, com a orientação do professor (a), participe de uma experiência coletiva. O professor(a) vai falar os versos, os meninos farão a primeira pergunta e as meninas responderão (repetindo a pergunta e a resposta). Siga o roteiro abaixo.

        Professor(a): Falando conversas fiadas / As duas costureirinhas passam por mim.

        Meninos: – Você vai?

        Meninas: – Não vou não!

        Meninos: – Você vai?

        Meninas: – Não vou não!

        Observe que a fala do professor(a) funciona como “narrativa” e as perguntas dos meninos e as respostas das meninas são o discurso direto. Esse recurso no poema dá a ele o estilo prosaico, isto é, de conversa.

      Faça a regência da turma nesta atividade e peça que repitam a pergunta e a resposta. Veja se os estudantes notam que há uma alusão rítmica ao samba nas perguntas e nas respostas. A alusão desse ritmo está também nos trilhos que jogam bondes um para o outro. Não esperamos que os estudantes entendam essa alegoria.

05 – Agora, diga aos colegas qual é o sentido do poema para você.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O poema faz uma homenagem às origens do samba, ritmo nascido nos morros do Rio de Janeiro e que une brancos e negros.

06 – No fim do poema, ficamos sabendo que uma costureirinha é descendente de italianos e a outra, de africanos. Diga se você acha que “Sambinha” quer dizer “fraternidade” entre povos.

      Resposta pessoal do aluno.