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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

ROMANCE: AMOR DE PERDIÇÃO; CAP.XIX - (FRAGMENTO) - CAMILO CASTELO BRANCO - COM GABARITO

 Romance: Amor de perdição; cap. XIX – Fragmento

                 Camilo Castelo Branco 

        [...]

        "Dez anos! — dizia-lhe a enclausurada de Monchique. Em dez anos terá morrido meu pai e eu serei tua esposa, e irei pedir ao rei que te perdoe, se não tiveres cumprido a sentença. Se vais ao degredo, para sempre te perdi, Simão, porque morrerás, ou não acharás memória de mim, quando voltares".

        Como a pobre se iludia nas horas em que as débeis forças de vida se lhe concentravam no coração!

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFdOwp0ICi7TyGeHX7n4hMAugQASn6Kfp8pnjZE9objdMLY0cRvf_PBj67L6XQg7rtUwgTK2q8TH8V4x3-IN3neqySsLoO_PV9f8DWzk_8MxsfB9ilA0_kcNvQ0XvHHnWfYFcNLTg_-pyP2JGtL9k68N9sR-lpDFBpI27fMeVgFcp1J4mLTAsqtfwIrR0/s320/Amor-de-Perdicao-1.jpg


        As ânsias, a lividez, o deperecimento tinham voltado. O sangue, que criara novo, já lhe saía em golfadas com a tosse.

        Se por amor ou piedade o condenado aceitasse os ferrolhos três mil seiscentas e cinquenta vezes corridos sobre as suas longas noites solitárias, nem assim Teresa susteria a pedra sepulcral que a vergava de hora a hora.

        "Não esperes nada, mártir — escrevia-lhe ele. — A luta com a desgraça é inútil, e eu não posso já lutar. Foi um atroz engano o nosso encontro. Não temos nada neste mundo. Caminhemos ao encontro da morte... Há um segredo que só no sepulcro se sabe. Ver-nos-emos?

        Vou. Abomino a pátria, abomino a minha família; todo este solo está aos meus olhos coberto de forcas, e quantos homens falam a minha língua, creio que os ouço vociferar as imprecações do carrasco. Em Portugal, nem a liberdade com a opulência; nem já agora a realização das esperanças que me dava o teu amor, Teresa!

        Esquece-te de mim, e adormece no seio do nada. Eu quero morrer, mas não aqui. Apague-se a luz dos meus olhos; mas a luz do céu, quero-a! Quero ver o céu no meu último olhar!

        Não me peças que aceite dez anos de prisão. Tu não sabes o que é a liberdade cativa dez anos! Não compreendes a tortura dos meus vinte meses. A voz única que tenho ouvido é a da mulher piedosa que me esmola o pão de cada dia, e a do aguazil que veio dar-me a sarcástica boa-nova de uma graça real, que me comuta o morrer instantâneo da forca pelas agonias de dez anos de cárcere.

        Salva-te, se podes, Teresa. Renuncia ao prestígio dum grande desgraçado. Se teu pai te chama, vai. Se tem de renascer para ti uma aurora de paz, vive para a felicidade desse dia. E, se não, morre, Teresa, que a felicidade é a morte, é o desfazerem-se em pó as fibras laceradas pela dor, é o esquecimento que salva das injúrias a memória dos padecentes".

        As palavras únicas de Teresa, em resposta àquela carta, significativa da turbação do infeliz, foram estas:

        "Morrerei, Simão, morrerei. Perdoa tu ao meu destino... Perdi-te... Bem sabes que sorte eu queria dar-te... e morro, porque não posso, nem poderei jamais resgatar-te. Se podes, viva; não te peço que morras, Simão; quero que vivas para me chorares. Consolar-te-á o meu espírito... Estou tranquila... Vejo a aurora da paz... Adeus, até ao céu, Simão".

        [...]

Cena do filme Shakespeare apaixonado, de John Madden.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, Vol. Único. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. Ensino Médio, 1ª ed. 4ª reimpressão – São Paulo: ed. Atual, 2003. p. 182-183.

Entendendo o romance:

01 – Qual é o teor da carta de Simão para Teresa?

      A carta de Simão para Teresa é permeada por um profundo desespero e desesperança. Ele expressa a inutilidade da luta contra o destino e a iminência da morte, seja através do degredo ou da prisão. Simão declara seu ódio à pátria e à família, e pede para que Teresa o esqueça e siga em frente com sua vida.

02 – Qual é a reação de Teresa à carta de Simão?

      A reação de Teresa é de profunda tristeza e resignação. Em sua breve resposta, ela aceita seu destino e o de Simão, expressando a certeza de que morrerá. Teresa pede perdão ao seu destino e declara seu amor por Simão, expressando o desejo de que ele viva para lamentar a sua morte.

03 – Qual é a condição de saúde de Teresa neste momento?

      A saúde de Teresa está extremamente debilitada. Ela sofre de ânsias, palidez e definhamento, e a tosse a faz expelir sangue. Sua condição se deteriora rapidamente, e é evidente que ela não sobreviverá por muito tempo.

04 – O que Simão deseja em relação ao seu futuro?

      Simão expressa o desejo de morrer, mas não em Portugal. Ele anseia por ver o céu em seu último momento de vida, e não quer passar dez anos na prisão. Simão prefere a morte imediata à agonia de uma longa pena de prisão.

05 – Qual é o significado da frase "Adeus, até ao céu, Simão"?

      A frase "Adeus, até ao céu, Simão" expressa a esperança de Teresa de se encontrar com Simão após a morte. É uma mensagem de amor e fé, que transcende a realidade terrena e aponta para um futuro encontro no plano espiritual.

 

domingo, 15 de dezembro de 2024

CONTO: AMOR DE PERDIÇÃO - FRAGMENTO - CAMILO CASTELO BRANCO - COM GABARITO

 Conto: Amor de perdição – Fragmento

           Camilo Castelo Branco

        [...]

        Ao romper d'alva dum domingo de junho de 1803, foi Teresa chamada para ir com seu pai à primeira missa da igreja paroquial. Vestiu-se a menina, assustada, e encontrou o velho na antecâmara a recebê-la com muito agrado, perguntando-lhe se ela se erguia de bons humores para dar ao autor de seus dias um resto de velhice feliz. O silêncio de Teresa era interrogador.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVu-FCTgXj2LOigOo0U10Lcx1vqdUw-UebZYwIESOxpHjJLTxIAkKsARnWgq8Zq1Pj-nRG0YJ7HA_KxIIU-7ZC1wY-q7zKrUOPQVWHAcotDvkFWFYq0moSiTFAI0KDR9rli2dreewnMkEBoXNRGSmZ-yoL6tMmuIHqDmhUW9aNpAkW_LL1WFLz_jnF6LA/s320/AMOR.jpg


        -- Vais hoje dar a mão de esposa a teu primo Baltasar, minha filha. É preciso que te deixes cegamente levar pela mão de teu pai. Logo que deres este passo difícil, conhecerás que a tua felicidade é daquelas que precisam ser impostas pela violência. Mas repara, minha querida filha, que a violência dum pai é sempre amor. Amor tem sido a minha condescendência e brandura para contigo. Outro teria subjugado a tua desobediência com maus tratos, com os rigores do convento, e talvez com o desfalque do teu grande patrimônio. Eu, não. Esperei que o tempo te aclarasse o juízo, e felicito-me de te julgar desassombrada do diabólico prestígio do maldito que acordou o teu inocente coração. Não te consultei outra vez sobre este casamento, por temer que a reflexão fizesse mal ao zelo de boa filha com que tu vais abraçar teu pai, e agradecer-lhe a prudência com que ele respeitou o teu gênio, velando sempre a honra de te encontrar digna do seu amor.

        Teresa não desfitou os olhos do pai; mas tão abstraída estava, que escassamente lhe ouviu as primeiras palavras, e nada das últimas.

        -- Não me respondes, Teresa?! – tornou Tadeu, tomando-lhe cariciosamente as mãos.

        -- Que hei de eu responder-lhe, meu pai? – balbuciou ela.

        -- Dá-me o que te peço? Enches de contentamento os poucos dias que me restam?

        -- E será o pai feliz com o meu sacrifício?

        -- Não digas sacrifício, Teresa... Amanhã a estas horas verás que transfiguração se fez na tua alma. Teu primo é um composto de todas as virtudes; nem a qualidade de ser um gentil moço lhe falta, como se a riqueza, a ciência e as virtudes não bastassem a formar um marido excelente.

        -- E ele quer-me, depois de eu me ter negado? – disse ela com amargura irônica.

        -- Se ele está apaixonado, filha!... e tem bastante confiança em si para crer que tu hás de amá-lo muito!...

        -- E não será mais certo odiá-lo eu sempre?! Eu agora mesmo o abomino como nunca pensei que se pudesse abominar! Meu pai... – continuou ela, chorando, com as mãos erguidas – mate-me; mas não me force a casar com meu primo! É escusada a violência, porque eu não caso! Tadeu mudou de aspecto, e disse irado:

        -- Hás de casar! – Quero que cases! Quero!... Quando não, amaldiçoada serás para sempre, Teresa! Morrerás num convento! Esta casa irá para teu primo! Nenhum infame há de aqui pôr pé nas alcatifas de meus avós. Se és uma alma vil, não me pertences, não és minha filha, não podes herdar apelidos honrosos, que foram pela primeira vez insultados pelo pai desse miserável que tu amas! Maldita sejas! Entra nesse quarto, e espera que daí te arranquem para outro, onde não verás um raio de Sol.

        Teresa ergueu-se sem lágrimas, e entrou serenamente no seu quarto. Tadeu de Albuquerque foi encontrar seu sobrinho, e disse-lhe:

        -- Não te posso dar minha filha, porque já não tenho filha. A miserável, a quem dei este nome, perdeu-se para nós e para ela.

        [...]

CASTELO BRANCO, Camilo. Amor de perdição. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2004, p. 36-37. Fragmento.

Fonte: Português – Literatura, Gramática e Produção de texto – Leila Lauar Sarmento & Douglas Tufano – vol. 2 – Moderna – 1ª edição – São Paulo, 2010, p. 51-52.

Entendendo o conto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Desassombrada: livre de temor.

·        Prestígio: poder de atração, sedução.

·        Escusada: desnecessária.

·        Alcatifas: tapetes.

·        Vil: indigna.

·        Apelidos: sobrenome.

02 – Qual a principal tensão dramática apresentada nesse fragmento?

      A principal tensão está no conflito entre a vontade do pai, Tadeu, de casar a filha Teresa com seu primo Baltasar, e a recusa veemente de Teresa a esse casamento, motivada por um amor proibido. A imposição paterna e a resistência filial criam um embate emocional intenso.

03 – Qual o papel do amor na construção desse conflito?

      O amor é o catalisador do conflito. O amor proibido de Teresa a coloca em oposição à vontade do pai e à ordem social estabelecida. A paixão, ao mesmo tempo em que une os amantes, os separa de suas famílias e os coloca em uma situação trágica.

04 – Como o pai, Tadeu de Albuquerque, justifica sua decisão de impor o casamento à filha?

       Tadeu justifica sua decisão apelando para a honra da família, a preservação do patrimônio e a felicidade de Teresa a longo prazo. Ele argumenta que o casamento com Baltasar é a melhor opção para garantir o futuro da filha, mesmo que ela não o ame no presente.

05 – Qual a reação de Teresa diante da imposição paterna?

      Inicialmente, Teresa se mostra passiva e abalada com a decisão do pai. No entanto, à medida que a conversa avança, ela demonstra sua firme oposição ao casamento, chegando a amaldiçoar o pai e a negar sua própria identidade.

06 – Como o fragmento sugere a atmosfera psicológica dos personagens?

      O fragmento revela a angústia e a desesperança de Teresa, que se sente aprisionada e sem voz. Tadeu, por sua vez, demonstra autoridade, rigidez e uma profunda convicção em suas ações, mesmo que isso signifique causar sofrimento à filha.

07 – Que elementos do Realismo literário podem ser identificados nesse fragmento?

      O fragmento apresenta elementos característicos do Realismo, como a descrição detalhada dos ambientes e dos personagens, a valorização da psicologia individual, a crítica às instituições sociais e a linguagem direta e objetiva. A ênfase nos conflitos familiares e sociais também é uma marca do Realismo.

08 – Qual a sua expectativa em relação ao desenrolar da história a partir desse fragmento?

      A partir desse fragmento, podemos esperar um desfecho trágico, marcado pela impossibilidade de conciliar os desejos individuais com as exigências sociais. A paixão de Teresa e a obstinação de Tadeu podem levar a um final trágico, como a morte ou o exílio dos amantes.

 

domingo, 22 de maio de 2022

ROMANCE: AMOR DE PERDIÇÃO - CAPÍTULO IV - CAMILO CASTELO BRANCO - COM GABARITO

 Romance: Amor de perdição Capítulo IV

                  Camilo Castelo Branco

        [...]

        Ao romper d’alva, dum domingo de Junho de 1803, foi Teresa chamada para ir com seu pai à primeira missa da igreja paroquial. Vestiu-se a menina assustada, e encontrou o velho na antecâmara a recebe-la com muito agrado, perguntando-lhe se ela se erguia de bons humores para dar ao autor de seus dias um resto de velhice feliz. O silencio de Teresa era interrogador.

        — Vais hoje dar a mão de esposa a teu primo Baltazar, minha filha. É preciso que te deixes cegamente levar pela mão de teu pai. Logo que deres este passo difícil, conhecerás que a tua felicidade é daquelas que precisam ser impostas pela violência. Mas repara, minha querida filha, que a violência dum pai é sempre amor. Amor tem sido a minha condescendência e brandura para contigo. Outro teria subjugado a tua desobediência com maus-tratos, com os rigores do convento, e talvez com o desfalque do teu grande patrimônio. Eu, não. Esperei que o tempo te aclarasse o juízo, e felicito-me de te julgar desassombrada do diabólico prestígio do maldito, que acordou o teu inocente coração. Não te consultei outra vez sobre este casamento, por temer que a reflexão fizesse mal ao zelo de boa filha com que tu vais abraçar teu pai, e agradecer-lhe a prudência com que ele respeitou o teu gênio, velando sempre a hora de te encontrar digna do seu amor.

        Teresa não desfitou os olhos do pai; mas tão abstraída estava, que escassamente lhe ouviu as primeiras palavras, e nada das últimas.

        — Não me respondes, Teresa?! – tornou Tadeu, tomando-lhe cariciosamente as mãos.

        — Que hei de eu responder-lhe, meu pai? — balbuciou ela.

        — Dá-me o que te peço? Enches de contentamento os poucos dias que me restam?

        — E será o pai feliz com o meu sacrifício?

        — Não digas sacrifício, Teresa... Amanhã a estas horas verás que transfiguração se fez na tua alma. Teu primo é um composto de todas as virtudes; nem a qualidade de ser um gentil moço lhe falta, como se a riqueza, a ciência e as virtudes não bastassem a formar um marido excelente.

        — E ele quer-me depois de eu me ter negado? — disse ela com amargura irônica.

        — Se ele está apaixonado, filha!... e tem bastante confiança em si para crer que tu hás de ama-lo muito!...

        — E não será mais certo odiá-lo eu sempre!? Eu agora mesmo o abomino como nunca pensei que se pudesse abominar! Meu pai... — continuou ela, chorando, com as mãos erguidas — mate-me; mas não me force a casar com meu primo! É escusada a violência, porque eu não caso!

        Tadeu mudou de aspecto, e disse irado:

        — Hás de casar! Quero que cases! Quero!... Quando não, amaldiçoada serás para sempre, Teresa! Morrerás num convento! Esta casa irá para teu primo! Nenhum infame há de aqui pôr pé nas alcatifas de meus avós. Se és uma alma vil, não me pertences, não és minha filha, não podes herdar apelidos honrosos, que foram pela primeira vez insultados pelo pai desse miserável que tu amas! Maldita sejas! Entra nesse quarto, e espera que daí te arranquem para outro, onde não verás um raio de sol.

        Teresa ergueu-se sem lágrimas, e entrou serenamente no seu quarto.

        [...].

CASTELO BRANCO, Camilo. Op. cit.

Fonte: Livro – Viva Português 2° – Ensino médio – Língua portuguesa – 1ª edição 1ª impressão – São Paulo – 2011. Ed. Ática. p. 39-40.

Entendendo o romance:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Abstraído: distraído.

·        Alcatifa: tapete.

·        Desassombrado: serenado; livre de susto, de receio.

·        Escusado: justificado, perdoável.

·        Irado: furioso, enraivecido.

·        Velar: estar alerta, vigiar.

02 – Como era, provavelmente, o tom de voz de Tadeu Albuquerque em sua primeira fala à filha? Copie no caderno alguns termos ou expressões do trecho que o(a) levaram a essa conclusão.

      Provavelmente era um tom de voz calmo, amável: “Encontrou o velho na antecâmara a recebe-la com muito agrado”, “minha querida filha”, “A violência de um pai é sempre amor”, “Amor tem sido a minha condescendência e brandura para contigo”, etc.

03 – Ao expressar-se dessa maneira, o pai esperava de Teresa uma resposta positiva a seu pedido. Destaque alguns dos argumentos usados nessa primeira fala para convencer a filha a casar-se com o primo.

      “A tua felicidade é daquelas que precisam ser impostas pela violência”, “Outro teria subjugado a tua desobediência com maus tratos, com os rigores do convento, e talvez com o desfalque do teu grande patrimônio. Eu, não. Esperei que o tempo te aclarasse o juízo”, etc.

04 – Em que momento do diálogo o tom de voz de Tadeu possivelmente começa a se alterar?

      Possivelmente após Teresa perguntar a ele se conseguirá ser feliz com seu sacrifício.

05 – Em que fala o pai de Teresa se mostra irado? E como costuma ser a fala de alguém que está irado?

      Na última fala (penúltimo parágrafo). É provável que uma pessoa irada fale em voz alta, em tom ameaçador, com impetuosidade, etc.

06 – Você imagina que a voz de Teresa tenha se alterado ao longo do diálogo? Por quê?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Não, porque na época da narrativa, os filhos deviam obediência total ao pai, principalmente as filhas. Assim sendo, a Teresa mesmo sob forte emoção, não ousou alterar o tom de voz.

07 – Agora forme dupla com um colega e preparem a representação do diálogo entre Tadeu Albuquerque e Teresa para apresentar à sala.

      Resposta pessoal do aluno.

ROMANCE: AMOR DE PERDIÇÃO - CAPÍTULO II - CAMILO CASTELO BRANCO - COM GABARITO

 Romance: Amor de perdição Capítulo II

                Camilo Castelo Branco 

        [...] 

        No espaço de três meses fez-se maravilhosa mudança nos costumes de Simão. As companhias da relé desprezou-as. Saía de casa raras vezes, ou só, ou com a irmã mais nova, sua predileta. O campo, as árvores e os sítios mais sombrios e ermos eram o seu recreio. Nas doces noites de estio demorava-se por fora até ao repontar da alva. Aqueles que assim o viam admiravam-lhe o ar cismador e o recolhimento que o sequestrava da vida vulgar. Em casa encerrava-se no seu quarto, e saía quando o chamavam para a mesa. 

        D. Rita pasmava da transfiguração, e o marido, bem convencido dela, ao fim de cinco meses, consentiu que seu filho lhe dirigisse a palavra. 

        Simão Botelho amava. Aí está uma palavra única, explicando o que parecia absurda reforma aos dezessete anos. 

        Amava Simão uma sua vizinha, menina de quinze anos, rica herdeira, regularmente bonita e bem-nascida. Da janela do seu quarto é que ele a vira pela primeira vez, para amá-la sempre. Não ficara ela incólume da ferida que fizera no coração do vizinho: amou-o também, e com mais seriedade que a usual nos seus anos. 

        Os poetas cansam-nos a paciência a falarem do amor da mulher aos quinze anos, como paixão perigosa, única e inflexível. Alguns prosadores de romances dizem o mesmo. Enganam-se ambos. O amor dos quinze anos é uma brincadeira; é a última manifestação do amor às bonecas; é a tentativa da avezinha que ensaia o voo fora do ninho, sempre com os olhos fitos na ave-mãe, que a está de fronte próxima chamando: tanto sabe a primeira o que é amar muito, como a segunda o que é voar para longe. 

        Teresa de Albuquerque devia ser, porventura, uma exceção no seu amor. 

        O magistrado e sua família eram odiosos ao pai de Teresa, por motivo de litígios, em que Domingos Botelho lhe deu sentenças contra. Afora isso, ainda no ano anterior dois criados de Tadeu de Albuquerque tinham sido feridos na celebrada pancadaria da fonte. É, pois, evidente que o amor de Teresa, declinando de si o dever de obtemperar e sacrificar-se ao justo azedume de seu pai, era verdadeiro e forte. 

        [...] 

CASTELO BRANCO, Camilo. Amor de perdição. São Paulo: Ática, 2001.

Fonte: Livro – Viva Português 2° – Ensino médio – Língua portuguesa – 1ª edição 1ª impressão – São Paulo – 2011. Ed. Ática. p. 37-8.

Entendendo o romance:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Alva: primeira claridade da manhã. 

·        Cismador: pensativo. 

·        Declinar: eximir-se, recusar. 

·        Ermo: deserto. 

·        Estio: verão. 

·        Incólume: ileso, livre de dano ou perigo. 

·        Litígio: questão judicial. 

·        Obtemperar: obedecer, pôr-se de acordo. 

·        Pasmar: admirar-se de algo. 

·        Relé: ralé; a camada mais baixa da sociedade. 

·        Transfiguração: transformação na maneira de pensar e proceder. 

02 – Segundo o texto, que grande transformação o amor provocou em Simão? 

      Simão deixou de ser um rapaz intempestivo e baderneiro e passou a se dedicar a seus pensamentos, a seus afazeres pessoais. Passava mais tempo em casa, quando saía, ia a lugares mais calmos. 

03 – O que essa alteração de comportamento revela sobre o novo estado de espírito de Simão? 

      Simão encontra-se enamorado; seus pensamentos são totalmente ocupados pela pessoa que motiva esse sentimento. Tal é o seu estado de paixão que nenhuma outra sensação consegue distraí-lo. 

04 – Leia: 

        "[...] O campo, as árvores e os sítios mais sombrios e ermos eram o seu recreio. Nas doces noites de estio demorava-se por fora até ao repontar da alva. [...]" 

        O espaço é fundamental em uma narrativa não só porque determina muitas das ações das personagens, mas porque pode revelar seu estado de espírito. Por que os novos espaços por onde circula Simão são coerentes com sua transformação? 

      Porque são espaços de recolhimento, de solidão, apropriados à vivência de um sentimento intenso, que modifica e arrebata a personagem. 

05 – Explique o que é, segundo o narrador, o amor dos 15 anos. 

      É uma brincadeira que se pode realizar em segurança.

06 – Por que Teresa de Albuquerque é uma exceção em seu amor? 

      Porque a paixão que ela sente em hipótese alguma pode ser vivida em segurança, uma vez que a sua família e inimiga da de seu amado. Trata-se, portanto, de um sentimento arriscado, de uma ousadia.