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segunda-feira, 27 de novembro de 2023

POEMA: PAÍS DO AÇÚCAR - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 Poema: País do açúcar

              Carlos Drummond de Andrade

Começar pelo canudo,

passar ao branco pastel

de nata,

doçura em prata

e terminar no pudim?

 

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiS_YPyvoZcUScS6zVrLGn8I0s7E7Q9gzMVPzH_GIRw11MOUbp48yGZ4dd401UiavadOR3GZPou_WUhwcTNX5Sv9KaeexvkcN9sfVXSNaHqJEUokIbfVUf9_kmIzJrmUTxtSW1tub9UW7iNlVdoJI8ZpqKuRkNWEKSajf-UP91aKHsMszLwA1ssB9uKpEI/s1600/A%C3%87UCAR.jpg

Pois sim.

E o que boia na esmeralda

da compoteira:

molengos figos em calda,

e o que é cristal em laranja,

pêssego, cidra vidrados?

A gula, faz tanto tempo,

cristalizada.

Entendendo o texto

01. Tendo como base o poema de Drummond, pode-se afirmar que está  INCORRETO.

 a) Na primeira estrofe, os verbos estão em uma forma nominal.

 b) Na primeira estrofe, o verbo “terminar” é transitivo indireto, por ter complemento com preposição.

 c) Durante todo o poema, há apenas um verbo de ligação.

   d) Na última estrofe, há um jogo com a palavra “cristalizada”, que se refere às frutas e à gula que perpetua.

02. Quem é o eu lírico no poema "País do açúcar" de Carlos Drummond de Andrade?

    a) O poeta.

    b) Um personagem fictício.

    c) Um narrador objetivo.

    d) O próprio açúcar.

03. Qual figura de linguagem é utilizada na expressão "doçura em prata" na segunda estrofe?

     a) Metáfora.

     b) Hipérbole.

     c) Antítese.

    d) Prosopopeia.

04. Na terceira estrofe, qual é o efeito criado pela expressão "o que boia na esmeralda da compoteira"?

    a) Personificação.

    b) Hipérbole.

    c) Onomatopeia.

    d) Eufemismo.

05. Quando o eu lírico se refere à gula como "cristalizada", qual figura de linguagem está sendo empregada?

    a) Antítese.

    b) Metonímia.

    c) Metáfora.

    d) Anáfora.

06. O que representa simbolicamente o ato de "terminar no pudim" na primeira estrofe do poema?

    a) A decadência da alimentação.

    b) Ó ápice da doçura.

    c) O início de uma refeição.

    d) Uma necessidade de variedade.

 

 

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

CONTO: A HÓSPEDE IMPORTUNA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 Conto: A hóspede importuna

           Carlos Drummond de Andrade

        O joão-de-barro já estava arrependido de acolher em casa a fêmea que lhe pedira agasalho em caráter de emergência. Ela se desentendera com o companheiro e este a convidara a retirar-se. Não tendo habilidades de construtor, recorreu à primeira casa de joão-de-barro que encontrou, e o dono foi generoso, abrigando-a.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgexs8-36Oo5OViYO1XiEGhBa3jZdXn7xas1H5avhBa2EfDpPpwFEnUJfo0VUvZUDv0Dn63bpdq3Qjx0xhyjrhEf_aer3snxl0aS2QZG-yVepl4TJc_8Ftd8Gak-dEE_VzGeHWaO3-Z_3MnLFN-fNYOrsRO2shd6YqL_6RvT-1QXjlja98IKiwvv1kPGOI/s1600/JO%C3%83O.jpg


        Sucede que o joão-de-barro era misógino, e construíra a habitação para seu uso exclusivo. A presença insólita perturbava seus hábitos. Já não sentia prazer em voar e descansar, e sabe-se como os joões-de-barro são joviais. A fêmea insistia em estabelecer com ele o dueto de gritos musicais, e parecia inclinada a ir mais longe, para grande aborrecimento do solitário.

        Então ele decidiu pedir o auxílio de um colega a fim de se ver livre da importuna. O amigo estava justamente tomando as primeiras providências para fazer casa. “Antes de prosseguir, você vai me fazer um obséquio”, disse-lhe. “Vamos até lá em casa e veja se conquista uma intrusa que não quer sair de lá.”

        O segundo joão-de-barro atendeu ao primeiro e, no interior da casa deste, cativou as graças da ave. Achou-se tão bem lá que não quis mais sair. Para que iria dar-se ao trabalho de construir casa, se já dispunha daquela, com amor a seu lado?

        Assim quedaram os três, e o dono solteirão, sem força para reagir, tornou-se serviçal do par, trazendo-lhe alimentos e prestando pequenos serviços. Ainda bem que construíra uma casa espaçosa — suspirava ele.

Carlos Drummond de Andrade, in Contos Plausíveis.

Entendendo o conto:

01 – Qual o motivo que levou o joão-de-barro a acolher a fêmea em sua casa?

      O joão-de-barro acolheu a fêmea por um pedido de agasalho em caráter de emergência, pois ela havia se desentendido com seu companheiro e precisava de abrigo.

02 – Por que a presença da fêmea perturbava tanto o joão-de-barro?

      O joão-de-barro era misógino e havia construído a habitação para seu uso exclusivo, então a presença da fêmea perturbava seus hábitos solitários e joviais.

03 – Qual estratégia o joão-de-barro utilizou para se livrar da fêmea intrusa?

      Ele pediu a ajuda de um colega joão-de-barro que estava construindo uma casa próxima e pediu para que este conquistasse a fêmea para que ela saísse de sua casa.

04 – O que aconteceu após a intervenção do segundo joão-de-barro na casa do primeiro?

      O segundo joão-de-barro acabou se encantando com a casa do primeiro e a fêmea que lá estava, decidindo não sair mais, o que deixou o dono solteirão sem força para reagir.

05 – Qual foi o desfecho para o dono solteirão após se tornar serviçal do novo par na casa que ele havia construído?

      O dono solteirão acabou sendo dominado pelo novo par e se tornou serviçal deles, trazendo alimentos e prestando serviços na casa espaçosa que havia construído.

 

 

CONTO: A ESCOLA PERFEITA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 Conto: A Escola Perfeita

           Carlos Drummond de Andrade

        A Escola de Pais, fundada em Sambaíba, no Maranhão, não deu os resultados com que se sonhava. O estabelecimento tinha pouca frequência, e os pais iam beber no botequim próximo. 

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwiHzrp6RJ8uKAxVxrB6U4btrD7dJ2ceaiU0m6wrx_PHeirz-33xbq_EsUeig1C7uhCQRczfTtyoj2S3XJlT1E80F95OKL2HMGqjMUm-uGpHvvs0EI8vbq-qIKI_H_GUTvqBXA0sYISEDcvhvFS0V8-RtoVBSpzAPGLQwIZT8CyGHBQ2wjsoykID63iBQ/s1600/ESCOLA%20PAIS.png


        A direção da escola achou conveniente experimentar novos métodos, e colocou a responsabilidade do ensino nas mãos dos filhos dos alunos.

        A princípio o aproveitamento foi extraordinário, pois os adolescentes que passaram a controlar a casa exerceram disciplina severa, exigindo dos pais o máximo de aplicação, pontualidade e aproveitamento. Depois, a disciplina foi abrandando, e havia meninos que convidavam seus pais e os pais de outros meninos a trocar a aula por futebol, no que eram atendidos.

        Ao fim do semestre, a Escola de Pais tornara-se Escola de Pais e Filhos, sem programa definido, despertando imitação em outros pontos do Estado e até no Piauí.

        Era uma escola festiva, em que os macacos, as borboletas, os seixos da estrada não só faziam parte do material escolar como davam palpites sobre a matéria, por esse ou aquele modo peculiar a cada um deles. O entusiasmo foi tamanho que pais e filhos chegaram à conclusão que melhor fora transformar o estabelecimento, já então sem sede fixa nem necessidade de tê-la, numa escola natural de coisas, em que tudo fosse objeto de curiosidade, sem currículo, e surgiu a escola da natureza, sem mestres, sem alunos, sem decreto, sem diploma, onde todos aprendem de todos, na maior alegria e falta de cerimônia, até que o INCRA ou outro organismo civilizador qualquer se lembre de dividir as terras de Sambaíba em fatias burocráticas legais. Será a escola perfeita?

Contos Plausíveis, Carlos Drummond de Andrade, 1981.

Entendendo o conto:

01 – Qual era o problema inicial da Escola de Pais em Sambaíba?

    A escola tinha pouca frequência dos pais, que frequentavam um botequim próximo em vez de participarem ativamente das atividades educacionais.

02 – Quais foram os primeiros resultados após transferir a responsabilidade do ensino para os filhos dos alunos?

      Inicialmente, houve um aproveitamento extraordinário, pois os adolescentes impuseram disciplina severa, exigindo dos pais máximo de aplicação, pontualidade e aproveitamento.

03 – Como evoluiu a situação da escola após o início promissor?

      A disciplina foi diminuindo gradualmente, e alguns alunos começaram a convidar seus pais e os pais de outros alunos para trocar a aula por atividades como futebol.

04 – Qual foi a transformação final da Escola de Pais e Filhos?

      A escola evoluiu para uma Escola da Natureza, sem sede fixa, currículo ou professores, onde todos aprendiam uns com os outros, explorando a curiosidade sobre tudo.

05 – Por que a conclusão foi de que essa escola poderia ser considerada perfeita?

      A ideia de uma escola sem restrições, baseada na aprendizagem natural, sem formalidades e cerimônias, onde todos aprendem uns com os outros, foi vista como ideal até que intervenções burocráticas ou civilizatórias pudessem reestruturar o ambiente educacional.

 

 

CONTO: A FALA VEGETAL - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 Conto: A fala vegetal

           Carlos Drummond de Andrade

        “Não é mistério para os entendidos que há uma linguagem das plantas, ou, para ser mais exato, que a cada planta corresponde uma linguagem. Como a variedade de plantas é infinita, faz-se impossível ao entendimento, por muito atilado que seja, captar todas as vozes de vegetais. E só os mais perspicazes entre os humanos conseguem entender a conversa entre duas plantas de espécies diferentes: cada uma usa o seu vocabulário, como por exemplo num diálogo em que A falasse em espanhol e B respondesse em alemão.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiirg8VorUJupPDhuZgUtd7y3R6_dnnWD7cWhLaPVNMALrNdXm86u3tO7vHpIPqLv5Z5V7x4ivuM9pQBJ78xw7p-5mCbXlZrK_gNq-GZByrpPtmsJUsnryI7WdJxMET44p47RRxwuGfs9Bq9HdHC3Q760lHyy59sXZM5mmkS1zGgd5N_B_zlgFv39pnIB8/s320/LINGUAGEM.jpg 


        Levindo, jardineiro experiente, chegou a dominar as linguagens que se entrecruzavam no jardim. Um leigo diria que não se escutava nada, salvo o zumbir de moscas e besouros, mas ele chegava a distinguir o suspiro de uma violeta, e suas confidências ao amor-perfeito não eram segredo para os ouvidos daquele homem.

        Até que um dia as plantas desconfiaram que estavam sendo espionadas e planejaram a conspiração de silêncio contra Levindo. Passaram a comunicar-se por meio de sinais altamente sigilosos, renovados a cada semana. Em vão o jardineiro se acocorava a noite inteira no jardim, na esperança de decifrar o código. Enlouqueceu.

        Perdendo o emprego, as coisas não voltaram à normalidade. As plantas haviam esquecido o hábito de conversar direito. Já não se entendiam, brigavam de haste contra haste, muitas se aniquilaram em combate. O jardim foi invadido pelas cabras, que pastaram o restante da vegetação.”

Carlos Drummond de Andrade, Contos plausíveis (1981).

Entendendo o conto:

01 – Por que Levindo era capaz de entender a linguagem das plantas?

      Levindo, o jardineiro experiente, desenvolveu a habilidade de compreender a linguagem das plantas ao longo do tempo. Ele dedicou-se ao jardim e, com sua experiência, sensibilidade e atenção, conseguiu sintonizar-se com as diferentes vozes vegetais.

02 – O que levou as plantas a conspirar contra Levindo?

      As plantas suspeitaram que estavam sendo espionadas por Levindo, então planejaram uma conspiração de silêncio. Elas decidiram se comunicar por meio de sinais secretos para evitar que o jardineiro entendesse suas conversas, o que levou Levindo à loucura, tentando decifrar os novos códigos.

03 – Qual foi o desfecho da história para Levindo e o jardim após a conspiração das plantas?

      Levindo enlouqueceu tentando decifrar os novos códigos das plantas e acabou perdendo o emprego. O jardim, sem a compreensão das plantas e a interação harmoniosa que existia antes, entrou em desordem, as plantas não se entendiam mais e até brigavam, resultando na destruição do jardim pelas cabras.

04 – O que representa a mudança no comportamento das plantas após a conspiração?

      A mudança no comportamento das plantas representa a perda da harmonia e da comunicação entre elas. Antes, havia uma convivência pacífica e entendimento mútuo, mas após a conspiração, houve desordem, falta de entendimento e até conflito entre as plantas.

05 – Qual é a mensagem central transmitida por esse conto?

      O conto aborda a importância da comunicação, da compreensão mútua e da harmonia para manter um equilíbrio. A perda da capacidade de entender e se comunicar levou à desordem e destruição, mostrando a fragilidade das relações quando há falta de entendimento e comunicação.

 

 

CONTO: A COR DE CADA UM - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 Conto: A cor de cada um

            Carlos Drummond de Andrade

        Na República do Espicha-Encolhe cogitava-se de organizar partidos políticos por meio de cores. Uns optaram pelo partido rosa, outros pelo azul, houve quem preferisse o amarelo, mas vermelho não podia ser. Também era permitido escolher o roxo, o preto com bolinhas e finalmente o branco.

 Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiG9aTuLT3F66jJV8dcLl9hOOtz7sICMjyGLWLGvtwvyBUiUs3xARY9VA1z4uo_3-g9mdhYYX99w-oVpIbLA2atTg4WKPqivu_q3jTt8iEh0QRtibxghD09LcKVEFWGGzRfPLxeyFPrgoXrD_4vIGlw8IUafB15cEBy_RtmIVxXO1fsJpBOJbZrXBR_fKo/s1600/CORES.png


        – Este é o melhor – proclamaram uns tantos. – Sendo resumo de todas as cores, é cor sem cor, e a gente fica mais à vontade.

        Alguns hesitavam. Se houvesse o duas-cores, hem? Furta-cor também não seria mau. Idem, o arco-íris. Havia arrependidos de uma cor, que procuravam passar para outra. E os que negociavam: só adotariam uma cor se recebessem antes 100 metros de tecido da mesma cor, que não desbotasse nunca.

        – Justamente o ideal é a cor que não desbota – sentenciou aquele ali. – Quando o Governo vai chegando ao fim, a fazenda empalidece, e pode-se pintá-la da cor do sol nascente.

        Este sábio foi eleito por unanimidade Presidente do Partido de Qualquer Cor.

Carlos Drummond de Andrade, Contos Plausíveis.

Entendendo o conto:

01 – Qual é a proposta política central discutida no conto "A cor de cada um" de Carlos Drummond de Andrade?

      O conto explora a ideia de organizar partidos políticos com base em cores, onde cada pessoa escolhe uma cor específica para representar suas ideias políticas.

02 – Quais são algumas das cores mencionadas no conto e como são associadas às preferências políticas dos indivíduos?

      Rosa, azul, amarelo, roxo, preto com bolinhas e branco são algumas das cores mencionadas. Cada uma representa uma escolha política distinta, refletindo a diversidade de opiniões e preferências na sociedade.

03 – Como o conceito de "cor sem cor" é discutido no conto e por que alguns a consideram a melhor opção?

      A "cor sem cor" é representada pelo branco, visto como um resumo de todas as cores. Alguns acreditam que essa escolha permite mais liberdade, pois não está associada a uma cor específica.

04 – Quais são as diferentes atitudes dos cidadãos em relação às cores e como isso reflete nas negociações políticas fictícias?

      Há cidadãos que hesitam entre escolher uma única cor ou preferir uma combinação (duas-cores, furta-cor), mostrando indecisão e preferências por opções mais complexas. Alguns tentam mudar de cor, enquanto outros negociam benefícios antes de fazer sua escolha.

05 – Quem é eleito como Presidente do Partido de Qualquer Cor e por que sua escolha reflete um consenso?

      Um sábio é eleito por unanimidade como Presidente do Partido de Qualquer Cor. Sua escolha reflete a aceitação geral, já que ele propõe uma visão flexível e inclusiva, representando aqueles que preferem não se vincular a uma única cor política.

 

domingo, 29 de outubro de 2023

POEMA: CORAÇÃO NUMEROSO - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 Poema: Coração numeroso

            Carlos Drummond de Andrade

Foi no Rio.
Eu passava na Avenida quase meia-noite.
Bicos de seio batiam nos bicos de luz estrelas inumeráveis.
Havia a promessa do mar
e bondes tilintavam,
abafando o calor
que soprava no vento
e o vento vinha de Minas.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNADL6cZ6IzR_ZP_FPtFURZrPwuWhbUzhmPLZb9Son0KFISbbXkS17R3sFeOtCddwJIeV3FD8qSHlsLde4cvVUCCwbSM7SEOKzaQaoS-DZPKqmNi38aEzdipgffQTpw1lfMYczIXSoiKxq11EzuqsMm1BDwOtQ7rvtMBxMiH64ZUbH7bilsUey-QNpPhg/s320/CRUZEIRO.jpeg



Meus paralíticos sonhos desgosto de viver
(a vida para mim é vontade de morrer)
faziam de mim homem-realejo imperturbavelmente
na Galeria Cruzeiro quente quente
e como não conhecia ninguém a não ser o doce vento mineiro,
nenhuma vontade de beber, eu disse: Acabemos com isso.

Mas tremia na cidade uma fascinação casas compridas
autos abertos correndo caminho do mar
voluptuosidade errante do calor
mil presentes da vida aos homens indiferentes,
que meu coração bateu forte, meus olhos inúteis choraram.

O mar batia em meu peito, já não batia no cais.
A rua acabou, quede as árvores? a cidade sou eu
a cidade sou eu
sou eu a cidade
meu amor.

De: “Alguma poesia”. In: Poesia completa. Org. de Gilberto Mendonça Teles. Introdução de Silviano Santiago. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002, p.20-12.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o cenário do poema "Coração numeroso"?

      O cenário do poema é a cidade do Rio de Janeiro, especificamente a Avenida, quase à meia-noite.

02 – Que elementos naturais são mencionados no poema?

      O poema menciona estrelas, o mar e o vento que vem de Minas Gerais.

03 – Como o poeta descreve seus sentimentos em relação à vida?

      O poeta descreve seus sentimentos como "paralíticos sonhos" e "desgosto de viver", expressando uma vontade de morrer.

04 – O que o poeta compara a si mesmo na Galeria Cruzeiro?

      O poeta se compara a um "homem-realejo imperturbavelmente" na Galeria Cruzeiro.

05 – Por que o poeta menciona "a cidade sou eu"?

      O poeta menciona "a cidade sou eu" para expressar uma profunda identificação com a cidade e seus elementos.

06 – O que causa uma forte reação emocional no poeta no poema?

      O poeta tem uma forte reação emocional devido à "voluptuosidade errante do calor" e à beleza da cidade e do mar.

07 – Qual é a promessa que o poeta sente em relação ao mar?

      O poeta sente a promessa do mar, possivelmente sugerindo uma sensação de esperança ou expectativa em relação ao futuro.

 

 

POEMA: SENTIMENTO DO MUNDO - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 Poema: SENTIMENTO DO MUNDO

            CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZaoGZgfMNagPaWX7pw6zNbCd741nnf_V_MW9B9isy9T53DU7hmHXjfuf-DqfhqxaFG7y-5tF7j82bOPLIk5vTv_iJuZDNVGcGu4lWh0O9P8gGJzgk3OyDPyA9Zx2QTMRAWJAEyu4DClsTB9pO0NKapUGCCURUTJZN3lV5b9qv3FuGpix_WGv9adNgReY/s320/SENTIMENTO.jpg


Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.

Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.

Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microscopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer

esse amanhecer
mais noite que a noite.

Carlos Drummond de Andrade.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o sentimento predominante no poema?

      O sentimento predominante no poema é de desolação e alienação em relação ao mundo.

02 – Que metáfora é usada para descrever a sensação de solidão no poema?

      A metáfora usada é a de "ficar sozinho desfiando a recordação", o que sugere uma sensação de isolamento.

03 – O que o autor expressa sobre o estado do mundo e sua própria condição no poema?

      O autor expressa um sentimento de desamparo e desconexão em relação ao mundo. Ele se sente impotente diante das injustiças e da degradação do mundo e da sociedade.

04 – Por que o autor menciona "escravos" no início do poema?

      O autor menciona "escravos" no início do poema para simbolizar a sensação de sobrecarga e opressão que ele sente, como se estivesse sobrecarregado com as preocupações do mundo.

05 – O que os camaradas do autor não disseram e por que isso é significativo?

      Os camaradas não disseram que havia uma guerra e que era necessário trazer fogo e alimento. Isso é significativo porque sugere que o autor se sente despreparado e não informado em um momento crítico, o que aumenta seu sentimento de impotência.

06 – Qual é o significado da última estrofe, que menciona o "amanhecer mais noite que a noite"?

      A última estrofe sugere um amanhecer sombrio e desolador, simbolizando a falta de esperança e a escuridão que o autor sente em relação ao mundo e à sua própria vida.

 

 

domingo, 22 de outubro de 2023

POESIA: PARÊMIA DE CAVALO - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 Poesia: Parêmia de cavalo

              Carlos Drummond de Andrade

Cavalo ruano corre todo o ano

Cavalo baio mais veloz que o raio

Cavalo branco veja lá se é manco

Cavalo pedrês compro dois por mês

Cavalo rosilho quero com filho

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfLCBcmeeql5XJ05hW4CCEzlACXi2Z99FOY8W7f2P0Jj8dYyNdVrmEt2Q9gdhpaKW6H0Dfx77_omK-i5YP6qoTOG2uFSStcWs_eabeOFzNtFyfzACvGf_qYaQecVBho1oAUhHc7tpqwm8T9j4F0LJps7Ll_5LQlIj9tCURkTCdsplO6uGfSm_gBIbqHcs/s1600/CAVALO.jpg

Cavalo alazão a minha paixão

Cavalo inteiro amanse primeiro

Cavalo de sela mas não pra donzela

Cavalo preto chave de soneto

Cavalo de tiro não rincho, suspiro

Cavalo de circo não corre uma vírgula

Cavalo de raça rolo de fumaça

Cavalo de pobre é vintém de cobre

Cavalo baiano eu dou pra fulano

Cavalo paulista não abaixa a crista

Cavalo mineiro dizem que é matreiro

Cavalo do sul chispa até no azul

Cavalo inglês fica pra outra vez.

Carlos Drummond de Andrade.

Entendendo a poesia:

01 – Quem é o autor da poesia "Parêmia de cavalo"?

      O autor da poesia é Carlos Drummond de Andrade.

02 – Quantos tipos diferentes de cavalos são mencionados na poesia?

      A poesia menciona treze tipos diferentes de cavalos.

03 – Qual é a característica do cavalo ruano mencionada na poesia?

      O cavalo ruano é descrito como "corre todo o ano."

04 – O que o autor quer com o cavalo rosilho?

      O autor expressa o desejo de ter um cavalo rosilho com um filho.

05 – O que acontece com o cavalo de circo na poesia?

      O cavalo de circo é descrito como "não corre uma vírgula."

06 – Qual é a atitude do autor em relação ao cavalo paulista na poesia?

      O autor sugere que o cavalo paulista "não abaixa a crista."

07 – O que é dito sobre o cavalo inglês no poema?

      O poema indica que o cavalo inglês "fica para outra vez," ou seja, não é mencionado ou tratado em detalhes na poesia.

 

 

POESIA: ROMARIA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 Poesia: Romaria

             Carlos Drummond de Andrade

A Milton Campos

Os romeiros sobem a ladeira
cheia de espinhos, cheia de pedras,
sobem a ladeira que leva a Deus
e vão deixando culpas no caminho.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmPze_4yq8OImBsVOgXS-NS69MJZVwJi3tXNkt6ri2JXftcuQ06K8FdoVoVBAypGiqOKYCShlyYukQZmPQFkoDxXB5aKTWsRxdRyz7l-ybprKJt_ifhSJhcAcwy9gRy4StxtexD3D3G5OmijhT7KCM5QcD6z1mIe_Qwm4QikTy-BMtwepfobRQO6hW_Qo/s320/ROMEIROS.jpg 



Os sinos tocam, chamam os romeiros:
Vinde lavar os vossos pecados.
Já estamos puros, sino, obrigados,
mas trazemos flores, prendas e rezas.

No alto do morro chega a procissão.
Um leproso de opa empunha o estandarte.
As coxas das romeiras brincam no vento.
Os homens cantam, cantam sem parar.

Jesus no lenho expira magoado.
Faz tanto calor, há tanta algazarra.
Nos olhos do santo há sangue que escorre.
Ninguém não percebe, o dia é de festa

No adro da igreja há pinga, café,
imagens, fenômenos, baralhos, cigarros
e um sol imenso que lambuza de ouro
o pó das feridas e o pó das muletas.

Meu Bom Jesus que tudo podeis,
humildemente te peço uma graça.
Sarai-me, Senhor, e não desta lepra,
do amor que eu tenho e que ninguém me tem.

Senhor, meu amo, dai-me dinheiro,
muito dinheiro para eu comprar
aquilo que é caro mas é gostoso
e na minha terra ninguém não possui.

Jesus meu Deus pregado na cruz,
me dá coragem pra eu matar
um que me amola de dia e de noite
e diz gracinhas a minha mulher.

Jesus Jesus piedade de mim.
Ladrão eu sou mas não sou ruim não.
Por que me perseguem não posso dizer.
Não quero ser preso, Jesus ó meu santo.

Os romeiros pedem com os olhos,
pedem com a boca, pedem com as mãos.
Jesus já cansado de tanto pedido
dorme sonhando com outra humanidade.

Carlos Drummond de Andrade. @ Granã Drummond

Entendendo a poesia:

01 – Quem é o destinatário da poesia "Romaria" de Carlos Drummond de Andrade?

      O destinatário da poesia é Milton Campos.

02 – O que os romeiros fazem enquanto sobem a ladeira na poesia?

      Os romeiros sobem a ladeira cheia de espinhos e pedras, deixando suas culpas no caminho.

03 – O que os sinos fazem para os romeiros na poesia?

      Os sinos chamam os romeiros e os convidam a lavar seus pecados.

04 – O que é empunhado por um leproso na procissão?

      Um leproso empunha o estandarte na procissão.

05 – O que os homens fazem na poesia quando chegam ao alto do morro na procissão?

      Os homens cantam sem parar quando chegam ao alto do morro.

06 – O que Jesus está fazendo no poema enquanto a festa acontece?

      Jesus está pregado na cruz e expira magoado enquanto a festa ocorre.

07 – Qual é o desejo do narrador na poesia "Romaria"?

      O narrador pede a Jesus que o livre da "lepra" do amor que ele tem e ninguém mais tem. Além disso, ele pede dinheiro para comprar algo caro e gostoso que ninguém mais tem em sua terra, e também pede coragem para lidar com alguém que o incomoda.

POEMA: CANTIGA DE VIÚVO - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 Poema: CANTIGA DE VIÚVO

            Carlos Drummond de Andrade

A noite caiu na minh’alma,
fiquei triste sem querer.
Uma sombra veio vindo,
veio vindo, me abraçou.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBJOqbUv0rIWC_dmrMIQG0lrxyCTym37XLJRfI6vqMlr2aZ5lHqmHWk_DZGec8xC1QprLqW5O2zi6jyTTJ07af3KPx7SOkDNSMgeF__YzdSOmLpNaLHjf8xXQbtwcNUNsWASmELF2iuoyhaoB3iXWQ0TPK2_A5fHxc7aRap39kRuV9jS-uYXtfR25zcNw/s1600/ALMA.jpg


Era a sombra de meu bem
que morreu há tanto tempo.

Me abraçou com tanto amor
me apertou com tanto fogo
me beijou, me consolou.

Depois riu devagarinho,
me disse adeus com a cabeça
e saiu. Fechou a porta.
Ouvi seus passos na escada.
Depois mais nada...

acabou.

 Carlos Drummond de Andrade, Fazendeiro do ar.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o sentimento predominante no poema "Cantiga de Viúvo"?

      O sentimento predominante no poema é a tristeza.

02 – Quem é a sombra que o eu lírico descreve no poema?

      A sombra descrita no poema é a sombra de alguém que o eu lírico amava e que morreu há muito tempo.

03 – Como a sombra é descrita quando abraça o eu lírico?

      A sombra é descrita como abraçando o eu lírico com amor, apertando-o com fogo e o beijando, proporcionando consolo.

04 – O que a sombra faz após abraçar o eu lírico?

      Após abraçar o eu lírico, a sombra ri devagarinho, diz adeus com a cabeça e sai, fechando a porta.

05 – O que o eu lírico ouve após a sombra sair e fechar a porta?

      O eu lírico ouve os passos da sombra na escada.

06 – Qual é a sensação final do eu lírico no poema?

      A sensação final do eu lírico é de que tudo acabou após a saída da sombra.

07 – Qual é o tema central do poema "Cantiga de Viúvo"?

      O tema central do poema é a solidão e a saudade de alguém que partiu, deixando o eu lírico com um profundo sentimento de perda.

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

POESIA: VERDADE - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 Poesia: VERDADE

             Carlos D. de Andrade

A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgA8Wm10NKpZkUpZiAZ1nlCAnf-3eBkzU9OB8BBYce6dLUn1wTEQcz6hURz1ZjpatL0h7YS3tWryGuC_T9R2X4NFasTJLkR-ihr_LSbsBtb-HxlE-Z0FIICWFfDWPs0nAbW6eiDYl9vXueoY6ZwlNfqt_-lfK3DjvVPn1gbjbUt_PvUq0d3gfOL-fiBhc0/s320/PORTA.jpg



Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.

E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os dois meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram a um lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em duas metades,
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
As duas eram totalmente belas.
Mas carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

 ANDRADE, Carlos D. de. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002.

Entendendo a poesia:

01 – Qual é o tema principal da poesia "VERDADE" de Carlos D. de Andrade?

      O tema principal da poesia é a busca da verdade e a complexidade de alcançá-la.

02 – Por que a porta da verdade só permitia a passagem de "meia pessoa de cada vez"?

      A porta da verdade só permitia a passagem de "meia pessoa de cada vez" para enfatizar que a verdade é difícil de alcançar e que as pessoas só podem compreendê-la parcialmente.

03 – O que aconteceu quando a porta da verdade foi arrebentada?

      Quando a porta da verdade foi arrebentada, as pessoas chegaram a um lugar luminoso onde a verdade se dividia em duas metades diferentes.

04 – Como as duas metades da verdade eram descritas no poema?

      As duas metades da verdade eram descritas como igualmente belas, mas diferentes uma da outra.

05 – Por que as pessoas tiveram que optar entre as duas metades da verdade?

      As pessoas tiveram que optar entre as duas metades da verdade de acordo com seu capricho, ilusão ou miopia, pois não podiam compreender a verdade em sua totalidade.

06 – Qual é o significado simbólico da porta da verdade no poema?

      A porta da verdade simboliza a dificuldade de alcançar uma compreensão completa da verdade e a necessidade de enfrentar desafios e incertezas ao buscá-la.

07 – Qual é a mensagem principal que o poema transmite aos leitores?

      A mensagem principal do poema é que a verdade é complexa e subjetiva, e que a busca da verdade muitas vezes envolve escolhas pessoais e interpretações individuais.

08 – Qual é a sua opinião sobre as meias verdades?

      Resposta pessoal do aluno.

 

quinta-feira, 19 de outubro de 2023

CRÔNICA: HORÓSCOPO - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 CRÔNICA: HORÓSCOPO

              Carlos Drummond de Andrade

        -- Telefonaram do escritório, bem. Seu chefe mandou perguntar por que você não foi trabalhar?

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0qCL7boqlhXy1ixf5pXOouxCrCoCc60qm_Udn0OG370jzTRdAj5Xqa7_jbeG56J4j-7ffBZcVEp26bI3z8UvhV2p0D4uAJdt1HD537vGGdYTCL8EWPssK3tNYJP4p-R53F7TCS0vrTQ5UlH4YAsDocDJ_Fa3yrLO2nciKWaSIINsCjX9cT0ChbVVeeT0/s1600/HOROSCOPO.jpg


        -- E você deu o motivo?

        -- Não.

        -- Ora, Alfredinho, isso é motivo que se dê?

        -- Por que não? Se há motivo, está justificado. Sem motivo é que não cola.

        -- Então eu ia dizer ao seu chefe que você não trabalha hoje porque o seu horóscopo aconselha: “Fique em casa descansando?”

        -- E daí amor? Se meu signo é Touro, e se Touro acha conveniente que eu não faça nada, como é que eu vou desobedecer a ele?

        -- É, mas com certeza seu chefe não é Touro, e não vai achar graça nisso.

        -- Ele é Áries, está ouvindo? E o dia não está para relações entre Áries e Touro. Pega aí o jornal. Faz favor de ler com esses belos olhos cor de pervinca: “Áries – evite rigorosamente discussões com subordinados”.

        -- Mas se ele evitar, não tem perigo para você.

        -- Ele pode evitar, sim, deve evitar. E para colaborar com ele, eu fico em casa.

        -- Mas se você não comparecer, ele pode vir ao telefone e pegar uma discussão danada com você, dessas de sair fogo.

        -- Não atendo telefone durante o dia. Não posso atender. Não vê que estou descansando, que o horóscopo me mandou descansar? É favor não fazer rebuliço nesta casa. Amor e paz, para o descanso do guerreiro.

        -- Para mim você está com preguiça e das bravas.

        -- Posso estar com preguiça, e daí? Preguiça é relaxante, restaura as energias, predispõe para o trabalho no dia seguinte. Mas uma coisa não tem nada a ver com a outra. Se eu não faço nada hoje, não é porque estou com preguiça. É em atenção a um mandamento superior, à mensagem que vem dos astros, você não percebe?

        -- Percebo, sim, mas não concordo.

        -- Pode-se saber por que a excelentíssima não concorda com aquilo que percebe e que está devidamente explicado?

        -- Pode.

        -- Então explica, vamos.

        -- Gozado, Alfredinho, até parece que para você só existem dois signos no zodíaco: Touro e Áries, você e o patrão.

        -- Espera lá, você queria que eu prestasse atenção em Touro? Áries eu li hoje por acaso, porque está ao lado de Touro, em coluna paralela.

        -- Coincidência: você saber que seu chefe é Áries, e...

        -- É, sim.

        -- E por que você guardou na cabeça que ele é Áries?

        -- Ora por que! Ele fez anos no mês passado, amorzinho. Até contei a você que oferecemos a ele uma batedeira. Soubemos que a mulher dele precisava de batedeira, fizemos uma vaquinha, pronto. Mas por que você diz que para mim só existem dois signos?

        -- Pelo menos Sagitário você ignora.

        -- Como eu iria ignorar Sagitário, se é o signo de você, minha orquídea de novembro 25?

        -- É, mas esqueceu de ler que o dia é propício para reuniões sociais de Sagitário, e saiba que esta sua orquídea de novembro 25 vai reunir hoje as amigas aqui em casa. Trate de se mandar, querido.

        -- Sem essa! Touro me manda descansar em casa, e você me enche a casa com mulheres?

        -- É Sagitário que recomenda, monange.

        -- Sagitário não ia fazer isso comigo! Eu tinha harmonizado Touro com Áries!

        -- Pode continuar harmonizando, se for descansar em casa do Tostes, que é Virgem, eu sei, ele é nosso padrinho de casamento.

        Assim, Touro, Virgem, Áries e Sagitário ficam inteiramente harmonizados, cada um na sua, um por todos, todos por um. Ande, vá se vestir rapidinho, rapidinho, e rua, seu vagabundo!

Carlos Drummond de Andrade.

Entendendo o texto:

01 – Por que Alfredo não foi trabalhar, de acordo com o texto?

      Alfredo não foi trabalhar porque seu horóscopo, como signo de Touro, aconselhou que ele ficasse em casa descansando.

02 – Qual é o signo do chefe de Alfredo?

      O chefe de Alfredo é do signo Áries.

03 – Por que Alfredo acredita que não deve ir trabalhar quando seu chefe é de Áries?

      Alfredo acredita que não deve ir trabalhar porque o horóscopo recomendou que ele evitasse discussões com subordinados, e ele quer colaborar com o chefe evitando conflitos.

04 – Qual é o signo da esposa de Alfredo?

      A esposa de Alfredo é de Sagitário.

05 – Por que a esposa de Alfredo está reunindo suas amigas em casa?

      Ela está reunindo suas amigas em casa porque o horóscopo de Sagitário recomenda reuniões sociais, e ela deseja seguir essa recomendação.

06 – Qual é o argumento de Alfredo para justificar sua recusa em ir para casa quando sua esposa está reunindo amigas?

      Alfredo argumenta que seu horóscopo de Touro recomenda que ele descanse em casa, o que entra em conflito com a recomendação do horóscopo de Sagitário de sua esposa.

07 – Qual é a relação de Virgem com o texto?

      Virgem é mencionado no final do texto como o signo de Tostes, o padrinho de casamento de Alfredo e sua esposa, o que contribui para a harmonia dos signos no contexto da história.