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domingo, 17 de julho de 2022

CONTO: O VEADO E A ONÇA - PARTE 2 - ANA MARIA MACHADO - COM GABARITO

 Conto: O veado e a onça – Parte 2 

              Ana Maria Machado

        O veado bem que ficou com medo, afinal onça é onça... Mas ele tinha trabalhado muito para fazer aquela casa e não ia entregar assim, para a primeira valentona que aparecesse:

        – Desculpe, Dona Onça, mas deve haver algum engano. Essa casa é minha, fui eu que fiz. Quem sabe a senhora não se enganou de lugar, assim, no escuro?

        Primeiro, a onça ficou ainda mais furiosa ao ouvir aquilo. Rosnou e berrou:

        – Está achando que eu sou idiota, é? Que não sei onde foi que eu mesma trabalhei tantas noites?

        Mas o veado ficou firme:

        – A senhora me desculpe, mas quem trabalhou aqui fui eu, muitos dias. Limpei o terreno, finquei os esteios, levantei as paredes, preparei o telhado, o encanamento, as portas e as janelas...

        A onça foi desconfiando de alguma coisa e respondeu, já berrando menos:

        – E eu cortei as varas e as taquaras, completei as paredes, botei a palha no telhado, fiz o encanamento, fechei as portas e as janelas...

        Ouvindo isso, o veado entendeu alguma coisa. Os dois se olharam ressabiados, cada um deu um sorriso sem graça...

        – E o tempo todo eu achava que era o deus da mata me ajudando... – disse o veado.

        – Pois é... Eu também achava – confessou ela.

        – Então eu trabalhava de dia e a senhora trabalhava de noite...

        Os dois entenderam tudo. Mais havia um problema: de quem era a casa, agora que estava pronta?

        Todos os dois achavam que eram donos da casa, e não queriam desistir.

        – Tenho uma ideia! – exclamou a Onça – Se nós fizemos a casa juntos, podemos morar juntos. Somos sócios.

        “Morar com uma onça?”, pensou o veado. “Não pode dar certo...”

        – Acho até que vai ser muito bom – insistiu ela – Você sai de dia para pastar, eu saio de noite para caçar. Nós não vamos nos encontrar nunca. E vai ter sempre alguém na casa, ela vai estar sempre bem cuidadinha...".

        “Vai ser perfeito”, pensava a onça. “Fico com uma casa ótima, que nem deu muito trabalho, e ainda guardo uma reserva de comida dentro dela. Se algum dia não encontrar caça, créu! É só comer o sócio!”

        O veado acabou concordando, porque não queria entregar a casa que lhe dera tanto trabalho. Mas sabia que aquela sociedade era muito arriscada e tratou de ficar atento ao perigo.

        Durante alguns dias, a combinação deles funcionou. Mas a onça não aguentava mais de vontade de comer o veado e resolveu começar a assustá-lo, pensando que se ele tivesse medo dela, não ia lutar quando ela avançasse nele um dia. E para mostrar que era forte e sabia matar, passou a trazer para casa os restos da caçada da noite.

        O veado acordava cedo, ia saindo, e lá vinha a onça com um coelho, uma paca ou um quati que ela mesma tinha caçado.

        O Veado foi ficando cada dia mais preocupado e acabou contando para os amigos o que tinha acontecido. Todos resolveram ajudar. Um deles disse:

        – Eu vi lá na aldeia do homens uma pele de onça esticada para secar no sol. Podíamos pedir emprestada...

        – Isso mesmo! – concordou o veado – Vou dizer que é um tapete novo para a casa.

        E assim fizeram.

        Quando vinham voltando com a pele de onça, aí, sim, foi que o deus da mata ajudou. Porque encontraram no caminho o cadáver de uma onça que tinha despencado de uma ribanceira e morrido. Resolveram levar também.

        Era pesadíssima! Precisavam juntar quatro veados forte para conseguir levar, e toda hora ela escorregava, eles tinham que aparar com a ajuda dos chifres, e ela foi ficando toda espetada. Finalmente, quando já estava anoitecendo, chegaram perto da casa.

        O dono da casa foi na frente, com a pele da onça. Os quatros amigos vinham mais atrás, devagar.

        Chegando no quintal, com a pele enrolada, ele viu duas onças, e a que dividia a casa com ele foi dizendo:

        – Você não se incomoda, não é? Chamei uma amiga para vir jantar comigo hoje...

        Ele levou um susto, ficou com o coração batendo apressado. Mas aguentou firme, e respondeu como se não ligasse:

        – Me incomodar? Por quê? Acho ótimo! Eu estava mesmo querendo dar uma festa hoje, para inaugurar este tapete novo que eu trouxe para nossa casa...

        E desenrolou a pele

        As duas onças esperavam por tudo, menos por aquilo. A dona da casa engoliu em seco e perguntou:

        – Onde foi que o senhor conseguiu isso, compadre?

        E o veado reparou que, pela primeira vez na vida, ela o chamava de senhor... Sinal de respeito. Respondeu, com um ar distraído, aproveitando para chamar a onça de você:

        – Cacei lá para as bandas da figueira-brava... Como você deve saber, nós, os veados, temos um jeito secreto de dar chifradas em onça, que é tiro e queda. Ela morre na hora. Por isso é que casa de veado é sempre quentinha, toda forrada de pele de onça, bem macia. Você não sabia?

        As duas se entreolharam. Ele continuou:

        – Mas vocês não precisam ficar com medo. Acho que com estas duas peles já dá para forrar quase todo chão da casa...

        – O senhor disse duas? Mas é uma só...

        – Uma aqui na minha mão, já pronta... A outra onça eu larguei ali no terreiro, e os meus amigos me ajudar a esfolar... – disse ele, apontando para o cadáver todo marcado de chifradas, no chão do quintal, com quatro veados enormes ao lado.

        As duas onças começaram tremer, e um dos veados olhou para elas e exclamou:

        – Oba! Mais dois tapetes!

        O dono as casa se adiantou, com um ar protetor, e disse:

        – Não, nestas aqui ninguém toca. Uma é minha sócia, outra é minha hóspede...

        Mas as onças foram recuando, meio sem graça, e a dona da casa disse:

        – Na verdade, compadre, eu estava só esperando o senhor chegar para me despedir. Eu estou de mudança, sabe?

        – É... – confirmou a outra. – Ela vai morar comigo. Eu tenho uma caverna muito jeitosa, fresquinha, com bastante espaço, e ando querendo companhia...

        Na mesma hora, o veado aprovou a ideia:

        – Bom, se é assim, seja feliz! E não me leve a mal, mas confesso que até acho bom, porque meus amigos podem vir morar comigo, e num instante vamos conseguir as outras peles que faltam para forrar as paredes e o resto do chão...

        Fez uma pausa e perguntou:

        – Aliás, você não quer deixar o endereço novo, explicar bem explicado onde fica essa caverna?

        A onça foi s afastando com a amiga. Já saindo da clareira, se virou para trás e disse:

        – É muito longe, compadre, muito longe. O senhor não ia achar... Muito longe!

        Deve ser. Porque elas nunca mais voltaram. Nunca mais mesmo.

     MACHADO, Ana Maria. Histórias à brasileira. A moura torta e outras. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2002, p. 39-42.

           Fonte: Língua portuguesa – Coleção Brasiliana – 5° ano – Ensino Fundamental – IBEP – 2ª ed. São Paulo – 2011. p. 43-9.

Entendendo o conto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Bandas: lados.

·        Inaugurar: usar pela primeira vez, estrear.

·        Ressabiados: desconfiado, assustado.

02 – Você gostou da forma como a onça e o veado resolveram a situação? As suas expectativas foram confirmadas ou você imaginou um desfecho trágico?

      Resposta pessoal do aluno.

03 – No começo da conversa com a onça, o veado tinha um motivo para fugir e outro para não desistir da casa. Explique esses dois motivos.

      Motivo para fugir da onça: Medo. Porque onça é onça.

·        Motivo para não desistir da casa: Porque ele trabalhou muito na construção da casa, sem contar que foi ele quem achou o local.

04 – De que forma os dois animais entenderam o que havia acontecido durante a construção da casa?

a)   Um vizinho que viu tudo apareceu e explicou para eles que cada um havia feito uma parte da casa.

b)   O deus da mata apareceu e contou como ajudou a ambos.

c)   Eles foram conversando e puderam esclarecer tudo.

05 – Em seus pensamentos, de que modo a onça se refere ao veado?

a)   Reserva de comida.

b)   Deus da mata.

c)   Caça.

d)   Compadre.

e)   Sócio.

f)    Amigo.

06 – Explique as expressões destacadas:

a)   “A dona da casa engoliu em seco...”.

Porque foi um susto, as onças jamais esperariam que os veados pudessem matar uma onça.

b)   “... temos um jeito secreto de dar chifradas em onça, que é tiro e queda”.

Quer dizer que as chifradas seriam certeira sem chance de vida para onças.

07 – Por que a onça disse ao veado que convidou uma amiga para o jantar?

      Porque tinham a intensão de jantar o veado.

08 – O que fez a onça decidir ir embora de vez com a amiga e deixar a casa para o veado?

      Medo de ser atacadas pelos veados, depois de tudo o que elas viram.

09 – Os contos populares podem ser classificados de acordo com o tema da história ou com a mensagem que eles transmitem. Como você classificaria o conto “O veado e a onça”? Explique sua resposta.

      Resposta pessoal do aluno.

a)   Conto de esperteza.

b)   Conto de travessura.

c)   Conto de amizade.

d)   Conto da origem das coisas.

e)   Conto de assombramento / assombração.

10 – Ao perceber que não seria fácil decidir a quem pertencia a casa que ambos construíram, a onça teve uma ideia.

a)   Que ideia foi essa?

Se nós fizemos a casa juntos, podemos morar juntos. Somos sócios.

b)   Quais foram os dois argumentos que ela usou para convencer o veado a aceitar sua proposta?

Você sai de dia para pastar, eu saio à noite para caçar.

E vai ter sempre alguém na casa, ela vai estar sempre bem cuidadinha.

c)   Qual era a verdadeira intenção da onça?

“Vai ser perfeito”, pensava a onça. “Fico com uma casa ótima, que nem deu muito trabalho, e ainda guardo uma reserva de comida dentro dela. Se algum dia não encontrar caça, créu! É só comer o sócio!”

11 – Durante alguns dias, o acordo entre a onça e o veado funcionou, mas a onça começou a ter dificuldades para cumprir o combinado. As informações abaixo resumem o que aconteceu a partir desse momento de tensão, mas estão fora de ordem. Sua tarefa será a de indicar a sequência correta delas. Dica: a 1ª é a letra “C”.

a)   Ela começou a trazer para casa os restos da caçada da noite. 2.

b)   Ele acabou contando para os amigos o que tinha acontecido. 4.

c)   A onça resolveu assustar o veado para que ele ficasse com medo dela. 1.

d)   Os amigos do veado resolveram ajuda-lo e elaboraram um plano para assustar a onça. 5.

e)   O veado foi ficando cada dia mais preocupado. 3.

f)    No caminho, os amigos encontraram o cadáver de uma onça que tinha despencado de uma ribanceira. 7.

g)   Ao ser carregada pelos veados, a pele da onça foi ficando toda espetada. 8.

h)   Eles pediram uma pele de onça emprestada aos homens da aldeia. 6.

12 – Os trechos seguintes são do conto lido. Copie apenas a fala do narrador de cada trecho e observe os verbos destacados.

a)   – Quer dizer que era você... – disse a onça.

b)   – Pois é... Eu também achava – confessou ela.

c)   – Tenho uma ideia! – exclamou a onça. – Se nós fizemos a casa juntos, podemos morar juntos. Somos sócios.

d)   – Isso mesmo! – concordou o veado. – Vou dizer que é um tapete novo para a casa.

e)   As duas começaram a temer, e um dos veados olhou para elas e exclamou:

Resposta pessoal do aluno.

13 – Junto com os colegas e com a ajuda do professor, analise o exercício anterior e relacione os itens referentes aos trechos em que ocorre:

·        A fala do narrador aparece antes da fala da personagem.

·        A fala do narrador aparece no meio da fala da personagem.

·        A fala do narrador aparece depois da fala da personagem.

Resposta pessoal do aluno.

14 – Copie os verbos destacados nos trechos do exercício 12, explique para que servem esses verbos no texto.

        Os verbos que indicam a fala de personagens são chamados verbos dicendi, ou verbos de dizer.

      Resposta pessoal do aluno.

15 – Quanto ao tipo de narrador, copie a afirmação correta.

a)   Nesse conto, o narrador participa da história, é narrador personagem.

b)   Nesse conto, o narrador não participa da história, é narrador observador.

 

 

 

CONTO: O VEADO E A ONÇA - PARTE 1 - ANA MARIA MACHADO - COM GABARITO

 Conto: O VEADO E A ONÇA – Parte 1   

             Ana Maria Machado

        Há muitos e muitos anos, quando as mulheres e os homens que viviam por aqui eram índios, quando o chão era só de terra e quem voava mais alto no céu era o gavião, morava lá no fundo da mata um veado que um dia resolveu fazer uma casa.

        Andou de um lado para outro para escolher um lugar. Descobriu um platô interessante, no alto de um barranco, onde não ficava passando bicho toda hora. Era perto de um rio encachoeirado, se ele quisesse beber água. Era protegido por umas árvores grandes, que não deixavam o vento forte chegar.

        O veado resolveu que era aquele lugar que queria e começou a limpar o terreno. Arrancou uns matos rasteiros, tirou umas moitas que estavam atrapalhando, cortou os galhos mais baixos das árvores.

        Trabalhou o dia inteiro. Quando o sol foi se pondo, estava cansado e foi dormir na casa dos pais, para voltar no dia seguinte.

        Quando já era noite alta e a lua brilhava no céu, apareceu por ali uma onça que ultimamente vinha pensando muito em fazer uma casa. Aproveitava quando saía para caçar e procurava um terreno bom.

        A onça viu aquela clareira já limpinha e disse:

        – Que bom! Este lugar é perfeito! O deus da mata está me ajudando! Vou logo cortar umas varas para fazer esteios da casa e amanhã à noite eu começo ...

        Trabalhou a noite inteira. Quando o sol foi nascendo, estava cansada e foi dormir na casa dos pais, para voltar na noite seguinte.

        Daí a pouco chegou o Veado. Viu aquela pilha de varas cortadas e preparadas e disse:

        – Que bom, estas varas estão perfeitas! O deus da mata está me ajudando! Vou marcar o lugar da casa e fincar os esteios no chão, bem firme...

        Trabalhou o dia inteiro. Quando o sol foi se pondo, estava cansado e foi dormir na casa dos pais, para voltar no dia seguinte.

        Daí a pouco chegou a onça. Viu os esteios já colocados e disse:

        – Que bom! O deus da mata continua me ajudando!

        Foi até um taquaral ali perto e tirou uma porção de taquaras, que são uma espécie de bambu, levinho. Fez uma pilha enorme.

        Trabalhou a noite inteira. Quando o sol foi nascendo, estava cansada e foi dormir na casa dos pais, para voltar na noite seguinte.

        Daí a pouco chegou o veado. Viu aquela pilha de taquaras e disse:

        – Que bom! O deus da mata continua me ajudando!

        Foi pegando as taquaras uma a uma e fincando entre os esteios, nuns espacinhos pequenos, só deixando livre o lugar das portas e janelas. Depois, cortou uma porção de cipós e embiras para no outro dia amarrar o resto das taquaras atravessadas por cima daquelas, fazendo uns quadrados.

        Trabalhou o dia inteiro. Quando o sol foi se pondo, estava cansado e foi dormir na casa dos pais, para voltar no dia seguinte.

        Daí a pouco chegou a onça. Viu as paredes adiantadas, os cipós e as embiras cortados, e disse:

        – Que bom! O deus da mata continua me ajudando!

        Tratou de usar os cipós e as embiras para prender o resto das taquaras, fazendo uma malha forte de quadrados.

        Trabalhou noite inteira. Quando o sol foi nascendo, estava cansada e foi dormir na casa dos pais, para voltar na noite seguinte.

        Daí a pouco chegou o veado. Viu aquela malha de taquaras pronta e disse:

        – Que bom! O deus da mata continua me ajudando!

        Foi buscar água no rio, misturou com a terra do alto do barranco, fez um barro bem barrento e foi jogando sobre a malha de taquaras para fechar os quadrados e ir fazendo as paredes. Conseguiu completar duas antes de escurecer.

        Trabalhou o dia inteiro. Quando o sol foi se pondo, estava cansada e foi dormir na casa dos pais, para voltar no dia seguinte.

        Daí a pouco chegou a onça. Viu aquelas duas paredes fechadas e disse:

        – Que bom! O deus da mata continua me ajudando!

        Foi buscar mais água no rio, misturou com mais terra do alto do barranco, fez um barro bem barrento, trabalhou a noite toda e completou as outras duas paredes.

        Quando o sol foi nascendo, estava cansada e foi dormir na casa dos pais. Para voltar na noite seguinte.

        E assim ficaram os dois. O veado alisou as paredes, a onça fez a cumeeira; o veado cortou folhas da palmeira, a onça cobriu o telhado; o veado foi buscar bambu grosso, a onça fez um encanamento que levava água do rio até a casa; o veado serrou umas tábuas, a onça fez as janelas e portas.

        Trabalharam muito, dia e noite, sempre achando que o deus da mata estava ajudando. Até que a casa ficou pronta.

        No fim do último dia trabalhado, todo animado, o Veado resolveu que não ia dormir na casa dos pais: ia ficar ali para passar a primeira noite em sua casinha nova.

        Tomou banho, comeu umas folhas gostosas, fez uma fogueirinha no quintal para espantar mosquito e ficou em frente da casa olhando as estrelas e esperando o sono chegar.

        Mas quem chegou foi a Onça. Quando viu aquela cena, ficou furiosa:

        – Mas que folga! Então não se pode mais nem sair para visitar parentes que logo aparece um malandro para invadir a nossa casa? Saia daqui imediatamente!

             MACHADO, Ana Maria. Histórias à brasileira. A moura torta e outras. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2002. p. 35-9.

       Fonte: Língua portuguesa – Coleção Brasiliana – 5° ano – Ensino Fundamental – IBEP – 2ª ed. São Paulo – 2011. p. 32-7.

Entendendo o conto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Clareira: terreno desmatado ou com poucas árvores, em mata ou bosque.

·        Cumeeira: parte mais alta do telhado.

·        Embiras (embira): árvore cuja casca produz um cipó usado para fabricar cordas, redes, cestos e outros utensílios; cipó usado para amarrar.

·        Esteios (esteio): peça de madeira ou ferro que serve para segurar ou escorar alguma coisa.

·        Platô: lugar elevado e plano.

02 – Como você imaginou que seria a construção de uma casa numa “parceria” entre um veado e uma onça?

      Resposta pessoal do aluno.

03 – Como foi possível o veado e a onça construírem uma casa sem se encontrar?

      Porque o veado trabalhava na construção durante o dia, e a onça trabalhava durante a noite.

04 – Onde eles moravam antes de terminar a casa?

      Na casa dos pais.

05 – Os dois animais, embora escolhessem o mesmo lugar para construir a casa, tiveram motivos diferentes. Reproduza a tabela abaixo em seu caderno e explique quais foram as razões de cada um para a escolha do lugar.

·        Veado: 2° parágrafo.

·        Onça: 7° parágrafo.

06 – Tanto o veado quanto a onça trabalharam na construção da casa. Escreva quem fez o quê.

a)   Cortou varas para o esteio. Onça.

b)   Marcou o lugar da casa e fincou os esteios. Veado.

c)   Pegou taquaras e fez uma pilha enorme. Onça.

d)   Fincou as taquaras entre os esteios e cortou cipós e embiras. Veado.

e)   Usou os cipós e as embiras para prender o resto das taquaras. Onça.

f)    Buscou água no rio, misturou com terra e fez as paredes com esse barro. Veado.

g)   Alisou as paredes. Veado.

h)   Fez a cumeeira. Onça.

i)     Cortou folhas de palmeiras. Veado.

j)     Cobriu o telhado. Onça.

k)   Buscou bambu grosso. Veado.

l)     Fez o encanamento. Onça.

m) Serrou umas tábuas. Veado.

n)   Fez janelas e portas. Onça.

07 – Quando a onça e o veado voltaram para o local onde a casa estava sendo construído, não estranhavam o fato da construção continuas avançando. Por quê? A quem eles atribuíram o fato?

      Atribuíram ao deus da mata.

08 – Apenas quatro alternativas respondem à próxima pergunta. Copie as alternativas corretas. O que o veado fez no fim do último dia da construção da casa?

   Ele resolveu que iria mais cedo para a casa dos pais.

·        Decidiu que passaria a primeira noite em sua casinha nova.

·        Deitou-se observando o teto e tirou um longo cochilo.

·        Tomou banho e comeu umas folhas gostosas.

·        Fez uma fogueirinha no quintal para espantar os mosquitos.

·        Ficou em frente da casa olhando as estrelas e esperando o sono chegar.

09 – Releia, a seguir, a introdução do conto e copie somente as três alternativas corretas, referentes a ela.

        “Há muitos e muitos anos, quando as mulheres e os homens que viviam por aqui eram índios, quando o chão era só de terra e quem voava mais alto no céu era o gavião, morava lá no fundo da mata um veado que um dia resolveu fazer uma casa.”

·        Nessa introdução estão apresentados: o tempo, o local da ação e os personagens.

·        Na introdução do conto, o tempo e o local são definidos de uma forma precisa.

·        Nessa introdução são apresentados: tempo, lugar e personagens.

·        O tempo “há muitos e muitos anos” e o local “lá no fundo da mata” não são tão importantes no conto, por isso aparecem de forma imprecisa.

10 – Nesta primeira parte do conto “O veado e a onça”, quais são as personagens?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O veado e a onça.

11 – Junto com um colega, localize no texto as expressões que se referem a essas personagens. Veja o exemplo e transcreva essas repetições. Exemplo: “Trabalhou o dia inteiro. / trabalhou a noite inteira”.

      Resposta pessoal do aluno.

12 – Os contos populares são histórias contadas oralmente de geração a geração. Na sua opinião, qual a importância das repetições para essas histórias?

      Resposta pessoal do aluno.

 

 

 

sábado, 12 de fevereiro de 2022

CRÔNICA: UMA AULA ESPECIAL - ANA MARIA MACHADO - COM GABARITO

 Crônica: Uma aula especial

              Ana Maria Machado

        [...]

        -- Isabel, eu mostrei à turma o retrato de sua bisavô e todo mundo começou a trazer retratos dos bisavós também. Então, resolvemos fazer uma pesquisa sobre o tempo em que eles viveram. Vamos passar algumas semanas estudando esse tempo, o final do século XX. Que é que você acha?

        Eu estava tão feliz de ter achado o retrato de Bisa Bia que não conseguia achar nada para falar. Ainda mais agora, com essa boa ideia, de ficar sabendo montes de coisas do tempo dela, ah! Ia ser ótimo!... Foi me dando um nó na garganta, uma vontade de chorar de alegria, de emoção, sei lá, nem consigo explicar. Aí, de repente, reparei que Vitor, o novo aluno, também estava disfarçando e enxugando uma lágrima no canto do olho. Não entendi por quê. Ainda bem que Dona Sônia não esperou minha resposta nem reparou no choro do Vítor (que menino mais esquisito... será que ele nunca ouviu falar que homem não chora?) e foi começando a aula, contando que havia escravos no tempo da minha bisavó, que os escravos tinham donos, como se fossem coisas, trabalhavam a vida inteira sem descanso, não tinham salário, não tinham direitos, enfim, uma porção de coisas assim, algumas até que a gente já tinha ouvido falar, mas nunca tinha reparado direito.

        De repente, quando ela perguntou se alguém tinha alguma dúvida, queria fazer uma pergunta ou algum comentário, o Vítor levantou a mão e, ainda com um jeito bem emocionado, começou a falar:

        -- Sabe, Dona Sônia, me deu um aperto no coração quando a senhora começou a falar da bisavó dela, porque eu comecei a pensar no meu avô e descobri que estou com muita vontade de falar dele. Posso?

        -- Claro que pode, Vítor.

        -- Vocês sabem que nós moramos muito tempo fora do Brasil. Por isso, eu conheci pouco o meu avô, porque ele ficou aqui. Mas o conheci muito bem. Quando nós fomos para o exílio, éramos muito pequenos e não nos lembramos de quase nada. Mas ele foi lá nos visitar algumas vezes. Depois, a gente sempre se escrevia, às vezes falava no telefone. E ele morreu enquanto nós estávamos lá longe, nunca deu para a gente curtir o avô direito, e isso dá muita saudade, muita tristeza, essa vontade de chorar, até hoje.

        Puxa! Ele enxugou outra lágrima! Não tinha medo de que ninguém risse dele... Na mesma hora descobri que o Vítor era o menino mais corajoso que eu já tinha conhecido. Tinha até coragem de chorar na frente da turma toda!

        Mas ele continuava:

        -- Lembro-me de uma noite, quando nós estávamos em Roma e ele tinha ido nos visitar. Era na véspera do embarque dele de volta para o Brasil. Maria e eu queríamos viajar com ele, queríamos que papai e mamãe também voltassem para a terra da gente, estávamos todos meio tristes... Eu não entendia direito por que não podíamos voltar. Aí vovô explicou que um dia íamos poder, mas falou que quem quer construir os tempos novos geralmente não é compreendido, é perseguido e sofre muito, e era isso que estava acontecendo com meus pais. Aí ele contou muita coisa da História do Brasil e do mundo. Disse que no tempo dele já tinha sido melhor do que no tempo do pai dele, não tinha mais escravos, os trabalhadores já recebiam salário, mas ele se lembrava de que, quando era pequeno, na cidade dele (que era cheia de fábricas), os trabalhadores ficavam nas máquinas catorze ou dezesseis horas por dia – nem lembro mais – e não podiam fazer greve também, criança pequena trabalhava, uma porção de coisas assim.

        Eu não lembro direito, porque isso tudo ficou misturado na minha cabeça, quer dizer, os detalhes da conversa, quando foi que cada coisa foi mudando. Conversamos muito sobre isso e não dá para lembrar tudo. Mas nunca vou esquecer o brilho dos olhos do meu avô quando me falava dessas coisas. Nem vou esquecer também que essa foi a primeira vez que eu vi meu pai chorar, enquanto escutava o papo do vovô.

        Até na gente, que não era da família nem nada, estava dando uma vontade de chorar. Era só ouvir o jeito emocionado do Vítor contando essas coisas acontecidas há alguns anos numa noite fria, lá longe do Brasil, no outro lado do mar, numa conversa com um velho que não existia mais.

        -- Nesse dia eu entendi que vovô ia sempre existir dentro de mim – continuava ele, como se estivesse lendo meus pensamentos.

        -- Depois de muito papo, vovô disse que cada vez nós tínhamos que fazer força para melhorar, para deixar um mundo melhor para nossos filhos, como papai fazia no trabalho de jornalista, e como mamãe fazia dando as aulas dela. Disse que estava muito orgulhoso dos meus pais e que o exílio estava sendo uma espécie de preço que a gente estava pagando par que o futuro fosse melhor, que havia muita gente pagando esse preço e outros preços mais duros ainda, mas que ia valer a pena... Agora, quando a gente estava falando da bisavó da Isabel, fiquei com saudade do meu avô, com pena de pensar que ele morreu antes da festa da nossa volta. Mas eu vi também como, em algumas coisas, nosso tempo já está sendo melhor do que o dele. E fiquei pensando nisso: como vai ser o mundo dos nossos netos? E dos nossos bisnetos? Acho que a gente podia pesquisar isso também. Era isso o que eu queria dizer.

        Disse e sentou.

MACHADO, Ana Maria. Bisa Bia, Bisa Bel. 4. ed. Rio de Janeiro: Salamandra, 2000. Adaptação.

                     Fonte: Língua Portuguesa – Coleção Mais Cores – 5° ano – 1ª ed. Curitiba 2012 – Ed. Positivo p. 31-5.

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, quais as informações abaixo.

a)   Sobrenome da autora do texto: Machado.

b)   Nome da personagem narradora: Isabel.

c)   Local onde ocorre a história: Escola.

d)   Dois outros personagens dessa história: Vítor e Sônia.

e)   Local do exílio da família de Vítor: Roma.

02 – Leia a opinião de Isabel sobre Vítor.

        “[...] (que menino mais esquisito... será que ele nunca ouviu falar que homem não chora)?”

a)   Você concorda com a opinião de Isabel? Justifique sua resposta.

Resposta pessoal do aluno.

b)   Por que esse trecho do texto aparece entre parênteses?

Porque tratasse de um pensamento da personagem.

03 – No decorrer do texto, Isabel muda de opinião a respeito do seu colega de turma.

        “Na mesma hora descobri que o Vítor era o menino mais corajoso que eu já tinha conhecido.” Que motivo levou Isabel a modificar sua opinião?

      Porque ele chorou na frente da turma e, isto é um ato corajoso.

04 – Vítor comenta com seus colegas que, quando pequeno, ele e sua família estiveram no exílio.

a)   Procure no dicionário o significado da palavra em destaque.

Degredo, expatriação, desterro, expulsão de sua pátria.

b)   Discuta com seus colegas e professor sobre o significado da palavra exílio.

Resposta pessoal do aluno.

c)   Você tem conhecimento de alguém que tenha se exilado por algum motivo? Comente essa questão com seus colegas.

Resposta pessoal do aluno.

05 – Vitor tem opinião formada a respeito do tempo em que ele vive.

        “[...] fiquei com saudade do meu avô, com pena de pensar que ele morreu antes da festa da nossa volta. Mas eu vi também como, em algumas coisas, nosso tempo já está sendo melhor do que o dele.”. Converse com seus colegas sobre as questões a seguir.

a)   Você concorda com a opinião de Vítor sobre o tempo em que você está vivendo ser melhor que o de seus avós e bisavós? Em que sentido? Justifique sua resposta.

Resposta pessoal do aluno.

b)   O que precisa ser modificado para que o nosso país fique ainda melhor?

Resposta pessoal do aluno.

c)   O que você pode fazer para que o Brasil se torne um país melhor no presente e no futuro?

Resposta pessoal do aluno.

06 – Dona Sônia começou a aula contando como era o tempo em que vivia a bisavó de Isabel. Que fatos ela relata a respeito dessa época no que se refere aos trabalhos e aos direitos humanos?

      Naquele tempo havia escravos que tinham donos e trabalhavam sem receber e também não tinham direito a nada.