domingo, 26 de maio de 2019

POEMA ESPIRITUAL - MURILO MENDES - COM GABARITO

Poema Espiritual
     
         Murilo Mendes

Eu me sinto um fragmento de Deus
Como sou um resto de raiz
Um pouco de água dos mares
O braço desgarrado de uma constelação.

A matéria pensa por ordem de Deus,
Transforma-se e evolui por ordem de Deus.
A matéria variada e bela
É uma das formas visíveis do invisível.
Cristo, dos filhos do homem és o perfeito.

Na igreja há pernas, seios, ventres e cabelos
Em toda parte, até nos altares.
Há grandes forças de matéria na terra no mar e no ar
Que se entrelaçam e se casam reproduzindo
Mil versões dos pensamentos divinos.
A matéria é forte e absoluta
Sem ela não há poesia.
                                            Mendes, M. In: Laís C. de Araújo, op. cit. p. 128-9.

Entendendo o poema:

01 – Na primeira estrofe, o eu lírico refere-se a si mesmo situando-se perante Deus e perante o Universo. Como ele vê a si mesmo?
      Vê-se integrado ao Universo e à força adivinha que o rege.

02 – A propósito da 2ª estrofe do texto:
a)   Como se explica a aparente contradição nos versos “A matéria variada e bela / É uma das formas visíveis do invisível”?
Conciliando elementos opostos (o visível e o invisível), o mundo material é para o eu lírico apenas uma das manifestações do mundo espiritual.

b)   Qual é o papel de Deus no Universo?
O de força que rege o Universo.

03 – Na 3ª estrofe, são aproximados elementos como Igreja, altares, pernas, seios, ventres. De acordo comas ideias dessa estrofe:
a)   Em que a concepção religiosa expressa pelo eu lírico difere da concepção tradicional?
Pela concepção do poema, religiosidade e sensualidade não se excluem.

b)   A matéria é essencial tanto para gerar os “pensamentos divinos” quanto para a criação da poesia. Em que aspecto Deus e o poeta se assemelham?
No dom da criação, que, aliás, tem por base a matéria.

04 – Apesar do papel de destaque que a matéria tem no poema, este se intitula “Poema espiritual”. Explique essa aparente contradição.
      O título é coerente, já que, pela ótica do poema, matéria e espírito não se excluem, são apenas expressões diferentes da mesma ordem universal.

Um comentário:

  1. Deus criou o barro, mas a vida veio pelo sopro, sem sopro o barro é apenas barro. E no altar está apenas o sopro.

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