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quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

TEXTO: AMARELINHO -(FRAGMENTO) - JOSÉ GANYMÉDES - COM GABARITO

Texto: Amarelinho
    
        José Ganymédes

        O amarelinho gostava de ficar com o nariz achatado nas vitrinas namorando os televisores coloridos funcionando. Legal! Muito mais bonito do que os branco e preto! Ele ficava até que aparecia um empregado para implicar:
        -- Menino, vá embora!
        -- Por quê? 
        -- Porque aí não é lugar de meninos!
        -- Eu tô só vendo...!
        -- Mas fica esfregando a mão no vidro, suja tudo! Não sabe ver só com os olhos? Vamos, vá embora, menino!
        Ele ia. Caminhava um pouco. Magoado, com raiva, querendo brigar. Então, virava-se para trás, fingia que estava com a metralhadora nas mãos e...
        -- Pápápápápá! – fazia com a boca imitando o disparo da automática. – Matei você!
        Em seu mundo de oito anos, o Amarelinho imaginava a vítima caída no chão, morta no meio de uma poça de sangue. Igual ele via na televisão. Aí, ele fugia em um velocíssimo carrão, cujos pneus chiavam pelo asfalto das avenidas. E pronto! – estava vingado.
        Só assim, depois de feita a justiça pelas próprias mãos, que ia embora, à procura de outra vitrina para, outra vez, ficar lambendo com os olhos.
        Estava no jardim público, quando passou uma mulher e perguntou:
        -- Menino, você não tem pai?
        -- Não...
        -- Nem mãe?
        Fez que sim.
        -- Então é melhor ir pra casa, menino! Tão pequeno, aí, sozinho na rua a essas horas? Onde você mora?
        -- Na favela.
        A mulher abriu a bolsa e tirou uma nota.
        -- Tome, é pra comprar um doce...
        Ele pegou a nota e ficou olhando para a mulher. Um doce custava o dobro. O que iria comprar com aquela nota?
        A mulher foi embora. O Amarelinho enfiou a nota e a mão no bolso do short encardido e continuou passeando. Viu um Papai Noel de vermelho que batia um sininho. Ele tinha barba branca, esquisita, não parecia nascer no rosto dele. Papai Noel nem olhou. O Amarelinho encolheu os ombros, entrou no bar, comprou balas. Desembrulhou uma, enfiou na boca, e a outra guardou para mais tarde.
        Na esquina havia uma grande loja de brinquedos. Ele estava passando por lá quando... viu!
        Os olhos arregalaram! Ela estava dependurada, igualzinha à de verdade, o cano de aço, o gatilho, o casco de madeira: a mais linda metralhadora que jamais tinha visto em toda a sua vida!
        Muita gente na loja. Hipnotizado pela arma de brinquedo, ele também entrou. Olhou. Não contente, esticou a mão, passou o dedo. Chegou a rir enquanto fazia pápápápápá com a boca. Nisso aproximou-se um vendedor carrancudo:
        -- Vá embora, moleque!
        -- Só tô vendo, moço!
        -- E precisa passar a mão suja? Vá embora.
        -- Quanto custa?
        -- Um dinheirão. Não é pro seu bico, é só pra filho de gente rica. Vá embora, menino!
        E empurrou-o para fora.
        O Amarelinho saiu. Porém, na calçada, tornou a olhar para a arma. Vendo aquilo, o empregado deu-lhe um carreirão. O Amarelinho correu. Pouco mais adiante, parou, virou-se para trás, fez gesto de quem empunhava a metralhadora:
        -- Pápápápápá, matei você! – disse, cuspindo de lado e imaginando o vendedor morto na calçada.
        Em seguida, retomou o caminho e foi embora. Porém repetindo:
        -- Eu quero uma metralhadora daquelas!
                                              Amarelinho, Ganymédes José.
                              Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 5ª Série - Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p.132-3.
Entendendo o texto:
01 – Que informações o texto nos dá sobre Amarelinho, sua vida e sua família?
      Segundo o texto. Amarelinho é um garoto pobre, que mora na favela. É órfão de pai.

02 – “Igual ele via na televisão”.
a)   A que espécie de programas Amarelinho assistia?
Assistia a filmes violentos, com cenas de assassinato e fuga, do tipo “mocinho e bandido”.

b)   A atitude de Amarelinho mostra que ele se identifica com que personagens desses filmes?
Ele provavelmente se identificava com os “bandidos”.

c)   A história das personagens com que Amarelinho se identificava seria parecida com a dele?
Nos filmes policiais, os “bandidos” são, muitas vezes, pessoas marginalizadas pela sociedade como Amarelinho e que acabam optando pelo crime.

d)   Você já assistiu ao tipo de filme ao qual o texto se refere? Acha que ele influencia o seu comportamento? De que maneira?
Resposta pessoal do aluno.

e)   Nem todas as pessoas que têm uma vida igual a de Amarelinho reagem como ele. Por quê? Justifique sua resposta.
Algumas pessoas são mais conformadas. Outras têm espírito de luta. Outras ainda preferem a não-violência.

03 – O empregado da primeira loja e o vendedor da segunda loja comportam-se de maneira semelhante. Descreva o comportamento dos dois.
      Ambos afirmam que ali não é lugar para Amarelinho e que ambos acreditam que o menino está sujo e pode sujar a vitrine ou a mercadoria.

04 – A reação de Amarelinho é semelhante tanto na primeira loja quanto na segunda. Por quê?
      Porque recebeu o mesmo tratamento por parte dos vendedores, ofereceu a eles uma mesma resposta, ou seja, seu sonho de vingança.

05 – A atitude de Amarelinho em relação a mulher que lhe deu uma nota para comprar um doce foi diferente. Por quê?
      Porque ele reagiu de forma diferente a um tratamento diferente.

06 – A barba do Papai Noel não parecia nascer do rosto dele. Parecia falsa.
a)   Por que Amarelinho deu de ombros, não se importou com a indiferença de Papai Noel?
Porque para Amarelinho, o Papai Noel era falso tanto por sua barba falsa, quanto por sua atitude de desprezo.

b)   O presente da mulher e a indiferença do Papai Noel não parecem afetar muito Amarelinho. Por quê?
Porque ele está habituado a receber auxílio que não auxilia realmente e indiferença. Ambos fazem parte de sua história e contribuem para que sua vida seja o que é.

07 – As atitudes das personagens podem ser consideradas atos de violência? Justifique sua resposta.
      Resposta pessoal do aluno.       
         

domingo, 4 de março de 2018

TEXTO: EXCURSÃO - GANYMÉDES JOSÉ - COM GABARITO

Texto: EXCURSÃO
          Ganymédes José


    O sol apontou atrás dos eucaliptos.
    Os quatro marchavam em silêncio: Toninho na frente. Atrás, com vestido vermelho e tranças em pé, a Neide. Depois, Ovídio, gordo, baixo e suando feio. Por fim, a Cláudia, de olhos azuis.
 O capim estava molhado pelo sereno. Fim de agosto. Lá pelas bandas do cemitério, o bambual erguia uma fortaleza verde. Vermelha e amarela, o sol rabiscava os contornos dos morros azulados. De repente, um João-de-barro voou gritando. A Cláudia deu um pulo, e os quatro caíram na risada.
        --- Ontem, quando cheguei da escola, tinha gente em casa – disse a Neide.
        --- Sabem quem era? A mulher do doutor Alexandre. Ela pediu pra eu tomar conta do nenê dela. É verdade que em casa de doutor a gente come morango todo dia?
        --- Sei lá! Quando eu crescer, vou ser doutor – respondeu Ovídio.
        --- Doutor de quê?
        --- Doutor médico. Que outro doutor podia ser?
        O campo estava pura flor, porque era agosto; e a Cláudia tinha colhido um maço de margaridas amarelas. Enquanto isso, a Neide subia em um arbusto e, como uma macaca, ficava se balançando nos galhos. Como gostava de contar mentiras! Uma delas tinha sido a vez em que havia dado nó no rabo de duas cobras-cegas só para ver a confusão das coitadas.
        Ovídio só sabia reclamar do calor e dos mosquitinhos; afinal, já estava arrependido de haver topado aquela excursão na manhã de domingo... sair de casa sem avisar os pais! Ah, quando voltasse, seria aquele barulhão! afinal, Ovídio não era dono nem de ir à esquina, sem pedir licença à mãe.
        Apesar de tudo, a manhã estava sendo diferente. Eles visitaram a lagoa do Olivares, passaram pelo campo do Peres, onde cresciam os derradeiros pés de quiabo, e desceram pelo córrego das capivaras.
        O sol já queimava. O cheiro da terra, quente e puro. As cores focalizavam-se melhor. E foi bem na baixada, bem no meio – plantada como guarda-chuva aberto – que a árvore despontou de repente. Era alta, imponente como rainha.
        Neide arregalou os olhos.
        --- Gente, olha o ipê!
        Os quatro estacaram. Era um espetáculo de emudecer, tanta beleza!
        De repente, como se despertando para a vida, a Neide saiu correndo e foi dar um abraço na árvore.
        Aí, todo mundo imitou.
        O chão era tapete de flor caída, onde as abelhas voavam. A Cláudia fez um colar. Ovídio resmungava e o Toninho não desgrudava os olhos da copa, tão fechada que parecia novelo de lã. Vez em quando, o vento de agosto soprava, e uma chuva de flores caía em cima deles. Havia paz. Paz que não existia na cidade, onde os homens corriam, os carros corriam, o tempo corria...

                  Ganymédes José. Quando florescem os Ipês. 15ª edição.
                                Págs. 6-7. Editora Brasiliense, São Paulo, 1984.

Entendendo o texto:
01 – As personagens que participam da excursão eram:
      (   ) Adultos                           (X) Adolescentes.

02 – Copie passagens do texto que dão ideia do tempo em que ocorreu o fato:
      O sol apontou atrás dos eucaliptos. Aquela excursão na manhã de domingo. Apesar de tudo, a manhã estava sendo diferente.

03 – Os jovens excursionaram:
      (   ) Pela mata virgem, longe da cidade.
      (X)  Pelo campo, nos arredores da cidade.
      (   ) Pelos morros próximos de suas moradias.

04 – Identifique as personagens pelas suas ações:
     a)   Subia nos arbustos e se balançava.
      NEIDE.
b)   Resmungava, queixando-se do calor e dos mosquitinhos.
      OVÍDIO.
c)   Não se cansava de contemplar o lindo ipê florido.
      TONINHO.
d)   Colhia margaridas amarelas.
      CLÁUDIA.

05 – Por que Ovídio estava preocupado?
      Porque saiu de casa sem avisar os pais.

06 – “Ah, quando voltasse, seria aquele barulhão”. O que é que o autor quis dizer com essa frase?
      Quis dizer que Ovídio, quando voltasse, seria severamente repreendido pela mãe.

07 – Já no final do passeio, que espetáculo deixou os quatro maravilhados?
      Um ipê todo florido, belo e imponente, no meio da planície.

08 – Com que gesto eles demonstraram sua admiração e seu amor pela árvore florida?
      Demonstraram sua admiração e seu amor pela árvore abraçando-a.

09 – O ambiente onde se erguia o ipê era o oposto do ambiente urbano. Por quê?
      Porque a cidade havia barulho e agitação, ao passo que ali reinavam o silêncio e a paz.

10 – O texto poderia ter outro título. Dos três seguintes, qual o mais adequado?
      (  ) O ipê.
      (  ) Viagem de recreio.
      (X) Passeio campestre.