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sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

CONTO: A ILHA PERDIDA - FRAGMENTO - MARIA JOSÉ DUPRÉ - COM GABARITO

 Conto: A ilha perdida – Fragmento

  Maria José Dupré

Capítulo I

   Na fazenda do Padrinho, perto de Taubaté, onde Vera e Lúcia gostavam de passar as férias, corre o rio Paraíba. Rio imenso, silencioso e de águas barrentas. Ao atravessar a fazenda ele fazia uma grande curva para a direita e desaparecia atrás da mata. Mas, subindo-se ao morro mais alto da fazenda, tornava-se a avistá-lo a uns dois quilômetros de distância e nesse lugar, bem no meio do rio, via-se uma ilha que na fazenda chamavam de Ilha Perdida. Solitária e verdejante, parecia mesmo perdida entre as águas volumosas.

        Quico e Oscar, os dois filhos do Padrinho, ficavam horas inteiras sentados no alto do morro e conversando a respeito da ilha. Quem viveria lá? Seria habitada? Teria algum bicho escondido na mata? Assim a distância, parecia cheia de mistérios, sob as copas altíssimas das árvores; e as árvores eram tão juntas umas das outras que davam a impressão de que não se poderia caminhar entre elas.

        [...]

        Por ocasião de umas férias, justamente em fins de novembro, chegaram à fazenda Henrique e Eduardo, os dois primos mais velhos de Oscar e Quico. Eram dois meninos de doze e catorze anos, fortes e valentes. Montavam muito bem e sabiam nadar. Logo nos primeiros dias, percorreram sozinhos grande parte da fazenda; subiram e desceram morros, andaram por toda parte e ao verem o riozinho, onde Vera e Lúcia tinham ido pescar uma vez com Padrinho, apelidaram-no de “filhote do Paraíba”.

        Madrinha avisava:

        — Vocês não devem andar tão longe de casa; de repente não sabem mais voltar e perdem-se por aí. Eles riam-se e diziam que não havia perigo; continuavam a dar grandes passeios e, quando ouviam o sino dar badaladas, tratavam de voltar depressa.

        [...]

        Tinham resolvido seguir para a ilha na terça-feira e estavam ainda no domingo. Precisavam preparar tudo no dia seguinte.

        [...]

        Com o esforço que fez ao empurrar a canoa, Henrique caiu dentro da água molhando-se todo. Não deu a perceber que ficara aborrecido; pulou para cima da canoa e segurou os dois remos. Eduardo, sentado no banco que havia no meio, segurou-se fortemente nas bordas da canoa e olhou para Henrique, cheio de admiração. Com toda calma, Henrique havia depositado o remo quebrado no fundo e com o outro impelia a canoa para longe da margem. Ela começou a deslizar rio abaixo e Eduardo sentiu o coração dar um salto dentro do peito. Pensou coisas horríveis nesse momento: “E se Henrique perdesse aquele remo? E se não soubessem voltar? E se o rio enchesse mais?”

        Estava muito arrependido e teve vontade de gritar: “Henrique, vamos voltar, eu não quero ir”. Mas não teve coragem. Ficou quietinho, equilibrando-se com as duas mãos e olhando o rio que corria, majestoso e tranquilo. Henrique sabia mesmo remar; fez a canoa deslizar sempre ao lado da margem, de modo que quase podiam segurar os galhos das árvores que pendiam sobre a água. Eduardo começou a achar bonito e Henrique disse:

        — Devem ser seis horas agora; o sol está começando a esquentar.

        [...]

Capitulo II

        Foi com verdadeira emoção que os dois meninos puseram pé em terra; estavam afinal na célebre ilha. Tudo fora tão fácil, pensou Eduardo, e Henrique era tão bom remador, não deviam arrepender-se da mentira pregada aos padrinhos. [...]

Capitulo III

        [...]

        Ficaram uns instantes em silêncio ouvindo os rumores da mata. Ouviram pios de aves, coaxar de sapos, cricri de grilos; de repente Henrique aproximou-se mais do irmão e segurou-lhe o braço:

        — Ouviu?

        Eduardo também ouvira um rastejar esquisito ao seu lado, mas fez-se de forte:

        — Isso é sapo, dos grandes.

        Henrique sussurrou:

        — Sapo não rasteja, pula. Deve ser alguém que anda na mata ou algum bicho grande...

        — Que tolice. Quem há de ser?

        Houve silêncio outra vez. De súbito os rumores foram aumentando; galhos quebravam-se não muito longe deles. Henrique tornou a dizer:

        — O que será? Parece que anda alguém na mata; acho que é gente.

        [...]

        O barulho aumentou; o coração de Eduardo deu um salto:

        — Não é possível que seja gente; andamos o dia todo por aí e não vimos nada, vamos continuar a procurar a canoa. — De repente, choramingou: — Henrique, estou com um pouco de medo...

        — Medo de quê?

        — Não sei, de tudo.

        — Eu não penso senão na canoa que temos que encontrar. Coragem...

        Continuaram a caminhar ao acaso, um segurando a mão do outro, tal a escuridão. A noite caíra completamente.

        [...]

        Cochilaram de madrugada, Henrique recostado no ombro de Eduardo. Eduardo não queria dormir, mas não suportou; de repente estendeu-se nas moitas, enrolou-se no paletó e, sentindo a cabeça do irmão encostada em seu ombro, dormiu profundamente; não pensou mais em sapos nem em bicho algum.

        Quando acordaram, viram o rio ali bem perto e o sol que já ia surgindo; levantaram-se e olharam à volta. Eduardo admirou-se:

        — Olhe quanta coisa o rio vem trazendo. O que será isso?

        Ambos olharam espantados; o rio havia crescido durante a noite de uma maneira assustadora. Estava volumoso e as águas não eram mansas como no dia anterior; eram vagalhões pesados que passavam levando galhos enormes e outras coisas. Henrique empalideceu:

        — É a enchente, Eduardo! Decerto choveu muito na cabeceira do rio. Que horror!

        [...]

Maria José Dupré. A ilha perdida. 39. ed. São Paulo: Ática, 2000. p. 7-8,12,16,20,29-31,33 e 35.

        Fonte: Língua Portuguesa – Português – Apoema – Editora do Brasil – São Paulo, 2018. 1ª edição – 6° ano. p. 155-7.

Entendendo o conto:

01 – Os irmãos Eduardo e Henrique estavam de férias.

a)   Para onde eles foram?

Para a fazenda do padrinho, perto de Taubaté. (Taubaté fica no Vale do Paraíba, no interior de São Paulo).

b)   Pelo lugar passa o Rio Paraíba. Quais adjetivos o caracterizam na narrativa?

Imenso, silencioso, barrento, volumoso (as águas são barrentas e volumosas).

c)   Qual deles indica que a água do rio não é transparente?

Barrento indica que a água não é cristalina, mas turva, lamacenta.

d)   Que importância tem o rio na narrativa?

É remando nesse rio que os meninos chegarão à ilha. Também é do rio que virá a enchente que os assustará.

02 – Na narrativa, fala-se de uma ilha.

a)   Como os moradores da fazenda a chamam? Por que a chamam assim?

Eles a chamam de Ilha Perdida, porque a ilha é solitária e parece perdida entre as águas do rio.

b)   Oscar e Quico ficavam curiosos sobre a ilha. Como é possível saber disso?

Eles ficavam horas imaginando como seria a ilha, se ela era habitada, se havia bichos.

c)   Como a ilha é apresentada no texto? O que o leitor imagina sobre ela?

Como um lugar desabitado, onde ninguém havia estado, o que cria um clima de mistério para o leitor.

d)   Por que você acha que os meninos decidiram ir à ilha?

Porque eram aventureiros, queriam descobrir o que havia lá.

03 – Como os meninos foram até a ilha? Como estava o rio?

      Os meninos foram de canoa e o rio estava tranquilo.

04 – Os meninos contaram ao pessoal da fazenda que iam para a ilha? Por que permaneceram na ilha à noite? Justifique as respostas com trechos do texto.

      Eles não contaram que iam para a ilha; “não deviam arrepender-se da mentira pregada aos padrinhos”. Permaneceram na ilha porque não achavam a canoa; “Eu não penso senão na canoa que temos que encontrar”.

05 – Anoiteceu na ilha.

a)   À noite o ar misterioso da ilha aumentou? Por quê?

Sim. Com a escuridão os meninos não conseguiam ver nitidamente o que estava a sua volta.

b)   Como os meninos souberam que havia animais na ilha?

Pelo barulho dos animais: coaxar dos sapos, pio das aves, cri-cri dos grilos.

c)   Que tipo de barulho assustou os meninos? Eles conseguiram identificar o que era?

Além do som dos animais, eles ouviram um barulho diferente ao lado deles, que parecia o ruído de algo ou alguém rastejando. Eduardo achou que fosse um sapo; Henrique, uma pessoa, mas não conseguiram identificar a causa do barulho.

d)   A progressão dos acontecimentos, o encadeamento deles, ocorre de que modo? Eles aumentam ou diminuem de intensidade?

Os acontecimentos vão se tornando cada vez mais assustadores. A progressão da narrativa vai criando maior intensidade.

e)   Que efeito de sentido essa progressão cria na narrativa?

O suspense aumenta com a progressão, deixando as personagens mais assustadas e o leitor mais curioso para saber como será o desdobramento dos fatos.

06 – Releia estes fragmentos.

        “Ficaram uns instantes em silêncio ouvindo os rumores da mata. Ouviram pios de aves, coaxar de sapos, cricri de grilos; de repente Henrique aproximou-se mais do irmão e segurou-lhe o braço:

        [...]

        Houve silêncio outra vez. De súbito os rumores foram aumentando; galhos quebravam-se não muito longe deles. [...]”.

        O que as expressões “de repente” (repetida várias vezes no texto) e “de súbito” indicam sobre as ações e o andamento da narrativa? Que efeito de sentido o uso delas cria na narrativa?

      As expressões indicam que algo inesperado aconteceu. Elas aumentam o mistério da narrativa, reforçando o clima de aventura.

07 – “Continuaram a caminhar” ao acaso, “um segurando a mão do outro, tal a escuridão”.

a)   De acordo com o contexto de uso da expressão destacada, como os meninos caminharam?

Eles caminharam sem saber para onde iam.

b)   O que a expressão “ao acaso” reforça na narrativa?

Reforça o fato de que os meninos estavam perdidos, sem rumo.

08 – Amanheceu e os meninos ouviram o barulho do rio.

a)   Ao chegar à margem do rio, o que eles viram? Como se sentiram?

Eles viram que o rio havia trazido muitas coisas. No primeiro momento, Eduardo ficou admirado com as coisas que passavam pelo rio; depois, os dois se espantaram com o volume das águas e, finalmente, ficaram horrorizados ao perceber que era uma enchente.

b)   Os meninos poderiam percorrer o rio assim? O que você acha que aconteceu?

Não. Com o volume de água e a correnteza forte, eles não poderiam entrar no rio, pois seria muito perigoso. A resposta da segunda é pessoal.

09 – Analise o narrador da aventura.

a)   Ele narra a história em 1ª ou em 3ª pessoa? Ele observa ou participa da narrativa?

Escreve em 3ª pessoa, narrando o que observa.

b)   Ele vai revelando as complicações da história de que maneira? Que efeito essa estratégia cria no texto?

Ele narra aos poucos, criando um efeito de suspense.

 

 

CAPA LIVRO: A ILHA PERDIDA - MARIA JOSÉ DUPRÉ - COM GABARITO

 Capa livro: A ilha perdida

Fonte da imagem - https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhy2hazTgoAtVCIW_N6rLuyAf-3yaauLpYxeoHLjiVyu1oZqVG6N0rl34BjfFzYLSyjI6skzpg9AfDNlYS83nv2wCS8ZpGitmB73CYArDuixedSPbS_zscYsUqLfUi3bBWDAQe2eDFZ-mTft2VqymwO8VPl28jNthXwl133H9F6IigZD-tWRCRd8GVN=s275


    
Fonte: Língua Portuguesa – Português – Apoema – Editora do Brasil – São Paulo, 2018. 1ª edição – 6° ano. p. 154.

Entendendo a capa livro:

01 – Descreva a imagem central.

      Na imagem há dois meninos, um de costas e o outro de frente em uma canoa na água. Eles seguram remos e há uma corda na cano. Ao fundo, vemos a vegetação da margem.

02 – O que os meninos estão segurando? Para que serve?

      Estão segurando remos, que servem para guiar a canoa.

03 – O menino de cabelo escuro parece dialogar com o outro. Observe sua expressão corporal. Que movimento ele faz com o braço esquerdo? O que isso pode indicar?

      Ele aponta para o lugar para onde provavelmente estão indo.

04 – Qual é o título do livro? Quem é sua autora?

      A ilha perdida. Maria José Dupré.

05 – Relacione o título do livro com a imagem. O que essa relação sugere?

      Sugere que os meninos irão para a ilha perdida.

06 – Como você acha que essa narrativa se desenvolverá?

      Resposta pessoal do aluno.

 

terça-feira, 22 de setembro de 2020

TEXTO: A ILHA PERDIDA - (FRAGMENTO) - MARIA JOSÉ DUPRÉ - COM GABARITO

  TEXTO: A ilha perdida(fragmento)


Na fazenda do padrinho, perto de Taubaté, onde Vera e Lúcia gostavam de passar as férias, corre o rio Paraíba. Rio imenso, silencioso e de águas barrentas. Ao atravessar a fazenda ele fazia uma grande curva para a direita e desaparecia atrás da mata. Mas, subindo-se ao morro mais alto da fazenda, tornava-se a avistá-lo a uns dois quilômetros de distância e nesse lugar, bem no meio do rio, via-se uma ilha que na fazenda chamavam de "Ilha Perdida". Solitária e verdejante, parecia mesmo perdida entre as águas volumosas.

Quico e Oscar, os dois filhos do padrinho, ficavam horas inteiras sentados no alto do morro e conversando a respeito da ilha. Quem viveria lá? Seria habitada? Teria algum bicho escondido na mata? Assim à distância, parecia cheia de mistérios, sob as copas altíssimas das árvores; e as árvores eram tão juntas umas das outras, que davam a impressão de que não se poderia caminhar entre elas. Oscar suspirava e dizia:

- Se algum dia eu puder ver a ilha de perto, vou mesmo.

Maria José Dupré, A ilha perdida, Ed. Ática - São Paulo

 Vocabulário

       Copa: Parte Mais Alta Das Árvores

       Morro: Pequena Elevação De Terra

       Quilômetro: Medida De Comprimento, Equivalente A Mil Metros

       Solitária: Sozinha

       Taubaté: Cidade Do Estado De São Paulo

       Verdejante: que é muito verde


 

Interpretando o texto

  1. Qual é o nome do rio que corre na fazenda?

Rio Paraíba.

  1. Escreva algumas características desse rio.

Imenso, silencioso e de águas barrentas.

  1. Na sua opinião, que tipo de pessoas moram na Ilha Perdida?

Resposta pessoal.

  1. Marque somente as frases que estão de acordo com o texto:

a)    Quico e Oscar sabiam o que existia na "Ilha Perdida".

b)    Vera e Lúcia gostavam de passar as férias na fazenda do padrinho. X

c)    Subindo-se ao morro mais alto da fazenda, via-se a "Ilha Perdida". X

d)    Oscar não queria ir à "Ilha Perdida".

 

  1. Marque somente os nomes dos animais que você acha que vivem na Ilha Perdida:

 

urso        tamanduá               jacaré           elefante

 

onça    passarinhos             cobra              hipopótamo

 

leão    papagaio                    tigre               rinoceronte

 

  1. Você acha que Quico e Oscar foram até a "Ilha Perdida"? O que eles fizeram lá?

Resposta pessoal.

       7.Forme frases com as palavras:

solitária                     verdejante                            copa                           morro

 

Resposta pessoal.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

CONTO: A CIDADE MAIS POBRE DO MUNDO - MARIA JOSÉ DUPRÉ - COM GABARITO

Conto: A CIDADE MAIS POBRE DO MUNDO
                       
    Maria José Dupré

   Os meninos continuavam a pensar em fugir, mas não haviam encontrado ainda uma ocasião favorável para a fuga. Oscar e Quico olhavam para todos os cantos da cidade, espiavam Julião para ver quando ele ia ficar de sentinela no alto da montanha, perguntavam aos outros anões de que lado ficava a entrada da cidade, mas nada adiantava. Estavam como que num labirinto; não sabiam por onde sair.
        As visitas, que nesse dia desfilaram diante das crianças, faziam perguntas extravagantes. Um perguntava se os índios ainda rodeavam a montanha, outro queria saber de que forma eles haviam chegado até ali e se livrado dos ferozes índios.
        As crianças explicaram que não havia mais perigo; os matos e florestas haviam se transformado em magníficas cidades, nas quais havia casas muito grandes e muito altas, da altura daquela montanha; e jardins bonitos com flores perfumadas nos canteiros.
        Um anão já velho e curvado suspirou:
        — Flores? Flores? São coisas muito delicadas e de cores variadas, não são?
        As crianças confirmaram; Quico pediu um lápis e papel para desenhar, mas lá não havia nada disso; então trouxeram um pedaço de carvão para que Quico desenhasse uma flor na parede, mas não foi possível; e ele fez o que pôde, mas a flor ficou horrível e ninguém compreendeu. Só os mais velhos sacudiam a cabeça e diziam que as flores eram lindas, eles sabiam porque os antepassados haviam contado e isso corria de geração a geração, mas naquela cidade de ouro infelizmente não havia flores. Nenhuma flor. Que tristeza!
        Cecília lembrou-se de perguntar se lá não havia passarinhos. Os mais moços olharam uns para os outros sem compreender, apenas os mais velhos disseram que não, sabiam o que eram pássaros; eram animaizinhos que voavam e cantavam; uns tinham cores belas e brilhantes, outros tinham cores menos belas; cantavam lindas melodias que nunca ninguém pôde imitar e atravessavam o espaço de um lado a outro enfeitando a natureza. Mas ah! Lá não havia pássaros.
        O anão de barbas brancas, todo curvado, suspirou outra vez e sacudiu a cabeça. Que pena! Naquela cidade de ouro onde as crianças brincavam com pedras preciosas, não havia pássaros nem céu para alegrar a vida daquelas criaturas. Que tristeza!
        Vera lembrou-se do sol. Perguntou:
        — E o sol? Nunca chega até aqui?
        Eles riram. Não. Não tinham a felicidade de ver o sol; sabiam o que era isso, mas lá onde viviam o sol não chegava nunca. Viviam na sombra, dentro da terra. O sol que ilumina, que brilha, que aquece, que enfeita, que alegra, que dá vida e calor, não existia na cidade de ouro. Que pena! O velho de barbas brancas suspirou outra vez mais curvado. Não tinham sol, por isso não tinham flores lindas e perfumadas, nem pássaros para alegrar a cidade. Que tristeza!
        Oscar, que gostava de ler, perguntou se eles não tinham livros. Livros? Não, infelizmente não. Seus antepassados haviam contado de geração em geração o que eram os livros, mas nenhum livro havia ficado para eles verem. Nenhum, haviam desaparecido com o tempo. Sabiam que os livros instruem, educam, distraem, ensinam, mas ah! Infelizmente não tinham livros. Que pena! O velho de barbas brancas sacudiu a cabeça tristemente e suspirou.
        — Ah! Os livros! São o alimento do espírito assim como a comida é o alimento do corpo. Eu sei porque o pai do pai do meu avô contou o que são os livros, mas não temos aqui. Que tristeza!
        Lúcia, que estudava piano, perguntou se não gostavam de música; entreolharam-se outra vez sem compreender. Música? O que era isso? Lúcia estendeu os braços e mexeu os dedos como se estivesse tocando piano; eles riram e não responderam. O anão de barbas brancas lembrou-se e seus olhos brilharam de contentamento:
        — Música? Eu sei o que é isso. Nossos antepassados contavam o que era a música. É uma melodia divina que ouvimos vinda de diversos instrumentos; nossos ouvidos gostariam de ouvir essas maravilhas de som... Mas ah! Infelizmente não temos instrumentos para tocar, só temos sinos de ouro. Temos sinos de vários tons que vão anunciar amanhã o casamento dos príncipes. Não temos a divina música. Que tristeza!
        A princesa mandou servir chá de erva da montanha aos visitantes; enquanto todos o tomavam em xícaras de ouro, o velho suspirou novamente, cada vez mais curvado e disse:
        — Nossa cidade é a mais pobre do mundo!
        As crianças protestaram; Quico falou:
        — Não diga isso! Uma cidade onde há tanto ouro e pedras preciosas não pode ser pobre. É riquíssima!
        O velho anão sorriu tristemente:
        — Meus filhos, a riqueza não consiste apenas no ouro e nas pedras preciosas que vocês estão vendo. Eu já vivi muito e sei o que digo; a riqueza não está nas casas de ouro com janelas de safiras, nem nos pratos de ouro, nem nas xícaras de ouro nas quais vocês tomam chá, nem nas vestes de brilhantes! A maior riqueza está aqui, aqui, aqui e aqui... (mostrou os olhos, os ouvidos, o coração e a cabeça).
        Depois continuou:
        — Com eles podem ver os pássaros voando e as flores nos jardins; podem ouvir a divina música que enternece os corações; podem sentir o sol que aquece e cura; podem ler os livros que ensinam e consolam. A maior riqueza é a do espírito, meus filhos, nunca se esqueçam disso! Nós temos olhos, ouvidos, coração e cabeça, mas não temos o que apreciar, portanto todo este ouro, todos estes brilhantes de nada valem. E aquele que não pode ou não sabe apreciar a beleza de uma flor, admirar o voo de um pássaro, ler um livro, ouvir uma música, sentir o sol... pode possuir as maiores riquezas deste mundo... será sempre pobre, o mais pobre dentre os pobres da terra...

DUPRÉ, Maria José. A montanha encantada. São Paulo: Ática, 1991. p. 54-7.

Entendendo o conto:
01 – Os moradores da montanha encantada não tinham contato com inúmeras “coisas” que existiam na terra dos garotos. Escreva três “coisas” que os moradores da montanha não tinham contato.
      Flores, pássaros e sol.

02 – Por que só os anões mais velhos sabiam o que eram flores e pássaros?
      Porque os antepassados haviam contado.

03 – Transcreva do texto um trecho que mostra qual a causa de não haver flores nem pássaros naquele local.
      Não tinham sol, por isso não tinham flores lindas e perfumadas, nem pássaros para alegrar a cidade. Que tristeza!

04 – O que o velho de barbas brancas pensa a respeito dos livros?
      Que os livros são o alimento do espírito.

05 – O velho anão disse que: “...A maior riqueza está aqui, aqui, aqui e aqui... (mostrou os olhos, os ouvidos, o coração e a cabeça).”, o que o velho anão apontou ao dizer quis diz com “aqui, aqui, aqui e aqui...”?
      Que a verdadeira riqueza está nos olhos (ver); nos ouvidos (ouvir); no coração (sentir) e na cabeça (ler).

06 – De acordo com a leitura do texto, por que o título da história é “A cidade mais pobre do mundo” se lá havia tanta riqueza?
      Porque lá não havia riquezas como pássaros e flores, o sol, livros e música.  

07 – Em: “A princesa mandou servir chá de erva da montanha aos visitantes; enquanto todos o tomavam em xícaras de ouro, o VELHO suspirou novamente...”, qual a classe gramatical da palavra VELHO?
(X) Substantivo.               ( ) Adjetivo.                  ( ) Pronome.

08 – Você gostaria de viver em um lugar como o do texto “A cidade mais pobre do mundo”? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.

09 – Em qual mundo podem existir comprovadamente anões mágicos, fadas, fantasmas: no mundo real ou no mundo do texto? Por quê?
      No mundo do texto. No mundo real não podemos comprovar a existência de fadas, anões mágicos ou fantasmas, embora muitas pessoas acreditem neles. No mundo do texto, nós inventamos o real, e nele tudo é possível.

10 – Mundo real X Mundo da fantasia. Se você tivesse que colocar os adultos em um desses mundos, em qual os colocaria? E as crianças? Por quê?
·        Mundo real: Adultos.

·        Mundo da fantasia: Crianças.

      Porque parece que com o tempo os adultos vão perdendo a capacidade de imaginar e inventar coisas.