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terça-feira, 22 de outubro de 2019

ROMANCE: O ATENEU - FRAGMENTO - RAUL POMPEIA - COM GABARITO

Romance: O Ateneu – Fragmento      
                   Raul Pompéia
        [...]

        Já me era lícito julgar iniciado na convivência intima da escola. Chamado por Mânlio a provas, consegui agradar, conquistando uma aura que me devia por algum tempo favorecer. Encontrei o Barbalho. Tinha a face marcada pelas minhas unhas; evitou-me. No recreio cometi a injustiça de ir deixando o Rebelo. Também o amável camarada tinha na boca um mau cheiro que lhe prejudicava a pureza dos conselhos; demais, falava prendendo a gente com dedos de torquês e soltando os aforismos a queima-roupa. Por seu lado o venerando colega correspondeu ao movimento maçando-se comigo, e amuando. Durante as aulas, em que nos sentávamos perto um do outro, absorvia-se em sua desesperada atenção e era como se estivesse a muitas milhas. Se, todavia, por imprescindível necessidade tinha de me falar, então, dirigia-me a palavra com a habitual afabilidade de jovem cura.
        Estava aclimado, mas eu me aclimara pelo desalento, como um encarcerado no seu cárcere.
        Depois que sacudi fora a tranca dos ideais ingênuos, sentia-me vazio de animo; nunca percebi tanto a espiritualidade imponderável da alma: o vácuo habitava-me dentro. Premia-me a força das coisas; senti-me acovardado. Perdeu-se a lição viril de Rebelo: prescindir de protetores. Eu desejei um protetor, alguém que me valesse, naquele meio hostil e desconhecido, e um valimento direto mais forte do que palavras.
        [...]
               POMPÉIA, Raul. O Ateneu. São Paulo, Ática, s.d. p. 31.
Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p. 269.

Entendendo o romance:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:
·        Torquês: Espécie de alicate.

·        Aforismo: Sentença, máxima, espécie de ditado.

·        Imponderável: Que não se pode pesar ou avaliar.

·        Premer: Apertar, comprimir.

·        Viril: Relativo à masculinidade.

·        Prescindir: Dispensar.

02 – Que observação contida no primeiro parágrafo nos permite julgar hostil o ambiente do Ateneu?
      “Encontrei Barbalho. Tinha a face marcada pelas minhas unhas...”.

03 – Em que trecho o narrador declara que a sua ambientação no Ateneu deveu-se ao fato de não ter outra opção?
      “Estava aclimado, mas eu me aclimara pelo desalento, como uma encarcerado no seu cárcere.”

04 – Que mudança ocorre na personalidade do narrador ao conviver em um ambiente que ele considerava degradante, imoral?
      O narrador declara que perdera os seus ideais ingênuos.

05 – Por que Sérgio desejava alguém que o protegesse?
      Porque se sentia num meio hostil e desconhecido.

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

POEMA: VENDEDORA DE BILHETES DE LOTERIA - RAUL POMPÉIA - COM GABARITO

POEMA: Vendedora de Bilhetes de Loteria
                  Raul Pompéia

Aquela mulher, de olhos tristonhos,
Que vende sortes de loteria,
Fala em riqueza, promete sonhos,
Com o “prêmio grande” que tem na mão…
E assim, (contraste feito ironia!)
Numa indigência, que mal encobre,
Fala em riqueza quem é tão pobre!
Promete ouro quem não tem pão!

De rua em rua, na amarga luta,
Com o olhar sumido, que o pranto molha,
E a voz tão baixa, como uma prece…
Passa um banqueiro, que não a olha;

Passa um soldado, que não a escuta;
Passa um poeta que ela entristece.

Se a chuva cai, não lhe importa a roupa,
Que até se lava com a chuva forte.
Só os bilhetes é que ela poupa!
Nem a doença lhe dá cuidados,
Pois a pobreza não teme a morte…

A noite chega. E ela, vencida
Do ingrato ofício na luta em vão,
Retorna a casa, desiludida,
Depois de haver, por um dia inteiro,
Vendido aos outros tanta ilusão!
                                 (Raul Pompéia. Cantos sem glória. Rio de Janeiro, Irmãos Pongetti, 1953)

Interpretação do texto:
01 – Como o poeta descreve a vendedora de bilhetes de loteria?
      Mulher muito pobre, triste, de olhar sumido, voz baixa, roupas sujas.

02 – O autor do poema refere-se a contrastes. Que elementos contrastantes ele cita?
      Riqueza (de que ela fala) e pobreza (que ela tem);
      Ouro (que ela promete) e pão (que ela não tem).

03 – Indique a única opção que completa a frase abaixo:
De todos os transeuntes, apenas o poeta entristeceu-se com o trabalho da vendedora, pois;
a.(   ) queria fazer um poema triste e, assim, foi buscar inspiração naquela mulher.
b.(   ) tendo experiência naquela profissão, sabia que o trabalho era pouco rentável.
c.(X) sendo mais sensível, comoveu-se com as dificuldades daquela mulher.
d.(   ) os poetas são, em geral, pessimistas, vendo tristezas onde não existem.

04 – Por que, sob a chuva, a vendedora só protegia os bilhetes?
      Porque teria de pagar os que se estragassem.

05 – À noite, a vendedora voltava para casa, desiludida. Por quê?
      Porque as vendas não lhe proporcionavam o lucro esperado e necessário.

06 – O que o autor quis demonstrar com esse poema?
      Que a vida tem suas ironias e contrates, como esta: alguém oferecendo riqueza quando vive na miséria.

07 – Quais as duas pessoas que não deram atenção a vendedora de bilhetes?
      O banqueiro e o soldado.

08 – Qual o título da poesia e quem é o autor?
      Vendedora de Bilhetes de Loteria, escrita por Raul Pompéia.

09 – O que significa para você a frase: “prêmio grande”, do texto?

      Resposta pessoal do aluno.

sexta-feira, 28 de abril de 2017

O ATENEU - RAUL POMPEIA - (FRAGMENTO) COM GABARITO

 O ATENEU
Raul Pompéia


        A mais terrível das instituições do Ateneu não era a famosa justiça do arbítrio, não era ainda a cafua, asilo das trevas e do soluço, sanção das culpas enormes. Era o livro das notas.
        Todas as manhãs, infalivelmente, perante o colégio em peso, congregado para o primeiro almoço, às oito horas, o diretor aparecia a uma porta, com a solenidade tarda das aparições, e abria o memorial das partes.
        Um livro de lembranças comprido e grosso, capa de couro, rótulo vermelho na capa, ângulos do mesmo sangue. Na véspera cada professor, na ordem do horário, deixava ali a observação relativa à diligência dos seus discípulos. Era o nosso jornalismo. Do livro aberto, como as sombras das caixas encantadas dos contos de maravilha, nascia, surgia, avultava, impunha-se a opinião do Ateneu. Rainha caprichosa e incerta, tiranizava essa opinião sem corretivo como os tribunais supremos. O temível noticiário, redigido ao sabor da justiça suspeita de professores, muita vez despedidos por violentos, ignorantes, odiosos, imorais, erigia-se em censura irremissível de reputações. O julgador podia ser posto fora por uma evidenciação concludente dos seus defeitos; a difamação estampada era irrevogável.
        E pior é que lavrava o contágio da convicção e surpreendia-se cada um consecutivamente de não haver reparado que era mesmo tão ordinário tal discípulo, tal colega, reforçando-se passivamente o conceito, até consumar-se a obra de vilipêndio quando, por último, o condenado, sem mais uma sugestão de revolta, achava aquilo justo e baixava a cabeça. A opinião é um adversário infernal que conta com a cumplicidade, enfim, da própria vítima.
        Com exceção dos privilegiados, os vigilantes, os amigos do peito, os que dormiam à sombra de uma reputação habilmente arranjada por um justo conchavo de trabalho e cativante doçura, havia para todos uma expectativa de terror antes da leitura das notas. O livro era um mistério.

                   POMPÉIA, Raul. O Ateneu. 9. ed. São Paulo, Ática, 1986. p. 43-4.

Cafua: quarto escuro onde e prendiam os alunos castigados.
Sanção: medida repressiva.
Ao sabor de: conforme a vontade de.
Vilipêndio: desprezo, aviltamento.

1. Em O Ateneu, Raul Pompeia denuncia, como exemplifica o texto:

a) perversidade do sistema educacional           d) vontade de poder do educador.
b) relação perigosa entre os adolescentes.              e) política interesseira da escola.
c) brutalidade física na educação

2.(UFSC) A(s) citação(ões extraída(s) do livro O Ateneu é (são):

a)”Na repartição, os pequenos empregados, amanuenses e escreventes, tendo notícia desse seu estudo do idioma tupiniquim, deram não se sabe por que em chama-lo – Ubirajara.”

b) “…chegou a senhora do diretor, D. Ema. Bela mulher em plena prosperidade dos trinta anos de Balzac, formas alongadas por graciosa magreza, erigindo, porém, o tronco sobre quadris amplos, fortes como a maternidade…”

c)“ Aristarco todo era anúncio. Os gestos calmos, soberanos, era um rei – o autocrata excelso.”

d) “ Ralf pega a velha maleta do Homig, abre-a devagarinho, como quem abre uma gaiola de pássaro, para pegá-lo mansamente.”
e) “Entrei apressado, atravessei o corredor do lado direito e no meu quarto dei com algumas pessoas soltando exclamações. Arrede-as e estanquei; Madalena estava estirada na cama, branca, de olhos vidrados, espuma nos cantos da boca.”

 3. (ITA-SP)  Sobre o Ateneu, de Raul Pompeia, não se pode afirmar que:

a) o colégio Ateneu reflete o modelo educacional da época, bem como os valores da sociedade da época.
b) o romance é narrado em um tom otimista, em terceira pessoa.
c) a narrativa expressa um tom de ironia e ressentimento.
d) as pessoas são descritas, muitas vezes, de forma caricatural.
e) são comuns comparações entre pessoas e animais.

4.(UFTM-MG)
“ Assim,  pela primeira vez irrompe na ficção brasileira a psicologia infantil, visto que o romance romântico preferia focalizar o adolescente ou adulto enredado nas malhas do amor e da honra, reservando à criança um olhar complacente e via de regra puxado ao folclórico e ao melodramático, o que redundava fatalmente em estereotipia e superficialidade.”
Esse filão, que procura aprofundar a análise da alma infantil, foi aberto por:

a)Aluísio Azevedo, em O Mulato
b) José de Alencar, em O Sertanejo.
c) Raul Pompeia, em O Ateneu.
d) Machado de Assis, em Memórias Póstumas de Brás Cubas.
e) Manuel Antônio de Almeida, em Memórias de um Sargento de Milícias.

5.(FGV-SP) Raul Pompeia é consagrado na literatura brasileira pela obra O Ateneu, de largo senso psicológico e preciosidade de estilo. A temática da obra, a par do seu valor literário, é um depoimento que ilustra:
a) as discussões e os conflitos entre os escritores do Ateneu Literário do Rio de  Janeiro, nos fins do Império.
b) a vida social e os hábitos quotidianos da aristocracia imperial, pouco antes da República.
c) a vida escolar no Império Brasileiro, tendo o sistema de internato como modelo educacional de elite na época.
d) a influência da cultura clássica e dos valores greco-romanos na formação da personalidade dos intelectuais brasileiros da época.
e) os hábitos e o comportamento urbano da classe média em ascensão no Rio de Janeiro, após a Proclamação da República.

6.(UFRGS-RS) Leias as afirmações sobre o romance O Ateneu, de Raul Pompeia.
I. Sérgio, em seu relato memorialista, revela a outra face da fachada moralista e virtuosa que circundava O Ateneu, a face em que se incluem a corrupção, o interesse econômico, a bajulação, as intrigas e a homossexualidade entre os adolescentes.
II.A narrativa, ainda que feita na primeira pessoa, evita o comentário subjetivo e as impressões individuais, uma vez que o narrador adota uma postura rigorosa, condizente com o cientificismo da época.
III. Através da figura de Dr. Aristarco, diretor do colégio, com sua retórica pomposa e vazia, Raul Pompeia critica o sistema educacional da época e a hipocrisia da sociedade.
Quais estão corretas:
a) apenas I         b) apenas II    c) apenas I e III     d) apenas II e III     e) I, II e III

7.(Umesp) Assinale a alternativa correta sobre o romance O Ateneu, de Raul Pompeia.
a)O romance se realiza pelo processo memorialista do narrador, permeado por uma profunda visão crítica.
b) Trata-se de uma crônica de saudades, em que o narrador revela, a cada instante, vontade de voltar.
c) O Ateneu representa uma apologia aos colégios internos como forma ideal para a formação do adolescente.
d) Apesar da tentativa de atingir um estilo realista, a obra mantém uma estrutura romântica aos moldes de José de Alencar.
e) Todas as personagens do romance buscam identificar-se.