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sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

ANÁLISE DA POESIA : MANIFESTO PAU-BRASIL - OSWALD DE ANDRADE - COM GABARITO

Análise da Poesia: Manifesto Pau-Brasil
                           
               Oswald de Andrade

        "A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos.
        O Carnaval no Rio é o acontecimento religioso da raça. Pau-Brasil. Wagner submerge ante os cordões de Botafogo. Bárbaro e nosso. A formação étnica rica. Riqueza vegetal. O minério. A cozinha. O vatapá, o ouro e a dança.
        Toda a história bandeirante e a história comercial do Brasil. O lado doutor, o lado citações, o lado autores conhecidos. Comovente. Rui Barbosa: uma cartola na Senegâmbia. Tudo revertendo em riqueza. A riqueza dos bailes e das frases feitas. Negras de Jockey. Odaliscas no Catumbi. Falar difícil.
        O lado doutor. Fatalidade do primeiro branco aportado e dominando politicamente as selvas selvagens. O bacharel. Não podemos deixar de ser doutos. Doutores. País de dores anônimas, de doutores anônimos. O Império foi assim. Eruditamos tudo. Esquecemos o gavião de penacho.
      A nunca exportação de poesia. A poesia anda oculta nos cipós maliciosos da sabedoria. Nas lianas da saudade universitária.
         Mas houve um estouro nos aprendimentos. Os homens que sabiam tudo se deformaram como borrachas sopradas. Rebentaram.
        A volta à especialização. Filósofos fazendo filosofia, críticos, critica, donas de casa tratando de cozinha.
           A Poesia para os poetas. Alegria dos que não sabem e descobrem.
          Tinha havido a inversão de tudo, a invasão de tudo: o teatro de tese e a luta no palco entre morais e imorais. A tese deve ser decidida em guerra de sociólogos, de homens de lei, gordos e dourados como Corpus Juris.
        Ágil o teatro, filho do saltimbanco. Ágil e ilógico. Ágil o romance, nascido da invenção. Ágil a poesia.
          A poesia Pau-Brasil. Ágil e cândida. Como uma criança.
        Uma sugestão de Blaise Cendrars: – Tendes as locomotivas cheias, ides partir. Um negro gira a manivela do desvio rotativo em que estais. O menor descuido vos fará partir na direção oposta ao vosso destino.
        Contra o gabinetismo, a prática culta da vida. Engenheiros em vez de jurisconsultos, perdidos como chineses na genealogia das ideias.
     A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos.
        Não há luta na terra de vocações acadêmicas. Há só fardas. Os futuristas e os outros.
         Uma única luta – a luta pelo caminho. Dividamos: Poesia de importação. E a Poesia Pau-Brasil, de exportação.
        Houve um fenômeno de democratização estética nas cinco partes sábias do mundo. Instituíra-se o naturalismo. Copiar. Quadros de carneiros que não fosse lã mesmo, não prestava. A interpretação no dicionário oral das Escolas de Belas Artes queria dizer reproduzir igualzinho... Veio a pirogravura. As meninas de todos os lares ficaram artistas. Apareceu a máquina fotográfica. E com todas as prerrogativas do cabelo grande, da caspa e da misteriosa genialidade de olho virado – o artista fotógrafo.
        Na música, o piano invadiu as saletas nuas, de folhinha na parede. Todas as meninas ficaram pianistas. Surgiu o piano de manivela, o piano de patas. A pleyela. E a ironia eslava compôs para a pleyela. Stravinski.
        A estatuária andou atrás. As procissões saíram novinhas das fábricas.
        Só não se inventou uma máquina de fazer versos – já havia o poeta parnasiano.
        Ora, a revolução indicou apenas que a arte voltava para as elites. E as elites começaram desmanchando. Duas fases:
1º) A deformação através do impressionismo, a fragmentação, o caos voluntário. De Cézanne e Malarmé, Rodin e Debussy até agora.
2º) O lirismo, a apresentação no templo, os materiais, a inocência construtiva.
        O Brasil profiteur. O Brasil doutor. E a coincidência da primeira construção brasileira no movimento de reconstrução geral. Poesia Pau-Brasil.
        Como a época é miraculosa, as leis nasceram do próprio rotamento dinâmico dos fatores destrutivos.
A síntese
O equilíbrio
O acabamento de carrosserie
A invenção
A surpresa
Uma nova perspectiva
Uma nova escala.
        Qualquer esforço natural nesse sentido será bom. Poesia Pau-Brasil
        O trabalho contra o detalhe naturalista – pela síntese; contra a morbidez romântica – pelo equilíbrio geômetra e pelo acabamento técnico; contra a cópia, pela invenção e pela surpresa.
        Uma nova perspectiva.
        A outra, a de Paolo Ucello criou o naturalismo de apogeu. Era uma ilusão ética. Os objetos distantes não diminuíam. Era uma lei de aparência. Ora, o momento é de reação à aparência. Reação à cópia. Substituir a perspectiva visual e naturalista por uma perspectiva de outra ordem: sentimental, intelectual, irônica, ingênua.
        Uma nova escala:
        A outra, a de um mundo proporcionado e catalogado com letras nos livros, crianças nos colos. O redame produzindo letras maiores que torres. E as novas formas da indústria, da viação, da aviação. Postes. Gasômetros Rails.
        Laboratórios e oficinas técnicas. Vozes e tics de fios e ondas e fulgurações. Estrelas familiarizadas com negativos fotográficos. O correspondente da surpresa física em arte.
        A reação contra o assunto invasor, diverso da finalidade. A peça de tese era um arranjo monstruoso. O romance de ideias, uma mistura. O quadro histórico, uma aberração. A escultura eloquente, um pavor sem sentido.
        Nossa época anuncia a volta ao sentido puro.
        Um quadro são linhas e cores. A estatuária são volumes sob a luz.
        A Poesia Pau-Brasil é uma sala de jantar domingueira, com passarinhos cantando na mata resumida das gaiolas, um sujeito magro compondo uma valsa para flauta e a Maricota lendo o jornal. No jornal anda todo o presente.
        Nenhuma fórmula para a contemporânea expressão do mundo. Ver com olhos livres.
        Temos a base dupla e presente – a floresta e a escola. A raça crédula e dualista e a geometria, a álgebra e a química logo depois da mamadeira e do chá de erva-doce. Um misto de "dorme nenê que o bicho vem pega" e de equações.
        Uma visão que bata nos cilindros dos moinhos, nas turbinas elétricas; nas usinas produtoras, nas questões cambiais, sem perder de vista o Museu Nacional. Pau-Brasil.
        Obuses de elevadores, cubos de arranha-céus e a sábia preguiça solar. A reza. O Carnaval. A energia íntima. O sabiá. A hospitalidade um pouco sensual, amorosa. A saudade dos pajés e os campos de aviação militar. Pau-Brasil.
        O trabalho da geração futurista foi ciclópico. Acertar o relógio império da literatura nacional.
        Realizada essa etapa, o problema é outro. Ser regional e puro em sua época.
        O estado de inocência substituindo o estada de graça que pode ser uma atitude do espírito.
        O contrapeso da originalidade nativa para inutilizar a adesão acadêmica.
        A reação contra todas as indigestões de sabedoria. O melhor de nossa tradição lírica. O melhor de nossa demonstração moderna.
        Apenas brasileiros de nossa época. O necessário de química, de mecânica, de economia e de balística. Tudo digerido. Sem meeting cultural. Práticos. Experimentais. Poetas. Sem reminiscências livrescas. Sem comparações de apoio. Sem pesquisa etimológica. Sem ontologia.
        Bárbaros, crédulos, pitorescos e meigos. Leitores de jornais. Pau-Brasil. A floresta e a escola. O Museu Nacional. A cozinha, o minério e a dança. A vegetação. Pau-Brasil."
              Lançado por Oswald de Andrade, no Correio da Manhã, em 18 de março de 1924.
TELES, Gilberto M. Vanguarda Europeia e Modernismo Brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1977.

Entendendo a poesia:
01 – Duas características da poesia modernista que aparecem sugeridas no último parágrafo do Manifesto da Poesia Pau-Brasil são:
a) incorporação da temática cotidiana – enfoque no presente.
b) valorização dos encontros familiares – enaltecimento da natureza.
c) aproveitamento do elemento musical – retrato de cenas familiares.
d) citação jornalística da realidade – reprodução do noticiário histórico.

02 – U. F. Uberlândia-MG Muitos autores brasileiros do Modernismo foram influenciados pelas vanguardas artísticas europeias, as hoje chamadas vanguardas históricas. Leia o texto abaixo e indique a que vanguarda ele se filia.
“O pastor pianista
Soltaram os pianos na planície deserta
Onde as sombras dos pássaros vêm beber.
Eu sou o pastor pianista.
Vejo ao longe com alegria meus pianos
Recortarem os vultos monumentais
Contra a lua.
Acompanhado pelas rosas migradoras
Apascento os pianos que gritam
E transmitem o antigo clamor do homem.”
                                            Murilo Mendes.
a) Surrealismo.
b) Futurismo.
c) Cubismo.
d) Dadaísmo.

03 – PUC-RS A produção poética da transição do século XIX para o XX evidencia duas tendências principais: uma que rejeita formalmente o Romantismo, outra que busca a genuína expressão poética. Registra-se, ainda, na época, o caso isolado do poeta _________, cuja reduzida produção caracteriza-se pela linguagem __________ e, ao mesmo tempo, ___________.
a) Alphonsus de Guimaraens / subjetiva / plástica.
b) Augusto dos Anjos / cientificista / corrosiva.
c) Eduardo Guimaraens / erudita / sugestiva.
d) Augusto dos Anjos / impressionista / sonora.
e) Alphonsus de Guimaraens / cientificista / grotesca.

04 – PUC-RS Associar a “Consciência Humana” à imagem de um “morcego”, assim como fazer poesia sobre o “verme”, ou afirmar que o homem, por viver “entre as feras”, também sente necessidade “de ser fera” são algumas das imagens poéticas de ________. Apesar das críticas contundentes de que foi alvo, o poeta, muito distante da obsessão _________ pela forma, ou da sugestão das imagens __________, já revelava, a seu tempo, elementos de modernidade.
a) Cruz e Sousa / simbolista / parnasianas.
b) Augusto dos Anjos / parnasiana / simbolistas.
c) Alphonsus Guimaraens / parnasiana / realistas.
d) Cruz e Sousa / romântica / parnasianas.
e) Augusto dos Anjos / simbolista / parnasianas.

05 – PUC-RS INSTRUÇÃO: Para responder à questão, enumerar a segunda coluna de acordo com a primeira, relacionando as ideias, expressões, autores e obras ao que convencionou denominar de Pré-Modernismo e Geração de 22.
1. Pré-Modernismo.
2. Geração de 22.
( ) Oswaldo de Andrade
( ) Lima Barreto
( ) Mario de Andrade
( ) Os Sertões
( ) fragmentação da narrativa
( ) ruptura com a tradição
( ) ecletismo
( ) irreverência.

A sequência correta, de cima para baixo, é a da alternativa:
a) 2 – 2 – 2 – 1 – 1 – 1 – 1 – 2.
b) 2 – 1 – 2 – 1 – 2 – 2 – 1 – 2.
c) 2 – 1 – 2 – 2 – 1 – 2 – 2 – 2.
d) 1 – 1 – 1 – 1 – 2 – 2 – 1 – 2.
e) 1 – 1 – 2 – 1 – 2 – 2 – 1 – 1.

06 – FEI-SP Manuel Bandeira é um importante poeta:
a) realista.
b) barroco.
c) romântico.
d) modernista.
e) árcade.