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domingo, 22 de maio de 2022

ROMANCE: CAPITÃES DE AREIA - REFORMATÓRIO - FRAGMENTO - JORGE AMADO -COM GABARITO

 Romance: Capitães de Areia – Reformatório - Fragmento

                Jorge Amado

        [...]

        No refeitório, enquanto bebiam o café aguado e mastigavam o bolachão duro, seu vizinho de mesa fala:

        – Tu é o chefe dos Capitães da Areia? – sua voz é baixíssima.

        – Sou, sim.

        – Vi teu retrato no jornal... Tu é um macho! Mas te acabaram – olha o rosto magro de Bala.

        Mastiga o bolachão. Continua:

        – Tu vai ficar aqui?

        – Vou arribar...

        – Eu também. Tenho um plano... Quando eu bater asa, posso ir pra teu grupo?

        – Pode.

        – Onde fica o buraco?

        Pedro Bala olha com desconfiança:

        – Tu encontra a gente no Campo Grande toda tarde

        – Pensa que vou dizer?

        O bedel Campos bate as mãos. Todos se levantam. Dirigem-se para as diversas oficinas ou para os terrenos cultivados.

        Pelo meio da tarde Pedro Bala vê o Sem-Pernas que passa na estrada. Vê também um bedel que o tange.

        Castigos... Castigos... É a palavra que Pedro Bala mais ouve no reformatório. Por qualquer coisa são espancados, por um nada são castigados. O ódio se acumula dentro de todos eles.

        No extremo do canavial passa um bilhete a Sem-Pernas. No outro dia encontra a corda entre as moitas de cana. Com certeza a puseram durante a noite. É um rolo de corda fina e resistente. Está novinha. No meio dela o punhal que Pedro mete nas calças. A dificuldade é levar o rolo para o dormitório. Fugir durante o dia é impossível, com a vigilância dos bedéis. Não pode levar o rolo entre a roupa, que notariam.

        De repente surge uma briga. Jeremias se joga sobre o bedel Fausto com o facão na mão. Outros meninos se atiram também, mas vem um grupo de bedéis armados de chicotes. Estão sujeitando Jeremias.

        Pedro mete o rolo de corda debaixo do paletó, abre para o dormitório. Um bedel vem descendo a escada com um revólver na mão. Pedro se esconde atrás de uma porta.

        O bedel vem rápido, passa.

        Empurra a corda para baixo do colchão, volta para o canavial. Jeremias foi levado para a cafua. Os bedéis agora juntam os meninos. Ranulfo e Campos foram em perseguição de Agostinho, que pulou a cerca na confusão da briga. O bedel Fausto, com um talho no ombro, foi para a enfermaria. O diretor está entre eles, os olhos fuzilando de raiva. Um bedel conta os meninos. Pergunta a Pedro Bala:

        – Onde estava metido?

        – Saí pra não me meter no barulho.

        O bedel o olha desconfiado, mas passa.

        Voltam Ranulfo e Campos com Agostinho. O fujão é surrado na vista de todos. Depois o diretor diz:

        – Metam-no na cafua.

        – Já está Jeremias – fala Ranulfo.

        – Ficam os dois. Assim podem conversar...

        Pedro Bala se arrepia. Como irão ficar dois na pequenez da cafua?

        Nesta noite a vigilância é grande, ele não tenta nada. Os meninos rangem os dentes de raiva.

        Duas noites depois, quando o bedel Fausto já tinha se recolhido há muito ao seu quarto de tabiques e quando todos dormiam, Pedro Bala se levantou, tirou a corda de sob o colchão. Sua cama ficava junto a uma janela. Abriu. Amarrou a corda num dos armadores de rede que existiam na parede. Deixou que a corda caísse pela janela.

        Era curta. Faltava ainda muito. Recolheu. Procurava fazer o menor barulho possível, mas assim mesmo um dos seus vizinhos de cama acordou:

        – Tu vai bater asa?

        Aquele não tinha boa fama. Costumava delatar. Por isso mesmo fora colocado ao lado de Pedro Bala. Bala puxou o punhal, mostrou a ele.

        – Olha, xereta, trata de dormir. Se tu piar, eu te abro a garganta, palavra de Pedro Bala. E se tu disser alguma coisa depois que eu sair... Tu já viu falar nos Capitães da Areia?

        – Já.

        – Pois eles me vinga.

        Põe o punhal ao alcance da mão. Recolhe completamente a corda, amarra o lençol na ponta com um daqueles nós que o Querido-de-Deus lhe ensinou. Ameaça mais uma vez o menino, joga a corda, passa o corpo pela janela, começa a descida. Ainda no meio ouve os gritos denunciadores do delator.

        [...].

AMADO, Jorge. Capitães de Areia. São Paulo: Companhia de Bolso, 2009.

Fonte: Livro – Viva Português 2° – Ensino médio – Língua portuguesa – 1ª edição 1ª impressão – São Paulo – 2011. Ed. Ática. p. 16-8.

Entendendo o romance:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Arribar: partir sem dizer para onde.

·        Cafua: quarto escuro onde se prendiam os alunos castigados.

·        Tabique: parede fina, geralmente de madeira.

·        Tanger: acelerar de algum modo a marcha de uma pessoa ou de um animal.

02 – Descreva o espaço onde acontecem os fatos narrados.

      Trata-se de um reformatório onde há um refeitório, oficinas, campos de cultivo, dormitório e uma cafua. Sabemos que o dormitório não fica no térreo, pois Pedro precisa de corda e lençol para alcançar o chão.

03 – O comportamento de Pedro Bala durante o diálogo no refeitório e no momento da briga revela algumas de suas características. Quais?

      Pedro Bala é bastante esperto, tem senso de oportunidade, mas também é bastante desconfiado.

04 – O trecho foi interrompido num momento decisivo da narrativa. Que momento é esse? Que perguntas nos fazemos nesse momento?

      O momento em que Pedro Bala tenta uma fuga. Perguntamo-nos se ele vai conseguir, se os gritos do companheiro de quarto despertarão os bedéis a tempo de conseguirem impedir a fuga do garoto.

05 – Levante uma hipótese de desfecho para o capítulo.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Se deixa escorregar pela corda, salta ao chão. O pulo é grande, mas ela já salta correndo. Pula a cerca, após evitar os cachorros policiais que estão soltos. Desaba pela estrada. Tem alguns minutos de vantagem. O tempo dos bedéis se vestirem e saírem em sua perseguição e soltarem os cachorros também. Pedro Bala prede o punhal nos dentes, tira a roupa. Assim os cachorros não o conhecerão pelo faro. E nu, na madrugada fria, inicia a carreira para o sol, para a liberdade.

sábado, 23 de novembro de 2019

ROMANCE: CAPITÃES DE AREIA -(FRAGMENTO) - JORGE AMADO - COM GABARITO

Romance: Capitães de Areia - Fragmento               
                  Jorge Amado

         O romance Capitães da Areia, de Jorge Amado, é um documento sobre a vida dos meninos de rua de Salvador. A sua primeira edição (1937) foi apreendida e queimada em praça pública pouco depois de implantada a ditadura de Getúlio Vargas. No trecho a seguir, o narrador nos conta como Pedro Bala, aos quinze anos, assumiu a liderança de um grupo que dormia num velho armazém abandonado do cais do porto.
        "É aqui também que mora o chefe dos Capitães da Areia: Pedro Bala. Desde cedo foi chamado assim, desde seus cinco anos. Hoje tem quinze anos. Há dez que vagabundeia nas ruas da Bahia. Nunca soube de sua mãe, seu pai morrera de um balaço. Ele ficou sozinho e empregou anos em conhecer a cidade. Hoje sabe de todas as suas ruas e de todos os seus becos. Não há venda, quitanda, botequim que ele não conheça. Quando se incorporou aos Capitães da Areia (o cais recém-construído atraiu para suas areias todas as crianças abandonadas da cidade) o chefe era Raimundo, o Caboclo, mulato avermelhado e forte.
        Não durou muito na chefia o caboclo Raimundo. Pedro Bala era muito mais ativo, sabia planejar os trabalhos, sabia tratar com os outros, trazia nos olhos e na voz a autoridade de chefe. Um dia brigaram. A desgraça de Raimundo foi puxar uma navalha e cortar o rosto de Pedro, um talho que ficou para o resto da vida. Os outros se meteram e como Pedro estava desarmado deram razão a ele e ficaram esperando a revanche, que não tardou. Uma noite, quando Raimundo quis surrar Barandão, Pedro tomou as dores do negrinho e rolaram na luta mais sensacional a que as areias do cais jamais assistiram. Raimundo era mais alto e mais velho. Porém Pedro Bala, o cabelo loiro voando, a cicatriz vermelha no rosto, era de uma agilidade espantosa e desde esse dia Raimundo deixou não só a chefia dos Capitães da areia, como o próprio areal. Engajou tempos depois num navio.
        Todos reconheceram os direitos de Pedro Bala à chefia, e foi dessa época que a cidade começou a ouvir falar nos Capitães da areia, crianças abandonadas que viviam do furto."

Jorge Amado, Capitães da Areia, 50. ed. Rio de Janeiro: Record, 1980, p. 26-7.
Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p. 344-5

Entendendo o romance:

01 – Pela leitura do texto, pode-se concluir que o romance pretende denunciar que tipo de problema?
      Um problema social (a questão do menor abandonado).

02 – Que fato da vida de Pedro Bala pode ser considerado como o elemento desencadeador de sua vida de menino de rua?
      Não ter pai nem mãe (nem a solidariedade do Estado).

03 – Que características de Pedro Bala fizeram dele líder do grupo?
      Era ativo, planejador, sabia tratar os outros e trazia na voz e nos olhos a autoridade de chefe.

04 – Mesmo sendo um grupo de marginalizados, os meninos demonstravam senso de justiça entre os membros do grupo. Que fato narrado comprova essa afirmação?
      Os meninos reprovaram a atitude de Raimundo de usar uma navalha contra o jovem desarmado.



domingo, 23 de junho de 2019

CONTO: O GATO MALHADO E A ANDORINHA SINHÁ - JORGE AMADO - COM GABARITO

Conto: O gato malhado e a Andorinha Sinhá
         
                                  Jorge Amado

        A história em questão acontece entre o gato malhado e a andorinha Sinhá e se desenvolve em um parque muito arborizado e habitado por animais de várias espécies. Com o desenrolar da história percebemos que o tempo, com suas estações, cria uma atmosfera que influencia o humor dos personagens.

        “É tão impossível avivar o fogo com a neve quanto apagar o fogo do amor com palavras”.
                                                      Willian Shakespeare

        Jorge Amado descreve o gato malhado como alguém de meia idade, distante da juventude. “Não existia nos arredores nenhuma criatura mais egoísta e solitária que o gato malhado. Ele não tinha relações de amizade com os seus vizinhos e quase nunca respondia aos raros cumprimentos que por medo, e não por gentileza, alguns transeuntes lhe dirigiam.
        Nada alterava o dia a dia do parque até que a primavera chegou com as suas cores alegres, aromas inebriantes e sonoras melodias. O gato malhado estava dormindo quando a primavera chegou, repentina e poderosa. Mas a sua presença era tão insistente e forte que o acordou do seu sono sem sonhos, abriu os seus olhos castanhos e esticou os braços”.
        Neste novo estado primaveril, o gato malhado experimentou um estado de otimismo incomum. “Ele se sentia leve, queria falar sem compromisso, andar sem rumo e até mesmo conversar com alguém. Olhou em volta com seus olhos castanhos, mas não viu ninguém. Todos tinham fugido”.
        No entanto, “no galho de uma árvore a andorinha Sinhá piava e sorria para o gato malhado. Enquanto isso, dentro dos seus esconderijos, todos os habitantes do parque olhavam espantados para a andorinha Sinhá”.
        Jorge Amado relata como era a outra protagonista da história: “Quando ela passeava, risonha e coquete, não havia nenhum pássaro em idade de casar que não suspirasse por ela. Era muito jovem ainda, mas onde quer que estivesse, todos os jovens do parque se aproximavam.
        Ela ria com todos, mas não amava ninguém. Voava despreocupadamente de árvore em árvore pelo parque; era curiosa, gostava de conversar e era inocente de coração. Na verdade, não existia em nenhum parque da redondeza uma andorinha tão bela e gentil como a andorinha Sinhá”.
        A andorinha conversou com o gato malhado e chegou até a insultá-lo, um fato que os demais habitantes do parque viram como uma sentença de morte para o pássaro. Seus pais a haviam proibido de se relacionar com os gatos, pois eles eram os predadores naturais dos pássaros. Mas ela ignorou o conselho e conversou com ele.
        Naquela noite, a andorinha “deitou suavemente a cabeça na pétala de rosa que lhe servia de travesseiro e decidiu continuar a sua conversa com o gato no outro dia: – Ele é feio, mas é simpático… – murmurou ao adormecer.
        Quanto ao gato malhado, ele também pensava na arisca andorinha Sinhá. No entanto, havia algo que ele não possuía: um travesseiro. Além de feio e mau, o gato malhado era pobre e descansou a cabeça sobre os braços”.
        A doença do gato

        O gato estava muito cansado e achou que estava doente. Depois percebeu que tinha febre e foi buscar água do lago para se refrescar do ardor que sentia por dentro. E ali, nas águas do lago, ele viu o reflexo da andorinha Sinhá que o observava: “ele a reconheceu em cada folha, em cada gota de orvalho, em cada raio de sol do crepúsculo e em cada sombra da noite que se aproximava”. Quando ele conseguiu dormir, “sonhou com a andorinha e era a primeira vez que sonhava em muitos anos”.
        O gato malhado não percebeu que havia se apaixonado; não conseguiu reconhecer os seus sentimentos. Quando era jovem havia se apaixonado muitas vezes, quase todas as semanas, mas nunca deu muita importância a esses sentimentos. Na verdade, ele tinha machucado muitos corações. Quando acordou, se lembrou que tinha sonhado durante toda a noite com a andorinha, mas decidiu não se preocupar com isso.
        No entanto, durante toda a primavera ele seguiu a andorinha Sinhá para conversar e nunca faltava assunto. Logo, começaram a passear juntos pelo parque; ele caminhava pelo parque e ela o acompanhava voando ao seu lado. Vagavam sem rumo e comentavam sobre a cor das flores e a beleza do mundo.
        O gato malhado passou por uma transformação. Já “não ameaçava os outros seres vivos, não despedaçava as flores com suas patadas, não eriçava os pelos quando um estranho se aproximava, não repelia os cães eriçando os bigodes, os insultando entre dentes. Ele se tornou um ser suave e gentil, era o primeiro a cumprimentar os habitantes do parque, ele que antigamente não respondia aos cumprimentos que lhes dirigiam”.

        O amor tem fronteiras?

        No final do verão, a andorinha e o gato jantaram juntos. Enquanto conversavam, o gato não se conteve e lhe disse que se não fosse um gato, a pediria em casamento. “Naquela noite, a andorinha não retornou. O gato tentava entender o que estava acontecendo com ele e se debatia com sentimentos contraditórios. Envolto em tristeza e solidão, decidiu conversar com a coruja”.
        No início, conversaram sobre vários assuntos sem importância. Mas a coruja era sábia e percebeu o que estava acontecendo. Sem esperar que ele perguntasse, ela lhe contou sobre os rumores que haviam no parque sobre os seus encontros com a andorinha.
        Todos pensavam mal dele e isso o enfureceu. No final, a velha coruja deu a sua opinião: “Velho amigo, não há nada a fazer. Como você pôde imaginar que a andorinha o aceitaria como marido? Nunca houve um caso assim, mesmo que ela o amasse”.
        No entanto, quando o outono chegou, o gato malhado procurou novamente a andorinha. Ela estava séria e distante, já não sorria mais e não demonstrava a mesma simpatia de outros tempos. O gato não conseguia esconder que estava muito triste. No seu coração ressoavam as palavras da coruja e só conseguia passear com a andorinha em silêncio.
        Nessa noite, o gato malhado voltou a ser o vilão de sempre. Ele perseguiu o pato preto, assustou o papagaio, arranhou o focinho de um cão e roubou e jogou fora os ovos do galinheiro. Todos os habitantes do parque espalharam a notícia e voltaram a temer o gato que parecia a encarnação da maldade.

        O final da história

        Depois de alguns dias, o gato recebeu uma carta da Andorinha Sinhá, graças a um pombo correio. Nele, ela dizia que uma andorinha nunca poderia se casar com um gato e que não deviam voltar a se ver.
        No entanto, também acrescentou que nunca havia sido tão feliz como durante os passeios pelo parque com ele. Terminou o bilhete com uma declaração que lhe queimou o coração: “Sempre sua, Sinhá”. O gato malhado leu essa carta várias vezes até guardar tudo na memória.
        Algum tempo depois, a andorinha apareceu sem aviso prévio. Ela estava tão linda e terna, como na primavera. Agia como se nada tivesse acontecido, como se a distância que os separava tivesse se diluído. O gato estava comovido, mas no final da tarde ele soube da verdade. “Ficaram juntos até que a noite chegou e então ela lhe disse que seria a última vez que ele a veria, porque iria se casar com um rouxinol. Por quê? Porque uma andorinha não pode se casar com um gato”.
        O gato malhado ficou arrasado com a notícia. Durante o casamento, ele não conseguiu aguentar e foi à festa. A andorinha, que conhecia o som dos seus passos, sabia que ele estava lá, deixou que uma das suas lágrimas fossem levadas pelo vento e caíssem nas mãos do gato.
        “Isto iluminou o caminho solitário do gato malhado na noite sem estrelas. O gato tomou a direção dos caminhos estreitos que conduzem para a encruzilhada do fim do mundo”.
        Definitivamente, uma bela história que nos lembra da eterna tristeza dos amores impossíveis.

        Moral da história: Todos nós temos preconceitos. Por muito que o mundo evolua, é quase impossível haver alguém que não tenha um único preconceito. Muitas vezes nem nos apercebermos que certas ideias ou gostos que manifestamos são preconceitos: aproximarmos-nos de pessoas mais magras ou mais gordas, mais altas ou mais baixos, gostar de estar só com pessoas mais novas ou mais velhas... Todos nós temos as nossas preferências e nem sempre nos apercebemos de que se trata de preconceitos. Se estes não nos levarem a afastar ou discriminar pessoas apenas por aquilo que aparentam ser, o problema não é grave. Mais ainda há quem marginalize os outros, baseado em conceitos de raça, crença, poder...
        Esta história do Gato Malhado e da Andorinha Sinhá mostra como isso pode acontecer, como a felicidade de dois animais é colocado em causa porque pertencem a mundos diferentes.

Entendendo o conto:

01 – Indique o nome da primeira personagem que aparece neste capítulo?
        É o gato malhado.

02 – Faça a característica física e psicológica do gato.
      Características física: um gato feio, gordo, forte, às riscas amarelas e negras, gato de meio idade, com olhos que transmitem maldade e grande bigodes.

      Características psicológica: solitário, egoísta, mal humorado, antipático, desagradável, convencido e insensível.

03 – por que motivo se assustaram os animais do parque?
      Os animais do parque assustaram-se porque pensavam que o gato ia matar a Andorinha.

04 – A Andorinha não fugiu. Por quê?
      A Andorinha não fugiu porque como não conseguia voar, não a podia alcançar.

05 – Na opinião da Andorinha, o Gato Malhado era.
      Tolo, feíssimo e convencido.

06 – De que modo reagiu o Gato Malhado à crítica da Andorinha?
      O Gato Malhado, fez o inesperado: riu-se da crítica da Andorinha.

07 – O que significa a expressão: “riso espantosa de quem se havia desacostumado de rir”?
      A expressão significa que o Gato já não se ria há muito tempo.

08 – Reações dos outros animais:
      A árvore Pau-Brasil tremeu de medo, o Cã Dinamarquês pensou que o Gato se ia vingar da Andorinha, o Reverendo Papagaio fechou os olhos e a Andorinha voou um galho mais alto.

09 – Sensações visuais, olfativas e auditivas presentes nesta estação.
      Sensações visuais: “vestidas de luz e de cores”; “riscas amarelas e negras”; ...
      Sensações auditivas: “seguem o cacarejar da orgulhosa galinha”; “murmuravam”; ...
      Sensações olfativas: “olorosa de perfumes sutis”; “botões nasciam perfumados”; ...

10 – Como se designam as expressões “Santo Deus!”; “Ui” e “Ai, Meu Deus”? Quais os sentimentos que exprimem?
      As expressões “Santo Deus”; “Ui” e “Ai, Meu Deus!” são interjeições que exprimem medo, susto e terror.

11 – A estação do verão é curta, por quê?
      A estação do verão é curta, passou rapidamente “com o seu sol ardente e noites cheias de estrelas”, pois é sempre rápido o tempo de felicidade. “O tempo é um ser difícil”, isto é, quando queremos que o tempo passe depressa (momentos de infelicidade) ele vai andando devagar, pormenorizando cada momento. Quando há o desejo de viver para sempre um capítulo de uma vida o tempo corre. Então, esta estação ser curta deve-se ao facto do tempo em que a Andorinha e o Gato estiveram juntos passasse num ápice. A Andorinha pergunta ao Gato o porque da sua infelicidade.

12 – O que é que o Gato lhe responde?
      O Gato diz-se que se ela não fosse uma Andorinha lhe pedia para casar com ele.

13 – Qual a reação da Andorinha?
      A Andorinha não ficou surpreendida pois já sabia o que se passava no coração do Gato; zanga também não deveria ser pois aquelas palavras foram-lhe gratas, mas tinha medo, ele era um Gato e os gatos são inimigos das andorinhas.

14 – Como se sente o Gato Malhado quando resolve ir conversar com a Coruja?
      O Gato Malhado sente-se só, triste e confuso.

15 – A Coruja sugere a única solução para vencer a lei das andorinhas. Qual?
      A solução que a Coruja sugere é uma revolução de mentalidades e de comportamentos.

16 – Na opinião da Coruja a lei das andorinhas impede o casamento entre o Gato e a Andorinha. Transpondo para o plano humano, esta lei representa...
      Representa um tipo de conduta social e racial interiorizada pela sociedade.

17 – Tristes e em silêncio, o Gato e a Andorinha “tinham ambos o ar de quem quer evitar um assunto que se impõe”. Que assunto é esse?
      O assunto que é evitado pelo Gato e a Andorinha é a separação inevitável deles, devido aos rumores e à lei das andorinhas.

18 – O que aconteceu durante o casamento da Andorinha e do Rouxinol?
      Durante o casamento da Andorinha e do Rouxinol, onde estavam presentes todos os animais do parque menos o Gato Malhado que permanecia solitário, caiu sobre o Gato uma pétala das rosas vermelhas e este colocou-a no seu peito.

19 – A andorinha deixou cair uma pétala de rosa com que intensão?
      A Andorinha deixou cair uma pétala de rosa com a intensão de iluminar o caminho do gato que estava só e triste.

20 – Por que era este amor impossível?
      Este amor era impossível porque a Andorinha e o Gato são seres de espécies diferentes e, até, inimigos.

21 – Qual é o acontecimento mais importante desta narrativa?
      O acontecimento mais importante desta narrativa é o desenrolar da paixão entre o Gato Malhado e a Andorinha Sinhá.
     


terça-feira, 7 de maio de 2019

ROMANCE: TIETA DO AGRESTE -(FRAGMENTO) - JORGE AMADO - COM GABARITO

Romance: Tieta do Agreste - Fragmento
      

Minuciosa descrição do confuso desembarque de Tieta, a filha pródiga ou Antonieta Esteves Cantarelli, a viúva alegre
                                Jorge Amado

        Na primeira fila, a família, tristeza expressa nos olhares, nas lágrimas, nos trajes. Um passo à frente dos demais, o velho Zé Esteves, mascando fumo. Em seguida aos enlutados parentes, o reverendo, os meninos do catecismo, as pessoas gradas, dona Carmosina, buquê em punho, o colorido alegre das flores destoando do crepe e do choro – essa criatura para aparecer passa por cima dos sentimentos mais sagrados, indigna-se Perpétua, por baixo do véu preso ao coque, a lhe cobrir o rosto. Depois, as beatas e o resto da população.
        A marinete se aproxima, Jairo ao volante, poucos passageiros. Para Jairo dia magro, para Agreste dia gordo, dia de matar o carneiro pascoal, de foguetório e festa em honra da filha pródiga, não fosse ela viúva em nojo e dor. Cabem somente luto e lágrimas, cantoria de igreja.
        As conversas cessam, Peto se alteia na ponta dos pés, assim a tia desembarque ele cairá fora, arrancará os sapatos. A marinete estanca num rumor cansado de juntas e molas.
        Peto conta os passageiros que descem: seu Cunha, um, o casal de roceiros, dois, três, dona Carmelita, quatro, a criada, cinco, esse eu nunca vi, seis, nem esse, sete, seu Agostinho da padaria, oito, a mulher dele, nove, a filha, dez, a tia Antonieta e a moça vão ser os últimos. Mesmo Jairo salta antes, carregado de maletas e bolsas das esperadas viajantes. Com Jairo fazem onze, agora doze, é ela, por fim.
        Será ela? Peto fica em dúvida. Não pode ser, a tia deve estar de luto, véu fúnebre tapando o rosto, igual à mãe, não pode ser de maneira alguma essa artista de cinema, Gina Lollobrigida. Na porta, sobre o degrau, majestosa, Antonieta Esteves – Antonieta Esteves Cantarelli, faça o favor, exige Perpétua. Deslumbrante. Alta, fornida de carnes, a longa cabeleira loira sobrando do turbante vermelho. Vermelho, sim, vermelho igual à blusa esporte, de malha, simples e elegante, marcando a firmeza dos seios volumosos dos quais se vê apreciável amostra através da gola de botões abertos. A calça Lee azul colada às coxas e à bunda, valorizando volumes e reentrâncias, que volumes! que reentrâncias! Os pés calçados com finos mocassins havana. O único detalhe escuro em todo o traje da viúva são os óculos esfumaçados, lentes e armação quadradas, o podre do chique, assinados por Christian Dior. O espanto dura uma fração mínima de tempo, um tempo imenso, uma eternidade.
        Peto, vitorioso, exclama:
        -- A tia não está de luto, Mãe. Posso tirar os sapatos e a gravata?
        Antonieta, paralisada sobre o degrau, na porta do ônibus: diante dela a família de luto pela morte de Felipe, o inolvidável esposo, e ela em tecnicolor, em azul e vermelho, blusa aberta, esportivas calças Lee, ai, meu Deus, como não pensara em luto? Estudara cada pormenor e os discutira com Leonora, meticulosamente. Esquecera o mais importante. Mas já Zé Esteves cospe o pedaço de fumo e estende os braços para a filha pródiga:
        -- Minha filha! Pensei que não ia mais te ver mas Deus quis me dar essa consolação antes da morte.
        De cima do degrau da marinete, Antonieta reconhece o pai. O pai e o bordão. É o mesmo, o mesmíssimo cajado que cantou em suas costas naquela noite de fim do mundo. Um frouxo de riso sobe dentro dela, não consegue contê-lo, estremece, incontrolável som a romper-lhe a boca, apenas tem tempo de encobrir o rosto com as mãos, antes de saltar. Acorrem todos a consolar a viúva em pranto, filha pródiga afogando os soluços nos braços do pai, comovente instante. Nem Perpétua se deu conta. Elisa chora e ri, de repente desafogada, a irmã sendo como imaginara, sem tirar nem pôr. Única a estranhar o curioso som inicial, dona Carmosina aproxima-se com as flores tão de acordo com o traje de viagem de Tieta.
        Enquanto Tieta vai de abraço em abraço, disputada pelas irmãs, pelo cunhado, pelos sobrinhos – tire os sapatos, meu lindo, fique à vontade –, presa aos beijos sem conta, às lágrimas de Elisa, na porta da marinete de Jairo aparece a mais formosa, a mais doce e sedutora donzela, esbelta juventude, uma sílfide como logo reconheceu e proclamou o vate De Matos Barbosa. Parada, a contemplar a emocionante cena, emocionada ela também. Encantadora no slaque delavê, boné da mesma fazenda rodeado de cabelos loiros, acinzentados pela poeira, Peto reconhece a própria mocinha dos filmes de caubói. Um murmúrio de admiração percorre a rua, Tieta, desprendendo-se dos beijos de Elisa, apresenta:
        -- Leonora Cantarelli, minha enteada, minha filha, não tem diferença.
        Dona Carmosina volta-se para Ascânio Trindade e o surpreende embevecido. E agora, amigo? Leonora amplia o meigo sorriso, abarcando a todos, detendo-se em Ascânio a fixá-la, atoleimado.
        -- Feche a boca, Ascânio, e vá ajudar a moça a descer – ordena dona Carmosina.
        Adianta-se Ascânio, oferece a mão à paulista: seja bem-vinda às terras de Agreste, pobres, sadias e belas, perdoe o atraso e o desconforto. Ricardo põe o joelho em terra para pedir a bênção à tia mas ela o ergue e o toma nos braços, beija-lhe as faces: meu padreco mais garboso!
        Após compreensível indecisão, o padre Mariano resolve, não vai perder, por uma questão de protocolo, o difícil trabalho de adaptação da letra de uma ladainha e de quinze dias de ensaios.
        Faz um sinal, os meninos do catecismo cantam:
        “Vestida de negro
         Ela apareceu
         Trazendo nos olhos
         As cores do luto.
         Ave! Ave!
         Ave Antonieta!”
        [...]
        Ei-la em Sant’Ana do Agreste, em meio à família em luto, a ouvir os meninos do catecismo; obrigada, Padre. De todo o coração. Do mar, chega a brisa da tarde, vem saudá-la. Com ajuda de Sabino, Jairo desembarca as malas, a bagagem viaja no teto da marineti, coberta com lona grossa como se alguma cobertura adiantasse contra a poeira do caminho.
        -- Vamos minha filha. – Convida Zé Esteves oferecendo o braço, apoiando-se no bastão.
        -- Para minha casa. – Tenta comandar Perpétua em meio aos destroços da violada compunção.
        Cabe-lhe a culpa, a mais ninguém. Como pudera imaginar Tieta vestindo luto por marido? Fizera da irmã a sua igual, como se dinheiro, alta sociedade, casamento com paulista rico e comendador do Papa pudessem consertar quem nasceu torta, rebelde a códigos, leis e respeito humano, sem régua nem compasso.
                                      Rio de Janeiro. Record. 1977. p. 92-5.
Entendendo o romance:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:
·        Grado: graúdo, importante.
·        Nojo: luto.
·        Inolvidável: inesquecível.
·        Sílfide: feminino de silfo, o mesmo que gênio do ar; figura vaporosa.
·        Marineti: ônibus.

02 – Seguindo a tradição da literatura oral nordestina, o texto é apresentado pelo narrador. A apresentação, em destaque, é feita de modo imparcial ou deixa transparecer opiniões do narrador? Justifique.
      A apresentação evidencia as opiniões do narrador, como se nota nas expressões “confuso desembarque” e “viúva alegre”.

03 – Sant’Ana do Agreste é uma cidade pequena, de hábitos provincianos. Quando deixou a cidade, Tieta era apenas uma moça simples e namoradeira.
a)   Que fato ligado à chegada de Tieta demonstra o provincianismo da cidade?
A recepção preparada para Tieta, uma pessoa “importante”: com a presença de todos os “grados” da cidade, honrarias, flores, ladainha ensaiada; o pai à frente, depois os familiares, depois, as demais pessoas do povo.

b)   Levante hipóteses: Se Tieta era uma pessoa comum antes de partir da cidade, por qual razão ela tem uma recepção tão especial na sua volta?
Porque todos pensam que ela se tornou milionária ao se casar com um industrial paulista.

04 – Por influência de Perpétua, todos da família esperam Tieta de luto pesado. Até o Padre, com uma ladainha adaptada, preparara uma homenagem para a viúva em nojo e dor. Entretanto, Tieta não aparece em trajes de luto.
a)   De acordo com o texto, por que isso ocorreu?
Tieta se esquecera desse “detalhe”.

b)   Como as pessoas reagem a esse fato? Justifique com um exemplo.
As pessoas se espantam, e o Padre fica confuso, não sabendo se dá ou não o sinal para os meninos cantarem a ladainha.

c)   Que significado tem esse fato para Perpétua, considerando-se o juízo que vinha fazendo da irmã distante?
Perpétua percebe que a irmã não mudara seu jeito de ser.

05 – Releia estes dois fragmentos:
        “Um frouxo de riso sobe dentro dela, não consegue contê-lo, estremece, incontrolável som a romper-lhe a boca, apenas tem tempo de encobrir o rosto com as mãos, antes de saltar.”
        “Será ela? Peto fica em dúvida. Não pode ser, a tia deve estar de luto, véu fúnebre tapando o rosto, igual à mãe, não pode ser de maneira alguma essa artista de cinema, Gina Lollobrigida. Na porta, sobre o degrau, majestosa, Antonieta Esteves – Antonieta Esteves Cantarelli, faça o favor, exige Perpétua.”

a)   O primeiro fragmento, o que se depreende da personalidade de Tieta?
Tieta é irreverente e livre; não se prende às normas sociais.

b)   De acordo com o segundo fragmento, Perpétua insiste em acrescentar ao nome da irmã o sobrenome do falecido: Cantarelli. O que esse fato possibilita depreender a respeito da personalidade dessa personagem?
Perpétua é interesseira; faz questão de vincular o nome da irmã ao de um suposto industrial rico.

06 – Como se caracteriza a linguagem empregada no texto?
      É simples e direta, com palavras e expressões populares, como “dia gordo”; “foguetório”; “cantou em suas costas”; etc.