Mostrando postagens com marcador LEONARDO BOFF. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador LEONARDO BOFF. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

MITO: A ÁRVORE DA VITALIDADE - O GUARANÁ - FRAGMENTO - LEONARDO BOFF - COM GABARITO

 Mito: A árvore da vitalidade – o guaraná – Fragmento

         Leonardo Boff

        Aguiri, menino da tribo Sateré-Maué da área cultural do Tapajós-Madeira, tinha os olhos mais lindos e espertos que jamais se vira naquela região. Os pais agradeciam frequentemente ao Grande Espírito por essa graça singular. Muitas mães pediam ao céu que fizesse nascer também para eles um filho com olhos tão bonitos.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoqFvi4pRGO1s3-PhHW_ps7EFawQTTq7SHVwcLSDyzUVGLnSwYtiS1_V6rAqWqhnUtPNh6w2UajtO2lTR3xQzxNjKiPjQURd9WygMrmA0bHFVT6hbQAkubAnRCF1-nQBMHLIPo8O2yMUwVlG8E7HleiDwadG7ZPS6VuRMwj7rI7gLr4pmDNjVQTr3Z_AY/s1600/INDIO.jpg


        Aguiri se alimentava de frutas que colhia da floresta em cestos que sua mãe lhe fazia e gostava de partilhá-las com outros coleguinhas de jogos.

        Certa feita, o menino dos olhos lindos distraiu-se da colheita das frutas, indo de árvore em árvore até afastar-se muito da maloca. Aí percebeu, com tristeza, que o sol já transmontara e que se fazia escuro na floresta.

        Não achando mais o caminho de volta, decidiu então dormir no oco de uma grande árvore, protegido dos animais noturnos e perigosos. Mas não estava a salvo do temido Jurupari, um espírito malfazejo que vaga pela floresta, ameaçando quem anda sozinho. Ele também se alimenta de frutas. Mas tem o corpo peludo de morcego e o bico de adunco de coruja.

        Jurupari sentiu a presença de Aguiri e, sem maiores dificuldades, o localizou no oco da grande árvore. Atacou-o de pronto, sem permitir que pudesse esboçar qualquer defesa.

        De noite, os pais e todas as mães que admiravam Aguiri ficaram cheios de preocupação. Ninguém conseguiu pregar o olho. Mal o sol raiou, os homens saíram pela mata afora em busca do menino. Depois de muito vaguear daqui e ali, finalmente encontraram seu cesto, cheio de frutas que ficaram intocadas. E no oco da grande árvore deram com o corpo já frio de Aguiri. Havia sido morto pelo terrível Jurupari, o espírito malfazejo.

        Foi um lamento só. Especialmente choravam os curumins, seus colegas de folguedos. Eis que se ouviu no céu um grande trovão e um raio iluminou o corpo de Aguiri. Todos gritaram:

        -- É Tupã que se apiedou de nós. Ele vai nos devolver o menino.

        Nisso se ouviu uma voz do céu, que dizia suavemente:

        -- Tomem os olhos de Aguiri e os plantem ao pé de uma árvore seca. Reguem esses olhos com as lágrimas dos coleguinhas. Elas farão germinar uma planta que trará felicidade a todos. Quem provar o seu suco sentirá as energias renovadas e se encherá de entusiasmo para manter-se desperto e poder trabalhar incansavelmente. E assim foi feito.

        Tempos depois, nasceu uma árvore, cujos frutos tinham a forma dos olhos bonitos e espertos de Aguiri. Fazendo do fruto um suco delicioso, todos da tribo sentiram grande energia e excitação.

        Deram, então, àquela fruta, em homenagem ao curumim Aguiri, o nome de Guaraná, que em língua tupi significa “a árvore da vida e da vitalidade”. [...]

LEONARDO BOFF. O casamento entre o céu e a terra: contos dos povos indígenas do Brasil. Rio de Janeiro: Mar de ideias, 2014. (Fragmento).

Fonte: Coleção Desafio Língua Portuguesa – 5° ano – Anos Iniciais do Ensino Fundamental – Roberta Vaiano – 1ª edição – São Paulo, 2021 – Moderna – p. MP137-140.

Entendendo o mito:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Área cultural: área com a influência dos costumes de um povo.

·        Grande Espírito: deus indígenas; pelo contexto, Tupã.

·        Transmontara: pusera-se, desparecera (Sol, Lua, astro).

·        Malfazejo: que faz o mal.

·        Adunco: com formato curvo, como um gancho.

·        Lamento: choro.

·        Curumins: meninos.

·        Folguedos: brincadeiras.

·        Se apiedou: teve pena.

02 – Que características do texto que você leu permitem considera-lo um mito?

      A história é imaginária ou fantasiosa e serve para explicar a origem do guaraná.

03 – No primeiro parágrafo, é apontada uma característica de Aguiri muito importante para a compreensão do mito. Copie o trecho que mostra essa característica.

      “[...] tinha os olhos mais lindos e espertos que jamais se vira naquela região”.

a)   Em outro momento, essa característica é usada para substituir o nome de Aguiri. Copie a expressão empregada com essa finalidade.

O menino dos olhos lindos.

b)   Qual é a importância dessa característica para a compreensão da história?

São os olhos tão bonitos de Aguiri que Tupã pede que sejam plantados para dar vida ao guaraná e homenagear o menino.

04 – Na história, Tupã é a representação do Bem. Que expressão do texto faz referência a essa divindade?

      Grande Espírito.

a)   Em que outro momento se faz referência a Tupã no texto sem que se diga o seu nome?

Quando é dito que se ouviu um grande trovão, que um raio iluminou o corpo do menino e que todos ouviram uma voz do céu.

b)   Quem representa o Mal na história?

Jurupari, um espírito malfazejo que vaga pela floresta, ameaçando quem anda sozinho.

c)   Tupã não trouxe Aguiri de volta, mas transformou a vida dos que sofriam pela morte do menino. Como ele fez isso?

Através dos olhos de Aguiri; Tupã deu às pessoas uma árvore que produzia frutos que lembravam aqueles queridos olhos, trazendo felicidade a todos.

d)   Muitas histórias ilustram a luta do Bem contra o Mal. Nesse caso, é possível dizer quem ganhou a luta? Por quê?

Resposta pessoal do aluno.

05 – Copie do terceiro parágrafo a frase que indica a quem Jurupari ameaçava.

      “[...] Mas não estava a salvo do temido Jurupari, um espírito malfazejo que vaga pela floresta, ameaçando quem anda sozinho.”

a)   Copie desse parágrafo um trecho que mostra o motivo de Aguiri ter se afastado da maloca.

“[...] distraiu-se na colheita das frutas, indo de árvore em árvore [...]”.

b)   Sublinhe a palavra que caracteriza a atitude do menino.

Cautela – imprudência – teimosia – maldade.

06 – Aguiri era um menino generoso e bastante querido pelos outros curumins. Copie uma frase do texto que comprove essa afirmação.

      “Aquiri se alimentava de frutas que colhia da floresta [...] e gostava de partilhá-las com outros coleguinhas de jogos” / “Especialmente choravam os curumins, seus colegas de folguedos”.

07 – Você acha que os fatos narrados no mito aconteceram de verdade? Explique.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Não, que o mito conta uma história que não condiz com a realidade.

08 – Reconte, resumidamente, no caderno quem foi Aguiri e sua relação com a fruta de nome guaraná, segundo o mito.

      Resposta pessoal do aluno.

 

 

 

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

TEXTO: TODO PONTO DE VISTA É A VISTA DE UM PONTO - LEONARDO BOFF - COM GABARITO

  Texto: Todo ponto de vista é a vista de um ponto

Ler significa reler e compreender, interpretar. Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam. Todo ponto de vista é um ponto. Para entender como alguém lê, é necessário saber como são seus olhos e qual é sua visão de mundo. Isso faz da leitura sempre uma releitura. A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. Para compreender, é essencial conhecer o lugar social de quem olha. Vale dizer: como alguém vive, com quem convive, que experiências tem, em que trabalha, que desejos alimenta, como assume os dramas da vida e da morte e que esperanças o animam. Isso faz da compreensão sempre uma interpretação.

 Boff, Leonardo. A águia e a galinha. 4ª ed. RJ: Sextante, 1999.


01. A expressão “com os olhos que tem” (ℓ.1), no texto, tem o sentido de (A) enfatizar a leitura.

(B) incentivar a leitura.

(C) individualizar a leitura.

(D) priorizar a leitura.

(E) valorizar a leitura.

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

TEXTO: PORQUE NO CÉU HÁ TANTAS ESTRELAS? LEONARDO BOFF - COM GABARITO

Texto: Por que no céu há tantas estrelas?
         Leonardo Boff


     Esse índio Karajá amava a natureza e mais que tudo os animais e os pássaros, com os quais falava, usando a linguagem deles.
        Certa manhã, olhando um bando de papagaios que voava bem alto, se deu conta que o firmamento estava vazio. Nenhum astro o embelezava. 
         O clarão do dia, especialmente sob a canícula, tornava o céu cinzento.
        -- Por que o céu é assim tão vazio? – perguntou o Karajá aos pássaros que estavam na árvore próxima. Mas eles fingiram que não entenderam sua pergunta, embora a voz lhes fosse tão familiar. O índio, com voz forte e quase lancinante, perguntou de novo:
        -- Por que o céu é assim tão vazio? – respondam-me, por favor!
        A raposa antecipou-se e disse, em tom quase de acusação:
        -- Foi o urubu-rei, rei das alturas, que roubou as estrelas para enfeitar o penacho em sua cabeça e torná-lo assim ainda mais resplendente.
        Ao ouvir isto, o índio Karajá decidiu tirar a limpo a questão com o urubu-rei. Tomou suas armas e procurou o refúgio onde ele se aninhava. Ao vê-lo aproximar-se, disse logo o urubu-rei:
        -- Você é quem veio desafiar-me? Você não conhece, pequeno homem, a força de minhas garras e de meu bico. Em poucos minutos, posso abrir suas veias e deixá-lo em pedaços.
        O Karajá, que sempre mostrara coragem e que, no fundo, amava os animais, deixou cair as armas. E avançou sobre o urubu-rei. Houve uma luta longa e sanguinolenta. Se o urubu-rei tinha força, o Karajá tinha habilidade para evitar os cortes profundos das garras e das bicadas potentes. Depois de longa luta, rolando pelo chão entre penas e gritos, ambos estavam extenuados. Até que o Karajá conseguiu imobilizar o urubu-rei, prendendo-lhe as pernas e segurando-lhe, fechado, o bico.
        - Se quiser recuperar a liberdade – disse, triunfante, o Karajá – entregue a luz que escondeu em seu penacho na cabeça e nas plumas do corpo. O criador colocou as estrelas no firmamento para embelezar a noite e não para alimentar a sua vaidade.
        Mas o rei das alturas, que detinha também o segredo da eterna juventude, não quis saber de renunciar às luzes que tornavam sua plumagem tão fascinante. De que valeria ser eternamente jovem se continuasse sem atrativos e feio?
        Cansado de esperar uma decisão do urubu-rei, o Karajá começou a tirar as penas de sua cabeça. Cada pena que lançava no ar se transformava numa estrela do firmamento.
        Arrancou depois um chumaço e o lançou ao alto e irromperam os astros que os Karajá chamam de “olhos espantados do peru” – Alfa e Beta do Centauro. Com outro chumaço, os “sete papagaios” – as Plêiades. 
        Com outro ainda, os “olhos dos homens” – Alfa e Beta do Cruzeiro do Sul. Por fim, quando arrancou mais um monte de penas e o lançou ao céu, apareceu “o caminho das estrelas” – a Via-Láctea.
        Mas as penas mais brilhantes permaneciam ainda na cabeça do urubu-rei. Quando o Karajá conseguiu tirá-las e lançá-las ao alto, o céu se encheu de um brilho terno e doce. Era a lua cheia. Logo depois se acendeu um grande tição de fogo, que iluminou todo o céu e esquentou os dias. Nascia o sol.
        Mas, considerando aquele grande esplendor, o índio Karajá disse de si para consigo:
        -- Bom seria se o sol, por respeito ao brilho tênue das estrelas e à timidez da lua, se escondesse um pouco.
        O sol ouviu este sussurro do Karajá e lhe atendeu o desejo. Por isso, à noite ele se esconde. Assim, as estrelas podem mostrar a beleza de seu brilho e a lua revelar a suavidade de sua luz.
        O urubu-rei, com a chegada da noite, aproveitou para fugir. Agora não ostentava mais, como nos tempos remotos, um penacho brilhante e um pescoço luzidio. Sua cabeça parecia uma casca de laranja cortada e seu pescoço um ramo seco.
        Mas ao fugir, gritou, em tom de deboche, ao karajá:
        -- Você me tirou as penas, mas conservo ainda o segredo da eterna juventude.
        E para fazer raiva ao índio, pronunciou o segredo com voz, sussurrante, imaginando que ninguém estivesse por perto para ouvi-lo. Ocorre que o Karajá não ouviu direito, mas os pássaros e as árvores ouviram as frases principais.
        Por isso, eles aprenderam a conservar, até os dias de hoje, o segredo da perene juventude: de tempos em tempos, as aves do céu sempre renovam suas penas e as plantas, suas folhas.
        E o índio Karajá continua sendo lembrado quando a tribo, à noite, se reúne ao redor do fogo, para ouvir os antigos contarem as estórias do céu e da terra, do sol e da lua, das estrelas e do firmamento. E olham, deslumbrados, para a grandiosidade majestática do céu estrelado. E quando o fogo se apaga, eles se calam reverentes. E um a um se recolhem, calmamente, carregando o céu estrelado dentro de seu coração. Deitam-se nas redes e dormem com grande serenidade.
   Adaptado de: BOFF, Leonardo. O casamento entre o céu e a terra.
 Rio de Janeiro: Salamandra, 2001. p. 15-7.
Entendendo o texto:
01 – Preencha o quadro a seguir com os elementos da narrativa.

Personagens: O índio Karajá, o urubu-rei, a raposa e os outros animais.

Local em que ocorrem os fatos principais: A mata onde vivia o índio Karajá.

Quando ocorrem os fatos principais: No dia do combate final entre o índio Karajá e o urubu-rei.

Tipo de narrador: Narrador observador.

02 – Qual o grande desejo de Karajá?
      Seu desejo era ver o Sol, a Lua e as estrelas no céu.

03 – Quais das características do índio Karajá, listadas abaixo, ajudaram-no a derrotar o urubu-rei?
Coragem – Rapidez – Juventude – Esperteza – Egoísmo – Medo.
      Coragem; rapidez e esperteza.

04 – Para atingir seu objetivo, o Karajá agiu sozinho ou teve ajuda de alguém?
      O Karajá teve ajuda da raposa, que lhe contou que o urubu-rei roubara as estrelas para enfeitar o penacho em sua cabeça.

05 – Complete o trecho abaixo baseando-se no combate entre o Karajá e o urubu-rei:
a)   O índio Karajá decidiu tirar a limpo a história do vazio firmamento. Tomou suas armas e procurou o refúgio onde o urubu-rei se aninhava.

b)   Mas o urubu-rei, desafiador, disse-lhe que em poucos minutos podia abrir as veias do Karajá e deixa-lo em pedaços.

c)   O Karajá, que sempre mostrara coragem e que, no fundo, amava os animais, deixou cair as armas e avançou sobre o urubu-rei.

d)   O urubu-rei tinha força, mas Karajá tinha habilidade para evitar os cortes profundos das garras e das bicadas potentes do adversário.

e)   Depois de longa luta, o Karajá conseguiu imobilizar o urubu-rei, prendendo-lhe as pernas e segurando-lhe, fechando, o bico.

06 – Depois de imobilizar o urubu-rei, o que o Karajá fez?
      Começou a arrancar-lhe as penas, jogando-as no firmamento para que se transformassem em astros outra vez.

07 – Numere os fatos abaixo, colocando-os na mesma sequência em que aparecem na narrativa:
(6) As penas mais brilhantes ainda permaneciam na cabeça do urubu-rei.
(3) O urubu-rei perguntou a Karajá se ele tinha vindo desafiá-lo.
(5) Cansado de esperar uma decisão do urubu-rei, o Karajá começou a tirar as penas de sua cabeça.
(4) O Karajá disse ao urubu-rei que ele devia entregar a luz que escondeu em seu penacho na cabeça e nas plumas do corpo.
(2) O índio Karajá decidiu tirar a limpo a questão com o urubu-rei.
(7) Para fazer raiva ao índio, o urubu-rei pronunciou seu grande segredo com voz sussurrante.
(1) Karajá se deu conta de que o firmamento estava vazio.

08 – O desfecho da história é de sucesso ou de fracasso? Explique sua resposta.
      O desfecho é de sucesso, porque o Karajá conseguiu devolver os astros ao firmamento, de onde tinham sido tirados pelo urubu-rei.




quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

ARTIGO DE OPINIÃO: PARA ONDE ESTAMOS FUGINDO? LEONARDO BOFF - COM QUESTÕES GABARITADAS

Texto: Para onde estamos fugindo?       


     Leonardo Boff
       Uma das característica principais do atual momento é a aceleração do tempo. O espaço terrestre praticamente o conquistamos. Mas o tempo continua sendo o grande desafio: poderemos dominá-lo? A corrida contra ele se dá em todas as esferas, a começar pelo esporte. Em cada olimpíada busca-se superar todos os tempos anteriores, especialmente na clássica corrida dos cem metros. Os carros devem ser cada vez mais velozes, os aviões e os foguetes têm que superar a velocidade da geração anterior. No agronegócio se utilizam promotores químicos de crescimento para encurtar o tempo e lucrar mais. A internet é de altíssima fluidez e sem cabos, pois, para ganhar tempo, tudo é feito via satélite E a aceleração atingiu especialmente as bolsas. Quanto mais rapidamente se transferem capitais de um mercado para outro, acompanhando o fuso horário, mais se pode ganhar. Como nunca antes “tempo é dinheiro”.
        Logicamente, em todo esse processo há um elemento libertador pois o tempo foi, em grande parte, vivenciado como servidão. Não podemos detê-lo. Por outro lado produz um impacto sobre a natureza que possui seus tempos e ciclos. O impacto não é menor sobre as mentes das pessoas que se sentem atordoadas, particularmente as mais idosas, perdendo os parâmetros de orientação e de análise daquilo que está ocorrendo no mundo e com elas mesmas. Vale a pena essa irrefreável corrida? Para onde estamos fugindo?
        Ai daqueles que não se adaptam aos tempos. Em termos de trabalho são ejetados do mercado pois suas habilidades ficaram obsoletas. Os que se resignam, perdem o ritmo do tempo e são considerados precocemente envelhecidos ou simplesmente retardatários. Isso pode ocorrer com países inteiros que não incorporam os avanços da tecno-ciência. Todos são obrigados rapidamente a se modernizar e a ser emergentes.
        Para onde nos levará essa corrida contra o tempo? Ele sempre nos ganha pois não podemos congelá-lo. Ele simplesmente passa devagar ou acelerado como nos grandes túneis de aceleração de partículas.

Mas importa considerar que há tempos e tempos. O tempo natural do crescimento de uma árvore gigante pode demorar 50 anos. O tempo tecnológico de sua derrubada com a motoserra pode durar apenas 5 minutos. Quanto tempo precisamos para crescer em maturidade, sabedoria e conquistar o próprio coração? Às vezes uma vida inteira de 80 anos é curta demais. O tempo interior não obedece ao tempo do relógio. Precisamos de tempo para trabalhar nossos conflitos interiores que às vezes nos obrigam a parar.
        Uma reflexão do mestre zen Chuang-Tzu de 2.500 anos atrás nos parece muito inspiradora. Ele conta que havia um homem que ficava tão perturbado ao contemplar sua sombra e tão mal-humorado com suas próprias pegadas que achou melhor livrar-se de ambas. O método foi da fuga, tanto de uma quanto de outra. Levantou-se e pôs-se a correr. Mas sempre que colocava o pé no chão aparecia a pegada e a sombra o acompanhava sem a menor dificuldade. 
        Atribuiu o seu erro ao fato de que não estava correndo como devia. Então pôs-se a correr velozmente e sem parar, até que caiu morto por terra. O erro dele, comenta o Mestre, foi o de não ter percebido que, se apenas pisasse num lugar sombrio, a sua sombra desapareceria e caso ficasse parado, não apareceriam mais suas pegadas.
        Não é isso que hoje se impõe fazer? Dar uma parada? Aqui reside o segredo da felicidade e da ansiada paz interior. 

        Leonardo Boff é teólogo, filósofo, espiritualista, e ecologista.
GLOSSÁRIO

Agronegócio: conjunto de atividades relacionadas à agricultura e à criação de gado.
Ansiado: desejado.
Ejetado: lançado para fora, expulso.
Emergente: desenvolvido; com um alto padrão econômico e social.
Esfera: campo ou setor no qual se desenvolve uma atividade.
Obsoleto: antiquado, fora de uso.
Precocemente: antes do tempo esperado.
Promotor: que promove, que estimula.
Resignar-se: conformar-se, aceitar sem questionamentos nem revolta; sujeitar-se.
Servidão: estado de dependência, de subordinação.

Entendendo o texto:
01 – No início do primeiro parágrafo, o autor faz uma afirmação sobre uma característica própria dos tempos atuais.
a) Que característica é essa?
      A aceleração do tempo.

b) Qual é o motivo dessa pressa segundo o autor?
      Segundo o autor, o motivo para essa aceleração seria a tentativa de controlar o tempo.

02 – Para controlar o tempo, de acordo com o artigo, corremos contra ele. Localize no texto elementos que o autor usa para comprovar sua afirmação.
      Possibilidades de resposta: “Em cada olimpíada busca-se superar todos os tempos anteriores, especialmente na clássica corrida dos cem metros”; “Os carros devem ser cada vez mais velozes, os aviões e os foguetes têm que superar a velocidade de geração anterior.” ; “No agronegócio se utilizam promotores químicos de crescimentos para encurtar o tempo e lucrar mais”; “ A internet é de altíssima fluidez e sem cabos, pois, para ganhar tempo, tudo é feito via satélite”; “ E a aceleração atingiu especialmente as bolsas. Quanto mais rapidamente se transferem capitais de um mercado para outro, acompanhando o fuso horário, mais se pode ganhar”.

03 – Segundo o autor, essa corrida contra o tempo apresenta um aspecto positivo e outros negativos. Quais são eles?
      O aspecto positivo é que essa aceleração do tempo é libertadora, o tempo deixa de ser vivenciado como servidão. Os aspectos negativos são: o impacto sobre os ciclos da natureza; o impacto sobre a mente das pessoas que perdem a orientação daquilo que está acontecendo no mundo e com elas mesmas; todos são obrigados a se modernizar para não serem expulsos do mercado de trabalho.

04 – Releia no glossário o sentido da palavra servidão. Por que Leonardo Boff afirma que "o tempo foi sempre vivenciado como servidão"?
        O tempo foi sempre vivido como algo que estamos submetidos, pois não podemos congelá-lo, pará-lo; ele passa, deixa suas marcas – o envelhecimento – e aproxima os vivos da morte.

05 – Discuta com seus colegas esta questão: A corrida contra o tempo pode, de fato, trazer um elemento libertador? Por quê?
      Resposta pessoal. Embora pareça contraditório, a corrida contra o tempo dá a ilusão de que o monitoramos, aproveitamos mais o tempo, de forma que acreditamos que a subordinação ao tempo fica menor. (Sugestão: o filme “A morte lhe cai bem”, que discute como o tempo nos afeta fisicamente e o desejo que temos em atenuar essas mudanças.

06 – O teólogo Leonardo Boff afirma que a corrida contra o tempo produz impacto sobre os ciclos da natureza.
a) Qual exemplo ele mostra no texto?
      Ele diz que uma árvore pode demorar 50 anos para crescer e, com o desenvolvimento tecnológico, com a motosserra, podemos derrubá-la em apenas 5 minutos.

b) Por que a corrida contra o tempo produz esses impactos?
      O desejo de viver em um mundo pleno de tecnologias e os processos industriais que se desenvolvem cada vez mais nessa “irrefreável corrida” produzem poluição do ar, da água, do solo, destroem florestas, desequilibrando os ciclos da natureza.

07 – No quinto parágrafo, Boff observa que uma árvore gigante demora 50 anos para crescer, mas bastam cinco minutos para cortá-la com uma motosserra.
a)Que elementos o autor está contrastando ao fazer essa observação?
      Boff contrasta o tempo natural do crescimento e amadurecimento de um ser vivo (a árvore) com o tempo tecnológico da motosserra, que é rápido, mas destrutivo.

b) Qual é a ideia que pretende transmitir ao inserir essa observação em seu texto?
     A ideia é a de que a aceleração proporcionada pela tecnologia avançada nem sempre traz contribuições construtivas para a sociedade e o meio ambiente.

08 – No quinto parágrafo, o teólogo reflete sobre os diferentes tempos, o externo e o interno.
a) Que elementos obedecem ao tempo externo?
      A tecnologia, a velocidade.

b) Que elementos cabem no tempo interno, segundo Boff?
      O crescimento em sabedoria e maturidade, o crescimento moral.


sexta-feira, 11 de maio de 2018

FÁBULA: A ÁGUIA E A GALINHA - LEONARDO BOFF - COM GABARITO

Fábula: A águia e a galinha
             Leonardo Boff


    Conto uma história que vem de um pequeno país da África Ocidental, Gana, narrada por um educador popular, James Aggrey, quando se davam os embates pela descolonização.
 Era uma vez, um camponês que foi a floresta vizinha apanhar um pássaro, a fim de mantê-lo cativo em casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Colocou-o no galinheiro junto às galinhas. Cresceu como uma galinha.
    Depois de cinco anos, esse homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista: “Esse pássaro aí não é uma galinha. É uma águia”.
    --- “De fato”, disse o homem. “É uma águia. Mas eu a criei como galinha. Ela não é mais águia. É uma galinha como as outras”.
    --- “Não”, retrucou o naturalista. “Ela é e será sempre uma águia. Pois tem um coração de águia. Esta coração a fará um dia voar às alturas”.
    --- “Não”, insistiu o camponês. “Ela virou galinha e jamais voará como águia”.
    Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse: – “Já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, então abra suas asas e voe!”.
    A águia ficou sentada sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas.
    O Camponês comentou: “Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha”.
    --- “Não”, tornou a insistir o naturalista. “Ela é uma águia. E uma águia sempre será uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã”.
    No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa. Sussurrou-lhe: “Águia. Já que você é uma águia, abra suas asas e voe!”.
    Mas, quando a águia viu lá em baixo as galinhas ciscando o chão, pulou e foi para junto delas.
    O camponês sorriu e voltou à carga: “Eu havia lhe dito, ela virou galinha”.
    --- “Não”, respondeu firmemente o naturalista. “Ela é águia e possui sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a farei voar”.
    No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia, levaram-na para o alto de uma montanha. O sol estava nascendo e dourava os picos das montanhas.
    O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe: “Águia, já que é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe!”.
    A águia olhou ao redor. Tremia, como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então, o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, de sorte que seus olhos pudessem se encher de claridade e ganhar as dimensões do vasto horizonte. Foi quando ela abriu suas potentes asas. Ergueu-se, soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto e voar cada vez mais alto. Voou. E nunca mais retornou. Povos da África (e do Brasil). Nós fomos criados à margem e semelhança de Deus. Mas houve pessoas que nos fizeram pensar como galinhas. E nós ainda pensamos que somos efetivamente galinhas. Mas nós somos águias. Por isso, abram as asas e voem. Voem como águias, jamais se contentem com os grãos que lhe jogarem aos pés para ciscar.
                                                                                    Leonardo Boff
Entendendo a Fábula: 

01 – Responda o que você entendeu com a leitura do texto.
      Resposta pessoal - Espera-se que os estudantes compreendam que nos tornamos aquilo que acreditamos ser. Temos que acreditar e lutar para vencer.

02 – Na sua opinião o que fez a águia voar?
      Por causa da altura que estava e a claridade do sol, abriu os olhos da águia para o horizonte.

03 – Você acredita que se a águia não fosse estimulada pelo naturalista ela iria voar um dia ou viveria sendo eternamente como uma galinha? Comente.
      Ela viveria eternamente como uma galinha, da maneira como ela foi criada desde pequena.

04 – Na sua opinião existem pessoas que pensam como a galinha, ou seja, se contentam com injustiças e com os grãos que lhes caem aos pés? Justifique.
      Sim. Acham que não precisam de mais nada, e é suficiente pra viver. Sem intensão de crescer na vida.     

05 – Você se considera nesse momento, como uma águia ou como uma galinha? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.

06 – Em algum momento da sua vida, você teve medo assim como a águia? Em qual situação?
      Resposta pessoal do aluno.

07 - Se você fosse uma águia para onde voaria nesse momento? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.

08 – Por que o camponês achava que a águia nunca mais seria uma águia?
      Porque toda as vezes que tentaram fazer ela voar, ela pulava e ia ciscar junto com as galinhas.

09 – Quantas vezes o naturalista tentou fazer a águia voar?
      Tentaram 03 vezes.

10 – Qual era a reação do camponês, toda vez que a águia não voava?
      Ele sorria e dizia: “Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha.”

11 – Esta fábula foi narrada por quem? E de que país era?
      Foi por uma narrador popular, James Aggrey, de Gana, na África Ocidental.

quinta-feira, 9 de março de 2017

LENDA: A MANDIOCA, O CORPO DE MANDI - LEONARDO BOFF - COM GABARITO

LENDA– A MANDIOCA, O CORPO DE MANDI
                 Leonardo Boff

           Em tempos muito antigos, a filha de um chefe indígena apareceu misteriosamente grávida. O chefe quis punir quem desonrara a filha. Para saber quem era, pressionou-a fortemente com ameaças e severos castigos Devia revelar o nome. Tudo em vão. A filha negou que tivesse tido relações sexuais com alguém. E permanecia inflexível nessa sua negação.
            O chefe resolveu então matá-la, para vingar a honra e para dar uma lição a todas as moças da tribo. Porém, eis que lhe apareceu em sonho um homem branco, dizendo:
            - Não faça isso. Não mate a sua filha. Ela é inocente. Jamais teve relação com algum homem.
            O cacique ficou temeroso e resolveu atender à voz do homem branco. Desistiu de sacrificar a filha.
            Após nove meses, nasceu uma linda menina. Sua pele era branca como a nuvem mais branca. Mandi era seu nome. Todos ficaram intrigados e amedrontados quando viram a cor de sua pele. Ninguém tinha nascido com essa cor em toda a história da tribo.
            Os olhares de todos se cruzavam, comparando o castanho-dourado de suas peles com a alvura da linda menina.
             - É um triste presságio. Desgraças virão sobre nossa tribo e sobre nossas plantações – comentavam os mais idosos.
              Juntos, foram ao cacique. E sem meias palavras disseram:
              - Por favor, faça desaparecer essa sua netinha. Ela vai nos atrair desgraças sobre desgraças.
               Ele, no entanto, lembrando a voz do homem branco, nada disse. Olhou com os olhos perdidos ao longe e, depois, olhou firme para cada rosto dos que falaram. Tomado de compaixão, havia decidido interiormente não atender aos pedidos dos velhos.
                Mas veio-lhe uma ideia inspirada. Certa feita, no silêncio de uma noite especialmente estrelada, ainda de madrugada, foi ao rio. Levou consigo a netinha Mandi. Ela olhava ao redor, assustada, sem nada entender. Lavou-a cuidadosamente nas águas claras do rio, enquanto suplicava as forças dos espíritos benfazejos. No dia seguinte, reuniu a tribo e disse com voz forte, para não tolerar objeções.
               - Os espíritos recomendaram que Mandi fique entre nós e que seja bem tratada por todos da tribo.
              Os índios, ainda em dúvida, obedeceram e acabaram se resignando. Com o passar do tempo, Mandi foi crescendo com tanta graça que todos esqueceram o mau presságio e acabaram apaixonados por ela. O cacique estava orgulhoso e feliz.
              Mas um dia, sem ter adoecido ou mostrado dores, a menina, inesperadamente morreu. Foi um lamento geral. Os mais idosos choravam em meio a grandes soluços. O cacique estava inconsolável. Não comia nem bebia. Só chorava. Os parentes, vendo o quanto o avô-cacique amava Mandi, disseram:
              - Vamos enterrá-la lá na maloca dele. Assim ele se consolará.
              Em vão. Ele, inconsolável, fechou-se em sua dor e não fazia senão chorar. Chorava dia e noite, sobre a sepultura de sua querida netinha. Tantas e tantas foram as lágrimas que, surpreendentemente, do chão brotou uma plantinha.
                Os pássaros vinham bica-la e ficavam inebriados, para o espanto de todos. Mas, certo dia, uma coisa espantosa aconteceu: a terra se abriu. Apareceram à mostra belas raízes de uma planta, nascida do pranto do avô. Os índios, alvoroçados, correram para fora da maloca e chamaram a todos, dizendo:
              - Olhem que coisa maravilhosa! Essas raízes são negras por fora, parecem até sujas, mas dentro são alvíssimas.
               Respeitosos e com as mãos nervosas, colheram essas raízes, quebraram suas pontas e se certificaram de que eram realmente alvíssimas. Pareciam a pele de Mandi.
               Começaram a comê-las e viram que eram deliciosas. Foi então que fizeram uma associação inspirada:
               - Seriam aquelas raízes a vida de Mandi que se manifestava?
               Nunca mais deixaram de comer essas raízes. E foi assim que elas  se tornaram o principal alimento dos índios Tupi-Guarani, das demais tribos e da maioria dos brasileiros, sendo transformadas em farinha, beijus e cauim. Chamaram então as raízes de Mandioca, que significa “a casa de Mandi”, ou também “corpo de Mandi”.

BOFF, Leonardo.O casamento entre o céu e a terra. Rio de Janeiro: Salamandra, 2001p..18-20
1)    Para que fenômeno da natureza esse texto traz uma explicação?
O texto traz uma explicação para o surgimento da mandioca.

2)    Com suas palavras, reconte como surgiu esse alimento de acordo com o imaginário do povo indígena tupi-guarani.
Resposta Pessoal

3)    O texto começa com a expressão Em tempos muito antigos. É possível dizer exatamente quando ocorreu essa história?
Não.

4)    É possível identificar onde a história se passa?
Não é possível identificar o espaço exato onde se passa a narrativa. Sabe-se que é em uma comunidade indígena, mas não se sabe onde ela fica.

5)    No texto ocorre algum acontecimento fantástico, isto é, que não pode ser comprovado, que não existe de fato? Qual?
O fato de a vida de Mandi se manifestar nas raízes que brotavam da terra.

6)    Copie do texto três palavras que demonstrem relação com a identidade e a cultura do povo indígena que a criou.
Cacique, beijus, cauim, maloca, mandioca.

7)    Em sua opinião, essa história contém algum ensinamento? Qual?
Resposta Pessoal.

8)    Na região onde vive, há alguma história semelhante a essa? Qual
Resposta Pessoal.