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sábado, 18 de junho de 2022

ARTIGO DE OPINIÃO: ANTES DO CALDO ENTORNAR - MARTHA MEDEIROS - COM GABARITO

 ARTIGO DE OPINIÃO: ANTES DO CALDO ENTORNAR

                                         Martha Medeiros


Violência doméstica é assunto sério. Muitas mulheres são reprimidas, ameaçadas, até estupradas pelos próprios companheiros, e ainda se sentem inibidas de ir a uma delegacia para denunciá-los. É provável que a vítima pense que, se o homem é um troglodita, mais irado ficará quando souber que a polícia está em seu calcanhar. Irá descontar em quem? Nela, evidente. Pois é, só que se ela não denunciar, a agressão poderá chegar a um nível perigosamente letal.

Tudo por causa de um troço chamado amor. Mulheres amam advogados, traficantes, motoristas, estelionatários, empresários, bandidos, arquitetos, sequestradores. O amor não pede comprovante de bons antecedentes, é puro instinto e desejo. Casais se unem por motivos nobres e por motivos absurdos. Pouco se dá ouvido à sensatez.

Então lá está dona Maria sofrendo as mais diversas formas de abuso em seus tantos anos de convívio com um homem estúpido que a maltrata, dá uns sopapos e avisa que, se ela chiar, aí é que o pau vai comer – e não há nada de erótico nessa ameaça. Dona Maria, então, assiste a programas de TV que debatem o assunto, lê matérias em revistas femininas, entra nas redes sociais, conversa com as amigas e cria coragem para dar um basta na situação. Bravo, dona Maria. Meu total apoio. Só há um culpado na história, e é ele. Mas essa trabalheira poderia ter sido evitada.

Dona Maria geralmente tem 30 anos. 40 anos. 50 anos.

Mas você, Maria de 17, não precisa passar por essa via-crúcis. Na maioria das vezes, o homem violento não espera muito tempo para deixar cair a máscara. Ele tirou você para dançar, beijou você, cumpriu todo o ritual do príncipe encantado, mas quanto tempo levou para apertar seu braço com força, para puxar seu cabelo de um jeito brusco ou agarrá-la pela mandíbula para forçar você a olhar para ele? No primeiro mês de namoro, aposto. São os sinais inequívocos de que o príncipe vai perder a majestade logo ali na frente.

Se você considera o ciúme dele romântico, aguarde o primeiro tapa para breve. Você aguardará o segundo e o terceiro para ter certeza?

Você pode resolver a questão mais cedo e sem tanto desgaste. Simplesmente pegue sua bolsa e dê as costas assim que o príncipe levantar a mão. Assim quê. Antes de morar junto, antes de ter filhos, antes de depender dele financeira ou emocionalmente. O agressivo costuma mostrar que é agressivo em poucas semanas. Em poucas semanas você não está tão inexoravelmente envolvida.

Eu sei, não anda fácil arranjar um amor. Às vezes, fazemos vista grossa, achamos que o cara está num momento ruim, que tudo vai passar. Não vai. É um ogro. Você, sendo pobre, rica, negra, branca, menor de idade, maior de idade, caia fora já. Empoderamento também é isso: perceber a encrenca a tempo.

http://entrelacos.blogspot.com/2016/03/09-de-marco-de-2016-n-18468-martha.html

Entendendo o texto

     01. Qual a finalidade desse artigo?

Alertar que violência doméstica é coisa séria.

02. Qual a posição defendida pela autora, nesse texto?

Ela enfatiza que a violência que há diversas formas de abuso, e que as mulheres devem denunciar ou cair fora.

    03. Cite pelo menos dois argumentos utilizados pela autora para defender sua posição.

·        Violência doméstica é assunto sério.

·        O agressivo costuma mostrar que é agressivo em poucas semanas.

    04. Qual argumento mais convincente, na sua opinião, que a autora utiliza?

Resposta pessoal.

 05. O principal objetivo de um texto como esse é:

a)   Promover o entretenimento.

b)   Transmitir uma informação e sugerir uma reflexão.

c)   Relatar um acontecimento.

d)   Usar linguagem simples.

sexta-feira, 14 de maio de 2021

RELATO: BONJOUR, L'AMOUR - MARTHA MEDEIROS - COM GABARITO

 RELATO: Bonjour, L'Amour

                Martha Medeiros

Próxima parada: Barcelona. Pegamos um voo e tudo voltou a dar certo, estávamos em plena lua de mel. Ao aterrissar, fomos à esteira das bagagens e ficamos esperando. Esperando. Esperando. E  esperando estaríamos até hoje. Nada das nossas malas. Registramos o sumiço e nos despacharam para o hotel: "Quando encontrarmos, se encontrarmos, serão entregues lá", foi o que nos disseram - em catalão. Que ótimo. Eu não tinha nenhum kit de primeiros socorros na mochila.

Passamos o dia perambulando pelas Ramblas com a roupa do corpo. Compramos escova de dente, pasta, desodorante e umas camisetas para quebrar o galho, caso o pior acontecesse. Voltamos à tardinha  para o hotel e nada ainda das malas. Antes de sair para jantar com a mesma roupa imunda, aleluia, elas chegaram.

É uma experiência que nos faz avaliar o que realmente tem importância na vida. Eu não sofria pelo vestido que talvez nunca mais visse ou pelo sapato que havia usado só uma vez, e sim pelo sumiço de uma caderneta de anotações onde já havia registrado boa parte da viagem. E lamentava nunca mais colocar no dedo um anel pelo qual joalheiro nenhum daria um centavo, mas que para mim valia como se fosse um diamante da Tiffany. O anel havia sido da minha avó. Mas recuperei não só vestidos e sapatos, como o anel, a caderneta e o que mais a mala continha: tudo parte da nossa memória afetiva, que, no final das contas, é o que mais tememos perder pelo caminho. Depois de curtir o que Barcelona tinha para ser curtida, fomos de trem até Montpellier, na França, e lá alugamos um carro. Finalmente, o filé mignon da viagem. Adoro percorrer estradas desconhecidas e não saber onde vou dormir à noite. Nesse primeiro dia motorizados, saímos sem rumo e, depois de muito rodar, acabamos em Ramatuelle, um lugarejo escondido e charmoso num ponto alto da costa azul. Percorremos a pé suas ruelas, tomamos vinho e tentamos encontrar uma pousadinha  para ficar por lá mesmo, mas estava tudo lotado: a cidade era mínima, porém requisitada. Não nos restou outra alternativa a não ser voltar para o carro e seguir até Saint-Tropez. Vida dura.

Chegamos tarde e, por conta do cansaço, nos hospedamos no primeiro hotel que vimos, sem reparar que era megaluxuoso. Foi o que bastou para meu namorado se emburrar. Tinha cabimento gastar os tubos numa única noite? Não tinha. Mas vá explicar isso para uma mulher despencando de sono. No dia seguinte, Saint-Tropez nos deu as boas-vindas e desemburrou qualquer semblante. Dia de sol tropical. Mergulho. Caminhadas. Visual. Passamos um dia de magnatas e no fim da tarde pegamos a estrada de novo. Quando o sol começou a se pôr, estávamos na Route des Calanques, entre St. Raphael e Cannes, onde encontramos um casarão na beira da estrada, de frente para uma baía deslumbrante. Chamava-se L' Auberge Blanche, mas duvido que se encontre alguma referência no Google. Estacionamos e batemos à porta. Veio nos atender uma senhora de uns bem vividos 130 anos. Ofereceu para nós seu melhor quarto, no terceiro andar, milhões de metros quadrados de frente para o mar. Poderíamos ter dado uma festa de réveillon dentro do aposento.

MEDEIROS, Martha. Um lugar na janela: relatos de viagem. Porto Alegre: L&PM, 2012. Edição e-book.

Fonte: Livro: Língua Portuguesa: linguagem e interação/ Faraco, Moura, Maruxo Jr. – 3.ed. São Paulo: Ática, 2016. p.181-4. 


ENTENDENDO O TEXTO

1.   No aeroporto de Barcelona, ao indagarem sobre as bagagens perdidas, os viajantes ouvem uma resposta em catalão, e a autora destaca essa informação graficamente no texto, isolando-a com um travessão no fim da frase (linha 9). É possível supor a razão de ela ter destacado essa informação desse modo?

  É possível supor que a autora dê esse detalhe (e o represente graficamente desse modo) com a intenção de mostrar que a língua catalã representou algum tipo de obstáculo na comunicação.

2. A resposta que receberam deixou ainda mais preocupados os dois viajantes. Que trecho dela revela incerteza com relação ao fato de encontrar as malas?

"[...] se encontrarmos" (linhas 7-8)

3.   Note que disseram a eles no aeroporto: "Quando encontrarmos, se encontrarmos, serão entregues lá" (linhas 7-

Por que fizeram questão de dizer "se encontrarmos"?

       Porque não tinham certeza de que as encontrariam, portanto condicionaram a entrega das malas no hotel à localização delas.

    4. Em sua opinião, qual é o sentido da expressão memória afetiva em: "[...] tudo parte da nossa memória afetiva, que, no final das contas, é o que mais tememos perder pelo caminho"? (linhas 29-31)

    Resposta pessoal. Sugestão: Se trata de lembranças de fatos, pessoas, objetos passados que têm importância sentimental. São lembranças traduzidas em afeto.

 5. No mesmo trecho indicado na questão 4, Martha Medeiros demonstra uma característica importante do tipo de viagem que gosta de fazer. Que característica é essa?

De viagens marcadas pela imprevisibilidade, pelo inesperado, etc., bem marcado no trecho "Adoro percorrer estradas desconhecidas e não saber onde vou dormir à noite." (linhas 34-35).

 6. Releia este trecho e responda às questões seguintes.

[...] encontramos um casarão na beira da estrada, de frente para uma baía deslumbrante. Chamava-se L' Auberge Blanche, mas duvido que se encontre alguma referência no Google. (linhas 57-60)

a) Você consegue entender ou pelo menos deduzir o significado do nome da pousada?

Albergue Branco ou Pousada Branca.

b) Por que a afirmação de que talvez não seja possível encontrar referências no Google a respeito dessa pousada?

 Pelo relato, deve tratar-se de uma pousada fora do circuito das cidades turísticas, talvez mais intimista, mais reservada, pouco conhecida para figurar em roteiros ou guias turísticos.

7. Qual é o possível leitor do texto ou dos relatos de viagens em geral?

    Resposta pessoal. Em geral, leitores de relatos de viagens são pessoas que têm interesse em conhecer experiências vivenciadas por outros, têm interesse em conhecer o local sobre o qual se fala e, por isso, procuram informações emitidas por quem esteve pessoalmente nele.

As palavras no contexto

1. Releia: "Antes de sair para jantar com a mesma roupa imunda, aleluia, elas chegaram." (linhas 15-17)

a) Que sinônimo você escolheria para aleluia nesse trecho do texto?

    Oba!, Eia!, Que bom!, finalmente, por fim, etc.

b) Como você classifica gramaticalmente a palavra aleluia, empregada no trecho destacado acima?

     Resposta pessoal. Sugestão: A palavra é empregada como interjeição.

2.Releia este trecho prestando atenção à expressão em destaque:

Nesse primeiro dia motorizados, saímos sem rumo e, depois de muito rodar, acabamos em Ramatuelle, um lugarejo escondido e charmoso num ponto alto da costa azul. Percorremos a pé suas ruelas, tomamos vinho e tentamos encontrar uma pousadinha para ficar por lá mesmo, mas estava tudo lotado: a cidade era mínima, porém requisitada. Não nos restou outra alternativa a não ser voltar para o carro e seguir até Saint-Tropez. Vida dura. (texto 2, linhas 36-44)

a) De modo geral, como vive uma pessoa que leva uma vida dura?

 Vive arduamente, suportando dificuldades.

b) Considerando o contexto do relato, que efeito de sentido causa o uso de vida dura e como se chama esse uso?

O efeito de sentido que causa é a ironia, que ocorre quando o enunciador quer dizer exatamente o contrário do que está afirmando, afinal, pelo contexto, nota-se que não há nada de árduo nem dificultoso em seguir para Saint-Tropez.

3. Releia este trecho do texto, atentando para seu sentido.

Veio nos atender uma senhora de uns bem vividos 130 anos. Ofereceu para nós seu melhor quarto, no terceiro andar, milhões de metros quadrados de frente para o mar. Poderíamos ter dado uma festa de réveillon dentro do aposento. (texto 2, linhas 61-65)

O que é possível notar no modo como o enunciador faz sua descrição nesse trecho?

Há exagero na descrição ao falar da idade da senhora, do tamanho do quarto e ao afirmar que é possível comemorar nele o réveillon (que, de modo geral, conota um evento grandioso, com muitas pessoas reunidas). A senhora devia ter bastante idade, o quarto devia ser bem grande, mas não literalmente nas proporções informadas. Esse exagero constitui uma figura de linguagem chamada hipérbole.

 

RELATO: PRIMEIRA VEZ NA EUROPA - PARTE 1 - MARTHA MEDEIROS - COM GABARITO

 RELATO: PRIMEIRA VEZ NA EUROPA - parte 1

              Martha Medeiros

Era 1986 e eu tinha 24 anos. Andava angustiada, queria escapar da rotina e me enxergar de forma inédita, e viajar sempre ajuda - ao menos pra mim, que sempre considerei uma prática terapêutica. Então, depois de juntar dinheiro, negociar meu afastamento temporário do trabalho e fazer meu namorado (o mesmo com quem fui ao Rock in Rio) entender que eu precisava de um tempo sozinha, embarquei para Londres, onde minha melhor amiga estava morando, recém-casada.

Havia umas 300 pessoas a bordo do avião, mas fui a única a ser revistada quando desembarquei no aeroporto de Heathrow - meu aspecto muçulmano me condena. Como não levava granadas na  bagagem, entrei no país sem mais perguntas. Minha amiga me esperava na área de desembarque. Depois de um longo abraço, pegamos o metrô e começamos a tagarelar dentro do vagão, sem ver o tempo passar. Quando saí da estação e pisei, de fato, na primeira rua a céu aberto do Velho Continente, a impressão que tive é que eu estava de volta à minha casa - era como se eu tivesse nascido em Londres. Até hoje não sei explicar o que faz com que sintamos uma identificação tão forte com um lugar e sintonia nenhuma com outro. O escritor Gustave Flaubert defendia a tese de que a nacionalidade de uma pessoa não deveria ser estabelecida por sua cidade de nascimento, e sim pelos locais pelos quais a pessoa se sentia atraída. "Meu país natal é aquele que amo, ou seja, aquele que me faz sonhar, que me faz sentir bem. Sou tão chinês quanto francês..." Naquele dia eu comecei a descobrir como se dava, na prática, essa amplitude informal de cidadania. Passava a me sentir tão londrina quanto porto-alegrense.

O apartamento da minha amiga era minúsculo, e eu não seria sonsa de atrapalhar o casal que estava praticamente em lua de mel, então aluguei um quarto na casa de uma inglesa meio maluca, a Daphne, separada e com quatro filhos: Gregor, Boris, Fiona e Phylis. Quarto franciscano, mas limpinho, banheiro no corredor. As refeições eu teria que fazer fora, mas podia usar a geladeira para guardar o que comprasse para consumo próprio. O bairro era Pimlico, perfeito. Tudo acertado, joguei minha sacola num canto e fui dormir, mas não dormi. Passei a noite em claro e em pânico: o que vim fazer na Europa sozinha? Vou perder meu emprego. Vou perder meu namorado. Vou me perder. Help, I need somebody.

A noite sempre foi madrasta com meus pensamentos. Quando acordei no dia seguinte, já não havia vestígio daquela garota medrosa. Tomei um banho e fui pra rua, e tudo começou. Pirei com Londres. Passava os dias em parques e museus, e o que mais gostava era de ver a movimentação das pessoas, aquela diversidade cultural, cada um na sua, com seu estilo. Uma metrópole vanguardista e ao mesmo tempo monárquica, uma contradição estimulante. Almoçava pizza, jantava um pedaço de queijo e caminhava uns 20 km por dia, ou mais. À noite, costumava sair com minha amiga e o marido dela, que, aliás, vivem atualmente em Porto Alegre e são meus melhores amigos até hoje. Em Londres, assisti no cinema o blockbuster do momento, 9 1/2  Weeks (Nove e meia semanas de amor), só se falava nesse filme, e o enredo prometia ser fácil o suficiente para eu entendê-lo sem a ajuda de legendas. E assisti ao musical Cats numa matinê cujo preço do ingresso era compatível com minhas posses. Foi quando confirmei que musical não é mesmo meu gênero teatral preferido. Cats me pareceu cafona e um tantinho enfadonho: sofri ao ouvir a música-tema, "Melody", com a mesma intensidade com que sofria ao ouvir "Feelings", do Morris Albert. Muito preocupados com a minha opinião, a trupe ficou em cartaz por 21 anos no New London Theatre.

Às vezes, quando o cansaço batia, ficava sozinha no meu quarto, escrevendo. Um dia a Phylis, que era a menorzinha da família, uns três anos de idade, me viu com um bloco e uma caneta na mão e pediu, com seu jeitinho encantador, para que eu desenhasse um "bear". Sorri e desenhei. Quando mostrei minha obra-prima para ela, a menina desatou a chorar. O que eu havia feito de errado? Até hoje me divirto quando lembro dessa história. Desenhei uma garrafa de cerveja. "Beer". Sempre tive muito jeito com crianças.

Dias depois, uma carioca chegou na casa e passou a dividir o quarto comigo. Não era de muitas palavras, mas mesmo assim a convidei para passar o fim de semana em Edimburgo, na Escócia. Ela resmungou um "ok", pegamos um ônibus e partimos numa viagem noturna de umas oito horas. Chegando lá, brrrrrrrr. Nunca havia sentido tanto frio na vida. A cidade era gelada, mas por outro lado estava acontecendo um festival de música e o clima era muito festivo nos parques e ruas. Me agasalhei e fui ao encontro da arte, mas a garota só queria saber de ficar trancafiada no bed & breakfast em que nos hospedamos. Se eu, que era do sul do Brasil, sofria com a baixa temperatura, ela, carioca, estava em estado de choque. Deve me amaldiçoar até hoje pelo convite. Quando voltamos a Londres, ainda passei uns três dias na casa da Daphne, até que começou a chegar mais gente, surgiu uma muambeira não sei de onde, e aí achei que o prazo havia esgotado pra mim. Juntei minhas coisas e parti. Nunca mais soube de ninguém dessa turma. Querida Phylis, espero que o trauma tenha passado. Te devo um ursinho.

MEDEIROS, Martha. Um lugar na janela: relatos de viagem. Porto Alegre: L&PM, 2012. Edição e-book.

Fonte: Livro: Língua Portuguesa: linguagem e interação/ Faraco, Moura, Maruxo Jr. – 3.ed. São Paulo: Ática, 2016. p.177 a 180. 

ENTENDENDO O TEXTO

1. Logo no início do texto, há a seguinte afirmação:

[...] Andava angustiada, queria escapar da rotina e me enxergar de forma inédita, e viajar sempre ajuda - ao menos pra mim, que sempre considerei uma prática terapêutica. (linhas 1-4)

a)   Em sua opinião, o que significa "me enxergar de forma inédita"?

Resposta pessoal. Sugestão: Significa se perceber de uma maneira original, nunca vista.

     b) Quando você viaja, também tem esse objetivo?

         Resposta pessoal.

    c) De acordo com o texto, o que teria motivado a viagem da autora  a Londres?

       Ela estava se sentindo angustiada.

2. Que relação pode ser estabelecida entre ser a única pessoa a ser revistada no aeroporto e ter um aspecto muçulmano?

     Há uma relação de causa/consequência. A causa é ter aparência de muçulmano e a consequência, ser revistada. Pelo relato da autora, nota-se que, antes mesmo dos ataques terroristas às torres gêmeas de Nova York, em 2001, por muçulmanos, a partir dos quais os aeroportos têm revistado as pessoas de modo bem mais rigoroso que antes, principalmente as pessoas de origem ou de aparência árabe, as revistas já focavam esses passageiros.

3. Releia o seguinte trecho:

O escritor Gustave Flaubert defendia a tese de que a nacionalidade de uma pessoa não deveria ser estabelecida por sua cidade de nascimento, e sim pelos locais pelos quais a pessoa se sentia atraída. "Meu país natal é aquele que amo, ou seja, aquele que me faz sonhar, que me faz sentir bem. Sou tão chinês quanto francês..." Naquele dia eu comecei a descobrir como se dava, na prática, essa amplitude informal de cidadania. (linhas 25-33)

a) Você concorda com essa tese? Por quê?

Resposta pessoal.

b)   Em sua opinião, por que o conceito de cidadania foi empregado ao lado do conceito de nacionalidade?

Resposta pessoal. Sugestão: O conceito de cidadania está, geralmente, restrito ao país de nascimento. No caso do enunciador desse relato, ele também se sente cidadão inglês.

      c) Qual é o sentido da expressão e sim no primeiro período? Reescreva o trecho, substituindo essa expressão em destaque por apenas uma conjunção de sentido equivalente.

A expressão e sim tem o sentido de oposição, fazendo correlação com o não citado anteriormente no período; portanto, pode ser substituída pela conjunção adversativa mas.

 

sábado, 7 de novembro de 2020

CRÔNICA: E SE NÃO PASSAR? MARTHA MEDEIROS - COM GABARITO

 CRÔNICA: E SE NÃO PASSAR?

                    (Martha Medeiros)

          Estamos há quase quatro meses mergulhados numa pandemia que mudou nossos hábitos, nos impôs restrições, nos distanciou fisicamente e nos colocou frente a frente com nossas fragilidades. Vai ficar por isso mesmo? Quando iniciou, parecia apenas uma onda gigante e repentina. Se soubéssemos nos manter à tona, boiando sobre ela, obedientes e respeitosos diante do seu tamanho, nada de muito ruim iria nos acontecer e logo reencontraríamos a calmaria.

          É o que vem acontecendo nos países europeus, que estão retomando as atividades cotidianas, dando um passo de cada vez. O Brasil, caótico por natureza, vai levar mais tempo, nenhuma novidade. Três, seis, dez meses? Quando teremos nossa vida de volta?

        Talvez nunca, não como era antes. É provável que tenhamos que assimilar que a nossa atual precariedade determinará novos modelos de conduta daqui para frente.

         Lavar as mãos, usar máscara e evitar aglomerações: já estamos nos acostumando. Poderíamos nos acostumar agora com o desprestígio da ostentação e do consumismo delirante. Continuaremos comprando comida, roupas e remédios, precisaremos de um bom teto como sempre precisamos, mas nossos luxos talvez mudem – tomara que mudem. Hora de privilegiar as questões humanas, se soubermos aproveitar a oportunidade.

         Não chego a falar de um renascimento espiritual, que soaria pomposo, mas acredito, sim, que a tendência é reavaliarmos nosso estilo de vida. As grandes metrópoles se tornaram zonas de contágio, e um êxodo urbano não seria má ideia: sair em busca de desintoxicação, mais atividades ao ar livre, cidades menores, menos concentração populacional.

         A arte também se beneficiará desta pandemia. Não só por sua valorização evidente (o que teria sido de nós sem livros, música e filmes nesse longo confinamento?), mas também pelo surgimento de talentos até então desconhecidos: as pessoas foram obrigadas a descobrir em si algum dom - artes manuais, gastronomia, desenho digital, colagens, fotografia, vá saber quantos outros. A expressão artística poderá ser nossa grande contribuição à humanidade: não voltaremos a ser apenas consumidores de cultura, mas fornecedores também.

         Não é se apegando a símbolos de status que prestaremos homenagem à nossa sobrevivência, e sim expandindo nossa criatividade, encontrando os amigos, bebendo e comendo com eles, namorando, celebrando as sensações, não as aquisições. Utilidades práticas seguirão bem-vindas, mas as utilidades emocionais é que definirão nosso bem estar: meditação para dormir melhor, leitura para mais autoconhecimento, empatia para reduzir desigualdades. Já que esta crise é inevitável, que a gente ao menos transforme nosso espanto em sabedoria.

 

Atividades

1. De que  assunto  trata a crônica?

    Refere-se a Pandemia por causa do Coronavírus COVID 19, faz uma reflexão se ela não passar, como vai ser?

 

2. Por que, em sua opinião, o título apresenta um questionamento?

    Resposta pessoal.

 

3. No início do texto, com o que a autora compara a pandemia?

    Parecia apenas uma onda gigante e repentina.

 

4. O que a expressão “calmaria” (primeiro parágrafo) representa quando relacionada à pandemia de COVID-19?

     Que voltaríamos a ter a mesma vida de antes, que tudo voltaria ao normal.

 

5. A autora parece concordar com a forma como o Brasil enfrenta a pandemia?

Transcreva um trecho do texto que justifique a sua resposta.

         Estamos há quase quatro meses mergulhados numa pandemia que mudou nossos hábitos, nos impôs restrições, nos distanciou fisicamente e nos colocou frente a frente com nossas fragilidades.

          O Brasil, caótico por natureza, vai levar mais tempo, nenhuma novidade.

 

6. Segundo a autora, quais são os novos modelos de conduta devemos adotar daqui para frente?

     Lavar as mãos, usar máscara e evitar aglomerações: já estamos nos acostumando.

 

 

sábado, 22 de agosto de 2020

CRÔNICA: PATCHWORK - MARTHA MEDEIROS - COM GABARITO

 Crônica: PATCHWORK                       

    Martha Medeiros

   Eu acho a maior graça nesses anúncios ou reportagens que segmentam as pessoas por estilo, para facilitar a escolha de presentes. Para o pai esportista, para a mãe que vive correndo, para o namorado poliglota, para a namorada hare krishna...

        E você, qual é seu estilo?

        O meu estilo é o clássico – esportivo – praiano – urbano – roqueiro – casual – elétrico – aventureiro – viajandão – racional – romântico – sensato – internacional – cultural – marombeiro –divertido – indiano – inglês – caseiro – diurno – ansioso – e – pacato. Seja qual for o presente que você me der, vai acertar na mosca.

        Qualquer estilo que a gente cultive é farsa. Impor um rótulo a si mesmo é o que de pior podemos fazer. A gente se acostuma a privilegiar um lado acentuado que temos – workaholic, por exemplo – e nos apresentarmos ao mundo como tal. Vale para outras “etiquetas”: surfista, rato de biblioteca, perua, seminarista. É atrás de uma dessas máscaras que você se esconde?

        Surfistas que ficam gatésimos de terno e gravata e guardam embaixo da cama pilhas de livros sobre filosofia. Ratas de biblioteca que passam a noite dançando funk com um grupo da pesada. Peruas que praticam natação quatro vezes por semana. Seminaristas que levam no braço uma tatuagem igual à da Angelina Jolie: que estilos são esses?

        É o estilo que eu mais adoro: faço-eu-mesmo. É o cara que não criou um estilo, ele é o estilo. Não há influência de revistas, modismos e tendências. Ele é o estilo-contradição, estilo-surpresa, estilo-sem-estilo. Acho que foi Aristóteles (olha eu fazendo o estilo intelectual) que disse que estilo não existe, que o estilo é uma emancipação do seu próprio ser.

        Ou você tem um estilo próprio, que forçosamente será múltiplo, como é a nossa alma verdadeira, ou você adota um estilo, e ele será monótono e nauseante. Estilo bom é estilo exclusivo, inclassificável. Ou você deixa ele nascer naturalmente em você ou passará ganhando os mesmos presentes a vida inteira.

MEDEIROS, Martha. Montanha-russa: crônicas. Porto Alegre: L&PM, 2011.

Entendendo a crônica:

01 – No primeiro parágrafo, a cronista se dirige ao seu interlocutor. Em que trecho do texto isso aparece explicitamente?

      “E você, qual é seu estilo?”

02 – No segundo parágrafo, a cronista brinca com as palavras, criando uma superpalavra com o uso do hífen. Qual o significado dessa palavra?

      Ele criou um neologismo (palavra criada de termos novos, adaptação de termo para traduzir algum invento).

03 – Por que a cronista afirma que “Seja qual for o presente que você me der, vai acertar na mosca.”? (Segundo parágrafo).

      Ela se classificou com todos os estilos, então qualquer presente combina com ela.

04 – Que palavra está relacionada a Máscaras, no terceiro parágrafo?

      Está relacionado a farsa, ou seja, impor rótulos a si mesmo é muito ruim, mostra a falta de personalidade.     

05 – Qual a função das aspas na palavra “etiquetas”, no terceiro parágrafo?

      A função das aspas é destacar a palavra “etiquetas” no texto, informando que além dos estilos citados existe outras “etiquetas”, que não foram mencionadas.

06 – Que neologismo aparece no quarto parágrafo?

      Gatésimos. A palavra gato + uma forma de superlativo com desinência em “ésimo”. Por não existir, foi criada, daí o neologismo.

07 – O último parágrafo do texto está construído com orações coordenadas alternativas. Que conectivo introduz a ideia contida nessas orações?

      O conectivo é ou no sentido de alternância

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

ARTIGO DE OPINIÃO: VELOCIDADE MÁXIMA - MARTHA MEDEIROS - COM GABARITO

Texto: Velocidade máxima


        Para vencer na vida não é preciso deixar de viver

        Você está cansado de saber que hoje em dia não basta ter conhecimento: é preciso ser rápido. Rápido na tomada de decisões, no trato da informação, na geração de novas ideias (e na sua transformação em novos centros de receita), no desenvolvimento da própria carreira. Tornou-se imprescindível pensar rápido, agir rápido, ter um computador supersônico. No mundo dos negócios, não existe um código nacional de trânsito que limite a velocidade dos executivos. Se houvesse, recomendaria: corra. Multa, só para os lentos.
        Os devagar-quase-parando não se estressam para assumir um posto de comando. Sua motivação não está em conquistar prêmios ou um bônus mais polpudo. Não fazem hora extra e, se puderem escapar de uma reunião, tanto melhor. Estão em dia com seus batimentos cardíacos e seus níveis de colesterol. Dormem 8 horas por noite; não têm insônia. Passam os fins de semana na praia com o celular desligado. Encontram tempo para ver os filhos e os filmes em cartaz. Estão em casa na hora do Jornal Nacional. Profissionais de Neandertal.
        Voltar à caverna, no entanto, está sendo considerada uma atitude moderna. Ao menos é o que prega há anos o sociólogo napolitano Domênico De Masi, que viaja pelo mundo dando palestras que enaltecem as virtudes do ócio criativo. De Masi acredita que trabalhar 10 horas por dia aniquila a criatividade e que todos deveriam cortar pela metade sua carga horária, aproveitando o resto do tempo para fazer qualquer coisa longe das tarefas cotidianas do escritório. Vale bungeejump, vale meditação, vale ouvir Beatles.
        Há quem pense que essa desaceleração é zen-budista demais para quem tem metas concretas como comprar e vender ações na Bolsa de Nova York ou virar presidente de empresa antes dos 40 anos. Mas não há como negar que a inteligência e a cultura são, cada vez mais, os combustíveis que geram novos negócios e determinam a própria ascensão de um profissional. E nenhum dos fatores precisa do horário comercial para ser ativado. Podem estar em combustão durante um mergulho no mar, durante a leitura de um poema, durante uma cavalgada ecológica, talvez até durante o sexo. Durante é exagero. Depois do sexo.
        “Compatível com não perder tempo”. O conceito de velocidade anda cada vez mais flexível. Para alguns, ser ligeiro significa ultrapassar os ponteiros do relógio, executar um projeto a cada minuto, agendar reuniões, ler apenas livros técnicos, só fazer contatos que sejam política ou economicamente rentáveis e sentir uma culpa tremenda nos coffee breáks, como se parar fosse sinônimo de regredir.
        Já para o neo Neandertal, que prefere Saramago a Philip Kotler, e Marguerite Duras a Tom Peters, manter um ritmo comedido pode realmente fazer o trabalho render mais. São pessoas que não têm pressa de subir pelo elevador, por exemplo. Preferem subir pela escada, exercitando as pernas e a imaginação, ou jogando conversa fora com um desconhecido. Não têm a pressa de apresentar pareceres e pontos de vista em 60 segundos. Ao contrário, dedicam seu tempo a escutar os pontos de vista alheios. Não têm a pressa de engolir um sanduíche em pé no escritório; reservam um tempo para fazer da gastronomia um hobby. Sem pressa, eles não pegam atalhos: procuram caminhos com paisagem e assim não sofrem com taquicardias e infartos. O estresse envelhece antes da hora. Inclusive as ideias.
        O mundo se apresenta hoje como uma autoestrada alemã, livre de radares patrulhando a velocidade, onde quem tem mais potência e tecnologia pisa mais fundo, sem olhar para os lados. Você há de concordar que é tenso. Tirando levemente o pé do acelerador, o coração acalma e os olhos percebem melhor o que há nas laterais da pista. Pode-se trocar de música, ajeitar o retrovisor, prestar atenção no que diz o companheiro de viagem. Ou parar e provar uma fruta na beira da estrada. Faz-se tudo correndo muito menos risco de sofrer acidentes e chegando ao destino do mesmo jeito. Na moda, costuma-se dizer que “menos é mais”. Não é uma frase que se aplique literalmente ao mundo dos negócios. Mas sou obrigada a concordar tanto com De Masi quanto com Saramago: a velocidade máxima permitida para vencer é aquela que não nos deixa esquecer que, além da estrada, existe um troço chamado vida, sem a qual não faz o menor sentido chegar lá.

MEDEIROS, Martha. Exame. São Paulo: Abril, 15 dez. 1999. p. 218.
Entendendo o texto:
01 – Assim que terminamos de ler esse texto, percebemos que a autora quis expressar algumas ideias a respeito de um novo profissional que emerge nos dias atuais. Escreva um parágrafo resumindo a ideia principal do texto.
      A autora apresenta a teoria do sociólogo Domenico De Masi, segundo a qual as melhores ideias relacionadas ao mundo do trabalho surgem exatamente nos momentos de lazer – ou de ócio, para usar palavras do próprio sociólogo. Para apresentar tal teoria, ela compara o novo profissional, denominado por ela de neo Neandertal, com o executivo que não se desliga do trabalho em momento algum de sua vida. Percebe-se no texto uma clara preferência da autora pela visão moderna de profissional: aquele que trabalha seriamente, mas não abandona o lazer, a vida familiar, e atribui valor também ao aspecto humano nas relações entre pessoas.

02 – Antes de redigir seu texto, a autora certamente organizou suas ideias a fim de torná-lo coeso e coerente. É possível observar essa organização se nos detivermos em cada parágrafo para extrair a ideia desenvolvida em cada um. Releia o texto e resuma a ideia principal de cada parágrafo em uma frase.
      1° parágrafo: Expõe a teoria de que, para vencer na vida atualmente, é preciso muita rapidez, além de recursos e muito tempo dedicado ao trabalho.
      2° parágrafo: Faz referência a profissionais que não se deixam tiranizar pelo tempo e pelo trabalho (“Profissionais de Neandertal”). (Destacar que houve uma nítida intenção de construir uma antítese entre o primeiro e o segundo parágrafo.)
      3° parágrafo: Expõe a teoria do ócio criativo de De Masi.
      4° parágrafo: Revela a adesão da autora à teoria de que as boas ideias, fundamentadas na inteligência e na cultura, podem surgir nos momentos de lazer.
      5° parágrafo: Mostra a flexibilidade do conceito de velocidade; seu significado para os “rápidos”.
      6° parágrafo: Cita atitudes humanas diante dos fatos do novo profissional que tem ritmo comedido.
      7° parágrafo: Conclusão: Expressa concordância com o sociólogo e com o escritor Saramago, também citado no texto.

03 – Em que parágrafo a autora começa a expor realmente seu ponto de vista?
      Começa no 4° parágrafo.

04 – O que ela nos apresenta antes disso?
      Antes disso ela apresenta um rápido panorama das duas correntes existentes hoje no ramo dos negócios: no primeiro parágrafo, a corrente dominante, dos profissionais completamente envolvidos pelo trabalho; no segundo, a corrente contrária; no terceiro, a fundamentação teórica da segunda corrente, para ela, a mais moderna.

05 – Que recurso é utilizado pela autora para expor seu ponto de vista?
      Ela utiliza a comparação entre os dois modos de encarar o trabalho.

06 – Ao se organizar um texto tendo em vista a defesa de um ponto de vista, é muito importante a articulação entre os diversos parágrafos que o compõem. Esse trabalho garante a coesão entre as ideias expostas. Mostre como a autora faz essa articulação nos três primeiros parágrafos (observe em especial a utilização de conjunções e a forma como ela encadeia as ideias).
      Entre o primeiro e o segundo parágrafo há uma relação de oposição. No nível das palavras, essa relação se faz pela escolha de termos como “rápido” (quatro vezes), “os lentos”, “os devagar-quase-parando”. A autora apresenta as duas correntes contrárias, deixando que o leitor de certa forma considere a segunda um tanto absurda, pois não é senso comum achar que se valoriza um profissional como o descrito no segundo parágrafo. No terceiro, porém, ela apresenta a teoria que fundamenta essa corrente, mostrando ao leitor que no mundo atual há uma nova avaliação desses fatos. A locução conjuntiva responsável por essa ligação é no entanto.

07 – A partir do momento em que se observa uma tomada de posição da autora em relação ao assunto, percebe-se que ela apresenta argumentos para sustentar tal posição. Cite alguns desses argumentos.
      1° A inteligência e a cultura substituem o trabalho exaustivo no escritório. “E nenhum dos fatores precisa do horário comercial para ser ativado”;
      2° O fato de que o conceito de velocidade está cada vez mais flexível e a citação da frase do escritor Saramago: “Não ter pressa não é incompatível com não perder tempo”;
      3° A apresentação do “neo Neandertal” como uma pessoa bem mais humana do que o “rápido”, ideia reforçada pelas frases “O estresse envelhece antes da hora. Inclusive as ideias”;
      4° A imagem da autoestrada alemã.

08 – É possível dizer que, quando alguém defende um ponto de vista, também está tentando persuadir o interlocutor. Destaque alguns recursos persuasivos utilizados pela autora.
      Um recurso persuasivo é a linguagem utilizada pela autora, muitas vezes descontraída e brincalhona, para aproximar-se do leitor (talvez uma ironia a quem não acredite nesse novo profissional), quando usa expressões como “os devagar-quase-parando”, o “neo Neandertal”. Outro é a citação de frases de pessoas consagradas (como a do escritor José Saramago), que autorizam e amparam quem está defendendo uma ideia. A imagem da autoestrada alemã também é um recurso persuasivo, pois trata de forma concreta uma ideia abstrata, o que torna mais fácil sua compreensão.

09 – Como já vimos, dificilmente um texto é construído a partir de uma única voz; ao contrário, é muito comum encontrar, no meio de um discurso, o discurso de outrem. No texto em questão percebem-se, pelo menos, quatro vozes muito bem demarcadas. Identifique-as.
      A voz da “dona” do discurso, ou seja, a voz de Martha Medeiros, que assina o texto.
      A voz dos que defendem a velocidade como elemento fundamental para o sucesso no mundo moderno (marcada no texto por expressões como: “Você está cansado de saber que […]”; “Há quem pense […]”).

      A voz do sociólogo napolitano Domenico De Masi.
      A voz do escritor português José Saramago. Há, ainda, uma quinta voz demarcada no texto, em forma de discurso indireto, mas destacada por aspas: a de pessoas que vivem o mundo da moda e afirmam que “menos é mais”.

10 – Você concorda com o ponto de vista exposto nesse texto? Exponha sua opinião, fundamentando-a com argumentos convincentes.
      Resposta pessoal do aluno.

11 – Comente a seguinte afirmação: “De Masi acredita que trabalhar 10 horas por dia aniquila a criatividade e que todos deveriam cortar pela metade sua carga horária, aproveitando o resto do tempo para fazer qualquer coisa longe das tarefas cotidianas do escritório.”.
      Resposta pessoal do aluno.

12 – Na sua opinião, que implicações haveria no mundo do trabalho se essa medida fosse adotada?
      Resposta pessoal do aluno.

13 – Pra você no mundo atual essa ideia é possível?
      Resposta pessoal do aluno.


segunda-feira, 10 de setembro de 2018

CRÔNICA: A GRAMA DO VIZINHO - MARTHA MEDEIROS - COM QUESTÕES GABARITADAS

Crônica: A GRAMA DO VIZINHO
            Martha Medeiros


        Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma.
        Estamos todos no mesmo barco.
        Há no ar certo queixume sem razões muito claras.
        Converso com mulheres que estão entre os 40 e 50 anos, todas com profissão, marido, filhos, saúde, e ainda assim elas trazem dentro delas um não-sei-o-quê perturbador, algo que as incomoda, mesmo estando tudo bem.
        De onde vem isso? Anos atrás, a cantora Marina Lima compôs com o seu irmão, o poeta Antônio Cícero, uma música que dizia: “Eu espero / acontecimentos / só que quando anoitece / é festa no outro apartamento”.
        Passei minha adolescência com esta sensação: a de que algo muito animado estava acontecendo em algum lugar para o qual eu não tinha convite. É uma das características da juventude: considerar-se deslocado e impedido de ser feliz como os outros são, ou aparentam ser. Só que chega uma hora em que é preciso deixar de ficar tão ligada na grama do vizinho.
        As festas em outros apartamentos são fruto da nossa imaginação, que é infectada por falsos holofotes, falsos sorrisos e falsas notícias. Os notáveis alardeiam muito suas vitórias, mas falam pouco das suas angústias, revelam pouco suas aflições, não dão bandeira das suas fraquezas, então fica parecendo que todos estão comemorando grandes paixões e fortunas, quando na verdade a festa lá fora não está tão animada assim. Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma. Estamos todos no mesmo barco, com motivos pra dançar pela sala e também motivos pra se refugiar no escuro, alternadamente.
        Só que os motivos pra se refugiar no escuro raramente são divulgados.
        Pra consumo externo, todos são belos, sexys, lúcidos, íntegros, ricos, sedutores.
        “Nunca conheci quem tivesse levado porrada/ todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo”.
        Fernando Pessoa também já se sentiu abafado pela perfeição alheia, e olha que na época em que ele escreveu estes versos não havia esta overdose de revistas que há hoje, vendendo um mundo de faz-de-conta. Nesta era de exaltação de celebridades – reais e inventadas – fica difícil mesmo achar que a vida da gente tem graça. Mas, tem. Paz interior, amigos leais, nossas músicas, livros, fantasias, desilusões e recomeços, tudo isso vale ser incluído na nossa biografia. Ou será que é tão divertido passar dois dias na Ilha de Caras fotografando junto a todos os produtos dos patrocinadores? Compensa passar a vida comendo alface para ter o corpo que a profissão de modelo exige? Será tão gratificante ter um paparazzo na sua cola cada vez que você sai de casa? Estarão mesmo todos realizando um milhão de coisas interessantes enquanto só você está sentada no sofá pintando as unhas do pé? Favor não confundir uma vida sensacional com uma vida sensacionalista.
        As melhores festas acontecem dentro do nosso próprio apartamento.

                                                                                Martha Medeiros

Entendendo a crônica:

01 – Quando Martha Medeiros escreveu “Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma”, ela quis dizer que
a) as pessoas não devem se incomodar com a vida dos outros, mas com a sua.
b) a vida dos outros é sempre melhor do que a nossa.
c) a nossa vida é melhor do que a dos outros e nós não percebemos.
d) a vida dos outros nem sempre é melhor do que a nossa como, às vezes, nós pensamos.
e) ninguém deve julgar o comportamento de ninguém, pois não sabemos o que realmente acontece.

02 – Segundo a autora, a vida do outro parece sempre ser melhor, mais emocionante e animada porque
a) as pessoas buscam a felicidade a qualquer custo, mesmo que para isso seja necessário passar por cima dos outros.
b) as pessoas estão sempre insatisfeitas com as suas vidas e ficam com inveja da vida dos outros.
c) os problemas e angústias não são revelados, mantendo-se sempre a aparência de uma vida perfeita.
d) os seres humanos acreditam que a felicidade só será alcançada pela conquista de uma vida surreal.
e) a tristeza e a depressão estão tomando de conta das pessoas na atualidade.

03 – “Pra consumo externo, todos são belos, sexys, lúcidos, íntegros, ricos, sedutores”. A expressão destacada significa
a) a opinião que a pessoa tem sobre si mesma.
b) o consumo exagerado da sociedade atual.
c) a imagem dos brasileiros no exterior.
d) o narcisismo estimulado pela mídia.
e) a imagem que é divulgada e exibida aos outros.

04 – Ao citar em seu texto versos da música de Marina Lima e Antônio Cícero e versos do poema de Fernando Pessoa, Martha Medeiros utiliza uma estratégia textual denominada
a) Ambiguidade.
b) Intertextualidade.
c) Ironia.
d) Polissemia
e) Referenciação

05 – Ao dizer que “As melhores festas acontecem dentro do nosso próprio apartamento”, a autora deixou clara a lição de que
a) não devemos comparar a nossa vida com a de ninguém, pois cada sabe de si e de seus problemas.
b) mesmo com alegrias e tristezas, a nossa vida é a mais importante e, por isso, devemos valorizá-la.
c) os problemas dos outros não mais importantes do que os nossos.
d) todas as festas que nós fazemos, sendo grande ou pequena, sempre terão um significado maior.
e) devemos dar valor ao que as pessoas são e não ao que as pessoas têm.

06 – No penúltimo parágrafo do texto, Martha Medeiros fez várias perguntas com o objetivo de
a) levantar questionamentos que todos os seres humanos fazem a si mesmos.
b) expor aos leitores dúvidas existenciais que a autora guarda em seu íntimo.
c) defender que a vida das celebridades realmente é mais glamourosa do que a nossa.
d) provocar a reflexão dos leitores sobre o assunto comentado no texto.
e) saber dos leitores as respostas que a autora tanto busca em sua vida.

07 – Ao analisar a expressão destacada “Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma”, podemos afirmar que a autora fez uso da figura de linguagem denominada
a) Eufemismo
b) Ironia
c) Antítese
d) Metonímia
e) Metáfora

08 – “Favor não confundir uma vida sensacional com uma vida sensacionalista”. O termo grifado foi empregado com o sentido de
a) uma vida de aparências e de exibicionismo.
b) uma vida centrada no ser e não no ter.
c) uma vida marcada por tragédias.
d) uma vida boa, tranquila e feliz.
e) uma vida cheia de dificuldades e problemas.

09 – Em: “...fica difícil mesmo achar que a vida da gente tem graça. Mas, tem”. O uso da conjunção “mas” deixa claro que autora:
a) concorda com a afirmação feita anteriormente.
b) acrescenta uma informação que complemente a anterior.
c) discorda com a afirmação feita anteriormente.
d) indica a finalidade da ação citada anteriormente.
e) conclui o pensamento exposto na oração anterior.

10 – No período “Ou será que é tão divertido passar dois dias na Ilha de Caras fotografando junto a todos os produtos dos patrocinadores?”, o uso da conjunção “ou” foi feito com a função de
a) provocar uma reflexão no leitor sobre a exposição de artistas.
b) incluir uma ideia no período.
c) oferecer ideias para o leitor escolher a mais pertinente.
d) alternar ideias que têm a mesma relevância.
e) excluir uma ideia que contraria o pensamento anterior.