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domingo, 16 de março de 2025

AUTOBIOGRAFIA: A HISTÓRIA DA MINHA VIDA - (FRAGMENTO) - HELEN KELLER - COM GABARITO

 Autobiografia: A história da minha vida – Fragmento

                      Helen Keller

        [...]

        Capítulo IV

        O dia mais importante de que me lembro de toda minha vida é o da chegada de minha professora, Anne Mansfield Sullivan. Fico maravilhada quando penso no imenso contraste entre as duas vidas que esse dia ligou. Estávamos a 3 de março de 1887, três meses antes que eu completasse sete anos.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8y-g2EA9ubMX12FDP3LdpfflnZWCqoZNwHKJHtOu1k8lRKMX3QMFHsjNDISspFCQ0S7sY0bv6MRjzjFl5GDxJpuGIL7hQWMech6FtCILMOAHxqJIr4cJ35etKtrOckBdnpt_b5yBsc3wV6mEiqI-QX72FkWo5SpUAS9Kyv0Uikz6U_eZzMR8kDllDrB8/s1600/AnneSullivanMacy.jpg


        Na tarde daquele dia agitado, fiquei na varanda, muda, expectante. Pelos sinais de minha mãe e pelo apressado entra-e-sai da casa, adivinhei vagamente que algo pouco usual estava prestes a acontecer; assim, fui para a porta e esperei na escada. O sol da tarde penetrava na massa de madressilvas que cobria a varanda e caía no meu rosto virado para cima. Meus dedos pousavam quase inconscientemente nas folhas e flores familiares que haviam acabado de brotar saudando a doce primavera do Sul. Eu não sabia que maravilhas e surpresas o futuro me guardava. Raiva e amargura haviam continuamente caído sobre mim por semanas, e um profundo langor sucedera-se a essa luta apaixonada.

        Algum dia você já esteve no mar cercado por um denso nevoeiro, como se uma tangível escuridão branca se fechasse sobre você e o grande navio, tenso e ansioso, tateasse em busca do caminho para a costa com uma bola de chumbo e uma sonda e você esperasse com o coração batendo que algo acontecesse? Eu era como aquele navio antes de minha instrução começar, só que não tinha bússola ou sonda, nem meios de saber quão próximo estava o porto. "Luz! Me deem luz!" era o grito sem palavras de minha alma, e a luz do amor brilhou sobre mim naquela mesma hora.

        Senti passos que se aproximavam. Estiquei a mão imaginando que era mamãe. Alguém a pegou e eu fui levantada e abraçada bem apertado pela pessoa que viera revelar todas as coisas para mim e, mais do que todas as coisas, me amar.

        Na manhã seguinte à chegada de minha professora, ela me levou a seu quarto e me deu uma boneca. As criancinhas cegas da Instituição Perkins a tinham enviado e Laura Bridgman a vestira; mas eu só soube disso depois. Quando brinquei com a boneca algum tempo, a srta. Sullivan lentamente soletrou em minha mão a palavra "b-o-n-e-c-a". Fiquei imediatamente interessada nesse jogo com dedos e tentei imitá-lo. Quando finalmente consegui fazer as letras corretamente, fiquei vermelha de prazer e orgulho infantil. Descendo a escada correndo em busca de minha mãe, estendi a mão e imitei as letras para boneca.

        Não sabia que estava soletrando uma palavra ou mesmo que palavras existiam; eu simplesmente estava deixando meus dedos macaquearem uma imitação. Nos dias que se seguiram aprendi a soletrar desse modo incompreensível um grande número de palavras, entre elas alfinete, chapéu, xícara e alguns verbos, como sentar, levantar e andar. Mas só depois de minha professora estar comigo há várias semanas eu entendi que tudo tinha um nome.

        [...]

        Descemos o caminho para a casa do poço, atraídas pela fragrância das madressilvas que a cobriam. Alguém estava tirando água e a srta. Sullivan colocou minha mão sob o jorro da água. Enquanto a fria corrente despejava-se sobre uma de minhas mãos, a srta. Sullivan soletrava na outra a palavra água, primeiro lentamente, depois rapidamente. Fiquei imóvel, com toda a atenção fixada nos movimentos de seus dedos. [...]. Soube então que "á-g-u-a" significava a maravilhosa coisa fresca que fluía sobre minha mão. Aquela palavra viva despertou minha alma, deu-lhe luz, esperança, alegria, enfim, libertou-a! Ainda havia barreiras, é verdade, mas barreiras que poderiam ser varridas com o tempo.

        Eu deixei a casa do poço ansiosa para aprender. Tudo tinha um nome e cada nome fazia nascer um novo pensamento. Enquanto voltávamos para casa, cada objeto que eu tocava parecia estremecer de vida, já que eu via tudo com a nova e estranha visão que chegara a mim. Ao passar pela porta, lembrei da boneca que eu quebrara. Tateei o caminho até a lareira, peguei os pedaços da boneca e tentei em vão juntá-los. Então meus olhos se encheram de lágrimas; pois percebi o que fizera e, pela primeira vez, senti arrependimento e tristeza.

        Aprendi uma grande quantidade de novas palavras naquele dia. Não lembro de todas, mas sei que mãe, pai, irmã, professora estavam entre elas – palavras que deviam fazer o mundo brotar para mim, "como o bastão de Aarão, com flores". Seria difícil achar uma criança mais feliz do que eu no final daquele dia memorável, quando, deitada na minha cama, repassava as alegrias que ele me trouxera. Pela primeira vez na vida ansiei para que um novo dia chegasse.

        Capítulo VI

        [...]

        Lembro-me da manhã em que perguntei pela primeira vez o significado da palavra "amor". Isso foi antes que eu conhecesse muitas palavras. Eu encontrara algumas violetas precoces no jardim e as trouxera para a srta. Sullivan. Ela tentou me beijar mas naquela época eu não gostava que ninguém me beijasse, exceto minha mãe. A srta. Sullivan me abraçou gentilmente e soletrou na minha mão:

        -- Eu amo Helen.

        -- O que é amor? – perguntei.

        Ela me puxou mais para perto e disse:

        -- Está aqui – apontando para o meu coração, de cujas batidas tive consciência pela primeira vez.

        [...]

        Capítulo VII

        [...]

        Assim, aprendi da própria vida. No início eu era apenas uma pequena massa de possibilidades. Foi minha professora quem as desdobrou e desenvolveu. Quando ela veio, tudo em torno de mim passou a exalar amor e alegria e se tornou cheio de significado. Desde então ela nunca deixou passar uma oportunidade de ressaltar a beleza que há em tudo, nem cessou de tentar em pensamentos, ações e exemplos tornar minha vida doce e útil.

        Foi o gênio de minha professora, sua rápida solidariedade, seu amoroso tato que tornaram tão bonitos os primeiros anos de minha instrução. Foi o fato de ela capturar o momento certo para partilhar conhecimento que o fez tão agradável e aceitável para mim. Ela percebeu que a mente de uma criança é como um riacho raso que ondula e dança alegremente sobre o curso pedregoso de sua educação, refletindo aqui uma flor, ali uma moita, mais além uma nuvem fugidia, e tentou guiar minha mente nesse caminho, sabendo que, como um riacho, essa mente devia ser alimentada pelas correntes da montanha e fontes escondidas até se alargar num rio profundo, capaz de refletir em sua plácida superfície as colinas ondulantes, as sombras luminosas das árvores e os céus azuis, assim como o suave rosto de uma flor.

        [...]

        A srta. Sullivan está tão próxima de mim que eu mal me penso à parte dela. Quanto de meu encantamento com todas as coisas belas é inato e quanto é devido à influência de minha professora, jamais poderei saber. Sinto que seu ser é inseparável do meu e que os passos de minha vida estão na dela, O melhor de mim pertence a ela – não há um talento, uma aspiração ou uma alegria em mim que não tenha sido despertado por seu toque amoroso.

        [...]

Helen Keller. A história da minha vida. Trad. Myriam Campello. Rio de Janeiro: José Olympio, 2008. p. 19-22.

Fonte: Português. Vontade de Saber. 6º ano – Rosemeire Alves / Tatiane Brugnerotto – 1ª edição – São Paulo – 2012. FTD. p. 237-239.

Entendendo a autobiografia:

01 – Qual a importância da chegada de Anne Mansfield Sullivan para Helen Keller?

      A chegada de Anne Mansfield Sullivan foi um marco na vida de Helen Keller, marcando o início de sua educação e a descoberta de um mundo novo.

02 – Como Helen Keller descreve a sensação de estar perdida antes da chegada de sua professora?

      Helen Keller compara sua sensação de estar perdida a um navio em um denso nevoeiro, sem bússola ou sonda, ansiando por luz.

03 – Qual foi a primeira palavra que Anne Sullivan ensinou a Helen Keller?

      A primeira palavra que Anne Sullivan ensinou a Helen Keller foi "boneca" (b-o-n-e-c-a).

04 – Como Helen Keller aprendeu a se comunicar?

      Helen Keller aprendeu a se comunicar através do método de soletrar palavras na palma de sua mão, ensinado por Anne Sullivan.

05 – Qual foi o momento em que Helen Keller compreendeu que tudo tinha um nome?

      O momento em que Helen Keller compreendeu que tudo tinha um nome foi quando Anne Sullivan soletrou a palavra "água" enquanto ela sentia a água fluindo sobre sua mão.

06 – Como a natureza é retratada na autobiografia de Helen Keller?

      A natureza é retratada como uma fonte de inspiração e descoberta para Helen Keller, desde a fragrância das madressilvas até a sensação da água fluindo.

07 – Qual a importância da professora Anne Sullivan na vida de Helen Keller?

      Anne Sullivan foi fundamental na vida de Helen Keller, abrindo as portas para o conhecimento, o amor e a alegria, e moldando sua vida de forma profunda e duradoura.

08 – Como Helen Keller descreve a palavra "amor"?

       Helen Keller descreve o amor como algo que está presente no coração, uma força que a conecta com o mundo e com as pessoas ao seu redor.

09 – Qual a comparação que Helen Keller faz com a mente de uma criança?

      Helen Keller compara a mente de uma criança a um riacho raso, que precisa ser alimentado por conhecimento e experiências para se tornar um rio profundo.

10 – Qual o sentimento de Helen Keller em relação a sua professora?

      Helen Keller sente uma profunda gratidão e admiração por sua professora, reconhecendo que grande parte de sua felicidade e realizações são fruto do amor e da dedicação de Anne Sullivan.

 

 

 

terça-feira, 4 de março de 2025

AUTOBIOGRAFIA: AQUILO POR QUE VIVI - BERTRAND RUSSELL - COM GABARITO

 Autobiografia: Aquilo por que vivi – Bertrand Russell

     

        Três paixões, simples, mas irresistivelmente fortes, governaram-me a vida: o anseio de amor, a busca do conhecimento e a dolorosa piedade pelo sofrimento da humanidade. 

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCdhF-NtmAo650XFYVLHc7vycvMIMY2mADpWwzApk9x2nwcKOGQEF-dLar6LDpdla2xeUeeRhSfnkofe-y4B9JTRa_3Op-iL_GcAhDhdRSDjkEdMCQst4s5ur3EBkOFJSlXsGytfdJnEql9LQ_Bs3fcFeRigbOiUQz8kiu4B16w-kTzGDu3U8oTkpNcPI/s320/BUSCA.jpg


        Tais paixões, como grandes vendavais, impeliram-me para aqui e acolá, em curso, instável, por sobre o profundo oceano de angústia, chegando às raias do desespero. 

        Busquei, primeiro, o amor, porque ele produz êxtase – um êxtase tão grande que, não raro, eu sacrificava todo o resto da minha vida por umas poucas horas dessa alegria. Ambicionava-o, ainda, porque o amor nos liberta da solidão – essa solidão terrível através da qual nossa trêmula percepção observa, além dos limites do mundo, esse abismo frio e exânime. Busquei-o, finalmente, porque vi na união do amor, numa miniatura mística, algo que prefigurava a visão que os santos e os poetas imaginavam. Eis o que busquei e, embora isso possa parecer demasiado bom para a vida humana, foi isso que – afinal – encontrei. 

        Com paixão igual, busquei o conhecimento. Eu queria compreender o coração dos homens. Gostaria de saber por que cintilam as estrelas. E procurei apreender a força pitagórica pela qual o número permanece acima do fluxo dos acontecimentos. Um pouco disto, mas não muito, eu o consegui. 

        Amor e conhecimento, até ao ponto em que são possíveis, conduzem para o alto, rumo ao céu. Mas a piedade sempre me trazia de volta à terra. Ecos de gritos de dor ecoavam em meu coração. Crianças famintas, vítimas torturadas por opressores, velhos desvalidos a construir um fardo para seus filhos, e todo o mundo de solidão, pobreza e sofrimentos, convertem numa irrisão o que deveria ser a vida humana. Anseio por afastar o mal, mas não posso, e também sofro. 

        Eis o que tem sido a minha vida. Tenho-a considerado digna de ser vivida e, de bom grado, tornaria a vivê-la, se me fosse dada tal oportunidade. 

 Bertrand Russel, Autobiografia. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1967.

Fonte: Linguagem Nova. Faraco & Moura. 5ª série – 17ª ed. 3ª impressão – São Paulo – Editora Ática – 2003. p. 523.

Entendendo a autobiografia:

01 – Quais são as três paixões que governaram a vida de Bertrand Russell?

      As três paixões que governaram a vida de Bertrand Russell são o anseio de amor, a busca do conhecimento e a dolorosa piedade pelo sofrimento da humanidade.

02 – Por que Russell buscou o amor?

      Russell buscou o amor porque ele produz êxtase, liberta da solidão e prefigura uma visão mística de união, algo que santos e poetas imaginam.

03 – Como Russell descreve sua busca pelo conhecimento?

      Russell descreve sua busca pelo conhecimento como uma paixão igual à do amor. Ele queria compreender o coração dos homens, saber por que cintilam as estrelas e apreender a força pitagórica dos números.

04 – Qual é o impacto da piedade na vida de Russell?

      A piedade sempre trazia Russell de volta à terra. Ele sentia ecos de gritos de dor, sofrimentos e injustiças da humanidade, o que convertia numa irrisão o que deveria ser a vida humana.

05 – Quais são os exemplos de sofrimento humano que ecoavam no coração de Russell?

      Exemplos de sofrimento humano que ecoavam no coração de Russell incluem crianças famintas, vítimas torturadas por opressores, velhos desvalidos e todo o mundo de solidão, pobreza e sofrimentos.

06 – Como Russell vê a relação entre amor, conhecimento e piedade?

      Russell vê amor e conhecimento como algo que conduz para o alto, rumo ao céu, enquanto a piedade o trazia de volta à terra, confrontando-o com o sofrimento humano.

07 – Qual é a conclusão de Russell sobre a sua vida e a oportunidade de vivê-la novamente?

      Russell considera sua vida digna de ser vivida e afirma que, se lhe fosse dada a oportunidade, ele a viveria novamente de bom grado.

 

 

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

AUTOBIOGRAFIA: NASCE UM ESCRITOR - JORGE AMADO - COM GABARITO

 Autobiografia: Nasce um escritor

                       Jorge Amado

        O primeiro dever passado pelo novo professor de português foi uma descrição tendo o mar como tema. A classe inspirou, toda ela, nos encapelados mares de Camões, aqueles nunca dantes navegados, o episódio do Adamastor foi reescrito pela meninada. Prisioneiro no internato, eu vivia da saudade das praias do Pontal onde conhecera a liberdade e o sonho. O mar de Ilhéus foi o tema da minha descrição.

 
Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-jSEi7WJT-KR7ZXmN-W7_VdCPrekj6TG2-lRLgttJb1a_p_45721NT3DU2iHpxJa1zy6pgumhBC4Bf-4MrPf4HicUA9TO83iPp9gtHfvWiCs1N7OAfFZ_-jTimLjEZdeKINMelNo2Pb4ZSQces22YQIp39VnlgcfdoAL47K9IU1l66XeyjZQcclrfEPs/s320/praia-de-mamoan.jpg



        Padre Cabral levara os deveres para corrigir em sua cela. Na aula seguinte, entre risonho e solene, anunciou a existência de uma vocação autêntica de escritor naquela sala de aula. Pediu que escutassem com atenção o dever que ia ler. Tinha certeza, afirmou, o autor daquela página seria no futuro um escritor conhecido. Não regateou elogios. Eu acabara de completar onze anos.

        Passei a ser uma personalidade, segundo os cânones do colégio, ao lado dos futebolistas, os campeões de matemática e de religião, dos que obtinham medalhas. Fui admitido numa espécie de Círculo Literário onde brilhavam alunos mais velhos. Nem assim deixei de me sentir prisioneiro, sensação permanente durante os dois anos em que estudei no colégio dos jesuítas.

        Houve, porém, sensível mudança na limitada vida do aluno interno: o padre Cabral tomou-me sob sua proteção e colocou em minhas mãos livros de sua estante. Primeiro “As viagens de Gulliver”, depois clássicos portugueses, traduções de ficcionistas ingleses e franceses. Data dessa época minha paixão por Charles Dickens. Demoraria ainda a conhecer Mark Twain, o norte-americano não figurava entre os prediletos do padre Cabral.

        Recordo com carinho a figura do jesuíta português erudito e amável. Menos por me haver anunciado escritor, sobretudo por me haver dado o amor aos livros, por me haver me revelado o mundo da criação literária. Ajudou-me a suportar aqueles dois anos de internato, a fazer mais leve a minha prisão, a minha primeira prisão.

Jorge Amado. “O menino Grapiúna”.  Rio de Janeiro: Record, 1987. p.117-120.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 245.

Entendendo a autobiografia:

01 – Qual foi o primeiro dever de português que Jorge Amado realizou e qual foi o tema?

      O primeiro dever de português passado pelo novo professor foi uma descrição tendo o mar como tema.

02 – Qual foi a reação do Padre Cabral ao ler a descrição de Jorge Amado?

      O Padre Cabral anunciou, risonho e solene, a existência de uma vocação autêntica de escritor naquela sala de aula. Afirmou que o autor daquela página seria no futuro um escritor conhecido e não regateou elogios.

03 – Como Jorge Amado se sentiu após o anúncio do Padre Cabral?

      Jorge Amado passou a ser uma personalidade no colégio, mas nem assim deixou de se sentir prisioneiro, sensação permanente durante os dois anos em que estudou no colégio dos jesuítas.

04 – Qual foi a principal mudança na vida de Jorge Amado após o anúncio do Padre Cabral?

      O Padre Cabral tomou-o sob sua proteção e colocou em suas mãos livros de sua estante, como "As viagens de Gulliver" e clássicos portugueses, o que despertou a paixão de Jorge Amado por Charles Dickens.

05 – Qual é a principal lembrança que Jorge Amado tem do Padre Cabral?

      Jorge Amado recorda com carinho a figura do jesuíta português erudito e amável, não apenas por tê-lo anunciado escritor, mas sobretudo por ter lhe dado o amor aos livros e revelado o mundo da criação literária, ajudando-o a suportar os dois anos de internato.

 

 

AUTOBIOGRAFIA: HOMEM CORRENDO DA POLÍCIA - (FRAGMENTO) - FERNANDO GABEIRA - COM GABARITO

 Autobiografia: Homem correndo da polícia – Fragmento

                       Fernando Gabeira

        Irarrazabal chama-se a rua por onde caminhávamos em setembro. É um nome inesquecível porque jamais conseguimos pronunciá-lo corretamente em espanhol e porque foi ali, pela primeira vez, que vimos passar um caminhão cheio de cadáveres. Era uma tarde de setembro de 1973, em Santiago do Chile, perto da praça Nunoa, a apenas alguns minutos do toque de recolher.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhb_gccOdPeRrxQSyuTpmeceArGyijD4eNrqoy_oBj-xU6AekPmgKCm-URUhm_M_Z_HuJ1SSh45lsLrZsnM8EwTRN6e47Q7FUcNI6lSyTNX8Icp_uqI2_eZnvMFtrMD5XBrQtZG84nRPw3NcsrCrKF3Oz6fjxEDlHeN_lvM9XVSOp6fFMklq7grynQ3e14/s1600/CHILE.jpg

        Caminhávamos rumo à Embaixada da Argentina, deixando para trás uma parte gelada da cordilheira dos Andes e tendo à nossa esquerda o estádio Nacional, para onde convergia o grosso do tráfego militar na área.

        Na esquina com a rua Holanda, somos abordados por alguém que nos pede fogo. Uma pessoa parada na esquina. Parecia incrível que se pudesse estar parado na esquina, naquele momento. Vera me olhou com espanto e compreendi de estalo o que queria dizer:

        -- “Coitado, vai cair breve nas mãos da polícia.”

        Ele se curva para acender o cigarro e vemos seus dedos amarelos. A chama do fósforo ressalta as olheiras de quem dormiu pouco ou nem dormiu. Certamente era de esquerda, o cara parado na esquina. E, como nós, estava transtornado com o golpe militar, tentando reatar os inúmeros vínculos emocionais e políticos que se rompem num momento desses.

        Tive vontade de aconselhá-lo: se cuida, toma um banho, não dá bandeira, se manda, sai dessa esquina. Mas compreendi, muito rapidamente, que seria absurdo parar para conversar na esquina de Irarrazabal com Holanda, naquele princípio de primavera.

        Nós também estávamos numa situação difícil. A alguns minutos do toque de recolher, a meio caminho da Embaixada da Argentina, nossas chances eram estas: ou saltávamos para dentro dos jardins e ganhávamos asilo político, ou ficávamos na rua, em pleno toque de recolher. Se ficássemos na rua seríamos certamente presos e teríamos, pelo menos, algumas noites de tortura para explicar o que estávamos fazendo no Chile, durante a virada sangrenta que derrubou a Unidade Popular. Pessoalmente teria de explicar por que me chamava Diogo e era equatoriano. E não me chamava Diogo nem era equatoriano. Tratava-se de um passaporte falso, de um português que emigrara para Quito, e que me dava margem para falar espanhol com sotaque. Português naturalizado equatoriano, caminhando ao lado de uma brasileira e de uma alemã, sem tempo portanto para dar conselhos.

        Pois, como ia dizendo, estávamos numa situação difícil. Na melhor das hipóteses, venceríamos a vigilância dos carabineros e cruzaríamos os jardins da embaixada. Começaria aí um exílio dentro do exílio, dessa vez mais longo e doloroso porque as ditaduras militares estavam fechando o cerco no continente. Na melhor das hipóteses, portanto, iríamos sofrer muito.

        No entanto, era preciso correr. Correr rápido para chegar a tempo e meio disfarçado para não chamar a atenção dos carros militares. E talvez o cara da esquina nem fosse de esquerda. Foi assim, nessa corrida meio culpada, que me ocorreu a ideia: se escapo de mais essa, escrevo um livro contando como foi tudo. Tudo? Apenas o que se viu nesses dez anos, de 1968 para cá, ou melhor, a fatia que me tocou viver e recordar.

        Este portanto é o livro de um homem correndo da polícia, tentando compreender como é que se meteu, de repente, no meio da Irarrazabal, se havia apenas cinco anos estava correndo da Ouvidor para a Rio Branco, num dos grupos que fariam mais uma demonstração contra a ditadura militar que tomara o poder em 1964. Onde é mesmo que estávamos quando tudo começou?

GABEIRA, Fernando. O que é isso companheiro? 13 ed. Rio de Janeiro: Codecri, 1980, p. 9-10.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 236-237.

Entendendo a autobiografia:

01 – Qual é o contexto histórico em que se passa a narrativa?

      A narrativa se passa em Santiago do Chile, em setembro de 1973, durante o golpe militar que derrubou o governo de Salvador Allende e instaurou a ditadura de Augusto Pinochet.

02 – Qual é a situação dos personagens principais no momento da narrativa?

      Os personagens principais, o narrador (Fernando Gabeira) e seus acompanhantes Vera e uma alemã, estão em uma situação de risco. Eles caminham pelas ruas de Santiago, próximo ao toque de recolher, e correm o risco de serem presos e torturados pela polícia militar.

03 – Quem é o "homem parado na esquina" e qual é a sua importância na narrativa?

      O "homem parado na esquina" é um personagem que o narrador e seus amigos encontram durante sua fuga. Ele é descrito como um homem de esquerda, transtornado com o golpe militar, que parece estar em perigo. Sua importância reside em despertar no narrador a reflexão sobre a situação de perigo que ele próprio está vivendo e sobre a necessidade de tomar cuidado para não ser pego pela polícia.

04 – Qual é a principal preocupação do narrador ao longo do fragmento?

      A principal preocupação do narrador é escapar da polícia e evitar a prisão e a tortura. Ele está constantemente atento aos sinais de perigo e busca formas de se disfarçar e se proteger.

05 – O que significa a expressão "exílio dentro do exílio" utilizada pelo narrador?

      A expressão "exílio dentro do exílio" se refere à possibilidade de o narrador e seus amigos conseguirem asilo político na Embaixada da Argentina, mas terem que enfrentar um novo período de exílio, agora dentro da embaixada, devido à repressão política no Chile e em outros países da América Latina.

06 – Qual é a reflexão central que o narrador faz ao longo do fragmento?

      O narrador reflete sobre como se envolveu em situações de perigo e de luta política ao longo de sua vida. Ele se questiona sobre as motivações que o levaram a correr da polícia, tanto no Brasil, durante a ditadura militar, quanto no Chile, durante o golpe.

07 – Qual é a relação entre o título "Homem correndo da polícia" e o conteúdo do fragmento?

      O título "Homem correndo da polícia" resume a situação central do fragmento: o narrador e seus amigos estão fugindo da polícia militar em Santiago do Chile. A corrida do narrador, tanto no Chile quanto no Brasil, representa sua luta contra a opressão e a busca por liberdade.

 

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

AUTOBIOGRAFIA: MARTA, A RAINHA DO BRASIL - REVISTA MARIE CLAIRE - COM GABARITO

AUTOBIOGRAFIA: MARTA, A RAINHA DO BRASIL

        A INFÂNCIA

        Meu pai se separou da minha mãe quando eu tinha 1 ano e meu irmão mais velho assumiu a responsabilidade de um pai para minha mãe poder trabalhar. Minha mãe só via a gente à noite. Comecei a frequentar o colégio com 9 anos, porque as dificuldades eram muito grandes e ela não tinha como comprar material escolar. Só que eu queria muito estudar, então pegava cadernos e ficava tentando ler e escrever sozinha. Quando fui pra escola, já sabia fazer o meu nome, e a professora perguntou: “Você já estudou alguma vez?”. E eu disse: “Não, aprendi sozinha mesmo” (fica emocionada).

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0ThPBRbYtpW-xQdyhLg0vEIGvjY999ZkRqJ_bI4IoBkQoPH3eXigOG2jFwh45ahGKmefdHqlcKmlzke2hE9uO0sX2xC6G_qRTi2KzkRCOrnV8eArnZYYXizNzJFy_vaUnBS7S1x0FenIYsNov3KLr1cPdhL1sh54IKnKYVNkdGYqGpGtJ6i6p8sS7YNc/s320/marta.jpg


        COMEÇO DE TUDO

        Em Dois Riachos, eu vivia com os meninos jogando bola e indo a jogos do time masculino. A minha vontade era me tornar uma jogadora profissional e quando apareceu a oportunidade de tentar fazer um teste no Vasco e no Fluminense, times que tinham equipes de futebol feminino naquela época, fui. Eu tinha 14 anos.

        A MÃE

        Ela falava: “Chega perto da hora e essa menina vai é desistir. Ela não vai, não”. E eu falava: “Eu vou, eu vou, eu vou”. No dia de embarcar, ela só foi acreditar quando o ônibus estava parado e eu falei: “Eu vou”, e subi no ônibus. Aí ela chorou, meus irmãos choraram, foi aquela despedida. Só aí ela acreditou que eu estava indo em busca do meu sonho (fica emocionada).

        NO RIO DE JANEIRO, COM 14 ANOS

        Foi uma época difícil porque cheguei no Vasco e não conhecia ninguém, tinha um monte de gente que jogava na seleção, e as cariocas todas cheias de gírias para cima de mim. Eu ficava quietinha e me chamavam de bicho-do-mato.

        A ADOLESCÊNCIA

        Saí de Dois Riachos para realizar um sonho e, por ele, tive que enfrentar dificuldades. Fiquei no Rio sem receber salário por vários meses, morando na concentração do Vasco.  E olha que o salário era nada mais do que uma ajuda de custo, o que me obrigava a abrir mão de várias coisas. Não podia nem ir à praia porque tinha que pegar ônibus e nem dinheiro para o ônibus eu tinha.

        MOMENTO DE DÚVIDA

        Depois de dois anos, acabaram com o futebol feminino do Vasco, e aí bateu desespero. Já tinha sido convocada uma vez para a seleção brasileira, então pensava assim: “Se voltar para Alagoas, será que eu vou ter outra oportunidade de ir para a seleção? Será que eles vão me esquecer?”.

        DECISÃO

        Fui morando com amigos, sempre de favor, fui jogar em Minas, ganhava um troco, me virava como dava. Acabei convocada para a seleção outras vezes. E foi jogando pela seleção, em 2003, que o pessoal do Umea Ik me viu e me sondou.

        EDUCAR UM FILHO

        Queria mostrar sempre o que é bom e o que é ruim. Lógico que não vou falar assim: “Você tem que seguir este caminho”, ele é que vai decidir, só que me sentiria no direito de explicar porque foi isso que não tive na infância. Mas não culpo ninguém. Sem meu pai, minha mãe teve que trabalhar para manter os filhos e ficou ausente. Não era o que ela queria realmente.

Revista Marie Claire, Nº 209. Editora Globo.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 6º ano. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. 7ª edição reformulada – São Paulo: ed. Saraiva, 2012. p. 167-168.

Entendendo o texto:

01 – Por que Marta começou a frequentar a escola apenas aos 9 anos?

      Marta começou a frequentar a escola aos 9 anos porque sua mãe não tinha condições financeiras de comprar material escolar devido às grandes dificuldades que enfrentavam.

02 – Quem assumiu a responsabilidade de pai para Marta quando ela era criança?

      O irmão mais velho de Marta assumiu a responsabilidade de um pai para que a mãe pudesse trabalhar e sustentar a família.

03 – Como Marta aprendeu a escrever seu nome antes de ir à escola?

      Marta aprendeu a escrever seu nome sozinha, pegando cadernos e tentando ler e escrever por conta própria, pois tinha muita vontade de estudar.

04 – Qual foi o primeiro grande passo de Marta para realizar seu sonho de ser jogadora de futebol?

      O primeiro grande passo de Marta foi quando, aos 14 anos, teve a oportunidade de fazer um teste para os tempos de futebol feminino no Vasco e no Fluminense.

05 – Como foi a ocorrência da mãe de Marta no dia em que ela foi tentar seu sonho no Rio de Janeiro?

      No início, a mãe de Marta não acreditava que ela realmente iria, mas no dia do embarque, quando Marta subiu no ônibus, sua mãe chorou junto com seus irmãos, e só aí acreditou que ela estava realmente indo em busca do seu sonho.

06 – Quais dificuldades Marta planejou ao chegar no Rio de Janeiro?

      Marta enfrentou muitas dificuldades, como a falta de dinheiro, morando na concentração do Vasco sem receber salário e sem recursos nem para pegar ônibus, além de lidar com o choque cultural e as gírias cariocas.

07 – Qual foi o momento de dúvida que Marta teve após dois anos no Vasco?

      Após dois anos no Vasco, o clube encerrou o futebol feminino, e Marta ficou em dúvida sobre seu futuro, questionando se teria outra oportunidade de jogar pela seleção brasileira caso voltasse para Alagoas.

 


sábado, 6 de julho de 2024

AUTOBIOGRAFIA: "O ARCO-ÍRIS" - FREI BETTO - COM GABARITO

 Autobiografia: O ARCO-ÍRIS”

                        Frei Betto.

        Debruçado no chão, abri o álbum de desenhos vazados que ganhara de aniversário, derramei em volta a caixa de lápis de cor e, em fúria policrômica, preenchi de cores que sugeriam bichos, nuvens, semáforos e paisagens campestres. As cores fortes, como o vermelho e o roxo, expressavam com maior nitidez a ênfase criativa que me inundava o peito. Rompi os limites das gravuras e aqueles que a própria natureza impôs à sua harmonia, pintando as montanhas de violeta e as estradas de azul.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirz6EUDUXq6vzUGnrN6u68tEKNOM_bimueDN2DDXSH4jWxy3mvUiPjhCNPqPUqW448SGoX6ve5pEG_NbBAhbsvee1WbLSs47RJJxoBtrq99nhG80jx06PXSit2ylJmZudYRgn6gwZAkFNzyGsx1QkreZUKO3Gx0hoHxlquvdqjBAAo-y2nCgWdoDKs2Qc/s320/freibetto12.jpg

        Findo o álbum, peguei folhas de rascunho na escrivaninha do papai, deitei-me na copa e, absorto, entreguei-me ao delírio, traçando arcos e linhas, curvas e hipérboles, círculos e triângulos, retorcendo a geometria e enlouquecendo o próprio Euclides, caso visse aquilo.

        Desenhar eu nunca soube. Jamais tive o domínio da forma das mãos. Nem o olho da perspectiva. Em compensação, o mundo coloria-se através dos meus dedos, que subvertiam a estética divina, pintando as árvores de vermelho, o oceano de amarelo, o céu de marrom, o sol de azul. Enchia folhas e folhas com linhas esdrúxulas, perfis surreais, astros impressionistas, cujos significados só existiam em meu espírito.

        Reproduzi o arco-íris que coroava os céus de Belo Horizonte na época das chuvas, mapeando tesouros inidentificáveis. Estiquei paralelamente os traços de cores variadas, até gastar a ponta dos lápis. Não coube nas folhas espalhadas pelo chão da copa. Prossegui sobre o piso de cerâmica e subi parede afora. Todos os tons de minha caixa estavam representados naquele borrão forte, espectro de serpente alada.

        Mamãe deu um suspiro ao entrar na copa. Por um momento, acometeu-me a dúvida se de admiração ou indignação recobrada a fala, deserdou-me em zangas. Correu a molhar o pano na torneira da pia e obrigou-me a limpar a parede e o chão. Fiquei inconsolável. Aquilo era uma obra de arte, que me exigira esforço e criatividade. Só não merecia reconhecimento porque eu era criança. 

        Ao preparar-me para limpar “essa sujeirada”, como exclamou minha mãe, adentrou meu pai, vindo do trabalho. Espantou-se ao ver o filho, sob o olhar severo da mulher, esfregando na parede o pano de chão. Meteu-se em nossa discussão, inteirou-se do motivo, contemplou o que restava do meu arco-íris. 

        -- Uma beleza, meu filho! – reconheceu para desagrado de minha mãe. – Vamos deixar aí para que todos possam apreciar.

        Irritada, minha mãe bateu boca com meu pai sobre o modo de educar os filhos. (Teria gostado que me consultassem, mas isso estava fora de cogitação, uma vez que todos os adultos se julgam mais sábios que as crianças). Contudo, enchi-me de orgulho com o arco-íris exposto na copa.

        Cecília, minha mãe, também olhou e, virando o rosto, encaretou-se, como quem se depara com uma porcaria. Não me importei, sabia que as mulheres nada entendiam de obra de arte. Nunca ouvira papai citar uma mulher artista. Ele só falava em pintores: Di Cavalcanti, Portinari, Marcier, Guignard, Segall, Velázquez, Cézanne, Matisse, Van Gogh e outros.

        Meu pai levou-me, um par de dias depois, a uma galeria de arte. Um amigo dele expunha pinturas abstratas. Vi lá borrões muito piores do que os meus. Mas ninguém ousou pedir ao artista que apagasse aquilo. Pelo contrário, todos o cobriam de sorrisos e cumprimentos elogiosos.

        No Natal, ganhei uma aquarela. Uma cartolina branca em forma de paleta, com um arco de botões de múltiplas cores na borda, dois pincéis finos e um copinho de cerâmica para pôr água. Revesti as paredes da garagem de obras, se perenizadas como as pinturas rupestres, possivelmente me garantiriam ao menos o reconhecimento da posteridade. Contudo, levei boas palmadas de papai quando, ao sair do banho, encontrou-me estirado em sua cama, aquarela em punho, transformando em estampado o lençol branco. Desta vez, ele concordou com o desgosto artístico de minha mãe.

FREI BETTO. Alfabeto: Autobiografia escolar. São Paulo: Ática, 2002, p. 48-50.

Entendendo a autobiografia:

01 – Qual foi a reação inicial da mãe de Frei Betto ao ver a parede e o chão da copa pintados?

      A mãe de Frei Betto ficou indignada e zangada ao ver a parede e o chão da copa pintados. Ela o obrigou a limpar tudo imediatamente.

02 – Como o pai de Frei Betto reagiu ao ver a obra de arte na copa?

      O pai de Frei Betto ficou impressionado e reconheceu a beleza da obra, decidindo deixá-la para que todos pudessem apreciar, apesar do desagrado da mãe.

03 – Quais artistas o pai de Frei Betto mencionava frequentemente?

      O pai de Frei Betto mencionava frequentemente artistas como Di Cavalcanti, Portinari, Marcier, Guignard, Segall, Velázquez, Cézanne, Matisse e Van Gogh.

04 – Como Frei Betto se sentiu quando sua mãe pediu para ele limpar a parede e o chão?

      Frei Betto ficou inconsolável, pois considerava sua obra uma verdadeira arte que exigira muito esforço e criatividade.

05 – Qual presente Frei Betto recebeu no Natal e como ele o usou?

      No Natal, Frei Betto recebeu uma aquarela. Ele usou a aquarela para revestir as paredes da garagem com suas obras de arte.

06 – Qual foi a reação do pai de Frei Betto quando encontrou a cama pintada?

      O pai de Frei Betto ficou zangado e concordou com o desgosto artístico da mãe, dando-lhe boas palmadas.

07 – O que motivava a criatividade de Frei Betto ao pintar?

      Frei Betto era movido por uma fúria policrômica e uma ênfase criativa que inundava seu peito, levando-o a preencher os desenhos com cores intensas e subverter a estética convencional.

08 – Como Frei Betto via suas próprias habilidades de desenho?

      Frei Betto reconhecia que não sabia desenhar bem, mas compensava isso com sua habilidade de colorir o mundo através de seus dedos de forma criativa e subversiva.

09 – Como Frei Betto percebia a arte das mulheres em comparação com a dos homens?

      Frei Betto percebia que as mulheres não eram reconhecidas como artistas, já que nunca ouvira seu pai mencionar uma mulher artista, e isso influenciava sua visão de que as mulheres não entendiam de arte.

10 – Qual foi a experiência de Frei Betto ao visitar uma galeria de arte com seu pai?

      Ao visitar uma galeria de arte com seu pai, Frei Betto viu pinturas abstratas que considerava piores que as suas, mas percebeu que essas obras eram elogiadas e reconhecidas, ao contrário das suas.

 

domingo, 23 de junho de 2024

AUTOBIOGRAFIA(CRÔNICA): MAIO - FRAGMENTO - LIMA BARRETO - COM GABARITO

 Autobiografia (Crônica): Maio – Fragmento

                       Lima Barreto 

        Estamos em maio, o mês das flores, o mês sagrado pela poesia. Não é sem emoção que o vejo entrar. Há em minha alma um renovamento; as ambições desabrocham de novo e, de novo, me chegam revoadas de sonhos. Nasci sob o seu signo, a treze, e creio que em sexta-feira; e, por isso, também à emoção que o mês sagrado me traz, se misturam recordações da minha meninice.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjiJQG6jf69tBqzucp6QAQ09Raxh2IzlsYHwZh597lUXkg9PdeACQhVa02ICLcry_a9m4qgJXAyrYkk-GRr4_jNM3BBoXTyoaPag0MlLj7Az7ITwPYiJ6v2F9iVekM6q-fJWqD5EnyV50Ntr8pCHukJdG5koSeeBli0oNyBCpUh33gaPmnSrQnhINYY6tI/s320/Maio.jpg

        Agora mesmo estou a lembrar-me que, em 1888, dias antes da data áurea, meu pai chegou em casa e disse-me: a lei da abolição vai passar no dia de teus anos. E de fato passou; e nós fomos esperar a assinatura no Largo do Paço.

        [...]

        Havia uma imensa multidão ansiosa, com o olhar preso às janelas do velho casarão. Afinal a lei foi assinada e, num segundo, todos aqueles milhares de pessoas o souberam. A princesa veio à janela. Foi uma ovação: palmas, acenos com lenço, vivas... [...]

        Eu tinha então sete anos e o cativeiro não me impressionava. Não lhe imaginava o horror; não conhecia a sua injustiça. [...] Mas como ainda estamos longe de ser livres! Como ainda nos enleamos nas teias dos preceitos, das regras e das leis!

        [...]

        E maio volta... Há pelo ar blandícias e afagos; as coisas ligeiras têm mais poesia; os pássaros como que cantam melhor; o verde das encostas é mais macio; um forte flux de vida percorre e anima tudo...

        O mês augusto e sagrado pela poesia e pela arte [...] volta; e os galhos da nossa alma que tinham sido amputados – os sonhos, enchem-se de brotos muito verdes, de um claro e macio verde de pelúcia, reverdecem mais uma vez, para de novo perderem as folhas, secarem, antes mesmo de chegar o tórrido dezembro.

        E assim se faz a vida, com desalentos e esperanças, com recordações e saudades, com tolices e coisas sensatas [...].

BARRETO, Lima. Maio. In: BARRETO, Lima. A crônica militante. São Paulo: Expressão Popular, 2016, p. 279-283.

Fonte: Maxi: Séries Finais. Caderno 1. Língua Portuguesa – 7º ano. 1.ed. São Paulo: Somos Sistemas de Ensino, 2021. Ensino Fundamental 2. p. 03-04.

Entendendo a autobiografia:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Amputar: cortar, podar.

·        Blandícia: carícia.

·        Cativeiro: escravidão.

·        Data áurea: Dia da Abolição da Escravatura.

·        Desalento: desencanto.

·        Enlear: embaraçar-se, enrolar-se.

·        Flux: termo inglês para “fluxo”.

·        Ovação: aplausos.

·        Tórrido: seco, árido.

02 – Agora que você já leu a crônica (autobiografia), conte com suas próprias palavras o que achou da experiência de ler texto.

      Resposta pessoal do aluno.

03 – Qual é o nome da crônica e do autor? Você sabe dizer em que livro o texto está publicado?

      “Maio” é o título da crônica. O autor é Lima Barreto. Já o título da obra se encontra no fim do texto: A crônica militante.

04 – Agora, defina em uma palavra como você gosta de ser reconhecido.

      Resposta pessoal do aluno.

05 – Identifique, na crônica de Lima Barreto, palavras que indiquem a ação verbal ligada ao pronome eu.

      Vejo, nasci, creio, estou, tinha, etc.

06 – Na crônica “Maio”, o autor conta um fato que registra sua vida íntima. Diga qual é a data e o dia do nascimento do autor e o que parece significar para você.

      Treze de maio, sexta-feira. Verifique se eles notam que o autor está falando de uma “sexta-feira 13”. Explique, então, que a superstição com esse dia já existia no fim do século XIX.

07 – Como o autor enxerga o mês de seu nascimento?

      Para o autor, maio é um mês poético e sagrado, em que os sonhos renascem. Provavelmente ele pensava assim pela associação com o registro histórico da abolição.

08 – Lima Barreto usou a escrita de uma crônica para registrar um momento de sua vida. Existem outros meios ou técnicas para registrar um momento da vida? Se sim, conte quais são.

      Sim, pois podemos criar registros de nossas imagens em vídeos, na pintura de quadros ou escrevendo nosso perfil em um diário, em uma página de rede social, etc.