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domingo, 16 de fevereiro de 2025

POEMA: BOA NOITE - CASTRO ALVES - COM GABARITO

 Poema: Boa Noite

              Castro Alves

Boa noite, Maria! Eu vou-me embora.
A lua nas janelas bate em cheio.
Boa noite, Maria! É tarde... é tarde. .
Não me apertes assim contra teu seio.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-0LhyphenhyphenoV3qeLPeWkSbIq6IzX0k-J4dwUrwPS3X1VQaxVNj28bComTcIPBa5tceHIA0hIxHSxXfdWP7sb15b4rhd-3slOC_9RFG2aJwKkiLUm7SGEUbeugdeXbP5NTsQJ07LV_iXHUUUjFNPv43-6tczZZeWHE46kYgkMtB43MPouoie6Ho10AAgJbchZI/s1600/JANELA.jpg



Boa noite! ... E tu dizes - Boa noite.
Mas não digas assim por entre beijos...
Mas não mo digas descobrindo o peito,
— Mar de amor onde vagam meus desejos!

Julieta do céu! Ouve... a calhandra
já rumoreja o canto da matina.
Tu dizes que eu menti? ... pois foi mentira...
Quem cantou foi teu hálito, divina!

Se a estrela-d'alva os derradeiros raios
Derrama nos jardins do Capuleto,
Eu direi, me esquecendo d'alvorada:
"É noite ainda em teu cabelo preto..."

É noite ainda! Brilha na cambraia
— Desmanchado o roupão, a espádua nua
O globo de teu peito entre os arminhos
Como entre as névoas se balouça a lua. . .

É noite, pois! Durmamos, Julieta!
Recende a alcova ao trescalar das flores.
Fechemos sobre nós estas cortinas...
— São as asas do arcanjo dos amores.

A frouxa luz da alabastrina lâmpada
Lambe voluptuosa os teus contornos...
Oh! Deixa-me aquecer teus pés divinos
Ao doudo afago de meus lábios mornos.

Mulher do meu amor! Quando aos meus beijos
Treme tua alma, como a lira ao vento,
Das teclas de teu seio que harmonias,
Que escalas de suspiros, bebo atento!

Ai! Canta a cavatina do delírio,
Ri, suspira, soluça, anseia e chora. . .
Marion! Marion!... É noite ainda.
Que importa os raios de uma nova aurora?!...

Como um negro e sombrio firmamento,
Sobre mim desenrola teu cabelo...
E deixa-me dormir balbuciando:
— Boa noite! — formosa Consuelo.

ALVES, C. Espumas Flutuantes, 1870.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, Vol. Único. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. Ensino Médio, 1ª ed. 4ª reimpressão – São Paulo: ed. Atual, 2003. p. 192.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o tema central do poema "Boa Noite"?

      O tema central do poema é o amor e o desejo, expressos através da despedida de um amante e sua amada. À noite, com sua atmosfera romântica e sensual, serve de cenário para a paixão dos dois.

02 – Quem são os personagens principais do poema?

      Os personagens principais são o amante, que se dirige à amada, chamada Maria, Consuelo ou Julieta, e a própria amada, que responde com um "Boa noite" carregado de emoção.

03 – Qual é o tom predominante do poema?

      O tom predominante do poema é apaixonado e sensual. O amante expressa seu amor e desejo de forma intensa, utilizando metáforas e comparações para descrever a beleza e o encanto da amada.

04 – Que recursos poéticos Castro Alves utiliza para expressar a intensidade do amor no poema?

      Castro Alves utiliza diversos recursos poéticos, como metáforas ("Mar de amor onde vagam meus desejos"), comparações ("Como entre as névoas se balouça a lua"), exclamações ("Julieta do céu!"), interrogações retóricas ("Que importa os raios de uma nova aurora?!"), aliterações ("frouxa luz da alabastrina lâmpada") e assonâncias ("Ri, suspira, soluça, anseia e chora").

05 – Qual é o significado do verso "É noite ainda em teu cabelo preto..."?

      Esse verso expressa o desejo do amante de que a noite e o momento de amor não terminem. Ele se encanta com a beleza da amada e quer prolongar a experiência, mesmo que o dia já esteja amanhecendo.

06 – Por que a amada é chamada de Julieta no poema?

      A amada é chamada de Julieta em referência à personagem da tragédia de Shakespeare, "Romeu e Julieta". Essa comparação sugere um amor intenso e proibido, que enfrenta obstáculos e desafios.

07 – Qual é a importância do título "Boa Noite" para o poema?

      O título "Boa Noite" é irônico, já que o poema não se limita a uma simples saudação noturna. Ele representa o início de um diálogo amoroso e apaixonado, que se desenrola durante a noite e se estende até o amanhecer. À noite, no poema, é um espaço de intimidade, amor e desejo.

 

 

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

POESIA: OS TRÊS AMORES - CASTRO ALVES - COM GABARITO

 Poesia: Os Três Amores

             Castro Alves

I
Minh’alma é como a fronte sonhadora
Do louco bardo, que Ferrara chora...
Sou Tasso!... a primavera de teus risos
De minha vida as solidões enflora...
Longe de ti eu bebo os teus perfumes,
Sigo na terra de teu passo os lumes...
— Tu és Eleonora...

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfGvPbfJ_jlx_whoUGjnCaQXQcqb_GkkhCp4r21ObpnrX0FoUsVkei8wwqkXeXto42U4Nh3VabM-AbLHJ1wlD3Sbib_WjBWGHJYUw-FNCFw8AUSRvjn1Ai5esytdW1nlLYqQqWKsF7ITuCBTISIN09pWJSl3Dpx55DOgG8T7RJS6aPE9laCthJlq5n5jQ/s320/Jesuitas-de-Castro-Alves.jpg



II
Meu coração desmaia pensativo,
Cismando em tua rosa predileta.
Sou teu pálido amante vaporoso,
Sou teu Romeu... teu lânguido poeta!...
Sonho-te às vezes virgem... seminua...
Roubo-te um casto beijo à luz da lua...
— E tu és Julieta...

III
Na volúpia das noites andaluzas
O sangue ardente em minhas veias rola...
Sou D. Juan!... Donzelas amorosas,
Vós conheceis-me os trenos na viola!
Sobre o leito do amor teu seio brilha
Eu morro, se desfaço-te a mantilha
Tu és — Júlia, a Espanhola!...

CASTRO ALVES, A. Espumas flutuantes. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1964, p. 32-33.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 467.

Entendendo a poesia:

01 – Qual é o tema central do poema "Os Três Amores"?

      O tema central do poema é a representação de três diferentes tipos de amor, cada um associado a uma figura literária ou histórica. Castro Alves explora as nuances do amor romântico, sensual e idealizado, utilizando personagens icônicos para expressar seus sentimentos.

02 – Quem são as três figuras femininas mencionadas no poema e qual o tipo de amor que elas representam?

      As três figuras femininas mencionadas no poema são:

      Eleonora: Representa o amor idealizado e platônico, um amor distante e inatingível, que inspira o poeta, assim como Eleonora inspirou o poeta italiano Torquato Tasso.

      Julieta: Representa o amor romântico e passional, um amor jovem e intenso, marcado pela tragédia e pelo desejo, como o amor de Romeu e Julieta.

      Júlia, a Espanhola: Representa o amor sensual e carnal, um amor de paixão e desejo, como o amor de Don Juan.

03 – Que figuras masculinas são utilizadas no poema para expressar os sentimentos do poeta?

      O poeta se identifica com três figuras masculinas para expressar seus sentimentos em relação a cada um dos amores:

      Tasso: O poeta se compara ao bardo italiano Torquato Tasso, que dedicou sua vida e sua poesia a Eleonora d'Este. Essa identificação expressa o amor idealizado e a inspiração que a figura feminina proporciona.

      Romeu: O poeta se vê como um Romeu apaixonado, tomado pelo amor e pelo desejo por Julieta. Essa identificação expressa a intensidade e a paixão do amor romântico.

      Don Juan: O poeta se identifica com o sedutor Don Juan, expressando o amor sensual e a atração física que sente por Júlia.

04 – Quais são as características de cada um dos amores retratados no poema?

      Cada um dos amores retratados no poema possui características distintas:

      Amor idealizado (Eleonora): É um amor platônico, distante e inatingível, que inspira o poeta e o eleva a um plano superior.

      Amor romântico (Julieta): É um amor passional, intenso e marcado pela tragédia, que domina o coração e os pensamentos do poeta.

      Amor sensual (Júlia): É um amor de paixão e desejo, focado na atração física e na volúpia dos encontros amorosos.

05 – Como o poema "Os Três Amores" reflete o contexto romântico da época?

      O poema "Os Três Amores" reflete o contexto romântico da época ao explorar a subjetividade, a paixão e a idealização do amor. Os sentimentos são expressos de forma intensa e dramática, e a natureza e as figuras históricas e literárias são utilizadas para representar os diferentes tipos de amor. O poema também aborda a dualidade entre o amor idealizado e o amor carnal, um tema recorrente na literatura romântica.

 

 

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

POESIA: A CRUZ DA ESTRADA - CASTRO ALVES - COM GABARITO

 Poesia: A cruz da estrada

            Castro Alves

Caminheiro que passas pela estrada,
Seguindo pelo rumo do sertão,
Quando vires a cruz abandonada,
Deixa-a em paz dormir na solidão.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDrz_rmH-rctY7IsJhYwIUBRdZTJqJR2faBh5ThxySta177QTDhQ1Me8PnjG1bMAxC9JUi8QvkVdds2S8Oh7gI6HFUhLkC4ZUgkJaOT42AZAaNfm3bRKrk2P2tUxjPPZmhyphenhyphen1IWkXLTA8GNhKwFfK3V_tMa_p2IWTl2mukYWxdIYGwQWBmvo5aFHff1S0E/s320/CRUZ.jpg


Que vale o ramo do alecrim cheiroso
Que lhe atiras nos braços ao passar?
Vais espantar o bando buliçoso
Das borboletas, que lá vão pousar.

É de um escravo humilde sepultura,
Foi-lhe a vida o velar de insônia atroz.
Deixa-o dormir no leito de verdura,
Que o Senhor dentre as selvas lhe compôs.

Não precisa de ti. O gaturamo
Geme, por ele, à tarde, no sertão.
E a juriti, do taquaral no ramo,
Povoa, soluçando, a solidão.

Dentre os braços da cruz, a parasita,
Num abraço de flores, se prendeu.
Chora orvalhos a grama, que palpita;
Lhe acende o vaga-lume o facho seu.

Quando, à noite, o silêncio habita as matas,
A sepultura fala a sós com Deus.
Prende-se a voz na boca das cascatas,
E as asas de ouro aos astros lá nos céus.

Caminheiro! do escravo desgraçado
O sono agora mesmo começou!
Não lhe toques no leito de noivado,
Há pouco a liberdade o desposou.

CASTRO ALVES, A. Os escravos. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1964, p. 42-43.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 468.

Entendendo a poesia:

01 – Qual é o tema central do poema "A Cruz da Estrada"?

      O tema central do poema é o respeito e a reverência devidos à sepultura de um escravo, marcada por uma cruz à beira da estrada. O poeta convida o caminhante a não perturbar o descanso do falecido, enfatizando a importância de seu sono e de sua liberdade recém-conquistada.

02 – Que elementos da natureza são mencionados no poema e qual o seu significado?

      O poema menciona diversos elementos da natureza, como o alecrim, as borboletas, o gaturamo, a juriti, a parasita, o orvalho, o vaga-lume, as cascatas e os astros. Esses elementos simbolizam a integração do escravo com a natureza, que se torna seu leito de descanso e testemunha de sua história. A natureza também representa a liberdade e a beleza que o escravo não pôde desfrutar em vida.

03 – Qual é a mensagem principal do poema em relação à escravidão?

      A mensagem principal do poema é uma crítica à escravidão e uma exaltação da liberdade. O poeta expressa sua compaixão pelo escravo que sofreu durante a vida e agora pode descansar em paz. A cruz à beira da estrada se torna um símbolo da luta pela liberdade e da memória daqueles que foram oprimidos.

04 – Que imagens poéticas são utilizadas para descrever a sepultura do escravo?

      O poema utiliza diversas imagens poéticas para descrever a sepultura do escravo, como "leito de verdura", "braços da cruz", "abraço de flores" e "leito de noivado". Essas imagens evocam a ideia de um lugar de descanso e de união com a natureza, onde o escravo encontra paz e liberdade.

05 – Qual é o tom geral do poema e que sentimentos ele transmite?

      O tom geral do poema é de respeito, compaixão e reverência. O poeta convida o caminhante a ter um olhar piedoso sobre a sepultura do escravo, reconhecendo sua história de sofrimento e sua busca por liberdade. O poema transmite sentimentos de tristeza pela escravidão, mas também de esperança e de consolo, ao imaginar o escravo livre e descansando em paz.

 

 

segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

POEMA: LONGE DE TI - CASTRO ALVES - COM GABARITO

 Poema: Longe de Ti

           Castro Alves

Quando longe de ti eu vegeto,
Nessas horas de largos instantes,
O ponteiro, que passa os quadrantes,
Marca séculos, se esquece de andar.
Fito o céu — é uma nave sem lâmpada.
Fito a terra — é uma várzea sem flores.
O universo é um abismo de dores,
Se a madona não brilha no altar.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOR6T0VoyN7h9mV1I_ZQ8AGkH-6J_JlS0uj7UTuxuYAZvr39AG63WrIwY6KZFpOuyYDym9Pf8gO2XX2lGq1y8g2YupZPEJn-GwB0XpxNFayztmiMg2rRc5PN-JUYrNgy6e1mx44TgdKE5qCJA4t3sK7icQAWJqKVimy-sIEhAkVjIStIVEdd-lrOzlFxU/s320/Longe-de-Ti-de-Castro-Alves.jpg


Então lembro os momentos passados.
Lembro então tuas frases queridas,
Como o infante que as pedras luzidas
Uma a uma desfia na mão.
Como a virgem que as joias de noiva
Conta alegre a sorrir de alegria,
Conto os risos que deste-me um dia
E que eu guardo no meu coração.

Lembro ainda o lugar onde estavas...
Teu cabelo, teu rir, teu vestido...
De teu lábio o fulgor incendido...
Destas mãos a beleza ideal...
Lembro ainda em teus olhos, querida,
Este olhar de tão lânguido raios,
Este olhar que me mata em desmaios
Doce, terno, amoroso, fatal!...

Quando a estrela serena da noite
Vem banhar minha fonte saudosa,
Julgo ver nessa luz misteriosa,
Doce amiga, um carinho dos teus!
E ao silêncio da noite que anseia
De volúpia, de anelos, de vida.
Eu confio o teu nome, querida,
Para as brisas levarem-no aos céus.

De ti longe minh’alma vegeta,
Vive só de saudade e lembrança,
Respirando a suave esperança
De viver como escravo a teus pés,
De sonhar teus menores desejos,
De velar em teus sonhos dourados,
"Mais humilde que os servos curvados!
"Inda mais orgulhoso que os reis"!

Ó meu Deus! Manda às horas que fujam,
Que deslizem em fio os instantes...
E o ponteiro que passa os quadrantes
Marque a hora em que a posso fitar!
Como Tântalo à sede morria,
Sem achar o conforto preciso...
Morro à míngua, meu Deus, de um sorriso!
Tenho sede, Senhor, de um olhar.

ALVES, Castro. In: GOMES, Eugênio. (Org.). Castro Alves: Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997. p. 487-488.

Fonte: Português – Literatura, Gramática e Produção de texto – Leila Lauar Sarmento & Douglas Tufano – vol. 2 – Moderna – 1ª edição – São Paulo, 2010, p. 122-123.

Entendendo o poema:

01 – Qual o sentimento predominante expresso pelo eu lírico no poema?

      O sentimento predominante é a saudade intensa da amada. O eu lírico experimenta um sofrimento profundo pela ausência da mulher amada, e esse sentimento se manifesta através de uma linguagem rica em metáforas e comparações, que expressam a intensidade da paixão e do desejo.

02 – Como o eu lírico descreve a passagem do tempo quando está longe da amada?

      O eu lírico percebe o tempo como algo que se arrasta lentamente quando está longe da amada. Os momentos se prolongam, os dias parecem intermináveis e o tempo parece ter perdido sua fluidez. Essa percepção do tempo é uma forma de expressar o sofrimento causado pela saudade.

03 – Quais os elementos da natureza utilizados pelo poeta para expressar seus sentimentos?

      O poeta utiliza elementos da natureza para criar um ambiente que reflete seu estado emocional. O céu sem lâmpada, a terra sem flores e o universo como um abismo de dores simbolizam a tristeza e a desolação do eu lírico. Por outro lado, a estrela serena da noite e as brisas são elementos que evocam a esperança e o desejo de estar perto da amada.

04 – Como o eu lírico descreve a amada?

      A amada é descrita de forma idealizada, como um ser perfeito e desejável. O poeta destaca seus atributos físicos (cabelo, sorriso, olhos) e suas qualidades pessoais (ternura, beleza), criando um retrato idealizado que intensifica ainda mais o sentimento de saudade.

05 – Qual o papel das lembranças na vida do eu lírico?

      As lembranças da amada são a única fonte de conforto para o eu lírico. Ao reviver os momentos passados com a amada, ele encontra um alívio momentâneo para a dor da saudade. As lembranças são como tesouros que ele guarda em seu coração e que o ajudam a suportar a ausência.

06 – Como o poeta expressa a intensidade de seu amor?

      A intensidade do amor do eu lírico é expressa através de comparações e metáforas que evocam sentimentos extremos. Ele se compara a Tântalo, condenado a sofrer eternamente por ter a água sempre ao alcance, mas nunca podendo saciá-la. Essa comparação revela a intensidade da sede que o consome pela presença da amada.

07 – Qual a relação entre este poema e o Romantismo?

      "Longe de Ti" é um poema tipicamente romântico, pois apresenta características como:

      Idealização da amada: A mulher é vista como um ser perfeito e inalcançável.

      Subjetividade: O poeta expressa seus sentimentos de forma intensa e pessoal.

      Valorização da natureza: A natureza é utilizada como um reflexo do estado interior do poeta.

      Linguagem rica em metáforas: O poeta utiliza metáforas para expressar a intensidade de seus sentimentos.

 

 

domingo, 8 de dezembro de 2024

POEMA: MURMÚRIOS DA TARDE - CASTRO ALVES - COM GABARITO

 Poema: Murmúrios da Tarde

             Castro Alves

Ontem à tarde, quando o sol morria,

A natureza era um poema santo,

De cada moita a escuridão saia,

De cada gruta rebentava um canto,

Ontem à tarde, quando o sol morria.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6hmkLo6UpCvq8M6vxLoMi8dYhY1FcE74GswDzUQSUTODdX5sHaZoouewR6OjHRXitKeXl2R7SdECGLMK3tgbpOwOq7_17Q5RZMTnFLONletC9x4V6mOsKLySrZj94icYuh1Xu7uLMa7q8559oyW_lAv_cxhiIyMrJmUKtcfoJr66fTu_Dz5-oR2b76yA/s320/SOL.jpg


 

Do céu azul na profundeza escura

Brilhava a estrela, como um fruto louro,

E qual a foice, que no chão fulgura,

Mostrava a lua o semicírculo d'ouro,

Do céu azul na profundeza escura.

 

Larga harmonia embalsamava os ares!

Cantava o ninho-suspirava o lago...

E a verde pluma dos sutis palmares

Tinha das ondas o murmúrio vago...

Larga harmonia embalsamava os ares.

 

Era dos seres a harmonia imensa,

Vago concerto de saudade infinda!

"Sol — não me deixes", diz a vaga extensa,

"Aura – não fujas", diz a flor mais linda;

Era dos seres a harmonia imensa!

 

"Leva-me! leva-me em teu seio amigo"

Dizia às nuvens o choroso orvalho,

"Rola que foges", diz o ninho antigo,

“Leva-me ainda para um novo galho...

Leva-me! leva-me em teu seio amigo."

 

"Dá-me inda um beijo, antes que a noite venha!

Inda um calor, antes que chegue o frio..."

E mais o musgo se conchega à penha

E mais à penha se conchega o rio...

"Dá-me inda um beijo, antes que a noite venha!

 

E tu no entanto no jardim vagavas,

Rosa de amor, celestial Maria...

Ai! como esquiva sobre o chão pisavas,

Ai! como alegre a tua boca ria...

E tu no entanto no jardim vagavas.

 

Eras a estrela transformada em virgem!

Eras um anjo, que se fez menina!

Tinhas das aves a celeste origem.

Tinhas da lua a palidez divina,

Eras a estrela transformada em virgem!

 

Flor! Tu chegaste de outra flor mais perto,

Que bela rosa! que fragrância meiga!

Dir-se-ia um riso no jardim aberto,

Dir-se-ia um beijo, que nasceu na veiga...

Flor! Tu chegaste de outra flor mais perto!...

 

E eu, que escutava o conversar das flores,

Ouvi que a rosa murmurava ardente:

"Colhe-me, ó virgem, não terei mais dores,

Guarda-me, ó bela, no teu seio quente...

"E eu escutava o conversar das flores.

 

"Leva-me! leva-me, ó gentil Maria!"

Também então eu murmurei cismando...

Minh'alma é rosa, que a geada esfria...

Dá-lhe em teus seios um asilo brando...

"Leva-me! leva-me, ó gentil Maria!...".

ALVES, Castro. Murmúrios da tarde. In: GOMES, Eugênio (Org.) Castro Alves: obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997, p. 150-151.

Fonte: Português – Literatura, Gramática e Produção de texto – Leila Lauar Sarmento & Douglas Tufano – vol. 2 – Moderna – 1ª edição – São Paulo, 2010, p. 31-32.

Entendendo o poema:

01 – Qual a principal sensação evocada pelo poema?

      O poema evoca uma sensação de tranquilidade e harmonia com a natureza. Castro Alves descreve um crepúsculo sereno, onde todos os elementos da natureza parecem unidos em um concerto de beleza e paz.

02 – Qual o papel da natureza na construção do poema?

      A natureza é o protagonista principal do poema. Cada elemento natural – o sol, a lua, as estrelas, as plantas, os animais – é descrito de forma poética e personificada, contribuindo para a criação de um ambiente mágico e onírico.

03 – Qual a relação entre o eu lírico e a natureza no poema?

      O eu lírico se funde com a natureza, sentindo-se parte integrante dela. Ele observa e descreve a cena com um olhar apaixonado e admirativo, expressando uma profunda conexão com o mundo natural.

04 – Qual o significado da figura feminina (Maria) no poema?

      A figura feminina, representada por Maria, é idealizada como uma criatura celestial, comparada a uma estrela, um anjo e uma rosa. Ela representa a beleza, a pureza e a perfeição, sendo objeto de desejo e admiração do eu lírico.

05 – Qual a importância do tempo na construção do poema?

      O tempo é um elemento fundamental na construção do poema. O crepúsculo, momento de transição entre o dia e a noite, simboliza a passagem do tempo e a inevitabilidade da mudança. A fugacidade do momento presente é enfatizada, gerando um sentimento de nostalgia e saudade.

06 – Qual o papel da linguagem poética na construção do poema?

      A linguagem poética é fundamental para a construção do poema. Castro Alves utiliza uma linguagem rica em figuras de linguagem, como metáforas, personificações e sinestesias, para criar um efeito sensorial e emotivo no leitor. A musicalidade dos versos e a escolha cuidadosa das palavras contribuem para a beleza e a expressividade do poema.

07 – Qual a mensagem principal do poema?

      A mensagem principal do poema é uma celebração da beleza e da harmonia da natureza. Castro Alves exalta a importância de apreciar os pequenos momentos da vida e de se conectar com o mundo natural. O poema também expressa um sentimento de saudade e nostalgia, evocando a beleza de um momento que se perde no tempo.

 

sexta-feira, 16 de junho de 2023

POESIA: MATER DOLOROSA - CASTRO ALVES - COM GABARITO

 POESIA: MATER DOLOROSA

               Castro Alves

Deixa-me murmurar à tua alma um adeus eterno.

em vez de lágrimas chorar sangue, chorar o sangue

de meu coração sobre meu. filho; porque tu deves

morrer, meu filho, tu deves morrer.

Nathaniel Lee


Meu Filho, dorme, dorme o sono eterno
No berço imenso, que se chama - o céu.
Pede às estrelas um olhar materno,
Um seio quente, como o seio meu.

Ai! borboleta, na gentil crisálida,
As asas de ouro vais além abrir.
Ai! rosa branca no matiz tão pálida,
Longe, tão longe vais de mim florir.

Meu filho, dorme Como ruge o norte
Nas folhas secas do sombrio chão!
Folha dest'alma como dar-te à sorte?
É tredo, horrível o feral tufão!

Não me maldigas... Num amor sem termo
Bebi a força de matar-te a mim
Viva eu cativa a soluçar num ermo
Filho, sê livre... Sou feliz assim...

- Ave - te espera da lufada o açoite,
- Estrela - guia-te uma luz falaz.
- Aurora minha - só te aguarda a noite,
- Pobre inocente - já maldito estás.


Perdão, meu filho... se matar-te é crime
Deus me perdoa... me perdoa já.
A fera enchente quebraria o vime...
Velem-te os anjos e te cuidem lá.


Meu filho dorme... dorme o sono eterno
No berço imenso, que se chama o céu.
Pede às estrelas um olhar materno,
Um seio quente, como o seio meu.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi95PDEtDlUYLmAsxrFq9GqApSS9jMZzTqj8vu0abJCFUeQRzHDxZ0GJgeTliXVv_aaKaCVH9CAVgOYDax6oZIjA9DOz1BW262zKOJknnV_JCA-oeS-WnIoHLlJHJ9LwBHWANtzswCJJEscvHoRmVv6VAJI_CQB10Y-I3QVB3DQt-K7mNJRTTUzRBim/s320/Dolores%20(2).jpg

(Castro Alves. O navio negreiro e outros poemas.

São Paulo: Saraiva, 2007. p. 31-2.)

Fonte: Livro-Conecte literatura brasileira: William Roberto Cereja/Thereza Cochar Magalhães- 2.ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p.228-9.

 

Entendendo o texto

01. Justificar o título do poema "Mater dolorosa".

         O título do poema refere-se à dor materna de entregar o filho à morte para que, futuramente, ele não venha a ser escravo.

02. Com base em "Mater dolorosa", comentar o papel das metáforas na construção da linguagem poética de Castro Alves.

Metáforas como "borboleta", "rosa branca", "ave", "estrela", "aurora", entre outras, conferem à linguagem poética de Castro Alves expressividade, impacto, riqueza de imagens e de sentidos.

03.  Interpretar o poema "Mater dolorosa" e tomar uma posição favorável ou contrária à atitude da mãe e fundamentar seu ponto de vista com argumentos.

         Professor: Qualquer que seja a posição tomada pelo aluno (contrária ou favorável ao gesto da mãe), o importante é que ele fundamente seu ponto de vista com pelo menos um argumento consistente. Sugerimos pedir aos alunos que leiam suas respostas para a classe e, a seguir, abrir a discussão.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

POEMA: O NAVIO NEGREIRO - (FRAGMENTO) - TRAGÉDIA NO MAR - CASTRO ALVES - COM GABARITO

Poema: O navio negreiro - Fragmento 

     Tragédia no mar – Castro Alves            

4ª Parte

Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
               Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
               Horrendos a dançar...

Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
               Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
               Em ânsia e mágoa vãs!

E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
               Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
               E voam mais e mais...

Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
               E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
               Cantando, geme e ri!

No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
               Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
               Fazei-os mais dançar!..."

E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
               Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
               E ri-se Satanás!...

5ª Parte
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!

Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...

São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão. . .
[...]

6ª Parte
Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...

Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...

[...]

                                                       Castro Alves. “O navio negreiro”. In: Obra completa. 2. ed. Rio de Janeiro, Aguilar, 1966. p. 247-50.
Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p. 210-2.
Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:
·        Dantesco: Evocação das cenas horríveis do “Inferno” descritas por Dante Alighieri na Divina comédia.

·        Vaga: Tipo de onda.

·        Turba: Multidão.

·        Audaz: Corajosa, ousada.

·        Bacante: Devassa, libertina.

·        Luzernas: Clarões.

·        Gávea: Mastro suplementar.

02 – A que é comparado os movimentos dos negros no convés?
      A uma dança.

03 – Como são produzidos os sons dessa dança macabra?
      Pelo tinir dos ferros, pelo estalar do açoite, pelos gritos, choros, gemidos e risos.

04 – Apóstrofe é uma figura retórica que consiste em dirigir-se o orador a uma pessoa ou coisa real ou fictícia, solicitando uma intervenção. Transcreva algumas apóstrofes do início da 5ª parte.
      “Senhor Deus dos desgraçados!”; “Ó mar! por que não apagas...”; “Astros, noites! Tempestades!”

05 – O poeta dignifica os negros, descrevendo-os, no final da 5ª parte, como eram antes de serem escravizados. O que os caracterizava antes de se tornarem “míseros escravos”?
      Eram “guerreiros ousados”, “homens simples, fortes e bravos”.

06 – Qual o motivo da indignação do poeta expressa na 6ª parte?
      Ver a bandeira nacional tremular no mastro do navio negreiro.

07 – Transcreva o verso da última estrofe construído em aliteração.
      “Que a brisa do Brasil beija e balança”.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

POEMA: ONDE ESTÁS - CASTRO ALVES - COM GABARITO

Poema: ONDE ESTÁS
          Castro Alves


É meia-noite... e rugindo
Passa triste a ventania,
Como um verbo de desgraça,
Como um grito de agonia.
E eu digo ao vento, que passa
Por meus cabelos fugaz:
"Vento frio do deserto,
Onde ela está? Longe ou perto?"
Mas, como um hálito incerto,
Responde-me o eco ao longe:
"Oh! minhamante, onde estás?. . .

Vem! É tarde! Por que tardas?
São horas de brando sono,
Vem reclinar-te em meu peito
Com teu lânguido abandono! ...
Stá vazio nosso leito...
Stá vazio o mundo inteiro;
E tu não queres queu fique
Solitário nesta vida...
Mas por que tardas, querida?...
Já tenho esperado assaz...
Vem depressa, que eu deliro
Oh! minhamante, onde estás? ...

Estrela — na tempestade.
Rosa — nos ermos da vida;
lris — do náufrago errante,
Ilusão — dalma descrida!
Tu foste, mulher formosa!
Tu foste, ó filha do céu! ...
... E hoje que o meu passado
Para sempre morto jaz ...
Vendo finda a minha sorte,
Pergunto aos ventos do Norte...
"Oh! minhamante, onde estás?..."
                                                          Castro Alves.
Entendendo o poema:

01 – Sobre o poema, considere as afirmativas a seguir:
I – Na primeira estrofe, o eu lírico dirige-se ao vento frio do deserto; na segunda, dirige-se à amada distante.
II – O eu lírico pergunta ao vento sobre o paradeiro de sua amada, revelando a dor pela distância que os separa.
III – O eu lírico acusa os ventos do Norte, que passam como gritos de agonia, por ter finda sua sorte e estar morto seu passado.
IV – “Estrela” e “rosa” são usadas pelo eu lírico para designar sua agonia; “íris” e “ilusão” referem-se à ventania.

Assinale a alternativa correta:
a)   Somente as afirmativas I e II são corretas.
b)   Somente as afirmativas I e III são corretas.
c)   Somente as afirmativas III e IV são corretas.
d)   Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.
e)   Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

02 – Assinale a alternativa que relaciona corretamente versos do poema a figuras de linguagem:
a)   A comparação entre o vento e a amada é verificada nos versos “Mas por que tardas, querida? ... / Já tenho esperado assaz...”.
b)   Em: “Como um verbo de desgraça, / Como um grito de agonia”, a antítese opõe a fuga – cidade do vento à tristeza da ventania.
c)   Os versos: “Tu foste, mulher formosa! / Tu foste, ó filha do céu! ...” comparam a amada à triste e fugaz ventania, pois ambas impedem seu brando sono.
d)   A comparação presente nos versos “Mas, como um hábito incerto, / Responde-me o eco ao longe”. Reforça a ausência de resposta sobre o paradeiro da amada.
e)   A antítese, presente em todo o poema, é exemplificada pelos versos “... E hoje que o meu passado / Para sempre morto jaz ...”.