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sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

POEMA: CATANDO OS CACOS DO CAOS - AFFONSO ROMANO DE SANT´ANNA - COM GABARITO

 Poema: Catando os cacos do caos

Affonso Romano de Sant’Anna

Catar os cacos do caos, como quem cata no deserto
o cacto - como se fosse flor.
Catar os restos e ossos da utopia, como de porta em porta
o lixeiro apanha detritos da festa fria e pobre no crepúsculo se aquece na fogueira erguida com os destroços do dia.

Catar a verdade contida em cada concha de mão,
como o mendigo cata as pulgas, no pelo - do dia cão.

Recortar o sentido, como o alfaiate-artista,
costurá-lo pelo avesso com a inconsútil emenda
à vista.

Como o arqueólogo
reunir os fragmentos,
como se ao vento
se pudessem pedir as flores
despetaladas no tempo.

Catar os cacos de Dionísio e Baco, no mosaico antigo
e no copo seco erguido beber o vinho, ou sangue vertido.

Catar os cacos de Orfeu partido, pela paixão das bacantes
e com Prometeu refazer o fígado - como era antes.

Catar palavras cortantes no rio do escuro instante
e descobrir nessas pedras o brilho do diamante.

É um quebra-cabeça? Então de cabeça quebrada vamos
sobre a parede do nada deixar gravada a emoção

Cacos de mim, Cacos do não, Cacos do sim, Cacos do antes
Cacos do fim

Não é dentro nem fora, embora seja dentro e fora
no nunca e a toda hora, que violento o sentido nos deflora.

Catar os cacos do presente e outrora e enfrentar a noite
com o vitral da aurora

                                            Affonso Romano de Sant’Anna

Entendendo o poema:

01 – De que se trata o poema?

      Trata-se de retalhos de vida que passamos a construir das peças que sempre sobram... como são cacos têm arestas e nem sempre é fácil encaixá-los no lugar certo.

02 – Na primeira estrofe o eu lírico fala em catar cacos, de onde?

      Mostra que o cacos se intensifica nos cacos. São estilhaços da alma espalhados no cotidiano.

03 – Por que o eu lírico evoca o precioso gesto de catar?

      Catar é juntar, é ultrapassar barreiras, incômodos fortalezas, cactos. Verter cacto em flor.

04 – Utopias invadem as almas em momentos aflitos, e como seria catar os restos da utopia?

      É dar voz ao coração regado pela liberdade, e a liberdade está nas palavras.

05 – Nos versos: “Catar os cacos de Dionísio e Baco, no mosaico antigo / e no copo seco erguido beber o vinho, ou sangue vertido.”. O eu lírico nesses versos cita o copo erguido, por quê?

      Talvez Dionísio e Baco estavam clamando pelo vinho, o vinho da concórdia, da audácia poética, necessária para que o mundo se reencontre na poesia.

 

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

POEMA: A PESCA - AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA - COM GABARITO

 Poema: A pesca 

  Affonso Romano de Sant'Anna

O anil
O anzol
O azul

O silêncio
O tempo
O peixe

A agulha
vertical
mergulha

A água
A linha
A espuma

O tempo
O peixe
O silêncio

A garganta
A âncora
O peixe

A boca
O arranco
A rasgão


Aberta a água
Aberta a chaga
Aberto o anzol

Aquelíneo
Ágil-claro
Estabanado

O peixe
A areia
O sol.

                                              SANT’ANNA, Affonso Romano de. Poesia sobre poesia. Rio de Janeiro, Imago, 1975. p.145.

                                 Fonte: Livro – Português – 5ª Série – Linguagem Nova – Faraco & Moura – Ed. Ática -  2002 – p. 183.

Entendendo o poema:

01 – Qual o tema retratado no poema?

         De uma pescaria, desde sua preparação até pescar o peixe.

02 – Podemos afirmar que o poema retrata uma sequência de acontecimentos ou uma cena estática? Justifique.

       Sim, retrata uma sequência de acontecimentos. O começo do dia, a preparação; depois – à espera do peixe; e em seguida – o movimento da agulha dentro d’água, e assim por diante.

03 – Qual é a forma verbal usada para expressar ações?

         Presente do Indicativo

 04 - No poema a sequência dos versos procura reproduzir as ações envolvidas no ato de pescar. No entanto, há apenas um verbo. Identifique-o.

O verbo é mergulha.

05 - Que classes de palavras predominam no poema? Que efeito se obtêm com esse predomínio?

Substantivos. Um efeito de palavras soltas.

06 - Cada estrofe ou conjunto de estrofes representa um momento da pescaria. Identifique-o

  1° a 2° estrofe: Ele está se preparando para jogar a isca (começando a pescar);
    3° e 4° estrofe: Ele joga a linha na água;
    5° estrofe: Ele está esperando o peixe vir para pegar a isca;
    6° e 7° estrofe: Ele consegue pegar o peixe;
    8° e 9° estrofe: Ele tira o peixe do anzol e o peixe, se estabanando;
    10° estrofe: O peixe, enfim, pula pra areia.

07 - A penúltima estrofe é formada por adjetivos. Indique quais deles remetem à ideia de movimento e explique a importância desse traço para o poema.

Ágil-claro e estabanado. Pelo simples fato de ser passar a ideia de que o peixe está se debatendo para se libertar do homem.

08 -  A palavra aquelíneio não faz parte do léxico português. Em comparação com longilíneo (''de forma longa e fina''), que significado é possível atribuir a ela?

Significa: de forma, podemos dizer, de forma "aquática" e fina.

 

domingo, 27 de setembro de 2020

CRÔNICA: ASSALTOS INSÓLITOS - AFFONSO ROMANO SANTANNA - COM GABARITO

 CRÔNICA: ASSALTOS INSÓLITOS

                          Affonso Romano Santanna

   Assalto não tem graça nenhuma, mas alguns, contados depois, até que são engraçados. É igual a certos incidentes de viagem, que, quando acontecem, deixam a gente aborrecidíssima, mas depois, narrados aos amigos num jantar, passam a ter sabor de anedota.  

   Uma vez me contaram de um cidadão que foi assaltado em sua casa. Até aí, nada demais. Tem gente que é assaltada na rua, no ônibus, no escritório, até dentro de igrejas e hospitais, mas muitos o são na própria casa. O que não diminui o desconforto da situação.

   Pois lá estava o dito-cujo em sua casa, mas vestido em roupa de trabalho, pois resolvera dar uma pintura na garagem e na cozinha. As crianças haviam saído com a mulher para fazer compras e o marido se entregava a essa terapêutica atividade, quando, da garagem, vê adentrar pelo jardim dois indivíduos suspeitos.

   Mal teve tempo de tomar uma atitude e já ouvia:

   — É um assalto, fica quieto senão leva chumbo.

   Ele já se preparava para toda sorte de tragédias quando um dos ladrões pergunta:

   — Cadê o patrão?

  Num rasgo de criatividade, respondeu:

   — Saiu, foi com a família ao mercado, mas já volta.

   — Então vamos lá dentro, mostre tudo.

   Fingindo-se, então, de empregado de si mesmo, e ao mesmo tempo para livrar sua cara, começou a dizer:

   — Se quiserem levar, podem levar tudo, estou me lixando, não gosto desse patrão. Paga mal, é um pão-duro. Por que não levam aquele rádio ali? Olha, se eu fosse vocês levava aquele som também. Na cozinha tem uma batedeira ótima da patroa. Não querem uns discos? Dinheiro não tem, pois ouvi dizerem que botam tudo no banco, mas ali dentro do armário tem uma porção de caixas de bombons, que o patrão é tarado por bombom.

   Os ladrões recolheram tudo o que o falso empregado indicou e saíram apressados. Daí a pouco chegavam a mulher e os filhos. Sentado na sala, o marido ria, ria, tanto nervoso quanto aliviado do próprio assalto que ajudara a fazer contra si mesmo.

 

SANTANNA Affonso Romano. PORTA DE COLÉGIO E OUTRAS CRÔNICAS São Paulo: Ática 1995.

(Coleção Para gostar de ler.)

1)  O texto – Assaltos insólitos – pertence a que gênero textual:

a) conto                  b) crônica                  c) carta            d) notícia

 

 2) No texto a expressão “Pois estava o dito-cujo em sua casa” o termo destacado indica:

a) tempo            b) modo               c) causa                                 d) lugar

 

3) O dono da casa livra-se de toda sorte de tragédias, principalmente, porque

     a) aconselha a levar o som.

     b) mostra os objetos da casa.

     c) mente para os assaltantes.

     d) conta os defeitos do patrão.

     e) fazia sua atividade terapêutica.

 

4) A finalidade do texto é

    a) advertir sobre os possíveis lugares em que ocorrem assaltos.

    b) relatar um fato incomum ocorrido com um cidadão.

    c) expor uma opinião sobre um assunto sério.

    d) instruir o leitor como evitar uma tragédia.

    e) fazer o leitor refletir sobre um assalto.

 

5) No trecho “e o marido se entregava a essa terapêutica atividade”, a expressão destacada substitui

    a) fazer compras.

    b) ir no mercado.

    c) narrar anedotas.

    d) pintar a casa.

 

6) No texto, a expressão “-Paga mal, é um pão-duro” indica uma linguagem

    a) formal.

    b) técnica.

    c) regional.

    d) informal.

 

7) É exemplo de linguagem formal, no texto

    a) “dito-cujo”

   b) “adentrar”

   c) “pão-duro”

   d) “botam”

8) O texto “Assaltos insólitos” é uma crônica porque

   a) expressa a opinião de um jornal ou de uma revista sobre um assunto da atualidade.

   b) apresenta relatos de fatos com acréscimo de entrevistas e comentários.

   c) retrata acontecimentos do cotidiano com caráter crítico.

  d) sua função principal é a de divulgar uma informação visualmente.

  e) apresenta uma moral no final do texto.

terça-feira, 17 de setembro de 2019

CRÔNICA: BARROCO, ALMA DO BRASIL - AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA - COM GABARITO -

Crônica: Barroco, Alma do Brasil
           
 Affonso Romano de Sant’Anna

        Já se disse airosamente que o futebol brasileiro, com suas improvisações e dribles surpreendentes, teria algo a ver com o Barroco. As pernas tortas de Garrincha, a instabilidade que provocava no adversário, o improviso rápido e fulminante de Pelé ou as circunvoluções de Tostão marcaria um tipo de jogo oposto ao futebol-força praticado modernamente. Mas a encenação que, resumindo a alma brasileira, reúne espetacularmente as contradições barrocas é o desfile do carnaval na avenida.
        O carnaval carioca, congregando esculturas populares, música e dança, constitui-se numa ópera barroca e popular, numa grande procissão profana, numa exibição do triunfo da premonição dionisíaca e apocalíptica de que ‘‘tudo vai acabar na quarta-feira.’’
        Se fizéssemos uma coleta das afirmativas e alusões feitas nos últimos anos sobre a alma brasileira e o barroco seria um não acabar. (...) Roger Bastide, que veio ao Brasil dar uns cursos e acabou passando aqui a maior parte de sua vida, via em nossas florestas a continuação dos templos barrocos.
                            Affonso Romano de Sant’Anna. “Barroco, alma do Brasil”. Rio de Janeiro, Bradesco Seguros / Comunicação Máxima, 1997. p. 202.
Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p. 140-1.

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com a crônica, qual o significado das palavras abaixo:
·        Airoso: Gentil, honroso.

·        Circunvolução: Movimento à volt de um centro; contorno sinuoso; saliência ondulada; voltas da coluna torcida.

·        Congregar: Reunir.

·        Profana: O que não é sagrado ou é contrário ao respeito devido às coisas sagradas.

·        Memento Mori: ‘‘lembra-te de que deves morrer’’.

·        Premonição: Aviso, pressentimento.

·        Dionisíaco: Cuja natureza é semelhante ao deus grego da alegria e do vinho.

02 – Para caracterizar a alma barroca do Brasil, o cronista utiliza algumas comparações que aproximam o futebol da arte barroca. Escreva em seu caderno as correlações que ele estabelece entre os fatos futebolísticos a seguir e o Barroco.
a)   A instabilidade que Garrincha provoca nos adversários.
Ao contrário da arte renascentista, o Barroco reflete os conflitos, a desarmonia e o desequilíbrio da época.

b)   As circunvoluções de Tostão.
A arquitetura barroca caracteriza-se pela profusão de formas e ornamentos; nos textos, a ordem inversa torna o discurso suntuoso.

03 – Ao referir-se às pernas tortas de Garrincha, o cronista também realiza uma associação com a arquitetura barroca. Veja a foto de um chafariz e explique esta associação.
      O chafariz possui ornamentos curvos, sinuosos.

04 – O Barroco é fruto da tentativa de conciliação entre o espiritualismo medieval (teocêntrico) e o humanismo renascentista (antropocêntrico), do que resultou o chamado “jogo dos” e a profusão de antíteses e paradoxos. Para o cronista, de que maneira este elemento estaria presente na alma brasileira?
      Através do carnaval.

05 – “A vida é passageira”, dizia o homem barroco. Essa consciência da transitoriedade da vida, relacionada à presença da morte e da degradação física e moral é outra característica do Barroco. Que verso citado pelo cronista retoma a ideia da frase latina “lembra-te de que deves morrer”, justificando assim a tolerância aos excessos do carnaval?
      “Tudo vai acabar na quarta-feira”.


quinta-feira, 9 de maio de 2019

POEMA: O LEITOR E A POESIA - AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA - COM GABARITO

Poema: O Leitor e a Poesia
              Affonso Romano de Sant´Anna

Poesia
não é o que o autor nomeia,
é o que o leitor incendeia.

Não é o que o autor pavoneia,
é o que o leitor colhe à colmeia.

Não é o ouro na veia,
é o que vem na bateia.

Poesia
não é o que o autor dá na ceia,
mas o que o leitor banqueteia.


Affonso Romano de Sant´Anna. Melhores poemas. 3. ed. Seleção de
Donaldo Schuler. São Paulo: Global, 1997. p. 150.

Entendendo o poema:

01 – O poeta faz uma reflexão sobre o que é a poesia, tradicionalmente vista como fruto da criatividade ou da inspiração do poeta. Observe os versos em que o eu lírico diz o que a poesia não é, e os versos em que ele diz o que a poesia é.
a)   Em síntese, o que o eu lírico nega na definição de poesia?
Nega que a poesia seja aquilo que o poeta pensa ou o que ele pretende comunicar.

b)   O que o eu lírico afirma que é a poesia?
A poesia é o que nasce efetivamente do contato entre o poema e o leitor.

c)   Que novidade reside nesse conceito de poesia, considerando-se a visão tradicional?
A novidade está na inclusão do leitor como elemento constitutivo do poema. De acordo com o poema o leitor tem papel fundamental na consolidação dos sentidos do poema.

02 – De acordo com o poema, poesia é “o que o leitor incendeia”, “O que o leitor banqueteia”, “o que vem na bateia”. Que interpretação pode ser dada a essas definições de poesia?
      De acordo com o poema, a verdadeira poesia é colhida pelo leitor, como se ele fosse um garimpeiro. A poesia de verdade é aquela que é capaz de “incendiar” o leitor, isto é, estimular sua inteligência e sua sensibilidade e satisfazê-lo plenamente, como se ele estivesse num banquete.

03 – O poema é constituído por meio de paralelismos (estruturas de repetição) sintáticos e semânticos. Observe a estrutura destes dois versos: “Poesia. Não é o / que o autor nomeia”
             “Poesia. Não é o / que o leitor incendeia”.
a)   A que classe gramatical pertencem as palavras o e que nesses dois versos?
O: pronome demonstrativo (equivalente a aquilo). Que: pronome relativo.

b)   Qual é a função sintática dessas palavras nesses versos?
O: predicativo do sujeito. Que: objeto direto.

04 – Observe que tanto o pronome relativo quanto a oração adjetiva têm fundamental importância na construção dos sentidos do poema.
a)   Como se classificam as orações adjetivas empregadas no texto?
Orações subordinadas adjetivas restritivas.

b)   Considerando o tema e a finalidade do poema, responda: Por que as orações adjetivas foram empregadas com tanto destaque?
Como o objetivo do poeta é definir o que é poesia, é natural que empregue expressões apropriadas para indicar características, como adjetivos ou orações adjetivas. No caso, ele optou por orações adjetivas.


sábado, 10 de março de 2018

CRÔNICA: BILHETE AO FUTURO - AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA - COM GABARITO

Bilhete ao Futuro

Bilhete ao Futuro de Affonso Romano de Sant´Anna.

        Bela ideia essa de Cristóvam Buarque, ex-reitor da Universidade de Brasília e ex-ministro da Educação, de pedir às pessoas do nosso país que escrevessem um “bilhete ao futuro”. O projeto teve a intenção de recolher, no final dos anos 80, no século passado, uma série de mensagens que seriam abertas em 2089, nas quais os brasileiros expressariam suas esperanças e perplexidades diante do tumultuado presente do fabuloso futuro.
        Oportuníssima e fecunda ideia.
        Ela nos colocou de frente ao século XXI, nos incitou a liquidar de vez o século XX e a sair da hipocondria político-social. Pensar o futuro sempre será um exercício de vida.
        O que projetar para amanhã? (...)

Entendendo o texto:

01 – Os dois parágrafos acima fazem parte do texto cujo autor é Affonso Sant’Anna. Esse tipo de produção textual é chamado de crônica, porque:
a) defende um tema.
b) tenta ludibriar o leitor.
c) faz o registro do dia-a-dia.
d) conta uma história antiga.
e) exalta as belezas do país amado.

02 – O acontecimento que originou esse texto está relacionado:
a) à promoção do reitor da Universidade de Brasília.
b) à realização do reitor como mestre da Universidade de Brasília.
c) ao pedido feito pelo reitor da Universidade às pessoas de Brasília.
d) à liquidação dos problemas do século XX.
e) ao pedido feito pelo ex-reitor da Universidade de Brasília aos brasileiros.

03 – Segundo o cronista, o bilhete ao futuro:
a) incitaria as pessoas a “sair da hipocondria político-social”.
b) incitaria as pessoas à revolta social e política no presente e no futuro.
c) incitaria as pessoas a liquidarem de vez com as ideias do século XX e do século XXI.
d) incitaria as pessoas a escreverem mensagens de desilusão.
e) incitaria as pessoas a se comunicarem por bilhetes, algo incomum nos dias atuais.

04 – Segundo o cronista:
a) futuro jamais deverá ser pensado pelos hipocondríacos político-sociais.
b) o amanhã é algo imprevisível; sempre haverá momentos tumultuados.
c) o estímulo à fuga da hipocondria político-social seria a oportunidade que a redação do bilhete oferece.
d) o povo não queria se comprometer com as políticas sociais da década.
e) a população tinha muita dificuldade para redigir o bilhete do futuro.

05 – A frase que exprime a conclusão do cronista sobre o significado de escrever um bilhete ao futuro é:
a) “O futuro e o presente só interessam ao passado.”
b) “O passado é importante e, no futuro, seja o que Deus quiser.”
c) “O presente é hoje e não é necessário preocupação com o futuro.”
d) “Pensar o futuro é um exercício de vida.”
e) “O futuro, a gente deixa para pensar amanhã.”

06 – As mensagens que as pessoas enviariam ao futuro são representadas, no texto, pelas palavras:
a) belezas e possibilidades
b) esperanças e perplexidades
c) angústias e esperanças
d) realizações e lembranças
e) frustrações e melancolias

07 – O tratamento adequado para se referir ao reitor de uma Universidade é:
a) Ilustríssimo Senhor
b) Vossa Magnificência
c) Excelentíssimo Senhor
d) Vossa Senhoria
e) Vossa Excelência

08 – As duas vírgulas que aparecem na primeira frase foram empregadas para expressar uma:
a) explicação
b) contrariedade
c) adversidade
d) enumeração
e) oposição.

09 – Um ser humano que sofra de hipocondria, segundo o texto, e considerando o sentido conotativo, é assim conhecido por:
a) apresentar obesidade descontrolada
b) possuir seríssimos  problemas de saúde
c) ser extremamente romântico
d) isolar-se socialmente
e) ser dependente de medicamentos.

10 – O pronome ela, destacado no texto, relaciona-se à palavra:
a) mensagem
b) hipocondria
c) esperança
d) intenção
e) ideia.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

TEXTO: CINZAS DA INQUISIÇÃO - AFFONSO R. SANT'ANNA - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO

TEXTO: CINZAS DA INQUISIÇÃO


    Até agora fingíamos que a Inquisição era um episódio da história europeia, que tendo durado do século XII ao século XIX, nada tinha a ver com o Brasil. No máximo, se prestássemos muita atenção, íamos falar de um certo Antônio José – o Judeu, um português de origem brasileira, que foi queimado porque andou escrevendo umas peças de teatro.
       Mas não dá mais para escamotear. Acabou de se realizar um congresso que começou em Lisboa, continuou em São Paulo e Rio, reavaliando a Inquisição. O ideal seria que esse congresso tivesse se desdobrado por todas as capitais do país, por todas as cidades, que tivesse merecido mais atenção da televisão e tivesse sacudido a consciência dos brasileiros do Oiapoque ao Chuí, mostrando àqueles que não podem ler jornais nem frequentar as discussões universitárias o que foi um dos períodos mais tenebrosos da história do Ocidente. Mas mostrar isso, não por prazer sadomasoquista, e sim para reforçar os ideais de dignidade humana e melhorar a debilitada consciência histórica nacional.
      Calar a história da Inquisição, como ainda querem alguns, em nada ajuda a história das instituições e países. Ao contrário, isto pode ser ainda um resquício inquisitorial. E no caso brasileiro essa reavaliação é inestimável, porque somos uma cultura que finge viver fora da história.
      Por outro lado, estamos vivendo um momento privilegio em termos de recons-trução da consciência histórica. Se neste ano (1987) foi possível passar a limpo a Inquisição, no ano que vem será necessário refazer a história do negro em nosso país, a propósito dos cem anos da libertação dos escravos. E no ano seguinte, 1989, deveríamos nos concentrar para rever a “república” decretada por Deodoro. Os próximos dois anos poderiam se converter em um intenso período de pesquisas, discussões e mapeamento de nossa silenciosa história. Universidades, fundações de pesquisa e os meios de comunicação deveriam se preparar para participar desse projeto arqueológico, convocando a todos: “Libertem de novo os escravos”, “proclamem de novo a República”.
       Fazer história é fazer falar o passado e o presente, criando ecos para o futuro.
      História é o anti-silêncio. É o ruído emergente das lutas, angústias, sonhos, frus-tações. Para o pesquisador, o silêncio da história oficial é um silêncio ensurdecedor. Quando penetra nos arquivos da consciência nacional, os dados e os feitos berram, clamam, gritam, sangram pelas prateleiras. Engana-se, portanto, quem julga que os arquivos são lugares de poeira e mofo. Ali está pulsando algo. Como um vulcão aparentemente adormecido, ali algo quer emergir. E emerge. Cedo ou tarde. Não se destrói totalmente qualquer documentação. Sempre vai sobrar um herege que não foi queimado, um judeu que escapou ao campo de concentração, um dissidente que sobreviveu aos trabalhos forçados na Sibéria. De nada adiantou àquele imperador chinês ter queimado todos os li-vros e ter decretado que a história começasse por ele.
       A história começa com cada um de nós, apesar dos reis e das inquisições.

SANT’ANNA, Affonso R. de. A raiz quadrada do absurdo. 
Rio de Janeiro, Editora Rocco, 1989.

Entendendo o texto:

01 – Tendo em vista o desenvolvimento do texto, assinale a opção que justifica o título “Cinzas da Inquisição”:
a. (   ) A Inquisição se transformou em cinzas e deve ser arquivada.
b. (   ) A valorização da dignidade do ser humano é ponto básico da história da Inquisição.
c. (   ) A Inquisição deixou marcas que devem levar a uma reflexão.
d. (   ) A discussão dos fatos relacionados à Inquisição tem se  mostrado infrutífera.
e. (   ) A lembrança dos fatos da Inquisição não conseguiu melhorar o futuro.

02 – Assinale a opção em que há erro na relação entre a ideia e o parágrafo indicado entre parênteses:
a. (   ) Os brasileiros supunham que a Inquisição pertencesse somente à história da Europa.
b. (   ) Foi realizado um congresso com o intuito de reavaliar a Inquisição.
c. (   ) A História estabelece relações entre o passado e o futuro.
d. (   ) O momento é propício para fazermos uma reflexão sobre importantes fatos de nossa história.
e. (   ) A história tem sua força própria, ela grita e aparece, apesar de todos os obstáculos.

03 – Com relação aos cem anos da libertação dos escravos e aos cem anos da Proclamação da República, pode-se afirmar, de acordo com o texto, que:
a. (   ) é necessário comemorar as várias conquistas feitas ao longo desses anos.
b. (   ) tanto a libertação dos escravos quanto a Proclamação da República precisam ser revistas e repensadas.
c. (   ) têm sido convocados mais pesquisadores para estudar esse período de nossa história.
d. (   ) esses assuntos vêm sendo constantemente abordados nas universidades brasileiras.
e. (   ) o governo deve dar a essas datas históricas a mesma importância que dá a outras.

04 – O paradoxo da expressão “um silêncio ensurdecedor” indica que o silêncio:
a. (   ) provoca alienação e torpor
b. (   ) leva à paralisação e à inércia
c. (   ) gera atos de violência e loucura
d. (   ) atordoa e aflige
e. (   ) causa temor e respeito.

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

CRÔNICA: ANTES QUE ELAS CRESÇAM - AFFONSO R. DE SANT'ANNA - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO

TEXTO: ANTES QUE ELAS CRESÇAM

Fonte da imagem - https://www.blogger.com/blog/post/edit/7220443075447643666/2089821678238586458#

   Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos. É que as crianças crescem. Independentes de nós, como árvores tagarelas e pássaros estabanados, elas crescem sem pedir licença. [...] crescem com uma estridência alegre e, às vezes, com alardeada arrogância.

        Mas não crescem todos os dias, de igual maneira; crescem, de repente. Um dia se assentam perto de você no terraço e dizem uma frase de tal maturidade, que você sente que não pode mais trocar as fraldas daquela criatura.
        Onde é que andou crescendo aquela danadinha, que você não percebia? Cadê aquele cheirinho de leite sobre a pele? Cadê a pazinha de brincar na areia, as festinhas de aniversário com palhaços, amiguinhos e o primeiro uniforme do maternal ou escola experimental?
       Ela está crescendo num ritual de obediência orgânica e desobediência civil.  E você agora está ali na porta da discoteca esperando que ela não apenas cresça, mas apareça. Ali estão muitos pais, ao volante, esperando que saiam esfuziantes sobre patins[...].
       Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas, lá estão elas, com o uniforme de sua geração: incômodas mochilas da moda nos ombros ou, então, com a suéter amarrada na cintura. Está quente, a gente diz que vão estragar a suéter, mas não tem jeito, é o emblema da geração. [...]
        Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos.
       Longe já vai o momento em que o primeiro mênstruo foi recebido como um impacto de rosas vermelhas. Não mais as colheremos nas portas das discotecas e festas, quando surgiam entre gírias e canções. Passou o tempo do balé, da cultura francesa e inglesa. Saíram do banco de trás e passaram para o volante das próprias vidas. Só nos resta dizer “bonne route< bonne route” como naquela canção francesa narrando a emoção do pai quando a filha lhe oferece o primeiro jantar no apartamento dela.
       Deveríamos ter ido mais vezes à cama delas ao anoitecer para ouvir sua alma respirando conversas e confidências entre os lençóis da infância e os adolescentes cobertores naquele quarto cheio de colagens, posters e agendas coloridas de Pilot. Não, não as levamos suficientes vezes ao shopping, ao circo, ao teatro, não lhes demos suficientes hambúrgueres e cocas, não lhes compramos todos os sorvetes e roupas merecidas.
        Elas cresceram sem que esgotássemos nelas todo nosso afeto.
      No princípio subiam a serra ou iam à casa de praia entre embrulhos, comidas, engarrafamentos, natais, páscoas, piscinas e amiguinhas. Sim, havia as brigas dentro do carro, disputa pela janela, pedidos de sorvetes e sanduíches, cantorias infantis. Depois chegou a idade em que subir para a casa de campo com os pais começou a ser um esforço, um sofrimento, pois era impossível largar a turma aqui na praia e os primeiros namorados. Esse exílio dos pais, esse divórcio dos filhos, vai durar sete anos bíblicos. Agora é hora dos pais nas montanhas terem a solidão que queriam, mas, de repente, exalarem contagiosa saudade daquelas pestes.
        O jeito é esperar. Qualquer hora podem nos dar netos. O neto é a hora do carinho ocioso e estocado, não exercido nos próprios filhos, e que não pode morrer conosco. Por isto os avós são tão desmesurados e distribuem tão incontrolável afeição. Os netos são a última oportunidade de reeditar o nosso afeto.
        Por isso, é necessário fazer alguma coisa a mais, antes que elas cresçam.

Affonso Romano de Sant’Anna. O homem que conheceu o amor.
Rio de Janeiro: Rocco, 1988.

 ENTENDENDO O TEXTO:

        A crônica que você leu apresenta uma profunda visão do autor sobre o crescimento dos(as) filhos(as) e os sentimentos dos pais.
01 – Que frase no primeiro parágrafo sintetiza a visão do autor sobre esse aspecto? Assinale a alternativa correta.
a) (  )“Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos.”
b) (x)“[...] elas crescem sem pedir licença”.
c) (  )“[...] crescem com uma estridência alegre e, às vezes, com alardeada arrogância”.

02 – O que o cronista demonstra sentir ao empregar a frase que você indicou no item a: contentamento ou melancolia? Justifique sua resposta.
      Melancolia, porque tudo acontece muito rápido e os pais não se preparam para esta separação.

03 – O cronista inicia o texto com a frase: “Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos”.
Uma palavra nessa frase foi utilizada fora do uso comum pelo cronista. Qual é a palavra e o que ela significa na crônica?
      Pais ficando órfãos dos filhos. Significa que os filhos crescem e vão seguir sua vida.

04 – Que construção na frase informa que esse fato acontece aos poucos, à medida que o tempo passa?
      Quando diz: "vão ficando".
                  
05 – Algumas frases do texto fazem referência a diferentes período de crescimento do ser humano. A que fase de crescimento se refere cada um dos trechos a seguir?
a) “Cadê a pazinha de brincar na areia, as festinhas de aniversário com palhaços[...]?”
      Infância.

b) “Saíram do banco de trás e passaram para o volante das próprias vidas”.
      Adulta.

06 – De acordo com o cronista, caso o amor pelos filhos não se esgote, “O jeito é espera.”. Em que momento da vida os pais poderão esgotar esse amor?
      Quando tiverem os netos, poderão gastar este amor estocado, não exercido nos próprios filhos, e que não pode morrer com eles.