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domingo, 29 de outubro de 2023

POEMA: TODAS AS CARTAS DE AMOR SÃO RIDÍCULAS - ÁLVARO DE CAMPOS - COM GABARITO

 Poema: Todas as cartas de amor são ridículas

             Álvaro de Campos

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiB9UXDFRK36WX8K2UVB_IwrfCXDZdOPUJumn-WF5JIZO5W1BnJvI9uKUv5AKYkq8be1WN8ZiJ6xIZHZjFhzYLacvsy26X2z7Dtf8CGECb49QIeVNEAiVXvyQY_J05cd1wtM50PNGsQFHIuHhsI-2xpPcf9RQA28BEoG_cU_XhrypP3E1ngq13S1OpWvp0/s320/CARTAS.jpg


Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Álvaro de Campos, in “Poemas” Heterónimo de Fernando Pessoa.

Entendendo o poema:

01 – Qual é a ideia central do poema?

      A ideia central do poema é que todas as cartas de amor são inerentemente ridículas, e essa característica é parte integrante do gênero.

02 – Por que o autor considera as cartas de amor como sendo ridículas?

      O autor acredita que as cartas de amor são ridículas porque refletem sentimentos intensos e muitas vezes irracionalidades, tornando-se estranhas e até cômicas.

03 – Qual é a ironia presente no poema?

      A ironia no poema é que, embora o autor considere as cartas de amor como ridículas, ele mesmo já as escreveu, o que sugere uma dualidade na natureza humana quando se trata de amor e sentimentos.

04 – Como o poema retrata as memórias do autor em relação às cartas de amor?

      O autor afirma que, olhando para trás, as memórias de suas cartas de amor são igualmente ridículas.

05 – O que o poema sugere sobre as palavras esdrúxulas e sentimentos esdrúxulos?

      O poema sugere que tanto as palavras esdrúxulas quanto os sentimentos esdrúxulos são naturalmente ridículos, de acordo com a perspectiva do autor.

06 – Qual é a relação entre as cartas de amor e a natureza humana, conforme retratada no poema?

      O poema sugere que as cartas de amor são uma expressão intrínseca da natureza humana, e aqueles que nunca as escreveram são considerados "ridículos" de uma maneira diferente, ou seja, por não terem experimentado os sentimentos intensos que vêm com o amor e a paixão.

 

 

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

POEMA: PECADO ORIGINAL - ÁLVARO DE CAMPOS - COM GABARITO

 Poema: Pecado Original

             Álvaro de Campos

Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido?
Será essa, se alguém a escrever,
A verdadeira história da humanidade.

O que há é só o mundo verdadeiro, não é nós, só o mundo;
O que não há somos nós, e a verdade está aí.

Sou quem falhei ser.
Somos todos quem nos supusemos.
A nossa realidade é o que não conseguimos nunca.

Que é daquela nossa verdade — o sonho à janela da infância?
Que é daquela nossa certeza — o propósito a mesa de depois?

Medito, a cabeça curvada contra as mãos sobrepostas
Sobre o parapeito alto da janela de sacada,
Sentado de lado numa cadeira, depois de jantar.

Que é da minha realidade, que só tenho a vida?
Que é de mim, que sou só quem existo?

Quantos Césares fui!

Na alma, e com alguma verdade;
Na imaginação, e com alguma justiça;
Na inteligência, e com alguma razão —
Meu Deus! meu Deus! meu Deus!
Quantos Césares fui!
Quantos Césares fui!
Quantos Césares fui!


Álvaro de Campos, in "Poemas" Heterónimo de Fernando Pessoa

Entendendo o poema:

01 – Pode-se dizer, quanto ao sentido geral do poema, que:

a)   Sua temática é de natureza psicológica, pois se baseia na autenticidade do ser humano.

b)   Sua temática transcende a psicologia porque um dos elementos fundamentais do texto é o destino do homem jogado num mundo aparente.

c)   Sua temática é moral e psicológica, pois se refere à fuga do que se havia proposto na infância e posteriormente.

d)   Sua temática problematiza a realidade do ser humano.

e)   O texto, por ser totalmente negativista, não se presta a qualquer rotulação.

02 – A leitura atenta do texto permite concluir que:

a)   A história da humanidade é inenarrável.

b)   É impossível narrar a história da humanidade, mas, se alguém conseguisse fazê-lo, ela seria a história da própria essência do homem.

c)   A verdadeira história da humanidade só poderia ser contada por quem tivesse consciência de todas as possibilidades de vida que não se realizaram.

d)   A verdadeira história da humanidade poderia ser escrita por um só indivíduo que realizasse todas as possibilidades que se abrissem para a sua existência.

e)    A verdadeira história da humanidade poderia ser escrita por quem tivesse a consciência de tudo aquilo que de fato aconteceu com todos os homens e com o mundo exterior.

03 – No poema a afirmação de que “a história do que poderia ter sido” será, “se alguém a escrever, a verdadeira história da humanidade”, o que o eu lírico pretende mostrar nesses versos?

      Pretende mostrar que os projetos de futuro são aquilo que revela a verdadeira essência das pessoas que os fazem.

04 – No verso: “Sou quem falhei ser” mostra, precisamente, que aquilo que o sujeito poético desejou e não alcançou é o que o define como pessoa. Que figura de linguagem há nesse verso?

      Antítese.

05 – A confissão da falha do sujeito poético mostra o quê?

      Mostra ainda a consciência da frustação dos seus projetos de vida.

06 – A referência à infância, realizada no poema, corresponde a que momento da vida do sujeito poético?

      Ao tempo em que ele vivia na verdade, no “sonho à janela...”, já que a infância era o momento em que ele poderia ser quem quisesse e podia fazer projetos e vivenciar sonhos que pensava realizar um dia.

 

quinta-feira, 23 de maio de 2019

POEMA: LISBON REVISITED - ÁLVARO DE CAMPOS - COM GABARITO

Poema: Lisbon Revisited
       
       Álvaro de Campos

NÃO: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral! 


Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!

Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho! 

                   In Fernando Pessoa. Obra poética. Rio de Janeiro. Nova Aguilar, 1986.

Entendendo o poema:

01 – Do ponto de vista formal, aponte três características modernistas do poema.
      A presença de versos livres de estrofes heterogêneas e de uma linguagem coloquial, próxima da fala.

02 – Desde a primeira estrofe, o sujeito poético imprime um tom exasperado, irritado, ao seu discurso, que se caracteriza fundamentalmente pela negação.
a)   O que está sendo negado nas cinco estrofes iniciais?
As conclusões, as estéticas, a moral, a metafísica, os sistemas completos das ciências, das artes e da civilização moderna, a verdade.

b)   Transcreva o verso dessas cinco estrofes que mostra com maior clareza a postura irônica do sujeito poético perante os valores por ele negados:
O verso é: “Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) –“.

03 – Na sua opinião:
a)   A quem o sujeito poético está se dirigindo, em suas negações?
O sujeito poético está se dirigindo a todos aqueles que defendem e representam os valores por ele negados.

b)   O que é negado como um todo, ao longo do poema?
Ao longo do poema, o sujeito poético está negando todos os valores da civilização moderna.

04 – A Modernidade caracteriza-se pela fragmentação do ser humano – a perda do sentimento de “ser inteiro”, advinda da relativização das certezas, da multiplicidade de opções, da falta de parâmetros para a escolha do que fazer, do melhor caminho a seguir. Considerando essa característica da Modernidade, releia a sexta estrofe e responda:
a)   Como o sujeito poético se auto define?
O sujeito poético se auto define como um técnico e, ao mesmo tempo, como um “doido”.

b)   Em que sentido o sujeito poético pode ser considerado representativo da Modernidade?
O sujeito poético pode ser considerado representativo da Modernidade porque nele percebemos a cisão entre racionalidade, técnica e irracionalidade, loucura. Nesse sentido, ele exemplifica a fragmentação do homem moderno.

05 – No contexto de negação de valores, há um verso no poema que ironiza o modo de vida burguês, com suas instituições e suas rotinas.
a)   Transcreva esse verso.
“Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?”

b)   Cite as instituições e os comportamentos burgueses ironizados por esse verso.
O casamento, a futilidade, o apego aos costumes rotineiros, como pagar impostos.

06 – O sujeito poético se apoia na morte e na solidão para renegar os valores do mundo em que vive. O que essa postura revela a seu respeito?
      Essa postura revela sua marginalidade, seu desajustamento em relação ao mundo em que vive.

07 – Pelo nervosismo e perturbação podemos considerar “neurótica” sua postura perante o mundo e as pessoas. Partindo dessa afirmação, escolha uma estrofe reveladora dessa neurose e justifique sua escolha.
      A oitava estrofe pode ser escolhida, pois nela o sujeito poético revela o máximo de exasperação diante das pressões para se ajustar aos valores do mundo moderno e compactuar com eles.