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quarta-feira, 21 de junho de 2023

NOTÍCIA: A GUERRA DOS RATOS NA INDIA - O ESTADO DE S.PAULO - COM GABARITO

 NOTÍCIA: A guerra dos ratos na India

A India é annualmente visitada pelo peor dos flagellos – a peste bubônica. Agora mesmo chegam notícias telegraphicas de que o mal está alli se alastrando cada vez mais.

Como está estabelecido scientificamente que os ratos são os mais perigosos vehiculos da infecção, na India se faz uma verdadeira guerra encarniçada contra os terríveis roedores.

E as estatísticas demonstram que a epidemia assume caracter decrescente na razão directa da destruição dos ratos.

Tempos atraz, os medicos se limitavam a aconselhar que se exterminassem os ratos, e assim a sua destruição prosseguia muito lentamente […]. Hoje, porém, a batalha é dirigida pelo departamento geral de sanidade e é conduzida segundo os criterios mais modernos e sem olhar as despesas. Para avaliar-se todo o mal que a peste tem causado á India basta lembrar que, no espaço de quatorze annos, só na cidade de Bombaim foram victimadas pela peste cerca de 169 000 pessoas.

[…]

A GUERRA dos ratos na India. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 11 fev. 1911. p. 2.

Fonte: Livro – Português – Conexão e Uso -7º Ano – Dileta Delmanto/Laiz B. de Carvalho, Editora Saraiva, 1ª ed., São Paulo, 2018.p.159.

Fonte da imagem - https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMtDsLYEZS8rateVmUqkvs2zaRYRKEaDXXLP2yOBL2aLc6HcSWNxF4jNa0qRIFstIHnB3LChPV6iO0vMfhJ670eBKMk1frTxT72vGVr_RURjOxll8C7voxgb4sp6gXGez-fTHhiqgGY-GVbZ7MUFsGxnSG_sTM0nXgf3HJ4-P8QbuP4RkOzfmTh2VhXew/s320/RATOS.jpg


Entendendo o texto

01. O texto foi escrito em 1911. Mesmo sem ter certeza em relação a algumas palavras, o que você entendeu dele?

A notícia relata o extermínio de ratos para acabar com a epidemia de peste bubônica que assolava a Índia no período citado.

02. Esse trecho não contém palavras que caíram em desuso, mas há nele outras cuja grafia foi modificada. Identifique essas palavras e anote-as no caderno.

India, annualmente, peor, flagellos, telegraphicas, alli, scientificamente, vehiculos, caracter, directa, atraz, medicos, criterios, á, annos, victimadas.

03. Em sua opinião, por que ocorreram essas mudanças?

Resposta pessoal.

domingo, 7 de agosto de 2022

CRÔNICA: QUE LÍNGUA É ESSA? (FRAGMENTO) - MARCOS BAGNO - COM GABARITO

 Crônica: Que língua é essa? – Fragmento

                Marcos Bagno

Trecho de “A língua de Eulália”, novela sociolinguística

                  O mito e a realidade; o errado e o diferente; o eu e o outro

        O mito da língua única

        À noite, como ficou combinado, reúnem-se todas na sala grande da lareira, devidamente acesa. Diante do fogo há um largo tapete felpudo sobre o qual foram espalhadas algumas almofadas grandes e macias. No centro, uma mesinha baixa com um bule de chá, outro de chocolate, canecas de louça branca, um prato com biscoitinhos, outro com um apetitoso bolo inglês. [...]

        – E então, essa aula começa ou não começa? – pergunta Sílvia, tornando a encher a xícara de chocolate.

        – Aula? – surpreende-se Irene. – Eu tinha pensado só num bate-papo, nada de muito sério... Afinal, estamos todas de férias, não é? – e pisca um olho para a sobrinha.

        – Mas bater papo com alguém que sabe a Divina comédia de cor vale por uma aula... – diz Emília.

        Sorriso geral.

        – Já que você insiste, vamos começar – diz Irene. – E quero começar pedindo a vocês que me respondam: “Quantas línguas se fala no Brasil?”.

        Silêncio. As três, tímidas, não ousam arriscar uma resposta. Emília cutuca Vera com o cotovelo e diz:

        – Vera, você faz Letras: é obrigada a saber a resposta...

        Vera, assim convocada em seus brios acadêmicos, pigarreia e diz:

        – Bom, o que a gente aprende na escola, desde pequena, é que no Brasil só se fala português.

        – Isso mesmo – confirma Sílvia. – No Brasil a gente fala português de Norte a Sul.

        Irene escuta com atenção. Depois começa a falar:

        – É bem a resposta que eu esperava. E não havia por que ser diferente. Meninas, na tradição de ensino da língua portuguesa no Brasil existe um mito que há muito tempo vem causando um sério estrago na nossa educação.

        – Que mito é esse, tia?

        – É o mito da unidade linguística do Brasil.

        As três moças se entreolham, surpresas. Irene prossegue:

        – O mito da unidade linguística do Brasil pode ser resumido na resposta que a Vera e a Sílvia me deram agora há pouco: “No Brasil só se fala uma língua, o português”. Um mito, entre outras definições possíveis, é uma ideia falsa, sem correspondente na realidade.

        – Quer dizer que a resposta delas é falsa, mentirosa? – pergunta Emília.

        – Exatamente – responde Irene.

        – E por quê, tia?

        – Primeiro, no Brasil não se fala uma só língua. Existem mais de duzentas línguas ainda faladas em diversos pontos do país pelos sobreviventes das antigas nações indígenas. Além disso, muitas comunidades de imigrantes estrangeiros mantêm viva a língua de seus ancestrais: coreanos, japoneses, alemães, italianos etc.

        – Mas os índios são muito poucos e vivem isolados – replica Sílvia.

        – É, e as comunidades de imigrantes também são uma minoria dentro do conjunto total da população brasileira – completa Emília.

        – A língua mais usada, mais falada, mais escrita é mesmo o português – conclui Vera.

        – Pode ser – diz Irene. – Mas mesmo deixando de lado os índios e os imigrantes, nem por isso a gente pode dizer que no Brasil só se fala uma única língua. Talvez vocês se surpreendam com o que vou dizer agora, mas não existe nenhuma língua que seja uma só.

        – Como assim, Irene? – pergunta Emília, espantada. – Que quer dizer isso?

        – Isso quer dizer que aquilo que a gente chama, por comodidade, de português não é um bloco compacto, sólido e firme, mas sim um conjunto de “coisas” aparentadas entre si, mas com algumas diferenças. Essas “coisas” são chamadas variedades.

        Toda língua varia

        – Puxa vida, estou entendendo cada vez menos – queixa-se Sílvia.

        – Vamos bem devagar para as coisas ficarem claras – propõe Irene. – Você certamente já ouviu um português falar, não é?

        – Já – responde Sílvia.

        – Já percebeu as muitas diferenças que existem entre o modo de falar do português e o modo de falar nosso, brasileiro. De que tipo são essas diferenças? Vamos ver algumas delas:

·        Diferenças fonéticas (no modo de pronunciar os sons da língua): o brasileiro diz eu sei, o português diz eu sâi;

·        Diferenças sintáticas (no modo de organizar as frases, as orações e as partes que as compõem): nós no Brasil dizemos estou falando com você; em Portugal eles dizem estou a falar consigo;

·        Diferenças lexicais (palavras que existem lá e não existem cá, e vice-versa): o português chama de saloio aquele habitante da zona rural, que no Brasil a gente chama de caipira, capiau, matuto;

·        Diferenças semânticas (no significado das palavras): cuecas em Portugal são as calcinhas das brasileiras. Imagine uma mulher entrar numa loja de São Paulo e pedir cuecas para ela usar! Vai causar o maior espanto!

·        Diferenças no uso da língua. Por exemplo, você se chama Sílvia e um português muito amigo seu quer convidar você para jantar. Ele provavelmente vai perguntar: “A Sílvia janta conosco?”. Se você não estiver acostumada com esse uso diferente, poderá pensar que ele está falando de uma outra Sílvia, e não de você. Porque, no Brasil, um amigo faria o mesmo convite mais ou menos assim: “Sílvia, você quer jantar com a gente?”. Nós não temos, como os portugueses, o hábito de falar diretamente com alguém como se esse alguém fosse uma terceira pessoa...

        – Tudo bem até agora? – pergunta Irene.

        – Tudo bem – responde Sílvia.

        – Essas e outras diferenças – prossegue Irene – também existem, em grau menor, entre o português falado no Norte-Nordeste do Brasil e o falado no Centro-Sul, por exemplo. Dentro do Centro-Sul existem diferenças entre o falar, digamos, do carioca e o falar do paulistano. E assim por diante.

        Irene faz uma pequena pausa. Toma um gole de chá e continua:

        – Até agora, falamos das variedades geográficas: a variedade portuguesa, a variedade brasileira, a variedade brasileira do Norte, a variedade brasileira do Sul, a variedade carioca, a variedade paulistana... Mas a coisa não para por aí. A língua também fica diferente quando é falada por um homem ou por uma mulher, por uma criança ou por um adulto, por uma pessoa alfabetizada ou por uma não alfabetizada, por uma pessoa de classe alta ou por uma pessoa de classe média ou baixa, por um morador da cidade e por um morador do campo e assim por diante. Temos então, ao lado das variedades geográficas, outros tipos de variedades: de gênero, socioeconômicas, etárias, de nível de instrução, urbanas, rurais etc.

        – E cada uma dessas variedades equivale a uma língua? – pergunta Emília.

        – Mais ou menos – responde Irene. – Na verdade, se quiséssemos ser exatas e precisas na hora de dar nome a uma língua, teríamos de dizer, por exemplo, falando da Vera: “Esta é a língua portuguesa, falada no Brasil, em 2001, na região Sudeste, no estado e na cidade de São Paulo, por uma pessoa branca, de 21 anos, de classe média, professora primária, cursando universidade” etc. Ou seja, teríamos de levar em conta todos os elementos – chamados variáveis – que compõem uma variedade. É como se cada pessoa falasse uma língua só sua... [...]

        Toda língua muda

        – Deu pra entender o que é uma variedade, Sílvia? – pergunta Irene.

        – Deu, sim, é até mais fácil do que eu pensava – responde a estudante de Psicologia.

        Irene dá um sorriso maroto e fingindo um tom de ameaça anuncia:

        – Mas a coisa pode ficar ainda mais complicada...

        – Como, tia?

        – Pegue, por exemplo, um texto de jornal escrito no começo do século XX. Você vai sentir diferenças no vocabulário e no modo de construção da frase. Recue mais um pouco no tempo e tente encontrar alguma coisa escrita no começo do século XIX, em 1808, por exemplo, quando a família real portuguesa se transferiu para o Brasil. Mais diferenças ainda. Dê um salto ainda maior e tente ler a famosa carta de Pero Vaz de Caminha ao rei D. Manuel dando a notícia do descobrimento do Brasil. Um texto de 1500, último ano do século XV! Tem muita coisa ali que a gente nem consegue entender! E se quiséssemos ler uma cantiga d’amor, como a que citei hoje à tarde, que era um gênero de poesia praticado em Portugal nos séculos XII – XIII? Quase impossível: só mesmo com a ajuda e a orientação de um filólogo, especialista em textos antigos! O que todos esses textos têm em comum?

        – Foram escritos em português, não é? – arrisca Sílvia.

        – Sim – responde Irene.

        – Por que será então que eles vão se tornando cada vez menos compreensíveis para um brasileiro no início do século XXI? – quer saber Vera.

        – Porque toda língua, além de variar geograficamente, no espaço, também muda com o tempo. A língua que falamos hoje no Brasil é diferente da que era falada aqui mesmo no início da colonização, e também é diferente da língua que será falada aqui mesmo dentro de trezentos ou quatrocentos anos!

        – Parece lógico – comenta Sílvia. – Todas as coisas mudam, os costumes, as crenças, os meios de comunicação, as roupas... até os bichos evoluíram e continuam evoluindo... Por que a língua não haveria de mudar, não é?

        – É por isso – prossegue Irene – que nós linguistas dizemos que toda língua muda e varia. Quer dizer, muda com o tempo e varia no espaço. Temos até uns nomes especiais para esses dois fenômenos. A mudança ao longo do tempo se chama mudança diacrônica. A variação geográfica se chama variação diatópica. E é por isso também que não existe a língua portuguesa.

        – Ah, não? – admira-se Emília. – Então o que é que existe?

        – Existe um pequeno número de variedades do português – faladas numa determinada região, por determinado conjunto de pessoas, numa determinada época – que, por diversas razões, foram eleitas para servirem de base para a constituição, para a elaboração de uma norma-padrão. A norma-padrão é aquele modelo ideal de língua que deve ser usado pelas autoridades, pelos órgãos oficiais, pelas pessoas cultas, pelos escritores e jornalistas, aquele que deve ser ensinado e aprendido na escola. Vejam bem que eu disse aquele que deve ser, não aquele que necessariamente é empregado pelas pessoas cultas. Essa norma, ao longo do tempo, se torna objeto de um grande investimento...

        – Investimento, Irene? – pergunta Sílvia. – Como assim?

        – No processo de constituição, de cristalização da norma-padrão como o que deve ser “a” língua, ela é analisada pelos gramáticos, que escrevem livros para descrever as regras de funcionamento dela, livros que servem ao mesmo tempo para prescrever essas regras, isto é, impor essas regras como as únicas aceitáveis para o uso “correto” da língua. Os dicionaristas também se debruçam sobre a norma-padrão e tentam definir os significados precisos para as palavras que compõem esse padrão. A Academia de Letras estabelece a ortografia oficial, a maneira única de escrever, que é imposta por decreto-lei governamental. Ela também cuida para que as palavras de origem estrangeira não “contaminem” excessivamente a língua, e propõe novos termos para substituí-las, termos com uma forma mais próxima daquilo que os tradicionalistas chamam de “a índole da língua”. Os autores de livros didáticos preparam seus manuais escolares pensando em estratégias pedagógicas eficazes para que as crianças aprendam a norma-padrão... Todo esse trabalho de padronização, de criação e cultivo de um modelo de língua, é que compõe o tal investimento de que eu falei... Por isso a norma-padrão dá a impressão de ser mais rica, mais complexa, mais versátil que todas as demais variedades da língua falada pelas pessoas do país. Na verdade, ela nada tem de melhor que essas variedades, ela só tem mais que as outras.

        – E o que é que ela tem mais que as outras? – pergunta Sílvia.

        – Por causa do tal investimento, a norma-padrão tem principalmente mais palavras eruditas, tem mais termos técnicos, tem um vocabulário maior e mais diversificado. Ela também tem mais construções sintáticas consideradas de bom gosto, tem expressões de origem erudita que servem de modelos para serem imitados, metáforas clássicas que dão um ar “nobre” à linguagem... Mas se esse mesmo investimento fosse aplicado a qualquer uma das muitas variedades faladas no país, ela também se enriqueceria e se mostraria capaz de ser veículo para todo tipo de mensagem, de discurso, de texto científico e literário...

[...]

           BAGNO, Marcos. A língua de Eulália – novela sociolinguística. 9. ed. São Paulo: Contexto, 2001. p. 17-23.

               Fonte: Livro Língua Portuguesa – Trilhas e Tramas – Volume 1 – Leya – São Paulo – 2ª edição – 2016. p. 205-9.

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Divina comédia: poema épico de Dante Alighieri.

·        Brio: orgulho.

·        Pigarrear: arranhar a garganta.

02 – É comum ouvirmos que no Brasil se fala uma mesma língua de norte a sul do país. Você concorda? Por quê?

      Resposta pessoal do aluno.

03 – Que línguas e dialetos contribuíram para a formação da língua que falamos hoje?

      Resposta pessoal do aluno.

04 – A língua portuguesa de Portugal é a mesma língua portuguesa do Brasil? Podemos afirmar que falamos uma “língua brasileira”?

      Resposta pessoal do aluno.

05 – Moradores de áreas urbanas e rurais falam do mesmo modo?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Não.

06 – Médicos, professores, crianças, roqueiros, surfistas, trabalhadores rurais e profissionais de outras áreas usam a mesma variedade linguística?

      Não. Usam de acordo com a região em que vivem e trabalham.

07 – A língua de Eulália é, segundo seu autor, uma “novela sociolinguística”. Nela, as personagens fictícias expõem conceitos e teorias sobre a língua. No trecho que você leu é apresentado um conceito de norma-padrão.

a)   Identifique-o.

“[...] A norma-padrão é aquele modelo ideal de língua que deve ser usado pelas autoridades, pelos órgãos oficiais, pelas pessoas cultas, pelos escritores e jornalistas, aquele que deve ser ensinado e aprendido na escola. Vejam bem que eu disse aquele que deve ser, não aquele que necessariamente é empregado pelas pessoas cultas. [...]”

b)   A personagem Irene concorda ou não com esse conceito? Justifique.

Não. Ela faz restrições a esse conceito e defende a tese de que não há uma variedade superior às outras.

c)   E você, o que pensa sobre isso?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Nenhuma variedade é melhor que outra e que todas devem ser respeitadas.

08 – De acordo com o texto, o que contribui para a existência de uma norma-padrão? Copie no caderno as alternativas corretas.

a)   A descrição e a prescrição das regras de determinada variedade pelos gramáticos.

b)   O registro dos significados precisos das palavras que compõem esse padrão pelos dicionaristas.

c)   O estabelecimento da ortografia oficial pela Academia Brasileira de Letras.

d)   O uso da norma-padrão pelos setores dominantes: academia, falantes cultos e de posição social elevada.

e)   A proibição legal de outras variedades consideradas erradas.

09 – Em uma passagem do texto há uma definição para o conceito de mito. Identifique essa definição e registre-a no caderno.

        “Um mito, entre outras definições possíveis, é uma ideia falsa, sem correspondente na realidade.”

10 – Leia as afirmativas de I a VIII e indique no caderno, em relação a cada uma se:

a)   A afirmativa confirma a tese defendida pela personagem Irene.

III – IV – V – VII – VIII.

b)   A afirmativa contradiz a tese defendida pela personagem Irene.

I – II – VI.

I.             Há uma unidade linguística no Brasil.

II.           A norma-padrão é a melhor variedade linguística.

III.          Não existe uma variedade linguística superior a outras.

IV.         Se houvesse investimento, qualquer variedade poderia ser considerada padrão.

V.          A norma-padrão é uma das variedades linguísticas.

VI.         A norma-padrão é um modelo que deve ser seguido por todos os falantes.

VII.       A língua muda com o tempo e varia no espaço.

VIII.     O conceito de certo e errado em relação ao uso da língua está fundamentado em preconceitos linguísticos e sociais.

11 – Qual é o sentido do subtítulo “O mito e a realidade; o errado e o diferente; o eu e o outro”?

      O outro é o diferente, por isso, às vezes, é considerado errado, devido ao preconceito.

domingo, 15 de maio de 2022

POEMA: O MARRUÊRO - CATULO DA PAIXÃO CEARENSE - VARIEDADE LINGUÍSTICA - COM GABARITO

 Poema: O Marruêro

         Catulo da Paixão Cearense

[...]


Lá, pras banda onde eu nasci,

Já se falava do amô:

todas as boca dizia

que era farso e matadô!

[...]

Nas marvadage do Amô

não hay cabra que não caia,

quando o diabo tira a roupa,

tira o chifre e tira o rabo

pra se visti c’uma saia!

 

Se adisfoiando no samba,

cantando uma alouvação,

eu vi a frô dos caborge

das morena do sertão!

 

Trazia dento dos oio

istrepe e mé, cumo a abeia!

Oiou-me cumo uma onça!...

E, ao despois, cumo uma oveia!

 

Aqueles oio xingoso,

eu confesso a vasmincê,

ruía a gente pru dento

que nem dois caxinguelê!

[...]

Pru mode daqueles oio,

dois marvado mucuim,

um violero, afulemado,

partiu pra riba de mim!

 

Temperei minha viola,

intrei logo a puntiá,

e ambos os dois se peguemo,

n’um disafio, ao luá!

[...]

Só despois que nestas corda

fiz pinto cessá xerém,

vi que o bichão se chamava:

— Manué Joaquim do Muquém!

 

Manué Joaquim era um cabra

naturá de Piancó!...

Quando gimia no pinho,

chorava, cumo um jaó!

 

Eu, marruêro, arrespundia

nestas corda de quandu,

e os acalanto se abria,

cumo as frô do imbiruçu!

 

Foi despois do disafio,

quando eu saí vencedô,

que os canto e os gemê dos pinho

n’um turumbamba acabou!!

 

Inquanto nós dois cantava,

sem ninguém tê dado fé,

tinha fugido a caboca

cum o Pedro Cachitoré!!!

[...]

Tinha fugido, marruêro,

aquela frô dos meus ai,

cumo uma istrela que foge,

sem se sabê pra onde vai!!!

[...]

Alegre, passava um bando

das verde maracanã!...

Fermosa, cumo a caboca,

vinha rompendo a minhã!

[...]

Eu tinha o corpo fechado

pra tudo o que é marvadez!

Só de surucucutinga

eu fui murdido três vez!...

 

Tando cum o corpo fechado,

pras feitiçage do Amô,

pensei que eu tava curado!

[...]

Pra riba de mim, Deus pode

mandá o que ele quizé!

O mundo é grande, marruêro!...

Grande é o amô!... Grande é a fé!...

 

Grande ó o pudê de Maria,

isposa de São José!...

O Diabo, o Anjo mardito,

foi grande!... Cumo inda é!!

 

Mas porém, nada é mais grande,

mais grande que Deus inté,

que uma chifrada, marruêro,

dos oio d’uma muié!!!

                CEARENSE, Catulo da Paixão. Meu sertão. 15. ed. Rio de Janeiro: A Casa do Livro, 1967. p. 61-71.

Fonte: Livro – Viva Português 1° – Ensino médio – Língua portuguesa – 2ª edição 1ª impressão – São Paulo – 2014. p. 79-81.

Entendendo o poema:

01 – No caderno, responda: Qual é o assunto do texto lido?

      Sofrimento por um amor não correspondido.

02 – Considerando apenas o eu lírico desse texto, explique como ele é?

      O eu lírico é um homem, um violeiro apaixonado.

03 – O eu lírico do texto poético de Catulo da Paixão Cearense se dirige a um amigo usando qual pessoa gramatical? Justifique com palavras do texto.

      Usa a 2ª pessoa do plural – vasmincê.

04 – Ao dirigir-se a seu interlocutor, o eu lírico do texto lido faz uma evocação. Escreva as palavras, ou a expressão, usadas para fazê-la em cada texto.

      Senhor Fremosa, Marruêro, vasmincê.

05 – Há no texto palavras que são grafadas de acordo com o modo como são faladas em diferentes regiões do país. O autor rima-as entre si ou com palavras grafadas tal qual a variedade-padrão da língua. Cite pelo menos três casos dessas ocorrências.

      Amô/matado; abeia/oveia; vasmincê/caxinguelê; puntiá/luá; malvadez/vez; quizé/fé; inté/muié.

06 – O texto poético de Catulo da Paixão Cearense, escrito no século XX, tem semelhanças com as cantigas do século XIII, ligando-se a elas por diversas tradições populares. Você diria que a linguagem usada nele pode ser vista apenas como uma forma incorreta de se escrever? Explique a importância dessas questões para o texto poético.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: A linguagem de Catulo é bastante rica e adequada ao contexto em que é utilizada. Sua ligação com as cantigas demonstra um grande valor cultural não desfeito pelo tempo. A relação entre a grafia das palavras do poema e as normas urbanas de prestígio tem pouco ou nenhum valor, pois o uso dessa grafia no texto é adequado e significativo como recurso sonoro e lírico, elementos característicos dessa poesia popular, mostrando a riqueza expressiva com que o tema é tratado.

 

 

 

sexta-feira, 22 de abril de 2022

ANÚNCIO: KILDARE - VARIEDADE LINGUÍSTICA - COM GABARITO

 Anúncio: Kildare

Fonte da imagem - https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-Nc5B-qdK55tLGutRsuLVmDevXLtr2joF5LrKcutiDFnQdfNjm3vDGDVrJtx01zXKWuPqjHCxEAPevan3KqGdyt5693MBEovBlWPneUFEyeVANOA1HmhroS1f1U3gslZ5a-eEvRswm-bAo9W1DMe8RYweslbBUbtFzAp5yr9e0Qu1jrC3Fyxp6bvz/s241/kildare.jpg


Fonte: Livro – PORTUGUÊS: Linguagens – Willian R. Cereja/Thereza C. Magalhães – 5ª Série – 2ª edição - Atual Editora – 2002 – p. 171.

Entendendo o anúncio:

01 – O anúncio faz uso de uma variedade linguística não padrão. Identifique, na parte verbal do anúncio, os elementos que fogem à variedade padrão.

      A gente no lugar de nós; o uso de lembrar em vez de lembrar-se; o emprego do pronome reto no lugar do oblíquo em botar ele.

02 – O anunciante empregou a expressão a gente, que é própria de uma linguagem informal. Como ficaria esse texto, de acordo com a variedade padrão e com o emprego do pronome reto nós no lugar de a gente?

      Às vezes, nós só nos lembramos de tirar um Kildare dos pés quando já está quase na hora de colocá-lo de novo.

03 – Observe a imagem do anúncio. Considerando a imagem e o tipo de variedade linguística escolhido, responda:

a)   Qual é o público que ele pretende atingir? Por quê?

Um público jovem, porque há um jovem deitado, e em razão da linguagem empregada.

b)   Você acha que o uso dessa variedade linguística torna mais fácil convencer o público a consumir o produto? Por quê?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Sim, pois a linguagem faz com que o leitor se identifique com o anúncio e, consequentemente, com o produto anunciado.

04 – Na parte inferior do anúncio, havia o seguinte texto:

        “Num Kildare seus pés ficam à vontade. Por isto, mesmo que o seu dia seja um corre-corre sem fim, tirá-los não vai ser a sua primeira preocupação ao chegar em casa”.

        Nesse texto, o emprego do pronome oblíquo em tirá-los ocasionou um problema de coerência e coesão textual.

a)   Da forma como está redigido o texto, qual é a única palavra anterior a que pode estar relacionado o pronome los?

Pés.

b)   Por que tal relação criaria um sentido absurdo para o texto?

Porque não podemos tirar os pés.

c)   Que outra redação você daria ao texto, para evitar esse sentido absurdo?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Tirar os sapatos.

quinta-feira, 14 de abril de 2022

CRÔNICAS: BOTECOS - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - VARIEDADE LINGUÍSTICA - COM GABARITO

 Crônica: Botecos

              Luís Fernando Veríssimo

        [...]

        E tem a história do Nascimento, que um dia quase brigou com o garçom porque chegou na mesa, cumprimentou a turma, sentou, pediu um chope e depois disse:

        -- E traz aí uns piriris.

        -- O que? – disse o garçom.

        -- Uns piriris.

        -- Não tem.

        -- Como, não tem?

        -- “Piriris” que o senhor diz é…

        -- Por amor de Deus. O nome está dizendo. Piriris.

        -- Você quer dizer – sugeriu alguém, para acabar com o impasse – uns queijinhos, uns salaminhos…

        -- Coisas pra beliscar – completou o outro, mais científico.

        Mas o Nascimento, emburrado não disse mais nada. O garçom que entendesse como quisesse. O garçom, também emburrado, foi e voltou trazendo o chope e três pires. Com queijinhos, salaminhos e azeitonas. Durante alguns segundos, Nascimento e o garçom se olharam nos olhos. Finalmente o Nascimento deu um tapa na mesa e gritou:

        -- Você chama isso de piriris?

        E o garçom, no mesmo tom:

        -- Não. Você chama isso de piriris!

        Tiveram que acalmar os ânimos dos dois, a gerência trocou o garçom de mesa e o Nascimento ficou lamentando a incapacidade das pessoas de compreender as palavras mais claras. Por exemplo, “flunfa”. Não estava claro o que era flunfa? Todos na mesa se entreolharam. Não, não estava claro o que era flunfa.

        -- A palavra está dizendo – impacientou-se Nascimento. – Flunfa. Aquela sujeirinha que fica no umbigo. Pelo amor de Deus!

A mãe de Freud. Porto Alegre: L&PM, 1997. p. 61-2.

Fonte: Livro – PORTUGUÊS: Linguagens – Willian R. Cereja/Thereza C. Magalhães – 5ª Série – 2ª edição - Atual Editora – 2002 – p. 56-7.

Entendendo a crônica:

01 – O que Nascimento, personagem principal dessa história, tem de diferente dos outros amigos?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Tem um vocabulário próprio, onde ele acha que as pessoas tem obrigação de entender e saber o que significa.

02 – Afinal, o que você acha que Nascimento chamava de piriris?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: É possível que fossem azeitonas, salame e queijo, mas não naquela quantidade ou daquele tipo, ou com aquela apresentação.

03 – Você acha que Nascimento está tentando reformar o mundo?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Em parte sim, pois ele não aceita as regras da língua formal.

04 – Qual o resultado do procedimento da personagem?

      Nascimento se indispõe com as pessoas, cria mal-estar no ambiente, se mostra mal-educado e promove mal-entendidos. Pode-se dizer que esse resultado equivale à infelicidade dele perante os amigos.

05 – Suponha que o garçom e os amigos de Nascimento aprendessem com ele o significado das palavras piriris e flunfa. E depois começassem a usá-las no trabalho, com outros amigos, com os familiares, etc.

a)   O que aconteceria com essas palavras?

Elas se tornariam uma gíria e, com o tempo, se todos começassem a fala-las, talvez viessem a se integrar à língua.

b)   Então, conclua: As regras que a língua segue podem mudar?

Sim, as regras podem mudar. Apesar disso, a língua é viva e está em constante mudança, assim como as pessoas e a sociedade.