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sexta-feira, 28 de março de 2025

SONETO: EPIGRAMA IMITADO - BOCAGE - COM GABARITO

 Soneto: Epigrama imitado

             Bocage

Levando um velho avarento
Uma pedrada no olho,
Põe-se-lhe no mesmo instante
Tamanho como um repolho.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg97XAPJ9ofVCYD3ci9txFvIXNpozjjKZnK3Wys-JYT8Dod1ri62P8U-qSe3NU9Ioldd_KPWvFKpoV-ac7-euuJI4JzeWdCqwukZpDztLpb7WzCLWu3TZXlw5RVUaiKYpBjY06WBpsU85cKmcJNenRZZPwCfNvpJ9OmGosikKjX-dugxO0au1hvmUE3OAA/s320/71VXMlN3euL._AC_UF1000,1000_QL80_.jpg



Certo, doutor, não das dúzias,
Mas sim do médico perfeito,
Dez moedas lhe pedia
Para o livrar do defeito.

"Dez moedas! (diz o avaro)
Meu sangue não desperdiço:
Dez moedas por um olho!
O outro eu dou por isso."

Fonte: Português. Série novo ensino médio. Volume único. Faraco & Moura – 1ª edição – 4ª impressão. Editora Ática – 2000. São Paulo. p. 133.

Entendendo o soneto:

01 – Qual é o evento que desencadeia a história contada no soneto?

      Um velho avarento leva uma pedrada no olho, que incha consideravelmente.

02 – Qual a reação do velho avarento ao saber o preço do tratamento médico?

      O velho avarento se recusa a pagar dez moedas pelo tratamento, demonstrando sua extrema avareza.

03 – Qual a atitude do velho avarento em relação ao outro olho?

      O velho avarento oferece o outro olho em troca do tratamento, mostrando que valoriza mais o dinheiro do que a própria saúde.

04 – Qual a crítica social presente no soneto de Bocage?

      O soneto critica a avareza excessiva, mostrando como ela pode levar uma pessoa a tomar decisões absurdas e prejudiciais.

05 – Qual o efeito cômico presente no final do soneto?

      O efeito cômico é criado pela ironia da situação, onde o velho avarento prefere perder um olho a gastar dinheiro, revelando sua ganância de forma exagerada e ridícula.

 

domingo, 23 de março de 2025

SONETO: TRISTE QUEM AMA, CEGO QUEM SE FIA - MANUEL BOCAGE - COM GABARITO

 Soneto: Triste quem ama, cego quem se fia

             Manuel Bocage

Nascemos para amar; a humanidade

Vai tarde ou cedo aos laços da ternura.

Tu és doce atrativo, ó formosura.

Que encanta, que seduz, que persuade:

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivhBi1WieYC9j67jgRFJrrR-d4CcP1LA-atzZ6L5hE0XHjiMlDaRbz5cgPko1OVkMrQBB1d7zaOUtTnDNV4DOJgaLlpTC5TM5YNHcFUxhoNrQUeFGCCysmjPtosXbvOHZdXTgm8xLS1-tJrp_x55Me05U7sqqj1ssDgOyq35gEdUT1TAVy9zCk21UGSIc/s320/TERNURA.jpg


 

Enleia-se por gosto a liberdade;

E depois que a paixão n'alma se apura,

Alguns então lhe chamam desventura,

Chamam-lhe alguns então felicidade:

 

Que se abisma nas lôbregas tristezas,

Qual em suaves júbilos discorre,

Com esperanças mil na ideia acesas:

 

Amor ou desfalece, ou pára, ou corre:

E, segundo as diversas naturezas.

Um porfia, este esquece, aquele morre.

BOCAGE, Manuel Maria Barbosa du. Poesias. 3. Ed. Lisboa, Sá de Costa, 1956. p. 9.

Fonte: Português. Série novo ensino médio. Volume único. João Domingues Maia – Editora Ática – 2000. São Paulo. p. 172.

Entendendo o soneto:

01 – Qual é o tema central do soneto?

      O tema central do soneto é a natureza paradoxal do amor, que pode trazer tanto felicidade quanto tristeza. Bocage explora as diversas formas como as pessoas experimentam o amor e as consequências emocionais que ele acarreta.

02 – Como o poeta descreve o poder da "formosura" no início do soneto?

      O poeta descreve a "formosura" como um "doce atrativo" que "encanta, seduz e persuade". Ele sugere que a beleza tem um poder irresistível que leva as pessoas a se apaixonarem.

03 – Qual é a dualidade apresentada nos versos "Alguns então lhe chamam desventura, Chamam-lhe alguns então felicidade"?

      Essa dualidade destaca a subjetividade da experiência amorosa. Enquanto alguns encontram desventura no amor, outros encontram felicidade, dependendo de suas "diversas naturezas".

04 – Como o poeta descreve a natureza variável do amor nos tercetos finais?

      Nos tercetos finais, o poeta descreve o amor como uma força instável que "ou desfalece, ou pára, ou corre". Ele enfatiza que o amor se manifesta de diferentes maneiras em cada indivíduo, levando a diferentes resultados.

05 – Qual é a mensagem final do soneto?

      A mensagem final do soneto é que o amor é uma experiência complexa e imprevisível, capaz de gerar tanto alegria quanto sofrimento. Bocage adverte sobre os perigos de se entregar cegamente ao amor, pois ele pode levar à tristeza e à decepção.

 

 

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

SONETO: Ó RETRATO DA MORTE! Ó NOITE AMIGA - BOACAGE - COM GABARITO

 Soneto: Ó retrato da Morte! Ó Noite amiga

             Bocage

Ó retrato da Morte! Ó Noite amiga,
Por cuja escuridão suspiro há tanto!
Calada testemunha do meu pranto,
De meus desgostos secretária antiga!

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4tbxpp36CvnKDbG6Y36EFT48BLHf8ZogcRnlEKD4XKJinVDoRfmKkTIoGGYH0RMtfYXXbABI_NWSoGDCvM3n0HU8fbPaXG6UT0l7dMvgb7Pv4uoF99N_kiV6SOmdzFHgi-Yos8we_mRrESEqZ-VUyJM9Y7Zef8wEA-k3VCW54RbWdeMwEGrqaBqKrE_w/s320/bOCAGE.jpg



Pois manda Amor que a ti somente os diga
Dá-lhes pio agasalho no teu manto;
Ouve-os, como costumas, ouve, enquanto
Dorme a cruel que a delirar me obriga.

E vós, ó cortesãos da escuridade,
Fantasmas vagos, mochos piadores,
Inimigos, como eu, da claridade!

Em bandos acudi aos meus clamores;
Quero a vossa medonha sociedade,
Quero fartar meu coração de horrores.

Bocage. Op. Cit. p. 39.

Fonte: Português – Novas Palavras – Ensino Médio – Emília Amaral; Mauro Ferreira; Ricardo Leite; Severino Antônio – Vol. Único – FTD – São Paulo – 2ª edição. 2003. p. 99.

Entendendo o soneto:

01 – Qual é o tema central do soneto "Ó retrato da Morte! Ó Noite amiga"?

      O tema central do soneto é a busca por conforto e refúgio na escuridão da noite, personificada como amiga e confidente, em contraposição à dor e ao sofrimento causados por um amor não correspondido. O poeta expressa seu desejo de morte como alívio para suas angústias.

02 – Quem é a "cruel" mencionada no poema e qual o seu papel na experiência do eu lírico?

      A "cruel" mencionada no poema é a amada do eu lírico, que o faz delirar de amor e de dor. Ela é a causa de seu sofrimento e de seu desejo de encontrar conforto na noite e na morte.

03 – Qual é o significado da expressão "cortesãos da escuridade" no contexto do poema?

      Os "cortesãos da escuridade" são os fantasmas, mochos piadores e outros seres noturnos que habitam a escuridão. Eles são vistos como aliados do eu lírico em sua busca por consolo, pois compartilham de sua aversão à luz e de seu desejo de escuridão.

04 – O que o eu lírico busca ao clamar pela "medonha sociedade" dos seres noturnos?

      O eu lírico busca na companhia dos seres noturnos uma forma de lidar com seus próprios horrores internos. Ele deseja se entregar à escuridão e aos sentimentos sombrios que o atormentam, buscando uma catarse através da imersão no horror.

05 – Qual é a importância do soneto "Ó retrato da Morte! Ó Noite amiga" na obra de Bocage?

      O soneto é importante por revelar a face mais melancólica e sombria da poesia de Bocage, que é frequentemente associado à sátira e à irreverência. Ele demonstra a profundidade de seus sentimentos e sua capacidade de expressar a dor e o sofrimento humanos com beleza e intensidade. Além disso, o poema antecipa elementos do Romantismo, como a valorização da noite, da melancolia e da morte como refúgios para a alma atormentada.

 

 

POEMA: FELIZA - BOCAGE - COM GABARITO

 Poema: Feliza

             Bocage

Chamam-te gosto, Amor, chamam-te amigo

Da Natureza, que por ti se inflama;

Dizem que és dos mortais suave abrigo;

Que enjoa, e pesa a vida a quem não ama:

Mas com dura experiência eu contradigo

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZ0eRft3IIPR8W1T2JUuy4ukkGubOifVdMoxhOFO_vGnlOmNr6ntzaR9Cb6-e1uho4K83dGpAZVljPfuVF8yGp8TnGQ27b1d2AfZyR7dzCuhwS0khphFrAQKVzR5CPGZRzkWCc4sNtZdhyCQIcbiq1Rg4fJINRhpsMwhfJgsiiJuos26cqUjB7K3Ve7IA/s320/BOCAGE.jpg


A falsa opinião, que um bem te chama:

Tu não és gosto, Amor, tu és tormento.

Une teus sons, ó lira, ao meu lamento.

 

Feliza de Sileu! Quem tal pensara

Daquela, entre as pastoras mais formosa

Que a vermelha papoila entre a seara,

Que entre as boninas a corada rosa!

Feliza por Sileu me desampara!

Oh céus! Um monstro seus carinhos goza;

Ânsia cruel me esfalfa o sofrimento.

Une teus sons, ó lira, ao meu lamento.

 

Ingrata, que prestígio te alucina?

Que mágica ilusão te está cegando?

Que fado inevitável te domina,

Teu luminoso espírito apagando?

O vil Sileu não põe na sanfonina

Jeitosa mão, nem pinta em verso brando

Ondadas tranças, que bafeja o vento.

Une teus sons, ó lira, ao meu lamento.

BOCAGE, Manuel Maria Barbosa du. Obras de Bocage. Porto: Lello & Irmão, 1968, p. 685-686.

Fonte: Português – Novas Palavras – Ensino Médio – Emília Amaral; Mauro Ferreira; Ricardo Leite; Severino Antônio – Vol. Único – FTD – São Paulo – 2ª edição. 2003. p. 102.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o tema central do poema "Feliza" de Bocage?

      O tema central do poema é o sofrimento do eu lírico devido ao amor não correspondido por Feliza, que o trocou por Sileu. O poema expressa a dor, o ciúme e a frustração do poeta diante da rejeição.

02 – Quem é Feliza e qual o seu papel no poema?

      Feliza é a mulher amada pelo eu lírico, que o abandona para ficar com Sileu. Ela é idealizada como a mais bela entre as pastoras, mas sua escolha causa grande sofrimento ao poeta, que a considera ingrata e alucinada.

03 – Quem é Sileu e qual a sua importância no contexto do poema?

      Sileu é o rival do eu lírico, o homem que conquista o amor de Feliza. Ele é apresentado como alguém que não possui os mesmos atributos poéticos e artísticos do poeta, o que aumenta a frustração e o ciúme do eu lírico.

04 – Qual é o significado da expressão "Une teus sons, ó lira, ao meu lamento"?

      Essa expressão é um apelo à lira, instrumento musical associado à poesia, para que acompanhe o lamento do eu lírico. Ela representa a busca por consolo e expressão para a dor do poeta através da música e da poesia.

05 – Que tipo de linguagem Bocage utiliza no poema "Feliza"?

      Bocage utiliza uma linguagem expressiva e emotiva, com adjetivos que intensificam a dor e o sofrimento do eu lírico. Ele também emprega comparações e metáforas para descrever a beleza de Feliza e a sua decepção amorosa.

06 – Qual é a importância do poema "Feliza" na obra de Bocage?

      O poema "Feliza" é importante por revelar um lado mais pessoal e sentimental de Bocage, que é frequentemente associado à poesia satírica e erótica. Ele mostra sua habilidade em expressar emoções profundas e complexas, como a dor do amor não correspondido.

07 – Que elementos do Arcadismo estão presentes no poema "Feliza"?

      O poema "Feliza" apresenta elementos típicos do Arcadismo, como a idealização da natureza e da figura feminina, a presença de personagens pastoris (Feliza e Sileu), a referência à lira como instrumento poético e a expressão de sentimentos amorosos de forma idealizada e retórica.

SONETO: MAGRO, DE OLHOS AZUIS, CARÃO MORENO - BOCAGE - COM GABARITO

 Soneto: Magro, de olhos azuis, carão moreno

             Bocage

Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyjfNhe_hyJTZheMziKTj0_Hp2mXDdEcco7bzdNSQcZjiytyUdwVf17a_SRFQ1D4Jz8vbVOQGgrdysM6rC4fx_Ve_1fJGfofnDXvVMPEAy4MyEr4vi8KXQ9RaYPiuzG_SYlN6ejOgTIgRHrp3KcPGwxAOXFPH62jZh9S6CdIbgIePu1JoG6iWpcUUSQ9k/s1600/BOCAGE.jpg



Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo em níveas mãos por taça escura,
De zelos infernais letal veneno;

Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades;

Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou mais pachorrento.

Bocage. Op. Cit. p. 63-33.

Fonte: Português – Novas Palavras – Ensino Médio – Emília Amaral; Mauro Ferreira; Ricardo Leite; Severino Antônio – Vol. Único – FTD – São Paulo – 2ª edição. 2003. p. 103-104.

Entendendo o soneto:

01 – Qual é o tema central do soneto "Magro, de olhos azuis, carão moreno"?

      O tema central do soneto é o auto-retrato de Bocage, tanto físico quanto psicológico. O poeta descreve a si mesmo com sinceridade, revelando seus traços físicos, seu temperamento e suas características de personalidade.

02 – Quais são as características físicas e de personalidade que Bocage destaca em seu auto-retrato?

      Fisicamente, Bocage se descreve como magro, de olhos azuis, pele morena, de estatura mediana e com um nariz proeminente. Em relação à sua personalidade, ele se mostra como alguém de temperamento instável, propenso à ira, mas também capaz de ternura. Além disso, revela-se um "devoto incensador de mil deidades", ou seja, um homem que se apaixona facilmente e que tem uma vida amorosa agitada.

03 – O que significa a expressão "Bebendo em níveas mãos por taça escura, / De zelos infernais letal veneno"?

      Essa expressão é uma metáfora para os relacionamentos amorosos de Bocage. As "níveas mãos" representam as mulheres por quem ele se apaixona, enquanto a "taça escura" simboliza o amor, que pode trazer tanto prazer quanto sofrimento. O "letal veneno" dos "zelos infernais" refere-se ao ciúme, sentimento que o atormenta em suas relações amorosas.

04 – Qual é o tom geral do soneto e como Bocage se auto-intitula?

      O tom geral do soneto é de confissão e auto-depreciação. Bocage não se idealiza, mas se mostra como um homem com qualidades e defeitos. Ao final do soneto, ele se auto-intitula "Eis Bocage, em quem luz algum talento", reconhecendo sua habilidade poética, mas também admitindo suas falhas e contradições.

05 – Qual é a importância do soneto "Magro, de olhos azuis, carão moreno" para a obra de Bocage?

      O soneto é importante por nos fornecer um retrato íntimo e revelador de Bocage, permitindo-nos conhecer seus traços físicos, psicológicos e de personalidade. Além disso, ele demonstra a habilidade do poeta em utilizar a forma do soneto para expressar seus sentimentos e reflexões de forma concisa e expressiva. O soneto é um exemplo da poesia lírica de Bocage, que se distingue de sua produção satírica e erótica, revelando um lado mais pessoal e introspectivo do poeta.

 

 

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

SONETO: DOS TÓRRIDOS SERTÕES, PEJADOS D'OURO - BOCAGE - COM GABARITO

 Soneto: Dos tórridos sertões, pejados d’ouro

              Bocage

Dos tórridos sertões, pejados d’ouro,

Saiu um sabichão d’escassa fama,

Que os livros preza, os cartapácios ama,

Que das línguas repartem o tesouro:

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnOPdWTqRTP4ko1x2OLLZqx7c8RauNPzzUibg986Ww9fMMjALH2VfWZ-rU6l9E2xIW2HPaRsCCfP0yJpNeLZ_9g3t0JG2sfHrYxJgQWx7quXoX8SG2ADaZ2XxgKdsbPdTlouTNWqdER5-TENTVpE7cobjAE8NIz-tRW9up8uZHCsBkY-U4SNZxvJG0un4/s320/SERT%C3%83O.jpg

 

Arranha o persiano, arranha o mouro,

Sabe que Deus em turco Alá se chama;

Que no grego alfabeto o G é gama,

Que taurus em latim quer dizer touro:

 

Para papaguear saiu do mato:

Abocanha talentos, que não goza;

É mono, e prega unhadas como gato:

 

É nada em verso, quase nada em prosa:

Não conheces, leitor, neste retrato

O guapo charlatão Tomé Barbosa?

BOCAGE. Antologia escolar portuguesa. Rio de Janeiro: MEC-Fename, 1970, p. 232.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 533.

Entendendo o soneto:

01 – Quem é o personagem retratado no soneto?

      O personagem retratado é um "sabichão" que saiu dos sertões, um homem que se vangloria de seu conhecimento, mas que, na verdade, possui apenas uma erudição superficial e pedante.

02 – Qual é a crítica principal do soneto?

      A crítica principal do soneto é dirigida àqueles que ostentam um conhecimento superficial e fragmentado, usando-o para se promover e menosprezar os outros, em vez de aplicá-lo de forma útil e genuína.

03 – Que elementos do soneto evidenciam a crítica ao personagem?

      Vários elementos evidenciam a crítica:

      "Escassa fama": já no primeiro verso, o poeta indica que o personagem não é reconhecido por sua sabedoria, mas sim por sua pretensão.

      "Arranha o persiano, arranha o mouro": a repetição do verbo "arranhar" sugere que o conhecimento do personagem é apenas superficial e incompleto.

      "Sabe que Deus em turco Alá se chama": o verso destaca a erudição pedante do personagem, que se preocupa com detalhes triviais em vez de buscar um conhecimento mais profundo.

      "Para papaguear saiu do mato": a metáfora do papagaio reforça a ideia de que o personagem apenas repete o que ouve, sem compreender o significado.

      "Abocanha talentos, que não goza": o personagem se apropria de ideias e conhecimentos que não são seus, sem realmente compreendê-los ou utilizá-los de forma produtiva.

      "É mono, e prega unhadas como gato": a comparação com um macaco que imita os outros e com um gato que ataca sem motivo revela a natureza pretensiosa e agressiva do personagem.

      "É nada em verso, quase nada em prosa": o verso final resume a inutilidade do conhecimento do personagem, que não se traduz em nenhuma produção intelectual relevante.

04 – Qual é a forma poética do texto e quais são suas características?

      O texto é um soneto, uma forma poética composta por 14 versos, geralmente em decassílabos, divididos em dois quartetos (estrofes de quatro versos) e dois tercetos (estrofes de três versos). O soneto possui rimas ricas e segue um esquema métrico e rítmico específico. No caso do soneto em questão, o autor explora a descrição do personagem e a crítica à sua pretensão, utilizando recursos poéticos como metáforas, comparações e adjetivações expressivas.

05 – Quem é Tomé Barbosa, mencionado no último verso?

      Tomé Barbosa é um personagem histórico, um advogado e poeta português do século XVIII, conhecido por sua vaidade e erudição superficial. Bocage utiliza a figura de Tomé Barbosa como exemplo do tipo de "sabichão" que ele critica no soneto.

 

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

SONETO: EU DELIRO, GERTRÚRIA, EU DESESPERO - MANOEL BOCAGE - COM GABARITO

 Soneto: Eu Deliro, Gertrúria, eu Desespero

              Manoel Bocage

Eu deliro, Gertrúria, eu desespero
No inferno de suspeitas e temores.
Eu da morte as angústias e os horrores
Por mil vezes sem morrer tolero.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsGgkawzDCTcii7Qe5oh1FyfYYg1oxY7I6K7gwqZsJrz3wfnTNBVh0GtpDIZL9y28tEyTmPoX93kjXcUTT2n9lhjjTkh8L0z7qGpqmFjp9iJOE699x6tbJfhHSndpHCBeLVbzKod1DjAjFlD9GC9jSlMqEcRm0_oPZPq0jGQf_waV7dOj8W7TRu9fZmqg/s1600/BOCAGE.jpg



Pelo Céu, por teus olhos te assevero
Que ferve esta alma em cândidos amores;
Longe o prazer de ilícitos favores!
Quero o teu coração, mais nada quero.

Ah! não sejas também qual é comigo
A cega divindade, a Sorte dura.
A vária Deusa, que me nega abrigo!

Tudo perdi: mas valha-me a ternura
Amor me valha, e pague-me contigo
Os roubos que me faz a má ventura.

BOCAGE, M. M. Barbosa du. Sonetos. Lisboa: Livraria Bertrand, s/d.

Fonte: Português – José De Nicola – Ensino médio – Volume 1 – 1ª edição, São Paulo, 2009. Editora Scipione. p. 385.

Entendendo o soneto:

01 – Qual a principal emoção expressa pelo eu lírico nesse soneto?

      A principal emoção expressa pelo eu lírico é a angústia amorosa. O poeta se encontra em um estado de sofrimento intenso, marcado pela incerteza, pelo medo e pela desesperança em relação ao amor que sente por Gertrúria.

02 – Como o eu lírico descreve o estado emocional em que se encontra?

      O eu lírico descreve seu estado emocional como um verdadeiro inferno. Ele se sente atormentado por suspeitas e temores, e a ideia da morte ronda seus pensamentos. A repetição de "eu deliro" e "eu desespero" intensifica a ideia de um sofrimento profundo e quase insustentável.

03 – Qual a importância da figura de Gertrúria no poema?

      Gertrúria é a figura central do poema, a musa inspiradora do sofrimento do eu lírico. Ela é idealizada como um ser celestial, mas ao mesmo tempo inalcançável. A amada é vista como a causa e o objeto do amor do poeta, e sua presença ausente intensifica a dor do amante.

04 – Que tipo de amor o eu lírico expressa por Gertrúria?

      O amor expresso pelo eu lírico é um amor passional e idealizado. Ele se declara apaixonado de forma intensa e fervorosa, buscando a pureza e a sinceridade nos sentimentos de Gertrúria. O poeta rejeita os "ilícitos favores" e deseja apenas o coração da amada.

05 – Qual a relação entre o sofrimento amoroso e a figura da Fortuna no poema?

      O sofrimento amoroso do eu lírico é atribuído à Fortuna, personificada como uma deusa cega e cruel. A Fortuna é vista como a responsável por negar o amor ao poeta, roubando sua felicidade e condenando-o à infelicidade. O amor, por sua vez, é visto como a única força capaz de compensar as perdas causadas pela má sorte.

 




 

SONETO: RECREIOS CAMPESTRES NA COMPANHIA DE MARÍLIA - BOCAGE - COM GABARITO

 Soneto: Recreios campestres na companhia de Marília

             Bocage

Olha, Marília, as flautas dos pastores
Que bem que soam, como estão cadentes!
Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes
Os Zéfiros brincar por entre as flores?

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBwSTDkHSJct6yLpbhyphenhyphenLJE93t3kGCgz82W5wqB6295QZ2PleITHFZGTWQZ5nGJl1MTB4sZ16kGgmKFi_IEnYSj0_EEZ5hT-wdrkZDpIYaYE-Ghl2B_R8v60Lsb5xiTtHwhC1nctScQoL886_Ii-nJnIvpJA9ZR2e_P31yysSV_4Kdlc-NTqBIJ0OmqbXA/s320/BOCAGE.jpg 
Marília, as flautas dos pastores
Vê como ali beijando-se os Amores

Incitam nossos ósculos ardentes!
Ei-las de planta em planta as inocentes,
As vagas borboletas de mil cores!

Naquele arbusto o rouxinol suspira,
Ora nas folhas a abelhinha para,
Ora nos ares sussurrando gira:

Que alegre campo! Que manhã tão clara!
Mas ah! Tudo o que vês, se eu te não vira,
Mais tristeza que a morte me causara.

BOCAGE. Obras de Bocage. Porto: Lello & Irmão, 1968. p. 152.

Fonte: Português – José De Nicola – Ensino médio – Volume 1 – 1ª edição, São Paulo, 2009. Editora Scipione. p. 386.

Entendendo o soneto:

01 – Qual a principal temática explorada por Bocage nesse soneto?

      A principal temática é a celebração da natureza e do amor em um cenário bucólico. O poeta convida sua amada Marília a apreciar a beleza do campo, dos animais e das flores, tudo isso enquanto expressa seus sentimentos apaixonados.

02 – Que elementos da natureza são descritos no soneto e qual o efeito que eles causam no eu lírico?

      Bocage descreve diversos elementos da natureza, como as flautas dos pastores, o rio Tejo, os Zéfiros (ventos suaves), as flores, borboletas, o rouxinol e as abelhas. Esses elementos evocam sensações de prazer, alegria e leveza no eu lírico, que se sente em harmonia com o ambiente natural.

03 – Qual o papel de Marília no poema?

      Marília é a destinatária do poema e a companheira do eu lírico. Ela é convidada a apreciar a beleza da natureza ao lado do poeta, e sua presença intensifica a felicidade e o prazer do momento. A figura de Marília serve como um catalisador para a expressão dos sentimentos amorosos do eu lírico.

04 – Qual a importância do contraste entre a beleza da natureza e o sentimento expresso nos últimos versos?

      O contraste entre a beleza da natureza e a tristeza expressa nos últimos versos enfatiza a dependência emocional do eu lírico em relação a Marília. A beleza do campo só tem sentido para ele quando compartilhada com a amada. A ausência de Marília transformaria a natureza em algo triste e sem graça.

05 – Que características do Arcadismo podem ser identificadas nesse soneto?

      O soneto apresenta diversas características do Arcadismo, como:

·        A valorização da natureza e da vida simples no campo;

·        A busca pela beleza e pela harmonia;

·        O uso de elementos da mitologia clássica (Zéfiros);

·        A expressão de sentimentos amorosos em um contexto bucólico;

·        A presença de um eu lírico que se identifica com a natureza.

 

 

SONETO: MEU SER EVAPOREI NA LIDA INSANA - M.M.BARBOSA DU BOCAGE - COM GABARITO

 Soneto: Meu ser evaporei na lida insana

             M. M. Barbosa du Bocage

Meu ser evaporei na lida insana
Do tropel de paixões, que me arrastava.
Ah! Cego eu cria, ah! mísero eu sonhava
Em mim quase imortal a essência humana.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMEU_JvcdWl3MRYrive6sz0ox9YBXpn15XMvgRa3NJejOvzOXFxiudYUO9gwkX11Mj0bNbf5FWlud8sBEokzPoJmqNGrGswOkrKG9T2wut7kjCFxJKHGBbdCxodac_YhhlGHWqhESD-WIMRkHCz3fc-ZhDbg7W78lAJSsyKWtNPU3LFTV1H89quGJUzGg/s320/BOCAGE.jpg


De que inúmeros sóis a mente ufana
Existência falaz me não dourava!
Mas eis sucumbe a Natureza escrava
Ao mal, que a vida em sua origem dana.

Prazeres, sócios meus e meus tiranos!
Esta alma, que sedenta em si não coube,
No abismo vos sumiu dos desenganos.

Deus, oh Deus!… Quando a morte a luz me roube,
Ganhe num momento o que perderam anos,
Saiba morrer o que viver não soube.

BOCAGE, M. M. Barbosa du. Sonetos. Lisboa: Livraria Bertrand, s/d.

Fonte: Português – José De Nicola – Ensino médio – Volume 1 – 1ª edição, São Paulo, 2009. Editora Scipione. p. 384.

Entendendo o soneto:

01 – Qual a principal temática abordada por Bocage nesse soneto?

      O soneto de Bocage explora a efemeridade da vida, a luta contra as paixões e o arrependimento diante da morte. O eu lírico reflete sobre a vaidade das ambições mundanas e a busca incessante por prazeres que, no final, se revelam ilusórios.

02 – Que figura de linguagem é predominante no soneto? E qual o seu efeito?

      A metáfora é a figura de linguagem mais evidente no soneto. Bocage utiliza diversas metáforas para expressar seus sentimentos e ideias, como "Meu ser evaporei na lida insana", comparando sua vida ao vapor que se dissipa. O efeito dessas metáforas é intensificar a expressão dos sentimentos do eu lírico e criar imagens mais vívidas para o leitor.

03 – Qual a importância da natureza no contexto do soneto?

      A natureza é representada como uma força poderosa e implacável que subjuga o homem. A "Natureza escrava" simboliza a condição humana, subjugada pelas paixões e pelos males da vida. A natureza, portanto, representa um contraponto à vaidade humana e à busca por imortalidade.

04 – Qual o papel da religião no soneto?

      A religião aparece no soneto como uma busca por consolo e salvação diante da morte. O eu lírico invoca Deus, expressando um desejo de redenção e de que, após a morte, possa compensar os erros cometidos durante a vida.

05 – Qual o tom geral do soneto? E como ele se relaciona com a temática abordada?

      O tom geral do soneto é melancólico e reflexivo. O eu lírico demonstra arrependimento pelas escolhas feitas e pela vida levada, expressando um sentimento de angústia diante da finitude da existência. Esse tom melancólico reforça a temática da efemeridade da vida e da necessidade de refletir sobre as nossas ações.

 

 

terça-feira, 7 de maio de 2024

POESIA:PALACIANA "GLOSA" - MANUEL MARIA DE BARBOSA DU BOCAGE - COM GABARITO

 POESIA: PALACIANA “GLOSA”

               Manuel Maria de Barbosa du Bocage

MOTE

Almas, vidas, pensamentos.

GLOSA

Calções, polainas, sapatos,
Percevejos, pulgas, piolhos,
Azeites, vinagres, molhos,
Tigelas, pires e pratos:
Cadelas, galgos e gatos,
Pauladas, dores, tormentos,
Burros, cavalos, jumentos,
Naus, navios, caravelas,
Corações, tripas, moelas,
Almas, vidas, pensamentos!

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLm4qlGEosKk0M-Iau_vcy6gskOcJ5xL-3pXVOFj9Ab__60RMFuXIrWqug0MH7lNKBDu0aGS4NJFRge_CpmsJn1lvhZCWsA5dSUa4AMsDqPR4G_uqKhZFQpeqFtFPIzQm5ExHEookpEqW-_IfcPhv_731htRQ5UvuTBDV9aM2rXo84krDZhsg6dF7_LRE/s320/ALMAS.jpg


Manuel Maria Barbosa du Bocage. In: LAJOLO, Marisa (Seleção de textos, notas, estudos biográficos e críticos). Bocage. 3. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1990. p. 88.

Fonte: Língua Portuguesa. Se liga na língua – Literatura – Produção de texto – Linguagem. Wilton Ormundo / Cristiane Siniscalchi. 1 Ensino Médio. Ed. Moderna. 1ª edição. São Paulo, 2016. p. 119-120.

Entendendo a poesia:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo.

·        Mote: motivo prévio, tema inicial composto de poucos versos. Pode ser uma cantiga popular, um poema, um provérbio, um trocadilho ou mesmo uma criação original do próprio poeta.

·        Glosa: estrofe que retoma e desenvolve o mote.

·        Galgos: cães muito ágeis, de pernas compridas e abdômen estreito.

02 – Embora a poesia de Bocage seja composta de palavras muito diferentes, há nele uma coerência interna. Observe atentamente cada um dos versos e explique que tipo de relação pode ser estabelecida entre das palavras que os compõem e entre eles.

      As três palavras que compõem o mote da poesia – “Almas, vidas, pensamentos” – são interpretadas por Bocage como pertencentes ao mesmo campo semântico. Dessa forma, ele desenvolve uma glosa composta de nove versos novos, estruturados em três palavras de mesmo campo semântico, para dar continuidade ao esquema proposto no mote. Disso decorre a coerência textual.

03 – Baseando-se nas definições de Mote e Glosa, você defenderia que a poesia de Bocage segue o padrão dos poemas medievais, ou seja, os versos que compõem a glosa retomam e desenvolvem um mote (motivo, tema)? Justifique.

      Não, na poesia de Bocage o mote não é propriamente desenvolvido, Ele serve apenas de inspiração formal para que o poeta escreva a glosa.

04 – O que é a estrutura principal desta poesia?

      A poesia "Glosa" é uma composição estruturada como uma lista de palavras em forma de verso, organizada em rima.

05 – Quais elementos cotidianos são mencionados na lista de palavras?

      A poesia faz uma enumeração de objetos e seres cotidianos, como calções, polainas, sapatos, percevejos, pulgas, piolhos, azeites, vinagres, molhos, tigelas, pires, pratos, cadelas, galgos, gatos, pauladas, dores, tormentos, burros, cavalos, jumentos, naus, navios, caravelas, corações, tripas, moelas.

06 – Qual é a intenção do autor ao listar esses objetos e seres?

      O autor parece fazer uma reflexão sobre a diversidade da existência e a complexidade do mundo através da enumeração caótica de elementos mundanos e vivos.

07 – O que a poesia sugere sobre a natureza da vida e do pensamento?

      A poesia sugere uma visão da vida como uma sucessão caótica de elementos e seres diversos, refletindo a complexidade e a diversidade da experiência humana e da mente.

08 – Como os versos finais ("Almas, vidas, pensamentos!") resumem o tema geral da poesia?

      Os versos finais enfatizam a profundidade e a essência da vida humana, apontando para a interioridade dos seres por trás da multiplicidade de formas e experiências enumeradas ao longo da poesia.