Soneto: Já da morte o palor me cobre o rosto
Álvares
de Azevedo
Já da morte o palor me cobre o rosto,
Nos lábios meus o alento desfalece,
Surda agonia o coração fenece,
E devora meu ser mortal desgosto!

Do leito embalde no macio encosto
Tento o sono reter!… já esmorece
O corpo exausto que o repouso esquece…
Eis o estado em que a mágoa me tem posto!
O adeus, o teu adeus, minha saudade,
Fazem que insano do viver me prive
E tenha os olhos meus na escuridade.
Dá-me a esperança com que o ser mantive!
Volve ao amante os olhos por piedade,
Olhos por quem viveu quem já não vive!
AZEVEDO, A. Obra
completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.
Fonte: Livro –
Português: Linguagens, 2ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja,
Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p.
120-121.
Entendendo o soneto:
01 – Qual o estado físico e
emocional do eu lírico descrito nos quatro primeiros versos do soneto?
O eu lírico
descreve um estado de agonia e proximidade da morte. Fisicamente, seu rosto
está pálido ("palor"), seu alento está enfraquecendo
("desfalece"), e seu coração está em agonia ("surda agonia o
coração fenece"). Emocionalmente, ele está consumido por um desgosto
mortal ("devora meu ser mortal desgosto").
02 – Nos tercetos iniciais
(versos 5-8), qual a dificuldade que o eu lírico enfrenta em seu leito e qual a
causa de seu estado?
No leito, o eu
lírico tenta em vão encontrar o sono ("Do leito embalde no macio encosto /
Tento o sono reter!…"). Seu corpo está exausto e não consegue repousar
("O corpo exausto que o repouso esquece…"). A causa desse estado é a
mágoa ("Eis o estado em que a mágoa me tem posto!").
03 – Qual a influência do
"adeus" e da "saudade" no estado do eu lírico, conforme
expresso nos tercetos seguintes (versos 9-11)?
O
"adeus" e a "saudade" (provavelmente de um ser amado) têm
um impacto profundo no eu lírico, a ponto de fazê-lo desejar a morte
("insano do viver me prive") e ter seus olhos voltados para a
escuridão ("E tenha os olhos meus na escuridade").
04 – Qual o pedido desesperado
que o eu lírico faz nos três versos finais do soneto?
O eu lírico faz
um pedido desesperado por esperança ("Dá-me a esperança com que o ser
mantive!") e implora à amada para que volte a olhá-lo por piedade
("Volve ao amante os olhos por piedade"), lembrando que ele viveu por
causa desses olhos e agora, à beira da morte, ainda anseia por eles.
05 – Identifique elementos
característicos da segunda geração do Romantismo (Ultra-Romantismo ou
Byronismo) presentes neste soneto.
Vários elementos
do Ultra-Romantismo são evidentes no soneto:
Obscuridade
e Morte: A temática da morte iminente e a descrição sombria do estado
físico e emocional do eu lírico.
Pessimismo
e Desespero: O sentimento de desgosto mortal e o desejo de abandonar a
vida.
Idealização
do Amor Sofrido: A intensidade da saudade e o impacto devastador da
ausência da amada.
Subjetivismo
e Egocentrismo: O foco total nos sentimentos e na experiência individual do
eu lírico em seu sofrimento.
Linguagem
Exacerbada: O uso de expressões fortes como "palor me cobre o
rosto", "surda agonia", "mortal desgosto" e
"insano do viver me prive".
Apelo
à Piedade: O pedido desesperado por compaixão da amada, um tema recorrente
na poesia ultra-romântica.