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sábado, 27 de janeiro de 2024

SONETO: SOLEMNIA VERBA - ANTERO DE QUENTAL - COM GABARITO

 Soneto: Solemnia verba

        Antero de Quental

     Disse ao meu coração: «Olha por quantos
     Caminhos vãos andámos! Considera
     Agora, desta altura fria e austera,
     Os ermos que regaram nossos prantos...
     

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhykWkoWN_84tcQWw_nFOKno8YOIi7SAKGZDTrBATfJoqjLkCY3NDaFYhCn__Ht94tde5EWkiiAL5zaIRQlf_Aw76q6t_W_xtUmqIwEoj-9N0mL54m7iEcmJekyx9k6cuc31QjAkROBzRuJjyQYiUIVwmxCQEhQcwqjUsWwGDUBL0NBWfR7sfs_ijczZ58/s1600/CORA%C3%87%C3%83O.jpg


     Pó e cinzas, onde houve flor e encantos!
     E noite, onde foi luz de Primavera!
     Olha a teus pés o Mundo e desespera,
     Semeador de sombras e quebrantos!»
     
     Porém o coração, feito valente
     Na escola da tortura repetida, 
     E no uso do penar tornado crente,
     
     Respondeu: «Desta altura vejo o Amor! 
     Viver não foi em vão, se é isto a vida, 
     Nem foi de mais o desengano e a dor.»

     Entendendo o texto

01. Qual é a reflexão central apresentada no soneto "Solemnia verba" de Antero de Quental?

         A reflexão central é sobre a experiência da vida, marcada por caminhos vãos, desilusões, e a contemplação das consequências dessas experiências.

02. Quem é o interlocutor do poema e o que ele diz ao coração?

         O interlocutor do poema é o eu lírico, que se dirige ao próprio coração. Ele diz ao coração para observar os caminhos percorridos, as desilusões enfrentadas e a desolação resultante.

03. Como o eu lírico descreve a atual situação, a partir da "altura fria e austera"?

         O eu lírico descreve a atual situação como erma e austera, destacando os lugares que foram regados pelos prantos, transformados em pó e cinzas, onde antes havia flores e encantos.

04. Qual é a resposta do coração diante da perspectiva desoladora apresentada pelo eu lírico?

O coração responde de maneira valente, evidenciando que, mesmo diante das desilusões e do sofrimento, a vida não foi em vão. O coração destaca que vê o Amor dessa altura, sugerindo uma perspectiva mais positiva.

05. Que elementos poéticos, como metáforas ou imagens, são utilizados para expressar a condição do eu lírico?

         O poema utiliza metáforas como "caminhos vãos," "erros que regaram nossos prantos," e "pó e cinzas onde houve flor e encantos" para expressar a condição do eu lírico, destacando a jornada marcada por desilusões e transformações.

 

 

 

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

POESIA: SONETO - MÁRIO DE ANDRADE - COM GABARITO

 Poesia: Soneto

              Mário de Andrade

Tanta lágrima hei já, senhora minha,
Derramado dos olhos sofredores,
Que se foram com elas meus ardores
E ânsia de amar que de teus dons me vinha.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjiUDsnAwUpsr9gQkCVPbeksVg4TA3LaqMpyC5Ao6z3AgBYYqX7N1rqCvO_UD1tv3ZCOpcnT2k4zEw7dmeuy88bpLhYG2F6yUrWqsAlwItAbnfKAnpxEDBvhfd7VBf2XiXDubtMCc8IiHGPo5ajPAAH_YY5ST2i6ZTXW6tXd-tA0wohvEDSNXKQPoFwpdI/s1600/SENHORA.jpg



Todo o pranto chorei. Todo o que eu tinha,
caiu-me ao peito cheio de esplendores,
E em vez de aí formar terras melhores,
Tornou minha alma sáfara e maninha.

E foi tal o chorar por mim vertido,
E tais as dores, tantas as tristezas
Que me arrancou do peito vossa graça,

Que de muito perder, tudo hei perdido!
Não vejo mais surpresas nas surpresas
E nem chorar sei mais, por mor desgraça!

 ANDRADE, Mário de. Poesias completas: Volume 2, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014.

Entendendo a poesia:

01 – Qual é o tema principal deste soneto de Mário de Andrade?

      O tema principal deste soneto é a perda de emoções e sentimentos devido a um sofrimento intenso.

02 – Como o eu lírico descreve a intensidade de seu sofrimento?

      O eu lírico descreve ter derramado muitas lágrimas, que levaram embora seus ardores e ânsia de amar, deixando-o com uma alma desgastada.

03 – O que aconteceu com as emoções e os dons que o eu lírico tinha antes de chorar?

      As emoções e dons que o eu lírico tinha antes de chorar caíram em seu peito cheio de esplendores e, em vez de criar terras melhores, deixaram sua alma desolada.

04 – Como o eu lírico caracteriza o impacto do sofrimento em sua vida?

      O eu lírico descreve o impacto do sofrimento como tendo arrancado sua graça, resultando em uma perda significativa em sua vida.

05 – Qual é a atitude do eu lírico em relação ao choro no final do soneto?

      No final do soneto, o eu lírico afirma que não consegue mais chorar, indicando que a tristeza e o sofrimento foram tão intensos que ele perdeu a capacidade de expressar suas emoções dessa maneira.

 

 

domingo, 26 de junho de 2022

SONETO: CLEPSIDRA - CAMILO PESSANHA - COM GABARITO

 Soneto: Clepsidra    

              Camilo Pessanha

Imagens que passais pela retina

Dos meus olhos, porque não vos fixais?

Que passais como a água cristalina

Por uma fonte para nunca mais!...

 

Ou para o lago escuro onde termina

Vosso curso, silente de juncais,

E o vago medo angustioso domina, ­

Porque ides sem mim, não me levais?

 

Sem vós o que são os meus olhos abertos? ­

-- O espelho inútil, meus olhos pagãos!

Aridez de sucessivos desertos...

 

Fica sequer, sombra das minhas mãos,

Flexão casual de meus dedos incertos, ­

-- Estranha sombra em movimentos vãos.

PESSANHA, Camilo. Clepsidra. Instituto português do livro e da leitura. Biblioteca Ulisseia de autores portugueses, p. 59, s/d.

Fonte da imagem - https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_DQsQwzQAOjYs_HuU03EruU9jK3Z5NdRAWTIM0zhx2PFx5UFI-rYbe6tJiM7ZRNp1kDMsKKtIfWBRFaiKych34cA_NHf8en0c5hwIF51RdSSsx85oPHcKunZLap_eRjbJXDUhank_msy-7yV5w75N7hKme-qImfKSgaQU_iGMrJJnll2CKA_34Hzs/s1600/LIRIOS.jpg

MONET, Claude. Water Lilies (lírios de água). 1906. 1 óleo sobre tela. The Art Institute of Chicago, Chicago.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 253-4.

Entendendo o soneto e a tela:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Silente: calado, silencioso.

·        Juncais: aglomerados de juncos, plantas.

02 – O tema do olhar é bastante explorado no poema. Selecione elementos do poema que comprovem essa afirmação.

      Há um uso de vocábulos que fazem referência direta ou indireta ao tema do olhar, como imagens retina e a reiteração do termo “olhos”.

03 – Na primeira estrofe do poema de Camilo Pessanha, há uma antítese que faz referência ao tema do poema. Identifique a antítese e o tema do poema.

      Passais/fixais. O tema do poema é a transitoriedade da vida, a passagem do tempo. Esse tema vem representado na antítese que mostra que tudo passa, nada se fixa por muito tempo, assim como ocorre com as imagens que o eu lírico vê.

04 – Ao longo do poema, o eu lírico dialoga com as imagens que vê. Que imagens são essas?

      São imagens que fazem referência à água – água cristalina, fonte, lago, curso (de rio, de água).

05 – Que relação é possível estabelecer entre o poema e a tela de Monet?

      Ambos usam a imagem da água em suas obras. Além disso, ambos trabalham a temática do olhar. No soneto, o eu lírico reflete sobre as imagens que vê, enquanto a tela de Monet expõe um olhar sobre a natureza.

06 – O fato de o poema trabalhar com a descrição de imagens contradiz a ideia simbolista de privilegiar a subjetividade e deixar a objetividade em segundo plano? Justifique sua resposta.

      Embora o poema trabalhe com a descrição de imagens, não há contradição, pois essas imagens são descritas de modo subjetivo. O uso das imagens e as perguntas que o eu lírico dirige à natureza visam ao questionamento da passagem do tempo, da vida, e não a uma representação fiel daquilo que é observado.

07 – Interprete, no contexto do poema, o sentido do verso que encerra a segunda estrofe: “—Porque ides sem mim, não me levais?” Em que tema comum ao Simbolismo esse verso se encaixa?

      O sentido do verso é a resignação do eu lírico em relação à passagem do tempo. Já que ela é inevitável, ele deseja a morte, ser levado com o curso das águas. Esse verso se encaixa na temática simbolista da “dor de existir” e do pessimismo. A morte é condição para a transcendência, para a libertação do espírito.

08 – A musicalidade é apontada como uma das características marcantes da poesia de Camilo Pessanha. No poema, os recursos usados pelo poeta para construir essa musicalidade vêm diretamente relacionados aos temas e símbolos trabalhados por ele. Identifique, no poema, exemplos de cada um dos recursos listados a seguir:

·        Rimas que confirmam o tom lamentoso do poema: fixais/mais/juncais/levais. Todas elas têm dentro de si a palavra “ais”, ou seja, fazem referência à dor.

·        Uso da aliteração do fonema /s/ para representar o fluir contínuo das águas: imagenS, paSSaiS, doS, meuS, olhoS, voS, fixaiS, criStalina, maiS, eScuro, voSSo, curSo, Silente, juncaiS, anguStioso, ideS, Sem, levaiS, vóS, São, pagãoS, arideZ, etc.

·        Palavras que contêm som abertos para representar o fluir da vida: Imagens, passais, fixais, água, mais, cristalina, levais.

·        Palavras que contêm sons fechados para representar o temor da morte: Escuro, curso, medo, angustioso, pagãos, sucessivos, sombra, vãos.

09 – O impressionismo foi um movimento artístico contemporâneo do Simbolismo. Na pintura impressionista, a pincelada solta busca representar o momento, a impressão da luz sobre a realidade apreendida pelo pintor num momento específico. Pintores como Claude Monet representaram muitas vezes suas impressões sobre a natureza a partir de símbolos. Os “lírios de água” citados no título são símbolos usuais da pureza, da inocência. A partir dessas informações responda: que atmosfera sobressai da tela de Monet?

      Uma atmosfera de tranquilidade, de encontro com a natureza, admiração por ela.

10 – A partir de sua análise do poema e da tela de Monet você diria que ocorre complementação ou contradição de ideias entre eles? Justifique sua resposta.

      Tanto se pode afirmar que há convergência, pois ambos veem na natureza o símbolo da passagem do tempo, quanto é possível afirmar que há contradição, pois o poema apresentaria uma visão pessimista sobre a passagem do tempo que a pintura não parece representar. Vale lembrar que os lírios costumam simbolizar a pureza, a inocência, a paz.

 

SONETO: OFICINA IRRITADA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 Soneto: Oficina irritada

           Carlos Drummond de Andrade

Eu quero compor um soneto duro
como poeta algum ousara escrever.
Eu quero pintar um soneto escuro,
seco, abafado, difícil de ler.

Quero que meu soneto, no futuro,
não desperte em ninguém nenhum prazer.
E que, no seu maligno ar imaturo,
ao mesmo tempo saiba ser, não ser.

Esse meu verbo antipático e impuro
há de pungir, há de fazer sofrer,
tendão de Vênus sob o pedicuro.

Ninguém o lembrará: tiro no muro,
cão mijando no caos, enquanto Arcturo,
claro enigma, se deixa surpreender.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia poética (organizada pelo autor). Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1983. p. 178.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 242.

Entendendo o soneto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Pungir: ferir, afligir, torturar, atormentar.

·        Vênus: deusa latina da beleza e do amor.

·        Pedicuro: profissional que se dedica a cuidar dos pés.

·        Arcturo: uma das estelas mais brilhantes da constelação da Ursa Maior.

02 – Releia a primeira estrofe do texto. Quais as características do soneto que o sujeito poético afirma que quer escrever?

     Ele quer escrever um soneto “duro”, “escuro”, “seco”, “abafado” e “difícil de ler”.

03 – Tendo em vista as ideias presentes no texto, responda: a que o “ar imaturo” do soneto pretendido pelo sujeito poético do texto pode ser contraposto?

      Pode ser contraposto às ideias de equilíbrio e perfeição formal defendidas pelos parnasianos. Nesse sentido, a imaturidade do soneto descrito no texto de Drummond se afastaria do ideal parnasiano de “obra acabada”.

04 – Na última estrofe do texto, duas imagens inusitadas são usadas para metaforizar o soneto pretendido pelo sujeito poético: “Tiro no muro” e “cão mijando no caos”. Que sentidos podem ser atribuídos a elas?

      São imagens que condenam o desencanto e a irritação demonstrados pelo sujeito poético ao longo do texto. Essas imagens insólitas sugerem a transitoriedade e a precariedade da poesia.

05 – Como pode ser entendida a referência a “Arcturo”, um “claro enigma” que se deixaria surpreender na leitura do soneto?

      Como uma surpresa luminosa, uma revelação positiva, ainda que enigmática, capaz de conferir algum sentido à experiência poética. Assim, embora a literatura seja “antipática” e “impura”, possui algo de surpreendente para oferecer ao leitor.

06 – Considerando que o texto foi escrito por Drummond, poeta adepto das inovações modernistas, interprete o seu título. Por que os termos “oficina” e “irritada” foram escolhidos para nomear o soneto?

      O termo “oficina” foi escolhido provavelmente numa referência ao trabalho artesanal do poeta parnasiano, que trabalhava a palavra como se fosse um joalheiro. E o termo “irritada” diz respeito ao estado de espírito do poeta modernista, que rejeita os princípios parnasianos.

07 – É possível afirmar que o soneto apresenta proposta diversa sobre o fazer poético. Que proposta seria essa?

      O texto apresenta uma proposta moderna – e irônica – de composição poética que desvincula poesia e fruição, defende o desarranjo e o desalinho da forma e aposta na exposição das contradições que caracterizam a vida do homem moderno.

 

 

SONETO: O PIOR DOS MALES - ALBERTO DE OLIVEIRA - COM GABARITO

Soneto: O Pior dos Males

           Alberto de Oliveira

Baixando à Terra, o cofre em que guardados
Vinham os Males, indiscreta abria
Pandora. E eis deles desencadeados
À luz, o negro bando aparecia.

O Ódio, a Inveja, a Vingança, a Hipocrisia,
Todos os Vícios, todos os Pecados
Dali voaram. E desde aquele dia
Os homens se fizeram desgraçados.

Mas a Esperança, do maldito cofre
Deixara-se ficar presa no fundo,
Que é última a ficar na angústia humana…

Por que não voou também? Para quem sofre
Ela é o pior dos males que há no mundo,
Pois dentre os males é o que mais engana.

Alberto de Oliveira. In: Roteiro da poesia brasileira: “Parnasianismo” (seleção e prefácio de Sânzio de Azevedo). São Paulo: Global, 2006. p. 23.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 238.

Entendendo o soneto:

01 – É possível afirmar que o soneto apresenta grande rigor formal? Justifique sua resposta.

      Sim. Todos os versos são decassílabos (possuem dez sílabas poéticas) e o esquema de rimas é ABAB; BABA; CDE; CDE.

02 – Explique o uso de letras maiúsculas para grafar alguns dos substantivos comuns presentes no soneto.

      As letras maiúsculas são usadas para grafar os seguintes substantivos comuns: Males, Ódio, Inveja, Vingança, Hipocrisia, Vícios, Pecados e Esperança. Elas são usadas para universalizar os sentidos dos termos, sugerindo que eles são comuns a toda a humanidade.

03 – Segundo o poema, qual seria o “pior dos males"? Essa perspectiva expressa pelo poema parnasiano converge com a expressa pelo mito grego?

      Segundo o texto, o “pior dos males" seria a Esperança, porque é o que mais engana os homens. Essa perspectiva diverge do mito tradicional, que aponta a esperança como um consolo para a humanidade, sujeita a tantos males.

 

domingo, 22 de maio de 2022

SONETO AREJADO - GLAUCO MATTOSO - COM GABARITO

 Soneto arejado

    Glauco Mattoso


Acabo de no rádio ouvir que, a sós,
cachorros filosofam e, segundo
pesquisas, formam, como sobre o mundo,
ideias desdenhosas sobre nós,

Humanos pobretões, que mesmo após
na técnica avançar tão longe e fundo,
capazes de distâncias num segundo,
ainda engatinhamos quanto à voz!

Latidos, sim, são fala inteligível,
sutil, sofisticada, e não fonema
grafado e articulado em baixo nível!

Uivar, grunhir, é música e poema!
Contudo, o ser humano é imprescindível
para os acompanhar... mas sob algema!

MATTOSO, Glauco. Animalesca escolha. Porto Alegre: Ameop. 2004.

Fonte: Livro – Viva Português 1° – Ensino médio – Língua portuguesa – 2ª edição 1ª impressão – São Paulo – 2014. p. 142-3.

Entendendo o poema:

01 – Identifique no soneto o número de sílabas poéticas de cada verso e o esquema de rimas.

      Os versos têm dez sílabas poéticas, ou seja, são decassílabos. Esquema de rimas: ABBA / ABBS / CDC / DCD.

02 – Copie no caderno a frase a seguir e complete-a. No poema, pode-se perceber, entre cães e seres humanos, uma relação de .....

a)   Amizade e companheirismo.

b)   Oposição e desconfiança.

c)   Medo e agressividade.

03 – Na vida real, nas relações entre pessoas e cães, quem domina é o ser humano. Sendo assim, explique o que acontece no poema.

      No poema, os cachorros é que dominam. Há uma inversão de papéis: os cães filosofam, formam ideias sobre nós e têm uma fala sofisticada; em vez de leva-los presos pela coleira, são os seres humanos que acompanham os cães sob algema.

04 – Praticamente todas as informações do poema reiteram a ideia de que os cães são superiores aos seres humanos. Confirme isso identificando no texto pelo menos três características atribuídas aos cães e três aos seres humanos.

      Sugestões: Os cães filosofam sobre os seres humanos; formam ideias desdenhosas sobre nós; seus latidos são fala inteligível, sutil, sofisticada; uivar e grunhir é música e poema. Os seres humanos são pobretões; são avançados na técnica, mas ainda engatinham quanto à voz; usam fonemas grafados e articulados em baixo nível; são imprescindíveis para acompanhar os cães, mas sob algema.

05 – Como você interpreta estes trechos?

a)   “Ainda engatinhamos quanto à voz!”.

Nós, seres humanos, ainda não nos comunicamos de forma eficiente.

b)   “Latidos, sim, são fala inteligível, / sutil, sofisticada, e não fonema / grafado e articulado em baixo nível!”.

A comunicação entre os cães é eficiente, elevada, enquanto a humana seria rústica.

06 – Sintetize a visão que o eu lírico tem dos seres humanos.

      Para o eu lírico, os seres humanos são seres que possuem sofisticação técnica, mas cuja comunicação é fraca, inadequada, de “baixo nível”.

07 – Segundo os dicionários, um dos sentidos de arejado é esclarecido, liberal, que aceita o novo, o não convencional. Aponte uma relação possível entre o conteúdo do soneto e seu título.

      O eu lírico apresenta uma visão não convencional da relação entre cães e humanos; estes seriam inferiores àqueles.

 

SONETO XXXII - GUILHERME DE ALMEIDA - MODERNISMO - COM GABARITO

 Soneto XXXII

            Guilherme de Almeida

Quando a chuva cessava e um vento fino
franzia a tarde tímida e lavada,
eu saía a brincar, pela calçada,
nos meus tempos felizes de menino.

Fazia, de papel, toda uma armada;
e, estendendo meu braço pequenino,
eu soltava os barquinhos, sem destino,
ao longo das sarjetas, na enxurrada...

Fiquei moço. E hoje sei, pensando neles,
que não são barcos de ouro os meus ideais:
são feitos de papel, são como aqueles,


Perfeitamente, exatamente iguais...
– Que os meus barquinhos, lá se foram eles!
Foram-se embora e não voltam mais!

Guilherme de Almeida. Disponível em: www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm? Infoid=6055&sid=186. Acesso em: 10 out. 2012.

Fonte: Livro – Viva Português 1° – Ensino médio – Língua portuguesa – 2ª edição 1ª impressão – São Paulo – 2014. p. 140-1.

Entendendo o poema:

01 – Lendo o “Soneto XXXII”, percebemos que, em relação ao conteúdo, ele poderia ser dividido em duas partes: uma representada pelas duas primeiras estrofes e outra pelas duas últimas.

a)   Do que trata cada parte do poema?

Na primeira, o eu lírico fala de seus tempos felizes de menino, quando fazia barquinhos de papel e os soltava pela enxurrada. Na segunda, o eu lírico já é moço, adulto, e compara seus ideais a barquinhos de papel, que vão com a enxurrada e não voltam mais.

b)   Que tempo verbal predomina em cada parte e qual a relação dele com o conteúdo do texto?

Na primeira parte, predomina o pretérito imperfeito do indicativo, empregado na descrição do passado do eu lírico. Na segunda parte, predominam o presente do indicativo na terceira estrofe (em que o eu lírico traz o assunto para o presente e constata a semelhança entre seus ideais e os barquinhos) e o pretérito perfeito do indicativo na última estrofe (quando ele compara a perda dos ideais à ida dos barquinhos). 

02 – Na primeira parte do texto, predominam as ideias de felicidade (“tempos felizes de menino”), de realização (“Fazia, de papel, toda uma armada”) e de confiança no futuro (“eu soltava os barquinhos, sem destino”). Que ideias predominam na segunda parte?

      Na segunda parte predominam as ideias de desilusão, de desencantamento (“lá se foram eles!”) e de esperança (“Foram-se embora e não voltaram mais!”).

03 – Transcreva no caderno as alternativas corretas.

a)   Na primeira parte do poema, as frases são mais longas e menos interrompidas pela pontuação.

b)   Na primeira parte, há vários pontos-finais no interior dos versos, o que favorece o suspense da descrição.

c)   A segunda parte traz mais frases curtas que a primeira e outros sinais de pontuação, além das vírgulas e das reticências.

d)   A leitura da primeira parte é mais fluida (fácil, fluente) que a da segunda.

e)   A extensão das frases e a pontuação contribuem para reforçar as ideias expressas em cada parte.

f)    Não se pode afirmar que exista relação entre a pontuação e as ideias expressas no poema.

04 – Esse poema, escrito na primeira metade do século XX, é comovente porque trata de uma questão comum a grande parte das pessoas: a oposição entre um momento de clara felicidade (muitas vezes localizado na infância) e um momento de perda dos ideais, dos sonhos.

a)   Na sua opinião, o que são ideais?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Cada sociedade, em cada época, tem seus ideais: hoje vemos a preponderância dos ideais individualistas e daqueles relacionados à aparência e ao consumo.

b)   Para o eu lírico do poema, a felicidade da infância e os ideais construídos nela seriam muito difíceis de alcançar na vida adulta. Você se identifica com esses pensamentos? O que pensa sobre seus sonhos de infância e seu futuro?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Peça aos alunos se seus sonhos mudaram ou se ainda desejam que aqueles velhos ideais se realizem.

c)   Hoje em dia é comum as pessoas prolongarem a adolescência, adiando o momento de ingressar no mercado de trabalho e sair da casa dos pais. Qual é sua opinião sobre essa atitude?

Resposta pessoal do aluno.

 

 

sexta-feira, 14 de maio de 2021

SONETO - GREGÓRIO DE MATOS - COM GABARITO

 SONETO – (Descreve o que era naquele tempo a cidade da Bahia)


   Gregório de Matos

A cada canto um grande conselheiro,

Que nos quer governar cabana e vinha;

Não sabem governar sua cozinha,

E podem governar o mundo inteiro.

 

Em cada porta um frequente olheiro,

Que a vida do vizinho e da vizinha

Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,

Para a levar à praça e ao terreiro.

 

Muitos mulatos desavergonhados,

Trazidos sob os pés os homens nobres1,

Posta nas palmas toda a picardia,

 

Estupendas usuras nos mercados,

Todos os que não furtam muito pobres:

E eis aqui a cidade da Bahia.

 

WISNIK, José Miguel (Org.). Poemas escolhidos de Gregório de Matos. São Paulo: Cultrix, 1989. p. 41.

1. Na visão de Gregório de Matos, os mulatos em ascensão subjugam com esperteza os verdadeiros "homens nobres" [nota de José Miguel Wisnik].

Fonte: Livro: Língua Portuguesa: linguagem e interação/ Faraco, Moura, Maruxo Jr. – 3.ed. São Paulo: Ática, 2016. p.150-1. 

Glossário:

cabana e vinha: significa casa e trabalho; desfeita.

picardia: pirraça; desfeita.

usura: desejo exacerbado de poder e riqueza; cobiça.

FONTE: Mauricio Pierro/Arquivo da editora

Entendendo o texto

1.Há uma ironia na primeira estrofe. Que ironia é essa?

A ironia repousa no fato de o eu lírico falar na grande quantidade de conselheiros, querendo dizer que não se tratava de conselheiros, mas de fofoqueiros.

2.O que você consegue entender do segundo verso da última estrofe?

O eu lírico afirma que só quem furta consegue sair da condição de muito pobre.

3. Qual é a caracterização da Bahia feita pelo poeta Gregório de Matos?

A descrição feita por Gregório de Matos é satírica, tem o objetivo de criticar a cidade da Bahia, e seu enunciador se coloca como um conhecedor das pessoas e dos costumes do local.

 

 

quinta-feira, 13 de maio de 2021

SONETO: A VALSA - CASIMIRO DE ABREU - COM GABARITO

 SONETO: A VALSA

     Casimiro de Abreu

Tu, ontem,

Na dança

Que cansa,

Voavas

Co'as faces

Em rosas

Formosas

De vivo,

Lascivo

Carmim;

Na valsa

Tão falsa,

Corrias,

Fugias,

Ardente,

Contente,

Tranquila,

Serena,

Sem pena

De mim!

Quem dera

Que sintas

As dores

De amores

Que louco

 

Senti!

Quem dera

Que sintas!...

- Não negues,

Não mintas...

- Eu vi!...

Valsavas:

- Teus belos

Cabelos,

Já soltos,

Revoltos,

Saltavam,

Voavam,

Brincavam

No colo

Que é meu;

E os olhos

Escuros

Tão puros,

Os olhos

Perjuros

Volvias,

Tremias,

Sorrias,

P'ra outro

 

Não eu!

Quem dera

Que sintas

As dores

De amores

Que louco

Senti!

Quem dera

Que sintas!...

- Não negues,

Não mintas...

- Eu vi!...

Meu Deus!

Eras bela

Donzela,

Valsando,

Sorrindo,

Fugindo,

Qual silfo

Risonho

Que em sonho

Nos vem!

Mas esse

Sorriso

Tão liso

 

Que tinhas

Nos lábios

De rosa,

Formosa,

Tu davas,

Mandavas

A quem?!

Quem dera

Que sintas

As dores

De amores

Que louco

Senti!

Quem dera

Que sintas!...

- Não negues,

Não mintas...

- Eu vi!...

Calado,

Sozinho,

Mesquinho,

Em zelos

Ardendo,

Eu vi-te

Correndo

 

Tão falsa

Na valsa

Veloz!

Eu triste

Vi tudo!

Mas mudo

Não tive

Nas galas

Das salas,

Nem falas,

Nem cantos,

Nem prantos,

Nem voz!

Quem dera

Que sintas

As dores

De amores

Que louco

Senti!

Quem dera

Que sintas!...

- Não negues

Não mintas...

- Eu vi!

Na valsa

 

Cansaste;

Ficaste

Prostada,

Turbada!

Pensavas,

Cismavas,

E estavas

Tão pálida

Então,

Qual pálida

Rosa,

Mimosa

No vale

Do vento

Cruento

Batida,

Caída

Sem vida,

No chão!

Quem dera

Que sintas

As dores

De amores

Que louco

Senti!

 

Quem dera

Que sintas!....

- Não negues

Não mintas,

- Eu vi!

ABREU, Casimiro de. A valsa. In: GONÇALVES, Magaly Trindade; THOMAS DE AQUINO, Zina. Antologia de antologias - 101 poetas brasileiros "revisitados". São Paulo: Musa, 1995. p. 228-230.

FONTE: Andrea Ebert/Arquivo da editora.

Fonte: Livro: Língua Portuguesa: linguagem e interação/ Faraco, Moura, Maruxo Jr. – 3.ed. São Paulo: Ática, 2016. p.127-128.

Entendendo o texto

1.   Os versos desse poema são bem curtos. Ao ler em voz alta o poema, que tipo de ritmo se pode perceber (rápido, lento, cadenciado)? Que sensação a leitura em voz alta desse poema provoca?

Provocam um ritmo rápido e cadenciado, que lembra a sonoridade e os movimentos de uma valsa.

2.   Que relação essa sensação pode ter, em sua opinião, com o sentido do poema e com a situação que ele procura descrever? Explique.

          Resposta pessoal.

3.   Explique o recurso que Casimiro de Abreu utilizou para representar sensorialmente o tema indicado no título do poema.

Utilizou o uso de uma cadência de palavras, que ao declamarmos a poesia somos levados pelo “ritmo ternário “do poema igual os passos de uma valsa ( 1,2,1,)

4.   O poeta  apresentou  seus versos com forma de quê?

         embalo das rimas,

         jogos de sons,

        repetições,

        frases curtas e diretas,

        pleonasmos.

5.   Como o poema está dividido?

          Possui 155 versos breves, com métrica dissilábica ( 2 ) e acento regular e divididos em estrofes combinadas de 25 versos cada uma.