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sexta-feira, 8 de julho de 2022

MÚSICA(ATIVIDADES): A FELICIDADE - VINÍCIUS DE MORAES/ANTÔNIO CARLOS JOBIM - COM GABARITO

 Música(Atividades): A FELICIDADE

                 Vinicius de Moraes, Antônio Carlos Jobim

Tristeza não tem fim
Felicidade sim

A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranquila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor

A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei ou de pirata ou jardineira
Pra tudo se acabar na quarta-feira

Tristeza não tem fim
Felicidade sim

A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar

A minha felicidade está sonhando
Nos olhos da minha namorada
É como esta noite, passando, passando
Em busca da madrugada
Falem baixo, por favor
Pra que ela acorde alegre com o dia
Oferecendo beijos de amor.

                            MORAES, Vinícius de. Disponível em: http://www.viniciusdemoraes.com.br. Acesso em: 3 fev. 2015.

Fonte: Livro Língua Portuguesa – Singular & Plural – 7° ano – Laura de Figueiredo – 2ª edição. São Paulo, 2015 – Moderna. p. 113-115.

Entendendo a música:

01 – O que você entendeu do texto? Do que a “voz que fala” está tratando?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: A voz fala sobre como entender a felicidade.

02 – No texto, a felicidade é comparada a quê?

      É comparada à gota de orvalho (1ª estrofe), à ilusão do carnaval; à pluma (3ª estrofe); e também a “esta noite” que passa em busca da madrugada.

03 – Há presença de rimas, na canção?

      Sim, apresenta a rima como recurso. Não há um esquema regular, em cada estrofe temos esquemas diferentes.

04 – Quanto ao uso de linguagem figurada que produz novos sentidos.

      Sim, usa a linguagem figurada: o texto faz uso de metáforas e comparações.

05 – Depois de ter conversado sobre alguns aspecto do texto, você diria que o texto é poético? Por quê?

      Sim. Porque o texto trabalha com o jogo de palavras, além da presença de rimas e organização em versos. Tratando-se de um texto poético.

06 – Você saberia dizer qual é a diferença entre a letra da canção e um poema? Justifique sua resposta.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: É difícil dizer, porque muitas vezes foi escrito próprio para a música e outra vez foi feito como poema, podendo ser transformado em música.

 

domingo, 12 de setembro de 2021

POEMA: O POETA APRENDIZ - VINICIUS DE MORAES - COM GABARITO

 Poema: O Poeta Aprendiz

             Vinicius de Moraes

Ele era um menino
Valente e caprino
Um pequeno infante
Sadio e grimpante
Anos tinha dez
E asas nos pés
Com chumbo e bodoque
Era plic e ploc
O olhar verde gaio
Parecia um raio
Para tangerina
Pião ou menina
Seu corpo moreno
Vivia correndo
Pulava no escuro
Não importa que muro
Saltava de anjo
Melhor que marmanjo
E dava o mergulho
Sem fazer barulho
Em bola de meia
Jogando de meia-direita ou de ponta
Passava da conta
De tanto driblar.

[...]

MORAES, Vinícius de. Livro de Letras. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 6º ano – Ensino Fundamental – IBEP 4ª Edição São Paulo 2015 p. 50-1.

Entendendo o poema:

01 – Leia os versos a seguir e preste atenção na palavra “caprino”:

        “Ele era um menino / Valente e caprino.”

a)   Leia agora a definição do dicionário para “caprino”.

Ca.pri.no s.m.pl. 1 nome genérico para cabras e bodes, ovelhas e carneiros, considerados como espécie; ovinos: É criador de caprinos. Adj. 2 relativo a cabra ou bode: carne caprina.

 CEGALLA, Domingos Paschoal. Dicionário escolar da língua portuguesa. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2013.

b)   O que fazia o menino para ser qualificado como “caprino”?

O menino vivia saltitando, pulando por todos os lados, brincando e correndo “sem parar”.

02 – Que outras características, além de caprino, são dadas ao menino no poema?

      O menino era valente, sadio e grimpante, tinha dez anos, parecia um raio, era moreno, vivia correndo e pulando.

03 – As expressões “asas nos pés” e “saltava de anjo” ressaltam que característica do menino?

      Sua agilidade.

04 – A descrição feita no poema leva o leitor a formar uma imagem do menino. Qual é ela?

      A maior parte das características expostas no texto traça o perfil de uma criança esperta, ativa.

05 – Releia: O olhar verde gaio
                     Parecia um raio
                     Para tangerina
                     Pião ou menina.”

Explique a comparação entre “olhar” e “raio” feita no poema.

      A comparação sugere que o olhar do menino tem o mesmo brilho, a mesma força, a mesma “rapidez” que um raio. O termo “verde-gaio” caracteriza o olhar do garoto como esperto, alegre e, neste caso, representa o próprio menino.

06 – Localize no poema as palavras que correspondem aos brinquedos e às brincadeiras do menino e transcreva-as.

      As palavras e expressões são: “bodoque”, “plic e ploc”, “pião”, “correndo”, “saltava”, “bola de meia”, “jogando” e “driblar”.

·        Que versos destacam a habilidade do menino com brinquedos?

“Era plic e ploc” / “E dava o mergulho / Sem fazer barulho / Em bola de meia / Jogando de meia-direita ou de ponta”.

07 – Copie o trecho do poema de que você mais gostou. Justifique sua escolha.

      Resposta pessoal do aluno.

08 – Escreva no caderno uma justificativa para o título do poema.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Para o garoto, a vida era poesia. Como um poeta se expressa das mais variadas maneiras com palavras e gosta do que faz, o menino também extravasa de mil maneiras o que ele curte.

quinta-feira, 25 de março de 2021

POEMA: O RIO - VINICÍUS DE MORAES - COM GABARITO

 POEMA: O RIO


Vinicius de Moraes

 

Uma gota de chuva

A mais, e o ventre grávido

Estremeceu, da terra.

Através de antigos


Sedimentos, rochas

Ignoradas, ouro

Carvão, ferro e mármore

Um fio cristalino

Distante milênios

Partiu fragilmente

Sequioso de espaço

Em busca de luz.

Um rio nasceu.

 

MORAES, Vinicius de. O rio. Disponível em: <www.viniciusdemoraes.com.br/pt-br/

poesia/poesias-avulsas/o-rio>. Acesso em: 24 jun. 2019.

 ENTENDENDO O POEMA

1.1 Qual é o tema do texto?

     O nascimento de um rio.

 2.2 Explique, com suas palavras, o que o poema conta.

      Resposta pessoal. Sugestão de resposta: Uma gota de chuva a mais cai sobre a terra fértil, formando um fio de água cristalina que futuramente se transforma em rio.

 

terça-feira, 17 de novembro de 2020

MÚSICA(ATIVIDADES): PAIOL DE PÓLVORA - VINÍCIUS DE MORAIS - COM GABARITO

 Música: Paiol de Pólvora

               Toquinho, Vinicius de Moraes e Clara Nunes

 

Estamos trancados no paiol de pólvora

Paralisados no paiol de pólvora

Olhos vedados no paiol de pólvora

Dentes cerrados no paiol de pólvora

 

Só tem entrada no paiol de pólvora

Ninguém diz nada no paiol de pólvora

Ninguém se encara no paiol de pólvora

Só se enche a cara no paiol de pólvora

 

Mulher e homem no paiol de pólvora

Ninguém tem nome no paiol de pólvora

O azar é sorte no paiol de pólvora

A vida é morte no paiol de pólvora

 

São tudo flores no paiol de pólvora

TV a cores no paiol de pólvora

Tomem lugares no paiol de pólvora

Vai pelos ares o paiol de pólvora

                                     Composição: Toquinho / Vinícius de Moraes

Entendendo a canção:

01 – De que se trata essa canção?

      Fala da liberdade, depois a condenação. Atingida pelos ruídos de comunicação da censura, a música.

02 – Após analisar a letra da canção, como o eu lírico se sente?

      Se sente sufocado, pois faz um desabafo.

03 – Identifique a opção que completa corretamente o enunciado a seguir.

        Pode-se afirmar que o texto cumpre seu objetivo, pois...:

a)   Simplesmente passa informações.

b)   Provoca emoções e reflexões.

c)   Serve de diversão.

d)   Modifica o comportamento.

04 – Do que o eu lírico tem medo? Comprove com um verso.

      Tem medo da morte. “A vida é morte no paiol de pólvora”.

05 – Existe uma crítica social. Cite-a.

      A censura.

06 – Nos versos:

        “O azar é sorte no paiol de pólvora

         A vida é morte no paiol de pólvora.”

        Que figura de linguagem há nesses versos?

      A figura é antítese (palavras ou orações que se opõem quanto ao sentido).

terça-feira, 28 de julho de 2020

MÚSICA(ATIVIDADES): VALSINHA - VINICIUS DE MORAES/CHICO BUARQUE - COM GABARITO

MÚSICA(ATIVIDADES): VALSINHA

                   VINÍCIUS DE MORAES/CHICO BUARQUE

Um dia ele chegou tão diferente

Do seu jeito de sempre chegar

Olhou-a de um jeito muito mais quente

Do que sempre costumava olhar

E não maldisse a vida tanto

Quanto era seu jeito de sempre falar

E nem deixou-a só num canto

Pra seu grande espanto, convidou-a pra rodar

 

E então ela se fez bonita

Como há muito tempo não queria ousar

Com seu vestido decotado

Cheirando a guardado de tanto esperar

Depois os dois deram-se os braços

Como há muito tempo não se usava dar

E cheios de ternura e graça

Foram para a praça e começaram a se abraçar

 

E ali dançaram tanta dança

Que a vizinhança toda despertou

E foi tanta felicidade

Que toda cidade se iluminou

E foram tantos beijos loucos

Tantos gritos roucos como não se ouvia mais

Que o mundo compreendeu

E o dia amanheceu em paz.

 

(MORAES, Vinícius de & BUARQUE, Chico. In: BUARQUE, Chico. A arte de Chico Buarque. LP Fontana nº 6470 549, 195. L. 1, f.5.)

Entendendo a canção:

01 – Sobre o texto, só NÃO se pode afirmar que:

a)   O texto estabelece uma relação de semelhança entre a dança, o jogo amoroso e as relações humanas.

b)   O gesto amoroso da dança começa no interior da casa e atinge o mundo.

c)   O gesto amoroso da dança produz o efeito de instaurar a paz entre os seres humanos.

d)   O conceito de amor implícito no texto não inclui o prazer físico entre os personagens.

02 – Leia as asserções a seguir para responder à questão abaixo:

I – A expressão “pra”, no verso 8, traz marcas de oralidade.

II – Nos versos 21 e 22 estabelece-se uma relação de consequência.

III – A expressão “ali”, no verso 17, refere-se à palavra cidade.

IV – Este é um texto narrativo que relata uma transformação.

A alternativa que traz os números das asserções corretas é:

a)   I e II.

b)   III e IV.

c)   I, III e IV.

d)   I, II e IV.

03 – A expressão “seu jeito” (verso 06) tem como referente:

a)   O narrador.

b)   O autor.

c)   Ele.

d)   Ela.

04 – Leia a canção e responda. Com relação ao gênero e a tipologia textual referente a esse texto, é correto afirmar que predominam:

a)   O gênero música e a tipologia descritiva.

b)   O gênero música e a tipologia narrativa.

c)   O gênero música e a tipologia expositiva.

d)   O gênero poesia e a tipologia descritiva.

e)   O gênero poesia e a tipologia narrativa.

05 – O texto relata uma transformação: o amante chegava habitualmente de um jeito e passou a chegar de outro. Como ele chegava? Como passou a chegar?

      Ele chegava sempre maldizendo a vida.

      Chegou diferente e a olhou de um jeito muito mais quente.

06 – Em um dia diferente, uma das atitudes dele, de modo especial, causou surpresa para a moça. Que atitude foi essa?

      Declarou-se, olhou para ela de um jeito diferente.

07 – A transformação ocorrida coma personagem masculina desencadeou outra na personagem feminina. Qual foi essa transformação?

      Ela se sentiu amada e se fez bela para ele, colocando um vestido decotado, cheirando a guardado de tanto esperar.

08 – Que versos da canção notamos que é um amor antigo e ingênuo?

      “Depois os dois deram-se os braços

       Como há muito tempo não se usava dar

       E cheios de ternura e graça

       Foram para a praça e começaram a se abraçar”.

09 – Nessa canção o eu lírico retrata o quê?

      Retrata uma situação em que o homem redescobre a mulher e isso cria a possibilidade de um encontro erótico, que é descrito na canção.

     


terça-feira, 21 de julho de 2020

POEMA: A AUSENTE - VINÍCIUS DE MORAES - COM GABARITO

Poema: A AUSENTE

             Vinícius de Moraes

Amiga, infinitamente amiga
Em algum lugar teu coração bate por mim
Em algum lugar teus olhos se fecham à ideia dos meus.
Em algum lugar tuas mãos se crispam, teus seios
Se enchem de leite, tu desfaleces e caminhas
Como que cega ao meu encontro...
Amiga, última doçura
A tranquilidade suavizou a minha pele
E os meus cabelos. Só meu ventre
Te espera, cheio de raízes e de sombras.
Vem, amiga
Minha nudez é absoluta
Meus olhos são espelhos para o teu desejo
E meu peito é tábua de suplícios
Vem. Meus músculos estão doces para os teus dentes
E áspera é minha barba. Vem mergulhar em mim
Como no mar, vem nadar em mim como no mar
Vem te afogar em mim, amiga minha
Em mim como no mar...

Vinícius de Moraes

Entendendo o poema:

01 – No poema, o eu lírico:

a)   Queixa-se de um amor não correspondido.

b)   Demonstra sentimento de possessividade amorosa.

c)   Assemelha-se à “amiga”, como um espelho e sua imagem.

d)   Invoca a mulher pra compartilhar de seus apelos sensuais.

e)   Vê a figura feminina sob uma perspectiva dualista: angelical e sensual.

02 – Sobre o poema, é correto afirmar:

a)   O amor físico revela-se isento de sofrimento.

b)   A realidade focalizada é vista de uma forma objetiva.

c)   A mulher, na visão do eu lírico, aparece envolta em sensualidade e erotismo.

d)   A voz poético não encontra eco no coração do ser desejado.

e)   O sujeito poético – com a lembrança do mar – reprime a intensidade de seu desejo.

03 – Do ponto de vista estético, trata-se de um texto modernista porque:

a)   Apresenta uma linguagem aproximada a da prosa, livre de rima e de métrica.

b)   Adota uma atitude combativa a valores considerados falsos.

c)   Tenta conciliar o presente com o passado.

d)   Busca a originalidade a qualquer preço.

e)   Valoriza fatos e coisas do cotidiano.

 


sábado, 11 de julho de 2020

MÚSICA(ATIVIDADES): CORUJINHA - VINÍCIUS DE MORAES - COM GABARITO

Música(Atividades): Corujinha

                                                        Vinicius de Moraes

Corujinha, corujinha

Que peninha de você

Fica toda encolhidinha

Sempre olhando não sei quê

 

O seu canto de repente

Faz a gente estremecer

Corujinha, pobrezinha

Todo mundo que te vê

Diz assim, ah, coitadinha

Que feinha que é você

 

Quando a noite vem chegando

Chega o teu amanhecer

E se o sol vem despontando

Vais voando te esconder

 

Hoje em dia andas vaidosa

Orgulhosa como quê

Toda noite tua carinha

Aparece na TV

Corujinha, coitadinha

Que feinha que é você.

Composição: Toquinho / Vinícius de Moraes.

Entendendo a canção:

01 – No decorrer da canção, o eu lírico nos revela a quem ele se dirige – Corujinha – empregando o diminutivo como recurso.

a)   Retire da canção outras palavras que também estão no diminutivo.

Peninha, encolhidinha, pobrezinha, coitadinha, feinha, carinha.

b)   Com que intenção esse recurso foi utilizado?

Para intensificar a ideia dos estados em que a coruja se encontrar.

02 – Releia a terceira estrofe:

“Quando a noite vem chegando

Chega o teu amanhecer

E se o sol vem despontando

Vais voando te esconder”.

        A que hábitos próprios da coruja a estrofe está fazendo referência?

      Aos hábitos noturnos já que as corujas andam à noite.

03 – Com que expressões o eu lírico caracteriza a corujinha?

      Encolhidinha, pobrezinha, coitadinha, orgulhosa, vaidosa, feinha.

04 – Num determinado momento o eu lírico apresenta situações contrárias para se referir a corujinha. Copie esses versos que mostram essa contrariedade.

      “Hoje em dia andas vaidosa / Orgulhosa como quê.”

05 – Por que o eu lírico diz que a corujinha está vaidosa?

      Porque ela aparece na TV à noite.

06 – Por que o eu lírico diz ter “peninha” da corujinha?

      Porque ela é muito feia.

07 – Retire do texto exemplos de:

a)   Rimas da 3ª e da 4ª estrofes e classifique-as pelo valor e pela localização.

Pobrezinha e coitadinha – POBRE (adjetivo).

Vê e você – RICA (verbo e pronome).

ABAB – intercaladas.

Chegando e despontando – POBRE (verbos).

Amanhecer e esconder – POBRE (verbos).

ABAB – intercaladas.

b)   Personificação.

(A CORUJINHA) andas vaidosa / Orgulhosa como quê.

c)   Copie a última estrofe e circule as sílabas tônicas dos verbos.

“Corujinha, coitadinha

Que feinha que é vo!”

08 – Copie um exemplo de linguagem figurada e explique seu sentido denotativo.

      “Toda noite tua carinha / Aparece na TV”. A carinha da coruja é o símbolo da seção coruja da Rede Globo, cujo horário é de filmes na madrugada.

09 – O que o eu lírico quer dizer com a repetição o 1° verso?

      Ao se dirigir à Corujinha ele intensifica o nome dela nos versos para dar ênfase.

 

 


quarta-feira, 24 de junho de 2020

CRÔNICA: A CASA MATERNA - VINÍCIUS DE MORAES - COM GABARITO

Crônica: A Casa Materna          

                 Vinícius de Moraes

   Há, desde a entrada, um sentimento de tempo na casa materna. As grades do portão tem uma velha ferrugem e o trinco se encontra num lugar que só a mão filial conhece. O jardim pequeno parece mais verde e úmido que os demais, com suas palmas, tinhorões e samambaias, que a mão filial, fiel a um gesto de infância, desfolha ao longo da haste.

  É sempre quieta a casa materna, mesmo aos domingos, quando as mãos filiais se pousam sobre a mesa farta do almoço, repetindo uma antiga imagem. Há um tradicional silêncio em suas salas e um dorido repouso em suas poltronas. O assoalho encerado, sobre o qual ainda escorrega o fantasma da cachorrinha preta, guarda as mesmas manchas e o mesmo taco solto de outras primaveras. As coisas vivem como em preces, nos mesmos lugares onde as situaram as mãos maternas quando eram moças e lisas. Rostos irmãos se olham dos porta-retratos, a se amarem e compreenderem mutuamente. O piano fechado, com uma longa tira de flanela sobre as teclas, repete ainda passadas valsas, de quando as mãos maternas careciam sonhar.

        A casa materna é o espelho de outras, em pequenas coisas que o olhar filial admirava ao tempo em que tudo era belo: o licoreiro magro, a bandeja triste, o absurdo bibelô. E tem um corredor à escuta, de cujo teto à noite pende uma luz morta, com negras aberturas para os quartos cheios de sombra. Na estante junto à escada há um Tesouro da juventude com o dorso puído de tato e de tempo. Foi ali que o olhar filial primeiro viu a forma gráfica de algo que passaria a ser para ele a forma suprema da beleza: o verso.

        Na escada há o degrau que estala e anuncia aos ouvidos maternos a presença dos passos filiais. Pois a casa materna se divide em dois mundos: o térreo, onde se processa a vida presente, e o de cima, onde vive a memória. Embaixo há sempre coisas fabulosas na geladeira e no armário da copa: roquefort amassado, ovos frescos, mangas-espadas, untuosas compotas, bolos de chocolate, biscoitos de araruta – pois não há lugar mais propício do que a casa materna para uma boa ceia noturna. E porque é uma casa velha, há sempre uma barata que aparece e é morta com uma repugnância que vem de longe. Em cima ficam os guardados antigos, os livros que lembram a infância, o pequeno oratório em frente ao qual ninguém, a não ser a figura materna, sabe porque queima às vezes uma vela votiva. E a cama onde a figura paterna repousava de sua agitação diurna. Hoje, vazia.

        A imagem paterna persiste no interior da casa materna. Seu violão dorme encostado junto à vitrola. Seu corpo como que se marca ainda na velha poltrona da sala e como que se pode ouvir ainda o brando ronco de sua sesta dominical. Ausente para sempre de sua casa materna, a figura paterna parece mergulhá-la docemente na eternidade, enquanto as mãos maternas se fazem mais lentas e as mãos filiais ainda mais unidas em torno à grande mesa, onde já agora vibram também vozes infantis.

 Vinícius de Moras.

Entendendo a crônica:

01 – Pesquise e responda:

·        Dorido: que tem e/ou expressa alguma dos (física ou moral).

·        Untuoso: gorduroso.

·        Votivo: ofertado em promessa.

02 – No 1° parágrafo se observa um sentimento de saudosismo do narrador em relação à casa materna, sugerido pela passagem do tempo. Segundo o texto, o que NÃO sugere a passagem do tempo, quando ele entra em casa?

a)   A ferrugem nas grades do portão.

b)   A lembrança do local do trinco do portão, que só os filhos conheciam.

c)   O pequeno jardim transformado desde a entrada da casa.

d)   O hábito infantil de tirar as folhas da haste de samambaia.

03 – O silêncio estende-se por toda a casa materna, cheia de imagens do passado. Nesta frase: “As coisas vivem em prece [...]”, o significado é:

a)   Os problemas começaram a se resolver com tranquilidade.

b)   Os fatos vão acontecendo pouco a pouco, sem atropelos.

c)   Com o passar do tempo, tudo se modifica rápido.

d)   A vida parece igual, tudo continua da mesma forma.

04 – Em que passagem do texto é possível entender que a mãe, já idosa, ainda continua na casa e que o pai havia falecido?

a)   “Ausente para sempre de sua casa materna, a figura paterna parece mergulhá-la docemente na eternidade, enquanto as mãos maternas se fazem mais lentas [...]”.

b)   “A imagem paterna persiste no interior da casa materna. Seu violão dorme encostado junto à vitrola”.

c)   “E a cama onde a figura paterna repousava de sua agitação diurna. Hoje, vazia”.

d)   “Na escada há o degrau que estala e anuncia aos ouvidos maternos e presença dos passos filiais”.

05 – Com base no texto, considere as afirmativas abaixo:

I – O andar térreo continua a ser utilizado.

II – O corredor é visto como personagem dos fatos que ocorrem na casa materna.

III – O piano fechado simboliza todo passado de alegria e sonhos que ficou para trás e deu lugar à saudade.

Está CORRETO o que se afirma em:

a)   I e II, apenas.

b)   I e III, apenas.

c)   II e III, apenas.

d)   I, II e III.

06 – Qual é a função do termo destacado na oração abaixo? “As grades do portão têm uma velha ferrugem”.

a)   Objeto indireto.

b)   Adjunto adnominal.

c)   Complemento nominal.

d)   Aposto.