Poema: Ao
longe os barcos de flores
Camilo Pessanha
Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranquila,
-- Perdida voz que de entre as mais se exila,
-- Festões de som dissimulando a hora
Na orgia, ao longe, que em clarões cintila
E os lábios, branca, do carmim desflora...
Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranquila.
E a orquestra? E os beijos? Tudo a noite, fora,
Cauta, detém. Só modulada trila
A flauta flébil... Quem há-de remi-la?
Quem sabe a dor que sem razão deplora?
Só, incessante, um som de flauta chora...
Clepsidra e outros
poemas. Lisboa, Edições Ática, 1973.
Entendendo o poema:
01 – Que elementos
simbolistas encontramos, numa primeira leitura do poema?
A musicalidade, a
sugestão de sensações vagas, indefinidas e a atmosfera de sonho e tristeza.
02 – Que versos, repetidos,
intensificam a atmosfera de sensações vagas e indefinidas, predominante no
texto?
“Só, incessante,
um som de flauta chora / Viúva, grácil, na escuridão tranquila”.
03 – Exemplifique os
seguintes recursos simbolistas, presentes nos versos da questão 2:
a) Imagens
musicais.
“Um som de flauta
chora”.
b) Aliterações
e assonâncias.
Aliteração:
consoantes s e t. Assonância: vogais ó e i.
c) Imagens
de solidão.
“Só”; “Viúva... na
escuridão tranquila”.
d) Imagens
de sutileza.
Os dois versos são imagens sutis, reforçadas pela palavra “grácil”.
04 – Encontre um exemplo de sinestesia na 1ª estrofe do
poema.
O último verso da
estrofe – “Festões de som dissimulando a hora” – constitui um exemplo de
sinestesia, já que associa imagens visuais e auditivas (“festões de som...”).
05 – Que sinais de pontuação
o clima de “sugestão do indefinível”, tipicamente simbolista, que faz desse
poema um dos mais sugestivos exemplos da presença do estilo em Portugal?
Trata-se das
reticências.
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