quinta-feira, 16 de maio de 2019

POEMA: SÓ O TER FLORES PELA VISTA FORA - RICARDO REIS - COM GABARITO

Poema: Só o ter flores pela vista fora
         
     Ricardo Reis

Só o ter flores pela vista fora
Nas áleas largas dos jardins exatos
        Basta para podermos
        Achar a vida leve.
De todo o esforço seguremos quedas
As mãos, brincando, pra que nos não tome
        Do pulso, e nos arraste.
        E vivamos assim.
Buscando o mínimo de dor ou gozo,
Bebendo a goles os instantes frescos,
        Translúcidos como água
        Em taças detalhadas,
Da vida pálida levando apenas
As rosas breves, os sorrisos vagos,
        E as rápidas caricias
        Dos instantes volúveis.
Pouco tão pouco pesarei nos braços
Com que, exilados das supernas luzes,
        Escolhermos do que fomos
        O melhor pra lembrar
Quando, acabados pelas Parcas, formos,
Vultos solenes de repente antigos,
        E cada vez mais sombras,
        Ao encontro fatal
Do barco escuro no soturno rio,
E os nove abraços do horror estígio,
        E o regaço insaciável
        Da pátria de Plutão.

Odes de Ricardo Reis. Fernando Pessoa. (Notas de João Gaspar Simões e
Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (imp.1994). - 26.
Entendendo o poema:

01 – O poema apresenta um conteúdo filosófico, desenvolvendo reflexões acerca de como viver. De acordo com a concepção do eu lírico:
a)   De que forma deve ser o relacionamento com a pessoa amada? Retire do poema um trecho que comprove sua resposta.
Não deve ser um envolvimento profundo. “Seguremos quedas / As mãos brincando”; “E vivamos assim, / Buscando o mínimo de dor ou gozo”.

b)   O que se leva da vida? Retire do poema um trecho que comprove sua resposta.
Levam-se as boas lembranças: “Escolhermos do que fomos / O melhor pra lembrar”; “Levando apenas / As rosas breves, os sorrisos vagos”.

02 – Algumas das características da poesia clássica são: racionalismo, universalismo, linguagem culta, mitologia pagã, controle das emoções e rigor formal. Reconheça as presentes no texto.
·        Achar a vida fácil.
·        Buscando o mínimo de dor ou gozo.
·        Da vida pálida levamos apenas as rosas breves, os sorrisos vagos.
·        Quando acabados pelas Parcas.
·        Do barco escuro no soturno rio.
·        Horror estígio.

03 – As três últimas estrofes fazem referência à morte. Como o eu lírico se posiciona perante ela?
      Ricardo Reis se posiciona diante da morte como algo inevitável:
      -- Tudo o que cessa é a morte.
      -- A morte é nossa.
      -- Com tudo quanto vô, se passa, passo.

04 – Ao refletir sobre a avida, o eu lírico acaba por expressar também seu ponto de vista sobre a morte. Qual é o significado da morte para o eu lírico?
      A morte é vista como algo natural, como se fosse determinação do destino. Sua filosofia de “viver bem” pressupõe uma forma de “morrer bem”.

05 – O poema apresenta várias características que podem ser relacionadas com a tradição da cultura clássica greco-latina. Identifique, no poema, atitudes, trechos ou ideias que exemplifiquem as seguintes características da tradição clássica.
a)   Racionalismo.
O controle das emoções e dos impulsos: “Buscando o mínimo de dor ou gozo”.

b)   Universalismo.
Suas reflexões sobre vida e morte transcendem o plano individual; o eu lírico defende uma concepção de vida e morte que diz respeito a todos, que é universal.

c)   Mitologia pagã.
Referências à Estige, às Parcas e a Plutão.

06 – No plano das ideias, como se vê, o poema se filia à tradição clássica. Observe-o agora no plano da expressão: a estrofação, a métrica, o vocabulário e as construções sintáticas dos versos. Esses aspectos formais estão em sintonia com o plano das ideias? Por quê?
      Sim, formalmente o poema apresenta características da tradição clássica: estrofação rígida, versos brancos e metrificados (dísticos de 10 e de 6 sílabas poéticas se alternando), vocabulário e sintaxe cultos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário