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domingo, 29 de outubro de 2023

CONTO: PELE DE BICHO - IRMÃOS GRIMM - COM GABARITO

 Conto: Pele de bicho

            Irmãos Grimm

        Um conto de fadas dos Irmãos Grimm.

        Houve, uma vez, um rei cuja esposa tinha os cabelos iguais ao outro e era tão linda como não havia outra na terra.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpLSSD-7vEm451UGKBJUKiush3sJiB0qriNCVjo8JxpKTdlf1EIMxDrEhkIXHpKGXOcCAJiCoYnwO8qog5AV7GmxBCqNDv4j5YoOBdtP01a6LXtLXtZdRPyv62OhyphenhyphenmVrwAC8Obp-RvNU9-0WngbQasuzEZ7P4kEA4ZHkw2dw_ZyueXo1__s5jEomDHv88/s1600/RAINHA.jpg


        Quis o céu que a nobre e bondosa rainha adoecesse sem que médico algum pudesse salvar-lhe a vida. Sentindo aproximar-se a última hora, chamou o esposo e recomendou:

        -- Depois de minha morte, se quiseres casar-te outra vez, não cases com mulher menos formosa do que eu; que tenha os cabelos dourados como os meus e seja muito mais prendada. Exijo tua promessa para morrer tranquila.

        O rei prometeu tudo o que ela quis. Pouco depois a rainha morreu, deixando-o louco de desespero e verdadeiramente inconsolável; sua dor era tão grande que não queria pensar em eventual casamento. Mas, decorrido algum tempo, os conselheiros reuniram-se e juntos foram pedir ao rei que tornasse a casar:

        -- O rei não pode reinar sozinho, é necessário que se case para que tenhamos a nossa rainha.

        O rei não queria aceitar a sugestão e alegou a promessa que fizera à esposa; então os dignitários da corte expediram mensageiros por todos os lados a fim de descobrir uma mulher que fosse tão linda e prendada como a rainha falecida.

        Mas ninguém conseguia encontrá-la em parte alguma; mesmo que a tivessem encontrado, nenhuma, por mais bela que fosse, tinha aqueles cabelos de ouro. Portanto, os mensageiros voltaram de mãos vazias.

        O rei tinha uma filha, que era o retrato vivo da mãe e de belos cabelos de ouro. Já estava moça e, certo dia, reparando melhor nela, o rei viu que era igualzinha à falecida esposa e apaixonou-se perdidamente por ela. Então declarou aos seus conselheiros:

        -- Quero casar com minha filha; ela é o retrato vivo de minha falecida esposa e, por outro lado, já me convenci de que jamais encontrarei alguém que se lhe assemelhe.

        Ouvindo isso, os conselheiros ficaram horrorizados e disseram:

        -- Deus proíbe que o pai case com a filha; do pecado não pode sair bem nenhum e também o reino sofrerá e será arrastado à ruína.

        A princesa quase desmaiou no ouvir o ignóbil desígnio do rei; lançou-se-lhe aos pés, esperando dissuadi-lo com seus rogos e lágrimas. Mas o rei estava firme no extravagante projeto e nada o podia abalar. Então a princesa disse-lhe:

        -- Antes de consentir no teu desejo, quero que me dês três vestidos: um de ouro como o sol, um de prata como a lua e um cintilante como as estreias; além disso, quero também um manto feito com peles de toda espécie de animais; cada animal de teu reino tem de fornecer um pedaço de pele.

        Assim dizendo, pensava: "É impossível realizar tal desejo, mas com isso desvio meu pai de seu horrível propósito."

        O rei, porém, não desanimou. Reuniu todas as moças mais hábeis do reino que tiveram de confeccionar os três vestidos: um de ouro como o sol, um de prata como a lua e um cintilante como as estrelas. Enquanto isso, os caçadores foram incumbidos de capturar todos os animais do reino e tirar um pedaço de pele de cada um, confeccionando-se assim um manto variegado.

        Finalmente, quando tudo ficou pronto, o rei mandou buscar o manto e exibiu-o à princesa, dizendo:

        -- Amanhã realizaremos as bodas.

        Ao ver que não lhe restava nenhuma esperança de comover o coração paterno, e mudar seus tristes pensamentos, a princesa resolveu fugir.

        Durante a noite, enquanto todos dormiam, ela preparou-se e apanhou três de seus objetos mais preciosos: um anel ricamente cinzelado, uma pequenina roca de ouro e um minúsculo fuso também de ouro. Meteu dentro de uma casca do noz os três vestidos, de sol, de lua e de estreias, envolveu-se no manto de peles de bicho e com fuligem pintou o rosto e as mãos. Depois recomendou-se piedosamente à proteção de Deus e saiu do palácio sem ser reconhecida.

        Andou a noite inteira e muito mais ainda, até que por fim chegou a uma floresta. Sentindo-se muito cansada, meteu-se na toca de uma árvore e adormeceu.

        Ao raiar do sol, ela ainda continuava dormindo a sono solto e assim foi até muito tarde. Justamente nesse dia, um rei, que era o proprietário da floresta, foi caçar; quando os cães chegaram àquela árvore, puseram-se a latir e a saltar de um lado e de outro. O rei disse aos seus caçadores:

        -- Ide ver que animal se esconde lá onde estão os cães.

        Os caçadores obedeceram e, após terem verificado o que havia, voltaram para junto do rei dizendo:

        -- Na cavidade daquela árvore há um estranho animal, como nunca vimos antes: sua pele é coberta de todas as espécies de pelo. Está lá deitado a dormir.

        -- Procurai capturá-lo vivo, amarrai-o bem ao meu carro para ser transportado conosco à cidade.

        Os caçadores foram e agarraram a jovem, que despertou aterrorizada e se pôs a gritar:

        -- Não me façais mal! Sou uma pobre criatura abandonada pelos pais; tende compaixão de mim, levai-me convosco!

        Os caçadores então disseram:

        -- Pele de bicho, tu serves bem para limpar a cozinha; vem conosco, teu serviço será varrer a cinza.

        Meteram-na no carro e regressaram ao castelo real. Lá, deram-lhe para habitação um tugúrio embaixo da escada, triste e escuro, onde nunca penetrava o mais tênue raio de sol.

        -- Pele de bicho, emaranhada e selvagem, passarás a dormir aqui.

        Com isso, mandaram que fosse para a cozinha, com o encargo de baldear água e lenha, acender o fogo, depenar os frangos, limpar a verdura, varrer a cinza, em suma, fazer o trabalho mais grosseiro e penoso.

        Assim, Pele de Bicho passou a viver de maneira mais obscura e miserável. Ah, linda princesa, o que te estará ainda reservado!

        Passou-se muito tempo e, certo dia, o castelo engalanou-se; iam realizar uma grande festa para a qual haviam convidado meio mundo. A pobre criatura, saudosa dos bons tempos passados, pediu ao cozinheiro-chefe:

        -- Posso subir até lá em cima? Ficarei do lado de fora a espiar um pouquinho.

        -- Está bem, – disse mestre-cuca, – mas, dentro de meia hora, deves estar aqui para varrer a cinza.

        Ela pegou na lanterninha, entrou no horrível tugúrio, despiu o manto de peles, lavou a fuligem que lhe cobria o rosto e as mãos e toda a sua esplendorosa beleza reapareceu. Então abriu a casca de noz e tirou dela o vestido cujo tecido parecia feito de raios de sol, vestiu-se e adornou-se; depois foi à festa e todos, ao vê-la, abriam alas, embasbacados ante tamanha beleza. Ninguém a conhecia, mas não duvidavam que fosse alguma princesa incógnita. O rei saiu ao seu encontro, estendeu-lhe a mão e só quis dançar com ela, pensando consigo mesmo: "Criatura tão linda, meus olhos ainda não viram."

        Terminada que foi a dança, ela inclinou-se num gesto de graça encantadora; quando o rei voltou a si da admiração, ela havia desaparecido não se sabe por onde. Chamaram os guardas do castelo e interrogaram-nos, mas todos responderam não ter visto ninguém.

        Ela correu rapidamente para o seu tugúrio e despiu a toda pressa o maravilhoso vestido, pintou o rosto e as mãos com fuligem e tornou a enfiar o manto de peles, voltando a ser a pobre Pele de Bicho. Quando entrou na cozinha para retomar seu trabalho, o cozinheiro disse-lhe:

        -- Deixa isso para amanhã; agora quero que prepares a sopa para o rei, pois também desejo dar uma espiadela lá em cima. Mas toma cuidado, não deixes cair nenhum fio de cabelo dentro, senão para o futuro nunca mais terás nada para comer.

        O cozinheiro saiu e Pele de Bicho preparou uma sopa de pão para o rei; esmerou-se por fazê-la a mais deliciosa possível e, quando ficou pronta, correu ao seu tugúrio e trouxe o anel de ouro, colocando-o na vasilha em que era servida a sopa.

        Findo o baile, o rei ordenou que lhe servissem a sopa. Comeu-a e gostou tanto que declarou nunca ter comido outra melhor.

        Quando, porém, chegou ao fundo do prato, viu o anel de ouro e não conseguiu compreender como viera parar aí. Mandou chamar o cozinheiro. Este, ao receber o recado, ficou preocupado e disse a Pele de Bicho:

        -- Deixaste, certamente, cair um cabelo dentro da sopa; se assim for, levarás o que mereces.

        Apresentou-se diante do rei, cheio de temor. O rei perguntou-lhe quem havia preparado a sopa. O cozinheiro, mais que depressa, respondeu:

        -- Fui eu, Majestade.

        Mas o rei retrucou:

        -- Não é verdade; a sopa estava diferente e muito melhor que de costume.

        O cozinheiro, então, foi obrigado a confessar:

        -- Realmente, Majestade, não fui eu, mas foi Pele de Bicho quem a fez.

        O rei ordenou:

        -- Vai chamar Pele de Bicho.

        Assim que ela compareceu perante o rei, este perguntou-lhe:

        -- Quem és tu?

        -- Sou uma pobre criatura que não tem mais pai nem mãe, – respondeu ela.

        -- E que fazes no meu castelo? – prosseguiu o rei.

        -- Eu não sirvo para coisa alguma, – disse ela, – a não ser para que me atirem os sapatos na cabeça.

        O rei tornou a perguntar:

        -- Quem te deu aquele lindo anel que estava dentro da sopa?

        -- Não sei de que anel se trata, – respondeu ela.

        Por conseguinte, o rei nada pôde descobrir e mandou-a de volta para a cozinha.

        Passado algum tempo, realizou-se no castelo uma outra festa e Pele de Bicho tornou a pedir ao cozinheiro que lhe permitisse dar uma espiada. Ele respondeu:

        -- Podes ir, mas deves voltar dentro de meia hora e fazer aquela sopa de pão que tanto agrada ao rei.

        Pele de Bicho correu ao seu tugúrio, limpou-se e lavou-se cuidadosamente, tirou da noz o lindo vestido prateado como o luar e vestiu-se, adornando-se como da outra vez. Depois subiu as escadarias com o andar esbelto e gracioso de verdadeira princesa.

        O rei saiu-lhe ao encontro, cheio de alegria por tornar a vê-la.

        Também dessa vez, não quis dançar com nenhuma outra dama, só com ela. Mas, assim que acabou a contradança, ela sumiu tão rapidamente, que o rei não conseguiu ver por onde saiu.

        Ela correu para o seu tugúrio e, em breve, voltou a ser o animal peludo de sempre, depois correu à cozinha a fim de preparar a sopa para o rei. Enquanto o cozinheiro estava lá em cima espiando a festa, ela foi buscar a pequenina roca de ouro e meteu-a dentro da vasilha da sopa.

        Mais tarde um pouco, levaram a sopa ao rei que, como da primeira vez, comeu-a com grande satisfação, mandando depois chamar o cozinheiro. Este teve novamente de confessar ter sido preparada por Pele de Bicho, a qual, mais uma vez chamada, teve que comparecer à presença do rei e responder às suas perguntas. Respondeu como da outra vez: que só servia para que lhe atirassem os sapatos na cabeça, e que ignorava completamente, tudo da roca de ouro encontrada na sopa.

        Tudo parecia esquecido e Pele de Bicho continuava os tristes afazeres na cozinha. Eis que, um belo dia, o rei organizou outra festa, talvez com saudade da bela desconhecida. E tudo se processou como das vezes anteriores. O cozinheiro, porém, disse:

        -- Pele de Bicho, tu deves ser uma bruxa; sempre encontras meio de pôr qualquer coisa na sopa, e te sai tão boa que agrada ao rei mais do que a feita por mim.

        A jovem implorou ao cozinheiro que a deixasse ir ver a festa; demorar-se-ia apenas o tempo estabelecido. O severo mestre-cuca não pôde recusar-lhe o que pedia, e ela correu ao seu tugúrio, lavou-se, penteou-se e envergou o vestido cintilante como as estrelas; depois dirigiu-se ao salão de festas. O rei, fascinado, também desta vez, só quis dançar com ela, achando que ainda estava mais bela.

        Enquanto dançavam, sem que ela o percebesse, enfiou-lhe um anel no dedo. Havia previamente ordenado que a contradança demorasse um pouco mais. Acabando de dançar, tentou prendê-la, segurando-lhe a mão, mas ela desvencilhou-se e fugiu tão rapidamente, que ele não pôde ver por onde saiu.

        Pele de Bicho correu para o seu tugúrio; mas como se havia demorado mais que o tempo previsto, não pôde despir o lindo vestido; então cobriu-o com o manto de peles; estava tão apressada que, ao tingir-se com a fuligem, esqueceu um dedo, que ficou branquinho. Correu para a cozinha, preparou a sopa do rei e antes que fosse servida, deitou dentro da vasilha o minúsculo fuso de ouro.

        O rei, ao encontrar o fuso, mandou chamar Pele de Bicho. Ela apresentou-se como sempre, mas não reparou no dedinho que ficara branco; o rei, porém, viu-o e viu também o anel que enfiara nele durante a dança. Então agarrou-lhe a mão e segurou-a firmemente; quando ela tentou desvencilhar-se para fugir, o horrível manto de peles abriu-se um pouco, mostrando uma nesga do vestido cintilante. O rei, com um gesto rápido, arrancou-lhe o manto e, no mesmo instante, rolaram como uma cascata seus cabelos de ouro e ela surgiu magnífica, em todo o esplendor, que já não podia mais ocultar.

        Então lavou a fuligem que lhe cobria o rosto e as mãos e apareceu tal qual era: a criatura mais linda que jamais se vira no mundo. O rei, comovido, disse-lhe:

        -- Serás a minha esposa muito amada; nunca mais nos separaremos.

        Ela aceitou e depois de alguns dias realizaram-se as núpcias. Eram ambos tão felizes que viveram tanto, tanto tempo, até à morte.

Irmãos Grimm.

Entendendo o conto:

01 – Quem era a rainha no início do conto?

      A rainha no início do conto era a esposa do rei, que tinha cabelos dourados e era extremamente bela.

02 – O que a rainha pediu ao rei antes de sua morte?

      A rainha pediu ao rei que, após sua morte, ele se casasse apenas com uma mulher que fosse tão formosa quanto ela, com cabelos dourados como os dela, e que fizesse essa promessa para que ela pudesse morrer em paz.

03 – Por que o rei relutou em se casar novamente após a morte da rainha?

      O rei relutou em se casar novamente porque queria cumprir a promessa feita à sua falecida esposa de encontrar uma mulher tão bela quanto ela, o que ele acreditava ser impossível.

04 – Como a princesa tentou evitar que seu pai cumprisse sua intenção de se casar com ela?

      A princesa pediu ao rei três vestidos (um de ouro, um de prata e um cintilante), bem como um manto feito de peles de animais de todo o reino, acreditando que esses pedidos seriam impossíveis de serem atendidos.

05 – Como o rei conseguiu atender aos pedidos da princesa?

      O rei reuniu as mulheres mais habilidosas do reino para confeccionar os vestidos, e os caçadores capturaram e coletaram peles de animais para fazer o manto.

06 – Como a princesa tentou fugir do rei quando ele expressou o desejo de se casar com ela?

      A princesa tentou fugir durante a noite, preparando-se e saindo do palácio sem ser reconhecida.

07 – O que aconteceu quando a princesa entrou na floresta após fugir do palácio?

      Na floresta, a princesa se refugiou em uma árvore oca e adormeceu.

08 – Como o rei a encontrou na floresta?

      O rei, que era proprietário da floresta, foi caçar e os cães latiram e saltaram ao redor da árvore onde a princesa estava escondida, levando o rei a descobri-la.

09 – Como a princesa foi tratada depois de ser capturada pelo rei?

      Ela foi tratada como "Pele de Bicho", forçada a viver em um tugúrio escuro e a realizar tarefas árduas na cozinha do castelo.

10 – Como a verdadeira identidade da princesa foi finalmente revelada?

      A verdadeira identidade da princesa foi revelada quando, durante uma festa no castelo, o rei a reconheceu como a misteriosa dama que dançou com ele. Ele a segurou pelo dedo, notando o anel que ele havia colocado nela durante a dança, e quando ela não conseguiu mais esconder sua verdadeira aparência, seu disfarce se desfez e sua beleza foi revelada.

 

 

terça-feira, 21 de julho de 2020

CONTO: OS SETE CORVOS - IRMÃOS GRIMM - COM GABARITO

Conto: Os sete corvos

            Irmãos Grimm

    Um homem tinha sete filhos e nunca tinha uma filha, por mais que desejasse. Até que, finalmente, sua mulher lhe deu esperanças de novo e, quando a criança veio ao mundo, era uma menina. A alegria foi enorme, mas a criança era franzina e miúda e, por causa dessa fraqueza, foi preciso que lhe dessem logo os sacramentos. O pai mandou um dos filhos ir correndo até a fonte, buscar água para o batismo. Os outros seis foram atrás do irmão e, como cada um queria ser o primeiro a puxar a água para cima, acabaram deixando o balde cair no fundo do poço. Aí eles ficaram assustados, sem saber o que deviam fazer, e nenhum dos sete tinha coragem de voltar para casa. Foram ficando por lá, sem sair do lugar.

        Como estavam demorando muito, o pai foi ficando cada vez mais impaciente e disse: – Na certa ficaram brincando e se esqueceram de voltar, aqueles moleques levados...

        Começou a ficar com medo de que a menininha morresse sem ser batizada e, com raiva, gritou:

        -- Tomara que eles todos virem corvos!

        Mal o pai acabou de dizer essas palavras, ouviu um barulho de asas batendo no ar, por cima da cabeça. Levantou os olhos e viu sete corvos negros como carvão. Voando de um lado para outro.

        Os pais ficaram tristíssimos, mas não conseguiram fazer nada para quebrar o encanto.

        Felizmente, puderam se consolar um pouco com sua filhinha querida, que logo recuperou as forças e cada dia ia ficando mais bonita. Durante muito tempo, ela ficou sem saber que tinha tido irmãos, porque os pais tinham o maior cuidado de nunca falar nisso. Mas um dia, ela ouviu por acaso umas pessoas comentando que era uma pena que uma menina assim tão bonita como ela fosse a responsável pela infelicidade dos irmãos.

        A menina ficou muito aflita e foi logo perguntar aos pais se era verdade que ela já tinha tido irmãos, e o que tinha acontecido com eles. Os pais não puderam continuar guardando segredo. Mas explicaram que o que aconteceu tinha sido um desígnio do céu, e que o nascimento dela não tinha culpa de nada. Só que a menina começou a ter remorsos todos os dias e resolveu que precisava dar um jeito de livrar os irmãos do encanto. Não sossegou enquanto não saiu escondida, tentando encontrar algum sinal deles em algum lugar, custasse o que custasse. Não levou quase nada: só um anelzinho como lembrança dos pais, uma garrafinha d'água para matar a sede e uma cadeirinha para descansar.

        Andou, andou, andou, cada vez para mais longe, até o fim do mundo. Aí, ela chegou junto do sol. Mas ele era quente demais e muito terrível, porque comia os próprios filhos. Ela saiu correndo, fugindo, para bem longe, até que chegou junto da lua. Mas a lua era fria demais e muito malvada e cruel. Assim que viu a menina, disse:

        -- Huuummm sinto cheiro de carne humana...

        A menina saiu correndo bem depressa, fugindo para bem longe, até que chegou junto das estrelas.

        As estrelas foram muito amáveis e boazinhas com ela, cada uma sentada em uma cadeirinha separada. Então, a estrela da manhã se levantou, deu um ossinho de galinha à menina e disse:

        -- Sem este ossinho, você não vai conseguir abrir a montanha de vidro. E é na montanha de vidro que estão os seus irmãos.

        A menina pegou no ossinho, embrulhou-o com todo cuidado num lenço e continuou seu caminho, até que chegou à montanha de vidro. A porta estava bem fechada, trancada com chave, e ela resolveu pegar o ossinho de galinha que estava guardado no lenço. Mas quando desembrulhou, viu que não tinha nada dentro do pano e que ela tinha perdido o presente que as boas estrelas tinham dado. Ficou sem saber o que fazer. Queria muito salvar os irmãos, mas não tinha mais a chave da montanha de vidro. Então, a boa irmãzinha pegou uma faca, cortou um dedo mindinho, enfiou na fechadura e deu um jeito de abrir a porta. Assim que entrou, um gnomo veio ao seu encontro e lhe perguntou:

        -- Minha filha, o que é que você está procurando?

        -- Procuro meus irmãos, os sete corvos – respondeu ela. O gnomo então disse:

        -- Os senhores Corvos não estão em casa, mas se quiser esperar até que eles cheguem, entre e fique à vontade.

        Lá em cima, o gnomo pôs a mesa para o jantar dos corvos, com sete pratinhos e sete copinhos. A irmã então comeu um pouco da comida de cada prato e bebeu um gole de cada copo. Mas no último, deixou cair o anelzinho que tinha trazido.

        De repente, ouviu-se nos ares um barulho de gritos e batidas de asas. Então o gnomo disse:

        -- São os senhores Corvos que estão chegando.

        Eram eles mesmos, com fome e com sede. Foram logo em direção aos pratos e copos. E, um por um, foram gritando:

        -- Quem comeu no meu prato? Quem bebeu no meu copo? Foi boca de gente, foi boca de gente...

        Mas quando o sétimo corvo acabou de esvaziar seu copo, o anel caiu lá de dentro. Ele olhou bem e reconheceu que era um anel do pai e da mãe deles, e disse:

        -- Quem dera que fosse a nossa irmãzinha, porque aí a gente ficava livre.

        Quando a menina, que estava escondida atrás da porta, ouviu esse desejo, apareceu de repente e todos os corvos viraram gente outra vez. Começaram todos a se abraçar e se beijar e a se fazer mil carinhos e depois voltaram para casa muito felizes.

         Fonte: Os sete corvos. In: ABREU, Ana Rosa etal. Alfabetização: Livro do aluno. Brasília, DF: Fundescola/SEF/MEC, 2000. p. 46.

Entendendo o conto:

01 – Quem são as personagens principais? E as personagens secundárias?

      As personagens principais são a mãe, o pai, os sete filhos e a menina. As secundárias são o Sol, a Lua, as estrelas, a Estrela D’Alva e o anãozinho.

02 – Quais são os cenários onde a história se passa? É possível descrevê-los?

      Inicialmente, a história se passa no local onde a família vivia, que ficava perto de uma fonte. Não há elementos suficientes para descrevê-lo. Depois, a menina chega ao fim do mundo, onde estão o Sol, a Lua e as estrelas. Ela termina na Montanha de Cristal, onde vivem seus irmãos. Este local tem um portão que pode ser aberto com um osso e tem um anão como guardião.

03 – Quem está narrando esse conto? Um narrador-personagem ou um narrador-observador?

      Um narrador-observador.

04 – Ele é narrado em 1ª ou em 3ª pessoa?

      É narrado em 3ª pessoa.

05 – O que acontece na história (qual é seu enredo)?

      Um casal que tinha sete filhos homens, esperava o nascimento de sua primeira filha, no dia em que os meninos foram buscar água para o batismo da recém-nascida, que era muito fraca, uma maldição lançada pelo pai os transformou em corvos. A menina cresceu sem saber sobre a história dos irmãos e quando a descobriu saiu pelo mundo em busca deles. No percurso, ganhou um objeto mágico (um osso) da Estrela d’Alva, capaz de abrir o portão da Montanha de Cristal, lugar no qual os irmãos viviam. Ao perder o objeto, cortou um pedaço de seu dedo para poder entrar no local. O reencontro transformou os corvos em humanos novamente e todos ficam felizes e voltam para casa.

06 – Qual é o momento de maior tensão na narrativa (clímax)?

      O clímax ocorre quando a menina perde o ossinho que ganhou da Estrela d’Alva com o qual abriria o portão da Montanha de Cristal onde seus irmãos viviam.

07 – Como o problema se resolve (qual é o desfecho)?

      O problema se resolve com a menina cortando um pedaço do próprio dedo para servir de chave e abrir o portão.

08 – Na sua opinião, os diálogos são importantes na história?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Os diálogos representam a fala das personagens, o que aproxima o texto do leitor, conduzindo a narrativa para o momento em que é feita a leitura.

09 – Que conflito impulsionou a trama da narrativa?

a)   O casal não conseguia ter uma filha, apenas meninos.

b)   A menina nasceu com a saúde debilitada.

c)   A falta de água para batizar a menina.

d)   As crianças não queriam uma irmã.

10 – Releia um trecho do texto: “Mas, ao mesmo tempo, ficaram muito preocupados, pois a recém-nascida era pequena e fraquinha [...]”. O que explica a preocupação dos pais?

a)   Eles não acreditavam que a criança sobreviveria.

b)   Eles temiam que a criança ficasse muito pequena.

c)   Eles acreditavam que a criança seria muito magrinha.

d)   Eles tinham receio de que a criança não se desenvolvesse.

11 – As formas verbais “caiu”, “mandou” e “falou” transmitem ideia de:

a)   Tempo futuro.

b)   Tempo presente.

c)   Tempo passado.

d)   Situação atemporais.

12 – No trecho: “Os meninos ficaram sem saber o que fazer”, a expressão destacada indica que os meninos estavam:

a)   Amedrontados.

b)   Encantados.

c)   Ansiosos.

d)   Confusos.

13 – Quais personagens são citadas no trecho da história?

a)   Um homem e seus sete filhos.

b)   Sete corvos e um bebê recém-nascido.

c)   Um homem, seus sete filhos e uma recém-nascida.

d)   Um homem, seus sete filhos, uma mulher e uma recém-nascida.

 


quinta-feira, 4 de junho de 2020

TEXTO: OS MÚSICOS DE BREMEN - IRMÃOS GRIMM - COM GABARITO

Texto: Os músicos de Bremen
      
       Irmãos Grimm

     Era uma vez um burrinho que nasceu em uma fazenda e sempre pertenceu ao fazendeiro. Todos os dias ele trabalhava duro, desde o amanhecer até o cair da noite.
        Certa tarde, o burrinho ouviu o fazendeiro dizer à esposa:
        — O burro já está ficando velho, acho melhor vendê-lo para um mercador que conheço. Da pele do burro, ele fará alguns tamborins e assim ganharemos algum dinheiro.
        O burrinho ficou muito triste e resolveu fugir para a cidade de Bremen. Lá, tentaria participar da banda da cidade. Quando a noite caiu e os donos estavam dormindo, o burro fugiu.
        O burrinho já tinha andado bastante pela estrada de terra, quando encontrou um cachorro cansado e ofegante.
        — Puxa, você deve ter corrido muito para estar assim, sem fôlego — disse o burrinho.
        — Fugi, pois escutei meu dono dizer que iria me levar para o canil porque estou ficando velho — informou o cachorro.
        — Não me fale mais nada! Comigo aconteceu algo parecido. É por isso que estou indo para Bremen; lá serei músico. Você não quer vir comigo?
        O cachorro aceitou e, juntos, seguiram caminho.
        Mais adiante, encontraram um gato desanimado, miando baixinho e triste. Começaram a conversar e descobriram que o gato havia fugido de casa porque sua dona o maltratava pelo fato de ele estar velho e não ter mais fôlego para caçar os ratos da casa.
        O gato juntou-se a eles e seguiram na direção de Bremen. Andaram um pouco e se depararam com um galo sobre a porteira de uma chácara, cantando com toda a força que tinha.
        — Amigo, por que canta com tanta força se ainda estamos no início da noite e o amanhecer ainda demorará?
        — Estou desesperado! — disse o galo — Como estou ficando velho, minha patroa pretende me assar amanhã, pois receberá convidados importantes. Por isso, canto enquanto posso.
        — Vamos para Bremen! Uma voz tão bela como a sua certamente será apreciada.
        O galo aceitou a proposta do grupo e seguiu com os outros animais.
        Eles andaram por muito tempo. A uma certa altura, viram bem longe uma cabana com as luzes acesas. Como estavam cansados, resolveram ir até lá para descansar e seguir viagem no dia seguinte.
        Quando chegaram perto da casa, o burro, que era o mais alto, olhou pela janela e percebeu que aquela casa era um ponto de encontro dos ladrões da região.
        — O que você está vendo lá dentro? — perguntou o cachorro, demonstrando ansiedade.
        — Vejo uma mesa farta de alimentos e alguns ladrões comendo, bebendo e comemorando.
        — Como eu gostaria de estar lá dentro e me alimentar também — suspirou o gato.
        O burro teve uma ideia. Pediu ao cachorro que subisse em suas costas. Depois, pediu ao gato que subisse sobre as costas do cachorro e por fim, que o galo subisse sobre as costas do gato.
        Todos juntos começaram a fazer um grande barulho. O burro relinchava, o cachorro latia, o gato miava e o galo cocoricava.
        Em seguida, o burro saltou sobre a janela, arrebentando-a. Ao ver aquele amontoado de patas, rabos e cabeças, os ladrões imaginaram que eram uma assombração e fugiram apavorados para a mata.
        Satisfeitos, os animais comeram até se fartar e, depois, apagaram as lamparinas e foram dormir, exceto o galo, que montou guarda no teto da cabana.
        Enquanto isso, os ladrões tremiam de frio na mata. Quando olharam para a cabana e viram tudo escuro, acreditaram que não havia mais ninguém por lá. Tiraram a sorte e escolheram o mais novo no bando para averiguar se o perigo havia acabado.
        Ao ver o homem se aproximando, o galo avisou aos amigos e estes acordaram. O ladrão entrou pelo buraco da janela e viu algo brilhando no escuro. Eram os olhos do gato. Quando o malfeitor chegou mais perto, o gato arranhou o rosto dele. Apavorado, o bandido tentou alcançar a porta para sair, mas, no meio da escuridão, o cachorro mordeu-lhe a perna e o burrinho o acertou com vários coices, enquanto o galo não parava de cantar, assustando o ladrão.
        O ladrão correu até perder o fôlego e ao encontrar o grupo foi logo gritando:
        — Estamos arruinados. Nossa cabana foi invadida por várias assombrações monstruosas. Meu rosto foi arranhado por um monstro de unhas pontiagudas. Outro monstro feriu minha perna com dentes cortantes e levei muitos coices de uma espécie de dragão... tudo isso ao mesmo tempo... e ainda havia um monstro que soltava um som assustador. Não volto mais naquela cabana. Estou todo machucado.
        Os bandidos ficaram desesperados. Acreditavam que era impossível voltar à cabana e recuperar o dinheiro que havia escondido lá. Imaginavam que o local agora era ocupado por um exército de assombrações monstruosas e impiedosas. Para eles, melhor era sumir daquele lugar. E foi o que fizeram. Partiram naquela mesma noite e nunca mais ninguém os viu.
        O burro, o cachorro, o gato e o galo sentiam-se tão bem-instalados naquela cabana que decidiram ficar lá mesmo, desistindo de seguir até Bremen.
        Em pouco tempo, eles encontraram a fortuna que os ladrões haviam escondido em um buraco na parede e puderam viver uma vida farta por muitos e muitos anos.
        O tempo passou e eles envelheceram felizes, com dignidade e companheirismo entre eles.
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Entendendo o texto:

01 – Identifique o assunto do texto:
a)   A literatura infanto-juvenil.
b)   O trabalho dos Irmãos Grimm.
c)   O livro “Os músicos de Bremen”.

02 – No segmento: “[...] poderão se tornar músicos, graças aos seus incríveis talentos sonoros”, a expressão grifada introduz:
a)   Um motivo.
b)   Uma finalidade.
c)   Uma consequência.

03 – Releia este fragmento do texto:
        “Mas, durante uma pernoite no meio do caminho, nosso quarteto animal descobre uma casa onde um belíssimo jantar está sendo desfrutado por uma trupe...”. Nesse fragmento, o autor do texto expõe:
a)   O início da história. “Os músicos de Bremen”.
b)   A complicação da história “Os músicos de Bremen”.
c)   A desfecho da história “Os músicos de Bremen”.

04 – “Apesar do perigo iminente, nossos heróis vão dar um jeitinho para afugentar os larápios [...]”. O que significa “perigo iminente”?
      Significa o perigo que está prestes a acontecer.

05 – No trecho: “[...] nossos heróis vão dar um jeitinho para afugentar os larápios [...]”, a locução sublinhada equivale ao verbo:
a)   Deram.
b)   Dão.
c)   Darão.

06 – Na frase: “[...] e tomar para si aquela refeição frugal e imperdível!”, as palavras grifadas foram usadas para:
a)   Explicar “aquela refeição”.
b)   Caracterizar “aquela refeição”.
c)   Complementar “aquela refeição”.