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quinta-feira, 14 de abril de 2022

PESQUISA: O FIM DO MITO - CARLA GULLO E RITA MORAES - COM GABARITO

 Pesquisa: O fim do mito

Pesquisa exclusiva ISTO É/Brasmarket mostra que os brasileiros assumem o preconceito racial e derrubam a tese da convivência pacífica entre negros e brancos, apesar da liderança de Celso Pitta na disputa da prefeitura paulista

                Carla Gullo e Rita Moraes

        A maior cidade do país pode ter seu primeiro prefeito negro eleito pelo voto. Celso Pitta, ex-secretário de Finanças de Paulo Maluf, não para de subir nas pesquisas e causa surpresa aos analistas de plantão. Não pelo seu currículo ilustrado nos Estados Unidos e na Inglaterra, mas pelo comportamento do eleitorado tradicionalmente conservador. O poder, em princípio, sempre pertenceu aos brancos. O fato de em 442 anos de existência São Paulo nunca ter feito um prefeito negro é um sintoma de uma doença muito mais profunda que se espalha por todo o território nacional. O Brasil sofre de um intenso e silencioso racismo, especialmente contra o negro.

        O mito da democracia racial começa a cair por terra. No entanto, este é o segundo maior país de descendentes afros do mundo, com mais de 65 milhões de negros e mestiços. Só perde para a Nigéria, com uma população de 112 milhões de habitantes. A ascensão de Pitta não significa a derrubada da barreira do preconceito. Para muitos especialistas se o candidato fosse de uma classe mais baixa, não tivesse estudo e o apadrinhamente de Paulo Maluf, jamais alcançaria índices tão elevados nas pesquisas. “Esses itens superam a rejeição”, diz a historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro, da Universidade de São Paulo, autora do livro O racismo na história do Brasil, da editora Ática. Embora o preconceito de cor e classe seja mudo, a população sabe que este País discrimina. “O brasileiro tende a ser politicamente correto e tem dificuldade de assumir o racismo. Mas reconhece o problema, nem que seja no outro”, afirma o sociólogo Carlos Hasenbalg, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro. Pesquisa exclusiva ISTO É / Brasmarket confirma a tese dos analistas. Um levantamento realizado em 11 capitais mostrou que 83% dos entrevistados acreditam que existe segregação em relação aos negros. A discriminação aos pobres também foi citada: 90,3% acham que há preconceito contra as classes mais baixas.

        Em São Paulo, esses índices são de 84% e 74,8%. Do total de entrevistados, 36% dizem que a discriminação acontece mais no convívio social que no trabalho (18,2%) ou na escola (3,5%). Quase 220% dos brasileiros, contudo, acham que a discriminação contra o negro se dá em todas as áreas. Na capital paulista, os nordestinos são rejeitados. Para 58,9% dos paulistanos é importante tomar medidas que desestimulem a vinda deles para o Sul e o Sudeste e 37,7% acham que essa migração agrava os problemas da cidade. “O nordestino representa o mestiço. Por isso a discriminação se estende a eles”, afirma a historiadora Maria Luiza. O preconceito, mesmo que indiretamente, acaba respingando em Luiza Erundina, apesar de ela ser a segunda colocada na disputa em São Paulo. Ela não é negra, mas vem de uma classe mais baixa, é mulher e, não bastasse, nordestina. “Esse último atributo é o pior a ser vencido”, acredita a candidata. Erundina furou o cerco em 1988, quando foi eleita prefeita da cidade. Ironicamente, na época, sua vitória foi atribuída a uma reação anti-malufista. Hoje, Paulo Maluf refez sua imagem e reconquistou seu eleitorado. “Na rasteira, ele leva milhares de nordestinos mais pobres que tentam imitar a classe média”, explica a antropóloga Terezinha Bernardo, da PUC de São Paulo. “A classe média, por sua vez, não tem ideias próprias. Ela se espalha na elite e muitas vezes é ainda mais conservadora”, acredita. A senadora negra Benedita da Silva, que disputou a Prefeitura do Rio em 1992 com o prefeito César Maia, não teve a mesma sorte de Pitta. “Faziam gestos de macaco para mim e diziam que eu ia plantar bananeira no Palácio”, lembra ela. “Eu era discriminada por ser negra, favelada e mulher”.

Revista ISTO É, 4 set. 1996. p. 74-6.

Fonte: Português – Linguagem & Participação, 6ª Série – MESQUITA, Roberto Melo/Martos, Cloder Rivas – Ed. Saraiva, 1ª edição – 1998, p. 185-6.

Entendendo a pesquisa:

01 – De acordo com o texto, de que se trata?

      Trata-se do preconceito racial. Embora tenha como ponto de partida a eleição de Celso Pitta.

02 – Qual é o tipo do texto quanto à forma?

      É um texto jornalístico que apresenta dados reais e comenta comportamentos e atitudes de brasileiros realmente existentes.

03 – Qual foi o acontecimento que provocou a pesquisa ISTO É / Brasmarket?

      Foi a possibilidade de São Paulo ter o primeiro prefeito negro da sua história.

04 – Por que o problema do racismo é importante em nosso país?

      É importante porque vivem no país mais de 65 milhões de negros. O Brasil é o segundo país de descendentes afros do mundo.

05 – Além dos negros, segundo o texto, quem mais é vítima de discriminação no nosso país?

      Também são discriminados os nordestinos e os mais pobres.

 

PESQUISA: A TELEVISÃO E VOCÊ - CARLOS ALBERTO DI FRANCO - COM GABARITO

 Pesquisa: A televisão e você

              Carlos Alberto Di Franco

 Pesquisa realizada pelo Jornal da Tarde nos dias 12 e 13 de junho comprovou que a televisão, por falta de conteúdo e pela pragmática estratégia de que conquistará audiência com cenas de violência e sexo pesado, se transformou num contínuo clip, assanhado e desregrado, em que as imagens deixaram de se relacionar diretamente com o que está sendo dito, espelho de sua indigência conceitual.

        A pesquisa abrangeu 14 horas de programação, das 8 às 22 horas, incluindo comerciais e programas jornalísticos. Foram analisadas sete emissoras de sinal aberto (Bandeirantes, CNT, Cultura, Globo, Manchete, Record e SBT) e cinco canais por assinatura (Cartoon Network, Fox, HBO, Telecine e TNT). Os canais pagos apresentaram os maiores índices de cenas de violência. Em relação a sexo, drogas e comportamentos antissociais, o ranking ficou dividido entre as emissoras de sinal aberto e as TVs por assinatura.

        Em fevereiro de 1991, na véspera da entrada em vigor do Código de Ética da Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), afirmei que a televisão dava um passo importante em direção ao profissionalismo e aos seus deveres éticos e sociais. O código, uma resposta voluntária e sem tutela governamental aos apelos da sociedade, indicava um esforço de responsabilidade editorial por parte da TV brasileira. Defendi, então, um crédito de confiança ao trabalho da Abert.

        Frustrou-se a minha expectativa. O documento, na opinião de inúmeros telespectadores, é um jogo de faz-de-conta. Para verificar a esquizofrenia entre o discurso e a prática não é necessário enfrentar uma noite insone. Basta recorrer à programação da tarde. Segundo a pesquisa do JT, grande parte das cenas é levada ao ar em horários em que o público é predominantemente infantil. A sociedade, atônita e inerte, assiste a uma escalada de corrupção light de menores. A passividade é, de longe, a pior sequela dos 20 anos de ditadura. A cidadania morre na garganta. E a lei não sai do papel.

        O artigo 5°, inciso IX, da Constituição diz que é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença. Esquece-se, no entanto, que essa mesma Constituição determina enfaticamente no seu artigo 221, inciso IV, que as emissoras de rádio e televisão respeitem “os valores éticos e sociais da pessoa e da família”. O direito à liberdade de expressão, inerente à democracia, nada tem que ver com o auê que invadiu a tela mágica. (...)

        Sobram lamúrias, mas faltam iniciativas. Documentos de auto-regulamentação, sérios e operativos, estão aí. Basta invoca-los. Qualquer cidadão pode recorrer ao Código de Defesa do Consumidor ou descobrir as possibilidades do excelente Código de Auto-Regulamentação Publicitária. Por que não tentar a sinceridade d Abert? Você, caro telespectador, já pensou, por exemplo, na eficácia de uma carta dirigida a um jornal ou de um simples telefonema a um anunciante?

        Como salientou Millôr Fernandes, armado de afiada ironia, “Cidadão, num país em que não há qualquer cidadania, passou a significar só cidade grande”. A observação é aguda e dramática. Padecemos de conformismo crônico. Mas atitudes letárgicas não costumam favorecer a liberdade. É preciso fugir do anonimato e exercer os direitos do consumidor. Não clame por censura. Ela é ilusória e, frequentemente, perniciosa. Exija qualidade. Instrumentos não faltam. Talvez, caro leitor, só falte você.

O Estado de S. Paulo, 8 jul. 1996.

Fonte: Português – Linguagem & Participação, 6ª Série – MESQUITA, Roberto Melo/Martos, Cloder Rivas – Ed. Saraiva, 1ª edição – 1998, p. 168-9.

Entendendo a pesquisa:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Pragmática: voltada para a prática.

·        Estratégia: planificação das atitudes a tomar para alcançar uma vitória.

·        Atônita: aturdida, estonteada.

·        Inerte: sem reação, imóvel.

·        Indigência: pobreza.

·        Sequela: dano deixado por uma doença.

·        Conceitual: de ideias, de opiniões.

·        Enfaticamente: de modo forte, insistentemente.  

·        Desregrado: sem regras, desenfreado.

·        Inerente: próprio de.

·        Ranking: lista organizada dentro de um critério.

·        Auê: tumulto, confusão.

·        Éticos: relativos aos valores morais.

·        Lamúrias: queixas, reclamações.

·        Código: conjunto de normas.

·        Letárgicas: inertes, apáticas.

·        Tutela: direção, comando.

·        Eficácia: qualidade do que produz efeito.

·        Insone: sem dormir.

·        Ilusória: enganosa.

·        Esquizofrenia: nome de uma doença mental que afasta a pessoa da realidade.

·        Perniciosa: prejudicial.

02 – O que descobriu a pesquisa promovida pelo Jornal da Tarde?

      A pesquisa descobriu que a televisão abusa de cenas de sexo e violência para obter audiência.

03 – Qual é a opinião do autor sobre o Código de Ética da Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão, à Abert?

      Na opinião do autor, o código não funciona: propõe um tipo de regulamentação que as TVs não seguem.

04 – Como é a programação da tarde das emissoras de televisão? Que efeito ela produz sobre o público de menores?

      Ela corrompe o público, apresentando programas totalmente inadequados a uma assistência predominantemente infantil.

05 – Você acredita que a programação das rádios e da televisão respeitam os valores éticos e sociais da pessoa e da família? Justifique sua resposta.

      Resposta pessoal do aluno.

06 – Qual a solução proposta pelo articulista do Jornal? Você a considera viável? Por quê?

      Ele propõe que o cidadão deixe de lamúrias e comece a agir. Sugere que, por exemplo, se mandem cartas às emissoras, aos jornais e se telefone aos anunciantes.